Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão quinta, 27 de agosto de 2020

ARNALDO SACCOMANI SE ENCANTOU: PRODUTOR MUSICAL E JURADO DO PROGRAMA ÍDOLOS MORRE AOS 71 ANOS DE IDADE

 

Morre aos 71 anos Arnaldo Saccomani, produtor musical e jurado do programa 'Ídolos'

Causa da morte não foi divulgada, mas o músico sofria de diabetes severa e tinha problema renal

Redação, O Estado de S.Paulo

27 de agosto de 2020 | 07h41

Arnaldo Saccomani
O músico e produtor Arnaldo Saccomani  Foto: JF Diório/ Estadão/ 12-11-2009

Morreu na madrugada desta quinta, 27, o produtor musical Arnaldo Saccomani. Com 71 anos completados na segunda, 24, músico não teve causa da morte divulgada. Ele tinha diabetes severea e insuficiência renal  e estava com as filhas no interio de São Paulo. 

Em post nas redes sociais, sua filha Thais Saccomani, publicou uma imagem com o pai e escreveu: "Sempre estaremos juntos", e ainda compartilhou homenagens de amigos e colegas, como Rick Bonadio e J.C. do grupo Sampa Crew.

 

Rick Bonadio: "É com uma profunda tristeza que dedico esse espaço ao grande amigo, mestre e pessoa que me deu as primeiras oportunidades e incentivos na minha carreira na música. @arnaldosaccomanitv partiu agora à pouco. Sua querida filha Thais me avisou pois sabia da nossa relação de amizade e vida. O Arnaldo é um dos maiores produtores musicais desse país se não o maior. Talentoso, carismático e o rei dos comentários inesperados mas profundamente pertinentes. Obrigado ppr todos os ensinamentos mestre Lindaço , te conheci por um equívoco do destino e graças a você pude fazer o que mais amo na vida. Descanse em paz".

Arnaldo Saccomani

Arnaldo Saccomani no júri do 'Ídolos' junto com Carlos Eduardo miranda, Thomas Roth, Cynthia Zamorano
Foto: Luiz Coruja/ SBT

SJ.C. do grupo Sampa Crew: "É com uma imensa tristeza que até me enfraquece, que lamento a partida desse plano, daquele que sempre será, pela enorme admiração que sempre o tivemos, considerando o quinto integrante do Sampa Crew. Meu maior parceiro músical em composições de sucessos fundamentais do Sampa Crew que deram início a uma jornada de êxitos inesquecíveis de nossa carreira". 

Saccomani era também compositor e instrumentista e ficou mais conhecido ao participar como jurado de programas como Ídolos,  do SBT, ao lado de Carlos Eduardo Miranda, Cynthia "Cyz" Zamorano e Thomas Roth.

Participou ainda da produção de discos de nomes como Rita Lee, Tim Maia, Ronnie Von, Larissa Manoela. 

 


Estadão quarta, 26 de agosto de 2020

MALU GALLI FALA SOBRE ESTAR ATUALMENTE NA TV COM TRÊS NOVELAS DIFERENTES

 

Malu Galli fala sobre estar atualmente na TV com três novelas diferentes

'Eu tive a sorte de fazer essas três personagens que me exigiram facetas diferentes', avalia a atriz presente em ‘Malhação’, ‘Totalmente Demais’ e ‘Amor de Mãe’

Eliana Silva de Souza, O Estado de S.Paulo

26 de agosto de 2020 | 05h00

A atriz Malu Galli tem publicado nas redes sociais o retorno das gravações da novela Amor de Mãe, e a volta de Lídia, sua personagem na trama. Para isso, todos os cuidados estão sendo tomados, desde o uso de uma placa de acrílico separando os atores até uma possível quarentena, para cenas de contato. De acordo com a emissora, essa retomada também está sendo possível porque houve uma troca de conhecimento com outras produtoras de audiovisual de outros países, como Itália, Suécia, Dinamarca, EUA. O certo é que o elenco tem comemorado essa nova fase. A novela retorna ao ar ano que vem.

 

Malu Galli
A atriz Malu Galli, de volta às gravações Foto: Victor Pollak/Globo
 

Em conversa com o Estadão, por telefone, Malu, que decidiu passar a quarentena longe do centro do Rio, reflete sobre esse momento de pandemia e o fato de estar na telinha da TV em três novelas ao mesmo tempo. Além da Lídia de Amor de Mãe, a atriz, de 48 anos, surge ainda como a Rosângela, em Totalmente Demais (2015), e como Marta, em Malhação: Viva a Diferença (2017). 

Em cada uma das novelas, Malu pode trabalhar perfis diferentes de personagens reais, de classes sociais distintas, mas com problemas comuns, que são vividos por inúmeras mulheres. As três têm em comum o fato de terem problemas com ex-maridos. “É uma narrativa até bastante recorrente na dramaturgia brasileira essa questão da mulher de 40, 50 anos que é trocada por uma mais nova. Sabemos que isso é um coisa que acontece na sociedade, mas eu acho que é uma maneira de a gente continuar batendo nessa tecla”, avalia a atriz, que acredita que a TV poderia contar outras histórias para as mulheres dessa idade. “Acho que, nesse sentido, os autores poderiam inovar, pois realmente há sempre esse momento em que você é trocada por uma mulher mais jovem”, em recado direto, dando a entender que esse tipo de narrativa é bastante machista.

Malu observa também o lado positivo dessas personagens que interpreta nas tramas. Além do ponto de traição amorosa, ela enfatiza que são três histórias diferentes, com mulheres fortes e atraentes. “Eu tive a sorte de fazer essas três personagens que me exigiram facetas diferentes, me exigiram mergulhos em universos diversos, e isso é sempre muito instigante para uma atriz, é isso que a gente busca com cada trabalho: aprender uma coisa diferente sobre nós mesmos”, diz. 

Para Malu, interpretar a Marta da novela teen Malhação: Viva a Diferença, de Cao Hamburger, lhe deu a oportunidade de viver os problemas inerentes à relação de uma mãe e a filha adolescente. “Foi muito interessante, tanto é que eu e a Manoela Aliperti, a Lica na trama, ficamos muito próximas e chegamos a repetir a parceria no teatro”, conta, revelando ver pontos em comum entre ela e a atriz. 

“Eu fui uma adolescente bastante rebelde, tive esses momentos de ruptura com a minha mãe, com muitos embates. Minha mãe, coitada, cortou um dobrado comigo.” Para ela, a relação entre mãe e filha é algo muito bonito e, hoje em dia, é bem próxima da sua, com os problemas da adolescência bem resolvidos. 

Já em Totalmente Demais, de Rosane Svartman e Paulo Halm, Malu era a batalhadora Rosângela, que sofria com os problemas dos filhos e com o ex-marido. Para a atriz, foi uma experiência muito feliz e inesquecível. “A Rosângela, apesar de ter esse lado burra, que fica aceitando esse traste desse homem, que ninguém merece, o Florisval (Ailton Graça), é essa mãe solteira, com três filhos, vinda de uma realidade da mulher brasileira, da grande maioria das mães, principalmente as da periferia.” Ela se diz grata por poder defender uma mulher assim, pois possibilitou a conquista de um lugar diferente na televisão. “Foi um momento importante de poder alargar um pouco o espectro dos personagens que eu vivo na TV, e a Rosângela é uma mulher muito encantadora, muito honesta, guerreira.”

Quanto à complicada Lídia de Amor de Mãe, novela de Manuela Dias, Malu acredita que a personagem terminará inteira, depois de uma trajetória de queda. A atriz diz que se trata de uma personagem de alta voltagem emocional, exigindo muito dela, mas também afirma que foi muito prazeroso fazê-la, com cenas muito boas, duras, difíceis, intensas. Segundo Malu, é interessante que, para superar o alcoolismo, a personagem precisou da ajuda de alguém que estava ao seu lado, mas ela não enxergava. “A Lurdes salva a vida dela com afeto e o cuidado de uma mãe”, diz. 

Aproveitando o período de isolamento, Malu ainda conseguiu fazer um filme reunindo amigos. Bocaina – que está em fase de produção, ainda sem data de estreia – contou com os atores Alejandro Claveaux e Ana Flávia Cavalcanti. A direção é de Fellipe Barbosa. 


Estadão terça, 25 de agosto de 2020

RAFA CASTRO: EM BELO DISCO, CANTOR TRATA DE QUESTÕES ATUAIS EM MEIO A UNIVERSO POÉTICO

 

 

No belo disco ‘Teletransportar’, Rafa Castro trata de questões atuais em meio a universo poético

Quarto álbum do pianista, cantor e compositor é resultado de suas viagens pelo País, reconectando-se à natureza, ao divino, à imensidão de povos, culturas e histórias 

Adriana Del Ré, O Estado de S.Paulo

25 de agosto de 2020 | 05h00

Com uma obra marcada pela poética nas letras e pelo lirismo na música, o pianista, cantor e compositor Rafa Castro se aprofunda ainda mais nessa bela combinação em seu recém-lançado quarto disco, Teletransportar. Existe uma densidade em suas novas composições, boa parte delas feita em parceria, que ganham como cenário as mais diversas paisagens brasileiras. Resultado do que ele viu, ouviu e sentiu em suas viagens pelo Brasil ao longo de dois anos. Mineiro radicado há cinco anos em São Paulo, Rafa deixou o espaço urbano e percorreu o País, reconectando-se, assim, à natureza, ao divino, à imensidão de povos, culturas e histórias. 

“Foram inúmeras viagens nesses dois anos, e foi me dando uma vontade imensa de falar desse mergulho que eu fiz, que foi um mergulho pelo Brasil, mas, na verdade, foi um mergulho para dentro de mim também. Foi uma reconexão com várias coisas, com a religiosidade que eu tinha deixado um pouco de lado. Fui ficando uma pessoa mais dura nos últimos tempos, e o contato com esse sertão, com o norte do País, com essas profundezas todas foi resgatando em mim uma religiosidade, uma valorização da natureza, um contato com o meio ambiente, uma sensação de unidade e de ligação que fui perdendo com o estar na cidade com o passar do tempo. E foram nascendo coisas tão fortes dentro do meu coração que fiquei entusiasmado para dividir através da minha música”, conta o músico de 31 anos, em entrevista, por telefone, ao Estadão

 

Dessa jornada de descobertas – e de autoconhecimento –, nasceu a primeira canção, Marajó, parceria dele e de sua mulher, Lorena Dini. A música foi composta em São Paulo, mas sob o impacto da viagem que o casal havia feito para a Ilha de Marajó, no Pará. “Nessa primeira viagem, a gente passou alguns dias na floresta, 3, 4 dias dormindo em rede. E a gente teve um contato muito grande com uma floresta originária, muito antiga, e com árvores muito robustas, gigantes. Eu nunca tinha tido essa experiência, foi muito forte”, diz o músico, que também se inspirou na vida de um pescador que conheceu lá, que, com um graveto na mão, desenhou na areia a rota de pesca que fazia e contou que ficava 11 meses do ano no rio. “Fiz uma música imaginando a partida dele”, completa Rafa. 

 
Rafa Castro
Rafa Castro acaba de lançar o quarto disco, 'Teletransportar'. Foto: Lorena Dini

Marajó começa dessa forma, em tom de saudade, lamento: “Não sei se um dia vou voltar/ Estou aqui frente ao mar/ Meu horizonte a Deus dará, confesso”. Nela, Rafa dialoga também com Guimarães Rosa e seu conto A Terceira Margem do Rio, que fala da partida de um pai numa canoa. Afinal, esteja onde estiver, o músico carrega consigo suas Minas Gerais, e os mineiros que o influenciam, de Clube da Esquina a Adélia Prado e Guimarães Rosa. “É um conto que mexe muito comigo, porque, nesse processo, meu pai adoeceu, teve câncer. Graças a Deus, hoje ele está bem.”

Cristalino, dele e Túlio Mourão, faixa que vem logo em seguida no disco, de certa forma, está ligada à narrativa de Marajó, já que o pai de Rafa e Guimarães Rosa, e seu conto, seguem nela reverenciados.

“Ao ver você partir, ao ver você deixar/ Pela primeira vez/ Cessar o que brotou/ Rompendo assim o curso da história”, canta ele em um trecho da canção. “É uma música que eu fiz para ele (pai) em forma de oração, que fiz para Iara, que me atende com uma condição”, explica Rafa, referindo-se à Mãe d’Água, personagem do folclore brasileiro. A condição? A resposta vem no final da canção: “Perdão minha jazida/ Mas entrego minha alma em seu lugar”.

Aliás, as águas permeiam boa parte das letras, sem ter sido um tema premeditado, conta Rafa. Chuva, mar, rio: está tudo ali. “Na verdade, não foi pensado. Quando eu olhei com um pouco mais de distância do conteúdo do disco, das músicas, percebi que as águas estavam muito presentes nesse processo do disco, das histórias. Acho que é muito simbólico, por essas viagens, por eu estar em contato com os grandes rios do nosso país.” 

Última desse ciclo a ser composta foi Cheiro de Mar, parceria com Mihay – e a primeira a ser lançada como single juntamente com o clipe. Rafa lembra que a canção foi composta em duas partes: em São Paulo, ao lado do parceiro; e finalizada numa tarde, quando ele estava no Lago Mamori, na Amazônia. “Quando terminei essa música, entendi que eu tinha um disco que conseguia contar uma história, do início ao fim.” 

'Enquanto os avanços tecnológicos nos permitem falar de coisas tão profundas intelectualmente, a gente está tendo de voltar a falar sobre respeito'

Disco elaborado de forma tão livre, a partir de viagens pelo Brasil – e fruto do contato com outras pessoas, outras realidades, outros cenários –, Teletransportar foi lançado em abril, em plena pandemia. Com esse trabalho, Rafa foi, literalmente, de um polo extremo a outro: da liberdade plena ao confinamento. “Fiz o disco com essa liberdade toda, e no início do ano comecei o processo, de fato, de produção, de gravação. Eu tinha uma série de shows já fechados, com lançamento em São Paulo. Em março, começaram as notícias do coronavírus chegando ao Brasil, os shows todos começaram a ser cancelados, adiados”, afirma o músico.

“Eu estava com o disco pronto e fiquei muito em dúvida sobre o que fazer, se eu aguardava para lançar esse disco em outro momento, mas a música falou por mim, porque ela sempre teve um papel transformador na minha vida. E lançá-lo foi um presente para mim, porque consegui falar ao coração de muita gente que tinha muita coisa conectada nesses dizeres, a vontade de se teletransportar, de sair de casa, de ir para outro lugar.” 

A música Teletransportar abre o álbum com mensagens fortes, sobre o presente, sobre o meio ambiente. O estopim para a composição, conta Rafa, foram as queimadas na Amazônia, do ano passado – e que continuam até hoje –, mas a canção também relembra as tragédias de Brumadinho e Mariana. “Eu assisti ao noticiário muito assustado (com as queimadas), e com as falas dos nossos governantes, de um descaso. Com isso, fui lembrando da lama de Brumadinho, de Mariana, e dessa ganância que vai consumindo tudo, a qualquer preço. E é um preço alto”, afirma. 

A canção tem início com imagens desoladoras. “Enquanto eu penso em teletransportar/ Vejo triste o jornal/ Na TV notícias de um fogo sem cessar”, diz trecho da letra. E se encerra em tom mais esperançoso. “Mas sonho com um mundo mais fraterno/ Pois sei que ditadores morrerão/ Assim o arco da história nos insiste em contar/ Que tudo vai passar / Enquanto eu penso em teletransportar.” Em tempos de pandemia, mais atual impossível. 

Teletransportar tem uma metáfora que sempre uso: enquanto eu gostaria que o raio laser viesse na cesta básica, infelizmente, estamos tendo de discutir noções muito básicas de respeito e humanidade. Que a gente tem que ter muita força para continuar lutando por uma dimensão poética da vida. Isso é uma coisa que me norteia de alguma maneira, porque é difícil encarar a realidade”, analisa. “Teletransportar fala de uma situação de fugir, de sublimar, de ter oportunidade de ir para outro lugar, tanto físico quanto o que a música nos proporciona, de um contato com o sobrenatural, com o divino. Mas fala também disso, de que era para a gente estar discutindo coisas muito mais profundas. Enquanto os avanços tecnológicos nos permitem falar de coisas tão profundas intelectualmente, a gente está tendo de voltar a falar sobre respeito. O papo era para estar em outro patamar.” 


Veja o clipe de 'Cheiro de Mar':

 


Estadão segunda, 24 de agosto de 2020

ESCRITORAS INDÍGENAS REFLETEM SOBRE LITERATURA

 

Escritoras indígenas refletem sobre literatura e lugar de fala

Um dos principais nomes do ativismo e da literatura indígena, Eliane Potiguara é homenageada no primeiro número da revista p-o-e-s-i-a, que apresenta 27 autores indígenas

Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de S.Paulo

22 de agosto de 2020 | 15h13

Essa é uma história nova e, ao mesmo tempo, muito antiga. Nova porque começou a ser escrita, literalmente, há cerca de 30 anos, depois da Constituição de 1988, depois do início das políticas públicas para a alfabetização dos povos indígenas e da promulgação da Lei n.º 11.645, que, em 2008, incluiu a temática História e Cultura Afro-brasileira e Indígena no currículo das escolas, abrindo caminho para a publicação de obras literárias. E antiga porque é milenar, remete a conhecimentos e tradições de muito antes de Cabral e foi passada oralmente de geração em geração. 

Uma história que começou a ser contada em livro por nomes como Eliane PotiguaraKaká Werá e Daniel Munduruku, e que hoje encontra novas vozes, linguagens e temas – sempre com o mesmo respeito pela ancestralidade e pela terra. 

 

Julie Dorrico tem 30 anos. Mora em Porto Velho, é macuxi, escritora, poeta e faz doutorado em literatura indígena na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande de Sul. Pelas suas contas, existem hoje, no Brasil, 57 autores indígenas. Ainda é pouco, mas é um começo – e Julie ajuda a divulgar o trabalho deles em seu canal no YouTube, o Literatura Indígena Brasileira. 

 

Julie Dorrico
Macuxi, Julie Dorrico é poeta e pesquisadora Foto: Acervo pessoal

Se antes o espaço era ocupado pelos autores de livros para crianças – e Julie diz que essa foi uma estratégia dos próprios escritores que, ao iniciar o diálogo com a sociedade dominante, optaram por começar a falar com educadores e crianças –, hoje vemos pensadores como Ailton Krenak e Davi Kopenawa despertando o interesse do grande público. 

Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, lançado por Ailton no ano passado, segue na lista dos mais vendidos e, junto com o lançamento A Vida Não É Útil, do começo do mês, já ultrapassa os 60 mil exemplares vendidos. A edição é da Companhia das Letras, que também publica Kopenawa e lançou, lá em 1997, o primeiro livro de Daniel Munduruku – que foi o primeiro de um indígena para crianças não indígenas. Hoje, Daniel e seus mais de 50 títulos já venderam 5 milhões de cópias. 

“Há um tema no mundo que tem favorecido a manifestação da literatura indígena que é uma preocupação coletiva com o meio ambiente – uma preocupação, diga-se, que sempre foi a dos indígenas. Isso tem permitido que esse lugar de enunciação seja mais escutado. Tem sido muito bacana porque a literatura indígena sempre discutiu isso e sempre se posicionou contra o capitalismo e a expansão”, comenta Julie Dorrico.

Para a pesquisadora, “a sociedade tem um papel muito importante na luta contra o racismo e pela desconstrução das hierarquias de opressão” e há muito o que ser repensado. “A literatura indígena tem ensinado o leitor não indígena a repensar a história, a memória, os imaginários simbólicos impregnados no imaginário nacional.” Tem ensinado a escutar.

E sobre o que essa produção fala? “Ela tem duplo aspecto. É de resistência, e essa é uma bandeira importantíssima para as minorias em direito, mas é também de reexistência, como diz Kaká Werá. Existe nela uma indignação em relação à colonização, que é sempre tematizada, e também o orgulho de ser indígena e o sentimento de afeto que existe com relação ao povo”, responde. Os autores são protagonistas e narradores de suas histórias. Histórias que lemos sem mediação ou interpretação, sem os estereótipos que marcaram a figura do indígena brasileiro em outros movimentos literários. E mais: existe a vontade de fazer diferente.

Julie Dorrico é a editora convidada do primeiro número da revista p-o-e-s-i-a, parte integrante de um projeto homônimo idealizado pela poeta e cantora Beatriz Azevedo, que foi apadrinhado por nomes que vão de Chico Buarque e Conceição Evaristo a Leonardo Fróes e busca o fortalecimento da poesia brasileira olhando, e cuidando, do poeta e formando público. A revista impressa é a contrapartida para quem apoiar uma campanha de financiamento coletivo no Benfeitoria. E esse apoio está sendo transformado em bolsas para poetas em vulnerabilidade. No momento, estão sendo ajudados 5 poetas. Se tiver mais dinheiro, a lista será ampliada. 

Uma dessas pessoas é Auritha Tabajara, a primeira e, possivelmente, a única cordelista indígena do Brasil. Contadora de histórias que vivia em São Paulo e tinha trabalho pelo menos até novembro, ela precisou da ajuda de amigos para conseguir embarcar em um ônibus rumo ao Sítio Boa Esperança, no interior do Ceará. Com os contratos suspensos por causa da pandemia, ela já não podia pagar o aluguel nem se manter com a filha na capital.

 

Auritha Tabajara
Auritha Tabajara escreve literatura de cordel Foto: Acervo pessoal

Chegando à casa de Francisca, sua avó, de 91 anos, a quem deve boa parte de suas histórias, soube que ia ganhar os R$ 600 da bolsa por três meses. “Fiquei muito feliz. Isso está me ajudando a comprar comida e a pagar a internet para eu conseguir continuar trabalhando ou para divulgar o meu trabalho.” No dia em que conversou com a reportagem, ela participaria, sem ganhar cachê, de uma live com alunos de uma escola particular de São Paulo. 

A vida não tem sido fácil para Aurtitha, de 40 anos, mas, segundo ela, a literatura oferece um caminho e um alívio. Indígena, nordestina, poeta, lésbica. Dois filhos mortos e uma desaparecida. Agora desempregada. “Minha história é muito triste, mas é de superação. Nunca desisti dos meus objetivos e uso essa força na minha escrita.”

Às vésperas de fazer 70 anos, Eliane Potiguara, homenageada na revista, também fez da palavra a sua força. Autora de A Terra é a Mãe do Índio e de Metade Cara, Metade Máscara, ela é ativista e participou, no Brasil e no exterior, dos principais momentos e discussões no que diz respeito aos direitos dos indígenas e, sobretudo, das mulheres indígenas. Foi ameaçada de morte, sofreu violência sexual. Seguiu adiante, lutou, inspirou outros ativistas e escritores. Hoje, ela conta que anda triste, que os cânticos de seus avós adormeceram dentro dela. Cardíaca, ela se afastou dos protestos de rua. Restou a escrita. 

 

Eliane Potiguara
Eliane Potiguara, pioneira na literatura indígena, prepara livro de crônicas Foto: Iberoamerica Social

“A literatura indígena é um movimento revolucionário, de reação e resistência. Meu movimento político hoje é a escrita, é incentivar os jovens e levar essa história para a frente, contando a verdade de quem somos, para onde queremos caminhar e o que queremos.” E qual é, ainda, o seu sonho? “É ver os direitos dos povos indígenas constituídos verdadeiramente. E é por isso que eu sofro. Somos seres humanos, com coração e alma, e merecemos respeito”, responde a autora que trabalha, com a ajuda do neto, que datilografa para ela, em crônicas para um novo livro. Ainda não há previsão de publicação, e ela conta que duas editoras estão interessadas na obra.

Enquanto cuida do coração na casa da filha, no Rio, ela se sensibiliza pelo avanço do coronavírus nas aldeias, onde o isolamento é mais difícil, e lamenta o retrocesso na questão da demarcação das terras indígenas. “Um indígena sem terra significa um indígena que está predestinado à morte”, conclui.

 

Projeto quer ajudar poetas brasileiros

projeto p-o-e-s-i-a.org está com uma campanha de financiamento coletivo na Benfeitoria para ajudar poetas (não apenas indígenas) em situação de vulnerabilidade, prejudicados pela pandemia. Trata-se de uma campanha sem prazo para acabar e quem quiser participar pode doar a partir de R$ 20 por mês. A revista homônima, a contrapartida para doações mais altas, mas que ficará disponível online na plataforma que está sendo lançada, apresenta 27 autores indígenas. 

 

Leia trechos de poemas de Eliane Potiguara, Julie Dorrico e Autitha Tabajara

“Nosso ancestral dizia: Temos vida longa!...

Mas caio da vida e da morte

E range o armamento contra nós.

Mas enquanto eu tiver o coração aceso

Não morre a indígena em mim e

E nem tampouco o compromisso que assumi

Perante os mortos

De caminhar com minha gente passo a passo

E firme, em direção ao sol.

Sou uma agulha que ferve no meio do palheiro

Carrego o peso da família espoliada

Desacreditada, humilhada

Sem forma, sem brilho, sem fama. (...)

Identidade Indígena (Eliane Potiguara)

“O vô correu... 

Com as piranhas e os botos,

Com as jatuaranas e os tambaquis,

Com as cobras e os jacarés,

Com todas as gentes não-humanas do rio;

O vô era um encantado

E por vezes trocava de pele pra ver como andava o mundo

Às vezes vinha de gente, outras de mangueira, algumas vezes perdida, de jaguatirica;

Um dia, num de seus passeios, o vô viu alguns de seus netos em cima de dragas no meio do rio:

Bêbados!

Jogando prato, prata, pano, plástico

Parem.

O vô chorou.

O dinheiro é o veneno da alma (...)”

Vô Madeira (Julie Dorrico) 

  

“Mestras da 

sabedoria,...

Fazei me inspiradora,

Parideira das palavras,

Talvez colaboradora,

De um rumo diferente,

Onde o amor e a gente,

Sejam como uma escritora.

Que todos olhos enxerguem,

O poder da natureza,

Um corpo nu ou vestido,

Sente amor ódio e tristeza,

Se educação faltou,

Meu direito, tu sepultou (...)”

Sem título (Auritha Tabajara)


Estadão domingo, 23 de agosto de 2020

PROGRAMAS SEM AUDITÓRIO: APRESENTADORES BUSCAM MANTER ANIMAÇÃO ONLINE

 

Programas sem auditório: apresentadores buscam manter animação online

Em todas as emissoras, os tempos são de protocolos de segurança, distanciamento social e muita cautela na retomada de produções

Danilo Casaletti , Especial para o Estado

22 de agosto de 2020 | 05h00

Fabio Porchat
Porchat. Gosta de se ‘enfiar’ no meio da plateia. Foto: Ju Coutinho

"Ninguém faz um programa sem sentir o calor do público. Como diria o Chacrinha, ‘quem não se comunica se trumbica’. E está todo mundo se trumbicando sem público.” Quem faz a análise sobre o momento de auditórios vazios na televisão é uma autoridade no assunto: Gonçalo Roque, 83 anos, que há mais de 50 trabalha comandando a massa em programas de TV de comunicadores como Silvio Santos e Chacrinha (1917-1988). “Estou com saudade daquelas fãs que iam ao programa me abraçar. Hoje, só abraço a tristeza”, completa o diretor de auditório, que comanda uma equipe de 18 funcionários, responsável por organizar caravanas e animar a as plateias do SBT, onde trabalha há quase 40 anos. Em todas as emissoras, os tempos são de protocolos de segurança, distanciamento social e muita cautela na retomada de produções. Com plateias virtuais e conteúdos novos e adaptados, elas tentam substituir o “calor” que Roque aponta como essencial.

O patrão, como Roque chama Silvio Santos, só volta a gravar, segundo a assessoria de imprensa do SBT, quando a pandemia acabar ou houver uma vacina disponível. Por enquanto, seu programa, vice-líder de audiência dos domingos à noite, apresenta sucessivas reprises desde meados de abril, quando o estoque de edições inéditas acabou.

 

A apresentadora Eliana, uma das atrações importantes nos domingos da emissora, voltou ao batente em junho – com adaptações. Um dos trunfos foi adiantar a estreia da terceira temporada do quadro Minha Mulher É Quem Manda, no qual maridos ficam em uma cozinha e as esposas, em uma sala distante, dando ordens para o passo a passo da receita, ou seja, algo sem muito contato entre participantes. Eliana, que este ano completa quinze anos à frente de programas de auditório, relata a sensação de não ter o público por perto. “O silêncio e um vazio tomaram conta do estúdio, mas busquei energia nas lentes das câmeras, imaginando meu público de casa. Aos poucos, tudo foi fluindo e deu certo”, diz.

 Depois de duas semanas de gravação, a apresentadora testou positivo para a covid e teve de interromper tudo novamente. “Por estar assintomática, só pensava nas pessoas que estiveram comigo e na minha família. Felizmente, ninguém foi infectado. Recuperada, não pensei em recuar. Amo meu ofício”, diz Eliana, que, após o isolamento, retomou os trabalhos.

 Eliana

De volta. Após se recuperar da covid, Eliana retomou os trabalhos. Foto: Gabriel Cardoso/SBT

Outro nome importante dos domingos, Fausto Silva voltou aos estúdios da Globo São Paulo nesta semana para gravar o programa que será exibido no domingo, dia 23, – depois de 5 meses apresentando de casa. No palco, um número de bailarinas reduzido e a participação da dupla sertaneja Zé Neto & Cristiano. A plateia será virtual.

Quem já está habituado com o público interagindo de casa nesse novo normal é Luciano Huck. Depois de mesclar reprises, quadros gravados antes da pandemia e conteúdo feito em casa – com a ajuda dos filhos Joaquim, Benício e Eva –, o apresentador decidiu voltar às gravações do Caldeirão do Huck no início de julho. “Retornar ao estúdio está sendo uma experiência de sentimentos misturados. De um lado, materializar que de alguma forma a vida está tentando voltar ao normal. Por outro, a confirmação inequívoca de que o normal de hoje não é mais o normal de ontem, a vida mudou”, diz Huck, por e-mail.

Huck foi o primeiro na emissora a contar com uma plateia virtual. A tecnologia permitiu que ele voltasse com novas edições de um dos quadros do programa, o Quem Quer Ser um Milionário. No palco, apenas ele e o candidato ao prêmio, separados por uma divisória de acrílico, mas com a possibilidade de pedir a ajuda a quem está em casa.

 

Luciano Huck
Público virtual. Luciano Huck, como os demais, vem aprendendo a se habituar com ele. Foto: TV Globo

Na Globo, antes do Caldeirão, o Encontro, apresentado por Fátima Bernardes, já havia voltado a ser produzido no dia 20 de julho. Nele, o sofá virou virtual, com convidados interagindo por meio de videochamadas. As atrações musicais também são feitas dessa maneira – já se apresentaram cantores como Gilberto Gil, Alcione e Elba Ramalho. O Conversa com Bial, que tinha um pequeno auditório, estreou nova temporada em maio, mas com o jornalista Pedro Bial fazendo as entrevistas de sua casa. Para outubro, a emissora promete voltar com The Voice Brasil, com candidatos e jurados no palco, mas sem o auditório para dar aquela ajuda aos calouros na hora da virada das cadeiras.

Serginho Groisman, de 70 anos, apresentador do Altas Horas, diz que os papos virtuais vieram para somar no semanal, que, no começo da pandemia, apresentou reprises e, posteriormente, passou a ser comandado da casa do apresentador, com conteúdo inédito. “Conversamos com personalidades que teríamos dificuldade de levar ao estúdio, como o William Bonner e a Renata Vasconcellos”, diz. Novos quadros que marcariam os 20 anos da atração foram antecipados. “Já havíamos planejado um novo conteúdo antes da pandemia, no estúdio. O que aconteceu é que nos adaptamos e estamos produzindo esse material a distância.”

Na Record TV, o matinal Hoje em Dia, cerca de um mês antes de a pandemia chegar ao País, havia estreado um novo cenário, com espaço para receber o público. “Com o auditório, a resposta fica mais real. O programa ganhou muito. Pena que tivemos que parar de receber as pessoas”, diz Ticiane Pinheiro, uma das apresentadoras. “Me arrumava mais rápido para entrar no estúdio antes e conversar com as pessoas. Muitas senhoras idosas procuram os programas de auditório. Uma das motivações para encarar o medo de continuar a trabalhar no meio da pandemia foi pensar nelas, que se distraem assistindo ao programa”, diz.

“O comediante é um garoto de programa se vendendo por piada o tempo todo. Com a plateia rindo, você sente que está agradando, que está no caminho certo. Ter ela ali, viva, pulsante, é algo que eu gosto”. É dessa maneira que o apresentador Fábio Porchat define sua relação com o público, criada no teatro e que, posteriormente, migrou para a televisão. Primeiramente no Programa do Porchat, talk show que ele apresentou na Record TV entre 2016 e 2018, e, desde agosto do ano passado, no Que História É Essa, Porchat?, projeto de sucesso que ele apresenta no canal GNT.

Com um cenário original em formato de arena, que colocava apresentador e convidados no centro da plateia, o programa tinha participação ativa do público que, a exemplo do apresentador e convidados, expunha suas histórias. “Criei esse programa porque gosto de me enfiar no meio das pessoas.”

 

Fabio Porchat
Sozinho no palco. Porchat interage virtualmente com plateia e convidados. Foto: Ju Coutinho

Por conta da pandemia, a segunda temporada, iniciada em março, foi interrompida depois de quatro programas. As gravações voltaram há pouco tempo e, desde o dia 4 de agosto, novos episódios são apresentados, duas vezes por semana. “Quando a gente viu que a pandemia não iria passar a curto prazo, pensamos em outro formato. Fizemos dois testes, assistimos para ver se fazia sentido, se a essência ainda estava lá”, diz. Teste aprovados, o programa ganhou 17 novos episódios. Agora, ele está sozinho no palco. A plateia continua a participar, mas de forma virtual, assim como os convidados. “Me desapeguei um pouco da plateia. Tenho que prestar atenção se a piada funciona, para onde tenho que ir. Percebi que não posso fazer comentários curtos. Precisa ser algo mais elaborado para não prejudicar essa comunicação virtual”, completa Porchat, lamentando o delay e os picotes no som, inevitáveis nas conversas por vídeo via internet. Em outubro, programas da primeira temporada serão exibidos na Globo.

O diretor de conteúdo do Multishow Christian Machado – o canal retomou nesta semana as gravações dos programas Vai que Cola e Lady Night – concorda que a plateia em um programa de humor é essencial para quem está no palco. “Todo apresentador ou comediante joga com o público, e a reação é um termômetro em tempo real do que está funcionando”, diz Machado. O Lady Night, comandado por Tatá Werneck, terá telespectadores virtuais que vão interagir com a apresentadora.

Já no sitcom Vai que Cola, que conta com um elenco maior – entre os atores, estão nomes como Paulo GustavoMarcus MajellaSamantha Schmütz e Cacau Protásio –, as gravações da oitava temporada, que começariam em junho, só tiveram início no último dia 17: serão 40 novos episódios com previsão para ir ao ar a partir do fim de novembro. O público será substituído por 230 totens na plateia.

No SBT, o humorístico A Praça É Nossa, comandado por Carlos Alberto de Nóbrega, 84 anos, no ar desde 1987 no canal, segue no ar com reprises e sem previsão de volta. Nóbrega grava as chamadas dos quadros de seu sítio, no interior de São Paulo. Nas redes sociais, ele pede que os telespectadores mandem sugestões sobre o que gostariam de rever. Nóbrega promete que a pessoa cujo pedido for selecionado estará nas gravações do programa assim que tudo voltar ao normal.


