Depois dos motoboys brasileiros, chegou a vez dos mototáxis nas ruas de Portugal. A alternativa de transporte existe em todo Brasil, mas é tradicionalmente associada ao Rio de Janeiro, de onde veio a inspiração para o português Tiago Lousada criar o aplicativo Ixat.
— Morei no Rio de Janeiro, no Recreio, e peguei mototáxi algumas vezes durante um ano. Em Portugal nem havia algo assim naquele tempo. Sequer para pedir comida — disse Lousada ao Portugal Giro.
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Isso aconteceu em 2003. Desde então, Lousada pensou em replicar a ideia em Portugal, mas arquivou o projeto. Quando foi morar em Angola, há cerca de dois anos, e viu a versão africana dos mototáxis que chamaram sua atenção no Rio, resolveu retomar seus planos. Lançou o Ixat na última sexta-feira.
— É inédito em Portugal um aplicativo de mototáxi. Somos um marketplace, que faz a conexão entre mototaxistas e passageiros — disse ele, que fundou a empresa em sociedade com Elisabete Anjos Oliveira, responsável jurídica.
A criação do Ixat teve a contribuição de parte dos milhares dos motoboys brasileiros, que são maioria nas plataformas digitais em Portugal. Segundo Lousada, ele conversou com estes trabalhadores e recebeu dezenas de pré-inscrições.
Inicialmente, serão 100 mototaxistas. Os brasileiros e portugueses dominam a nova plataforma de maneira equilibrada.
— É quase metade para cada lado. E os brasileiros, quando conversamos, diziam para começar já com o aplicativo, porque nossas condições são mais interessantes para eles — contou Lousada.
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Os mototaxistas que já são motoboys ou devem estrear no serviço de transporte via aplicativo querem o mesmo: independência. Eles recusam o contrato de trabalho para continuar freelancers, indo de encontro aos planos do governo.
— Ninguém terá contrato com a gente, os mototaxistas são livres. Trabalham quando quiserem e quantas horas acharem necessárias. Conseguem saber de imediato a origem, o destino e o valor da corrida — disse Lousada, sem revelar o valor da comissão da empresa, que divulgou em comunicado ser a “mais baixa do mercado”.
Não existe em Portugal uma licença específica para mototáxis, o que ainda deve ser regulamentado. Para se associar à empresa, o mototaxista precisa ter moto, ser maior de 25 anos e possuir carteira de habilitação há três. Também são obrigatórios dois capacetes e seguros da moto e dos ocupantes.
O serviço está previsto para funcionar em todo o país, mas com maior presença no Algarve, Lisboa e Porto. Nas maiores cidades, os engarrafamentos são constantes neste período de retomada pós-pandemia de Covid-19.
— Criamos a plataforma para melhorar a mobilidade e partilhar os lucros com os mototaxistas. Não queremos ficar ricos — diz Lousada, que fechou parceria com um grupo para tentar disseminar o uso de motos elétricas.
A start-up sediada em Gaia, cidade vizinha ao Porto, recebeu € 100 mil (R$ 509 mil) de um investidor e planeja ampliar o campo de atuação. Atualmente, além de mototáxis, começa fazendo a entrega de pequenos objetos.
— Nosso diferencial para os carros de aplicativos é a rapidez. E não é caro usar o mototáxi, custa € 6 (R$ 30) a tarifa base, mais € 0,60 por km. E o serviço de entrega sai por € 3 a tarifa base e € 0,55 por km. Nosso público é o estudante que não tem carteira e prefere viajar a comprar um carro. E o profissional que sai de uma reunião para outra e nunca acha vaga para estacionar — aposta Lousada.