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Bombeiros buscam pelos desaparecidos na área rural nas proximidades da mina da Vale
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Brumadinho – Cada hora na vida dos moradores de Brumadinho parece durar uma semana desde a sexta-feira. Ontem, o pesadelo começou pouco depois das 5h, quando o alarme de emergência do complexo de barragens do Córrego do Feijão disparou com a mensagem: “Atenção, esta é uma situação real de emergência de rompimento de barragem. Abandonem imediatamente suas residências”, dizia o comunicado, seguido de uma forte sirene, ouvida nas comunidades e em partes da cidade. As horas que se seguiram foram de desinformação, drama e desespero. Ao ouvir a sirene, Agnaldo Santana dos Santos saiu para as ruas para acordar os vizinhos. “Como acordo cedo, saí para a rua e fui acordando todo mundo”, disse, enquanto olhava para o local onde cerca de 30 casas que foram engolidas pela lama na sexta. “Nós estamos preocupados com nossos amigos que morreram, muita gente desapareceu.”
A sensação de desamparo de Agnaldo e milhares de outros moradores ontem evidenciou a precariedade da estrutura necessária para socorrer a população em caso de remoções de emergência. Parque da Cachoeira é uma das áreas mais atingidas pelo rompimento da barragem de rejeitos do Córrego do Feijão e, por isso, uma das que mais preocupam em caso de evacuação. No início da manhã, os bombeiros alertaram para que 24 mil pessoas deixassem suas casas, em bairros como Pires, Centro, Novo Progresso. Depois, à tarde, reduziram para 3 mil o número de moradores que deveriam ser evacuados por causa do risco iminente de rompimento da barragem de água B6 da Vale.
Após o susto de acordar com o alarme de emergência, Adélia de Oliveira não teve nem tempo de tomar os remédios para a pressão. “Quando cheguei no caminho, desmontei. Aí passou um homem e falou que me levaria”, disse Adélia, aferindo a pressão em frente à Unidade Básica de Saúde, que serve de ponto de apoio para a população do vilarejo que, segundo o líder comunitário Adilson Charles, tem cerca de 150 casas. Para dar conta do número de pessoas estimado pelos bombeiros, foram estabelecidos três pontos de segurança: a igreja matriz de São Sebastião, o Quartel da Polícia Militar, no Bairro Progresso e o Morro do Querosene. Em caso de vazamento, a previsão era que de 3 a 4 milhões de metros cúbicos de água chegariam à cidade.
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Com estradas destruídas, acesso é só por helicóptero
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Nas ruas
Pouco antes das 6h, todos os moradores estavam fora de casa. O dia amanhecia e ninguém sabia o que fazer. “A sirene tocou de manhã e todo mundo saiu, em seguida, o pessoal voltou para casa e ninguém deu informação se podia descer ou não. A situação é crítica”, relata Adilson Charles. “Mais de 20 casas aterradas. Tem uma vítima ali dentro, morador do bairro. Se eu não tivesse ido atrás do pessoal para isolar a área, estaria aqui tudo igual.”
Os primeiros bombeiros civis chegaram ao vilarejo por volta das 8h30. Passava das 9h quando foi colocado um cordão de isolamento e, então, os moradores começaram a deixar as casas – apenas da parte mais baixa. Cláudio Santos se emocionou ao trancar a porta da casa de três cômodos, sem reboco nas paredes. “É a única casa que tenho, agora que a plantação começou a dar mandioca, as plantas estão bonitas”, lamentava Cláudio Santos. Outros moradores de Parque da Cachoeira não tiveram tempo para se despedir da casa, quando a lama passou e levou parte do bairro. “Minha casa tinha tudo: dois banheiros, televisão em cada quarto, máquina de lavar, panela elétrica. Foi tudo embora e não avisaram nada”, conta Laureane Oliveira de Souza. Se o passado, a lama levou, o futuro parece ainda pior. O marido de Laureane, Dari Laurindo, trabalhava em dragas de areia do Rio Paraopeba, atingido pela lama. “Perdemos carro, casa, foi tudo embora”, diz, desolado.
No meio da tarde, após a maior parte do volume de água ser retirado da represa, a Defesa Civil liberou o retorno das famílias para suas casas e a retomada das buscas pelos cerca de 300 desaparecidos. Ao todo, 58 corpos já foram encontrados e 16, identificados. Para Eronice Alves Ferreira, de 39 anos, e os filhos, a busca pelo marido, o operador de máquinas Rodrigo Henrique de Oliveira, de 30 anos, se tornou um sofrimento ainda maior desde sábado. Um dia após a tragédia, o nome de Rodrigo foi incluído equivocadamente pela Vale em uma lista de pessoas localizadas com vida e levadas ao hospital. Desde então, ela carrega no bolso uma foto em que ela aparece sentada ao lado do marido, para ajudar na localização. “Quero que ele apareça, que eles me deem uma solução. Ou vivo, ou morto. Foi alguém que preencheu aquela lista. Então, para onde mandaram ele? Eu quero ele”, desabafa.
O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, que esteve ontem em Brumadinho, afirmou que é preciso “ir além e acima” na implementação de ações de segurança para a operação de barragens de minas. “Vamos criar um colchão de segurança bastante superior ao que a gente tem hoje para garantir que nunca mais aconteça um negócio desse”, afirmou o executivo.
O prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo (PV), que se encontrou com Schvartsman, culpou a Vale pela tragédia socioambiental no município, que depende cerca de 65% do que arrecada com mineração. Segundo ele, a Defesa Civil do município fiscalizava a operação da mina de acordo com as especificações pontuadas na licença concedida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvenvolvimento Sustentável (Semad). A prefeitura multou a mineradora em R$ 100 milhões por causa do rompimento. “A gente acredita que outra barreira não vai estourar. Não podemos ter tanta falta de sorte”, afirmou.