Estadão sábado, 22 de agosto de 2020

DUNCANVILLE ESTREIA ABORDANDO CONFLITO DE GERAÇÕES

 

'Duncanville' estreia abordando conflito de gerações em família desajustada

Atriz e dubladora Amy Poehler fala ao 'Estadão' sobre a dificuldade de criar um desenho para uma geração tão conectada

André Cáceres, O Estado de S.Paulo

21 de agosto de 2020 | 05h00

À primeira vista, o desenho animado Duncanville parece não oferecer nada de original. A atração, que estreia na Fox no dia 31 de agosto e vai ao ar às segundas-feiras, às 21h30, leva à televisão mais uma história a respeito de uma família disfuncional tentando conviver pacificamente em um cenário suburbano nos Estados Unidos. Famílias disfuncionais são um tema recorrente em séries de comédia desde que o modelo tradicional da família feliz ocidental foi cunhado, a tal ponto que talvez o espectador se pergunte se existem famílias funcionais. No entanto, o trunfo de Duncanville é o enfoque no conflito de gerações, evidenciando dificuldades na relação entre pais e filhos com as quais muitos dos que estão atualmente em quarentena vão se identificar.

 

Duncanville
Cena da primeira temporada da série 'Duncanville' Foto: 20th Century Fox

 

O protagonista do desenho, Duncan Harris, é um adolescente comum de 15 anos que parece preferir seus devaneios à vida real e sempre acaba envolvido em algum tipo de confusão com seus amigos. Ele mora com a mãe, Annie, uma guarda de trânsito durona que sonha em se tornar detetive de polícia; o pai, Jack, um roqueiro que se enxerga como uma alma jovem, mas que falha em se comunicar com o filho; e suas irmãs, Kimberly e Jing, com quem Duncan mantém uma relação esquisita. A primeira tenta ser popular a qualquer custo e acaba descontando seus fracassos no irmão; e a segunda é adotada e, a despeito de ser apenas uma criança, se diz apaixonada por Duncan.

“Graças ao foco na dinâmica familiar, nós tratamos de temas muito universais”, afirma a atriz e dubladora Amy Poehler em uma entrevista coletiva concedida por videoconferência a jornalistas da América Latina. “Essa é uma família bem típica porque cada um está vivendo em seu próprio mundo”, comenta ela, que, além de ser uma das produtoras do desenho animado, ainda dá voz a dois dos protagonistas, Duncan e Annie.

Poehler é mais conhecida por seu papel como Leslie Knope na sitcom Parks and Recreation (2009-2015) e por participações no lendário programa humorístico Saturday Night Live, mas ela tem uma longa carreira de dubladora, já tendo emprestado sua voz em filmes como Divertidamente (2015) e Shrek Terceiro (2007). 

“Eu adoro animações, porque não há regras ou fronteiras. Seu personagem pode voar e se transformar, há tanto espaço. Tive sorte de participar de algumas animações excelentes em minha carreira e amo isso”, afirma a dubladora, que fala também sobre a vantagem do gênero para mostrar visualmente o amadurecimento de um adolescente na puberdade. “Pelo fato de se tratar de um desenho, nós podemos literalmente esticá-lo. Na série, ele está sempre crescendo, às vezes ele é muito grande para suas calças ou seus tênis”, conta Poehler. Ela admite que há limitações quando se atua apenas com a voz, mas é otimista: “Às vezes, esses limites impulsionam a criatividade. Se você tem de usar apenas a voz, deve ser criativo, é um desafio. Mas é divertido não se preocupar com sua aparência. Eu nunca poderia interpretar um menino adolescente em uma série com atores de carne e osso.”

No mundo da animação, é comum que mulheres dublem personagens masculinos, especialmente crianças e adolescentes, mas fazer Duncan foi um desafio para Poehler. “Na minha carreira, eu sempre fiz personagens muito agitados e energéticos, e com Duncan eu quis fazer o oposto”, conta a atriz, que foi a shopping centers para observar como os adolescentes se comportavam e tentar emulá-los. “É muito divertido interpretar um personagem que é tão autocentrado e não muito energético. Ele sempre quer voltar a dormir”, brinca Poehler.

Como produtora e cocriadora da atração, ela afirma que o que a atraiu na ideia inicial para Duncanville é o fato de ser “um desenho sobre um adolescente que pensa que o mundo gira ao seu redor, mas seus familiares o fazem descobrir quem ele realmente deseja se tornar”. Sobre esse aspecto familiar, Poehler acredita que o fato de estar produzindo um desenho voltado para uma geração que já nasceu conectada na internet e antenada a outras mídias para além da televisão não afeta tanto a produção de Duncanville. “O que sempre permanece o mesmo, não importa com qual geração se está lidando, é a dinâmica familiar. Você é sempre constrangido por seus pais”, acredita a atriz.

No entanto, Poehler reconhece que muitos dos aspectos da adolescência contemporânea acabam influenciando os temas tratados na série. “Os jovens de hoje vivem em um mundo no qual a fama é muito importante, no qual um adolescente de 16 anos já está pensando sobre assuntos como casamento, emprego e como se apresentar para o mundo”, analisa ela. 

Dessa forma, a atriz acredita na comédia como forma de trazer mais leveza para uma juventude que se cobra muito, como é o caso da geração atual. “Sei que todo mundo está lidando com depressão e ansiedade, e muitas pessoas estão se interessando pela comédia apenas para tirar suas mentes de tudo o que está acontecendo. Estou feliz que esse desenho será uma forma de famílias relaxarem e desfrutarem de algum alívio. É bom assistir a um programa que suas crianças vão gostar e que não vão te deixar louca”, brinca Poehler.

Com a interrupção nas gravações de diversas séries por conta da pandemia da covid-19, Poehler aposta que a demanda por animação será maior nos próximos meses, por ser uma “atividade solitária” escrever, dublar e criar as artes desses personagens. “Creio que veremos uma quantidade maior de animações no futuro breve.”


Estadão sexta, 21 de agosto de 2020

RITA LEE PARTICIPA DO PROGRAMA METRÓPOLIS

 

Rita Lee participa do programa ‘Metrópolis’ para falar dos 40 anos de ‘Lança Perfume’

Atração vai ao ar nesta sexta, 21, às 19h40, na TV Cultura

Eliana Silva de Souza

21 de agosto de 2020 | 08h39

Rita Lee e Roberto de Carvalho, no programa 'metrópolis' (foto TV Cultura)

Rita Lee e Roberto de Carvalho, no programa ‘metrópolis’ (foto TV Cultura)

Rita Lee é a convidada do programa Metrópolis, que vai ao ar nesta sexta, 21, às 19h40, na TV Cultura, e que é Apresentado por Adriana Couto e Cunha Jr. A cantora e compositora fala sobre os 40 anos de Lança Perfume e de seu disco homônimo.

 

O programa preparou um dossiê em que mescla entrevistas de Rita, Roberto de Carvalho e Beto Lee, além de uma análise faixa a faixa sobre o disco lançado em 1980. Enquanto Rita e Roberto falam sobre a construção e o impacto do disco em suas carreiras, Beto comenta sobre a relação dele com o álbum a partir de um olhar familiar.

 

Fora dos trilhos

Esse é daqueles documentários para fazer a gente pensar no tempo, e o que ele faz com o homem e suas criações. Disponível nas plataformas Sky, Net Now e Vivo Play, Depois do Fim faz um resgate da história das ferrovias no Brasil. Dirigido por Álvaro de Carvalho Neto, traz o ex-comandante de trem Evaristo, aos 90 anos, recordando a sua trajetória nas ferrovias. De forma poética e reflexiva, o filme revela o abandono das linhas em diversos locais do Rio Grande do Sul, entre as fronteiras do Uruguai e da Argentina.

Ao vivo

Dando sequência às comemorações de 20 anos de existência, a Orquestra Ouro Preto vai realizar uma live especial nesta sexta, 21. A transmissão será a partir das 20h30, diretamente do Teatro Sesc Palladium, em Belo Horizonte, pelo canal de YouTube da orquestra (www.youtube.com/orquestraouropreto). Sob o comando do maestro Rodrigo Toffolo, o grupo contará com a participação do pianista Cristian Budu. No repertório, músicas de Alceu Valença, Beatles e clássicos do cinema.


Estadão quarta, 19 de agosto de 2020

ANTONIA BRICO: FILME NARRA A HISTÓRIA DA MAESTRINA AMERICANA

 

Filme narra história da maestrina americana Antonia Brico

'As pessoas precisam de modelos. E Antonia foi um', opina a diretora Maria Peters

João Luiz Sampaio, Especial para o Estado

19 de agosto de 2020 | 05h00

Em uma das principais cenas do filme, a maestrina se vê obrigada a interromper o ensaio e se dirigir a um dos violinistas. Reclama da falta de atenção a suas orientações, questiona o que estão todos ali fazendo e discursa um longo monólogo sobre o sentido do fazer musical.

 

Brico
Cena do filme 'Antonia - Um Sinfonia', de Maria Peters, sobre a maestrina Antonia Brico Foto: Shooting Star Filmcompany BV
 

“Foi ali, naquele momento, que eu de fato compreendi pelo que ela deve ter passado, foi ali que eu senti o que ela deve ter sentido. De repente, você se vê diante de noventa homens olhando para você, todos eles preferindo que você não estivesse ali. Toda a luta de Antonia revelou-se de uma maneira bastante al”, conta a atriz holandesa Christanne de Brujn. 

Christanne interpreta a maestrina norte-americana Antonia Brico no filme Antonia – Uma Sinfonia, de Maria Peters, baseada na história real da musicista que, no início do século 20, furou a barreira de um mercado dominado por homens, tornando-se a primeira mulher a reger a Filarmônica de Berlim. 

“Eu fiquei espantada quando conheci sua história”, diz a cineasta holandesa. “Assisti a um documentário sobre sua vida e me perguntei por que ninguém antes havia feito um filme sobre ela, em especial na Holanda, uma vez que ela nasceu aqui. Resolvi então que faria isso e, desde o início, contei com todo o apoio de sua família.”

Antonia nasceu em Roterdã em 1902, mas mudou-se com a família aos 5 anos para os Estados Unidos, onde passou a viver na Califórnia. Estudou piano e regência em São Francisco, antes de mudar-se para a Europa, onde foi aceita em 1927 como aluna da Academia Estatal de Música em Berlim. Três anos depois, regeu a Filarmônica de Berlim e passou a trabalhar com a Sinfônica de São Francisco, nos EUA, e a Filarmônica de Hamburgo, na Alemanha. Depois de reger orquestras como a Filarmônica de Nova York, criou a Women’s Symphony Orchestra em Washington e radicou-se em Denver, onde manteve ligação até o final da vida com a filarmônica local. Morreu em 1989. 

O filme começa com Antonia trabalhando como lanterninha em uma sala de concertos, precisando procurar um local no prédio em que conseguisse ouvir a apresentação: a Sinfonia n.º 1 de Mahler, com regência do lendário maestro Wilhelm Mengelberg. Em seguida, trata das dificuldades para conseguir estudar piano, o preconceito e o assédio sexual de colegas, e os dilemas pessoais, desde a incompreensão da própria família até a tentativa de equilibrar sua vida afetiva e o foco necessário para construir uma carreira na música. 

Peters conta ter tomado diversas liberdades com relação à história original de Antonia ao construir a narrativa do filme. “Ao narrar uma história, você precisa ter certeza de que tudo vai funcionar na tela. Esse processo levou muito tempo, mudei muito o roteiro, ouvindo muitas pessoas, o que foi bom. Mas para mim foi importante acima de tudo o contato com o primo de Antonia, que a conheceu muito bem. Ele me disse várias vezes: não há problemas em mexer em uma outra coisa, pois o importante é a essência do personagem. Ainda assim, a infância, o tempo em Berlim, a ajuda que recebeu de muitas pessoas, o começo no teatro de vaudeville, tudo isso de fato foi retratado de maneira bastante fiel.”

A diretora conta ter encontrado resistência no momento em que propôs a realização do filme, que chega nesta sexta-feira ao Brasil por meio de plataformas de streaming. “Foi muito estranho perceber isso. Porque era uma história praticamente inédita. E sobre uma mulher forte, com quem o público de hoje com certeza pode estabelecer uma relação especial. Mas era também um filme caro e, hoje em dia, conseguir dinheiro, seja para o que for, não é fácil.”

A trilha foi inspirada em compositores importantes para Antonia, como Mahler e Dvorák. “E usar uma sinfonia como a Novo Mundo tem também um simbolismo”, ela explica. Um novo mundo que ainda não se concretizou, ela diz, referindo-se ao fato de que as mulheres ainda são minoria no mundo da regência. “Acho que eu poderia ter contado essa história ainda nos dias de hoje. Mas as pessoas precisam de modelos. E Antonia foi um.” 

'Narrar histórias assim ajuda os jovens', diz atriz holandesa Christanne de Brujn

O que a atraiu particularmente na história de Antonia Brico?

Assim que li pela primeira vez o roteiro, me dei conta de sua força, e de como ela é um exemplo pelo modo como superou todos os desafios que teve pela frente, que não foram poucos. E, claro, havia sua paixão, que a fez ir adiante em um mundo que não queria deixá-la fazer o que mais amava. 

Como foi, na hora de interpretar Antonia, encontrar o equilíbrio entre a personagem real e a descrita pelo roteiro do filme?

Eu conheci Antonia por meio do roteiro. Foi só depois que assisti ao documentário sobre ela. Nele, ela aparece, mas já com 70 anos. Então o que busquei foi tentar imaginar aquilo que eu não conhecia, ou seja, como ela se tornou aquela mulher tão forte. E o roteiro me ajudou a criar uma leitura para a sua infância, para a juventude, o que significava ser uma mulher naquela época. A Antonia real me ofereceu muito, mas ao mesmo tempo tive liberdade para imaginá-la. 

Você estudou música na infância. Em que medida essa experiência a ajudou no filme?

Eu frequentei o conservatório, onde estudei o violoncelo e também o canto, que já era uma paixão desde a infância. O piano eu não estudei formalmente, aprendi sozinha, mas tive que praticar muito para fazer as coisas direito no filme. Minha mãe e eu sempre fomos muito a concertos. Então estou acostumada a ver maestros em ação no palco e acho que isso me ajudou a criar os movimentos. Mas, ainda assim, a regência é algo tão mágico que eu precisei estudar muito até achar o ponto ideal, assistindo a muitos vídeos.

Como foi filmar uma história ambientada nos anos 1930 que continua bastante atual?

Não só na música como em outras áreas. Acho que avançamos bastante, mas temos um caminho amplo ainda pela frente. Estou certa de que contar histórias como a de Antonia Brico é algo que ajuda nesse processo, pois relembra jovens mulheres de que é possível seguir suas paixões e conquistar aquilo que desejam.  

 

Estadão terça, 18 de agosto de 2020

MANOEL CARLOS, LAÇOS DE FAMÍLIA E MULHERES APAIXONADAS

 

Com 'Laços de Família' e 'Mulheres Apaixonadas', universo de Manoel Carlos volta à TV

Mocinhas não perfeitas e sem maniqueísmo criadas pelo autor retornam às telas no Canal Viva e no Vale a Pena Ver de Novo

Danilo Casaletti , Especial para o Estado

18 de agosto de 2020 | 05h00

“Desculpe decepcionar você. Talvez eu não tenha vocação para a fidelidade. Sou mesmo a anti-heroína da história, aquela que não dá lição de moral no final. E que até é capaz de alguns deslizes para ser feliz.” O diálogo, transcrito de uma cena da novela Mulheres Apaixonadas, em que Helena (Christiane Torloni) confessa a Téo (Tony Ramos) que viveu um romance com ele e Cesar (José Mayer) ao mesmo tempo, sintetiza as Helenas, personagens emblemáticas de Manoel Carlos, o autor. São as mocinhas não perfeitas e sem maniqueísmo, expondo suas vidas em longas cenas que vão fundo nos dramas humanos, passadas na ruas nobres do Leblon, no Rio.

Esse universo de Maneco, como ele é chamado, estará de volta à TV em dose dupla. Primeiro, no Canal Viva, com Mulheres Apaixonadas (2003), a partir de 24 de agosto. Depois, na TV Globo, com a reprise de Laços de Família (2000) no Vale a Pena Ver de Novo, com estreia no dia 7 de setembro (14 no aplicativo Globoplay).

 
Laços de Família
'Laços de Família’. Vera Fischer (C) e Carolina Dieckmann (E) são mãe e filha. Foto: TV Globo
 

Valmir Moratelli, autor do livro O que as Telenovelas Exibem Enquanto o Mundo se Transforma e professor de roteiro, explica como são as Helenas de Maneco, que nasceram na década de 1980, na novela Baila Comigo, quando coube a Lilian Lemmertz dar vida à primeira dessas protagonistas, inspiradas no romance Helena, de Machado de Assis, e em Helena de Troia, da mitologia grega. “É uma construção que se aproxima da realidade. Elas atravessam um pouco para a vilania, mas voltam. Trazem a dicotomia entre o bem e o mal. Outros autores não fazem isso”, diz. “O Maneco carrega até o fim da história a questão de que todo mundo pode errar na vida e nem por isso vai ser um eterno mau caráter.”

Entre as atrizes que interpretaram as Helenas em outras novelas estão Maitê Proença (Felicidade), Regina Duarte (História de AmorPor AmorPáginas da Vida), Taís Araújo (Viver a Vida), Júlia Lemmertz (Em Família). “É libertador ser uma Helena. É muito chato você fazer uma mocinha que só existe no papel. Quem se identifica com uma pessoa que não carrega todas as dúvidas da alma feminina? Se ela for restrita a dogmas de moral, não liberta as pessoas. Os grandes personagens são aqueles que provocam alívio. São heroínas imperfeitas”, afirma Christiane Torloni, a Helena de Mulheres Apaixonadas. Torloni foi filha da primeira Helena, em Baila Comigo. “Lilian era uma grande atriz, entrava em cena para o tudo ou nada. Então, você entender que chegou a um tamanho (como atriz) em que pode assumir esse papel, que já tem essa carga para a dramaturgia dele, é maravilhoso.”

 

Mulheres Apaixonadas
'Mulheres Apaixonadas'. Maneco com parte do elenco feminino da novela. Foto: Otávio Magalhaes/Estadão

A atriz revela a maneira generosa com a qual Maneco cuida das intérpretes de suas Helenas. “Ele manda livros, com cartas e bilhetes escritos com caneta pena, com uma caligrafia linda. É um processo de você ser a musa, de fato. Ele escreve rubricas no texto, ajuda o diretor a dirigir, os atores atuarem. Ele vai mostrando o que a alma da personagem está dizendo”, conta a atriz, que atualmente está na reprise de Fina Estampa e se prepara para gravar a continuação de Verdades Secretas, de Walcyr Carrasco.

A Helena de Laços de Família coube a Vera Fischer – que disse não ser possível atender à solicitação de entrevista. Na trama, ela disputava o amor de Edu (o então estreante Reynaldo Gianecchini) com a filha Camila (Carolina Dieckmann). A cena em que Camila raspa os cabelos (de verdade) em função da leucemia entrou para a história das telenovelas brasileiras e aumentou o número de doações de medula naquele ano. “Eu fico muito feliz que essa cena, com essa importância para minha vida e carreira, tenha sido, de fato, tão relevante para tanta gente”, diz Carolina.

A atriz também revela a cumplicidade que teve com Maneco, que a acalmou em um momento que sua personagem era odiada pelo público por roubar o parceiro da mãe – a redenção veio com a doença. “Falei: ‘Maneco, o que pode acontecer agora? Será que eu não estou sabendo fazer, será que a implicância das pessoas é comigo e não com a personagem?’. Ele me respondeu muito tranquilamente que tinha certeza que, na hora que ela ficasse doente, as pessoas se colocariam no lugar dela e a situação mudaria. Ele é um gênio, tem muita experiência”, conta. Carolina também está em Mulheres Apaixonadas como Edwiges, personagem que coloca em discussão a questão da virgindade.

Polêmicas. Além da virgindade, outros temas polêmicos aparecem nas tramas de Manoel Carlos em bem-sucedidos merchandising sociais, em que a exposição deles ou de ações educativas os colocam em debate. Em Laços de Família e Mulheres Apaixonadas, aparecem alcoolismo, prostituição, homossexualidade, violência contra a mulher. Em uma cena, Maneco reproduziu um tiroteio em uma rua do Leblon, que culminou com a morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli), vítima de bala perdida, baseada em um acontecimento real.

 

Laços de Família
Reynaldo Gianecchini, Carolina Dieckmann e Vera Fischer em 'Laços de Família'. Foto: TV Globo

Ricardo Waddington, que foi diretor de núcleo das duas novelas, conta como isso se dava. “Cenas como o corte de cabelo de Camila em Laços de Família, a da bala perdida que atinge e mata Fernanda em Mulheres Apaixonadas, e tantas outras, exigiam que a direção fosse realista para retratar, de forma sensível e real, o drama daqueles personagens. Acredito que a boa e grande repercussão dessas histórias significa que conseguimos sensibilizar as pessoas com o resultado da parceria bem-sucedida entre autor, elenco e direção”, diz o agora diretor de Produção dos Estúdios Globo.

“Apesar de as tramas acontecerem nesse microcosmo muito específico, elas tratam de temas universais, como amor, ciúme, desejo – um arcabouço de histórias que está na literatura universal há muito tempo, que causam empatia. Maneco é um autor clássico, do melodrama”, analisa Lucas Martins Néia, pesquisador, roteirista e apresentador do podcast Isso Só Acontece em Novela.

 

Mulheres Apaixonadas
Christiane Torloni, Maria Padilha e Giulia Gam em 'Mulheres Apaixonadas'. Foto: Gianne Carvalho/TV Globo

Ao longo da carreira, Manoel Carlos também esteve envolvido em criações de programas musicais para a televisão. Nos anos 1960, integrou, ao lado de Antônio Augusto Amaral de CarvalhoNilton Travesso e Raul Duarte, a chamada Equipe A da TV Record, responsável por produzir atrações que envolviam nomes como Elis ReginaElizeth Cardoso e Wilson Simonal. Isso se reflete nas trilhas sonoras das novelas que assinou. Sempre há, entre músicas contemporâneas, antigas gravações que ganham destaque e ajudam a criar o ritmo das cenas. A partir de Por Amor, de 1997, ficou clara a preferência por bossa nova como tema de abertura. Virou mais uma marca do autor. “Maneco ama música e sempre esteve presente nas escolhas das trilhas de suas novelas. Eu participava também, além da equipe de direção musical da Globo”, confirma Waddington.

Em Laços de Família, a abertura trazia uma gravação de 1964 de Corcovado (Quiet Nights of Quiet Stars), com Astrud, João Gilberto e Stan Getz. Já Samba de Verão, composta pelos irmãos Marcos e Paulo Sergio Valle, no mesmo, ano, porém em gravação de Caetano Veloso, embalava os encontros de Helena e Edu. “Eu gosto demais da gravação, ela é fim de tarde, aquele sol vermelho, as pessoas bonitas. Apesar do sucesso que a canção sempre fez aqui e no exterior, o fato de ter entrado na novela a trouxe para outras gerações”, diz Marcos Valle.

Em Mulheres Apaixonadas, a bossa da vez foi Pela Luz dos Olhos Teus, de Vinicius de Moraes, em gravação de Tom Jobim e Miúcha, de 1977, que apareceu ao lado de outros clássicos da bossa e do samba-canção. “A bossa é o que dá a leveza para as tramas dele, traz o balanço do mar, o céu azul, as caminhadas na orla. Pontua os diálogos, já que as novelas do Maneco são mais de diálogo do que de ação”, diz Moratelli.

Atualidade. O último trabalho de Maneco foi em 2014, com Em Família, sem a mesma repercussão das anteriores e com média de audiência de 29 pontos, segundo dados do Ibope da época – número considerado aquém do esperado para o horário naquele tempo. A trama foi encurtada e o autor enfrentou problemas de saúde enquanto escrevia. Na época, redes sociais como o Twitter já eram um termômetro para a opinião e aceitação dos telespectadores, mas nada comparado a hoje, em que os assuntos polêmicos ganham debates acalorados, cancelamentos e polarizações. E como problemáticas são um dos combustíveis de Laços de Família e Mulheres Apaixonadas, é provável que elas voltem à tona.

 

Mulheres Apaixonadas
Christiane Torloni, José Mayer e Camila Pitanga em 'Mulheres Apaixonadas'. Foto: TV Globo

Para Walmir Moratelli, as tramas de Maneco trazem alguns personagens datados, como os homens extremamente machistas – além de não representar o que é o Brasil real. “Ele escreve mostrando uma elite. A geração atual, muito alinhada com as redes sociais, não compreende certas narrativas como possíveis de ser vistas sem discussão. Será interessante notar como o público vai se comportar diante de questões que, naquela época, não eram debatidas como agora.”

“Hoje, essas narrativas mais antigas estão com um olhar mais crítico da sociedade, o que é importante. Porém, há uma parcela da sociedade que está mais conversadora, e temas como alcoolismo e homossexualidade foram tratados de forma progressista nessas tramas”, diz Lucas Martins Néia.

Maneco, atualmente com 87 anos, está recluso e, por ora, aposentado dos folhetins diários. Não dá mais entrevistas. Se estivesse na ativa, é provável que incluísse na trama algum diálogo sobre a pandemia. Quem sabe alguma preleção sobre o tema com o Dr. Moretti, personagem tão presente quanto as Helenas; ou uma crise no Nick Bar, onde Téo de Mulheres Apaixonadas tocava sax, por restrições no funcionamento. “Ele é um gênio da crônica do cotidiano. Acredito que as duas novelas tenham ainda muito fôlego para render bons papos, pessoalmente ou nas redes”, diz Waddington.


Estadão segunda, 17 de agosto de 2020

O PESO DO PÁSSARO MORTO: PEÇA VENCE DESAFIO DO ONLINE

 

Peça ‘O Peso do Pássaro Morto’ vence desafio do online ao unir cenas ao vivo com gravadas

Projeto da atriz Helena Cerello, com direção de Nelson Baskerville, poderá ser conferido a partir do sábado, 22, na plataforma digital Sympla

Ubiratan Brasil, O Estado de S.Paulo

17 de agosto de 2020 | 05h01

Nelson Baskerville
Em seu apartamento, o diretor Nelson Baskerville construiu o espetáculo com a atriz Helena Cerello, que está longe de São Paulo Foto: Taba Benedicto / Estadão

O destino parecia ser o limbo - a atriz Helena Cerello preparava, ao lado de Cristiana Britto, uma adaptação para o teatro do livro O Peso do Pássaro Morto (Nós) quando veio o redemoinho provocado pela pandemia do coronavírus, que virou o mundo da arte de ponta-cabeça, estagnando o mercado, em março. Helena buscou, então, o isolamento social em um sítio, a 200 km de São Paulo, onde continuou o delicado trabalho de versão - a obra de Aline Bei usa a poesia para retratar a história da menina que padece para se transformar em mulher.

“Eu construía as cenas ao mesmo tempo em que filmava - quando ouvia, percebia que era algo forte”, conta Helena que, cansada de dialogar consigo mesma, convidou o diretor Nelson Baskerville em abril, para avaliar o material e, quem sabe, entrar no projeto. O encenador logo percebeu que a narrativa poderosa de Aline era transposta de maneira sensível pela atriz para a linguagem teatral, bastando organizar as ideias e dar uma identidade ao espetáculo.

 

O resultado, que Helena chama de “experimento teatral”, poderá ser conferido pelo público a partir do sábado, dia 22, às 16h, quando O Peso do Pássaro Morto estará disponível online na plataforma digital Sympla, por meio do aplicativo Zoom. Trata-se de um trabalho surpreendente, um avanço em relação às montagens que inundaram o território do streaming tão logo a pandemia fechou as portas dos teatros, mas, cuja dedicação artística era um consolo diante delimitações técnicas, que dificultavam o entendimento desses trabalhos como teatral. 

A obra de Aline Bei, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018, na categoria Melhor Romance de Autor com Menos de 40 anos, traz um dolorido relato sobre as perdas na vida de uma mulher entre seus 8 e 52 anos, período em que a personagem aprende a suportar dores que as circunstâncias indicam ser impossível superar - desde a morte de uma amiga até o estupro que sofre de um namorado que, por sua vez, resulta no nascimento de um filho, Lucas, que se manterá sempre distante.

 

Nelson Baskerville
Nelson Baskerville dirige ensaio em sua casa no bairro da Aclimacao, por meio do computador, da peca 'O Peso do Pássaro Morto' Foto: Taba Benedicto / Estadão

Ao fazer a adaptação, Helena procurou manter o espírito da escrita. “Foi extremamente doloroso fazer os cortes porque o livro é maravilhoso - nosso maior trunfo é a palavra”, comenta ela, que recebeu total liberdade da autora na construção de sua versão. Logo começou a filmar e, necessitada de outra avaliação, pediu para Baskerville. “As imagens eram muito simbólicas, mas tremiam muito, pois era Helena quem gravava”, conta o encenador que, além de determinar as diversas camadas do texto (afinal, a atriz vive a mulher desde a meninice até a velhice), ajustou o posicionamento do celular, a fim de garantir a estabilidade da imagem.

Detalhe: Baskerville estava em seu apartamento, no bairro paulistano da Aclimação, enquanto Helena continuava no sítio próximo à cidade de São Carlos, local de paisagens exuberantes que logo foram incorporadas ao trabalho. Os ensaios, portanto, ocorriam diariamente e online, com os imprevistos habituais acontecendo, como a entrada do cachorro em cena. “Helena fala com ele e também com os filhos, que vêm pedir comida - nesse momento, paramos o ensaio para que ela possa fazer o lanche”, diverte-se Baskerville. “Parece um filme de Fellini.”

O projeto ganhou contornos mais artísticos com a chegada de Daniel Maia, responsável pela trilha sonora original. Ao assistir a um ensaio, percebeu que Helena cumpria todas as obrigações técnicas, como manipular o celular, cuidar da iluminação além de interpretar. “Sugeri que alguns trechos da história fossem previamente gravados e, durante o espetáculo, fossem exibidos alternando com os momentos ao vivo”, conta Maia, que ainda retrabalhou os vídeos, conferindo uma nova textura, que acentua a sensibilidade das cenas.

As cenas pré-filmadas contam com a luz natural do ambiente externo do sítio, e abordam diferentes períodos da vida da protagonista. A escolha se deu em função da tecnologia e das possibilidades de sinal do Wi-Fi e celular no local.

 

Nelson Baskerville
Nelson Baskerville faz ensaio em sua casa no bairro da Aclimacao, por computador, para a peca inspirada no romance da escritora Aline Bei Foto: Taba Benedicto / Estadão

Na semana passada, o Estadão acompanhou um dos primeiros ensaios completos do espetáculo, no apartamento de Baskerville. Na tela do computador, além de Helena, estavam ainda Maia, a jornalista Fernanda Teixeira e Aline Bei, que assistia pela primeira vez a adaptação de sua obra. Foi um choque - “Nem parece que foi escrito por mim, está muito melhor”, comentou a escritora, em lágrimas. “Tem peso e leveza, um tom balanceado que procurei equilibrar no romance.”

De fato, durante uma hora, o espectador acompanha desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra, na vida daquela mulher, cuja evolução é notável graças à interpretação de Helena que, além de revelar o envelhecimento pela variação de sua postura corporal, cria as vozes dos diversos personagens - e permite que o público olhe, enternecido, para as suas dores. Os ingressos podem ser comprados em www.sympla.com.br/ opesodopassaromorto.

Poesia

“Há uma alquimia, uma poesia nas palavras de Aline que convida o leitor a mergulhar fundo e ficar ali um tempo, a fim de se sentir”

Helena Cerello, atriz

“Isso que fazemos não é cinema, nem televisão, nem teatro, e é fascinante descobrir novas formas de se comunicar”

Nelson Baskerville, diretor

“Helena envelhece junto com a personagem. E em um tom baixo, íntimo, que guarda segredos. A essência da minha obra está ali”

Aline Bei, escritora

E, aqui, público vê dentro do carro

Quando a pandemia do novo coronavírus se instalou no Brasil (e, em especial, em São Paulo), Darson Ribeiro, criador e gestor do Teatro-D, foi obrigado a repensar seus planos para manter ativo o espaço recém inaugurado. Assim, criou um espetáculo para ser encenado no estacionamento do teatro, que fica no hipermercado Extra do Itaim. E, para que não corra risco de contágio, o público assiste de dentro de seus carros.

Chamado de “happening” pelo seu autor, Amor no Drive-In - Por Favor, Não Me Covid é ambientado em um país fictício, logo depois da pandemia. Maria Clorokyna (interpretada por Vanessa Goulartt) é uma atriz recém-formada que não teve a chance de pisar em um palco, pois todos ficaram fechados durante vários meses. Assim, quando começa a perambular entre os veículos estacionados, ela surge, ao som do tema do filme ...E o Vento Levou, usando máscara.

 

Atores encenam 'Amor no Drive-In - Por Favor, Não Me Covid' Foto: Darson Ribeiro

“Ai, meu Deus, e agora? O que é que eu vou fazer pra disfarçar que eu tava numa festa clandestina?”, diz ela, ao entrar, dando o tom de paródia do espetáculo, que se reforça com a chegada de Fakenewsson da Silva (Ken Kadow), ator que quase a atropela em pleno estacionamento. É o início de um embate em que a aspirante a atriz se envolve em um questionamento sobre o que é certo e errado.

“A peça é literalmente um deboche a tudo que estamos vendo, ouvindo e, obrigatoriamente ou não, vivendo, cujo objetivo maior é justamente sacudir as estruturas que, infelizmente, por uma pandemia, se veem superadas. O espectador deixa de ser simplesmente observador e passa a ser celebrante, juntamente com o idealizador, elenco, e equipe técnica”, explica o diretor, que teve a ideia do espetáculo no final de março, quando o governador João Dória anunciou o fechamento das salas de teatro e cinema.

Pela situação crítica, Ribeiro logo descobriu qual seria a linguagem ideal. “O happening floresceu no final dos anos 1950 na Europa e EUA e caracterizou-se principalmente por alguns movimentos de contestação radical a alguns outros gêneros, como o Dadaísmo e o Surrealismo, unindo a uma linguagem que envolve, quase obrigatoriamente, a participação ativa e física do espectador - por isso não podia ser outro gênero”, afirma. E, no caso, o espectador aciona os faróis de seu carro, além de buzinar, acionar o limpador de para-brisas, pisca-alerta e também a luz do celular. 

O ingresso (R$ 120 por carro com até quatro pessoas) é vendido em bileto.sympla.com.br/ event/65949. 

 


Estadão domingo, 16 de agosto de 2020

ARAQUÉM ALCÂNTARA, O POETA DA NATUREZA, COMEMORA 50 ANOS DE CARREIRA

 

Araquém Alcântara comemora 50 anos de carreira com nova viagem pela Amazônia

O ‘poeta da natureza’, como se denomina o fotógrafo, fará novos registros da região que ama e defende

Eliana Silva de Souza, O Estado de S.Paulo

15 de agosto de 2020 | 14h00

Ser um fotógrafo de natureza é ter de lidar com sentimentos os mais variados. Se maravilhar com as belezas que estão a sua frente, mas também é preciso tirar de dentro de si força para encarar os estragos que o homem faz ao meio ambiente. Há 50 anos, quando deu início a sua trajetória profissional, Araquém Alcântara enfrenta esses dilemas. A partir do momento em que decidiu se dedicar a registrar esse mundo de florestas e parques, ele se transformou em um poeta do olhar. 

