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Alisson com a mãe, Marcilene, e o irmão, Micael. Ele encontrou perspectivas a partir do projeto
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Quem pensa na Estrutural pode logo associar a imagem da cidade a todos os problemas enfrentados pelos moradores, entre eles, a falta de infraestrutura de um lugar que, por muitos anos, abrigou o maior lixão da América Latina. Mas quem vê além enxerga ali uma oportunidade de promover mudanças. Foi pensando nisso que a economista Luciana Van Tol, 33 anos, resolveu criar um projeto que aproximasse crianças e adolescentes da escola durante o sábado, para que eles pudessem ter aulas gratuitas de uma nova língua. Um dos alunos, Alisson Pereira, 16, começou o curso sem perspectivas, mas, hoje, depois de dois anos, tem uma expectativa concreta: “Quero ser professor e dar aulas de inglês e de libras”.
O projeto Inglês na Estrutural tem inspiração em ações semelhantes em São Paulo, o estado natal de Luciana. A Organização Não Governamental (ONG) Cidadão Pró-mundo oferece o ensino da nova língua para jovens e adultos de comunidades carentes, com uma organização que chamou a atenção da paulista moradora de Brasília. “Eles têm um sistema bem-sucedido, trabalhando com uma equipe de professores voluntários que se revezam, então achei muito interessante”, conta.
A partir da ideia inicial, a economista encontrou o local perfeito para colocar o projeto em prática. “Eu conheci uma ONG chamada Coletivo da Cidade, na Estrutural, e vi como seria importante levar esse planejamento para lá. Porque a cidade tem muitos adolescentes, um dos piores índices de qualidade de vida do DF e é carente de serviços públicos. Além disso, muitas famílias acabavam tirando a renda dos trabalhos do lixão e precisaram se reestruturar depois do fechamento.”
O projeto começou em 2014, quando voluntários passaram a se organizar em diferentes áreas, desde professores até os que não sabiam nada da outra língua. Ao todo, quatro modalidades de serviços foram criadas e nomeadas: VolunTeacher, VolunTeam, Quiet Time e Voluntário Especialista. Enquanto a primeira é formada por professores, as outras se dividem entre ajudantes que auxiliam desde os processos administrativos, como organização de matrículas e financeiro, até os que cuidam da comunicação ou das atividades de meditação e respiração com os estudantes, nos intervalos.
Mudança de vidaAlisson mostra com orgulho o livro de inglês, conversa na nova língua e até ajuda o irmão, Micael Pereira, 12, que também entrou no projeto. Mas, há dois anos, antes de se matricular nas aulas, as coisas eram um pouco diferentes. A mãe dele conta que o jovem tinha muita dificuldade na escola em algumas matérias, e não conseguia encontrar muita motivação para estudar mais, mas isso mudou depois da participação no curso.
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Luciana Van Tol, idealizadora do projeto: ajuda para quem mais precisa
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“Eu conheci o Inglês na Estrutural em 2016 e fiz logo a inscrição dele. Depois de pouco tempo, vi as mudanças. As notas dele melhoraram no colégio, ele se dedicou mais e nós passamos a ter como uma rotina ele ir de manhã cedo para lá, todos os sábados”, diz a comerciante Marcilene Pereira, 35.
As aulas ocorrem semanalmente, das 9h às 12h, com intervalos para descanso e lanche. E esse acolhimento dos voluntários, que se preocupam com tudo aquilo que vai além da sala de aula, é essencial para Alisson. “Eu acho muito legal, porque várias pessoas carentes são ajudadas. Eu já aprendi muita coisa e sei que isso vai me ajudar muito, porque quero ser professor e dar aula de inglês e de libras”, planeja.
Permissão para sonharO conteúdo passado nas salas de aula do Centro de Ensino 1 da Estrutural vai além de conhecimentos para passar em provas. É nisso que acredita Gabriela Reis, 32, voluntária do projeto há três anos. “Eu era moradora da cidade, sabia inglês e gostaria de fazer algo com as crianças que não tinham acesso a esse estudo, então me voluntariei. É uma experiência incrível, porque sempre têm histórias dos alunos que marcam a gente”, conta.
“Uma garota, por exemplo, uma vez me perguntou qual era meu sonho, e eu respondi aquele clichê, disse que queria ser rica. Aí, eu perguntei qual era o dela e ela me respondeu: ‘Ser voluntária aqui, que nem você’. Aquilo me emocionou muito”, completa.
Outra participante do projeto já começa a pensar na importância do curso para quem deseja crescer. Lucélia Tainá, 16, conheceu as atividades pelo irmão, que também era voluntário, e hoje conta que já aprendeu muito e se sente capaz de ir além. “É uma ajuda ótima para quem não tem condições para pagar um curso. E, para mim, aprender inglês pode me ajudar a conhecer o mundo, criar oportunidades nas minhas metas de carreira e abrir novas portas”, deseja.
160Número de alunos de 7 a 17 anos atendidosAnote
Inglês na Estrutural
- O projeto recebe, até 19 de janeiro, inscrições para interessados em trabalho voluntário.
- Não é necessário saber inglês, já que existem áreas de atuação administrativa
- Inscrições: www.facebook.com/inglesnaestrutural
- Informações: inglesnaestrutural@gmail.com