Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense quinta, 07 de março de 2019

A HORTA DE PORTAS ABERTAS

 

A horta de portas abertas
 
 
Do médico ao vizinho, pessoas dedicadas transformam espaços abandonados em hortas comunitárias e cultivam alimentos e plantas medicinais

 

» MARIANA MACHADO
ESPECIAL PARA O CORREIO
» ALINE BRITO*

Publicação: 07/03/2019 04:00

O agente de saúde Antônio Moreira do Nascimento e o médico Marcos Trajano cuidam da horta na Unidade Básica de Saúde do Lago Norte (Ed Alves/CB/D.A Press - 19/2/19)  

O agente de saúde Antônio Moreira do Nascimento e o médico Marcos Trajano cuidam da horta na Unidade Básica de Saúde do Lago Norte

 

 
Arruda, mastruz, boldo e erva-cidreira são algumas das centenas de plantas que, além de enfeitarem jardins, têm propriedades medicinais. O uso delas não é novidade, mas nem todo mundo as encontra com facilidade. Para ajudar, alguns moradores do Distrito Federal criam formas de cultivar mudas que são distribuídas a quem quiser. É o caso do médico Marcos Trajano, que aproveitou um terreno não utilizado da Unidade Básica de Saúde (UBS) no Lago Norte para criar uma grande horta.

A ideia de transformar o local em um canteiro de plantas alimentícias não convencionais e plantas medicinais surgiu a partir do conhecimento de Marcos na área. Especialista em medicina antroposófica — campo que usa plantas, minerais e animais para a saúde do ser humano — o médico elaborou um projeto para além dos meios convencionais de tratamento de doenças.

As práticas integrativas de saúde que une meditação, fitoterapia — estudo das plantas medicinais e suas aplicações na cura das doenças —, constelação familiar e medicina antroposófica para alcançar o bem-estar. “Para além da cura de doenças, o projeto visa criar um espaço de cooperação e transformar a UBS em um local de convivência, diminuindo o isolamento social”, explica Marcos.

No plantio, estão reunidas mais de 100 espécies de plantas catalogadas e outras incontáveis que ainda não foram listadas. “O ambiente também serve como um jardim sensorial, para aproximar as pessoas da natureza e proporcionar momentos de paz”, disse o médico. “Ensinamos aqui como conviver com as plantas, pois um ser humano que não consegue se relacionar com a natureza não consegue também ter um bom relacionamento com outros humanos”, afirma.

Cerca de 400 pessoas passaram pelo projeto e auxiliaram no cultivo das plantas. O agente de saúde Antônio Moreira do Nascimento, 66 anos, é um dos participantes que ajudou na construção do espaço. Cearense, ele cresceu em meio às plantas e hoje aplica os conhecimentos adquiridos desde a infância e aprende sobre novas plantas e formas de utilização. “Durante minha infância, o meu lápis era um cabo de enxada. Fui criado na roça, plantando, colhendo e vivendo disso. Hoje, eu posso aprender coisas novas sobre as plantas e levar isso para a minha casa e a saúde da minha família”, conta Antônio.

O ambiente e a interação entre os participantes funciona como uma escola para a educação em saúde. Os conhecimentos adquiridos durante a plantação são propagados, tornando mais acessíveis as informações sobre esse tipo de medicina alternativa. “Eu trouxe para o projeto experiências que tive com meus avôs e bisavôs. Com o que aprendo aqui, consigo melhorar minha qualidade de vida, me manter mais saudável e levar bem-estar para meus amigos e familiares”, acrescenta o agente de saúde.

Dona Nilda transformou um ponto de descarte de entulho em plantação de orgânicos (Mariana Machado/Esp. CB/D.A Press - 19/2/19)  

Dona Nilda transformou um ponto de descarte de entulho em plantação de orgânicos

 



Mais do que parece
 
Na plantação localizada na Unidade Básica de Saúde, estão espécies frutíferas, flores anestésicas e árvores alimentícias. A mandioqueira, por exemplo, tem diversas funções que auxiliam na alimentação dos seres humanos. Além da mandioca (aipim ou macaxeira, como é conhecida em outras regiões do país), raiz da planta que é amplamente consumida, as folhas da árvore podem ser utilizadas como fonte de nutrientes. “As folhas podem ser torradas e depois moídas para fazer uma farinha que é muito eficaz contra a desnutrição”, explica Marcos.