 

Tamanduá-mirim foto de Araquém Alcântara
Imagem que tem rodado o mundo e se tornou emblemática foi captada no ano passado. É a fotografia de um tamanduá-mirim cego fugindo de uma queimada na Amazônia. “Essa foto reflete meu sentimento de revolta pelo que vem acontecendo.”  Foto: Araquém Alcântara

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Fotos emblemáticas de Araquém Alcântara

Começando a arrumar as malas para outra viagem à Amazônia, que renderá imagens para compor um novo livro, Araquém falou com o Estadão, por telefone. Do alto de seus 69 anos de vida, o fotógrafo conta que está isolado há 150 dias por causa da pandemia, e se mostra radiante com a atual fase de sua carreira, com o reconhecimento internacional valorizando ainda mais seu trabalho. Mas, em meio a esse momento positivo, o fotógrafo também revela sua indignação com o que está acontecendo com a natureza. “Um amigo meu, (o artista plástico) Frans Krajcberg, falava: ‘Será que não estão percebendo, isso é um holocausto’. E agora, além do que ele constatava, temos ainda esse genocídio intencional contra povos indígenas, os quilombolas, pois estão querendo liberar todo o garimpo. É ganância, é intencional”, afirma de forma enfática o fotógrafo, mostrando o que sente sobre o que vem acontecendo com o meio ambiente. 

 

Araquém conta que ir à Amazônia é um hábito que costuma manter com viagens anuais para a região. A cada estada no local, a visão que se apresenta é cada vez mais assombrosa, mas ele não quer perder a esperança, acha que ainda podemos conseguir uma solução para isso. 


 

Só o engajamento da sociedade pode salvar a Amazônia, que hoje está em agonia, chegando a ponto de savanização. Isso não pode continuar, pois, se seguir assim, não vai mais produzir aquelas árvores generosas, nem a chuva será da mesma forma, o que afetará a agricultura, o clima da América do Sul. Sem flores não há futuro saudável.
Araquém Alcântara, fotógrafo

“O (antropólogo) Darcy Ribeiro já tinha dito isso, ou seja, só o engajamento da sociedade pode salvar a Amazônia, que hoje está em agonia, chegando a ponto de savanização. Isso não pode continuar, pois, se seguir assim, não vai mais produzir aquelas árvores generosas, nem a chuva será da mesma forma, o que afetará a agricultura, o clima da América do Sul. Sem flores não há futuro saudável”, sentencia. Mas também se mostra otimista, vendo que até os empresários, que não pensavam nisso, estão querendo a sustentabilidade em primeiro lugar. Assim, acredita que a situação ainda pode reverter, mas que é necessária uma mudança de pensamento das autoridades e de atitudes concretas para tornar isso possível. 

Um dos nomes mais emblemáticos da fotografia da natureza, Araquém Alcântara começou sua trajetória em 1970, quando “ecologia era uma palavra para letrados”, como ele diz. Nascido em Florianópolis, o fotógrafo passou um bom tempo morando em Santos, cidade do Litoral Sul de São Paulo, onde começou sua paixão pela fotografia e teve como seus primeiros modelos os urubus. No cais, também passou a registrar as prostitutas que trabalhavam por ali. Mas o seu caminho começaria a tomar outro rumo quando foi levado a registrar os fatos que se apresentavam. “Logo teve Cubatão, as crianças sem cérebro e o rico vale da morte, meu modelo de universo era esse inferno todo”, conta. 

Araquém diz que seu trabalho revela duas vertentes: “Um posicionamento político e uma visão poética”. Conta que sempre foi um cara invocado, que remava contra a maré. “Eu era o cara que saía andando com a câmera na mão e, até hoje, minha fotografia é feita andando”, revela. Para ele, a forma que escolheu para conseguir captar o espírito de um povo, o caráter de um povo, como diz, foi a de se transformar nesse fotógrafo viajante. 

“Eu tenho 500 mil imagens, mas acho que, dessas, 50 mil de alto nível”, conta Araquém, afirmando que o trabalho do fotógrafo da natureza é assim mesmo. “Você descarta 90% das suas fotos, mas com os 10% restantes corrige tudo”, adverte Araquém. Com tantos anos de profissão, entre muitas imagens captadas por todos os cantos do Brasil, destaca duas que são marcos em fases diferentes de sua carreira. 

A primeira, feita 50 anos atrás, é a que traz seu pai segurando uma foto com ossos humanos, que foi feita para simbolizar a luta contra a construção de usinas na região de Iguape. Para o fotógrafo, o sentido da imagem foi dizer: “Olha, somos pessoas humildes, mas sabemos o que querem fazer”, e funcionou. A segunda, uma fotografia que tem rodado o mundo, captada no ano passado, traz a imagem de um tamanduá-mirim cego fugindo de uma queimada na Amazônia. “Essa foto reflete meu sentimento de revolta pelo que vem acontecendo”, afirma Araquém. Ele conta que estava na BR Cuiabá-Santarém e de longe avistou o animal saindo da mata, que ainda queimava. “Eu pulei a cerca e vi um bicho saindo da queimada. Quando ele sentiu eu me aproximar, tentou se defender abrindo os braços, essa é uma atitude de defesa dos tamanduás. Trata-se de um crime inominável. Essas são imagens muito fortes na minha vida.”

 

Araquém Alcântara
Araquém Alcântara. ‘Meu trabalho tem uma paisagem poética e política’ Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

Dessa estada na Amazônia, entre tantas outras da sua longa trajetória, Araquém lembra que foi um momento terrível. “Minha viagem foi logo após aquela escuridão em São Paulo”, conta. “Em seguida fui para lá, fiquei dias voando em um Cessna com a porta tirada, a coluna virou um ‘S’, e fotografando com o vento batendo forte no meu rosto”, diz o fotógrafo, que mostra ter sido dessa forma que passou a conhecer em detalhes a região. “Eu já entendo todo o caminho do garimpo que, primeiro, abre um trechinho na mata até a beira do rio, depois expande até algum afluente”, revela. E ainda se comove quando fala sobre a cor verde que surge na água. “É a cor do garimpo, da morte. Como podemos permitir a entrada de garimpeiros na floresta?” 

Premiado internacionalmente, o fotógrafo brasileiro tem 55 livros lançados, sempre com a temática da natureza, enfatizando o Brasil e o sertão. As imagens que vão ser captadas nesta nova viagem à Amazônia serão expostas em uma feira em Frankfurt, na Alemanha, no ano que vem. 


Estadão sábado, 15 de agosto de 2020

NAOMIE HARRIS E KEIRA KNIGHTLEY NARRAM ANIMAÇÕES SOBRE MUDANÇA CLIMÁTICA

 

Naomie Harris e Keira Knightley narram animações sobre mudança climática

O curta-metragem 'Extinction Emergency, Why We Must Act Now' é um apelo a ações urgentes para desacelerar as mudanças climáticas e tem apoio do músico Brian Eno

Matthew Green, Reuters

14 de agosto de 2020 | 07h50

Naomie Harris
A atriz britânica Naomie Harris Foto: Henry Nicholls/ Reuters

A atriz britânica Naomie Harris e o músico Brian Eno se uniram para produzir um curta-metragem que faz um apelo a ações urgentes para desacelerar as mudanças climáticas, em apoio à campanha de desobediência civil do movimento Extinction Rebellion.

Naomi Harris, que interpreta Eve Moneypenny nos filmes de James Bond 007 - Operação Skyfall007 – Contra Specter e no próximo filme No Time To Die, dá voz à animação, que também explora a ameaça representada pela perda acelerada de espécies.

 

“Estou orgulhosa de poder dar minha voz a este projeto, que espero que inspire os espectadores a apoiar as ambições do Extinction Rebellion com grande urgência”, disse a atriz em um comunicado antes do lançamento do filme nesta quinta-feira.

 

Chamado Extinction Emergency, Why We Must Act Now, o filme é a primeira de duas animações apoiadas por estrelas de Hollywood para ajudar na causa do Extinction Rebellion, que se originou no Reino Unido e mobilizou milhares de voluntários. A diretora é a animadora israelense Miritte Ben Yitzchak.

O segundo filme, chamado Climate Crisis, and Why We Should Panic, é narrado pela atriz Keira Knightley e defende uma ação emergencial contra o aquecimento global.

Centenas de cientistas e acadêmicos apoiam o Extinction Rebellion, dizendo que a desobediência civil é a única opção que resta para forçar os governos a adotar a escala de ação necessária para evitar milhões de mortes devido à mudança climática.


Estadão sexta, 14 de agosto de 2020

RODRIGO SANTORO E A PANDEMIA NO BRASIL

 

Rodrigo Santoro e a pandemia no Brasil: 'Vivemos algo muito desafiador'

Ator integra o elenco do filme 'Project Power', novo projeto da Netflix que estreia na sexta, 14; veja o trailer

David Villafranca, EFE

13 de agosto de 2020 | 07h57

Uma crise de saúde somada a complicações políticas e sociais. Esta é a tormenta vivida no Brasil durante a pandemia de covid-19, segundo o ator Rodrigo Santoro, que está no filme Project Power, novo projeto da Netflix que estreia na sexta-feira, 14.

"A situação está muito complicada no Brasil. Temos a crise da saúde e a pandemia, a crise política e social. Estamos vivendo algo desafiador. Está difícil. Estamos seguindo o dia a dia, esperando que a coisa melhore", afirmou o artista em entrevista à Agência Efe, demonstrando estar muito preocupado com a situação do coronavírus em seu país.

 

Santoro contracena com Jamie FoxxJoseph Gordon-Levitt e Dominique Fishback, no filme Project Power, um thriller de ação que está chegando à Netflix. Dirigido por Henry Joost Ariel Schulman (Nerve/2016)e ambientado em New Orleans, história gira em torno da disputas, dentro e fora da lei, para obter o controle de uma droga misteriosa que dá ao usuário poderes sobre-humanos por exatamente cinco minut

  
Rodrigo Santoro
Rodrigo Santoro está no filme 'Project Power' Foto: Skip Bolen/ Netflix

Um pai na pandemia

O Brasil esteve nas manchetes da imprensa mundial durante a pandemia pelas piores razões possíveis. Com mais de 3 milhões de pessoas infectadas e mais de 100 mil mortos. Segundo dados oficiais, o País é o segundo mais afetado do planeta, apenas atrás dos Estados Unidos.

No meio deste contexto complicado, Rodrigo Santoro disse que ele e sua família estão, felizmente, com boa saúde. "O que estamos tentando fazer é usar nosso tempo da melhor forma possível, respeitando tudo o que deve ser respeitado”, explicou.

"Eu tenho uma filha de três anos, então estou aprendendo a ser pai de uma forma muito, muito intensa", comentou sobre Nina, a menina teve em 2017 com sua companheira e também atriz Mel Fronckowiak. Por outro lado, o ator exaltou o poder da cultura em momentos de confinamento e com grande parte da humanidade presa dentro de casa. 

"Tenho estudado muito, tentando me conectar com arte: literatura, música, filmes, séries, tudo isso”, disse. “É muito importante reconhecer o valor da arte, especialmente em uma situação como esta", acrescentou.

 

O rosto humano do vilão

Santoro não é um novato quando se trata de interpretar vilões no cinema. É impossível esquecer o seu imponente e extravagante Xerxes no épico sangrento de 300 (2006). Em Project Power, ele dá vida ao obscuro traficante chamado Biggie.

"Nunca consigo olhar para um personagem colocando-o em uma categoria: 'É ruim ou é bom'. Eu procuro entender a função do personagem na história, mas meu trabalho é fazer uma pessoa, tenho que humanizar esse personagem. Se não, eu serei uma caricatura", disse ele.

"Claro, os vilões fazem coisas ruins, eles escolhem caminhos tortos. E com isso vivem muitos conflitos. O conflito é uma das bases da drama e, claro, há muito com o que brincar ", acrescentou.

Além de trabalhar em estreita colaboração com os diretores para que seus personagens não fiquem superficiais e com o estereótipo habitual de criminoso, Santoro, que nos últimos anos tem se destacado pela sua participação na série Westworld, ressaltou que "humanizar um vilão" é um grande e emocionante desafio para um intérprete.

“São os mais difíceis de humanizar. A princípio, o espectador o vê e diz: 'Eu odeio, não quero saber que é, não quero entender por que ele faz isso, eu não gosto'”, exemplificou.

"Então é um desafio muito maior. Se eu puder fazer com o espectador entende o personagem, conhecendo-o mesmo que não goste, mesmo que o odeie, mas o entenda, então meu trabalho está feito", concluiu. 

 


Estadão quinta, 13 de agosto de 2020

GLORIA ESTEFAN FALA DO DISCO INSPIRADO NO BRASIL E DA SITUAÇÃO DOS EUA NA PANDEMIA

 

Gloria Estefan fala do disco inspirado no Brasil e da situação dos EUA na pandemia

Em entrevista ao 'Estadão', a cantora dá detalhes do álbum ‘Brazil305’, em que exalta o samba; sobre a combate ao coronavírus nos EUA, ela diz: 'Eu queria que tivéssemos ouvido os cientistas desde o começo'

Adriana Del Ré, O Estado de S.Paulo

13 de agosto de 2020 | 05h00

O Brasil já é um velho conhecido da cantora e compositora cubana Gloria Estefan. Sobretudo quando o assunto é música. E agora ela dá mais um passo nessa estreita aproximação em seu novo álbum, Brazil305 (Sony Music), que chega às plataformas digitais nesta quinta-feira, 13, com releituras de O Homem Falou, de Gonzaguinha, em inglês e espanhol, e de Magalenha, de Carlinhos Brown, além de sucessos como Conga, batizado de Samba no novo repertório, e Rhythm Is Gonna Get You (ambos de seus tempos como líder do Miami Sound Machine), gravados com instrumentação de samba. 

Antes de avançar no novo trabalho, o primeiro em sete anos, Gloria busca suas referências nas memórias afetivas. “Minha primeira influência de música brasileira foram os discos da minha mãe: Elis ReginaChico BuarqueSergio Mendes. Sergio é uma grande influência para mim, e também influenciou como nomeei esse disco, porque toquei (o álbumBrasil’ 66 tantas vezes, comprei três cópias diferentes”, conta a artista, de sua casa em Miami, nos EUA, em entrevista ao Estadão, por videochamada.

 
 
Gloria Estefan
A cantora Gloria Estefan, que está lançando o disco 'Brazil 305' Foto: BJ Formento
 

Ela lembra também de antigo álbum, com o Miami Sound Machine, em que já havia feito versões de canções brasileiras. “Em 1983, fizemos um disco chamado Rio, em que escrevi em espanhol músicas de Rita Lee – Baila Conmigo (versão de ‘Lança Perfume’), que foi um grande sucesso para nós na América Latina –, Baby ConsueloWilson Simonal.”

Brazil305 já estava pronto, mas aguardando a oportunidade certa para ser lançado. “Originalmente, íamos lançar em 2017, mas minha mãe ficou doente e morreu, e eu não pude cantar. Tive de esperar mais de um ano para me sentir ok em colocar a alegria que eu queria nesse disco”, conta ela. Os protestos pelos EUA desencadeados pela morte de George Floyd, após ser sufocado por um policial branco, também fizeram adiar a data de lançamento do disco. “Então, eu disse, ok, precisamos de alguma alegria, alguma felicidade, algum sorriso, vamos lá, vamos lançar”, afirma. “Como todo mundo, estou tentando estar positiva, mantendo a alegria viva de alguma forma.” 

No novo disco, Gloria faz uma conexão entre Brasil e Cuba – e a raiz africana compartilhada pelos dois países –, mas é o samba que se impõe como sonoridade protagonista. O ritmo permeia grande parte das 18 faixas – 4 originais e 14 hits da carreira –, com participação importante de músicos brasileiros na ‘cozinha’ e arranjos de percussão de Laércio da Costa. Para ela, assim como a bossa-nova, o samba representa o Brasil. “O samba me lembra Conga, que foi meu grande sucesso, e em Cuba temos também carnaval”, comenta. “Compartilhamos várias coisas”, completa ela, chamando atenção em especial para um instrumento que não é usado na música cubana: a cuíca. “Amo cuíca, a propósito. Para mim, soa como se o instrumento chorasse.” 

O Homem Falou, composta por Gonzaguinha, ganhou versão famosa na voz de Maria Rita, no álbum Samba Meu, de 2007. Gloria já tinha ouvido a versão original e essa releitura de Maria Rita. E pela letra da canção a arrebatar, Gloria quis convertê-la para o inglês e o espanhol. “Amo muito, por causa da mensagem de unidade mundial”, pondera. “Foi importante quando foi escrito, mas é importante mesmo agora. Acho que a música encontra o momento certo. Essa canção, em particular, me inspira. Eu quis fazer nas duas línguas, porque quis ter certeza de que meus fãs, que falam inglês e espanhol, ouçam essa música.” 

Em espanhol, O Homem Falou virou Un Nuevo Mundo; em inglês, Only Together. A letra original, em português, traz o seguinte trecho: “Pode chegar/ Que a casa é grande/ E é toda nossa/ Vamos limpar o salão/ Para um desfile melhor/ Vamos cuidar da harmonia/ Da nossa evolução/ Da unidade vai nascer/ A nova idade/Da unidade vai nascer/ A novidade”. 

 

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Gloria Estefan e Carlinhos Brown, que faz participação no novo disco da cantora Foto: BJ Formento

Ao longo do disco, Gloria canta em inglês, espanhol e também português, em Magalenha, de Carlinhos Brown, que faz participação na canção. Ela conta que conheceu o músico baiano, pela primeira vez, quando veio ao Brasil – onde ela filmou um documentário sobre o samba, previsto para ser lançado em outubro. Ela o entrevistou, assim como falou com outros artistas, como a própria Maria Rita e Zeca Pagodinho. De volta a Miami, Gloria voltou a falar com Carlinhos, combinaram de incluir Magalenha no disco, e ele viajou até lá para gravá-la. Ela se diverte ao falar do ritmo rápido que tem a música – a qual ela tinha o desafio de cantar em português. “Eu conhecia muito bem a música, mas nunca tentei cantar. Falei para ele: ‘Pode ir um pouco mais devagar?’.” 

Ganhadora sete vezes do Grammy, a artista de 62 anos nascida em Cuba, mas que se mudou para os EUA com os pais ainda criança, passa a quarentena em Miami. Além de decidir lançar o novo disco neste período, Gloria conta que aproveitou para colocar as coisas em ordem em sua casa. “No começo, quis ser muito útil. Então, arrumei cada armário, que nunca tive tempo de arrumar”, detalha. “Encontrei do meu filho, que vai fazer 40, sapatinhos de bebê, roupas de bebê, todos os trabalhos da escola. Organizei em pacotes e joguei fora um monte de coisa. Percebi ainda que eu precisava estar conectada com os fãs, todo mundo precisava de algo inspirador, alguma conexão.”

Também no início da pandemia, a cantora recebeu o apelo de uma amiga de muitos anos, da época do colégio, que é infectologista. “Ela falou com o governo dos EUA, e me disse: ninguém presta atenção em mim quando digo que devemos usar máscara.” Ela pediu ajuda para Gloria para divulgar a importância desse ato. A artista, então, escreveu Put On Your Mask, paródia de seu sucesso Get On Your Feet, gravou um vídeo em casa e o divulgou.

E como ela acha que Trump poderia ter agido no começo da pandemia? Para Gloria, deveria ter sido feita uma ordem nacional para que todos usassem máscara em público. “Assim reduziria o contágio, não estaríamos onde estamos agora. É ciência. Se você cobre sua boca e eu cubro minha boca, vamos reduzir a oportunidade de compartilhar saliva, respiração, coisas que carregam essa doença. E obviamente lavar as mãos, não tocar seu rosto, tudo isso, mas o mais importante que deveria ter no começo era fazer uma lei nacional, que todo mundo deveria seguir. Não é política, é cuidar do outro ser humano. Realmente não entendo. As coisas sendo feitas aqui, ali, em pequenos pedaços. Faço o que posso para evitar a contaminação”, responde ela, que diz ainda ser “uma loucura” a reabertura de escolas.

“Eu queria que tivéssemos ouvido os cientistas desde o começo. Essa seria a melhor solução protetiva para todos. Agora é tarde, eu acredito. Não importa o quão rapidamente a vacina saia, mas quem realmente vai correr o risco? Vamos esperar para ver. É uma situação muito complicada.”


Estadão quarta, 12 de agosto de 2020

ALAÍDE COSTA FAZ A PRIMEIRA LIVE DA CARREIRA COM MÚSICAS DE JOHNNY ALF

 

Alaíde Costa faz primeira live da carreira com músicas de Johnny Alf

Para a cantora de 84 anos, o show virtual demorou a ocorrer porque o Brasil não valoriza os artistas idosos nem a história deles

Renato Vieira, O Estado de S.Paulo

12 de agosto de 2020 | 05h00

Desde que a quarentena foi instituída, em março, Alaíde Costa não se apresenta em público. Lá se vão cinco meses desde o último show, uma homenagem coletiva a Elizeth Cardoso no Sesc Pinheiros transformada em disco já disponível nas plataformas digitais. 

Com exceção do tempo em que precisou se recuperar de uma operação nos ouvidos, há cerca de 50 anos, esse é o maior hiato na trajetória da cantora que começou a carreira profissional em 1956, quando foi contratada pelo Dancing Avenida, famosa casa noturna carioca.

 
 
Alaíde Costa chega aos 85 anos em dezembro
Alaíde Costa chega aos 85 anos em dezembro Foto: Marco Aurélio Olímpio
 

A produção de Alaíde tenta viabilizar uma live para ela há um bom tempo. A espera acaba nesta quinta-feira (13), às 19h, quando a cantora se junta a Giba Estebez (piano) e Vitor Alcântara (sopros) para interpretar músicas do compositor e pianista Johnny Alf (1929 – 2010). A apresentação será transmitida pelos canais do YouTube e do Facebook do Museu Afro Brasil.

Ela afirma que decidiu fazer uma live em homenagem a Alf por considerá-lo um grande compositor que não teve o talento devidamente reconhecido, ainda que na semana passada o jornal The New York Times tenha feito um perfil contando a história do compositor e levantando as razões sobre o legado dele não ser motivo de celebrações.  

No repertório, estarão os grandes clássicos de Alf, como Eu e a BrisaIlusão à Toa, O que é Amar e Rapaz de Bem. Esta, lançada em 1955, já trazia os elementos harmônicos e melódicos da bossa nova três anos antes de João Gilberto lançar Chega de Saudade, com letra sobre um jovem abonado que só pensa em curtir a vida. 

A primeira live da carreira de Alaíde só se concretizou com a ajuda financeira de um amigo dela, que prefere não se identificar. Ele pagou todos os custos. Para a cantora de 84 anos, que tem modestos (mas fiéis) seguidores nas redes sociais, o show virtual demorou a ocorrer porque o Brasil não valoriza os artistas idosos nem a história relevante deles. 

“Está sendo um período difícil, sem trabalhar, e acham que a gente não está cantando mais. Graças a Deus, acho que estou cantando melhor”, diz a cantora.

Alaíde e Alf são personagens da mesma história de resistência. Enquanto a indústria cultural brasileira tentava moldar os cantores negros como sambistas, os dois cariocas dos subúrbios foram por outros caminhos. Alf (batizado como Alfredo José da Silva) tocava piano e admirava música clássica; Alaíde tinha influências do jazz e do samba-canção. 

Por conta disso, foram considerados artistas “difíceis” pelas gravadoras. “O preconceito é velado, mas existe. Eu era muito menina, ingênua, e não percebia”, relembra a intérprete.

O primeiro encontro entre Alaíde e Alf ocorreu em 1953, na Rádio Clube do Brasil. Tímidos, os dois não estreitaram a relação naquele momento, o que aconteceu anos depois. As boates de São Paulo pagavam melhores cachês aos músicos e Alf radicou-se na cidade, para onde a cantora também se mudou e onde mora até hoje. 

Alaíde via uma apresentação de Alf na boate Lancaster, que ficava na Rua Augusta, e o compositor a chamou para uma canja. Nunca mais se afastaram e fizeram shows juntos até os anos 2000. 

Pouco depois da morte do amigo, Alaíde o homenageou com o álbum Em Tom de Canção (2010), em que incluiu músicas menos conhecidas dele. O projeto fez parte da caixa Johnny Alf Entre Amigos, com outros dois álbuns. A cantora diz que a repercussão do trabalho foi pequena e gostaria que algumas das canções fossem mais conhecidas. Por isso, ela quis recuperar para a live Foi Tempo de Verão, Estou Só e Meu Sonho, a única parceria dos dois. 

Há também a lembrança de Quem Sou Eu?, música que ela registrou pela primeira vez no álbum Coração (1976), produzido por Milton Nascimento, outro grande amigo de Alaíde.

 

Alaíde em uma das reuniões da Bossa Nova
Alaíde em uma das reuniões da Bossa Nova Foto: Acervo pessoal

A cantora também guarda lembranças da aproximação com João Gilberto. “Comecei a participar da Bossa Nova por causa dele”, afirma. Discretamente, o baiano viu as sessões de gravação de um 78 rotações que Alaíde preparava, com as músicas Frases de Amor Domingo de Amor.

João pediu ao produtor Aloysio de Oliveira que a convidasse para ir a uma reunião de jovens artistas na zona sul do Rio. “Foi na casa do pianista Bené Nunes que encontrei os meninos da Bossa Nova, que ainda nem tinha esse nome”, conta Alaíde. Ela foi. João nunca apareceu.

Alaíde não se queixa de ter deixado de participar do movimento quando ele explodiu no Brasil e no exterior. Ao contrário: tem orgulho de ter criado um caminho próprio. “Não tenho que me defender de nada. As pessoas que me conhecem sabem bem quem eu sou.” 

Uma outra live de Alaíde está prevista para o dia 4 de setembro, pelo projeto Cultura em Casa, com repertório dedicado às músicas mais representativas de sua carreira.

REPERTÓRIO

Escuta. Uma das primeiras composições de Alf. Alaíde registrou em 2011.

Ilusão à Toa. Alcione e Gal Costa estão entre as intérpretes desse hit de Alf.

Eu e a Brisa. Música do Festival da Record de 1967, o mesmo de Alegria, Alegria (Caetano Veloso).

Quem Sou Eu? Alaíde lançou a música no disco Coração (1976).

Estou Só. Apenas Alaíde gravou a música.

Rapaz de Bem. Canção de 1955, a primeira de Alf a ter repercussão. 

Meu Sonho. Única parceria de Alaíde e Alf.

Em Tom de Canção. Feita no fim dos anos 1960.

Foi Tempo de Verão. Música que veio à tona nos anos 2000.

O Que é Amar. Clássico da safra inicial de Alf.


Estadão terça, 11 de agosto de 2020

JOJO RABBIT: FILME NÃO É UMA UNANIMIDADE, MAS POSSUI UM ENCANTO ESPECIAL

 

 

 
 

‘Jojo Rabbit’ não é uma unanimidade, mas possui um encanto especial

Dirigido por Taika Waititi, filme conta com o ótimo Roman Griffin Davis como protagonista e pode ser visto no Telecine; confira o traile

Estadão

10 de agosto de 2020 | 11h32

Luiz Carlos Merten

Judeu e maori, a mistura que resultou em Taika Waititi, tem servido como a fonte de inspiração de que se nutre o cinema do diretor neozelandês. Ao assumir Thor: Ragnarok, e consciente de que talvez fosse sua única incursão pela Marvel, realçou o aspecto “gente estranha com problemas humanos” da trama. O sucesso foi imenso, e Waititi ganhou convite para novas aventuras de super-heróis.

Roman Griffin Davis, no filme 'Jojo Rabbit' (foto Fox Film)

Roman Griffin Davis, no filme ‘Jojo Rabbit’ (foto Fox Film)

 

Ganhou até o Oscar de melhor roteiro adaptado por Jojo Rabbit, atração no streaming do Telecine. Na série de surpresas que marcou a premiação da Academia neste ano – a quádrupla vitória de Parasita, de Bong Joon-ho -, a de Waititi também teve seu elemento de surpresa.

Fazer humor com o Holocausto pode ser arriscado, Roberto Benigni que o diga – emplacou três Oscars com A Vida É Bela, em 1999.

Waititi conta, agora, a história de um garoto que integra a Juventude Hitlerista. Nada do que faz dá certo. Tem um amigo secreto – o próprio Hitler, interpretado pelo diretor. Sua mãe, Scarlett Johansson, pertence à resistência e há uma garota judia escondida na casa. As mulheres permitirão que Jojo supere a fixação infantil no Führer.

Jojo não é uma unanimidade, mas possui um encanto especial. E o garoto, Roman Griffin Davis, é ótimo.

 


Estadão segunda, 10 de agosto de 2020

ESCOLA DE BALÉ DE PARAISÓPOLIS RETOMA ROTINA

 

Depois de manter aulas pela internet, escola de balé de Paraisópolis, aos poucos, retoma rotina

Parte dos alunos voltou às práticas presenciais, realizadas agora em um antigo Centro Dia para Idosos, espaçoso e bem ventilado

Tiago Queiroz, O Estado de S.Paulo

10 de agosto de 2020 | 05h00

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O balé de Paraisópolis ensaia no antigo Centro Dia para Idosos do bairro.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Quando criança, Mariana Souza Farias, de 17 anos, passava as tardes assistindo TV. Sua mãe lembra do alvoroço que a garota fazia sempre que aparecia alguém dançando na tela. Não importando qual tipo de dança fosse. “Eu só sabia que queria dançar, não importava o quê”, lembra a jovem. Em 2012, um carro de som circulando pelos becos e vielas do bairro trouxe a boa nova que mudaria sua vida e de tantas outras garotas e garotos. Surgia uma escola de balé, gratuita, mas era necessário fazer os exames de seleção. Mariana foi aprovada logo nos primeiros dias e considera essa vivência um divisor de águas em sua existência. “Hoje, sou uma bailarina”, diz, emocionada. 

A concepção da escola é da coreógrafa Monica Tarragó que, da janela de sua casa, observava aquela dura realidade e teve a ideia de ajudar a transformar um pouco daquilo que via de longe. “Antes de tudo, buscamos formar bons cidadãos para o mundo”, destaca a professora, sendo o balé uma importante ferramenta para isso. Junto com Gilson Rodrigues, da Associação de Moradores e Comércio de Paraisópolis, a escola ao longo dos seus oito anos, foi crescendo e, antes da pandemia e do isolamento social, atendia presencialmente 200 jovens, 190 meninas e dez meninos. 

 

Produtor executivo da escola, Jorge Andreatta lembra o dia exato em que as aulas presenciais pararam: 16 de março. Mariana lembra com tristeza desse momento. “Me afetou bastante. Não sentia ninguém por perto. Não tinha abraço. Nem conversa, nem risada. Tive insônia e crises de ansiedade”, relembra. Com o passar dos dias e os anúncios dos órgãos de saúde alertando a população de que essa fase demoraria a passar, a escola iniciou as aulas online para o grupo seleto dos trinta alunos que fazem parte do corpo do Balé de Paraisópolis. Os demais receberam apostilas pedagógicas. Todos os 200 recebem cestas básicas e kits de higiene pessoal mensais, distribuídos com o auxílio da Cruz Vermelha Brasileira.

  
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Bailarina de máscara durante os ensaios do grupo, em Paraisópolis.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

As aulas online via aplicativo Zoom significaram aprendizado constante para o grupo, tanto para os professores e equipe de produção como para os alunos. Monica lembra que os exercícios físicos precisavam ser estudados para não afetar a musculatura e tendões. O piso das casas não era o apropriado para a prática, mas já era um alento para quem havia passado semanas sem o contato com os amigos e professores. “Tivemos um lado positivo: a presença virtual de importantes professores, como a Isabelle Guerin – foi emocionante”, conta Monica.

Isabelle, ex-integrante do corpo de baile do Ballet de l’Opéra de Paris em 1978 e nomeada Étoile (estrela) em 1985, já havia conhecido o grupo em uma viagem que fizeram para Nova York, onde as meninas de Paraisópolis puderam viajar para fora do país pela primeira vez e conhecer as principais escolas de dança dos Estados Unidos. “Meu sonho é estudar na Alvin Ailey”, diz, com segurança, Giovana Ferreira Guimarães, de 18 anos, outra aluna veterana da escola, há oito anos no grupo.

As sessões via Zoom fluíam, mas a falta do presencial era sentida pelas meninas e, com a liberação dos órgãos de saúde para a reabertura gradual do setor complementar de educação, incluindo o ensino de artes, informática, reforço escolar e dança com até 40% dos alunos matriculados, decidiram voltar. Era preciso encontrar um local adequado, com boa ventilação e espaçoso. A resposta estava no QG do combate ao coronavírus em Paraisópolis, o antigo Centro Dia para o Idoso, um prédio amplo que alterou completamente seus fins de ocupação com o surgimento do vírus e as demandas da população para combatê-lo.

 

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Dançarinos do grupo em uma das ruas de Paraisópolis.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Por lá, são feitas cerca de duas mil marmitas diárias em uma cozinha industrial por mulheres da comunidade, um grupo faz máscaras e outro, de socorristas, também está baseado lá para atender os moradores do bairro e agora o Balé Paraisópolis. Foram realizadas diversas reuniões com os pais das alunas, que decidiram que os estudantes contemplados com as aulas presenciais seriam os mais velhos, na faixa entre 14 e 18 anos. Segundo Jorge Andreatta, os mais velhos têm mais experiência e noção das medidas para evitar o contágio. 

O prédio, projetado pelos arquitetos Analia Amorim, Ciro Pirondi e Ruben Otero, possui dois andares, no qual o segundo é uma espécie de laje coberta por um telhado em forma circular que proporciona ventilação em suas quatro laterais. O tablado de cerca de 100 metros quadrados foi montado nesse andar elevado, com a ajuda de um banco parceiro da escola. 

O primeiro dia de aula, após 133 dias privados do encontro presencial, aconteceu na segunda-feira, 3 de agosto. O brilho nos olhos da menina Maria Luisa Santana de Brito, de 15 anos, há três no grupo, ajudava a explicar um pouco a importância da escola, das amizades, das risadas e dos passos da dança. Banhada pela luz quente do inverno paulistano e com uma vista panorâmica das incontáveis casas de tijolinho aparente, a menina se exercitava em silêncio distante das colegas. “Quando fiz a reverência, um gesto clássico que termina as aulas de balé, olhei para o bairro e agradeci por tudo que ele representa na minha vida”, finaliza a menina.


Estadão domingo, 09 de agosto de 2020

CHICA XAVIER SE ENCANTOU: ATRIZ DE NOVELAS COM RENASCER E SINHÁ MOÇA MORRE AOS 88 ANOS

 

Atriz Chica Xavier, de novelas como 'Renascer' e 'Sinhá Moça', morre aos 88 anos

Ela, que participou de mais de 25 folhetins na Rede Globo, enfrentava um câncer de pulmão

Redação, O Estado de S.Paulo

08 de agosto de 2020 | 14h12

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A atriz Chica Xavier em cena da novela Duas Caras, de 2008.  Foto: João Miguel Júnior/TV Globo

Com mais de 60 anos de carreira e atuações em novelas como Sinhá Moça (1986) e Renascer (1993), a atriz Chica Xavier morreu na madrugada deste sábado (8), vítima de um câncer de pulmão. Segundo o site G1, a atriz estava internada no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, no Rio, e a morte foi confirmada pelo neto Ernesto Xavier.

No último dia 25 de julho, Ernesto publicou, no Instagram, uma foto da avó ao lado de outras familiares em homenagem ao Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Na legenda: "Eu só existo porque elas existem. Mulheres negras devem ser o centro do mundo. Elas são minhas deusas". 

 

Nascida em Salvador, na Bahia, Francisca Xavier Queiroz de Jesus teve papéis marcantes no teatro, na TV e no cinema. Na Rede Globo, integrou o elenco de 26 novelas, além de participar de 11 minisséries e dez programas especiais. 

Entre os folhetins em que atuou, estão a primeira versão de Sinhá Moça, exibida em 1986 e com Lucélia Santos no papel-título; Renascer (1993) e O Rei do Gado (1996), ambos de Benedito Ruy Barbosa e protagonizados por Antônio Fagundes. Seu trabalho mais recente na televisão foi Cheias de Charme, que foi ao ar em 2012.


