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Tetracampeão. Tenório conquista a quarta medalha de ouro, na Paralimpíada de Pequim

EM FOCO: DESTAQUES DO BRASIL NA PARALIMPÍADA

 

Simone Oliveira*

Nos últimos anos, o Brasil tem mostrado que se tornou uma potência nos esportes paralímpicos. Mesmo participando da Paralimpíada desde 1972, os resultados mais expressivos só ocorreram na última década. O aumento de investimentos públicos e da iniciativa privada ajudou a difundir mais centros para prática do paradesporto como também a melhorar o rendimento de atletas e proporcionar o aparecimento de super-atletas.

Entre os atletas paralímpicos brasileiros que alcançaram resultados expressivos, conquistaram recordes e medalhas na natação, no atletismo e no judô, e, acima de tudo representam a garra e a coragem de vencer as adversidades, estão:

Clodoaldo Silva

“Clodoaldo Recorde da Silva”, “Clodoágua”, ou “tubarão paralímpico”, essas eram algumas referências dadas ao atleta que conquistou nosso primeiro ouro na história da natação da Paralimpíada, e foi o primeiro de muitos. Clodoaldo Francisco da Silva nasceu em 1º de fevereiro de 1979, em Natal, Rio Grande do Norte. Devido a complicações durante o parto, teve paralisia cerebral, o que comprometeu o movimento de suas pernas e a coordenação motora. Até os 16 anos passou por várias cirurgias, até que seu médico sugeriu que praticasse algum esporte. Aos 17 anos, começou a fazer natação para acelerar seu processo de reabilitação e dois anos depois, em 1998, conquistou três medalhas de ouro em seu primeiro campeonato brasileiro. Já em 2000, representando o Brasil na Paralimpíada de Sidney, ganhou 4 medalhas, 3 de prata e 1 de bronze. Em 2004, na Paralimpíada de Atenas, Clodoaldo levou 7 medalhas para casa, sendo 6 de ouro (50m, 100m, e 200m livre, revezamento 4x50m medley, 50m borboleta e 150m medley individual) e 1 de prata, no revezamento 4x50m livre. Já em Pequim, foram 2 medalhas: prata no revezamento 4 x 50m medley e bronze no revezamento 4 x 50m livre. Na Rio-2016, o nadador conquistou uma prata no revezamento 4x50m livre misto e anunciou sua aposentadoria das piscinas. São 14 medalhas em quatro paralimpíadas. Além de recordes mundiais, o atleta coleciona medalhas de Jogos Parapan-Americanos e Mundiais de paranatação, resultados que fizeram de Clodoaldo um mito das piscinas, com trabalho reconhecido no Brasil e no mundo. Foi eleito o melhor atleta paralímpico pelo Comitê Paralímpico Internacional (CPI), em 2005. Hoje, Clodoaldo se dedica a projetos sociais que incluem palestras motivacionais e apoio à prática da natação para portadores de deficiência. Na cerimônia de abertura da Paralimpíada Rio-2016, o nadador foi o escolhido para acender a pira e dar início aos Jogos.

Daniel Dias

Inspirado pelas conquistas do ídolo Clodoaldo, em Atenas (2004), começou a praticar natação e quatro anos mais tarde, tornou-se o maior medalhista paralímpico da natação masculina. Daniel de Faria Dias nasceu no dia 24 de maio de 1988, em Campinas, São Paulo. Seu parto ocorreu com 37 semanas e Daniel teve má formação dos membros superiores e da perna direita. Com apenas três anos passou por uma cirurgia para poder fazer o uso de próteses. Superou preconceitos na escola, como o apelido de “saci”, aprendeu a tocar bateria e jogar bola. Maior referência da natação brasileira paralímpica na atualidade, Daniel coleciona 24 medalhas em apenas três edições da Paralimpíada, sendo 14 de ouro. Na Rio-2016, após subir no pódio por 9 vezes, Daniel Dias bateu o australiano Matthew Cowdray e se consagrou o maior nadador da história da paralimpíada, conforme reportagem do GLOBO de 18 de setembro de 2016. Daniel continua sendo o melhor atleta paralímpico brasileiro. Além das medalhas e dos recordes mundiais, ganhou prêmios que reconhecem suas expressivas conquistas, como o título de melhor atleta paralímpico do mundo, eleito por duas vezes, e o Laureus, considerado o Oscar do esporte, que recebeu nos anos de 2009, 2013 e 2016.

