Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Correio Braziliense quinta, 21 de março de 2019

TRANSFORMAÇÃO POR MEIO DO TEATRO

 

Transformação por meio do teatro
 
 
Projeto que usa método do Teatro do Oprimido promove aulas abertas ao público, em São Sebastião, e a adolescentes em unidades de internação

 

FERNANDA BASTOS*

Publicação: 21/03/2019 04:00

 

 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

 

Libertar-se e ser quem você é são os propósitos centrais do projeto Troca de Experiências Artísticas e Reinserção (Tear). Pelo segundo ano, a iniciativa realiza revoluções pessoais por meio do teatro dentro de unidades de internação. Em 2019, a novidade é que as aulas chegaram ao Câmpus São Sebastião do Instituto Federal de Brasília (IFB). Durante três meses, os participantes terão acesso a aulas com diferentes atividades baseadas no Teatro do Oprimido (leia Para saber mais).

O objetivo central do grupo à frente do projeto, a Estupenda Trupe, é a democratização da cultura baseada na premissa de que todo ser humano é capaz de produzir, discutir e apreciar a arte. O trabalho realizado nas oficinas do Tear é de empoderamento, de uso da arte para autoconhecimento e para transformação, garante Luciana Amaral, 32, arte-educadora e participante da Estupenda Trupe.

Foi no Centro de Teatro do Oprimido (CTO), no Rio de Janeiro, que ela e o também arte-educador Carlos Valença, 32, buscaram apoio e conhecimento sobre como realizar as oficinas para multiplicar a metodologia, em 2012. Eles enxergaram no método uma estratégia de educação não formal para tratar temas socioeducativos em unidades de internação e fora delas também, para promover a reinserção do jovem infrator.

As aulas vão durar três meses. Este ano, a novidade é que ocorrem também no Instituto Federal de Brasília (IFB) e abarcam mais participantes (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

As aulas vão durar três meses. Este ano, a novidade é que ocorrem também no Instituto Federal de Brasília (IFB) e abarcam mais participantes

 


“O Teatro do Oprimido é um diálogo interno e externo, estamos em um momento em que é preciso restaurar o diálogo. Somos agentes dessa transformação e esperamos ser canal disso para as pessoas. Tem uma frase do (Augusto) Boal na qual ele diz que ‘um novo mundo é possível, só precisamos inventá-lo’. Estamos aqui sendo agentes da invenção de um novo mundo”, resume Luciana.

Além dos cinco integrantes da Estupenda Trupe, o projeto conta com a participação de Helen Sarapek, coordenadora do CTO há 20 anos. O planejamento de aulas específico para cada dia contém vários exercícios e jogos pensados pelo criador do método, Augusto Boal. Na primeira oficina, em 15 de março, realizada no câmpus do IFB em São Sebastião, houve diferentes montagens teatrais, nas quais aspectos como colaboração e confiança no outro eram explorados.
 (Wallace Martins/Esp. CB/D.A Press)  

“Fizemos um jogo cênico de confiança em que uma pessoa fecha os olhos e a outra emite sons e é preciso seguir a pessoa pelo som que ela faz com os olhos vendados. Achei que ia esbarrar em todos, mas, no fim, deu tudo certo”, relata a estudante de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB) Luísa de Oliveira Braga, 18. Moradora de Águas Claras, ela faz questão de participar das oficinas. Colega de curso de Luísa, Lorena Lima Barbosa de Alencar, 20, moradora do Jardim Botânico, pretende colocar em prática o que estudou sobre Augusto Boal na universidade. “Quero quebrar essas amarras, essas coisas que oprimem a gente. Aqui, a gente pode se abrir”, afirma.

Sensibilização    
O pedagogo do IFB de São Sebastião Reinaldo Gregoldo, coordenador pedagógico de projetos como esse no instituto, ressalta que a oficina é importante para a região por trazer debates e atividades que conscientizem sobre os problemas da cidade. “A expectativa do Instituto Federal, que é um parceiro do Estupenda Trupe nessa empreitada, é que os participantes consigam sensibilizar-se com reflexões aprofundadas sobre a conjuntura brasileira, a região de São Sebastião, nossos problemas, nossas mazelas e encontrar soluções no coletivo para superá-las”, destaca.

Moradora da região administrativa e estudante do IFB, Alessandra Teixeira dos Santos, 42, relata que um dos aspectos que encantam nas obras de Boal é que ele provoca questionamentos trabalhando as personalidades dos personagens e do leitor a partir não apenas do lado positivo, mas do negativo também. “Eu nunca fiz teatro, não sei qual é a linguagem. Esse programa aqui perto da minha casa é inovador, é uma oportunidade única de fazer aquilo que eu só via na televisão. E eu não deixo oportunidades assim passarem, de jeito nenhum”, garante.

