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A Vila empolgou o Sambódromo com a história de Brasília. O luxo das fantasias e dos carros alegóricos, somado ao refinado balé dos passistas, confirmaram a beleza arquitetônica da capital
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Sabrina Sato abriu o desfile com Martinho da Vila. Aline Riscado trouxe a Catedral de Brasília sobre a cabeça
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Brasília e Rio de Janeiro — A capital federal foi transferida para o Rio de Janeiro. Só por uma noite. O indiozinho Brasil comandou a façanha, em uma viagem guiada pelas asas de Jaçanã, e viu nascer Brasília, o caldeirão da diversidade e esperança de toda nação. Na segunda apresentação de ontem das escolas de samba do grupo especial, a Unidos de Vila Isabel fez a menina dos olhos de Juscelino Kubitschek sambar na Marquês de Sapucaí, uma homenagem aos 60 anos de sua fundação. “É campeã”, gritavam os integrantes na saída do desfile.
Com o enredo Gigante pela própria natureza: Jaçanã e um índio chamado Brasil, musicado pelos compositores Cláudio Russo, Chico Alves e Júlio Alves, a azul e branco do bairro de Noel Rosa apresentou a formação dos povos de diversas regiões do país. No refrão, a letra destaca: “Ô, viola! A sina de preto velho/É luta de quilombola, é pranto, é caridade/ Ô, fandango! Candango não perde a fé/ Carrega filho e mulher/Para erguer nova cidade”. A poesia também chama Brasília de “joia rara prometida”.
Na comissão de frente, o clamor de Uaikôen, surgiu o curumim-Brasil que, na performance, se transformou em um grande guerreiro guiado pela força dos antepassados. “O objetivo do enredo é humanizar o povo brasileiro. De Leste a Oeste, de Norte a Sul, o pequeno grande guerreiro conhece todas as culturas para unificar isso e, singularmente, demonstrar a identidade do povo brasileiro”, explicou o carnavalesco Edson Pereira.
A Vila Isabel desfilou com 19 alas e cinco carros alegóricos. Na passarela, mostrou superação da crise financeira e não apresentou protesto contra o Governo do Distrito Federal, que não fez o investimento de R$ 4 milhões esperado pelos sambistas. O comentarista de carnaval Milton Cunha destacou a grandiosidade das alegorias e definiu como “inteligente” o reaproveitamento de parte da estrutura e dos materiais do ano passado. “Me parece ser o melhor conjunto de abertura”, opinou Milton, refrindo-se ao abre-alas da escola.
A Vila Isabel não foi a única que trouxe Brasília à avenida. Quarta escola a desfilar, a Unidos da Tijuca redesenhou o patrimônio arquitetônico com referência aos trabalhos de Oscar Niemeyer. O enredo Onde moram os sonhos exaltou ícones das construções e teve como inspiração para o tema o Congresso Mundial de Arquitetura, que ocorre este ano, no Rio de Janeiro. Buscando desconstruir realidades impostas pela desigualdade social, a escola encerrou o recado trazendo a favela perfeita, sustentável e democrática.
Social e político
Os sambas foram espaço de reivindicação pela democracia, respeito à diversidade e olhar humano para as minorias. Por isso, nem só para homenagens Brasília veio à tona. O Planalto Central, como espaço que abriga os Três Poderes, foi pano de fundo de 11 dos 13 enredos das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro.
O ator e comediante Marcelo Adnet, um dos compositores do samba-enredo da São Clemente, desfilou fantasiado de presidente do Brasil. Com o enredo O conto do vigário, a escola contou “malandragens e trambiques” de acontecimentos da história brasileira, do período colonial à atualidade, falando sobre os laranjas na política e a era das fake news.
A Salgueiro trouxe o tema O rei negro do picadeiro, fazendo um alerta bem-humorado contra o racismo. O enredo politizado esteve presente, também, na homenagem da Mocidade Independente de Padre Miguel a Elza Soares. Diva da escola, ela sempre traz nos discursos um alerta contra o preconceito, a desigualdade e o feminicídio. A Beija-Flor, última a desfilar, explorou a relação do homem com os espaços públicos, tomados pelas manifestações de fé. A campeã de 2020 do Carnaval do Rio será divulgada amanhã.
O objetivo do enredo é humanizar o povo brasileiro. O pequeno grande guerreiro conhece todas as culturas e demonstra a identidade do povo brasileiro”,
Edson Pereira, carnavalesco