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Cenário de devastação: além de cães farejadores, máquinas têm sido empregadas na procura das vítimas
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O número de mortos em consequência do rompimento de uma barragem da Vale, em Brumadinho, na última sexta-feira, chegou a 110, segundo o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil de Minas Gerais. Entre os corpos resgatados, 71 foram identificados. Até agora, a tragédia deixou ainda 238 desaparecidos e 108 desabrigados e desalojados.
A barragem que se rompeu tinha cerca de 13 milhões de m³ de rejeitos, que foram despejados sobre a região do Córrego do Feijão, atingindo a área administrativa da empresa, a comunidade da Vila Ferteco e a pousada Nova Estância. A onda de rejeitos chegou até o Rio Paraopeba, a cerca de 8km da barragem, e começou a se mover em direção ao Rio São Francisco.
Desde o rompimento da barragem, os bombeiros fazem buscas por vítimas em meio à lama que se espalhou pela região. Cães farejadores ajudam na localização de corpos e, em alguns locais, máquinas vêm sendo utilizadas. Ontem, as buscas chegaram a ser suspensas para garantir a segurança dos militares envolvidos nas operações. O motivo foi a previsão de tempestades na região de Brumadinho.
Em meio ao trabalho incessante dos bombeiros, os dramas humanos se sucedem. Paulo Aniceto vai ao Centro de Operações todos os dias, em busca de informações sobre o filho, Éverton Guilherme Ferreira Gomes, de 21 anos, um dos desaparecidos na tragédia. Ele acredita que o filho possa ter escapado. “Conversei com ele pouco tempo antes (do rompimento da barragem) pelo WhatsApp, e acho que ele possa estar vivo, que tenha corrido para a mata. Não era pra ele estar aqui”, lamenta.
A convicção de Paulo na sobrevivência do filho é tanta que, nos dois dias seguintes, ele enviou novas mensagens pelo celular. No sábado, ele escreveu: “Amo você, meu filho. Senhor Jesus, cuida do meu filho...”. No domingo, enviou outra postagem: “Oi, meu filho, estou com muita saudade!!! Oi, meu amor, papai está com muita saudade de você, beijos, te amo...” Paulo não se consola com as promessas de ajuda da Vale para as famílias das vítimas. “A Vale está falando em dar dinheiro, R$ 100 mil, mas eu não quero dinheiro. Quero meu menino!”, diz ele.
Empregado havia 30 dias na Progen, empresa terceirizada da Vale, Éverton tinha planos de se casar. No dia da tragédia, o jovem, cujo posto de trabalho como gestor de qualidade era na sede da Progen em Nova Lima, foi a Brumadinho conhecer o chefe, que estava na Mina Córrego do Feijão. O pai conta que o chefe de Éverton, cujo nome não sabe, também está desaparecido. “Acho que eles estavam juntos, dentro do carro da empresa. Ainda tenho esperança de encontrá-los”, afirmou.
CadastramentoNa tarde de ontem, o cadastramento das famílias dos atingidos pelo rompimento da barragem para receber a doação de R$ 100 mil da Vale começou a ser feito. No fim do dia, 44 pessoas tinham feito o cadastro. Claudinete Euflávia do Carmo Miranda esteve no local na tentativa de se registrar. Ela é casada com o operador de máquinas Wagner Walmir Miranda, que está desaparecido. “Meu atendimento é só na semana que vem, mas aproveitei que já estou aqui pra tentar fazer. Não posso andar muito por conta de uma cirurgia que fiz na perna e já queria aproveitar a vinda até aqui”.
Ela conta que tem dois filhos com Wagner, um de 12 anos e outro de 7, que choram todos os dias pela falta do pai. “Não sei nem o que pensar desse dinheiro que a Vale vai dar pra gente, mas acho que pelo menos é uma forma de tentar continuar com a educação e a vida que o meu marido conseguia dar pra gente. Eu não trabalho, a renda que tínhamos era apenas o salário dele”, contou.