Quando subir ao palco montado na Praça Mauá, hoje, às 17h, Roberto Tibiriçá revisitará lembranças com a Orquestra Sinfônica Brasileira (da qual foi diretor artístico entre 1995 e 1997) e com o Projeto Aquarius, que retoma suas apresentações no ano em que celebra o seu cinquentenário. Durante a semana, em ensaios na Cidade das Artes, o maestro lapidou o repertório que sintetiza a troca entre a música de concerto e o popular, uma das características que consagraram o projeto.
Além de tocar obras de Strauss, Tchaikovsky, Ravel, Carlos Gomes e Villa-Lobos, a OSB receberá o cantor e compositor Lenine e interpretará alguns de seus sucessos em arranjos sinfônicos, a exemplo de “Jack soul brasileiro”, “Silêncio das estrelas” e “Leão do Norte”. O evento também contará com a participação do acordeonista João Pedro Teixeira, do grupo de passinho Oz Crias e de jovens músicos do projeto Conexões Musicais, sendo seis da Baixada Fluminense e outros três do Programa Vale Música Belém.
Uma realização do GLOBO, o Aquarius tem apresentação das empresas Vale e Vibra; patrocínio do governo do Estado do Rio de Janeiro e da secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura; apoio do Sesc-RJ; e parceria da Orquestra Sinfônica Brasileira.
Criado em 1972 pelo jornalista Roberto Marinho (1904-2003), por Péricles de Barros (1935-2005), então gerente de Promoções do GLOBO, e pelo maestro Isaac Karabtchevsky, o Projeto Aquarius marcou a carreira de Tibiriçá, em apresentações como a realizada na Enseada de Botafogo, em 1996, na qual regeu a “Sinfonia nº 2”, de Gustav Mahler, diante de 150 mil pessoas. Confira os principais tópicos da entrevista com o maestro.
Seleção de repertório
Roberto Tibiriçá: “Estou emocionado. A última vez que participei do Aquarius foi na década de 1990. Foi inesquecível reger a ‘Sinfonia nº 2’, de Mahler, para 150 mil pessoas, na Enseada de Botafogo”, diz maestro — Foto: Leo Martins
“A proposta inicial era tocar as obras icônicas que foram apresentadas nesses 50 anos. Mas seria difícil de dimensionar e aí fomos eliminando alguns temas. Com a entrada do Lenine, vimos o que funcionava melhor. Fora as canções dele, todas as outras do repertório já foram interpretadas em outras edições do projeto, inclusive a do Sivuca (‘Concerto sinfônico para Asa Branca’).”
Arranjos sinfônicos
“As músicas do Lenine são muito bonitas e os arranjos ficaram primorosos. Ler na partitura é uma coisa, mas quando ouvimos a orquestra tocando, as músicas ganham outra dimensão. Essa troca com o popular é algo que eu faço também numa série chamada ‘Sinfônica pop’, em que interpretamos repertório de artistas como Chico Buarque, Daniela Mercury e João Bosco, com arranjos sinfônicos.”
Erudito e popular
“O mundo mudou e o Aquarius reflete este movimento. Quando o projeto foi criado, em 1972, a proposta era aproximar a música clássica da população, eram outros tempos. Com os anos, a música popular de boa qualidade entrou para somar. É como na nossa casa, também gosto de ouvir Vinicius, Tom, Dolores Duran. Se ficar só ouvindo Beethoven, eu não aguento (risos).”
Reencontro com Aquarius
“Estou emocionadíssimo. A última vez que regi o Aquarius, na década de 1990, ainda estava como diretor da OSB. Passa um filme enorme na cabeça. De forma geral, todos os integrantes estão muito envolvidos com essa volta. Mas com os músicos que estavam naquela época tem uma viagem interior, do que a gente viveu no passado.”
Lembranças
“Foi inesquecível reger a ‘Sinfonia nº 2’, de Mahler, para 150 mil pessoas. Foi uma loucura do meu querido amigo Péricles de Barros, que criou um palco aberto, para que o público tivesse a visão do Cristo Redentor. Tivemos que adiar por duas semanas por causa da chuva. Na terceira semana o tempo estava bom e foi um acontecimento.”
Montagem do Projeto Aquarius na Praça Mauá — Foto: Hermes de Paula
Ao ar livre
“O meu professor, o grande maestro Eleazar de Carvalho, dizia que os concertos ao ar livre são as maiores expressões musicais e de interação com o público. Ruídos que podem incomodar numa sala de concerto, como um choro de criança, não são ouvidos em espaços abertos. Ali tudo é uma festa, o público pode cantar junto, bater palmas. A principal preocupação é com o técnico de som, que vai amplificar a orquestra. Ele é quase um segundo maestro, que pode fazer um evento ser inesquecível para o bem ou para o mal, no caso de uma falha técnica. O retorno para a orquestra é fundamental, principalmente para instrumentos de som mais delicado, que quase não soam, como a harpa, a celesta, o corne inglês.”
Onde e quando
O palco está montado na Praça Mauá, entre o Museu de Arte do Rio (MAR) e o Museu do Amanhã. O concerto, gratuito, acontece hoje às 17h, com apresentação de Ana Paula Araújo.
Como chegar
O acesso poderá ser feito por VLT (estação Parada dos Museus), ônibus ou metrô. No último caso, a melhor opção é desembarcar na estação Uruguaiana, atravessar a Av. Presidente Vargas e seguir pela Rua Acre em direção à praça.
Programa
Na abertura, a OSB tocará a “Marcha triunfal”, da ópera “Aída”, de Verdi. A orquestra fará um número de percussão acompanhando o passinho do grupo Oz Crias e receberá Lenine interpretando sucessos, como “Jack soul brasileiro”, em arranjos sinfônicos. O repertório inclui ainda obras de Villa-Lobos (“O trenzinho do caipira”), Sivuca (“Concerto sinfônico para Asa Branca”, com o acordeonista João Pedro Teixeira), Carlos Gomes (“O Guarani”), Ravel (“Bolero”) e Tchaikovsky (“Abertura sinfônica 1812”).