Estadão sábado, 08 de agosto de 2020

PROGRAMAÇÃO DA TV ABERTA - 08.08.20 (SÁBADO)

 

Programação TV Aberta

Programação TV Aberta

O Estado de S.Paulo

08 de agosto de 2020 | 00h01

TV Aberta
TV Aberta

Estadão sexta, 07 de agosto de 2020

PROCESSO DE LEO MAIA MARA SER RECONHECIDO DOMO HERDEIRO DE TIM

 

 

Processo de Leo Maia para ser reconhecido como herdeiro de Tim tem novo capítulo

Carmelo, único herdeiro legítimo da obra de Tim Maia, foi acionado pela Justiça na ação movida contra ele pelo meio irmão, Leo, que quer poder usar o nome do cantor em seus projetos

Redação, O Estado de S. Paulo

07 de agosto de 2020 | 10h06

As disputas judiciais entre Carmelo Maia, herdeiro de Tim Maia e responsável por seu espólio, e Leo Maia, criado por Tim e que luta na justiça por um reconhecimento de paternidade afetiva, tiveram nesta quinta (6) um novo capítulo. Carmelo foi acionado judicialmente com uma notificação do processo movido por Leo, que reclama direitos para também usufruir da obra de Tim, que o criou por alguns anos, enquanto pede seu reconhecimento de herdeiro, mesmo não sendo “filho de sangue”.

 

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Leo Maia, em busca de uma paternidade afetiva Foto: TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO
 

Carmelo Maia e Marcio Leonardo Gomes Maia, conhecido como Leo Maia, são filhos da mesma mãe, Geisa, mas só Carmelo é herdeiro biológico de Tim. Leo, que não tem contato com seu pai verdadeiro, conta que foi criado pelo artista de 1974, quando nasceu, até a morte do cantor, em 1998. Quando decidiu impedir os shows de Leo, em 2019, Carmelo falou ao Estado. “Ele não é filho, vende coisas usando o nome de Tim Maia que a família discorda, mas nunca arrumamos problemas com ele. Tentamos regularizar a situação com um acordo, mas ele se negou, dizendo que quer ser reconhecido como filho.” Na mesma ocasião, Leo também falou com a reportagem: “Eu montei um show para levar a cultura black do meu pai para as crianças, veja você a importância disso. Mas, por conta do ego, meu irmão se opõe. Tive que tirar o site do ar e parar com tudo.” 


Estadão quinta, 06 de agosto de 2020

CARTUNISTA J. CARLOS EM NOVA MOSTRA VIRTUAL

 

J. Carlos e seu traço clássico estão em nova mostra virtual

Exposição online exibe 84 trabalhos do grande cronista visual da imprensa brasileira do início do século passado

Ubiratan Brasil, O Estado de S. Paulo

06 de agosto de 2020 | 05h00

Durante 48 anos de produção, o chargista J.Carlos (1884-1950) criou mais de 50 mil trabalhos, entre caricaturas, charges, cartuns, ilustrações, letras, vinhetas, adornos e peças publicitárias. E só interrompeu porque sofreu um AVC fatal quando rascunhava um desenho, na redação da revista Careta. Mas não é pela espantosa produtividade que José Carlos de Brito e Cunha se tornou um dos principais artistas da imprensa brasileira da primeira metade do século passado, mas pela qualidade.

“J.Carlos atuou como um cronista visual, traçando os jogos políticos, as dicotomias sociais, e as nuances dos primeiros 50 anos de república no Brasil, temperados por um senso de humor ácido, debochado e crítico”, observa Rafael Peixoto, curador da exposição J.Carlos – Além do Tempo, que será aberta online sábado, 8, no site da Danielian Galeria (www.danielian.com.br).

 

 

J.Carlos
‘E Deus fez a mulher’. Desenho com nanquim, de J. Carlos  Foto: Danielian Galeria
 

São 84 desenhos que estarão expostos na sede da galeria, em uma casa de dois andares na Gávea, ainda fechada ao público até que haja segurança diante da pandemia. Na abertura, haverá uma live, a partir das 17h, de Peixoto com Cassio Loredano e Julieta Sobral, na página da galeria no Instagram (@danielian_galeria).

Assunto não faltará. “J. Carlos criou conceitos que até hoje fazem parte da imprensa no Brasil”, observa Peixoto. “É difícil precisar qual seria a sua principal contribuição, em função da extensão da sua obra. No design gráfico, ele desenvolveu uma liberdade criativa que rompeu com as tradições da sua época. Trouxe uma ideia de perfil editorial, adaptando a estética ao público-alvo, que foi totalmente inovadora e transformadora, não só para os jornais e revistas, mas também para a publicidade.”

Prolífico, J.Carlos trabalhou em grandes revistas do início do século 20, como CaretaPara Todos...Fon-Fon! e Almanaque do Tico-Tico. “Por ser autodidata, ele trouxe um olhar novo e livre de vícios e preconceitos. Ao longo da carreira, optou por manter-se alheio a qualquer grupo ou tendência artística, guiando-se pela sua sensibilidade, sua atenta observação e uma fluidez no desenho inata. Se em alguns pontos a sua obra assemelha-se às buscas modernistas, dela se diferencia por uma maior liberdade e independência de cânones ou conceitos fechados”, comenta o curador.

No período entreguerras, J.Carlos alcançou uma grande produtividade, evidenciando ainda sua posição antifascista, ridicularizando com seu traço fino os ditadores dos anos 1920 a 40, como Hitler, Mussolini e Getúlio Vargas. “O que mais chama atenção em toda a obra de J.Carlos é uma aguda observação e um elaborado senso estético, que se juntam e montam uma verdadeira crônica histórica e artística que vai além do seu tempo.”

Segundo Rafael Peixoto, ao longo dos anos 1930, J.Carlos consolida uma estética própria que irá marcar toda a sua produção seguinte. “A ligeireza do traço, a libertação da relação figura e fundo, e a sintética captação das formas começam a se desenvolver de maneira mais definitiva. É desse período também a sua atuação nas revistas Careta O Malho, em que afirma sua posição como ácido cronista político.”

O artista se interessava também pelo cidadão comum, revelando-se um exímio observador da sociedade, debochando na maioria das vezes dos mais ricos e valorizando a alegria festiva dos mais pobres, especialmente no carnaval. “J.Carlos foi um cronista visual do seu tempo, como foi João do Rio na literatura, por exemplo. O retrato social que fazia atingia a todos com seu deboche e sarcasmo. Sua obra reproduz as tensões entre classes que tinham a cidade moderna como palco de conflitos”, conta Peixoto. “E teve papel fundamental na criação da imagem do Brasil como o país do carnaval, a despeito das vantagens e desvantagens.”

 

J. Carlos
Ilustrador. J. Carlos morreu enquanto trabalhava em sua prancheta  Foto: Acervo Estadão

 

J. Carlos
‘Não entre sem bater’. Forma irônica de retratar viciados Foto: Danielian Galeria

 

J.Carlos
Fon-Fon. Aquarela que foi capa da revista ilustrada semanal  Foto: Danielian Galeria

 

J.Carlos
Casal de sambistas. J. Carlos ilustrou o carnaval como poucos  Foto: Danielian Galeria

Estadão quarta, 05 de agosto de 2020

EXPOSIÇÃO EM SÃO PAULO PRESTA TRIBUTO A DOIS PINTORES: VITTORIO GOBBIS E OSIR

 

 

Exposição em SP presta tributo aos pintores Vittorio Gobbis e Osir

Mostra retrospectiva será aberta no dia 3 de setembro, no Studio 68

Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S.Paulo

05 de agosto de 2020 | 05h00

Dois pintores da mesma geração, ambos nascidos no fim do século 19, Paulo Rossi Osir (1890-1959) e Vittorio Gobbis (1894-1968) – hoje praticamente esquecidos –, serão homenageados com a exposição Resgate de Dois Mestres, que o marchand Ugo di Pace vai abrir no dia 3 de setembro, em seu Studio 689. Enquanto a mostra não abre, as obras estão disponíveis no aplicativo IGTV do Instagram @mattardenise. Não se trata de uma simples mostra, mas de uma ambiciosa retrospectiva organizada com o consórcio de vários colecionadores de peso – Breno Krasilchik e Orandi Momesso, além de Ugo di Pace – e obras de diferentes períodos, inclusive da segunda dentição do modernismo brasileiro. Gobbis e Osir tiveram sua importância reconhecida na época por críticos como Sérgio Milliet (1898-1966) e Paulo Mendes de Almeida (1905-1986). Também foram elogiados e criticados por nomes como Mário de Andrade (1893-1045) por não serem ousados como as pintoras do primeiro modernismo brasileiro (Anita Malfatti e Tarsila), mas certamente, a partir desta exposição, serão pintores incontornáveis para quem estudar o desdobramento da estética do Novecento italiano entre nós.

 

Gobbis
Natureza morta de 1932 de Vittorio Gobbis Foto: Studio 689
 

A esse respeito, a curadora Denise Mattar, convidada por Ugo di Pace para analisar as pinturas de Gobbis e Rossi Osir no catálogo da mostra, lembra que o crítico Tadeu Chiarelli, num texto de 1995 a respeito da influência do Novecento italiano sobre a arte brasileira, já citava Gobbis como um artista cujo “classicismo novecentista” é visível tanto na composição de suas naturezas-mortas como na elaboração de seus nus, cuja sensualidade não passou despercebida por Chiarelli. O próprio Rossi Osir, nascido em São Paulo e protetor dos pintores do Grupo Santa Helena (Volpi, Zanini), conviveu com artistas do Novecento quando morou por um período (por volta de 1924) em Milão, sendo então avaliado pela teórica do movimento, Margherita Sarfatti.

Talvez pelo fato de o Novecento ser associado ao advento do fascismo na Itália, ao propor um “retorno à ordem” e confrontar os valores da vanguarda europeia dos anos 1920, os artistas do movimento ficaram rotulados como reacionários – e, por consequência, criticados pelos defensores dos ideais modernos, como Mário de Andrade. “É irônico, pois foi Osir quem acompanhou Volpi em sua viagem a Itália, fazendo-o redescobrir a arte antiga italiana”, observa a curadora Denise Mattar. Volpi deve muito de seu olhar moderno à contemplação dos afrescos de Giotto na capela de Scrovegni. Homem culto, filho de um arquiteto refinado (que trabalhou na construção do Teatro Municipal de São Paulo), Osir tinha uma inclinação tanto para os modernos como para os antigos mestres. Ele estudou técnica de pintura com Donato Frísia, que o introduziu no universo de Cézanne, lembra Denise Mattar.

 

Osir
'As Duas Cearenses', pintura sem data de Paulo Rossi Osir Foto: Studio 689

Gobbis foi apontado, em 1931, como uma das revelações do Salão Revolucionário da Escola Nacional de Belas Artes do Rio (os outros dois foram Portinari e Guignard). Há um diálogo de Gobbis com a pintura de Guignard numa paisagem de 1949, assim como “ecos dos retratos de Portinari” no melhor retrato de Rossi Osir da exposição, Duas Cearenses, aponta Ugo di Pace. Assim, fica demonstrado que ambos não eram avessos aos modernistas.O que acontece, segundo Ugo di Pace, que morou na casa de Gobbis em Copacabana, tem mais a ver com sobrevivência do que propriamente com estética. “Gobbis, muitas vezes, trocava obras por comida”, conta, justificando o grande número de telas que reproduzem peixes – moeda de troca nessas transações. Hábil copista, Gobbis também pintava, a pedidos de clientes, cópias de pinturas renascentistas – envelhecidas num processo curioso, que consistia em enterrar a tela por algum tempo. O assistente de Gobbis, um negro retratado numa tela sem data com laranjas nos braços, era o “coveiro” encarregado da tarefa.

Já Rossi Osir encontrou outro meio de sobrevivência: criou a Osirarte, em 1939, histórica fábrica de azulejos de cerâmica para qual trabalharam Volpi, Portinari e Burle Marx, entre outros. Reproduções de alguns deles podem ser vistas na mostra. Osir dizia que os azulejos o aborreciam, pois tiravam seu tempo para a pintura, mas não conseguiu viver sem eles. Apesar de ter obras suas em museus como o MAM e no MoMA de Nova York, sua produção é pequena. Na retrospectiva ele está representado por 15 obras, entre elas uma magnífica aquarela de Veneza. Gobbis tem 35 pinturas na mostra, a maioria pertencente ao acervo de Ugo di Pace, que pacientemente foi recomprando essas obras do longo dos anos. Aos 93, ele presta, enfim, tributo ao amigo de tempos difíceis.

 

Studio 689
O marchand Ugo di Pace e Denise Mattar, curadora da mostra de Vittorio Gobbis e Paulo Rossi Osir
Foto: Werther Santana/Estadão

 


Estadão terça, 04 de agosto de 2020

FERNANDA TORRES FALA DE TAPAS & BEIJOS E LIÇÕES DA PANDEMIA

 

Fernanda Torres fala de ‘Tapas & Beijos’ e lições da pandemia: 'Não vejo uma mudança profunda'

Série de sucesso, em que a atriz dividia o protagonismo com Andréa Beltrão, volta a ser exibida a partir desta terça, 4, na Globo; Fernanda estará também na nova série 'Amor e Sorte', com a mãe Fernanda Montenegro

Adriana Del Ré, O Estado de S.Paulo

04 de agosto de 2020 | 05h00

Com a pandemia, a atriz e escritora Fernanda Torres viu a estreia da peça com o diretor Felipe Hirsch, inspirada em Adão e Eva no Paraíso, de Eça de Queiroz, ser adiada e as gravações da série Fim, baseada em seu livro, suspensas. E, enquanto não for possível retomá-los, os projetos presenciais da atriz foram substituídos pelas produções do confinamento. Além de interpretar uma terapeuta na série Diário de Um Confinado, estrelada por Bruno Mazzeo, disponível no Globoplay, Fernanda gravou com a mãe, Fernanda Montenegro, e sob direção do marido, Andrucha Waddington, um dos episódios da série Amor e Sorte, no sítio onde estava confinada com a família, na região serrana do Rio. A série, de Jorge Furtado, deve estrear em setembro na Globo – e contará com outras duplas de atores que estão juntos no isolamento, como Lázaro Ramos e Taís Araujo

Também por causa da pandemia, as mudanças na grade de programação da emissora trazem de volta nesta terça, 4, a série cômica Tapas & Beijos, protagonizada por Fernanda e Andréa Beltrão. Exibido entre 2011 e 2015, o programa, de Claudio Paiva, traz Fernanda como Fátima e Andréa como Sueli, amigas que moram no subúrbio carioca e trabalham em Copacabana, na Djalma Noivas – e é naquele cenário onde se desenrola toda a vida delas, inclusive amorosa. As atrizes dividem a cena com nomes como Fábio AssunçãoVladimir Brichta e Flávio Migliaccio, que morreu em maio.

 

Claudio Paiva atribui o sucesso da série "ao elenco, à direção e às boas histórias" que ele escreveu com a equipe. "Os conflitos humanos sempre vão render boa ficção. Tapas & Beijos se mantém no ar na TV a cabo, e agora está voltando à TV aberta. Não imaginava que fosse ficar esse tempo todo sendo exibida", diz ele. O diretor Mauricio Farias conta que a série foi pensada para ter poucas temporadas. "Tínhamos uma expectativa inicial de 2 ou 3 temporadas. Ficamos 5 anos no ar e, quando saímos, a Globo nos disse que poderíamos voltar a hora que quiséssemos. Não é que voltamos!"  

Fernanda conversou com o Estadão, do Rio, por videoconferência.

 

Fernanda Torres
A atriz e escritora Fernanda Torres, em sua casa, no Rio. Foto: Victor Pollak/Globo/Videochamada

Como vê Fátima e Sueli hoje?

São personagens muito atuais ainda. São duas mulheres trabalhadoras. Elas não tiveram filhos, não se casaram. É uma série sobre gente que trabalha, que passa mais tempo no trabalho que com a própria família. Então, todos os problemas pessoais, as relações afetivas acabam passando pelo trabalho, que é a realidade de grande parte da população brasileira. E Fátima e Sueli foram criadas na época da ascensão da classe C. Era uma época em que o Brasil estava empregando muito, então estavam todos empregados na série. O Claudio Paiva falou: hoje elas estariam na fila dos R$ 600. E aquela rua inteira estaria fechada: o Djalma Noivas, que vive de casamentos, estaria falido, o restaurante do Seu Chalita estaria fechado, primeiro porque não temos mais o Seu Chalita, infelizmente, e depois porque os restaurantes fecharam. A La Conga, a boate, estaria fechada, e talvez só o Armane, com aquela lojinha de produtos chineses, estaria vendendo online. Hoje seria ainda atual, porque acho que hoje trataria das pessoas que perderam seu emprego.

Atualmente, são usados termos como empoderamento feminino, masculinidade tóxica... As duas representam muito esse empoderamento que se fala hoje, são independentes...

É, mas existe uma coisa interessante na série, porque não é só a questão da mulher, tem também a questão de raça, de gênero. O personagem do Orã (Figueiredo) era casado com um travesti. O Armane seria o macho tóxico, mas, ao mesmo tempo, era condenado tanto à mulher quanto à amante, aquilo era quase algo trágico. O que quero dizer é que acho que o Tapas trazia tudo isso, mas não de uma forma panfletária. Às vezes, sinto que esses temas são abordados através de um espírito um pouco acusatório, como se a arte fosse ensinar as pessoas a viver. E acho que o Tapas fazia isso discutindo esses temas sem impô-los. 

O elenco se reencontrou pelo Zoom, e imagino a tristeza pela morte do Flávio Migliaccio.

O Flávio era um ator incrível, com a herança do (Teatro de) Arena, com a herança de uma época em que o Brasil perseguia essa questão do homem brasileiro. Meu primeiro contato com o Flávio foi no (Aventuras comTio Maneco, que é a estreia do Mauricio (Farias, diretor de ‘Tapas & Beijos’) com 10 anos, ele é um dos meninos do Tio Maneco. Falei disso com o Mauricio: você estreou como ator no Tio Maneco dirigido pelo Flávio, e o último trabalho da vida dele foi com você. Flávio se foi dizendo: o que minha geração lutou não aconteceu, que é uma frustração muito grande, eu sinto nessa geração, que lidou com a ditadura militar, que participou dos atos pró-democracia, que viu a social-democracia ascender ao poder e, de repente, a gente chega ao mundo de hoje. Por tudo isso, é uma coisa muito forte a falta do Flávio. 

Além de Diário De Um Confinado, você gravou Amor e Sorte, que é também uma série da quarentena.

Foi uma loucura, porque o Jorge (Furtado) me ligou e disse que tinha criado uma série para duplas de atores que estão ‘quarentenados’. O Silvio de Abreu falou: a Nanda está na serra com o Andrucha. Então, todos os outros foram dirigidos remotamente, mas a gente tinha o Andrucha. A gente filmava horas por dia, noturnas. Mas foi uma experiência incrível com a família. Ele acabou fazendo um filme normal. 

 

Fernanda Torres
Fernanda Torres, Flávio Migliaccio e Andréa Beltrão em cena da série 'Tapas & Beijos'. Foto: Estevam Avellar/Globo

Como será o episódio seu e de Fernanda Montenegro?

Foi tudo escrito rápido. Entre o Jorge falar e a gente começar, foram dez dias. A princípio, ele me chamou para escrever. Eu disse: vai ser esquisito escrever para mim e para minha mãe. Falei: vamos chamar o Antônio Prata. E o Prata, com o Chico Mattoso, desenvolveu algo muito legal, uma espécie de inversão. Uma mãe que foi jovem nos anos 1960, 70, uma mulher que foi livre, e com 90 anos está danada da vida. Era um pouco falar dessa questão da terceira idade que, de repente, tem que ser confinada, tem risco de vida, não pode fazer nada. Aí a gente fez a filha em home office, que mora em São Paulo, do mercado financeiro, que atualmente está tendo de demitir pessoas. E essa filha pega o carro, pega a mãe na praia tomando caipirinha, põe no carro, e sequestra a mãe para isolá-la no mato. São esses dois mundos, e acaba que a quarentena aproxima as duas. 

Qual lição vai ficar dessa pandemia?

Lição eu não sei, acho que a pandemia vai interferir no mundo. Acho que o negacionismo do Trump talvez custe a ele a eleição. Então, todo esse posicionamento anticiência que a gente viu crescer de maneira tão assombrosa nos últimos anos, terraplanista, fundamentalista, isso talvez sofra um revés por causa da pandemia. Não estou dizendo que o mundo será melhor ou pior, mas acho que o que está acontecendo com o Trump nos EUA diz alguma coisa sobre essa visão anticientífica. Agora, acho que, assim que sair uma vacina, rapidamente o mundo voltará a poluir como nunca, a devastar como nunca. Não vejo uma mudança profunda.


Estadão segunda, 03 de agosto de 2020

COMO CLINT EASTWOOD FOI DE GAROTO DE RECADOS A UM DOS ÍCONES DE HOLLYWOOD

 

Como Clint Eastwood foi de garoto de recados a um dos ícones de Hollywood

Talvez o grande feito do ator na arte como na vida tenha sido conseguir esculpir sua face na pedra, tornar suas rugas experiências vividas no imaginário do público

Luiz Carlos Merten, O Estado de S> Paulo

31 de maio de 2020 | 05h00
Atualizado 28 de julho de 2020 | 22h02

Tamanho sempre foi documento para Clint Eastwood, desde que era Clinton, o mesmo nome de seu pai. Nasceu em 31 de maio de 1930, com 5,1 kg, um bebê tão grande que, instantaneamente, ganhou das enfermeiras do St. Francis Hospital, em São Francisco, o apelido de Sansão. Pré-adolescente, já media 1,83 m e se destacava nos esportes – claro –, sendo particularmente bom no basquete.

Mas era tímido. Uma professora teve a ideia de colocá-lo no grupo de teatro, para ajudar a socializar. Ele detestou. Jurou que aquele era o fim de sua carreira de ator. Mais tarde, na época da Guerra da Coreia, chegou a se alistar, mas nunca foi para o front. Ficou amigo de um grupo de bonitões que já vinham tentando fazer cinema – John Saxon, David Janssen, Martin Milner.

 

 

Como Clint Eastwood, que completa 90 anos, foi de garoto de recados de um dos ícones de Hollywood
Carreira. O jovem Clint não queria ser ator e se alistou no Exército Foto: JOHANNES EISELE/EFE/EPA – 11/2/2007
 

Empurrado pelos amigos, e com a expectativa de mais diversão, encarou a possibilidade de ser ator. Chegou a ser contratado pela Universal para um treinamento de jovens atores. Tornou-se protegido de Arthur Lubin, que era gay e sonhava fazer dele o seu Rock Hudson, astro número 1 do estúdio e parceiro habitual de outro diretor, Douglas Sirk, que também era gay.

Entre 1955 e 58, Clint Eastwood participou de 11 filmes com títulos como A Vingança do Monstro e Tarântula (Jack Arnold), O Suplício de Lady Godiva (Arthur Lubin) e Crimes Vingados (Charles Haas), etc. Eram participações insignificantes e o aspirante a astro – naquela época confiava mais na estampa do que no talento – ganhava dinheiro cavando piscinas.

Algo se passou em 1958. A CBS anunciou um novo seriado de western, e eles eram numerosos na TV da época. Clint, graças a uma amiga da mulher – já era casado com Maggie Johnson –, conseguiu um encontro com o produtor Robert Sparks. Não foi um teste. Conversaram brevemente no corredor da emissora. Sparks pediu informações sobre a carreira de Clint. Não conhecia nada que ele tivesse feito, o que o próprio Clint consideraria, mais tarde, ter sido uma bênção. Sparks já se afastava quando se virou e perguntou qual era a altura dele: 1,93 m. Foi o que terminou pesando na contratação.

 

Como Clint Eastwood, que completa 90 anos, foi de garoto de recados de um dos ícones de Hollywood
Três Homens em Conflito. Da parceira com Sergio Leone, traz a história dos três homens que lutam por 200 mil dólares roubados
  Foto: PRODUZIONI EUROPEE ASSOCIATE

O seriado Rawhide foi um sucesso. Durou oito temporadas e 215 episódios. O caubói Rowdy Yates transformou Clint num astro da telinha. Na Itália, o diretor Sergio Leone preparava sua incursão na vertente do spaghetti western, que substituíra o peplum, aventura mitológica, na produção industrial italiana. Leone estava transpondo o clássico filme de sabre de Akira Kurosawa, Yojimbo, para o faroeste made in Spain. Precisava de um ator alto – bingo! – e, de preferência, americano, para dar legitimidade ao papel. Não havia com que se preocupar no quesito talento. O Estranho Sem Nome, como foi batizado o anti-herói, quase não falava.

Os três filmes que fez com Leone, entre 1964 e 66 – Por Um Punhado de DólaresPor Uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito/Il Buono, Il Brutto e Il Cattivo – foram decisivos para Clint. Numa época em que os mestres (John FordRaoul Walsh) e até os novos talentos (Sam Peckinpah) já haviam decretado o fim dos mitos em Hollywood, nenhuma surpresa que Leone tenha feito de seu “mocinho” um aventureiro com um código tão individual que o leva a abrir mão dos escrúpulos. Para completar o mau comportamento, Leone vestiu-o com sombreiro, poncho, mal barbeado e fez com que, o tempo todo, mantivesse na boca uma cigarrilha apagada (que ele odiava).

A trilogia do Estranho Sem Nome foi lançada nos EUA quando Rawhide ainda estava no ar, e terminando. Clint era um astro, mas, para todos os efeitos, um astro italiano. Hollywood colocou-o de quarentena, escalando-o para um faroestezinho B, mas A Marca da Forca (1968), de Ted Post, coproduzido pela empresa que Clint criara, a Malpaso, saiu tão boa, e o público gostou tanto, que não deu mais para ignorar. Choveram os convites. Clint não assinou com nenhum estúdio, manteve a independência mesmo que tenha sido na Universal que iniciou e desenvolveu quase toda a parceria com Don Siegel. Fizeram cinco filmes – Meu Nome É CooganOs Abutres Têm FomeO Estranho Que Nós Amamos (a primeira versão, de 1971), Perseguidor Implacável (o primeiro Dirty Harry, de 1972) e Alcatraz – Fuga Impossível, o último da dupla, de 1979.

Clint virou astro, mais que isso – ícone. Esculpiu uma persona de (anti?) herói solitário, que no fundo tinha respaldo na vida. Permaneceu mais de 30 anos casado com Maggie Johnson, mas era o primeiro a admitir que sempre teve outras mulheres. Se ela exigisse fidelidade, teriam acabado logo. O acordo de divórcio, em 1978, dotou-a com uma fortuna de US$ 25 milhões. Clint casou-se mais três vezes, com Sondra Locke, Frances Fisher e Dina Ruiz. Com essa casou-se em 1996, quando já tinha 74 anos. Com ela foi pai de novo, quando já era avô. 

Nos anos 1970, firmou a imagem de durão, sempre com o trabuco – Dirty Harry virou série, o Magnum 44 era sua marca. As feministas amavam odiá-lo. Mas o porco chauvinista tinha uma ambição. Queria tornar-se diretor, e respeitado. Dirigiu um primeiro filme (Perversa Paixão, de 1971). Dirigiu outro (Interlúdio de Amor/Breezy, de 1973). Com certeza havia ali alguma coisa. Não parou mais de dirigir. Até agora – O Caso Richard Jewell –, são 41 filmes, e contando.

 

Como Clint Eastwood, que completa 90 anos, foi de garoto de recados a um dos ícones de Hollywood
Menina de Ouro. Treinador de boxe, aposta na lutadora vivida por Hilary Swank. Novamente, levou quatro Oscars, inclusive de filme
Foto: WARNER BROS.

Clint Eastwood, seus filmes e o Oscar

Ganhou quatro Oscars – duas vezes melhor filme e diretor – por Os Imperdoáveis, de 1992, e Menina de Ouro, de 2005. Por mais de 20 anos sempre houve alguma indicação para Clint e seus filmes. Mas a Academia foi renitente quando ele mais merecia – Gran Torino, de 2008. Honrarias, teve de sobra. Além dos Oscars, presidiu o Festival de Cannes, recebeu o Irving Thalberg Memorial da Academia, o Life Achievemernt do American Film Institute, Globo de Ouro, etc. 

O pai e a mãe de Clint formavam o que parecia o casal perfeito, mas houve a Grande Depressão dos anos 1930. Os Eastwood sobreviveram como podiam. Que Clint, de errand boy, tenha chegado tão longe, parece um sonho americano, mas ele foi sempre crítico em relação à América e a si. Frequentou a Casa Branca de Ronald Reagan por amizade. Foi prefeito de Carmel. Sempre amou o jazz e biografou Charlie Parker, em Bird. 

De volta ao tamanho, Stéphane Bouquet abre seu livro Clint Fucking Eastwood lembrando a cena de Um Mundo Perfeito, de 1993. O menino tem vergonha de tirar a roupa diante dos adultos. Butch olha e o tranquiliza. Diz que, para a sua idade, está de bom tamanho. No mesmo filme, a aprendiz de policial é alvo do humor machista dos colegas veteranos que caçam os fugitivos. O que mata Butch é particularmente ofensivo. Ela lhe dá um chute na virilha. Em Os Imperdoáveis, a caçada começa quando o malfeitor retalha o rosto da prostituta que riu do tamanho do seu sexo. Clint, como Munny, o caçador, pega o revólver, avalia (o tamanho). Substitui pelo rifle.

Talvez o grande feito de Clint Eastwood, na arte como na vida, tenha sido conseguir esculpir sua face na pedra, tornar suas rugas experiências vividas no imaginário do público, como os maiores astros de antigamente – Gary CooperSpencer TracyJohn Wayne, James Stewart. Clint Eastwood, ou O homem que soube envelhecer.


Estadão domingo, 02 de agosto de 2020

BEYONCÉ ENCANTA OS FÁS COM ÁLBUM VISUAL

 

Beyoncé encanta fãs com álbum visual 'Black Is King', inspirado em 'O Rei Leão'

A narrativa visual lançada na plataforma Disney + conta a história de um jovem que viaja por um mundo difícil, longe de sua família

AFP, O Estado de S.Paulo

01 de agosto de 2020 | 14h58

A rainha do pop Beyoncé lançou nesta sexta-feira, 31,  seu tão aguardado álbum visual, Black Is King, um vídeo esteticamente ambicioso anunciado como complementar a seu álbum de 2019 com músicas inspiradas no remake da Disney de O Rei Leão.

A narrativa visual altamente estilizada lançada na plataforma de streaming Disney Plus dura uma hora e 25 minutos e, semelhante a "O Rei Leão", conta a história de um jovem que viaja por um mundo difícil, longe de sua família.

 

Beyoncé encanta fãs com álbum visual
A narrativa visual lançada na plataforma Disney +  onta a história de um jovem que viaja por um mundo difícil, longe de sua família
Foto: Robin Harper/Parkwood Entertainment/Disney + via AP
 

O trabalho é uma ode à experiência negra, repleta de imagens vibrantes celebrando a diáspora africana, uma exploração estética da história negra, poder e sucesso que também faz referência a colonialismo, disparidade econômica e racismo.

Beyoncé descreveu o álbum como um "trabalho de amor", que agora serve "a um propósito maior" do que seu papel original como peça complementar de O Rei Leão: O Presente, em vista do clima sociopolítico atual.

Protestos em massa contra o racismo se seguiram ao assassinato por um policial branco do afro-americano George Floyd, em maio, quando a pandemia do novo coronavírus já atingia duramente os Estados Unidos, infectando desproporcionalmente a população negra.

"Muitos de nós querem mudanças", escreveu Beyoncé no Instagram, em um raro momento de desabafo pessoal dessa celebridade reservada.

"Acredito que quando os negros contam as próprias histórias, é possível mudar o eixo do mundo e contar a história REAL de riqueza geracional e riqueza de alma que não são contadas em nossos livros de História".

- Imagens exuberantes -Alimentado por visuais exuberantes e os vocais crescentes de Beyoncé, Black Is King enfatiza fortemente as noções de família e maternidade, além de linhas filosóficas sobre origem e legado.

 

Beyoncé encanta fãs com álbum visual
A narrativa visual lançada na plataforma Disney + conta a história de um jovem que viaja por um mundo difícil, longe de sua família
Foto: Travis Matthews/Parkwood Entertainment/Disney Plus

Seu marido, o astro do hip-hop Jay-Z, a atriz Lupita Nyong'o e a modelo Naomi Campbell estão na produção. A mãe de Beyoncé, Tina Knowles-Lawson e a ex-colega de banda de Destiny's Child, Kelly Rowland, também aparecem, assim como a filha, Blue Ivy, e imagens raras de seus gêmeos, Rumi Carter e Sir Carter.

O filme segue o venerado álbum visual de 2016 de Beyoncé Lemonade, que enfatizou a mulher negra no contexto do legado americano de escravidão e cultura de opressão.

Desde o trabalho vencedor do Grammy, Beyoncé tem valorizado o visual na vanguarda de sua arte, não mais focada em dominar as paradas pop.

Simultaneamente uma das estrelas mais discretas e mais cultuadas da música, aos 38 anos ela usa sua enorme plataforma de mídia social para aprimorar sua imagem e promover seu trabalho, repleto de comentários sociais amplos sobre temas como gênero e raça.

Beyoncé também enfrentou críticas, especialmente de fora dos Estados Unidos, por implantar o que alguns chamam de visuais estereotipados da "tradição africana" - pintura facial e plumas, por exemplo.

Muitos usuários de mídias sociais observaram que o Disney Plus não é acessível nos países africanos e que, embora Beyoncé tenha realizado alguns shows no continente, suas turnês não passam por lá há anos.

"É preciso entender como nossa amada rainha Beyoncé está reduzindo a negritude e a africanidade à estética e às imaginações ocidentais de nossa existência", tuitou o usuário Paballo Chauke. "Também é preciso falar como isso agora é lucrativo".

Ainda assim, a 'Bey Hive' - legião de fãs fervorosos de Beyoncé - expressou alegria com o lançamento de Black Is King, que rapidamente se tornou um trending topic.


Estadão sábado, 01 de agosto de 2020

HARRY POTTER COMPLETA 40 ANOS: VEJA OBRAS QUE INSPIRARAM O PERSONAGEM

 

Harry Potter completa 40 anos: veja obras que inspiraram o personagem

A escritora J.K. Rowling costuma afirmar que criou o personagem do zero em uma cafeteria ou viagem de trem, mas há muitos bruxos que influenciaram o surgimento de Harry Potter

André Cáceres, O Estado de S.Paulo

31 de julho de 2020 | 09h00

O bruxo Harry Potter completa 40 anos hoje. Não a franquia, cujos livros começaram a ser lançados em 1997, mas o personagem em si — na saga, ele nasceu em 31 de julho de 1980. Seu aniversário, aliás, é compartilhado com a sua criadora, J.K. Rowling. Para celebrar os 40 anos de um dos personagens mais famosos da cultura pop, conheça as principais inspirações de Harry Potter.

 

Timothy Hunter
Timothy Hunter, protagonista de 'Os Livros da Magia', HQ de Neil Gaiman Foto: Vertigo/DC Comics
 

Rowling costuma dizer que criou seu universo fictício do nada às vezes em uma cafeteria, às vezes em uma viagem de trem. No entanto, as raízes de sua obra podem ser traçadas facilmente por meio de outros livros, filmes e quadrinhos sobre bruxaria.  

Uma das principais inspirações certamente foi Os Mundos de Crestomanci, série de sete livros publicados entre 1977 e 2006 por Diana Wynne Jones (1934-2011). Na trama, dois irmãos órfãos, Eric e Gwendolen Chant, descobrem ter poderes mágicos e partem em uma jornada para um castelo onde funciona uma escola de magia. 