Ádria Santos

Vem do atletismo a brasileira com maior número de medalhas paralímpicas. Ádria Rocha Santos nasceu no dia 6 de setembro de 1974, em Nanuque, pequena cidade de Minas Gerais. A perda da visão foi gradativa, por conta de uma doença degenarativa chamada retinose pigmentar, até que, em 1994, fica completamente cega. Antes disso, Ádria já havia participado de duas edições dos Jogos Paralímpicos, em Seul (1988), onde conseguiu 2 pratas (100m e 400m rasos) e Barcelona (1992), 1 ouro (100m rasos). Já em Atlanta (1996), foram 3 pratas (100m, 200m e 400m rasos). Sydney (2000), 2 ouros (100m e 200m rasos) e 1 prata (400m rasos). Atenas (2004), 1 ouro (100m rasos), 2 pratas (200m e 400m rasos); e sua última participação nos Jogos foi em Pequim (2008), onde conquistou o bronze (100m rasos). A tetracampeã paralímpica, disputava na classe T11, para atletas com deficiência visual total que correm vendados e com um atleta-guia. Ao todo, foram 13 medalhas conquistadas pela velocista que até hoje é nossa maior medalhista feminina. Na Rio-2016, Ádria Santos foi a subprefeita da Vila Paralímpica e participou do revezamento da tocha em Joinville (SC) e na cerimônia de abertura da Paralimpíada, sendo a responsável por entregar a chama para Clodoaldo Silva, que acendeu a pira.

Alan Fonteles

Fenômeno das pistas, Alan Fonteles Cardoso de Oliveira, ficou mundialmente conhecido ao bater o então melhor do mundo, Oscar Pistorius, nos 200m rasos na Paralimpíada de Londres (2012), como mostra a reportagem publicada no GLOBO de 3 de setembro de 2012. Alan nasceu em 21 de agosto de 1992, na cidade de Marabá, Pará. Teve que amputar as duas pernas ainda bebê, devido a uma septisemia. Ainda criança demonstrou interesse pela corrida, algo que inicialmente era muito doloroso devido à precariedade das próteses que utilizava. Com muita dedicação e aprimoramento de suas próteses, começa a despontar no cenário nacional como velocista. Conquistou medalhas nos Mundiais de paratletismo e em Parapan-Americanos. Em 2008, participou da Paralimpíada de Pequim, conquistando a prata no revezamento 4x100m. A consagração veio nos Jogos Paralímpicos de Londres (2012), quando fez história ganhando o ouro nos 200m rasos, contra o favoritismo de Oscar Pistorius. Atualmente, Alan Fonteles é considerado um dos melhores velocistas do mundo: recordista mundial nos 100m e 200m rasos, corre com próteses de fibra de carbono. Na Rio-2016, ficou abaixo da expectativa e conquistou apenas uma medalha de prata no revezamento 4x100.

Antônio Tenório

Um dos maiores nomes do judô paralímpico, o veterano e tetracampeão Antônio Tenório da Silva participou de seis Jogos Paralímpicos subindo ao pódio em todas as edições. Nasceu em 24 de outubro de 1970, na cidade de São Bernardo do Campo, São Paulo. Aos 13 anos de idade, perdeu a visão do olho esquerdo, quando uma semente de mamona lançada por um estilingue atingiu sua vista. Aos 19, uma infecção na vista direita deixou-o completamente cego. Tenório, que já praticava judô antes de perder a visão, continuou no esporte, chegando a participar de campeonatos regulares, para atletas sem deficiência e então, aos 21 anos, iniciou sua participação em competições paradesportivas. Tenório percorreu uma trajetória de ouro na Paralimpíada. Lutando na classe B1 (cego total sem nenhuma percepção luminosa em ambos os olhos), Tenório conquistou a medalha de ouro em Atlanta (1996), na categoria até 86 kg; Sydney (2000), na categoria até 90 kg; Atenas (2004) e Pequim (2008), na categoria até 100 kg e em Londres (2012), conquistou a medalha de bronze. Na Rio-2016, ficou com a prata na mesma categoria. No período entre 2007 e 2008, Antônio Tenório participou das gravações do documentário “B1” que fala de sua trajetória como atleta de alto rendimento e o acompanha até o final da Paralimpíada de Pequim. Após a conquista no Rio, Tenório vai estudar com sua equipe a possibilidade de disputar os jogos de Tóquio, em 2020, quando terá quase 50 anos.

* com edição de Gustavo Villela, editor do Acervo O GLOBO, e colaboração de Evelin Azevedo

Maior medalhista. O nadador brasileiro paralímpico Daniel Dias, ouro nos 50m costas, em Londres-2012

Maior medalhista. O nadador brasileiro paralímpico Daniel Dias, ouro nos 50m costas, em Londres-2012 Fernando Maia 06/07/2012 / CPB

Vitória. Ádria Santos, a brasileira com o maior número de medalhas no atletismo paralímpico, vibra com a conquista do ouro nos Jogos de Atenas

Vitória. Ádria Santos, a brasileira com o maior número de medalhas no atletismo paralímpico, vibra com a conquista do ouro nos Jogos de Atenas Louisa Gouliamaki 20/09/2004 / EFE