Exatos 64 minutos foi o tempo que levou para que todos os ingressos do Rock in Rio disponíveis para hoje se esgotassem. Com a cantora britânica e fenômeno pop mundial Dua Lipa como grande atração da noite, o domingo de encerramento foi intitulado “Dia delas”. Isso porque o line-up é 100% feminino nos quatro principais palcos da Cidade do Rock: Mundo, Sunset, New Dance Order e Favela. Passando pelo pop, soul, axé e funk, além de Dua, nomes como Ivete Sangalo, Megan Thee Stallion, Ludmilla, Macy Gray e Liniker fazem parte da programação que promete encerrar o evento já deixando saudades, ou melhor, nostalgia.
Para o show final, o Rock in Rio apostou numa popstar de 27 anos, cinco de carreira, dois álbuns lançados, que é o pacote completo do que se espera de uma diva pop. Dua Lipa dispõe de bailarinos, figurino exuberante, energia, atitude e músicas dançantes como elementos da turnê “Future nostalgia”, que a artista levou para São Paulo na quinta-feira e que deve reproduzir na apresentação desta noite.
— A gente pode esperar um verdadeiro espetáculo — diz a crítica musical Yolanda Reis. — Ela é a mulher mais ouvida do mundo no Spotify e a terceira artista mais famosa na plataforma. Teremos uma apresentação memorável para o Rock in Rio, para a Dua Lipa e para a história das mulheres na música.
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Pelos vídeos de shows anteriores disponíveis na internet, dá para ter um spoiler do que vai acontecer no Palco Mundo quando Dua entoar hits como “Break my heart”, “Levitating”, “Physical”, “New rules” e “Sweetest pie”. Este último tem feito ainda mais sucesso nas redes sociais, afinal Megan The Stallion, rapper que canta o single com Dua, terá se apresentado no mesmo palco momentos antes, e os fãs clamam por um encontro das duas.
Para a diretora artística nacional do Palco Mundo, Marisa Menezes, o dia é uma “homenagem ao empoderamento feminino”.
— É importante para mostrar o quanto somos fortes e competentes, e que podemos, sim, eliminar o preconceito e deixar bem claro que o mundo é das mulheres — diz a diretora, que escolheu Ivete como uma das principais atrações brasileiras. — Ela é um legítimo exemplo de tudo o que está em discussão nestes novos tempos. Representa a força da mulher, uma artista completa e engajada.
Esta é a 17ª vez de Ivete no Rock in Rio (incluindo edições internacionais) — Foto: Fabio Rocha/O Globo
Esta é a 17ª vez de Ivete no Rock in Rio (incluindo edições internacionais) e, de acordo com a cantora, será um dos shows mais especiais de sua carreira.
— Energeticamente, a força feminina vai costurar o show de nós todas. Mas essa ideia de que a força feminina é poderosa tenho desde o início da minha existência e aplico isso na minha vida e nos meus shows — diz a baiana.
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No Palco Sunset, o line-up não somente é completo de mulheres, como todas são pretas: Liniker, Luedji Luna e, numa homenagem a Elza Soares, Majur, Agnes Nunes, Mart’nlia, Gaby Amarantos e Larissa Luz, além de Macy Gray e Ludmilla.
— Quando soube que tocaria num dia só de atrações femininas, pensei logo que precisaria mudar um pouco o show. Quando tem essa especificidade e significado, você quer empolgar as pessoas. Me deu muitas ideias — diz Macy.
A cantora Ludmilla, que fecha o Palco Sunset desta edição, tem tudo programado para o que promete ser um show de milhões, figurativa e literalmente — a cantora revelou em entrevista ter gastado em torno de R$ 2 milhões.
A cantora Ludmilla fecha o Palco Sunset desta edição — Foto: Divulgação
Lud tem mantido segredo sobre os detalhes de sua apresentação desta noite, mas adianta que o público pode esperar três momentos definidos.
— Vocês vão poder ver uma nova era da Ludmilla, um alter ego mesmo — diz. — Além dos três pilares musicais que me trouxeram até aqui: o pagode, que agora tem me abraçado generosamente com o “Numanice”, o funk, que foi o ritmo que me possibilitou realizar o sonho de ser cantora, e o pop. Eu e toda a minha equipe estamos vivendo para este show nos últimos tempos. Queremos entregar ao público algo à altura desta conquista. Vai ser uma apresentação emocionante e cheia de significados.
O “Dia Delas” marca uma conquista de espaço das mulheres na indústria musical, que, além de tudo, reflete a configuração dos bastidores do festival. Segundo o Rock in Rio, 65% dos cargos de liderança na empresa são ocupados por mulheres e 63% de todo o quadro de funcionários do Rock in Rio Brasil é composto por mulheres.
Já embaixo dos holofotes, entre as atrações dos palcos Mundo e Sunset, 39% são femininas, o que demonstra avanço quando comparado ao festival Lollapalooza deste ano, que apresentou 24%. (ambos possuem o mesmo número de atrações total quando considerados os dois palcos principais do Rock in Rio).
— Acho que qualquer portinha que se abre é válida, às vezes a gente tem que entrar por frestas e, querendo ou não, não é nem uma fresta, são vários palcos. Tenho certeza que todas as mulheres que estarão lá, vão representar no discurso.
Curadora musical e fundadora da plataforma WME (Women’s Music Event), dedicada à participação feminina na indústria musical, Monique Dardenne, concorda com Titi que a iniciativa do Rock in Rio abre espaços.
— Alguns produtores do mercado ainda tem um pensamento retrógrado de que “mulheres não vendem ingresso”, por isso, um festival como o Rock in Rio dedicar um dia de line up 100% feminino, que se esgotou em uma hora, reverbera para outros festivais e incentiva mudanças desse mindset — diz Monique, que criou em 2021 o selo Igual, com o objetivo de garantir equidade de gêneros das programações de eventos e nas equipes de empreendimentos musicais. — A indústria ainda é muito dominada por homens que tem dificuldade em abrir espaço, se colocar como igual numa tomada de decisão e dar credibilidade a mulheres, isso é uma condição estrutural da sociedade… O mercado musical só vai mudar, quando isso também mudar.