Outros livros de Jones que também lidam com aspectos mágicos foram adaptados para o cinema por Hayao Miyazaki, do Studio Ghibli, em O Castelo Animado (2005), e em Earwig and the Witch, programado para 2020. Não seria a única escritora que influenciou J.K. Rowling a ganhar uma adaptação de Miyazaki. 

Contos de Terramar
'Contos de Terramar', adaptação dos romances fantásticos de Ursula K. Le Guin Foto: Studio Ghibli

Em 2006, o estúdio japonês produziu Contos de Terramar, animação baseada na obra de fantasia de Ursula Le Guin (1929-2018), uma das mais importantes escritoras do gênero. Na obra, um mago experiente e um jovem príncipe se unem para combater uma sombra que está desequilibrando esse mundo mágico. A saga é composta por seis livros lançados entre 1968 e 2001.

Os Livros da Magia, quadrinho de 1990 escrito por Neil Gaiman — autor de, entre outras obras, Deuses Americanos e Coraline — tem como protagonista Timothy Hunter, um menino bruxo cujas feições são assombrosamente semelhantes a Harry Potter, incluindo seus óculos e sua coruja. Embora os enredos não sejam parecidos — em vez de uma escola de magia, Timothy se aventura por viagens no tempo e por outras dimensões —, Gaiman já foi perguntado muitas vezes sobre as coincidências entre os personagens, e sempre disse serem apenas coincidências.

A ideia de uma escola de magia já era bastante difundida na literatura fantástica na época em que Rowling lançou Harry Potter e a Pedra Filosofal. O conceito já havia sido trabalhado em Wizard’s Hall (1991), da americana Jane Yolen, na série de fantasia satírica Discworld (1983-2015), de Terry Pratchett, em A Escola de Magia e Outras Histórias, de Michael Ende e em The Worst Witch, série de oito livros (1974-2018) da britânica Jill Murphy.

 

The Worst Witch
Série baseada em 'The Worst Witch', de Jill Murphy Foto: United Productions

Diferente de Gaiman, Le Guin e outros autores, Jill Murphy já externou sua insatisfação com as semelhanças entre sua obra e a de Rowling. The Worst Witch trata de Mildred Hubble, uma garota bruxa em uma escola de magia que é a pior aluna de sua classe e vai aprimorando suas habilidades mágicas. Os livros foram adaptados em um telefilme da HBO em 1986 e ganharam duas séries de TV na Inglaterra, uma entre 1998 e 2001 e a outra, ainda no ar, desde 2017. 

Apesar das queixas, Murphy nunca foi à justiça, como fez a família do escritor britânico Adrian Jacobs, que chegou a processar Rowling pelas semelhanças de Harry Potter com o livro infantil The Adventures of Willy the Wizard: Livid Land No. 1. Na obra, há uma disputa mágica bastante semelhante ao torneio tribruxo disputado no quarto livro da saga Harry Potter. Apesar disso, Rowling venceu nos tribunais. Foi o mesmo destino jurídico de sua contenda com a escritora americana Nancy Kathleen Stouffer, autora de livros infantis de 1984 que traziam como personagem o garoto Larry Potter. 

No aniversário de 40 anos de Harry Potter, é possível perceber que seus pais vão muito além de Tiago e Lily Potter. J.K. Rowling se inspirou em diversos universos para compor o seu, mas o bruxinho com varinha, óculos, coruja e cicatriz permanece único para seus fãs. 


Estadão quinta, 30 de julho de 2020

COM MIL MORTES POR DIA, POR QUE HÁ TANTOS INDIFERENTES EM RELAÇÃO AO CORONAVÍRUS?

 

Com mil mortes por dia, por que há tantos indiferentes em relação ao coronavírus?

Autodefesa, vontade de voltar à rotina normal e dificuldade de visualizar a tragédia são alguns dos motivos, dizem especialistas

José Maria Tomazela, O Estado de S.Paulo

30 de julho de 2020 | 05h00

 

O total de mortes diárias por covid-19 no País equivale à queda de três grandes aviões comerciais lotados, mas o número não choca mais. De norte a sul, brasileiros descumprem regras de isolamento social e voltam à rotina, em praias, restaurantes e festas, como se estivessem à margem da tragédia mundial. Embora a média oscile, o país está próximo de mil mortos por dia desde o começo de junho. 

 

Sepultamentos se tornaram rotina no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo
Sepultamentos se tornaram rotina no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo Foto: Werther Santana/Estadão

 

Conforme o site Our World in Data, que acompanha a pandemia em tempo real pelo mundo, o Brasil está na faixa das mil mortes diárias há seis semanas, desde meados de junho. Os Estados Unidos permaneceram nessa condição por oito semanas, a partir de meados de abril. Nenhum outro país ficou nesse patamar por tanto tempo. 

“É como se estivéssemos anestesiados frente ao grande número de mortes”, avalia o sociólogo Rodrigo Augusto Prando, da Universidade Mackenzie. “Depois de um período de crise, todos clamam pela volta do normal e, até como sentido de autodefesa, a pessoa para de olhar o número de mortes. Cansadas, tristes, chegam à conclusão de que a vida tem de seguir, daí o termo novo normal. Estamos vivendo a normalidade dentro da anormalidade”  

Para o psiquiatra Daniel Martins de Barros, professor da Universidade de São Paulo (USP) e colunista do Estadão, os brasileiros estão normalizando os óbitos. “Não estou minimizando as mortes por covid, mas todo dia no Brasil morrem mais de três mil pessoas por causas diversas. São 100 mil óbitos, mais ou menos, por mês no País. É normal que as pessoas morram. O susto da covid, o desespero que ela trazia, não era pelas mortes na sociedade”, aponta. “O grande susto era o jeito que as pessoas morriam, sem condições para serem atendidas por falta de vaga na UTI, então morriam dentro de casa. Era o medo porque aconteceu em alguns lugares de pessoas morrerem em casa, por medo de sair, porque não tinham assistência, etc.”

Poder da imagem. Para o filósofo Roberto Romano, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pandemia realça a “tremenda ambivalência” humana. “Temos ao mesmo tempo gestos magnânimos, simpatias e heroísmo, mas também momentos de pequenez, egoísmo, autossatisfação com a maldade, o prazer em fazer o mal”, afirma. “Essa duplicidade depende muito das condições de comunicação, visualidade e proximidade do fato. Se um parente próximo estiver no Boeing que caiu, a reação é de consternação, tristeza e até de revolta. Quando o fato não está no campo visual, de percepção imediata, essa reação se torna cada vez mais tênue.”

No caso da pandemia, explica, a notícia das mil mortes é apenas um número. “Você não vê aquilo acontecendo, como os destroços de um Boeing, das Torres Gêmeas (atentado em Nova York, de 2001)”, exemplifica. 

Romano define a educação como elemento fundamental para que a sociedade reaja de forma evoluída mesmo diante de uma tragédia. “Se você é educado para reagir de maneira mais simpática, tende a rejeitar a criminalidade que está dentro de você. Como disse (o filósofo grego) Platão, temos de ensinar aos jovens a diferença entre a caça aos animais e ao ser humano. Se não tiver lei, educação e ciência, você está em estado da natureza, um devorando o outro.”

Situação no País, com dados do consórcio da imprensa e do ministério (recuperados)

Total de mortes : 90.188

Média móvel de mortes (7 dias): 1.043

Novos casos detectados em 24h, até 20h de quarta-feira, 29/7: 70.869

Novos registros de mortes em 24h, até 20h de quarta-feira, 29/7: 1.554

Total de testes positivos: 2.555.518

Número de recuperados*: 1.787.419

O Ministério da Saúde informou, no início da noite desta quarta-feira, que o Brasil contabilizou 1.595 óbitos e mais 69.074 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Com isso, o total de óbitos é de 90.134 e 2.552.265 casos confirmados pelo coronavírus. O número é diferente do compilado pelo consórcio de veículos de imprensa principalmente por causa do horário de coleta dos dados.

Em média, grandes aviões comerciais levam até 300 pessoas, entre tripulação e passageiros. No último grande acidente aéreo no Brasil, em julho de 2007 - o avião da TAM que não conseguiu pousar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e bateu no prédio -, 199 pessoas morreram e houve comoção nacional. Por que paramos de nos chocar com número tão alto de perdas na pandemia? 
 

Estadão quarta, 29 de julho de 2020

CIDADE PÁSSARO: FILME BRASILEIRO ELOGIADO EM BERLIM

 

Filme brasileiro elogiado em Berlim estreia em 190 países, mas não no Brasil

Filme de Matias Mariani foi adquirido pela Netflix depois de boa recepção no Festival de Cinema de Berlim; no Brasil, só chega no fim do ano

Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo

29 de julho de 2020 | 05h00

A partir desta quarta, 29, mais de 190 países – que compõem a base da Netflix em todo o mundo – começam a assistir a Cidade Pássaro. O filme só vai estar disponível no Brasil no fim do ano. A expectativa é tanto maior pelo desempenho do longa nas praças africanas. “Foi a Netflix África que propôs a compra para distribuição. Infelizmente, quando assinamos o acordo a Ancine ainda não havia ajustado suas normas à era da covid-19”, conta o diretor Matias Mariani.

Contratualmente, Cidade Pássaro tem de estrear em cinema e, quando houve o acordo com a Netflix, a agência ainda não havia começado a trabalhar nessa nova realidade dos cines drive-ins. Alguns filmes brasileiros estão estreando nessa nova janela. “Já existe uma fila muito grande de lançamentos. Vamos ter de esperar pela reabertura das salas e brigar pelo nosso espaço, o que com certeza não será fácil. E, embora o filme esteja entrando no streaming, já temos convite para o Festival de Lagos, na Nigéria.”

 
 
Cidade Pássaro
Nigerianos. Trama de 'Cidade Pássaro' fala de dupla de irmãos em São Paulo  Foto: Primo Filmes
 

Mariani conversa pelo telefone da praia de Baleia, onde cumpre isolamento com as filhas de 8 e 4 anos. Cidade Pássaro é sobre um nigeriano que chega a São Paulo em busca do irmão. É o projeto de uma vida. “Começou a surgir quando eu era jovem e estudava no exterior. Vivi esse sentimento de me sentir um estranho, sem vínculo com a comunidade. O filme nasceu com um personagem estrangeiro, só depois ele virou nigeriano.”

Enquanto pensava no personagem como estrangeiro, Mariani começou a pesquisar, há sete anos, quando os nigerianos desembarcavam na cidade. Ele começou a se interessar por essa cultura. Com a roteirista Francine Barbosa, deu aulas de português para nigerianos. A questão dos refugiados era sobre independência, sobrevivência. Descobriu a oralidade e musicalidade dos igbos.

Foi assim que surgiu o irmão que procura o outro, e ele é um matemático envolvido com uma máquina que antecipa resultados de jogos. O filme vira uma viagem pelo controle. Mariani nunca pensou em filmar com atores naturais. Teriam de ser profissionais, e dos melhores. Encontrou um no Canadá, outro na Royal Shakespeare Company, em Londres. Chikwwudi Iwuji e OC Ukuje. Cidade Pássaro estreou em Berlim, em fevereiro. Foi lá que ganhou elogios da crítica e chamou a atenção da Netflix. 

(o filme ainda não ganhou um trailer oficial)


Estadão domingo, 26 de julho de 2020

CHICO BUARQUE E GILBERTO GIL LANÇAM NOVA VERSÃO DO CLÁSSICO COPO VAZIO

 

Chico Buarque e Gilberto Gil lançam nova versão do clássico 'Copo Vazio'; veja clipe

Regravação da música composta por Gil na década de 1970, durante a ditadura, chega nesta sexta, 24, às plataformas digitais 

Adriana Del Ré, O Estado de S.Paulo

24 de julho de 2020 | 16h24

A música Copo Vazio, composta por Gilberto Gil e gravada por Chico Buarque originalmente em seu disco Sinal Fechado, de 1974, ganha nova versão que chega nesta sexta-feira, 24, às plataformas digitais. Foi lançado também um clipe da canção, com imagens inéditas do dueto de Chico e Gil, filmadas pela Conspiração Filmes no estúdio de Gil, no Rio.

A regravação foi realizada em 2014, a pedido de Andrucha Waddington, que, na época, rodava Rio, Eu Te Amo e estava em busca de uma trilha sonora para a personagem vivida por Fernanda Montenegro, Dona Fulana.  

 

 

Chico Buarque
Dueto de Gilberto Gil e Chico Buarque. Foto: Reprodução
 

O álbum Sinal Fechado foi gravado por Chico Buarque só com composições de outros autores, como o já citado Gil, Caetano Veloso, Toquinho e Vinicius de Moraes, Noel Rosa, Walter Franco e Paulinho da Viola (cuja composição deu título ao disco). Na época, sob ditadura, a obra do cantor e compositor sofria forte censura. Chico estava “privado de sua liberdade artística plena!”, afirmou Gil. 

Na ocasião, Chico pediu música para Gil. “Um copo de vinho. Um copo vazio na mesa. Vazio como, se está cheio de ar? E veio a inspiração da canção que versa sobre a privação da liberdade em tempos de ditadura”, escreveu Gil em suas redes sociais. 

A letra da música:

É sempre bom lembrar

Que um copo vazio

Está cheio de ar

É sempre bom lembrar

Que o ar sombrio de um rosto

Está cheio de um ar vazio

Vazio daquilo que no ar do copo 

Ocupa um lugar

É sempre bom lembrar

Guardar de cor

Que o ar vazio de um rosto sombrio

Está cheio de dor

É sempre bom lembrar

Que um copo vazio

Está cheio de ar

Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho

Que o vinho busca ocupar o lugar da dor

Que a dor ocupa a metade da verdade

A verdadeira natureza interior

Uma metade cheia, uma metade vazia

Uma metade tristeza, uma metade alegria

A magia da verdade inteira, todo poderoso amor

A magia da verdade inteira, todo poderoso amor

É sempre bom lembrar

Que um copo vazio

Está cheio de ar


Veja o clipe:


Estadão sábado, 25 de julho de 2020

DIA DO ESCRITOR: CONHEÇA DEZ AUTORES BRASILEIROS FUNDAMENTAIS

 

No Dia do Escritor, conheça dez autores brasileiros fundamentais

Data é celebrada desde 1960, quando aconteceu o primeiro Festival do Escritor Brasileiro

Redação, O Estado de S.Paulo

25 de julho de 2020 | 10h00

Dia do Escritor é comemorado no Brasil em 25 de julho desde 1960, quando a data foi escolhida pelo ex-ministro da Educação e Cultura Pedro Paulo Penido. Nesse dia, a União Brasileira de Escritores (UBE) promoveu a primeira edição do Festival do Escritor Brasileiro. Para celebrar a data, o Estadão selecionou dez nomes fundamentais da literatura brasileira.

 

Escritores
Machado de Assis, Clarice Lispector, Jorge Amado: Dia do Escritor celebra grandes nomes da literatura brasileira

Machado de Assis

 

Talvez o mais celebrado escritor brasileiro de todos os tempos, Joaquim Maria Machado de Assis foi fundador da Academia Brasileira de Letras. Ao mesmo tempo em que foi um dos autores que mais traduziu o Brasil em suas contradições, Machado foi tido como um escritor “pouco brasileiro” por retratar primordialmente os costumes da elite e por ter como principais influências os humoristas ingleses e os romancistas franceses e russos. Recentemente duas novas traduções de Memórias Póstumas de Brás Cubas foram publicadas nos EUA, ambas esgotadas em um dia, recolocando Machado no cenário internacional. Além desse romance, Dom Casmurro, Quincas Borba e Papéis Avulsos são algumas de suas obras incontornáveis.

 

 

Carolina Maria de Jesus

 

Uma das mais importantes vozes da literatura negra brasileira, Carolina Maria de Jesus tem uma trajetória improvável na cena literária: filha de um casal analfabeto, ela era catadora de papel e morava na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, embora fosse mineira de origem. No pouco tempo livre que tinha, registrava o cotidiano que testemunhou durante sua vida. Sua principal obra é Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada.

Mário de Andrade

Um dos mentores do movimento artístico que culminou na Semana de Arte Moderna de 1922, Mário de Andrade era professor de piano e pesquisador da cultura brasileira, e foi um dos grandes poetas, romancistas, intelectuais e contistas do Brasil na primeira metade do século 20. Entre suas obras mais importantes estão Macunaíma, Paulicéia Desvairada e Amar, Verbo Intransitivo.

Guimarães Rosa

Médico de formação e diplomata por profissão, o mineiro João Guimarães Rosa foi um dos mais inventivos escritores da língua portuguesa. Sua obra, marcada pelos neologismos e pela forma como ele registrava a oralidade sertaneja de modo poético, o levou a ocupar uma cadeira na ABL pouco antes de sua morte precoce. Além de Sagarana e Corpo de Baile, seu épico místico-cangaceiro Grande Sertão: Veredas é um dos mais importantes monumentos literários do Brasil.

Graciliano Ramos

O autor de São Bernardo teve uma vida e tanto: jornalista, militante comunista e político, o alagoano Graciliano Ramos chegou a ser prefeito do município de Palmeira dos Índios (AL) — seus relatórios à frente da cidade, vale notar, são verdadeiras peças literárias — e foi preso durante a ditadura de Getúlio Vargas, experiência que retratou em Memórias do Cárcere. Sua obra magna, no entanto, é Vidas Secas, em que ele retrata a penúria de uma família de retirantes no sertão.

Clarice Lispector

Embora nascida na Ucrânia com o nome de Chaya Pinkhasovna Lispector, Clarice era muito brasileira, tendo vivido principalmente no Recife e no Rio d e Janeiro. Uma das principais vozes do modernismo literário brasileiro, Lispector primava por uma prosa sofisticada, com intrincados fluxos de consciência e complexidade estilística. Entre suas principais obras estão Laços de Família, A Paixão segundo G.H. e A Hora da Estrela.

Jorge Amado

Ao mesmo tempo um dos mais populares e eruditos escritores do Brasil, o baiano Jorge Amado é também um dos escritores brasileiros cuja obra foi mais traduzida para o exterior, com versões em 49 idiomas. Ele uniu o estilo modernista à verve regionalista em seus livros, mas também impingiu intensamente seus valores ideológicos em muitas de suas obras, como Capitães de Areia. Alguns de seus livros mais populares ganharam adaptações audiovisuais, como Gabriela, Cravo e Canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tieta do Agreste.

Hilda Hilst

Entre a dimensão sagrada da metafísica e o aspecto profano da sexualidade, a obra de Hilda Hilst congrega em si contradições e nuances como poucos escritores o fizeram na história da literatura. Da poesia à prosa, passando pelo teatro, Hilda sempre investigou a condição humana, mas não se resignou à pouca popularidade — algo que mudaria após a sua morte — e apostou também na literatura erótica. Entre suas obras, destacam-se Fluxo-floema, Do Desejo e A Obscena Senhora D

Rubem Fonseca

O grande mestre da literatura policial brasileira, Rubem Fonseca foi um dos maiores nomes da segunda metade do século 20 e do início do 21. Mineiro, ele construiu sua carreira no Rio de Janeiro a partir das experiências que viveu como comissário da polícia fluminense e a partir daí se tornou referência no gênero. Morto este ano, ele tem entre suas principais obras Agosto Feliz Ano Novo.

Lygia Fagundes Telles

Citada como uma das esperanças do País para o prêmio Nobel todos os anos, Lygia Fagundes Telles é tida como a grande dama da literatura brasileira. Aos 97 anos, ela faz parte da Academia Brasileira de Letras e é uma das últimas vozes da geração de autores que pensou o Brasil a partir dos anos 1930 e 1940, tanto em romances como As Meninas e Ciranda de Pedra, como em contos, como os que integram as coletâneas A Estrutura da Bolha de Sabão e Antes do Baile Verde.


Estadão sexta, 24 de julho de 2020

SÉRIA MANIFESTA ESTREIA SEGUNDA TEMPORADA

 

Comparada a 'Lost', série 'Manifest' estreia segunda temporada

Trama fala sobre os passageiros de um voo que desaparece por cinco anos

Mariane Morisawa, Especial para o Estado

24 de julho de 2020 | 05h00

LOS ANGELES - Manifest – O Mistério do Voo 828 tem um enigma envolvendo um avião e a passagem do tempo e outros enigmas a respeito do que aconteceu nos cinco anos e meio em que os passageiros do voo 828 ficaram desaparecidos para o mundo. 

 

Manifest
Cena da série 'Manifest - O Mistério do Voo 828' Foto: Globoplay
 

Não à toa, a série, que estreia sua segunda temporada no Brasil nesta sexta-feira, 24, no serviço de streaming Globoplay, foi comparada a Lost, que terminou há dez anos. Mas, ao contrário dos criadores da sua predecessora, que não sabiam quantos episódios teriam, Jeff Rake, que está por trás de Manifest, garante ter um mapa para um arco com seis temporadas. “Desde que vendi a ideia, sabia como ia ser”, disse o criador e produtor durante evento da Associação de Críticos de Televisão, em Pasadena, na Califórnia. 

E isso incluía muitas reviravoltas, surpresas e uma sensação de perigo iminente para os personagens. “Nossos episódios focam muito no tema da redenção e das segundas chances, e eu achei que seria interessante ter o tique-taque do relógio, porque isso aumentaria os riscos para nossos heróis enquanto eles descobrem o preço da redenção, o que significa ter uma segunda chance, quais são as consequências quando seu tempo é limitado para se reinventar.” 

Obviamente isso também faz com que os episódios isoladamente sejam mais empolgantes. Afinal, se depender da visão de Cal Stone (Jack Messina), todos vão morrer em 24 de junho de 2024, exatamente cinco anos e meio depois de sua volta – os sobreviventes voltaram com habilidades especiais, como capacidade de prever o futuro. Os outros personagens, como o pai de Cal, Ben (Josh Dallas), sua tia Michaela (Melissa Roxburgh), e Saanvi Bahl (Parveen Kaur), que faz pesquisa médica, tentam enquanto isso descobrir o mistério em torno do voo 828. “Nós vamos descascando a cebola”, afirmou Rake. “Ao fim da primeira temporada, havíamos feito uma ou duas descobertas importantes. O final da segunda vai trazer mais respostas. Queremos entregar o suficiente para os espectadores, bem como os personagens, sentirem que está havendo progresso.” Mas a atriz Melissa Roxburgh contou ao Estadão que os atores evitam especular sobre o que de fato está acontecendo. “A maioria de nós está ali pela jornada”, contou. “Discutimos algumas coisas com Jeff, quando dúvidas aparecem no roteiro, mas em geral nós vamos de episódio em episódio.”

Além de tratar do mistério do voo 828, os personagens precisam lidar com os problemas deixados por eles antes do embarque ou criados pelo tempo que estiveram ausentes. Cal, por exemplo, luta contra um câncer. Sua irmã gêmea, Olive (Luna Blaise), agora é uma adolescente, enquanto ele continua criança. Ben e sua mulher Grace (Athena Karkanis) tentam salvar o casamento. Michaela descobriu que o noivo Jared (J.R. Ramirez) tinha casado com sua melhor amiga, Lourdes (Victoria Cartagena), e agora está envolvida num triângulo amoroso com o ex e Zeke (Matt Long), que ficou preso por um ano numa caverna e voltou à vida em circunstâncias similares às dos sobreviventes do voo. “A relação de Michaela com os dois sempre foi parte integral da história”, informou Rake. “Ela, desde o princípio, ia ficar intrigada com a ideia de um indivíduo que não tinha passado pela experiência do avião, mas tinha uma jornada paralela à dela.” 

Para Roxburgh, o segredo do apelo de Manifest é esse. “É um bom mistério com dinâmica familiar, romance, perdas e corações partidos. Acho que Jeff Rake fez um bom trabalho em equilibrar os vários aspectos da série.”

Houve quem enxergasse implicações teológicas na série, inclusive no número do voo, que seria uma alusão a Romanos 8:28. “Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam Deus, daqueles que são chamados segundo o projeto dele.” Afinal, os passageiros recebem sinais, e o mantra da série é “Tudo está conectado”. 

Segundo o criador, essas pessoas não estão erradas em ver discussões religiosas em Manifest. “Desde o primeiro episódio contrapusemos a fé à ciência”, disse Rake. “Essa é uma experiência que pode ser explicada pela ciência, pelas leis da física? Ou é um evento extraterrestre? Há algum tipo de intervenção divina acontecendo aqui? Esses questionamentos vão continuar. Porque, para mim, é um tema da vida. E eu garanto que vamos responder objetivamente no final da série”, acrescentou.


Estadão quinta, 23 de julho de 2020

ZÉ CELSO ANUNCIA LIVRO

 

Zé Celso anuncia livro e lamenta decisão sobre o Parque do Bixiga: "Não estou fazendo só para mim."

Diretor do Teatro Oficina sente que está trabalhando mais no confinamento e aposta em transformação pós pandemia: "Se for o nosso apocalipse, que seja o fim do capitalismo."

Leandro Nunes, O Estado de S.Paulo

22 de julho de 2020 | 05h00

Do alto do teatro de Lina Bo Bardi, no Bexiga, um grande objeto redondo em formato de vírus descia, acompanhado pela trilha sonora ao vivo de violinos. “Ensaiamos muitas vezes, estava bonito. Era uma forma de demonstrar a dor pelas pessoas que morreram em outros países, e que já começavam a morrer por aqui”, conta ao Estadão o diretor e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa

 

Prefeitura de SP veta criação do Parque Municipal do Bexiga

Como tudo na cena cultural do País, o Oficina também precisou suspender as atividades. “Pelo menos tivemos o carnaval”, ele aponta. “A gente ia voltar às atividades logo em seguida. O Oficina não concorre com o carnaval.”

 

Zé Celso anuncia livro e lamenta decisão sobre o Parque do Bixiga: "Não estou fazendo só para mim."
Diretor do Teatro Oficina sente que está trabalhando mais no confinamento: "Se for o nosso apocalipse, que seja o fim do capitalismo."
Foto: GABRIELA CERQUEIRA

Durante a pandemia, entrevistas por telefone facilitam muito o trabalho de apuração, mas uma exceção é quando se trata de falar com o diretor de 83 anos. Em ocasiões anteriores presenciais, Zé Celso costumava parar entre uma resposta e outra para contar histórias, cantarolar qualquer trecho de alguma música da peça, e repetir as coreografias. Uma diversão à parte.

Agora, ele também reconhece a limitação de uma conversa via telefone e traz na voz a preocupação de alguém que não tem tempo a perder. “Estou confinado em casa há mais de 100 dias, ou será mais?”, questiona. “Ontem eu participei de uma live, gastei um tempão e não deu certo.” 

A mudança de ritmo impôs outros limites. “Sigo lendo, estudando. Essa coisa de home office é um trabalho danado.” O que ele está lendo recentemente é A Queda do Céu – Palavras de um Xamã Yanomami, do escritor e líder político Davi Kopenawa. “Ele narra como os índios enfrentaram essa infecção chamada homem branco.” 

Ao Estadão, o diretor também conta que está escrevendo um livro. “É sobre a origem da nossa tragicomédia-orgia do Oficina. Enquanto Nietzsche se inspirou na ópera – ele adorava a Carmen, de Bizet, vou me inspirar nos batuques e no candomblé. Para mim, música não é espírito. É corpo.”

O investimento de tempo na obra vem oportuno, longe dos palcos. Em São Paulo, não há previsão de reabertura de teatros e espaços culturais, embora o plano do governo do Estado considere o dia 27 de julho. Segundo apuração do Estadão, a Prefeitura deve emitir os primeiros protocolos ainda neste mês, para então aguardar a aprovação da Vigilância Sanitária. Para teatros privados e de terceiros, a volta deve ocorrer entre o fim de agosto e início de setembro. 

Antes da pandemia, no entanto, o Oficina já enfrentava dificuldades financeiras. Nos últimos meses realizou campanhas para arrecadar recursos e há alguns anos, o espaço aguarda liberação para realizar manutenção das arquibancadas e da parede de tijolos que estava cedendo. Apesar da aprovação da obra pelos órgãos de proteção ao patrimônio – O Oficina é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), o teatro ainda aguarda licitação para contratação da empresa e início das obras.

Além disso, há o quase eterno embate com o Grupo Silvio Santos, por conta do terreno ao lado do teatro. Um projeto de lei para o Parque do Bixiga chegou a tramitar na Câmara Municipal. Foi aprovado, mas não sancionado pela Prefeitura. “Lamento, mas a decisão é discutível. Vamos continuar lutando”, afirmou. Enquanto não é possível realizar temporadas, o Oficina promove ações online e produz podcasts sobre suas montagens. Zé Celso reconhece que é preciso garantir o legado do espaço, ainda em vida. “Já estou caminhando para ir embora, tudo que estou fazendo não é mais para mim.” 

E essa defesa do teatro tem tudo a ver com a questão ambiental, segundo ele. O projeto do Parque do Bixiga representa um experimento que Zé Celso gostaria que se espalhasse para outros cantos da cidade, e do País. “A disseminação do coronavírus tem tudo a ver com a destruição da natureza. Esse vírus pegou cidades cimentadas. No Brasil, o primeiro caso foi em São Paulo. É uma espécie de sopro da natureza, que sofre em agonia. Olhe só como o Minhocão violentou a cidade, separando, como foi em Berlim.”

Entre as ações de auxílio voltadas aos artistas, ele comemorou a aprovação da Lei Aldir Blanc, que transfere recursos para trabalhadores da cultura. Em São Paulo, mais de 115 mil pessoas receberão o auxílio. “Para nós, que temos mais de 60 pessoas envolvidas nas peças, é um reforço. Na Europa, por exemplo, os teatros mais importantes receberam subsídios durante a pandemia.”

Nos próximos dias, Zé Celso adianta que iria participar de outras lives. “Como eu disse, levei um tempão e não ficou bom. Parece que tiveram problemas técnicos.” A programação de peças online que se multiplicou nos últimos meses não surpreende o diretor. O Teatro Oficina é conhecido por realizar transmissões ao vivo de suas montagem, em seu canal no YouTube. “Teatro é outra coisa, não é?”

Sem previsão de volta aos palco, Zé Celso intui que a pandemia vai deixar impacto duradouro no Brasil e no mundo. “Tomara que as relações mudem. 1% da população tem toda a grana do mundo”, acrescenta. “Como dizer para alguém ficar em casa, se a pessoa nem casa tem? O Brasil é assim. Se for o nosso apocalipse, que seja o fim do capitalismo.” 


Estadão quarta, 22 de julho de 2020

PERNALONGA, 80 ANOS

 

Pernalonga, 80 anos: a importância do personagem para a animação

Personagem acompanhou a história dos Estados Unidos no século 20 e revolucionou as animações

André Cáceres, O Estado de S.Paulo

22 de julho de 2020 | 08h00

A Wild Hare

Cena de 'A Wild Hare' (1940), de Tex Avery, primeira aparição oficial do Pernalonga Foto: Warner Bros
 

A primeira aparição oficial do Pernalonga (Bugs Bunny, no original) foi em 27 de julho de 1940, no filme A Wild Hare. Apesar disso, dois anos antes, o mesmo estúdio de Leon Schlesinger havia produzido Porky's Hare Hunt, um curta animado com premissa muito semelhante.  

 
Há uma grande diferença, porém, no traço dos personagens do filme de 1938 para o de 1940. O coelho ainda era conhecido pela genérica alcunha de Happy Rabbit e o caçador que viria a evoluir para ser o Hortelino (Elmer Fudd, no original) ainda tinha feições muito mais próximas das de um porco do que das de um humano.

O grande responsável pela remodelação dos personagens foi o diretor Tex Avery (1908-1980), um dos grandes mestres da animação do século 20. Ainda muito jovem, no fim da década de 1920 e no início da década de 1930, Avery trabalhou nos filmes do Oswald, o Coelho Sortudo, uma das primeiras criações de Walt Disney, que seria praticamente um embrião tanto para Mickey quanto para Pernalonga nos anos seguintes. 

Ainda nos anos 1930, Avery sofreu um acidente e perdeu a visão em um dos olhos, o que afetou sua percepção de profundidade. Há quem acredite que esse problema acabou virando uma vantagem para o animador, que conseguiu inovar na forma da animação por meio do exagero e da distorção dos personagens, técnica que ele aplicou não apenas com o Pernalonga, mas em todas as criações que ajudou a consolidar dos Looney Tunes.

Não somente os desenhos animados e quadrinhos inspiraram o personagem. Entre as influências do Pernalonga, estão nomes importantes da comédia, como  o humor físico de Charles Chaplin, os aforismos de Grouxo Marx (Pernalonga chega a parafraseá-lo repetidas vezes) e o ar blasé de Humphrey Bogart.

 

Herr Meets Hare
Cena de 'Herr Meets Hare' (1945), filme do Pernalonga que ridiculariza o nazismo Foto: Warner Bros

Como o personagem surgiu em meio a um período histórico tenso, durante o auge da 2ª Guerra Mundial, era difícil mantê-lo alheio aos acontecimentos da época. Assim como outros personagens surgidos nesses tempos - o Capitão América dava um soco em Hitler na capa de sua primeira edição, o Pato Donald vivia sob o jugo do nazismo em um de seus filmes - o Pernalonga também foi usado como peça de propaganda de guerra, em filmes como Bugs Bunny Nips the Nips (1944) e Herr Meets Hare (1945).

 

Space Jam
Cena de 'Space Jam: O Jogo do Século' (1996) Foto: Warner Bros

Já nos anos 1950, o Pernalonga incorporou o espírito otimista da época e passou a ser uma espécie de porta-voz do chamado American Way of Life. E na segunda metade do século 20, o personagem integrou diversas mídias, fazendo parte de filmes de sucesso, incluindo inovações estéticas mesclando animação e live action, como Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), de Robert Zemeckis, em que Pernalonga faz uma breve aparição, e Space Jam: O Jogo do Século (1996), de Joe Pytka.

Mais recentemente, os personagens clássicos de Looney Tunes, como Pernalonga, Hortelino, Patolino, Marvin, Frajola, Piupiu, etc, ganharam uma websérie de curtas animados, alguns de apenas um minuto e outros com maior duração, inspirados nos filmes tradicionais dirigidos por Avery e outros mestres da animação. Uma boa pedida para a comemoração dos 80 anos de Pernalonga. "O quê que há, velhinho?"


Estadão terça, 21 de julho de 2020

TINA TURNER, AOS 81 ANOS, VOLTA AO TOPO DA BILLBOARD

 

Aos 80 anos, Tina Turner volta ao topo da Billboard

Cantora lançou um remix de 'What's Love Got To Do With It' com o DJ norueguês Kygo

Redação, EFE

21 de julho de 2020 | 07h39

Tina Turner
A cantora Tina Turner, em imagem da turnê em 2000 Foto: Rose Prouser/ Reuters

Após escapar temporariamente da aposentadoria para lançar um remix de What's Love Got To Do With It com Kygo, Tina Turner voltou em três dias ao primeiro lugar das paradas de sucesso da Billboard.

O feito foi revelado pela empresa nesta segunda-feira, 20. A nova versão da música, em parceria com o DJ norueguês, mantém certa similaridade com o gênero disco dos finais dos anos 70.

 

Tina Turner, 80 anos: veja cinco apresentações históricas da rainha do rock

A cantora de 80 anos, cujo nome figura no Hall da Fama do Rock'n'Roll, é considerada uma das dez maiores vozes do pop.  


Estadão segunda, 20 de julho de 2020

GLOBO VAI RETOMAR GRAVAÇÕES DE AMOR DE MÃE

 

Globo retoma gravações de 'Amor de Mãe' em 10 de agosto

Em entrevista ao Estadão, Silvio de Abreu, diretor de dramaturgia da emissora, explica que serão gravados no máximo dois capítulos por dia

Ubiratan Brasil, O Estado de S.Paulo

20 de julho de 2020 | 05h00

A expectativa é grande – depois de quase cinco meses suspensas em meio às restrições por conta do novo coronavírusas gravações das novelas da Globo serão retomadas. Por ora, a data de reinício é 10 de agosto, que pode sofrer alteração caso os efeitos da pandemia voltem a se intensificar no Rio de Janeiro, onde a emissora grava seus folhetins. “Será um processo delicado, pois envolve não apenas atores, mas também técnicos, figurinistas, maquiadores, enfim, muitas pessoas e todas precisam estar sob segurança”, comenta Silvio de Abreu, diretor de Dramaturgia da Globo, ao Estadão. “Por isso, serão gravados no máximo dois capítulos por dia.”

