Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense domingo, 24 de março de 2019

RESPIRANDO ARTE: FAXINEIRO DO SENADO TEM O DOM DE DESENHAR

 

Respirando arte
 
 
Desenhista talentoso e autoditada, jovem ganha a vida como faxineiro no Senado e, com a habilidade artística, ajuda quem precisa

 

» Mariana Machado
Especial para o Correio
» Bruna Lima

Publicação: 24/03/2019 04:00

Os desenhos de Wallace da Silva Sousa são realistas , parecem verdadeiros retratos: talento de família (Minervino Junior/CB/D.A Press)  

Os desenhos de Wallace da Silva Sousa são realistas , parecem verdadeiros retratos: talento de família

 



Quem vê as mãos do brasiliense Wallace da Silva Sousa dando vida a desenhos tão realistas, que mais se parecem fotografias, não imagina que elas se revezam diariamente entre o lápis e o esfregão. Nascido em Ceilândia e criado no Riacho Fundo 2, o desenhista de 27 anos respira arte, mas paga as contas trabalhando como funcionário da limpeza no Senado Federal.
 
Ele conta que começou a desenhar ainda na escola, inspirado em mangás japoneses e grafite. Mesmo sem incentivo, recursos e orientação de profissionais da área, passou a se dedicar ao realismo, aprimorando as técnicas sozinho, lendo livros e assistindo a videoaulas.
 
Na contramão de como descobriu e aperfeiçoou as habilidades, transmitiu os conhecimentos em sala de aula, atuando em escolas públicas no Riacho Fundo 2 e no Guará. Também ensinou desenho a crianças com síndrome de Down, hiperatividade e deficit de atenção, além de dar aulas particulares (muitas vezes, de graça). Um dos estudantes que teve acesso aos ensinamentos, Décio Ferreira, 39 anos, garante: “Ele me ajudou muito, principalmente a ter mais foco no desenho, dedicação e, acima de tudo, paciência. É um excelente desenhista”.

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
O talento, como Wallace mesmo descreve, está no sangue. Todos os três irmãos desenham. O pai também tem habilidade na área. “Acho que o dom é de família”, ri. No sofá de casa, a criatividade precisa ser usada para além dos quadros. Sem condições financeiras de comprar uma mesa de trabalho, o artista se vira como pode para achar uma posição confortável e viável para fazer as obras.
 
O portfólio inclui desde retratos de famosos — como Julia Roberts e Will Smith — a reproduções de fotografias de anônimos, incluindo um menino negro chorando e um idoso sem-teto. Mas se engana quem acha que ele quer seguir carreira na arte. “Está, e sempre estará, permeando minha vida como uma forma de me expressar e pela qual encontro libertação”, afirma.
 
O que ele quer mesmo é ser psicólogo. Para tanto, matriculou-se em uma faculdade na Asa Sul. Apesar de ter conseguido uma bolsa de 50% de desconto com a nota do Enem, não tinha condições de manter as mensalidades em dia. Procurava aos quatro cantos um emprego ou estágio e ganhava um dinheirinho dando aulas particulares de arte e vendendo os trabalhos. Mas não foi o suficiente.
 
Por ser bastante querido pelos colegas e conhecido por fazer intervenções propositivas durante o curso e ajudar tirando as dúvidas nas disciplinas, a turma se juntou para pagar uma das prestações que estava atrasada. “Wallace nunca faltava uma aula. Quando começou este semestre e ele não apareceu, todos estranharam. Quando soubemos que ele não tinha renovado a matrícula, parecia que tínhamos perdido alguém. Foi um inconsciente coletivo que mobilizou todos”, detalha o amigo de curso Evandro Ribeiro, 37.
 
Mesmo com o esforço, que também contou com a participação de amigos da igreja, Wallace estava sem perspectiva de juntar dinheiro para os próximos meses e se viu obrigado a trancar o curso. Até que, finalmente, há seis meses, conseguiu uma oportunidade de trabalho em uma empresa terceirizada no Senado. Agora, quita as dívidas com a faculdade e, no próximo semestre, pretende voltar aos estudos. “Torcemos muito para que Wallace volte logo. A nossa sociedade precisa de atores com ele. Além de ser notório o potencial para a carreira, é um agente ativo, que eleva o nível dos debates e nunca mede esforços para ajudar a todos”, diz Evandro.

 (Minervino Junior/CB/D.A Press)  
 
Durante os intervalos
 
O material de criação não fica parado em casa. Para concluir os retratos, que chegam a levar uma semana para ficar prontos, Wallace aproveita os momentos livres na limpeza para se debruçar sobre o papel. Foi assim que, aos poucos, servidores foram descobrindo o talento dele e fazendo pedidos. Até agora, ele recebeu três encomendas. “Para desenhar no realismo, é preciso muita paciência. Às vezes, a gente fica afoito para ver o resultado imediato e ele não sai como esperado, e a gente acaba se frustrando. Mas, quando a gente tem calma, consegue evoluir e se adaptar”, declara.
 
A rotina do artista não é fácil. Para estar no trabalho às 7h, ele acorda às 4h e vai para a parada, onde pega um ônibus para a Rodoviária do Plano. No percurso, caderno de desenho nas mãos sempre. Depois, outro ônibus rumo ao Congresso. São cerca de duas horas de viagem, o que se repete no fim da tarde. “O ônibus está sempre lotado; então, o jeito é ir em pé mesmo. Às vezes, eu faço cara de triste para ver se alguém tem dó de mim e leva as minhas coisas no colo, mas nem sempre dá certo”, descreve Wallace com bom humor.
 
O humor, aliás, é facilmente notado por quem conversa com ele. Outra característica que não passa despercebida é a humildade. Nos planos futuros do rapaz, não está fama ou reconhecimento. O sonho dele é ajudar a comunidade. “Tenho o objetivo de montar uma escola que valorize as diversas manifestações artísticas de maneira a explorar a capacidade de cada um, dando mais oportunidade para jovens e crianças. Um projeto social”, imagina.
 
Com o trabalho e a formação em psicologia, ele espera alcançar comunidades carentes do DF por meio da arte que, para ele, não é tratada como prioridade pelos governantes, o que prejudica a formação do indivíduo. “Quando o indivíduo não tem chance de experimentar uma pintura, uma música, uma dança, um filme, ele não abre novos horizontes, não se alimenta, não se completa, não se entende. É fundamental que nossos líderes e governantes vejam isso para honrar os próprios princípios constitucionais. Afinal, a arte é democrática e não reconhecer isso só demonstra que ela está fazendo falta na vida dessas pessoas.”
 
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