O rei Charles III foi formalmente proclamado para seu o novo cargo na manhã deste sábado, em uma cerimônia altamente coreografada que começou com tons graves e sombrios pela morte da rainha e foi concluída com exaltações vivazes à ascensão do novo soberano.
Charles se tornou o novo soberano britânico automaticamente com a morte da mãe, Elizabeth II, na quinta-feira, mas seu novo papel foi oficialmente proclamado neste sábado a partir das 10h (6h de Brasília )em uma cerimônia no Palácio de St. James. A coroação, porém, ainda vai demorar meses.
Pela primeira vez, a cerimônia de proclamação no palácio, uma residência real da dinastia dos Tudor perto do Palácio de Buckingham, foi televisionada. O evento foi realizado em duas partes. A primeira incluiu uma reunião do Conselho Privado do rei, composto por um grupo de conselheiros do monarca que normalmente atingiram altos níveis de cargos públicos.
Lá estavam todos os ex-primeiros-ministros britânicos vivos — Tony Blair, David Cameron, Gordon Brown, Theresa May e Boris Johnson — o líder da oposição, Keir Starmer, e também a nova premier do país, Liz Truss, empossada pela rainha Elizabeth II na terça-feira, dois dias antes de sua morte no Castelo de Balmoral, na Escócia, o último compromisso público da monarca.
Durante essa cerimônia, da qual o novo rei não participou, o Conselho de Adesão o proclamou o novo soberano britânico. Em seguida, o conselho aprovou formalmente vários arranjos necessários ao próximo reinado.
Na segunda parte da cerimônia, o rei Charles III se reuniu com o Conselho Privado e fez seu juramento e quatro declarações públicas tradicionais, também feitas por gerações de monarcas antes dele.
— É meu mais doloroso dever anunciar a vocês a morte de minha amada mãe, a rainha. Eu sei o quão profundamente vocês e toda a nação, e acho que posso dizer que o mundo inteiro, se solidarizam comigo pela perda irreparável que todos sofremos — disse Charles III. — Estou profundamente ciente desta grande herança e dos deveres e pesadas responsabilidades de soberania que agora me passaram. Ao assumir essas responsabilidades, devo me esforçar para seguir o exemplo inspirador que me foi dado ao defender o governo constitucional e buscar a paz, a harmonia e a prosperidade dos povos dessas ilhas e dos reinos e territórios da Comunidade Britânica em todo o mundo.
Charles acrescentou que "ao cumprir a pesada tarefa que me foi confiada, à qual dedico o que me resta da minha vida, eu oro pela orientação e ajuda do Deus Todo-Poderoso.”
As declarações de posse — pessoais e políticas — no passado teriam acontecido em uma cerimônia fechada com o texto publicado posteriormente na London Gazette, o registro oficial do governo.
Charles também fez um juramento para defender a Igreja da Escócia. O encontro inclui uma litania de proclamações oficiais para o rei Charles III assinar, incluindo uma que torna o dia do funeral da rainha um feriado em todo o Reino Unido. Após a sua assinatura, também assinaram documentos assumindo seus novos papéis Camilla, a rainha consorte, e William, o príncipe de Gales.
Rei Charles III fazendo seu juramento oficial — Foto: Reprodução
A proclamação foi feita a partir da varanda do Palácio de St. James pelo rei de armas da Jarreteira, o principal conselheiro real para temas cerimoniais e heráldicos. O cargo existe desde 1415, e atualmente é ocupado por David White.
O texto lido foi o mesmo para o Conselho de Adesão, e emprega um vocabulário em desuso:
— Considerando que agradou a Deus Todo-Poderoso chamar à sua misericórdia nossa falecida soberana rainha Elizabeth II, de abençoada e gloriosa memória, por cujo falecimento a coroa da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte é única e legitimamente concedida ao príncipe Charles Philip Arthur George — declarou White. — Nós, portanto, os senhores espirituais e temporais deste reino, e membros da Câmara dos Comuns, juntamente com outros membros do Conselho Privado de sua falecida majestade e representantes dos reinos e territórios, vereadores, cidadãos de Londres e outros, com uma voz e consentimento de língua e coração publicamos e proclamamos que o príncipe Charles Philip Arthur George, vem agora, pela morte de nossa falecida soberana de memória feliz, tornar-se nosso único suserano legal e feliz, Charles III.
O rei de armas da Jarreteira, David White, lê a proclamação de Charles III da varanda do Palácio de St. James — Foto: Daniel Leal/AFP
White então exclamou:
— Deus salve o rei!
Os membros do Coldstream Guards — a mais antiga tropa de infantaria de elite do Exército britânico em atuação e que faz a guarda do Palácio de Buckingham — tiraram seus longos chapéus pretos de pele de urso e exclamaram três vezes:
— Hip-hip, húrra!
Os membros da Colstream Guards tiram seus chapéus de pele de urso para celebrar a ascensão do novo rei — Foto: Daniel Leal/AFP
Uma procissão então saiu pelas ruas de Londres, com arautos encarregados de transmitir a proclamação por todo o país.
Após a leitura da Proclamação Principal da sacada do Palácio de St. James, as tropas do rei efetuaram disparos de 41 armas no Hyde Park e de 62 armas na Torre de Londres para marcar a ascensão de Charles III.
A pompa e a cerimônia têm resquícios de uma época antiga, e os procedimentos, consagrados na lei, remetem às fundações do Estado britânico moderno.
- Poder simbólico: Em 70 anos de reinado, Elizabeth II manteve-se admirada enquanto seu império se esfacelava
A segunda proclamação foi feita na Bolsa de Valores, na City, o centro financeiro de Londres, uma hora depois. A fanfarra soou e houve então um pedido de silêncio. O oficial de armas Tim Duke, que liderava os arautos, leu a mesma proclamação, e novamente houve o grito de “Deus salve o rei!”. A fanfarra tocou o primeiro verso do hino britânico, e três novos vivas foram dedicados a Charles, antes dos aplausos do público.
As bandeiras foram hasteadas a pleno mastro após a proclamação principal, depois de serem hasteadas a meio mastro desde que a morte da rainha foi anunciada no final da tarde de quinta-feira. Elas ficarão 26 horas a pleno mastro, e então serão abaixadas novamente uma hora após as proclamações no domingo. (Com The New York Times)