A preocupação não é exagerada, pois, para que o trabalho seja retomado, foi estipulado um protocolo de segurança, que envolve diversos detalhes como a desinfecção diária dos estúdios, a rara presença de figurantes, o uso restrito de comida em cena e até a orientação para que os atores cuidem dos próprios figurinos e de sua maquiagem. “(O diretor artístico) Ricardo Waddington fez um cuidadoso trabalho ao lado de médicos na preparação e no teste desse protocolo”, explica Abreu, lembrando que ensaios poderão recomeçar na segunda-feira, 27. 

 
 
Silvio de Abreu
O escritor e diretor de dramaturgia da TV Globo Silvio de Abreu Foto: Ernani D'Almeida/Globo
 

A retomada acontecerá apenas para Amor de Mãe, novela que vinha sendo exibida na faixa das 21h e cuja gravação foi interrompida em março – Salve-se Quem Puder, que ocupa o horário das 19h e também foi suspensa, só voltará a ser gravada quando a outra estiver finalizada. “Não é possível agora gravar as duas simultaneamente. Espero que, em janeiro, possamos retomar o ritmo normal das produções”, explica Abreu.

E, ao contrário do processo habitual de uma novela, cujos capítulos são gravados enquanto a história já está no ar, dessa vez Amor de Mãe só volta ao ar quando todos seus 23 capítulos estiverem gravados. “Não podemos correr o risco de, no meio da história, algum ator precisar se afastar”, explica Abreu, lembrando que a autora, Manuela Dias, incluiu a pandemia na continuação da trama, o que vai justificar desde o uso de máscaras pelos personagens como a atitude de se manter um isolamento social. Ou seja, mostrar que também eles abraçam explicitamente as novas regras da vida em uma pandemia.

O desafio, no entanto, é manter os conflitos, a intimidade e o drama que os fãs aprenderam a gostar sem que as gravações sejam comprometidas – afinal, não será possível registrar cenas de beijos, lutas físicas ou que envolvam aglomerações. “E Amor de Mãe é marcada por muito afeto – a personagem de Regina Casé vive cercada pelos filhos, não podemos perder esse carinho”, observa Abreu, justificando, por isso, a condensação da história e a diminuição de capítulos. “Com isso, teremos a certeza de que a trama não será interrompida ou modificada.”

Cuidados extras

Com 66 anos, Regina Casé se encontra no grupo de risco, o que tornará especial sua rotina de trabalho – assim como os atores mais velhos, ela deverá gravar em um ritmo menos acentuado que os demais e, quando possível, fará suas cenas isoladamente. Também as crianças deverão ser poucas ou nenhuma em cena: na história, seus personagens serão encaminhados para outros lugares. E todos que fazem parte do elenco e da equipe terão sua temperatura verificada quando entrarem no estúdio.

 

Amor de Mãe
Regina Casé em 'Amor de Mãe': por estar em grupo de risco, atriz terá esquema diferenciado para gravar cenas
Foto: João Cota/TV Globo

Já com Salve-se Quem Puder, a situação é mais complicada por se tratar de uma novela de ação, ou seja, marcada por brigas, correrias, muita ação. “Não podemos manter os personagens distantes”, explica Abreu, lembrando ainda que, neste caso, a covid não entrará na trama. Assim, sua rotina de gravações só deverá ser retomada no fim do ano ou mesmo em 2021.

Estratégias no estúdios ajudarão a criar ilusões necessárias, com as câmeras posicionadas para fazer com que o elenco pareça estar em pé ou sentado mais próximo um do outro. Também o avanço tecnológico será um grande aliado ao oferecer efeitos especiais, que poderão compensar limitações mais graves. “Poderemos ter, por exemplo, uma cena gravada no estúdio e, na pós-produção, incluir uma praia ao fundo”, conta Silvio de Abreu. “O público não pode sentir um choque.”

E é pensando justamente na audiência que a produção das novelas já prepara um resumo das tramas que será apresentado antes da retomada, para refrescar a lembrança dos espectadores sobre o momento em que houve a paralisação na história. É que, desde então, reprises de folhetins antigos entraram no ar como solução para a falta de capítulos novos.

Reprises

Uma solução que, além de reparadora, trouxe bons resultados – com as pessoas permanecendo mais tempo em casa, a Globo vem conquistando uma boa audiência: do Vale a Pena Ver de Novo, exibido no meio da tarde, até a faixa mais nobre, a das 21h, as cinco tramas da emissora estão indo razoavelmente bem, com índices entre 20 e 30 pontos.

Totalmente Demais, que ocupa o horário de Salve-se Quem Puder, aponta uma audiência ainda maior do que na exibição original, em 2015/16, chegando perto dos 30 pontos. E Fina Estampa, que substitui Amor de Mãe, varia entre 32 e 34 pontos.

Essas reprises, porém, não têm fôlego para ficar no ar até o final do ano e logo serão substituídas por outras. Assim, A Força do Querer, novela de Gloria Perez exibida em 2017, voltará também em versão condensada para continuar o trabalho de Fina Estampa e garantir mais tempo para a gravação de Amor de Mãe. “Como é uma experiência nova e precisamos fazer a retomada com calma, é bom termos tempo.”

Clássicos no currículo

Aos 77 anos, Silvio de Abreu tem vasta experiência em teledramaturgia. Cenógrafo de formação, teve uma rápida passagem como ator (trabalhou nas tevês Tupi, Excelsior e Bandeirantes) até se aventurar na escrita. Estreou em 1977, dividindo a autoria da versão do romance Éramos Seis para a Tupi com o crítico Rubens Ewald Filho.

“Desde aquela época, acreditava-se que a novela era um gênero que não duraria muito, mas hoje o canal Viva é o que tem a maior audiência na TV paga, a Globoplay nota a grande receptividade a cada novela antiga que entra no pacote e a reprise de Totalmente Demais tem atraídos os jovens, que enviam mensagens para a emissora com comentários”, diz ele, cuja carreira é marcada por grandes sucessos de público e crítica como Guerra dos Sexos, Rainha da Sucata, A Próxima Vítima Passione, entre outras.

“Toda novela começa como uma peça literária, pois está apenas na cabeça do autor e na sua escrita”, ensina Abreu. “Ao se tornar ação, ou seja, com os atores assumindo os personagens, a direção conduzindo a história, a chegada da iluminação, da trilha sonora, tudo se modifica, não é mais literatura. Mas o controle continua com o autor – não acredito na explicação (que já se tornou lenda) de que as preferências do público podem alterar a narrativa de uma novela. Afinal, o que o público está vendo hoje foi pensado pelo autor pelo menos um mês antes.”

Diretor de Dramaturgia da Globo desde 2014, Abreu acredita que o público prefere as narrativas do cotidiano às tramas originais demais. “A reação do telespectador é mais emocional que racional com uma novela que, ao contrário de um filme ou romance, se trata de uma obra aberta, construída diariamente ao mesmo tempo em que está no ar.”

Em sua função, Abreu já tem uma escala de novelas até 2024, com revezamento entre autores veteranos (como Gilberto Braga) e novatos (caso de Lícia Manzo). Ou seja, não pensa em se aposentar tão cedo, como alardearam sites especializados na semana passada.

NOVAS NORMAS

- O acesso ao set está limitado a um número mínimo de profissionais, entendendo que só são necessários aqueles que exercem uma função na gravação.

 

- O uso de comida será restringido em cena.

 

- Será evitado contato físico entre os atores durante as cenas, como beijos, abraços e lutas.

 

- Será medida a temperatura de todas as pessoas no momento de chegada aos Estúdios Globo.

 

- Cenas externas e viagens estão suspensas.

 

- Textos e roteiros não serão mais impressos: a prioridade são documentos digitais. Em casos de exceção, o papel será plastificado para facilitar a limpeza.

 

- Atores deverão vestir o próprio figurino sempre que possível.

 

- Um crachá irá identificar as áreas nas quais elenco e equipe poderão circular.


Estadão domingo, 19 de julho de 2020

OBRAS DE ARTE NAS RUAS DE SÃO PAULO

 

Museu a céu aberto: obras de arte nas ruas de São Paulo formam um rico acervo

Trabalhos são pensados para se integrar com o ambiente urbano, criando referências para moradores e turistas

Guilherme Sobota, O Estado de S. Paulo

18 de julho de 2020 | 20h59

Andar por São Paulo e olhar para cima: uma prática comum entre turistas, mas talvez pouco valorizada pelos que caminham pelas mesmas ruas todos os dias. Mas, ao mesmo tempo e sob diversas perspectivas, a cidade construiu em si mesma ao longo dos últimos 60 anos uma oferta ampla de obras referenciais, projetos arquitetônicos únicos, murais – e, claro, sem se esquecer do grafite, processo efêmero que encontra na contínua renovação a força estética que hoje é parte integrante da cidade.

Uma das artistas com mais obras marcantes na cidade é Maria Bonomi, italiana radicada no Brasil, autora de murais e esculturas. Aos 85 anos recém-completados, a artista está em isolamento no interior, dedicando-se à arte e à leitura.

 

“O ambiente pede por obras de arte, principalmente em uma cidade tão estabanada quanto São Paulo, na qual não conseguimos manter uma urbanização organizada. É necessário um tratamento visual, até para consertar certas tragédias que vemos por aí. Uma empena (parede lateral de um edifício, sem abertura)  enorme vazia, em que não se fez nada, é um desperdício”, diz Bonomi, por telefone. 

 

Arte Fora do Museu
‘Plexus’. Escultura de Maria Bonomi fica na Praça Oswaldo Cruz, no bairro do Paraíso  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A artista explica que as obras em prédios, por exemplo, sempre são mais ricas quando planejadas de maneira conjunta com a construção. “Os custos são muito relativos. Cobrir uma grande empena com lajotas é tão ou mais caro do que fazer um painel”, conta. O importante, para ela, é como a obra de arte vai se relacionar com o ambiente ao seu redor. “A obra é pensada e criada para o lugar. Estudamos a luz, o movimento das pessoas, o espírito da região, a cosmogonia local, e aí se pensa o DNA que o trabalho terá de ter para estar naquele lugar.”

Ela conta que recentemente uma mulher entrou em contato perguntando se ela sabia das intervenções realizadas na fachada do edifício Jorge Rizkallah Jorge, na Rua Bela Cintra, um mural seu. “Eu havia sido consultada, mas achei um bom indicativo de como as pessoas se ligam nessas coisas, de como é importante para a cidade. Existe um convívio diário com a obra, o que cria uma percepção e até um alívio. As pessoas passam a criar referências com a arte, e não com shopping. Não temos em São Paulo ruínas históricas, mas temos milhares de obras.”

NaLata Festival Internacional de Arte Urbana, acontecendo agora em vários pontos da capital, pretende contribuir na discussão. Os grafites e as atividades ocorrem nos arredores do Largo da Batata. Entre os artistas convidados, estão Pri Barbosa, Alex Senna, Enivo e a colombiana Gleo.

Um bom guia para quem está buscando novas visões sobre as obras espalhadas pela cidade é o site Arte Fora do Museu, agora reformulado. Quando os jornalistas André Deak e Felipe Lavignatti criaram o projeto há cerca de 10 anos, a ideia era montar um catálogo com 100 obras na cidade de São Paulo. Com a pandemia e o fechamento temporário de museus e galerias, o site (arteforadomuseu.com.br) ganha mais uma camada ao permitir a visitação virtual de cerca de 2 mil obras em ruas, feitas por mais de 500 artistas.

Ali, o internauta vai encontrar diversos guias e roteiros, como alguns dos sugeridos abaixo, com murais, esculturas, projetos arquitetônicos, e claro, o grafite. Lavignatti conta que o que começou como uma catalogação foi ganhando outras funções, de maneira orgânica. “O nome é auto explicativo: existe arte fora do museu para ser acessada. É muito comum passar em frente a uma escultura e não saber o que ela representa. A gente traz essa camada de informação e a deixa visível no mundo digital. Imaginando que a cidade é um museu a céu aberto, o site é o guia desse acervo. São informações que apuramos e que também têm um esforço colaborativo,” explica.

O curador percebeu que é “impossível” ir de um ponto a outro da cidade sem passar por uma obra de arte. “Uma cidade desse tamanho, montada em concreto, é cenário de iniciativas arquitetônicas e intervenções importantes de grandes nomes, como a própria Bonomi, mas também Artacho Jurado, Niemeyer, Rino Levi, Paulo Mendes da Rocha. Uma cidade em crescimento é bom terreno para se criar essas obras.” 

A discussão do momento nesse assunto, sobre as estátuas que ocupam o espaço público com homenagens a escravocratas, também pode se beneficiar do Arte Fora do Museu, que provê contexto para os monumentos. “Existe toda uma logística, mas acredito que hoje essas obras caberiam mais em um museu que em uma homenagem a céu aberto”, diz Lavignatti.

ARTE PRODUZIDA NA QUARENTENA

  • 1. ‘Quando tudo isso passar a gente volta a se abraçar’: Nova imagem (foto) do artista Bueno fica na Escola Etelvina de Goes Marcucci, próxima a Paraisópolis, zona sul de SP.
  • 2. ‘Plantas Tropicas 8’: Trabalho de Gui Mancini fica na Rua Fernandes Moreira, 1.394, Chácara Santo Antônio.
  • 3. ‘Ishtar e Nereidas’: A artista Carola Trimano desenvolveu dois murais de arte de rua em Pinheiros, na altura da Rua Cônego Eugênio Leite, 1.045.
  • 4. NaLata Festival: Nos arredores do Largo da Batata, em Pinheiros, o evento promete montar o “maior museu a céu aberto” da América Latina, com o trabalho de mais de uma dezena de artistas, nos prédios.
  • 5. ‘Como será o amanhã?’: O questionamento do artista Walter Nomura, o Tinho, é ilustrado em parede na Vila Maria, zona norte da capital (foto).

MURAIS

 

Maria Bonomi
Maria Bonomi. Mural na Rua Bela Cintra foi reformado  Foto: André Deak/Arte Fora do Museu (http://www.arteforadomuseu.com.br)

 

  • 1. Fachada do edifício Jorge Rizkallah Jorge: Maria Bonomi criou nos anos 1970 esse painel que faz referência aos sulcos da gravura. Fica na Rua Bela Cintra, 1.149.
  • 2. Avenida Angélica, 2.016: Assinado por Claudio Tozzi, o painel de 36 metros de altura foi construído com 1,5 milhão de pastilhas vítreas em uma área de 600 m².
  • 3. Avenida Higienópolis, 375: Projetado pelos arquitetos Ermanno Siffredi e Maria Bardelli, o prédio possui painéis com grafismos criados por Bramante Buffoni, entusiasta da pop art nos anos 50.
  • 4. Epopeia Paulista: Outro mural de Bonomi, feito a partir de objetos encontrados na seção de achados e perdidos da Estação da Luz, onde está.
  • 5. Rua Cruzeiro, 851, Barra Funda: O mural (foto) do paulista Alex Senna, visível de longe, foi feito com tinta látex.

 

FORA DO TEMPO?

 

Largo da Memória
Largo da Memória, na Consolação. Um dos pontos mais movimentados de SP  Foto: DORNICKE/WIKIMEDIA COMMONS

 

História
História. Ponto de tráfico de pessoas escravizadas  Foto: MILITÃO AUGUSTO DE AZEVEDO - 1862

 

  • 1. Obelisco do Piques: O obelisco foi erguido ao lado de um mercado em que negros eram traficados. Na época, ele foi dedicado à “memória do zelo do bem público”. No Largo da Memória, no centro.
  • 2. ‘Glória Imortal aos Fundadores de São Paulo’: O monumento em homenagem à criação da cidade, no Pátio do Colégio, mostra indígenas em trabalho braçal, sob as ordens de um padre.
  • 3. ‘Monumento ao Anhanguera’: A estátua na Av. Paulista faz tributo ao bandeirante, o “espírito do mal”, conhecido por escravizar índios.
  • 4. ‘Monumento às Bandeiras’: Victor Brecheret buscou inspirações europeias para apresentar o projeto na Semana de 1922, montado em 1953.
  • 5. ‘Borba Gato’: Com 12,5 metros de altura, a obra já foi objeto de protestos por glorificar período de violência histórica.
  

Estadão sábado, 18 de julho de 2020

OBRA DE CAROLINA MARIA DE JESUS VAI PARA A COMPANHIA DAS LETRAS

 

Obra de Carolina Maria de Jesus vai para a Companhia das Letras

Projeto inclui textos memorialísticos, romances, poesia, entre outros inéditos ou fora de catálogo, mas não contempla 'Quarto de Despejo'

Maria Fernanda Rodrigues

17 de julho de 2020 | 10h20

Autora de Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada (1960), a escritora Carolina Maria de Jesus, revelada pelo jornalista Audálio Dantas na favela do Canindé, em São Paulo, terá sua obra publicada pela Companhia das Letras.

carolina maria de Jesus

Carolina Maria de Jesus, autora de ‘Quarto de Desepejo’ (Foto: Acervo Estadão)

 Segundo a editora, muitos dos escritos de Carolina permanecem inéditos ou estão fora de circulação e a ideia é publicar tudo – os escritos memorialísticos, romances, poesia, música, teatro e narrativas curtas. Para isso, será preciso recuperar o material espalhado por diversos acervos.
 
 
 A edição da obra será supervisionada por um conselho editorial composto por Vera Eunice de Jesus, filha de Carolina, pela escritora Conceição Evaristo e pelas pesquisadoras Amanda Crispim, Fernanda Felisberto, Fernanda Miranda e Raffaella Fernandez. E os volumes contarão com textos críticos.

Quarto de Despejo, a obra mais conhecida de Carolina Maria de Jesus, que está no catálogo da Ática e já foi leitura obrigatória de vestibular, e Diário de Bitita, publicado pelo Sesi, não fazem parte do contrato.

Ainda não há previsão de lançamento.


Estadão sexta, 17 de julho de 2020

CIRCOS ITINERANTES PROCURAM SOLUÇÕES PARA SOBREVIVER EM TEMPOS DE COVID-19

 

Circos itinerantes procuram soluções para sobreviver em tempos de covid-19

Dono e palhaço do Circo Teatro Tubinho aguarda o momento do reencontro com o público

Eliana Silva de Souza, O Estado de S.Paulo

16 de julho de 2020 | 15h00

Por muitos anos, as companhias circenses foram as únicas a levar espetáculos culturais aos mais distantes cantos do País. Mesmo hoje, o circo ainda é o responsável por proporcionar a oportunidade de diversão para uma parte da população, ainda excluída, que não tem condições de frequentar cinemas, shows, teatros. Difícil encontrar alguém que não tenha se divertido com as atrações de algum circo, com seus palhaços, malabaristas, trapezistas. 

Presente no Brasil desde o começo do século 19, já encantou gerações e até hoje tem muitos nomes registrados na história da arte nacional, como é o caso dos palhaços Piolin, Arrelia e Carequinha. Bons já foram seus momentos, com pés nas estradas, erguendo a lona e montando o picadeiro em alguma cidade do País. Mas, como todas as demais áreas culturais, essa também está sofrendo com a pandemia do coronavírus, o que tem impossibilitado o trabalho desses profissionais. Agora, se até uma grande empresa da envergadura do internacional Cirque du Soleil está enfrentando as consequências do vírus, o que dizer de pequenos grupos brasileiros, que não conseguem nem mesmo se fazer presente na hora de receber ajuda oficial. 

 

 

Circo Teatro Tubinho
O empresario ator e palhaço do Circo Teatro Tubinho Foto: Epitacio Pessoa / Estadão
 

Vivendo de forma itinerante pelo Brasil, os circos estão passando por uma situação bem preocupante. “Cada um está tentando se virar de alguma maneira, seja vendendo maçã do amor, algodão-doce, balas, bolas, ou fazendo ações em grupo, como lives na internet ou mesmo se arriscando em apresentar espetáculo no esquema de drive-in”, conta Pereira França Neto, dono do Circo Teatro Tubinho e também palhaço da companhia que tem seu nome. 

Para dias de escassez de trabalho como os atuais, Tubinho descreve a situação momentânea de seu circo como a mesma enfrentada por outros grupos. Segundo ele, a companhia depende da bilheteria para sobreviver, manter-se em atividade, mas, sem poder realizar seus espetáculos, está sem dinheiro para pagar as despesas. “O governo do Estado mandou algumas cestas básicas, por meio de cooperativas, mas a despesa de uma companhia desse tamanho é grande. São mais de 50 anos na estrada, as dívidas se acumulam e, a cada dia, a gente vê o risco de fechar as portas”, desabafa. Apesar do momento difícil, ele entende que a situação é inesperada. “Não podemos culpar ninguém.” 

Atualmente montado na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, o Circo do Tubinho é composto por 30 pessoas, mas acabou agregando outras 30 que vieram de um circo que fechou. O artista se mostra apreensivo quando analisa o cotidiano da companhia com a reclusão, pois, em momentos normais, seria um sinal de sucesso ficar esse tempo parado em lugar só – da forma como estão, é preocupante. “Tive a intuição de deixar o circo montado, dessa forma não teremos o custo da montagem e desmontagem da lona”, revela Tubinho. Entre esses profissionais, estão as famílias, que fazem parte da trupe. 

É o caso de Franciele Jaqueline Machado, a Fran, de 34 anos, que se juntou ao grupo em 2012, quando o circo esteve em sua cidade, Araçoiaba da Serra. Foi lá que conheceu seu marido, José Roberto de Assis Junior, o Juninho, que trabalhava como ator na companhia. “Ali começava uma história de amor, onde eu jamais imaginava ir embora com o circo. Até que o Tubinho me chamou para fazer parte da sua trupe, e acabei largando toda uma vida para começar uma aventura nesse mundo mágico circense.” 

 

Circo Teatro Tubinho
A atriz do circo do Tubinho Francieli Machado 34 anos e sua filha Antonela de 5 anos
Foto: Epitacio Pessoa / Estadão

Fran é atriz na companhia, tem dois filhos – Pietro com 11 anos e Antonella com 5 – e passa pela mesma situação de todos. “Essa quarentena tem sido bem complicada para nós, circenses: tivemos de parar com aquilo que sabemos fazer melhor, que é fazer o público sorrir, e tivemos de nos reinventar”, afirma a atriz, que também tem participado das ações alternativas, na esperança de conseguir dinheiro para que todos se mantenham, como a venda de produtos relativos ao circo ou feitos para essas iniciativas, como doces e bolos. 

A situação vivida pelo Circo Tubinho, porém, não é diferente da enfrentada por outros grupos pelo Brasil. É o que relata também Raul Gregório Nogueira, de 51 anos, dono do Circo Kids, atualmente na cidade Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso, e originário de uma família tradicional dessa arte. “Somos a quinta geração de uma família de circo, nós gostamos de fazer arte, apresentar nossos espetáculos, ver a alegria no rosto do público, e não temos nenhum outro projeto paralelo”, diz o empresário, revelando grande preocupação não apenas com a covid-19, mas com o futuro marcado por muitas incertezas. “Fomos o primeiro segmento a parar e, pelo que vemos, seremos os últimos a retomar nossas atividades, o que dá muito medo ao grupo”, diz Raul, desgostoso com a constatação de que as autoridades, em suas palavras, nem prestam atenção na categoria circense, ao não apresentar saídas para a superação. 

Em outro ponto do País, a produtora cultural Andrea Vasconcelos, que trabalha com a Apaece – Associação dos Proprietários, Artistas e Escolas de Circo do Ceará, entidade que registra 57 cadastrados, diz que, em sua região, a vida dos circenses no momento não difere de outros locais, mas eles estão se movimentando e trocando ideias com outras regiões, além de observar o que tem sido feito em outros países, para entender melhor como está sendo pensada a volta das atividades no setor. 

 

Circo Kids
O Circo Kids está no momento em Mato Grosso Foto: Raul Gregório Nogueira

“O que temos de expectativa até o final do ano é o aporte financeiro, que se tornará disponível para o meio cultural pela Lei Aldir Blanc.” A classe artística no Ceará se articulou para montar e distribuir cestas básicas e pequenos aportes para demandas mais urgentes, como pagar contas de luz e água. E finaliza destacando a importância que a arte, em suas mais variadas formas, exerce na vida das pessoas, principalmente nesta fase de pandemia, com todos precisando ficar em casa. 

Compactuando do mesmo pensamento, Marlene Querubim, gerente do Circo Spacial e presidente da União Brasileira dos Circos Itinerantes (UBCI), acredita que o retorno às atividades está próximo, mas a preocupação é com o medo do público em voltar a frequentar os espetáculos. “No meu olhar, como gestora, creio que vai demorar muito para o público retornar, especialmente pela questão financeira, pois houve uma descapitalização das pessoas que vão ao circo”, afirma. Para ela, não se trata somente em liberar a atividade e seguir o protocolo de segurança: o problema em questão é a confiança das pessoas em retornar com suas famílias. Este ano, avalia, nem 10% da atividade retornará. “É um ano perdido para o circo.” 

Marlene concorda com os que acreditam que o circo, patrimônio imaterial do Brasil, é invisível aos olhos dos governos. “Nós temos um universo de 30 mil pessoas que vivem do circo no Brasil, entre artistas, técnicos e funcionários. É uma grande força de trabalho que está desprovida de qualquer recurso, tendo de se virar como pode”, diz a empresária que, mesmo com todos esses problemas, se revela realista, mas também otimista, acreditando que o setor vai superar os percalços, com boas perspectivas para o futuro. 


Estadão quinta, 16 de julho de 2020

LUANA CARVALHO LANÇA DISCO QUE E UMA DECLARAÇÃO DE AMOR À MÃE, BETH CARVALHO

 

Luana Carvalho lança disco que é uma declaração de amor à mãe, Beth Carvalho

A cantora e compositora homenageia a sambista em seu álbum do confinamento, ‘Baile de Máscara’, com músicas que fizeram parte do repertório de Beth e a ajudam a refletir sobre o paradoxo entre carnaval e quarentena

Adriana Del Ré, O Estado de S.Paulo

16 de julho de 2020 | 05h00

Todo carnaval tem seu fim, e a festa deste ano foi seguida de uma longa quarentena. Instaurou-se o paradoxo num curto espaço de tempo: da folia do povo nas ruas para o isolamento em casa. Depois de passar o carnaval em Salvador, onde morou por dois meses, Luana Carvalho, já de volta ao Rio, se viu subitamente privada do contato humano. Isso a impediu também de dar andamento ao que seria seu segundo disco de inéditas, feito na multidão. As letras começaram a ser escritas na rua, em bares. Um contraponto a seu álbum de estreia, de 2017, Sul, que, com Branco, forma um disco duplo, e foi todo composto na mesma poltrona, dentro da mesma sala. A pandemia, então, levou a cantora e compositora a seguir outro caminho e a fazer seu disco do confinamento, Baile de Máscara (já disponível nas plataformas digitais), sobre carnaval, quarentena, e que traz em sua essência sua mãe, Beth Carvalho, que morreu em 30 de abril do ano passado, vítima de infecção generalizada.

“Quando a gente entrou na quarentena, esse era o pensamento que vinha: ‘Caramba, carnaval-quarentena’. E aí, escrevendo as letras de algumas músicas que minha mãe cantava, fui identificando essa minha reflexão nessas canções que eu escolhi. Quando vi essas canções escritas num papel, percebi que eu tinha um disco. Quero fazer um disco sobre o carnaval. E para fazer um disco sobre o carnaval e a quarentena, vou trazer minha mãe”, conta Luana, por telefone, em entrevista ao Estadão, do Rio. “Na verdade, é uma homenagem a ela, mas é também, e sobretudo, essa reflexão. Comecei a pensar nas semelhanças também, não só no paradoxo: o carnaval também é um estado de suspensão; que estado de torpor é esse, e o carnaval também é um torpor; e, ao mesmo tempo que é uma coisa por causa de contágio, e o carnaval também é contágio, só que um contágio bom.”

 

Luana Carvalho, filha de Beth, une álbuns feitos em fases diferentes de sua vida

Com a aproximação da data de um ano de morte da mãe – que durante anos enfrentou sérios problemas na coluna –, Luana pensava em homenageá-la, mas na forma de uma playlist afetiva, com lados A e B, reunindo tudo o que tivesse mais a ver com a história das duas. “A gente tem um compromisso quando é filho de uma pessoa que deixa tanta gente saudosa: não só a família e os amigos, mas o País inteiro, muitos fãs e compositores que dependeram, de alguma maneira, do trabalho dela para ter uma projeção e que são gratos. Como filha, além de um legado que tenho que administrar na prática, existe uma memória que preciso sempre honrar”, afirma ela. 

Luana Carvalho
Luana Carvalho: mergulho afetivo na obra da mãe. Foto: Ana Alexandrino

“Só que este primeiro ano de morte foi muito confuso para mim. Ainda há muito coisa para realizar dentro da minha cabeça, de que ela não está mais aqui. Minha mãe teve uma morte lenta. Ela foi definhando. Então, quando vai embora, são muitos os sentimentos, porque tem o lado que a pessoa descansou de uma dor enorme e tem o lado que a pessoa não está mais aqui.” A sensação é de ter perdido a mãe ao longo dos anos, descreve a cantora.

“Fui perdendo uma mãe que anda, depois perdi uma mãe que senta, depois perdi uma mãe que pode vir até mim, depois uma mãe que canta em pé, depois uma mãe que canta sentada, depois uma mãe que canta deitada. São muitas perdas. Então, quando parte de vez, até você entender a diferença entre cada uma dessas pequenas perdas e essa perda geral, acho que ainda tem muito tempo para eu registrar isso dentro do meu corpo. Existe uma presença importante em mim que é o que fica dela, mas eu estava em frangalhos. Aí falei: vou fazer uma coisa em que não preciso aparecer. A princípio, era isso que eu ia fazer. Mas, ao fazer a playlist, fui me dando conta de uma série de coisas.” 

Nesse mergulho na obra de Beth Carvalho, as letras de algumas canções do repertório da sambista despertaram a atenção de Luana, ao serem vistas sob o prisma dos dias de hoje. Há uma atualidade nelas que comoveu a cantora – e fazia sentido dentro de suas reflexões. Assim, no campo do tributo, a playlist com gravações de Beth deu lugar ao álbum Baile de Máscara, com regravações de seis músicas sobre o carnaval – mas “não necessariamente sambas de carnaval” –, na voz de Luana Carvalho, com produção de Kassin, colaboração de VovôBebê no violão e na guitarra, e participação de músicos como Pretinho da Serrinha. Todos dedicados ao projeto a distância. 

Declaração de amor a Beth Carvalho

Essa história começou com Meu Escudo (Décio Carvalho/Noca da Portela), que, no disco, é interpretada com a voz terna e intimista de Luana, numa levada de samba tradicional. “Para suportar um mundo de desilusão/Vou usando como escudo o meu coração”, diz o início da faixa, que, não por acaso, é a que abre o disco. Atemporal e atual. “É exatamente o que tenho para dizer hoje, sobre nossa situação sociopolítica e cultural”, diz ela. “Falei: preciso dizer isso porque sou eu agora, porque há muito ódio por aí e tenho muito amor para dar.”

Minha Festa, sucesso na interpretação de Beth Carvalho, também foi uma peça importante para a construção do disco. Os seguidores de Luana no Instagram começaram, por acaso, a pedir para ela cantar Minha Festa. A música ficou no radar da cantora – e entrou no repertório fechando o álbum. “Graças a Deus, minha vida mudou/Quem me viu, quem me vê/A tristeza acabou”, ela canta no começo da canção. “Minha Festa faz sentido, porque é a única música alegre do Nelson Cavaquinho (em parceria com Guilherme de Brito), sendo que ele é um homem claramente mórbido. Então, tem tudo a ver com o que estou pensando, do carnaval com a quarentena, do que a gente vem vivendo entre posts de amor e gente morrendo, esse contraste louco.” Há um certo tom de melancolia nessa letra esperançosa. E a voz de Luana que ganha efeito eletrônico ressalta isso de alguma forma, assim como o arranjo nada purista de Kassin, e suas programações. 

“O Kassin sabe muito de samba, ele é um pesquisador viciado. Sabe tudo sobre minha mãe, é muito digna a maneira com que ele subverte e eu tinha certeza que seria assim, não tem ofensa nenhuma. Acho que até minha mãe, que sempre foi purista, se ouvisse, ia achar bonito o que ele fez, porque realmente existe um respeito grande, ele sabe o que estava fazendo nas subversões, ele conhece o original. Acho que, para você subverter, tem que conhecer muito o tradicional”, comenta Luana, sobre a atuação – e as licenças poéticas – do produtor nos arranjos. 

Há um momento particularmente emocionante em Baile de Máscara, na versão da canção Visual (Neném/Pintado), que reúne três gerações da família Carvalho: Beth, Luana e sua filha, Mia. Beth e Luana fazem um dueto virtual, enquanto Mia surge no finalzinho da canção falando o que carrega no coração: “Te amo, vovó”. “É uma canção que amo há muito tempo e o Kassin também, coincidentemente. Minha mãe tem uma característica muito específica que são as chamadas: tudo tem um ‘disse’, ‘é’. Minha mãe comenta muito as músicas, as estrofes, os versos, ou ela chama ou ela comenta”, diz Luana. E Visual é um prato cheio nesse sentido. No dueto, Beth chama, Luana emenda, e assim as duas seguem na canção. “Chamar o coro é uma coisa histórica, mas a quantidade de vezes que ela faz e da maneira que ela faz é algo só dela mesmo.” 

Mais do que uma homenagem, Baile de Máscara é uma bela declaração de amor a Beth Carvalho, feita ao estilo de sua filha, que tem uma ligação forte com o samba, mas que criou sua identidade. “O que ela fez não precisa ser feito de novo, é perfeito”, afirma Luana. “Então, para fazerem sentido, elas precisam ter um propósito, e é por isso que elas têm: essa minha reflexão sobre o carnaval e a quarentena, e minha homenagem a ela; e serem feitas de um jeito que é meu, se não, faço só a playlist.”


Estadão quarta, 15 de julho de 2020

FESTIVAL PALCO PRESENTE

 

Festival Palco Presente aposta em unir teatros com monólogos vistos de casa

Organizado pela secretaria municipal de Cultura, evento pretende transmitir sessões online em mais de 70 espaços, sem plateia

Leandro Nunes, O Estado de S.Paulo

15 de julho de 2020 | 05h00

A baixa audiência que rondou as transmissões musicais nos últimos meses também persegue os artistas de teatro. É certo que uma cena caseira ainda não traduz a experiência do palco, e raramente amplia o potencial do intérprete que se apresenta. A emergência da covid-19 sequestrou a estética e a criação, mas o “show precisa continuar”.

Para afastar os fantasmas que agora ocupam o interior dos teatros quarentena adentro, a Secretaria Municipal de Cultura anuncia nesta quarta, 15, o Festival Palco Presente, um edital que propõe um meio de campo – devolver a criação teatral para o palco e oferecer suporte emergencial aos artistas.

