Depois de um hiato de quase três anos e de entrar em um processo de recuperação judicial por causa das dificuldades financeiras impostas pela pandemia de Covid-19, o Cirque du Soleil volta ao Brasil. A partir de quinta-feira, “Bazzar” será apresentado em São Paulo, em tendas instaladas no Parque Villa-Lobos. Dois meses depois, o espetáculo, que estreou mundialmente na Índia, em 2018, chegará ao Rio, no estacionamento do Riocentro.
— Com o novo espetáculo, quis trabalhar a coletividade tanto através da colaboração dos artistas uns com os outros como também pela interatividade com o público, criando algo como uma sinfonia — diz o diretor-artístico Johnny Kim.
O GLOBO viu três números da atração, com patins, cordas e trapézio. No palco, o “Bazzar” de Kim é ocupado por 29 acrobatas e quatro músicos. Suas cores, vibrações e acrobacias remetem, ele conta, aos primórdios do Cirque, criado em 1984, quando os artistas se apresentavam nas ruas de Montreal, no Canadá. O espetáculo, de seis atos, é inspirado justamente no caos criativo daqueles primeiros shows e no tilintar dos mercados árabes, os bazares, vendendo temperos, artesanatos, tapetes.
Logo no primeiro ato, patinadores e ciclistas acrobáticos se movem buscando oferecer a sensação de que tudo na história se conecta. A ideia é que a plateia experimente a vibração e a sensação rítmica do picadeiro. Liderados por um personagem batizado de Maestro, os acrobatas esbanjam virtuosismo. A narrativa, pensada antes da pandemia e fortalecida com os perrengues por ela causados, é centrada na rotina dos artistas e em uma passagem de bastão: um personagem batizado de “Mini-maestro” precisa compreender as habilidades do protagonista para se afirmar e dar sequência ao espetáculo.
“Bazzar” apresenta ao público técnicas inéditas para o Cirque, entre elas o hairceau, manobra em suspensão feita com uma corda amarrada a um aro e ao cabelo de um dos componentes, e o mallakhamb, movimento de origem indiana em que uma dupla se exibe no trapézio. Não por acaso, a estreia, em agosto de 2018, aconteceu em Mumbai. De lá para cá, o espetáculo mudou um pouco: o Maestro agora interage com o público, e, na parte das manobras, aumentaram os números aéreos e a altura em que eles ocorrem, “ficando ainda mais surpreendente”, diz o diretor.
“Bazzar” conta com a participação de dois brasileiros, o acrobata Helder Vilela, que faz números no ar com panos e já participou de edições anteriores do grupo, e o percussionista Fred Selva.
— Para o “Bazzar”, eles queriam um percussionista brasileiro que desse um sotaquezinho musical e “abrazucasse” a apresentação — diz Selva, que incluiu na seção instrumental o pandeiro e o timbau.
Helder Vilela, que jogou futebol nas divisões de base do São Paulo, faz um solo suspenso com panos. Em 2018, ele foi convidado para uma audição do Cirque du Soleil no Brasil e integrou o elenco de “Cosmos” em uma turnê europeia da companhia.
— O fato de ter sido atleta acabou me ajudando, inclusive para o novo solo que faço — diz o acrobata.
Os preparativos de “Bazzar” no Brasil marcam a retomada dos ensaios da trupe desde a interrupção causada pela pandemia. Em crise financeira, a trupe se viu obrigada a dispensar quase todos os funcionários — cerca de quatro mil, entre técnicos e artistas — e deu entrada no processo de concordata, com pedido de recuperação judicial ao governo canadense. Mas o Cirque agora ensaia a volta por cima.
— Recomeçamos as turnês em dezembro do ano passado e alguns integrantes chegaram a ficar 30 meses afastados dos palcos. Ninguém sabia como estariam física e emocionalmente. Por isso, e após um trabalho árduo, será especialmente emocionante reencontrar o público — diz Frank Hanselman, diretor sênior da turnê.
“Bazzar” fica em cartaz de 8 de setembro a 27 de novembro em São Paulo, e de 8 a 31 de dezembro no Rio. Os ingressos em São Paulo variam de R$ 140 a R$ 690, e no Rio de R$ 61,50 a R$ 690, on-line, pela plataforma Eventim.
(*) Estagiária, sob orientação de Eduardo Graça