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Zeca com os sargentos Paulo Couto e Isaque Ferreira Ribeiro, que o acompanharam durante a carreira na corporação
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Militares do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal se despedirão de um ajudante nas missões de busca e salvamento. O companheiro de trabalho é o labrador preto Zeca, que vai se aposentar após nove anos de honrarias e trabalho árduo na corporação. Em geral, isso ocorre quando o cão farejador completa oito anos, mas ele fugiu à regra e acabou trabalhando mais porque tinha muita dedicação e vitalidade. Participou de diversas missões de destaque, a última delas no rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Agora, deixa o distintivo para aproveitar um descanso merecido.
O labrador chegou à equipe ainda filhote, com cerca de três meses de vida. Desde então, conquistou o coração de todos, tanto que ganhou até uma despedida com direito a medalha no sábado. Ele foi homenageado durante um evento no Kennel Clube de Brasília. “O Zeca é o xodó da corporação, porque está com a gente há muito tempo. Vamos sentir muitas saudades, mas chegou a hora de ele descansar, depois de tanto trabalho duro”, diz o sargento Paulo Couto.
Zeca voltou da missão em Minas Gerais há um mês. Lá, o animal atuou nas buscas das pessoas desaparecidas por 15 dias. Durante o trabalho, sofreu diversas lesões dermatológicas, uma vez que teve contato direto com os metais e resíduos da barragem. Agora, está se recuperando e para a aposentadoria.
Além desse desafio, o currículo do cão conta com outros resgates relevantes, como as buscas por quatro adolescentes levados por uma tromba d’água num córrego entre Samambaia e Ceilândia, o desmoronamento de um prédio na Colônia Agrícola Vicente Pires e o naufrágio de uma lancha no Lago Paranoá. Fora do Distrito Federal, auxiliou o trabalho dos socorristas após o deslizamento de terra em Teresópolis (RJ), em 2011, e participou de diversas operações em Minas Gerais e em Goiás.
Treinamento
Para aguentar o trabalho, os cães seguem uma rotina regrada. Pelo menos duas ou três vezes na semana, fazem atividades de natação, corrida e treinamentos de buscas em matas. “E, para que nós (bombeiros) façamos parte do agrupamento de cães farejadores, também passamos por um curso de especialização, com psicologia canina, treinamento em água e várias outros ensinamentos relacionados à vida canina”, explica o sargento Paulo.
Para atuar nas funções de combate, os cachorros das forças da Segurança Pública precisam ser firmes. Além da raça, leva-se em conta se o cão é curioso e se tem uma postura proativa e atenta. Depois da escolha, eles passam pela fase de socialização, adaptação, obediência e treinamento.
“Desde os primeiros momentos, o Zeca se destacou. Ele era o mais inteligente dos filhotes à época. Treiná-lo foi uma atividade fantástica”, relata o sargento Isaque Ferreira Ribeiro, que está na reserva há um ano. Geralmente, o bombeiro instrutor se torna a referência do animal. Por isso, quando chega a hora de ‘pendurar a coleira’, eles acabam sendo adotados pelos profissionais que os adestraram.
Sendo assim, o novo lar do Zeca será na casa de Isaque, em Sobradinho. A previsão é de que a mudança ocorra dentro de 30 dias, quando o processo burocrático da adoção for finalizado. “Vamos aproveitar a vida agora. Esse guerreiro merece”, comenta o militar.
Dócil demais
Em 2017, um pastor alemão chamado Gavel foi expulso de um programa de treinamento da polícia australiana por ser dócil demais. A “carreira” do cachorro, no entanto, teve uma reviravolta: após o ocorrido, ele passou a morar na residência do governador de Queensland. Antes de ser dispensado, Gavel participava de um treinamento para cachorros promovido pelo Serviço Policial de Queensland, na Austrália. O programa tinha duração de 16 meses, mas logo no início os treinadores perceberam que o animal era amigável demais e não apresentava os requisitos necessários para ser um cachorro da polícia.