 

Sem plateia, Festival Palco Presente aposta em unir teatros com monólogos vistos de casa
Alfredo Mesquita. Espaços participantes do festival Palco Presente receberão intervenção artística de Flávia Junqueira
Foto: FLÁVIA JUNQUEIRA
 

Diferentemente das sessões online, muitas delas feitas na casa de atores, o festival vai fomentar pequenas produções – monólogos ou duos cênicos, apresentados no interior dos teatros, sem plateia, e exibidos na internet. “A ideia é que o artista possa retornar, agora sem aquela luz fantasma que transformou os palcos na quarentena”, afirma o coordenador de teatros e centros culturais, Pedro Granato

O chamamento será lançado na próxima semana e vai contemplar cerca de 70 espaços teatrais, públicos e privados, com subsídios que vão de R$ 6 mil a R$ 12 mil, com as apresentações programadas para um único fim de semana de agosto. 

Para Granato, a iniciativa também traz efeitos na criação. “O resultado estético será diferente. O artista vai ter o palco, os recursos de luz, o som, e quem sabe, o cenário. Não é uma live de apartamento, mas uma transmissão conjunta”, afirma.

Para demarcar a presença do festival na capital, os espaços participantes vão receber uma intervenção artística de Flávia Junqueira, que já transformou o interior do Teatro Alfredo Mesquita com balões coloridos. 

Uma ação que lembra a recente apresentação de um quarteto de cordas para uma plateia de plantas no Grande Teatro do Liceu, de Barcelona. “É criar a sensação de que esse vazio pode ser preenchido artisticamente”, comenta o secretário municipal de Cultura, Hugo Possolo, ao Estadão. “Entendemos que as pessoas estão assustadas, que não é o tempo de reabrir teatros para o público. No entanto, precisamos dar soluções criativas para atravessarmos este momento.”

 

Planos de reabertura

Há mais de três meses com os teatros e os espaços culturais fechados, a classe artística celebrou recentemente a aprovação da Lei Aldir Blanc, que transfere recursos emergenciais para trabalhadores da cultura. Em São Paulo, mais de 115 mil pessoas receberão o auxílio. 

Na última semana, a SMC se reuniu virtualmente com representantes de teatros e espaços de cultura para debater propostas no plano de reabertura.

Embora o governo do Estado tenha anunciado uma possível volta dos teatros a partir do dia 27 de julho, a reportagem apurou que, na prática, isso deve ocorrer em meados de agosto e setembro. “Os protocolos para os equipamentos municipais, por exemplo, serão entregues a partir do dia 28 de julho”, afirma Possolo. “E ainda vai faltar a aprovação da Vigilância Sanitária.” O mesmo será repassado aos teatros privados e de terceiros. “Não podemos impedir que abram, mas podemos oferecer orientação e auxílio na aplicação de medidas de segurança”, ressalta o secretário. 

Nesse intervalo, o Festival Palco Presente parece ocupar um lugar de oportunidade. Devolver o palco ao artista, mesmo que em formato reduzido, permite que a criação ocorra mais próxima da natureza teatral.  “Os teatros terão oportunidade de contar sua história e despertar a saudade no público”, explica Granato. 


Estadão terça, 14 de julho de 2020

ROLANDO BOLDRIN COMEMORA 0S 15 ANO DO PROGRAMA SR,. BRASIL

 

Rolando Boldrin comemora 15 anos do programa ‘Sr. Brasil’

Marcado para o horário costumeiro, 9h da manhã de domingo, programa começa com Boldrin surgindo remotamente, via celular, para dar início à festa

Eliana Silva de Souza

11 de julho de 2020 | 18h35

Rolando Boldrin comanda o 'Sr. Brasil' (foto TV Cultura)

Rolando Boldrin comanda o ‘Sr. Brasil’ (foto TV Cultura)

Aos 83 anos, Rolando Boldrin comemora mais uma data importante em sua longa carreira. Neste domingo, 12, o programa Sr. Brasil, que ele apresenta na TV Cultura, festeja 15 anos de existência. Atração foi ao ar pela primeira vez no dia 5 de julho de 2005.

 

Claro que uma data como essa não poderia passar sem um registro à altura. Para isso, a emissora preparou uma edição especial, pensada para este momento de isolamento social, sem poder retomar suas gravações. Marcado para o horário costumeiro, 9h da manhã de domingo, programa começa com Boldrin surgindo remotamente, via celular, para dar início à festa. Na sequência, serão mostrados artistas que participaram do programa, apresentando sua arte e sua história e contribuindo para essa trajetória de sucesso.

Como é costumeiro, e para alegria de seu público, Boldrin contará causos, além de recitar poemas, como só ele sabe fazer, como O Gravador, de Patativa do Assaré. Além disso, a trajetória do programa será mostrada com um recorte de momentos marcantes, quando recebeu no palco, entre tantos nomes, Ney Matogrosso, Mônica Salmaso, Dori Caymmi, Renato Braz, Teresa Cristina, Zé Renato. Para quem não consegue acordar cedo assim, especial será reapresentado na segunda, 13, às 23h30.

Estadão segunda, 13 de julho de 2020

DIA MUNDIAL DO ROCK: POR QUE É CELEBRADO A 13 DE JULHO?

 

Por que o Dia Mundial do Rock é celebrado em 13 de julho?

Data celebra um dia histórico para o rock e para a música pop em geral

Redação, O Estado de S.Paulo

13 de julho de 2020 | 08h00

Muito antes do universo da pandemia e das lives beneficentes, quando aglomerações eram comuns e até almejadas, um eventou marcou a história da música pop - e do rock - para sempre. Em 1985, o Live Aid reuniu alguns dos maiores nomes da música mundial da época a fim de arrecadar fundos para auxiliar o combate à fome no continente africano. E é por causa dessa iniciativa que se comemora o Dia Mundial do Rock em 13 de julho.

 

Queen
Freddie Mercury durante apresentação do Queen no Live Aid, em 1985
Foto: Peter Stills/Redferns/The New York Times

 

'O dia do rock mais morno da história': como os roqueiros estão encarando a data na pandemia

O Live Aid foi organizado pelo cantor irlandês Bob Geldof e era uma empreitada ambiciosa: dois festivais em estádios lotados, um no John F. Kennedy Stadium, na Filadélfia, EUA, e o outro no lendário Wembley Stadium, em Londres, Inglaterra. Além dos cerca de 80 mil espectadores em cada, havia uma plateia estimada em 2 bilhões de pessoas pelo mundo inteiro assistindo aos concertos pela televisão. 

 
Entre os artistas que participaram do Live Aid estão: Queen, Paul McCartney, U2, The Who, Elvis Costello, Sting, Phil Collins, Dire Straits, David Bowie, Elton John, B.B. King, Black Sabbath, Judas Priest, The Beach Boys, Santana, Kool & The Gang, Madonna, Neil Young, Eric Clapton, Crosby, Stills, Nash & Young, Mick Jagger e até uma reunião do Led Zeppelin.

A apresentação do Queen, aliás, foi tão icônica que ganhou uma adaptação quase quadro a quadro na cinebiografia Bohemian Rhapsody, com Rami Malek no papel de Freddie Mercury.

O Live Aid ocorreu em um período de ouro para os super-festivais. Impulsionados pelo mítico Woodstock, realizado em 1969, os festivais passaram a ganhar força e corpo na década de 1970 até se moldarem como um formato gigantesco, reunindo grandes nomes da música, como conhecemos hoje.

Iniciativas de caridade envolvendo a reunião de astros também estavam em voga na época: em 1971, George Harrison organizou o Concert for Bangladesh; em 1979, Paul McCartney encabeçou o Concert for Kampuchea; em 1984, um ano antes do Live Aid, ocorreu o Band Aid, que reuniu estrelas da música para gravar Do They Know It’s Christmas?; pouco tempo depois, Michael Jackson, Stevie Wonder e Lionel Richie se inspiraram na ideia para We Are the World.

O sucesso do Live Aid foi tamanho que chega a ser difícil calcular quanto se arrecadou ao todo com os shows. As estimativas partem em 40 milhões de libras e chegam à casa das 150 milhões de libras. Pela iniciativa, Geldof chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Além, é claro, de ter inspirado a criação do Dia Mundial do Rock na data em que ocorreu seu evento.


Estadão domingo, 12 de julho de 2020

NANA CAYMMI LANÇA DISCO EM QUE CANTA TOM E VINÍCIUS

 

Nana Caymmi lança disco em que canta Tom Jobim e Vinicius de Moraes

A produção, lançada digitalmente pelo Selo Sesc, é dirigida pelo irmão da cantora, Dori Caymmi

Danilo Casaletti (especial para o Estado), O Estado de S.Paulo

11 de julho de 2020 | 05h00

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Nana Caymmi lança disco em homenagem a Tom e Vinicius.  Foto: Livio Campos

Tom Jobim morreu há 25 anos, mas na memória de Nana Caymmi, de 79 anos, os papos matinais com o maestro pelas ruas e bares do bairro carioca do Leblon ainda estão vivos. Pássaros, árvores, mágoas e alegrias da vida e, claro, o compositor preferido deles, o conterrâneo Heitor Villa-Lobos (1887-1959), eram os assuntos mais recorrentes. Vez ou outra, dividiam uma dose do destilado Steinhaeger. Por isso, o álbum Nana Tom Vinicius, que o Selo Sesc acaba de lançar nas plataformas digitais, vem carregado de emoção e reverência ao compositor e a seu parceiro mais constante. 

Com direção musical e arranjos do irmão, Dori, o álbum traz 12 composições – algumas assinadas só por Tom, outras só por Vinicius e, também, as que têm a parceria dos dois, como os clássicos Eu Sei Que Vou Te Amar, lançada como single do projeto, e Se Todos Fossem Iguais a Você. As duas últimas foram sugestões de Dori. “Fiz questão delas, pois são mais badaladas e muito gravadas. Mas quem poderia fazê-las como Tom e Vinicius as conceberam era Nana”, diz o compositor, que também tocou violão nas faixas. “Ele é o arranjador, queria fazer o trabalho dele, pôr o que ele gosta também”, diz Nana, bem-humorada.

 Seis faixas estão no histórico disco Canção do Amor Demais, lançado por Elizeth Cardoso em 1958 com canções da dupla – Janelas Abertas, As Praias Desertas, Modinha, Luciana, Canção do Amor Demais Serenata do Adeus. Estas duas últimas também estão no álbum Por Toda Minha Vida, gravado pela cantora Lenita Bruno, um ano depois, com arranjos do paulistano Leo Peracchi. Os dois álbuns têm importância fundamental na geração de Nana e Dori. “O disco da Elizeth, além das canções de Tom e Vinicius, tem o violão de João Gilberto, que influenciou tudo o que veio depois. E Peracchi é um grande arranjador, meu Deus”, exalta Dori, que, nos arranjos, reutilizou frases musicais originais, como forma de enaltecer seus compositores.

Nana Tom Vinicius teve suas bases gravadas no Rio de Janeiro no primeiro semestre do ano passado. Além de Dori, Itamar Assiere (piano), Jorge Helder (baixo), Jurim Moreira (bateria) e Bre Rosário (percussão). Depois, músicos de São Paulo, entre eles Teco Cardoso e Nahor Gomes, gravaram instrumentos de sopros. Por fim, de sua casa em Petrópolis, onde mora desde que deixou Los Angeles, depois de 27 anos, Dori escreveu à mão – ele se recusa a usar computadores – os arranjos de cordas que foram gravados pela Orquestra de São Petersburgo, na Rússia.

Por causa de todo esse processo, Nana conta que fez algo pouco habitual em seus trabalhos: fez questão de regravar as vozes depois que a base foi coberta pela orquestra – sob protestos de todos os envolvidos na produção –, que já davam o trabalho da cantora como perfeito. “Há muitos anos eu não canto com orquestra. É um custo grande que as gravadoras não querem pagar. Então, fiz questão de gravar a voz pela segunda vez. Para segurar a emoção de cantar tudo novamente, colocava um pouco de uísque no café. Fazia um irish coffee logo cedo”, conta Nana, que afirma gostar de trabalhar pela manhã. “‘Boemia, aqui me tens de regresso’ no estúdio, não é comigo. Acordo cedo e vou gravar.” 

 

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Os irmãos Nana e Dori Caymmi.  Foto: Lívio Campos

Essa emoção de Nana também está intimamente ligada a uma história de família. Tom e Dorival Caymmi, pai dela e de Dori, eram amigos próximos e confidentes. Em 1964, eles juntaram a família no disco Caymmi Visita Tom. Nele, Nana, aos 23 anos, cantou acompanhada por Tom ao piano. Tempos que, inevitavelmente, voltaram à lembrança durante as gravações. “Eu passo por cada barra, que eu mesmo invento. Se não for assim, eu não seria Nana e você não estaria me ligando para me entrevistar”, diz a cantora, aos risos.

Para reforçar o elo entre Caymmis e Tons, a capa do álbum foi confiada a Elaine Jobim, mulher do músico Paulo Jobim, filho mais velho de Tom. Ela, que já havia assinado o projeto gráfico dos livros Cancioneiro Tom Jobim e Cancioneiro Vinicius de Moraes. A imagem traz manuscritos de anotações musicais de Tom e das letras de Vinicius que estão no repertório. “O Dori não queria ilustração ou desenhos abstratos. Queria a obra deles. Tom escrevia notas de uma maneira bonita. A letra do Vinicius é marcante”, lembra Elaine. Ela conta que finaliza o encarte do álbum físico, com 32 páginas, ainda sem data para ser lançado.

Volta aos palcos adiada. Os últimos shows de Nana foram apresentados em 2015, no palco do Sesc São Paulo, entidade que normalmente a trazia para temporadas anuais. Com o projeto do disco, uma encomenda do diretor regional do Sesc Danilo Miranda, a ideia era a de que, após o lançamento, Nana voltasse aos palcos – provavelmente acompanhada por orquestra, segundo o desejo de Dori. Seria o momento exato, por causa dos 25 anos de morte de Tom e os 40 de Vinicius neste 2020. Mas, com a pandemia, tudo foi adiado.

Porém, Nana confessa que esse hiato dos palcos tem uma razão muito mais forte do que as últimas declarações que ela mesma deu de que queria diminuir o ritmo de shows: há quatro anos, ela, depois de uma anemia e cansaços persistentes, descobriu que estava com câncer no estômago. Duas tromboses – uma na perna e outra perto do pulmão – indicaram a necessidade de uma cirurgia urgente. “Foi uma porrada violenta, mas estou recuperada. Agora, estou fazendo só o que quero. Assumi a música Casa no Campo, sabe? Estou aqui (em Pequeri) com meus discos, livros e nada mais. Vamos ver, depois da epidemia, como as coisas se encaminham. Há um sentimento de luto no Brasil. Não vejo por que sair cantando como uma louca por aí”, diz Nana que, no ano passado, lançou um tributo ao cantor Tito Madi, que, até o momento, também não foi apresentado nos palcos.

Em seu refúgio, Nana passa os dias lendo sobre a história do Brasil, bordando, tricotando e cuidando das plantas. Para ouvir, ela escolhe os chorinhos de Villa-Lobos, canções do maestro e poeta francês Léo Ferré, óperas na voz da soprano italiana Renata Tebaldi e o disco que fez com as canções de Tito Madi. De séries, prefere as tramas policiais. “Adoro história com justiça, investigação. Assisto a tudo e descubro antes de todo mundo quem matou, quem não matou.”

Enquanto espera o mundo voltar ao normal, Nana anota em seu caderno – ela se diz avessa à tecnologia – os desejos de outros álbuns dedicados a compositores brasileiros: Ary Barroso (músicas como Por Causa Desta Cabocla e Risque, ela diz), Caetano Veloso, Gonzaguinha, Dori e Edu Lobo são alguns da lista. “Se eu pudesse, passava a vida gravando tudo o que tenho vontade.” Por enquanto, ela segue isolada. “Temos de cortar as ambições. O mundo está correndo muito, não sei para onde. Mas a Terra é redonda, você sempre volta ao ponto de início”, acrescenta.

 


Estadão sábado, 11 de julho de 2020

SAULO VASCONCELOS E CARLINA PUNTEL APRESENTAM CENAS CLÁSSICAS DA BROADWAY

 

Saulo Vasconcelos e Carolina Puntel apresentam cenas clássicas da Broadway

Atores apresentam trechos de musicais pela internet diretamente de Lisboa

Ubiratan Brasil, O Estado de S.Paulo

09 de julho de 2020 | 05h00

O primeiro teste aconteceu no dia 18 de junho: diante de uma plateia que ocupava um terço da sala, Saulo Vasconcelos e Carolina Puntel, renomados atores do musical brasileiro, apresentaram o espetáculo The Best of Broadway em 60 Minutos, que também foi transmitido ao vivo pela internet, direto do Teatro Armando Cortez, em Lisboa, Portugal. “Foi muito prazeroso, com o público realmente envolvido”, conta Carolina, que repete a dose, ao lado de Vasconcelos, nesta quinta, 9.

 

Broadway
Os atores Saulo Vasconcelos e Carolina Puntel Foto: Zé

A partir das 18h, horário brasileiro (22h em Portugal), a dupla retorna ao palco de olho na plateia e também nas três câmeras estrategicamente colocadas que vão transmitir o espetáculo pela plataforma Volto (www.volto.live), a um custo de 5 euros. “É uma experiência nova na minha carreira – trabalhei em televisão, fiz dublagem, mas não estou acostumado ainda com uma plateia invisível”, comenta Vasconcelos, cuja trajetória se confunde com a fase de consolidação do musical brasileiro. 

Baseado nessa história artística (que se assemelha à de Carolina), foi montado o roteiro de The Best Broadway em 60 Minutos. Durante uma hora, a dupla reproduz cenas marcantes de musicais como O Fantasma da Ópera, Les Misérables, Wicked, West Side Story e Mamma Mia! No palco, recursos de luz e alguns elementos de cenografia buscam reproduzir com o máximo de precisão as cenas originais – também os atores utilizam figurinos que ajudam na caracterização. 

“Criamos uma ordem das canções que vai dos mais clássicos (Fantasma, Le Mis, West Side) até os contemporâneos (Wicked, Hair, Mamma Mia!)”, explica Vasconcelos, que vive em Portugal desde o ano passado.

Assim, o desafio é especialmente vocal. “É preciso ter um equilíbrio no registro da voz porque passamos de um espetáculo mais tradicional para o outro mais moderno e as mudanças, muitas vezes, são enormes”, comenta Carolina. Segundo ela, isso provoca outra necessidade, que é a rapidez na troca de foco, ou seja, iniciar o espetáculo no ambiente lúgubre do Fantasma da Ópera até chegar ao final com a festa de Mamma Mia!

A dupla já interpretou a maioria desses musicais, mas também optou por novidades em seu currículo, como Wicked. “Tenho até um número em que chamo alguém da plateia. A pessoa vem, com máscara e mantendo uma distância segura. Uso meu celular para filmá-la e a imagem é projetada na cortina do teatro. Tem sido muito divertido”, diz Carolina.


Estadão sexta, 10 de julho de 2020

FERNANDA TAKAI LANÇA DISCO GRAVADO EM MEIO À PANDEMIA

 

Fernanda Takai lança disco gravado em meio à pandemia

Álbum foi gravado na casa da cantora e compositora, com John Ulhoa tocando todos os instrumentos

Renato Vieira, O Estado de S.Paulo

10 de julho de 2020 | 05h00

 

Fernanda regravou sucessos de Amy Winehouse e Michael Jackson
Fernanda regravou sucessos de Amy Winehouse e Michael Jackson Foto: Fabiana Figueiredo
 

É o primeiro álbum solo de Fernanda em seis anos - período em que fez dois discos com o Pato Fu e o projeto O Tom da Takai, em que interpretava Tom 

O marido de Fernanda e também integrante do Pato Fu, John Ulhoa, tocou todos os instrumentos das dez faixas do álbum. Para Fernanda, gravar o disco em meio à pandemia foi uma boa maneira de manter a rotina de trabalho sem sentir que estava presa em casa. 
 
 
O repertório já estava quase todo fechado há algum tempo. Terra Plana, cuja letra tem o verso que dá nome ao álbum, foi feita por John como um presente para a filha do casal. “Foi a primeira das inéditas que apareceu e ganhou um sentido mais amplo com o que está acontecendo hoje. É um jeito de falar do assunto sem brigar, desse absurdo que é dar ré na ciência”, explica Fernanda sobre a letra que fala sobre o envelhecimento dos pais e tem versos como “Se alguém te contar/Que a Terra é plana/E não dá pro espaço viajar/Será que você vai acreditar?”.

Terra Plana ganhou um lyric vídeo com imagens da Terra captadas pela Estação Espacial Internacional. “A gente precisava de um vídeo bem didático. Os comentários são bem engraçados. Os ‘terraplanistas’ falam que isso é fácil de simular, mas muitos gostam da música e acham que ela é a favor deles”, conta a artista. 

Outra canção que ganhou lyric vídeo foi Não Esqueça, do gaúcho Nico Nicolaiewsky, morto em 2014. O próprio autor nunca registrou oficialmente a música, que também é um recado de pai, recomendando não esquecer de lavar as mãos, algo tão necessário nos dias de hoje.  

Duas inéditas contam com participação de cantoras que são referência para Fernanda. Virginie Boutaud, do grupo Metrô, é parceira dela na delicada O Amor em Tempos de Cólera. “Eu tocava músicas do Metrô na faculdade e a gente se falava pela internet. Tê-la no disco é um momento de aconchego”, ressalta Fernanda. Já Maki Nomiya, que fez parte da banda japonesa Pizzicato Five, colocou voz na alegre Love Song

Com apreço pela canção popular, Fernanda regravou Não Creio em Mais Nada, sucesso de 1970 de Paulo Sérgio. Para Fernanda, é uma música que dialoga com os questionamentos do disco e a desesperança dos tempos atuais. “Ela estava anotada no meu caderninho há muito tempo, falava com o John que era possível atualizá-la. Tenho memória de rádio AM e me permito misturar essas canções no meu repertório, porque, no fim, tudo é canção popular”, diz Fernanda. A releitura é repleta de timbres eletrônicos e tem a voz de uma assistente virtual repetindo o título da música. 

Fernanda regravou duas canções do pop internacional. One Day In Your Life foi hit de Michael Jackson em 1975. “Quando eu estava aprendendo a tocar violão, queria tocar essa música, mas era difícil”, relembra a artista, que homenageou Amy Winehouse com a regravação de Love Is a Losing Game.

A parceria de Fernanda com o letrista Climério Ferreira é ampliada em O Que Ninguém Diz, que surgiu de maneira curiosa. Ela juntou vários versos dele sobre o amor publicados em um livro. “Eu não falei nada com ele. Mandei para ele e falei: Climério, você reconhece seu filho?”, afirma Fernanda com bom humor. Sozinha, ela assina Who Are You?, feita para o espetáculo As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, do Grupo Giramundo. 

Não há planos de fazer uma live com as músicas do disco. “Gostaria de lançar de uma forma legal, com minha banda. Quis soltar o disco, porque não fazia sentido guardar. Deixar ele solto já é uma forma de fazer a nossa parte em trazer coisas para as pessoas ouvirem.”

 


Estadão quinta, 09 de julho de 2020

INFLUENCIADORES ACIMA DOS 50 ANOS MOSTRAM QUE NÃO HÁ IDADE PARA SE REINVENTAR

 

Influenciadores acima dos 50 anos mostram que não há idade para se reinventar

Marcas passaram a prestar mais atenção nesse público, especialmente durante a pandemia

Danilo Casaletti, Especial para o Estado

09 de julho de 2020 | 05h00

“Sabe por que avós e netos se dão tão bem? É porque têm um inimigo em comum: a mãe”. É com essa frase espirituosa que Helena Wiechmann, de 91 anos, dá o tom do canal de YouTube Avós da Razão, que tem mais de 37 mil inscritos e um perfil no Instagram com 57 mil seguidores. Ele faz parte de um mapa que a consultoria de marketing de influência Silver Makers acaba de divulgar com cerca de 300 influenciadores digitais acima dos 50 anos que cada vez mais vêm ganhando seguidores nas redes sociais e chamando a atenção de marcas para parcerias, palestras e, agora, lives.

 

Avós da Razão
Gilda, de 78 anos, Helena, de 91 e Sonia, de 83: sucesso no YouTube e no Instagram com as Avós da Razão
Foto: Vik Photo Atelier

 

O Avós da Razão se dedica a responder a perguntas dos internautas, sempre com bom humor e sem julgamentos – e sem medo de serem julgadas –, com temas que variam sobre como envelhecer a sexo na terceira idade. À frente do canal estão, além de Helena, Gilda Bandeira de Mello, de 78 anos, e Sonia Bonetti, de 83. Amigas há mais de 50 anos, elas resolveram, por incentivo da ex-nora de Gilda, levar para internet, em 2018, os papos que tinham nos encontros – quase sempre realizados em botecos. “Ela nos ouvia e achou que a gente tinha um potencial, que nossa conversa tinha conteúdo”, diz Sonia que, antes de se aposentar, era comerciante.

Helena foi tradutora e trabalhou com produção cinematográfica na Vera Cruz. Gilda foi figurinista do SBT por mais de duas décadas. Todas dizem que já sabiam lidar com a tecnologia e que apenas se atualizam sobre as novas ferramentas e funcionalidades dos aplicativos.

“É uma reinvenção. Não deixa de ser um trabalho. A gente se dedica de verdade”, diz Gilda. A dedicação já rendeu propagandas para marcas como Bradesco, Arezzo e Boticário. “São trabalhos interessantes, que nos remuneram justamente. As marcas estão se conscientizando sobre o que os velhos podem fazer por elas. Falta muito, mas já é um começo”, afirma Sonia. As três também têm como objetivo dar voz ao público mais maduro. “Chamamos os velhos para a briga! Temos que mostrar que somos muitos. Estamos colaborando com uma classe que estava esquecida”, completa Sonia. Gilda só lamenta que parte desse público não tenha intimidade com a tecnologia. “Tem gente que diz que não gosta. Mas não tem jeito. É o caminho daqui para frente.”

  

Do Big Brother para as redes sociais

Outra influencer que aparece na lista é a gaúcha Ieda Wobeto (@iedawobetoreal), de 73 anos, que ficou em terceiro lugar no Big Brother Brasil 2017 – a participante mais velha a entrar no programa até hoje. Com 245 mil seguidores, ela posta fotos ao lado de filhos, netos e do marido, Marcelo Gomes, de 37 anos, além de fazer campanhas publicitárias, sobretudo de marcas de roupa. “Quero mostrar que a vida da mulher não acaba aos 50 anos ou quando ela se separa ou fica viúva. Se reinvente, tente ser feliz. Se você não fizer isso por você, ninguém o fará.” Filha de agricultores, Ieda diz que aprendeu, ainda menina, a se vestir e a se pentear olhando as fotos de revistas. Eleita aos 18 anos a primeira Miss Canoas, cidade da grande Porto Alegre, hoje é ela que, de certa forma, serve de modelo para seus seguidores ao postar seus looks sempre bem produzidos. 

 

Ieda Wobato
Ieda Wobato, de 73 anos: ex-BBB, tem 245 mil seguidores no Instagram Foto: Arquivo Pessoal

Ieda não vive apenas de seu trabalho como influenciadora. O retorno, garante, é servir de exemplo para as mulheres da sua idade. “Recebo mensagens pedindo conselhos, gente dizendo que gostaria de ser igual a mim. Isso me motiva, eu me renovo”, diz Ieda que, com o tempo, aprendeu a lidar com os haters – aqueles seguidores mais agressivos – que chegam juntos com a fama, sobretudo para quem participou de um programa como o BBB. “Me chamavam de velha, diziam que eu estava com a data de validade vencida. Isso me ofendia. Hoje não ligo.”

Representatividade

Mulheres como Helena, Sonia, Gilda e Ieda fazem parte da representação que domina o ranking elaborado pela Silver Makers, consultoria especializada no público sênior. De acordo com o levantamento, 84% dos perfis dos influenciadores da terceira idade são comandados por mulheres – a maioria toca em temas como valorização, estilo de vida, moda, desejos e saúde. Já os homens, segundo o estudo, preferem temas mais objetivos, como finanças, por exemplo. “As mulheres, quando chegam nessa idade, se libertam, ficam mais soltas. Já os homens, com a aposentadoria, se retraem”, analisa Cléa Klouri, fundadora da Silver Makers, que faz a intermediação entre marcas e influenciadores da chamada economia prateada

Segundo ela, o interesse das marcas por interlocutores mais maduros é recente e acelerou durante a pandemia, já que os idosos, por estarem no grupo de risco, passaram a ficar mais em casa e, consequentemente, era preciso atingi-los. “Era um público invisível, sobretudo para as marcas de moda. Outros segmentos que procuram pelo público de mais de 50 anos são cosméticos, farmacêuticos, produtos geriátricos e, agora, os supermercados. As marcas também estão atentas à diversidade”, diz Cléa.

 

Sueli Rodrigues
Sueli Rodrigues, de 71 anos, venceu um câncer e começou a postar looks para melhorar a autoestima
Foto: Arquivo Pessoal

Apesar da crescente procura, nem todos os influenciadores que aparecem no ranking conseguem de fato lucrar com seus perfis. Caso da funcionária pública Sueli Rodrigues, de 71 anos. Ela guarda a data exata que começou a se aventurar pelo meio digital: 24 de janeiro de 2019. Primeiro, com um blog; mais tarde, pelo perfil @blogdasu70 no Instagram, que tem mais de 24 mil seguidores.

À época, Sueli se recuperava de um câncer de estômago que a obrigou a retirar 80% do órgão e fez com que ela perdesse dez quilos. Mais magra, nenhuma das roupas que tinha parecia lhe ficar bem no corpo. Pelo menos aos seus olhos. Incentivada por uma amiga quase 50 anos mais jovem, postou um dos looks na internet. Foi aprovada. “Não que eu estivesse ‘deprê’, pois nunca fiquei, mas estava com a autoestima abalada. O blog me deu um ‘up’”, diz Sueli, que, apesar do corpo franzino que sempre teve, trabalha como agente de segurança na Câmara dos Vereadores de Itu, cidade do interior de São Paulo, desde que, aos 59 anos, foi aprovada em um concurso público.

A doença foi superada – e os looks continuam. Ela posa e posta, sempre com uma frase de incentivo. “Olha, se há dois anos alguém visse em uma bola de cristal que eu seria um influencer no futuro, eu soltaria uma gargalhada. Jamais imaginei”, diz ela que, por conta de seu perfil, já apareceu na novela Beleza Pura, da TV Globo, e foi convidada para o programa Encontro, de Fátima Bernardes. 

Finanças e estilo de vida

Entre os homens, um dos perfis de destaque é o canal do YouTube Mais 50, comandando pelo ex-executivo de marketing Dimas Moura, de 62 anos, com 157 mil inscritos, inaugurado em agosto de 2017. O perfil foi pensado por Moura depois que ele resolveu pendurar o paletó após 40 anos de trabalho, muito deles em multinacionais. Segundo ele, sua meta sempre foi parar aos 60 anos. Conseguiu. “Todo mundo me achou um maluco. Como pedi demissão, diziam que eu era louco por abrir mão da indenização”, conta.

 

Dimas Moura
Em seu canal, Dimas Moura, de 62 anos, dá dicas de finança e estilo de vida Foto: Arquivo Pessoal

O projeto ganhou mais força depois que ele participou de uma palestra dedicada ao público maduro. Os assuntos, segundo ele, só focavam no lado ruim do envelhecimento. “Falaram até em campa de cemitério. Pensei: eu quero viver, não quero pensar em morrer”, conta Moura, que arquitetou quatro pilares para o Mais 50: viajou mais de 20 países e inúmeras cidades do Brasil para mostrar como era viver com mais de 60 neles; começou a dar dicas de finanças para viver bem após a aposentadoria; abordou temas relativos a qualidade de vida e, por fim, não deixou de lado assuntos do cotidiano, como o sexo, por exemplo.

“Eu era formatado. Agora, sou livre, faço o que eu quero. Às vezes, a pessoa de idade acha que é feio usar uma bandana, por exemplo. Eu, se tiver vontade, uso”, diz Moura, que costuma fechar parcerias, sobretudo com assessorias financeiras. “O ganho de dinheiro com influenciador é relativo. Na verdade, é um mercado, uma maratona. Poucos chegam ao final”, diz. 

Apesar dessa corrida, os influenciadores maduros têm em comum, além da vontade de transmitir algo leve para o público, a experiência de que a vida dá voltas e os surpreende, independentemente da idade. Por isso, o importante é viver o presente. “O futuro é mais tarde, depois do almoço, na hora de dormir. Nem quando eu era jovem eu pensava nele”, ensina a Helena Wiechmann, aos 91 anos, uma das Avós da Razão.


Estadão quarta, 08 de julho de 2020

WEBSÉRIE SE EU ESTIVESSE AI, COM DÉBORA FALABELLA

 

Websérie 'Se Eu Estivesse Aí', com Débora Falabella, traz vida de casal afastado na pandemia

Ao lado de Gustavo Vaz, da ExCompanhia, atriz faz uma mulher que troca mensagens com seu parceiro; tudo gravado em áudio 3D e no confinamento

Leandro Nunes, O Estado de S.Paulo

08 de julho de 2020 | 05h00

A pandemia veio para alterar a maneira como a arte e os artistas serão vistos daqui pra frente. 

Em um cenário mais amplo, não importa mais se uma dupla sertaneja arrasta multidões em shows ou se um grupo experimental de teatro reúne poucas pessoas interessadas. Enquanto durar o confinamento, o alcance da arte ficou restrito ao ambiente digital – uma selva desconhecida por muitos, movimentada por algoritmos, mas também repleta de nativos. 

 
 
 
Websérie
Ausência. Em 10 episódios, e gravada em confinamento, trama une visual e áudio 3D Foto: JORGE BISPO

Em parceria com a ExCompanhia de Teatro, a atriz Débora Falabella tem refletido sobre essa fruição por parte do público na websérie Se Eu Estivesse Aí, disponível na plataforma Gshow, da TV Globo.

Como falar de plateia se tornou algo quase anacrônico. É urgente que o trabalho de atores, atrizes, diretores e autores se faça visível na internet, enquanto não houver palco ou gravações em condições seguras. De qualquer forma, a websérie aponta um caminho e um motivo básico: o desejo de contar histórias. 

O trabalho da ExCompanhia não é recente. Fundada em 2012, o grupo estreou trabalhos que misturam experiências narrativas com jornadas pela cidade, ou mesmo por espaços públicos, como foi o caso de O Enigma Voynich, um audiodrama seriado com cara de game. 

Na trama, um historiador busca informações sobre o lendário manuscrito Voynich, suas letras confusas, de autoria desconhecida. O espectador deve acompanhar a história com seu celular e fone de ouvido, abrigado no interior da Biblioteca Mário de Andrade, no Anhangabaú. Mas não é só isso. Os diálogos e sons foram gravados respeitando os lados do fone, esquerdo e direito, o que recria a sensação de tridimensionalidade do espaço. 

A mesma técnica acompanha o novo Se Eu Estivesse Aí. A atriz e a ExCompanhia criaram uma nova história, agora sob a condição do convívio restrito e da ameaça de uma pandemia que atingiu de vez o País. Na trama, Débora interpreta uma mulher que toca mensagens com seu parceiro (Gustavo Vaz), relação em vias de entrar em crise. Cada qual em sua casa, em distanciamento social. “Com a pandemia, não demorou para surgir a impossibilidade de trabalhar. Acredito que responder com um nova ação se mostrou um desafio para todos”, ressalta a atriz. 

Lembrando que nos últimos meses a produção de novelas e séries precisou ser interrompida, entre elas, a segunda temporada da série Aruanas, que tem Débora no elenco. Em meados de março, a Globo iniciou as gravações da série, ainda sem Taís Araújo, por conta de seu papel na novela Amor de Mãe, que também foi suspensa. O impacto continua levando artistas para criações híbridas, que unem formatos de interpretação e experiências audiovisuais.

Além de O Enigma Voynich, a ExCompanhia fez trajetórias mais ambiciosas em Frequência Ausente 19 Hz, que além de uma história para ser ouvida, levava o espectador em um passeio pelas ruas. O trabalho já foi apresentado em diversas cidades. Detalhes sobre como acessar as histórias estão no site do grupo.