O jambu, popularmente conhecido como agrião-do-Pará, é outra planta cultivada na área verde da UBS. Uma erva com pequenas flores amarelas, vezes usada como ornamental, esconde poderes medicinais. As folhas e inflorescência são empregadas para tratamento de males da boca e garganta, além de tuberculose e litíase pulmonar — pedras no pulmão. As folhas e flores quando mastigadas dão uma sensação de formigamento nos lábios e na língua devido a ação anestésica local. É usada para dor de dente e como estimulante de apetite. O chá da planta é empregado também contra anemia, escorbuto, dispepsia e como estimulante das atividades do estômago.

Outras mais conhecidas, como o boldo, pode ser colhido e levado para a casa por quem visita o local. O arbusto é aliado do fígado, estimulando o fluxo de bile. As folhas consumidas em forma de chá têm efeito diurético, laxante, antibiótico e anti-inflamatório e auxilia na digestão. O boldo ainda apresenta uma substância denominada ascaridol, que é um vermífugo natural.

Mas o médico Marcos Trajano alerta: é preciso saber usar e nunca deixar de procurar também os profissionais de saúde. “As plantas medicinais tanto podem curar como matar. Nosso projeto não é para distribuição e, sim, para aprendizagem”, enfatiza. Ele explica ainda que, apesar de chamar o projeto de farmácia viva, não basta chegar colhendo o que quiser. “Você não pega um galhinho, faz um chá e sai tomando desavisadamente. A ideia é aprender a usar essas plantas da forma correta para evitar intoxicação.”
A horta no beco
 
Na QNM 36 de Ceilândia, a copeira aposentada Onilda Maria de Araújo, 71, decidiu dar nova cara para o beco ao lado de casa. Em 2012, Dona Nilda, como é conhecida, viu-se vizinha de um ponto de descarte de entulho. “As pessoas jogavam de tudo: sofá velho, cama, lixo. Era muito difícil, porque eu não gosto de sujeira e aquilo ali atraía insetos e ratos.” Foi quando veio a ideia de transformar o lugar em uma horta comunitária.

Com arames e alguns tocos de madeira, criou uma pequena cerca com porta e a plantação começou. Sete anos depois, ela exibe orgulhosa os grandes pés de couve, romã, acerola e batata. São tantas variedades que, de cabeça, Dona Nilda não recorda de todas, mas uma coisa ela garante: é tudo orgânico. Ela explica ainda que a portinha de acesso não é proibição para ninguém. É só chamar que ela distribui mudas e frutas a quem quiser. “Isso aqui não é para mim, é para todo mundo que precisar”, afirma.

Em meio ao grande jardim, há também as plantas com propriedades medicinais. Arruda, algodão e palma são apenas alguns exemplos. A vizinhança já conhece e indica até para quem é de fora. “Tem uma mulher que mora em Samambaia e já veio aqui umas três vezes buscar mastruz. A sogra dela quebrou a bacia e ela me pediu para fazer um chá”, recorda. O mastruz é usado para, entre outras coisas, combater prisão de ventre e problemas digestivos. “Teve também uma moça do Lago Sul que estava procurando por hortas e indicaram que ela viesse aqui. Estava atrás de ora-pro-nóbis para o marido, que está com câncer, e eu dei algumas mudas. É assim, só vir aqui e pedir”, relata.

A ora-pro-nóbis é, aliás, uma das queridinhas de Dona Nilda. A planta com folhas em formato de lâmina é rica em cálcio, fósforo e ferro. O cultivo começou inclusive por sugestão de um médico. “Quando meu neto mais novo nasceu, tinha uma grande dificuldade de se alimentar. Só tomava um tipo de leite muito caro e a única carne que conseguia comer era de rã”, recorda a avó. “O pediatra então disse que estava tratando uma menininha com as mesmas características que tinha começado a consumir as folhas para enriquecer alimentação.”

Nilda foi atrás e conseguiu uma muda que cresceu com facilidade na horta. “Não sei se foi realmente essa a solução, mas acredito que tenha ajudado um pouco. Meu netinho hoje está com seis meses, esperto e bem melhor. A garotinha também”, comemora. Natural do interior de Minas Gerais, ela tem enraizado no coração o amor pelo cultivo à terra. “Vim morar em Brasília aos 6 anos, mas ainda tenho viva a memória da minha mãe fazendo pratos com a ora-pro-nóbis que ela plantava”.
 
* Estagiária sob supervisão 
de Mariana Niederauer
 (Ed Alves/CB/D.A Press - 19/2/19)  


Programação

Quem quiser participar das oficinas pode se preparar. No dia 21, a palestra é com uma pediatra, especialista em nutrição. Já no dia 28, um professor de física e fenomenologia da Universidade de Brasília (UnB) ensina a técnica de observação fenomenológica de plantas. Sempre às quintas-feiras, 
a partir das 13h30.
 
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