Ela saiu de um relacionamento abusivo depois de perceber a condição de opressão sob a qual vivia e acredita que o projeto estimula o pensamento crítico e debate questões sociais importantes nesse sentido. “Para sair dessa opressão, é preciso estar em locais diferentes com pessoas diferentes. Você aprende a se posicionar.”

Descobertas
Na Unidade de Internação de São Sebastião (UISS), 11 adolescentes em conflito com a lei, na faixa etária de 13 a 18 anos, refletiram inicialmente sobre as relações verticais de poder com o projeto Tear. O principal assunto abordado na primeira oficina foi o preconceito. “Muitos dos alunos falaram que, ao chegar em uma parada de ônibus, as outras pessoas já saem de perto por conta do conceito preconcebido ao observar a forma como eles falam, se vestem e se portam. Então, perguntamos para eles quais preconceitos eles próprios têm”, explica o ator, diretor, produtor artístico e membro da Estupenda Trupe, Tiago Neri.

 


Para o coordenador pedagógico da unidade, Sebastião Soares de Oliveira, 55, educador há 33 anos, o projeto ajuda os internos no processo de ressocialização. “Enquanto vivenciam o projeto, eles podem pensar a importância da ressocialização, refletindo em todos os contextos, tanto humano quanto pedagógico, e principalmente no da reintegração à sociedade. O projeto vem com o propósito de valorização pessoal.”


De acordo com Carlos Valença, que aplicou as oficinas ao lado de Tiago na UISS e também na Unidade de Internação de Planaltina, no ano passado, os resultados são, muitas vezes, sutis. Mas essas pequenas mudanças constituem as principais conquistas e o maior aprendizado para os participantes. “Até o fato de eles tocarem no colega era difícil. Então tocar no colega, abraçar o colega, isso é uma grande evolução”, ressalta.

 

Financiamento
O projeto contou com o apoio da Secretaria de Cultura do DF, por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), no ano passado, para o trabalho em Planaltina, e este ano, em São Sebastião. Agora, com o apoio do IFB, das unidades de internação e das administrações regionais, a Estupenda Trupe pretende expandir a ação, em 2020, a unidades de internação femininas. Concretizar o plano, no entanto, depende ainda da confirmação do financiamento público.

Ainda não há previsão de lançamento de outro edital do FAC este ano. De acordo com a Secult, o fundo é regido pela Lei Orgânica da Cultura (LOC), que prevê o lançamento de dois editais por ano: um até 30 de abril e outro até 31 de agosto. A pasta garantiu que esses prazos serão cumpridos. Ambos contemplarão atividades e projetos para serem realizados no próximo ano.

O resultado dos últimos projetos de 2018 aprovados pelo FAC, no valor de cerca de R$ 45 milhões, serão publicizados nas próximas semanas e, por isso, serão pagos com os recursos previstos para o ano de 2019.

 

Para saber mais

Mobilização política
Criada por Augusto Boal, a técnica do Teatro do Oprimido estimula os participantes a tomarem consciência e a se mobilizarem politicamente. Para o estudioso, não existem espectadores, mas, sim, spect-atores, ou seja, todos podem ser artistas. O dramaturgo, que se formou em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1954, questiona em seus livros e peças sobre quem somos nós, qual espaço ocupamos e o que podemos fazer pela sociedade. Boal foi um dos fundadores dos principais espetáculos de cunho político no Brasil, como Teatro de Arena, Teatro Oficina e o Opinião. Depois de atuar durante anos escrevendo e dirigindo peças de teatro político contra a ditadura militar, acabou preso e torturado em 1971. Exilou-se em Buenos Aires, onde começou a produzir e escrever os fundamentos do Teatro do Oprimido. O livro que uniu toda a base do método foi publicado no Brasil em 1975. Depois de anos realizando cursos, palestras e oficinas na América Latina e Europa, voltou ao Brasil em 1986 e criou o Centro de Teatro do Oprimido (CTO) no Rio de Janeiro.

 

Anote
Projeto Tear — Oficinas de Teatro do Oprimido
Local: Instituto Federal de Brasília (IFB), Câmpus de São Sebastião.
Data: todas as sextas-feiras de março, abril e maio.
Horário: das 9h às 12h. Gratuito.

 

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