O servidor público aposentado José Bandeira da Silva, 80 anos, não pretendia se matar após esfaquear e queimar a mulher, Veiguima Martins, 56, na quarta-feira. A intenção dele era enganar os investigadores provocando um incêndio no apartamento do casal, onde aconteceu o crime, no Bloco A da 310 Norte. Essa é a conclusão preliminar do caso.
A agente de educação aposentada foi enterrada ontem, no Cemitério de Planaltina. Na quinta-feira, familiares do assassino retiraram o corpo do Instituto de Medicina Legal (IML) e encaminharam para um crematório de Valparaíso (GO). Diferentemente de Veiguima, carbonizada após levar cinco facadas, José foi socorrido com vida por bombeiros. Ele morreu intoxicado pela fumaça do incêndio, que queimou todo o quarto do casal.
O laudo da perícia deve ficar pronto em até 30 dias. No entanto, o delegado Laercio Rossetto, chefe da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) e responsável pelo caso, diz não ter dúvida de que José matou Veiguima e depois ateou fogo no quarto deles. Rosseto acredita que José perdeu o controle da situação após inalar a fumaça. Bombeiros encontraram o homem caído na sala do apartamento, com parada cardiorrespiratória e o levaram para o pilotis, onde tentaram reanimá-lo por 50 minutos, sem sucesso.
Peritos encontraram a lâmina de uma faca do tipo peixeira, no quarto do casal. Ainda, agentes coletaram fósforos e tiras de panos usados por José para auxiliar na combustão. Médicos-legistas oficializaram a identificação cadavérica de Veiguima por meio de moldes de arcada dentária.
Violência
De acordo com a investigação, o aposentado teria decidido cometer a barbárie após Veiguima pedir o divórcio. Na noite do crime, a mulher telefonou para uma filha avisando a decisão.
O casal estava junto desde 2008 e tinha um relacionamento marcado por violência física e psicológica por parte de José. Em março de 2018, Veiguima registrou uma ocorrência contra o marido, por lesão corporal e ameaça. Em depoimento, ela contou que o servidor a havia ameaçado de morte e de se matar em seguida.
José sofria de bipolaridade, tomava remédios controlados e tinha proibição médica para dirigir. No último semestre de 2018, descobriu um câncer na próstata. À época, estava separado de Veiguima, que havia saído de casa.
O aposentado usou a doença para chantagear psicologicamente a vítima. A mulher aceitou reatar o relacionamento para ajudá-lo, mas até que ele passasse por procedimento cirúrgico, confirmou familiares de Veiguima. José tinha duas filhas, mas não mantinha contato com elas. Ele estava no terceiro relacionamento.
Despedida
Cerca de 100 pessoas compareceram ao enterro de Veiguima, na tarde de ontem, no Cemitério de Planaltina. O silêncio marcou grande parte da cerimônia, que durou 40 minutos. Como a vítima teve o corpo carbonizado, o caixão permaneceu fechado e não houve velório. Amigos e parentes dela carregavam flores, na maioria, rosas vermelhas e brancas, para a última homenagem à agente de educação aposentada da Secretaria de Educação, que deixou três filhos, cinco netos e sete irmãs.
Veiguima foi sepultada no mesmo jazigo da mãe, Maria Luiza Martins, que morreu aos 68 anos. Ambas nasceram em Planaltina. “Desde o crime, estou consternada. Os homens têm um sentimento de posse da mulher. A mulher é um ser livre e assim era a Veiguima. Uma pessoa que apreciava desfrutar a vida e a liberdade. Até quando teremos de ver casos como este?”, questionou uma amiga da família.
Para Larissa Martins, sobrinha da vítima, fica a dor, mas também, uma lição. “Tento entender qual foi o propósito para a minha tia, tendo de partir assim. Talvez, vamos entender com o tempo. Mas tudo isso nos faz abrir os olhos, pois isso pode acontecer a qualquer momento, e na nossa família. Temos que aceitar o que aconteceu. Ela está reunida com os nossos familiares que já partiram. Agora, minha tia é exemplo para outras mulheres”, comentou, emocionada.