FERNANDA BASTOS*
Publicação: 21/03/2019 04:00
Libertar-se e ser quem você é são os propósitos centrais do projeto Troca de Experiências Artísticas e Reinserção (Tear). Pelo segundo ano, a iniciativa realiza revoluções pessoais por meio do teatro dentro de unidades de internação. Em 2019, a novidade é que as aulas chegaram ao Câmpus São Sebastião do Instituto Federal de Brasília (IFB). Durante três meses, os participantes terão acesso a aulas com diferentes atividades baseadas no Teatro do Oprimido (leia Para saber mais).
O objetivo central do grupo à frente do projeto, a Estupenda Trupe, é a democratização da cultura baseada na premissa de que todo ser humano é capaz de produzir, discutir e apreciar a arte. O trabalho realizado nas oficinas do Tear é de empoderamento, de uso da arte para autoconhecimento e para transformação, garante Luciana Amaral, 32, arte-educadora e participante da Estupenda Trupe.
Foi no Centro de Teatro do Oprimido (CTO), no Rio de Janeiro, que ela e o também arte-educador Carlos Valença, 32, buscaram apoio e conhecimento sobre como realizar as oficinas para multiplicar a metodologia, em 2012. Eles enxergaram no método uma estratégia de educação não formal para tratar temas socioeducativos em unidades de internação e fora delas também, para promover a reinserção do jovem infrator.
As aulas vão durar três meses. Este ano, a novidade é que ocorrem também no Instituto Federal de Brasília (IFB) e abarcam mais participantes
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Para o coordenador pedagógico da unidade, Sebastião Soares de Oliveira, 55, educador há 33 anos, o projeto ajuda os internos no processo de ressocialização. “Enquanto vivenciam o projeto, eles podem pensar a importância da ressocialização, refletindo em todos os contextos, tanto humano quanto pedagógico, e principalmente no da reintegração à sociedade. O projeto vem com o propósito de valorização pessoal.”
De acordo com Carlos Valença, que aplicou as oficinas ao lado de Tiago na UISS e também na Unidade de Internação de Planaltina, no ano passado, os resultados são, muitas vezes, sutis. Mas essas pequenas mudanças constituem as principais conquistas e o maior aprendizado para os participantes. “Até o fato de eles tocarem no colega era difícil. Então tocar no colega, abraçar o colega, isso é uma grande evolução”, ressalta.
Financiamento
O projeto contou com o apoio da Secretaria de Cultura do DF, por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), no ano passado, para o trabalho em Planaltina, e este ano, em São Sebastião. Agora, com o apoio do IFB, das unidades de internação e das administrações regionais, a Estupenda Trupe pretende expandir a ação, em 2020, a unidades de internação femininas. Concretizar o plano, no entanto, depende ainda da confirmação do financiamento público.
Ainda não há previsão de lançamento de outro edital do FAC este ano. De acordo com a Secult, o fundo é regido pela Lei Orgânica da Cultura (LOC), que prevê o lançamento de dois editais por ano: um até 30 de abril e outro até 31 de agosto. A pasta garantiu que esses prazos serão cumpridos. Ambos contemplarão atividades e projetos para serem realizados no próximo ano.
O resultado dos últimos projetos de 2018 aprovados pelo FAC, no valor de cerca de R$ 45 milhões, serão publicizados nas próximas semanas e, por isso, serão pagos com os recursos previstos para o ano de 2019.
Para saber mais
Mobilização política
Criada por Augusto Boal, a técnica do Teatro do Oprimido estimula os participantes a tomarem consciência e a se mobilizarem politicamente. Para o estudioso, não existem espectadores, mas, sim, spect-atores, ou seja, todos podem ser artistas. O dramaturgo, que se formou em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1954, questiona em seus livros e peças sobre quem somos nós, qual espaço ocupamos e o que podemos fazer pela sociedade. Boal foi um dos fundadores dos principais espetáculos de cunho político no Brasil, como Teatro de Arena, Teatro Oficina e o Opinião. Depois de atuar durante anos escrevendo e dirigindo peças de teatro político contra a ditadura militar, acabou preso e torturado em 1971. Exilou-se em Buenos Aires, onde começou a produzir e escrever os fundamentos do Teatro do Oprimido. O livro que uniu toda a base do método foi publicado no Brasil em 1975. Depois de anos realizando cursos, palestras e oficinas na América Latina e Europa, voltou ao Brasil em 1986 e criou o Centro de Teatro do Oprimido (CTO) no Rio de Janeiro.
Anote
Projeto Tear — Oficinas de Teatro do Oprimido
Local: Instituto Federal de Brasília (IFB), Câmpus de São Sebastião.
Data: todas as sextas-feiras de março, abril e maio.
Horário: das 9h às 12h. Gratuito.