Em Se Eu Estivesse Aí, também há um avanço no visual. Antes do espectador começar, existem algumas recomendações: sentar em uma cadeira, de preferência em um lugar silencioso, sem interrupções. O fone de ouvidos recomendado é o tipo headphone, que se apoia na cabeça e que garante melhor isolamento sonoro. Também é preciso respeitar as indicações de lado direito e esquerdo, para ampliar a sensação de áudio 3D.

 

Websérie
Para ver e ouvir. É recomendado sentar-se em uma cadeira e usar fone de ouvidos Foto: JORGE BISPO

O áudio também indica o conteúdo visual. Com um efeito sonoro, a imagem do corpo de uma mulher, do pescoço para baixo, aparece na tela, explica a atriz. “É uma forma de aprofundar a experiência, como se as pessoas fossem transportadas.” 

E funciona. Com pouco mais de cinco minutos em cada episódio, o espectador convive na pele do homem e da mulher. Enxerga a perspectiva de cada um, enquanto escuta a troca de mensagens do casal. 

O texto e a direção são compartilhados por Débora e a ExCompanhia. “A vida do casal vai dos dias parecidos até o início do isolamento. Suas decisões não escondem o que todo mundo pode estar enfrentando na pandemia”, explica a atriz. “A ideia é criar um espaço de empatia, tendo o espectador no centro. No lugar das personagens.” 

Episódios de Se Eu Estivesse Aí disponíveis aqui.

Homemade traz pílulas da quarentena em curtas

Disponível na Netflix, a série Homemade pode servir de boa inspiração sobre narrativas baseadas no confinamento. A antologia de 17 episódios traz curtas-metragens sobre o drama, a felicidade e as dores do convívio na quarentena.

Com episódios curtos – o mais longo tem 10 minutos –, a série traz um divertido diálogo entre o Papa e a Rainha da Inglaterra, e da atriz Kristen Stewart, em crises de ansiedade em sua casa. O cineasta Ladj Ly passeia pela França com um drone e Pablo Larraín arranca gargalhadas com o diálogo de um homem que decide se declarar à sua ex.


Estadão terça, 07 de julho de 2020

QUEM FOI CORA CORALINA, QUE AGORA DÁ NOME A UM SAPINHO?

 

Quem foi Cora Coralina, que agora dá nome a um sapinho

Poeta, doceira e uma das figuras mais queridas dos leitores brasileiros, Cora Coralina é homenageada pela ciência

Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de S. Paulo

07 de julho de 2020 | 10h30

Cora Coralina

Cora Coralina nasceu em 1889 Foto: Museu Casa de Cora Coralina

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Especial Cora Coralina: Cora Coralina, 130 anos: Os poemas, as receitas e os livros

Trata-se de uma espécie minúscula de um anfíbio, que mede entre 1,25 cm e 1,53 cm, revelada agora por um grupo de pesquisadores das universidade estaduais de Campinas (Unicamp), Paulista (Unesp), no campus Rio Claro, e da Universidade Federal de Uberlândia, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Foi o pesquisador Felipe Andrade quem batizou esse pequeno anfíbio de Pseudopaludicola coracoralinae

 O artigo sobre a descoberta foi publicado na semana passada, no European Journal of Taxonomy. Esta é a segunda vez que a poeta goiana é homenageada pela ciência. Em 2005, ela também batizou uma nova espécie de peixe tropical, o Xenurobrycon coracoralinae.

 

Sapo Cora Coralina
Pseudopaludicola coracoralinae é batizado em homenagem à poetisa goiana Cora Coralina Foto: Reprodução

Quem foi Cora Coralina

Cora Coralina foi o nome que Ana Lins de Guimarães Peixoto Bretas, também conhecida como Aninha, adotou quando já era uma aspirante a poeta. Nascida em 20 de agosto de 1889, meses antes da proclamação da República, ela começou a escrever muito cedo, antes dos 15 anos, mas só foi publicar seu primeiro livro, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, em 1965 - depois de casar, trocar sua Vila Boa de Goiás natal por São Paulo, criar quatro filhos, enviuvar e vender tecido, doce e livro.

Àquela altura, Cora Coralina já era uma senhora de 75 anos que vivia dos doces que fazia na Cidade de Goiás. Seu nome ficou mais conhecido no Brasil depois de Carlos Drummond de Andrade publicar um texto sobre ela no Jornal do Brasil, em 1980.

A autora publicou ainda Meu Livro de Cordel (1976) e Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (1983). Publicaria mais um volume, Estórias da Casa Velha da Ponte, previsto para 1984, mas ela estava cansada. Cora morreu no dia 10 de abril de 1985.

Hoje, sua obra está reunida no catálogo da Global e recentemente, no aniversário de 110 anos de nascimento de Cora, sua filha disse que ainda havia inéditos em seu baú. Cora também inspirou um filme: Todas as Vidas.

Cora Coralina viveu a vida simples que tanto valorizava e sobre a qual escrevia em seus poemas. 

Leia frases e poemas de Cora Coralina

“Venho do século passado. Pertenço a uma geração ponte, entre a libertação dos escravos e o trabalhador livre. Entre a monarquia caída e a república que se instalava. Todo ranço do passado era presente. A criança não tinha vez, os adultos eram sádicos e aplicavam castigos humilhantes.” 

“Nasci num berço de pedras. Pedras têm sido meus versos, no rolar e bater de tantas pedras.”

“A vida é boa. Você pode fazê-la sempre melhor, e o melhor da vida é o trabalho.”

"Na minha alma, hoje, também corre um rio, um longo e silencioso rio de lágrimas que meus olhos fiaram uma a uma e que há de ir subindo, subindo sempre, até afogar e submergir na tua profundez sombria a intensidade da minha dor!..."

“Quando escrevo, escrevo por um impulso interior que me vem do insondável que cada um de nós trás consigo. Mas uma coisa eu digo a você: ontem nós falamos nas pessoas que ainda estão voltadas para o passado. E eu digo a você: não há ninguém que não faça sua volta ao passado ao escrever. Nós todos fazemos. Nós todos pertencemos ao passado. Todos nós. Queira ou não queira. É de uma forma instintiva. Nós todos estamos ligados muito mais aos nossos avós do que aos nossos pais.”

O prato azul-pombinho

Minha bisavó – que Deus a tenha em glória –

sempre contava e recontava

em sentidas recordações

de outros tempos

a estória de saudade

daquele prato azul‑pombinho.

Era uma estória minuciosa.

Comprida, detalhada.

Sentimental.

Puxada em suspiros saudosistas

e ais presentes.

E terminava, invariavelmente,

depois do caso esmiuçado:

“– Nem gosto de lembrar disso...”

É que a estória se prendia

aos tempos idos em que vivia

minha bisavó

que fizera deles seu presente e seu futuro.

Voltando ao prato azul‑pombinho

que conheci quando menina

e que deixou em mim

lembrança imperecível.

Era um prato sozinho,

último remanescente, sobrevivente,

sobra mesmo, de uma coleção,

de um aparelho antigo

de 92 peças.

Isto contava com emoção, minha bisavó,

que Deus haja.

Era um prato original,

muito grande, fora de tamanho,

um tanto oval.

Prato de centro, de antigas mesas senhoriais

de família numerosa.

De fastos de casamento e dias de batizado.

Pesado. Com duas asas por onde segurar.

Prato de bom‑bocado

e de mães‑bentas.

De fios de ovos.

De receita dobrada

de grandes pudins,

recendendo a cravo,

nadando em calda.

Era, na verdade, um enlevo.

Tinha seus desenhos

em miniaturas delicadas.

Todo azul‑forte,

em fundo claro

num meio‑relevo.

Galhadas de árvores e flores,

estilizadas.

Um templo enfeitado de lanternas.

Figuras rotundas de entremez.

Uma ilha. Um quiosque rendilhado.

Um braço de mar.

Um pagode e um palácio chinês.

Uma ponte.

Um barco com sua coberta de seda.

Pombos sobrevoando.

Minha bisavó

traduzia com sentimento sem igual,

a lenda oriental

estampada no fundo daquele prato.

Eu era toda ouvidos.

Ouvia com os olhos, com o nariz, com a boca,

com todos os sentidos,

aquela estória da Princesinha Lui,

lá da China – muito longe de Goiás –

que tinha fugido do palácio, um dia,

com um plebeu do seu agrado

e se refugiado num quiosque muito lindo

com aquele a quem queria,

enquanto o velho mandarim – seu pai –

concertava, com outro mandarim de nobre casta,

detalhes complicados e cerimoniosos

do seu casamento com um príncipe todo‑poderoso,

chamado Li.

Então, o velho mandarim,

que aparecia também no prato,

de rabicho e de quimono,

com gestos de espavento e cercado de aparato,

decretou que os criados do palácio

incendiassem o quiosque

onde se encontravam os fugitivos namorados.

E lá estavam no fundo do prato,

– oh, encanto da minha meninice! –

pintadinhos de azul,

uns atrás dos outros – atravessando a ponte,

com seus chapeuzinhos de bateia

e suas japoninhas largas,

cinco miniaturas de chinês.

Cada qual com sua tocha acesa

– na pintura –

para pôr fogo no quiosque

– da pintura.

Mas ao largo do mar alto

balouçava um barco altivo

com sua coberta de prata,

levando longe o casal fugitivo.

Havia, como já disse,

pombos esvoaçando.

E um deles levava, numa argolinha do pé,

mensagem da boa ama,

dando aviso a sua princesa e dama,

da vingança do velho mandarim.

Os namorados então,

na calada da noite,

passaram sorrateiros para o barco,

driblando o velho, como se diz hoje.

E era aquele barco que balouçava

no mar alto da velha China,

no fundo do prato.

Eu era curiosa para saber o final da estória.

Mas o resto, por muito que pedisse,

não contava minha bisavó.

Dali para a frente a estória era omissa.

Dizia ela – que o resto não estava no prato

nem constava do relato.

Do resto, ela não sabia.

E dava o ponto final recomendado.

“— Cuidado com esse prato!

É o último de 92”.

Devo dizer – esclarecendo,

esses 92 não foram do meu tempo.

Explicava minha bisavó

que os outros – quebrados, sumidos,

talvez roubados –

traziam outros recados, outras legendas,

prebendas de um tal Confúcio

e baladas de um vate

chamado Hipeng.

Do meu tempo só foi mesmo

aquele último

que, em raros dias de cerimônia

ou festas do Divino,

figurava na mesa em grande pompa,

carregado de doces secos, variados,

muito finos,

encimados por uma coroa

alvacenta e macia

de cocadas de fita.

Às vezes, ia de empréstimo

à casa da boa tia Nhorita.

E era certo no centro da mesa

de aniversário, com sua montanha

de empadas, bem tostadas.

No dia seguinte, voltava,

conduzido por um portador

que era sempre o Abdênago, preto de valor,

de alta e mútua confiança.

Voltava com muito‑obrigados

e, melhor – cheinho

de doces e salgados.

Tornava a relíquia para o relicário

que no caso era um grande e velho armário,

alto e bem fechado.

– “Cuidado com o prato azul‑pombinho” –

dizia minha bisavó,

cada vez que o punha de lado.

Um dia, por azar,

sem se saber, sem se esperar,

artes do salta‑caminho,

partes do capeta,

fora de seu lugar, apareceu quebrado,

feito em pedaços – sim senhor –

o prato azul‑pombinho.

Foi um espanto. Um torvelinho.

Exclamações. Histeria coletiva.

Um deus nos acuda. Um rebuliço.

Quem foi, quem não foi?...

O pessoal da casa se assanhava.

Cada qual jurava por si.

Achava seus bons álibis.

Punia pelos outros.

Se defendia com energia.

Minha bisavó teve “aquela coisa”.

(Ela sempre tinha “aquela coisa” em casos tais.)

Sobreveio o flato.

Arrotando alto, por fim, até chorou...

Eu (emocionada), vendo o pranto de minha bisavó,

lembrando só

da princesinha Lui –

que já tinha passado a viver no meu inconsciente

como ser presente,

comecei a chorar

– que chorona sempre fui.

Foi o bastante para ser apontada e acusada

de ter quebrado o prato.

Chorei mais alto, na maior tristeza,

comprometendo qualquer tentativa de defesa.

De nada valeu minha fraca negativa.

Fez‑se

o levantamento de minha vida pregressa

de menina

e a revisão de uns tantos processos arquivados.

Tinha já quebrado – em tempos alternados,

três pratos, uma compoteira de estimação,

uma tigela, vários pires e a tampa de uma terrina.

Meus antecedentes, até,

não eram muito bons.

Com relação a coisas quebradas

nada me abonava.

E o processo se fez, pois, à revelia da ré,

e com esta agravante:

tinha colado no meu ser magricela, de menina,

vários vocativos

adesivos, pejorativos:

inzoneira, buliçosa e malina.

Por indução e conclusão,

era eu mesma que tinha quebrado o prato azul‑pombinho.

Reuniu‑se

o conselho de família

e veio a condenação à moda do tempo:

uma boa tunda de chineladas.

Aí ponderou minha bisavó

umas tantas atenuantes a meu favor.

E o castigo foi comutado

para outro, bem lembrado, que melhor servisse a todos

de escarmento e de lição:

trazer no pescoço por tempo indeterminado,

amarrado de um cordão,

um caco do prato quebrado.

O dito, melhor feito.

Logo se torceu no fuso

um cordão de novelão.

Encerado foi. Amarrou‑se

a ele um caco, de bom jeito,

em forma de meia‑lua.

E a modo de colar, foi posto em seu lugar,

isto é, no meu pescoço.

Ainda mais

agravada a penalidade:

proibição de chegar na porta da rua.

Era assim, antigamente.

Dizia‑se

aquele, um castigo atinente,

de ótima procedência. Boa coerência.

Exemplar e de alta moral.

Chorei sozinha minhas mágoas de criança.

Depois, me acostumei com aquilo.

No fim, até brincava com o caco pendurado.

E foi assim que guardei

no armarinho da memória, bem guardado,

e posso contar aos meus leitores,

direitinho,

a estória, tão singela,

do prato azul‑pombinho.


Estadão segunda, 06 de julho de 2020

ENNIO MORRICONE: COMPOSITOR ITALIANO MORRE AOS 91 ANOS

 

Compositor italiano Ennio Morricone morre aos 91 anos

Responsável pela composição de quase 500 trilhas sonoras, arranjador e maestro italiano ganhou, em 2016, o Oscar pela trilha sonora do filme 'Os Oito Odiados', de Quentin Tarantino

Redação, O Estado de S.Paulo

06 de julho de 2020 | 05h20

O famoso compositor italiano Ennio Morricone, um dos músicos mais admirados e premiados do mundo do cinema, morreu em Roma aos 91 anos, segundo informou a imprensa italiana nesta segunda-feira, 6, citando parentes. Morricone foi hospitalizado em uma clínica na capital italiana após sofrer uma queda que fraturou seu fêmur, segundo as mesmas fontes.

 

ennio morricone
Ennio Morricone morreu aos 91 anos. Foto: Foto: Robyn BECK / AFP
 

Ennio Morricone morreu "em 6 de julho, consolado pela fé", disse o advogado e amigo da família Giorgio Assuma em comunicado, citado pela imprensa. Ele permaneceu "totalmente lúcido e com grande dignidade até o último momento", acrescentou o comunicado.

 O prolífico músico compôs quase 500 trilhas sonoras, incluindo temas inesquecíveis como o assovio de Três Homens em Conflito (1966), ou o magnífico solo de oboé de A Missão (1986). Tem o mérito de ser o autor de melodias que milhões de pessoas, cinéfilas ou não, conhecem ou sabem cantarolar.
 
 

Em 2016, venceu o Oscar pela trilha sonora do filme Os Oito Odiados, de Quentin Tarantino. Em 2007, já havia recebido um Oscar honorário por sua abundante e elogiada carreira musical.

Há apenas alguns dias, Morricone foi anunciado o vencedor, ao lado do também compositor John Williams, com o prêmio Princesa das Astúrias das Artes na Espanha.

"Sempre nos recordaremos, e com um reconhecimento infinito do gênio artístico, do maestro Ennio Morricone. Nos fez sonhar, nos emocionou e fez pensar, escrevendo notas inesquecíveis que ficarão para sempre na história da música e do cinema", escreveu no Twitter o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte.

"Adeus mestre e obrigado pelas emoções que nos presenteou", escreveu, também no Twitter, ministro italiano da Saúde, Roberto Speranza.

Morricone nasceu em 10 de dezembro de 1928 em Roma e começou a compor aos seis anos. Aos 10, foi matriculado em um curso de trompete da prestigiosa Academia Nacional Santa Cecília de Roma.

Também estudou composição, orquestra e órgão. Em 1961, aos 33 anos, estreou no cinema com a música de O Fascista, de Luciano Salce.

Morricone ganhou fama em meados dos anos 1960, com as trilhas sonoras de westerns como Por um Punhado de Dólares e Três Homens em Conflito.

Sua versatilidade permitiu que trabalhasse na música de filmes premiados e muito diferentes, incluindo A Missão (1986), Cinema Paradiso (1988), ou Homem das Estrelas (1995).

"A música de A Missão nasceu de uma obrigação. Tinha que escrever um solo oboé, se passava na América do Sul no século 16, e tinha a obrigação de respeitar o tipo de música do período. Ao mesmo tempo, eu tinha que compor uma música que também representasse os índios da região. Todas as obrigações me prendiam (...) Mas também fizeram com que saísse algo claro", recordou o compositor em uma entrevista à AFP em 2017.

Além das duas estatuetas do Oscar, Morricone também foi premiado com Globos de Ouro Grammy, compôs óperas e canções para artistas pop, em uma prolongada carreira que encerrou de maneira brilhante em 2018 com uma turnê mundial de despedida.

"O fato de eu ter conseguido compor músicas com total liberdade, e tão diversas, foi possível não apenas porque eu tinha técnica, mas também porque era necessário que eu mudasse a cada vez minha maneira de compor. O filme exigia. Acostumei, cada vez era diferente", explicou "Il Maestro" à AFP.

Estadão domingo, 05 de julho de 2020

O QUE A NONA SINFONIA DE BEETHOVEN REVELA SOBRE O CÉREBRO HUMANO

 

O que a 'Nona Sinfonia' de Beethoven revela sobre o cérebro humano

Pesquisa destacou o grande impacto e as aplicações do estudo e sua utilidade no desenvolvimento de novos algoritmos para a inteligência artificial

EFE / MADRI, O Estado de S.Paulo

04 de julho de 2020 | 15h00

Passados 250 anos do nascimento de Beethoven, sua música continua a surpreender e a sua Nona Sinfonia revelou novos detalhes sobre o cérebro humano e a existência de células “conceituais”.

Uma equipe internacional de cientistas, liderada por matemáticos da Universidade Complutense de Madrid (UCM), aprofundou o estudo dos neurônios individuais que formam conceitos abstratos, como as notas musicais, publicado na revista Scientific Reports.

 

 

O que a
Pesquisa destacou o impacto do estudo e sua utilidade no desenvolvimento de algoritmos para a inteligência artificial Foto: Tatjana Prenzel/The New York Times
 

Como informou a universidade, os neurônios individuais chamados células conceituais influem na compreensão dos conceitos abstratos. A existência dessas células foi comprovada e demonstrada concretamente pelos investigadores a partir de um ensaio específico com a Nona Sinfonia de Beethoven.

A aparição de conceitos abstratos no cérebro humano estava associada à interação complexa de muitos neurônios, mas a nova pesquisa demonstra que, na realidade, em cada expressão abstrata influenciam poucos neurônios individuais ou células conceituais.

O mesmo caso ocorreria com a música, para distingui-la do ruído, já que cada nota exige alguns conceitos musicais concretos. Para esse estudo, os pesquisadores criaram uma rede neural de 3.200 células nervosas na capa seletiva e 1.600 na capa conceitual.

Inicialmente, as células registraram ondas sonoras de modo aleatório sem detectar a que nota pertenciam. “Mas após o treinamento, como se mostrou no experimento com a Nona, os neurônios processaram a informação recebida e determinaram que nota era emitida, atuando como células conceituais”, explicou Valeri Makarov, pesquisador do Instituto de Matemática Interdisciplinar da UCM.

Quando soa a nota Fá sua célula conceitual associada é ativada, assim como aquela que representa o conceito de árvore ou, como recentemente foi demonstrado na Universidade de Leicester, “o neurônio de Jennifer Aniston” é ativado quando escutamos o nome da atriz, assinalou a universidade.

O pesquisador destacou o grande impacto e as aplicações do estudo e sua utilidade no desenvolvimento de novos algoritmos para a inteligência artificial. As redes neurais artificiais tentam copiar a estrutura e o funcionamento do cérebro e, em alguns casos, superam o cérebro humano em tarefas relativamente fáceis, como o reconhecimento de imagens, mas ainda estão atrasadas nas suas capacidades cognitivas. “Para o avanço dessa capacidade é necessário compreender como o cérebro entende o que está no seu entorno”, disse o pesquisador da UCM, que colaborou nesse trabalho com cientistas das universidades de Leicester (Reino Unido) e de Nizhny Novgorod (Rússia). / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO


Estadão sábado, 04 de julho de 2020

CHARLIZE THERON VOLTA À AÇÃO EM NOVO FILME

 

Charlize Theron volta à ação em novo filme ‘The Old Guard’

Atriz e produtora, parceira na tela Kiki Layne e diretora Gina Prince-Bythewood refletem sobre representatividade com novo filme da Netflix

Guilherme Sobota, O Estado de S. Paulo

03 de julho de 2020 | 05h00

Charlize Theron não estranha mais papéis em filmes de ação: depois do marco com a Imperatriz Furiosa em Mad Max: Estrada da Fúria (2015) e a agente Lorraine Broughton em Atômica (2017), a atriz tomou um desvio para interpretar a jornalista Megyn Kelly no drama O Escândalo (2019), que lhe rendeu indicações para os principais prêmios do cinema americano. Agora, a estrela sul-africana, cotada para ingressar no “universo Marvel”, volta ao mundo das grandes produções com The Old Guard, novo filme da Netflix que estreia na próxima sexta-feira, 10.

O filme é uma adaptação dos quadrinhos do vencedor do prêmio Eisner Greg Rucka e do ilustrador argentino Leandro Fernández, publicados em 2017 pela Image Comics. A história segue um grupo de heróis inexplicavelmente imortais, que vagueiam pelos séculos lidando com questões filosóficas incomuns.

 

A trajetória do grupo, liderado por Andrômaca de Scythia (Theron), é colocada à prova quando uma conspiração comandada por um ex-agente da CIA (Chiwetel Ejiofor, de 12 Anos de Escravidão) sai pela culatra, e os viajantes do tempo são capturados por um ganancioso e inconsequente líder da indústria farmacêutica em busca da fórmula da vida eterna. Salvar o grupo será a missão da mais nova imortal, Nile (Kiki Layne, de Se A Rua Beale Falasse).

  
Cenas do filme 'The Old Guard', lançado globalmente pela Netflix no dia 10 de julho, com Kiki Layne (Nile)
  Foto: Netflix

“Mesmo antes dos tempos que vivemos (com a pandemia e os protestos antirracistas ganhando força), o filme é muito sobre a condição humana, e sobre como questionamos a própria humanidade, no sentido do que ela pode fazer de bom ou ruim”, diz Theron, protagonista e também produtora executiva de The Old Guard. “Nunca poderíamos planejar lançar o filme neste momento. Talvez isso soe trivial, dada a necessidade real de coisas para salvar vidas neste momento, mas quero acreditar que há algo para a alma aqui, espero que possa ser inspirador em algum momento.”

Em uma coletiva de imprensa virtual com veículos da América Latina, a atriz explicou que usa, sim, dublês em cenas mais perigosas, desmentindo um mito de Hollywood que vem de anos. “Quando fazemos lutas, elas são desenhadas para os atores. Tentamos muito ser capazes de contar aquela narrativa de um modo físico. Há cenas, porém, em que dublês são tão importantes, não quero minimizar o trabalho incrível deles. Mas é importante para mim ser capaz de contar a narrativa nessas cenas físicas também.”

Quando Charlize Theron planejou lançar o longa, ela também não sabia que os EUA estariam vivendo uma convulsão social (não inédita, é verdade) por conta de violência policial e racismo, além, claro, de uma pandemia gravíssima. Mas ela e a diretora Gina Prince-Bythewood escolheram a estrela em ascensão Kiki Layne para um dos papéis principais antecipando uma discussão corrente em Hollywood: a representação de forças policiais e do exército.

“É importante ver que as Forças Armadas não são compostas apenas de homens brancos”, diz Kiki, em entrevista coletiva virtual com jornalistas da América Latina. “Os filmes grandes que se focaram nisso tendem a se apoiar nessa narrativa. A verdadeira questão agora, porém, é que os protestos estão se expandindo no sentido de responsabilizar todo tipo de indústria sobre como pessoas negras são tratadas e representadas. Isso também inclui a indústria do cinema. O mundo é realmente diverso, pessoas diferentes fazem parte de narrativas das quais historicamente foram deixadas de fora, inclusive no cinema. Sou grata de ser parte do grupo que está expandindo essa barreira.”

Para ela, é importante que atores e produtores estejam agora, mais do que nunca, cientes da natureza das histórias que querem contar. “Como mulher negra, os tipos de histórias e papéis a que tivemos acesso sempre foram muito limitados, e, nos últimos anos, a importância da representatividade se tornou pública, porque de fato faz diferença como as pessoas se veem retratadas. Estou muito consciente desse impacto, e o considero uma oportunidade para a arte do cinema também servir a um propósito maior.”

No início do filme, Nile (Layne) é uma fuzileira naval do exército americano na guerra do Afeganistão que sobrevive sem explicação a uma ferida mortal perpetrada por um homem que mantém mulheres como reféns. Essa habilidade extraordinária a conecta com um grupo de imortais que vagam pelos séculos tentando encontrar sentido para sua própria imortalidade, o dilema filosófico central do filme. A equipe é liderada por Andy (Charlize Theron), cujos questionamentos sobre a validade de seu talento extraordinário permanecem sem respostas. A presença de Nile, personagem de bondade e senso de ética rígidos, porém, empurra Andy para uma possível nova perspectiva de vida.

A diretora Gina Prince-Bythewood vem do cinema independente – seu primeiro filme, Love & Basketball (2000), estreou no Festival de Cinema de Sundance e foi mais tarde premiado. The Old Guard é a sua primeira investida no “cinemão” americano. “Meu último filme tinha sido um de US$ 7 milhões, e esse, bem, é de muito mais”, diz a diretora. “Mas o que é interessante é que um amigo (Rian Johnson, do último Star Wars) me disse que não importa o tamanho de um orçamento, mas é preciso contar uma boa história antes de tudo.” Claro que os efeitos e “brinquedos”, como ela chama as vantagens do grande orçamento, ajudaram muito: o filme é recheado de cenas de luta, tiroteios e explosões.

“A grande questão foi a pressão para realizar esse filme”, disse a diretora. “Em primeiro lugar, eu não queria desapontar Greg Rucka e Leandro Fernández (autores da HQ em que o filme é baseado), mas também a audiência. A graphic novel deles foi a minha bíblia na produção, e a usamos inclusive no set.”

Charlize Theron também encontrou valor na leitura. “O material fonte é muito rico, desde o começo percebi que tinha ali muito potencial. Fisicamente, ela não parece comigo, mas, além disso, sua essência é verdadeira. Quisemos nos manter próximas do que o Greg Rucka tocou e o que nos pareceu muito relevante e irreverente.”

Rucka é um roteirista de quadrinhos aclamado nos EUA, com mais de um prêmio Eisner no currículo, e, entre seus trabalhos mais conhecidos, está uma reinvenção da personagem Mulher-Gato para a DC Comics. A terceira parte da trilogia The Old Guard, feita em parceria com o ilustrador argentino Leandro Fernández, sai em 2021.

“Andy, de várias maneiras, carrega uma fardo de dor e luto”, explica Rucka, sobre a personagem principal. “Não há ninguém que possa entender pelo que ela passou, e ela também está cansada. Mas acredito que a gente mede o poder dos heróis pelo que eles têm de enfrentar e, nesse caso, acho que o que ela precisa enfrentar é ela mesma.”

No filme, a personagem de Charlize tem nos amigos imortais Booker (Matthias Schoenaerts), Joe (Marwan Kenzari) e Nicky (Luca Marinelli) a única espécie de família em muito tempo – ela é a mais velha, e seus entes queridos ficaram num passado distante. Já Nile, tomada pela descoberta de sua nova habilidade, precisa encarar o fato de que sua família não poderá acompanhá-la na jornada.

Rucka – também roteirista no filme, ao lado da diretora – conta que Prince-Bythewood apontou que a personagem Nile precisaria de mais profundidade do que no livro, e que ele concordou imediatamente. “A visão dela foi o que trouxe esse filme à vida”, diz o escritor. “As experiências de vida dela são muito diferentes da minha, mas acho que isso permitiu a ela uma conexão íntima com as personagens muito forte, talvez mais forte do que aquela que um diretor homem poderia alcançar.”

Apesar de ter sido filmado apenas no Marrocos e no Reino Unido, o filme passa por diversos países e épocas, o que lhe empresta um sentido de globalização e intercâmbio cultural, assuntos temidos ou evitados por diversos líderes políticos globais no século 21, fortemente contrários à imigração, por exemplo. Ao mesmo tempo, a história também traz reflexões sinceras sobre mortalidade e luto – um bom pacote, afinal.


Estadão quinta, 02 de julho de 2020

RINGO STARR VAI FESTEJAR 80 ANOS COM LIVE

 

Ringo Starr vai festejar 80 anos com live e convidados especiais

A transmissão do ex-Beatles servirá para arrecadar fundos para instituições e Paul McCartney está entre os convidados

Redação, O Estado de S.Paulo

02 de julho de 2020 | 08h25

No próximo dia 7 de julho, o baterista Ringo Starr completará 80 anos. Nesse dia, o ex-Beatles vai organizar um evento especial de aniversário, recheado de convidados especiais, segundo a Rolling Stone.

De acordo com a revista, o artista fará apresentação em casa, em vídeo, com Paul McCartneySheryl CrowGary Clark Jr.Ben Harper e mais. Em vídeo, o artista explicou o evento. "Esse ano será um pouco diferente. Não há um grande encontro, não tem como fazer brunch para 100 pessoas. Mas iremos fazer esse show – uma hora de música e conversa. É um aniversário bem grande."

 
 
Ringo Starr vai festejar 80 anos com live e convidados especiais
Ringo Starr completa 80 anos em 7 de julho de 2020 Foto: REUTERS/Mario Anzuoni
 

A transmissão servirá para arrecadar fundos para as instituições  The David Lynch Foundation, MusiCares e WaterAid e Black Lives Matter. 

Para assistir, basta acessar o canal de Ringo Starr no YouTube, a partir das 21h, horário de Brasília. na próxima terça, 7.


Estadão quarta, 01 de julho de 2020

OLIVIA DE HAVILLAND: AOS 104 ANOS, É A ÚLTIMA RAINHA DO OSCAR

 

Aos 104 anos, Olivia De Havilland é a última rainha do Oscar

Nascida no Japão, a atriz de '...E o Vento Levou' comemora aniversário no dia 1º de julho.

Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo

29 de junho de 2020 | 14h00

Aos 104 anos, que completa nesta quarta, 1.º, Olivia De Havilland não é só um fenômeno de longevidade, mas certamente ter chegado tão longe acrescentou à lenda da doce Melanie de ...E o Vento Levou.

O clássico agora contestado por seu racismo estreou em 15 de dezembro de 1939, há mais de 80 anos, quase 81. É a mais antiga atriz ainda viva a ter vencido o Oscar, a única vencedora dos anos 1940 ainda viva, a última das grandes estrelas da era de ouro dos estúdios ainda viva. Aos 101 anos, há três, portanto, foi a mais velha mulher a receber o título de Dame do Império Britânico pela Rainha Elizabeth II.

 
 
Aos 104 anos, Olivia De Havilland é a última rainha do Oscar
A atriz Olivia de Havilland no prêmio Kodak Awards em 2003 Foto: REUTERS/Mike Blake/File Photo
 

Dame Olivia Mary De Havilland nasceu em Tóquio em 1.º de julho de 1916. A mãe era uma atriz de teatro inglesa que foi visitar o irmão na capital japonesa. Conheceu um amigo dele, filho de um reverendo britânico. Casaram-se e tiveram as filhas Olivia e Joan, ambas nascidas no Japão. Mas não foi um conto de fadas. Olivia tinha a saúde frágil e a mãe convenceu o marido a voltar à Inglaterra. Pararam na Califórnia, onde o clima era bom para a filha, mas o filho do reverendo abandonou a família, preferindo retornar ao Japão, e à amante gueixa. Qual era a possibilidade de duas irmãs que se detestavam - ao que consta por um incidente de infância, quando Olivia, a mais velha, rasgou o vestido de Joan – pudessem virar grandes estrelas de Hollywood? Ocorreu com elas – mais um recorde, as duas únicas irmãs a terem vencido o Oscar, e Olivia ganhou duas vezes. Ela manteve o nome da família, Joan adotou o do segundo marido da mãe e virou Joan Fontaine.

Joan ganhou o Oscar de melhor atriz de 1941 por Suspeita, o clássico de Alfred Hitchcock, derrotando Olivia, que concorreu com ela por A Porta de Ouro/Hold Back the Dawn. Olivia venceu em 1947 e 50, por Só Resta Uma Lágrima/To Each His Own e Tarde Demais/The Heiress. Curiosidade – seu diretor em A Porta de Ouro, Mitchell Leisen, foi o mesmo de Só Resta Uma Lágrima. Estava escrito que teria de vencer por um filme dele. Sobre a rivalidade com a irmã, que se tornou lendária em Hollywwod, Joan teria dito:  “Ela me odeia porque sou a primeira em tudo. Casei-me primeiro, ganhei o Oscar primeiro, provavelmente vou morrer primeiro.” E morreu – em 2013, aos 96 anos. Olivia continua. No ano passado, para mostrar que continuava em forma, passeou de bicicleta para comemorar os 103. O que fizer para comemorar os 104 terá de ser em Paris.

 

Aos 104 anos, Olivia De Havilland é a última rainha do Oscar
A atriz em 'O Intrépido General Custer', de Raoul Walsh Foto: Warner Bros. Entertainment

Radicou-se na França nos anos 1950, quando se casou, em segundas núpcias, com o ex-editor de Paris Match, Pierre Galante. Divorciaram-se em 1979, mas permaneceram os melhores amigos e ela o assistiu na doença, quando ele morreu de câncer, quase 20 anos depois. Em 2010, recebeu do então presidente Nicolas Sarkozy a Legion D' Honneur. “A senhora honra a França por nos haver escolhido, Madame.”

Cinéfilo de carteirinha reconhecerá. A frase de Sarkozy é a versão ligeiramente adaptada da que Errol Flynn diz a Libby/Olivia quando parte para morrer no clássico O Intrépido General Custer, de Raoul Walsh, de 1941 - “Viver com a senhora foi uma honra, madame.” Foram oito filmes com Flynn, incluindo Capitão BloodA Carga da Brigada Ligeira e As Aventuras de Robin Hood, esse em parceria com William Keighley e todos clássicos. Com Bette Davis, de quem era grande amiga, foram cinco filmes, um também com a dupla Flynn/Curtiz, Meu Reino por Um Amor, de 1939, e o último, Com a Maldade na Alma/Hush, Hush Sweet Charlotte, de Robert Aldrich, de 1964, no ocaso das duas estrelas. Invertendo papeis, Olivia era a prima Miriam que submetia a pobre Bette à tortura psicológica. De malvada, Bette só tinha a fama.

O sucesso como 'boazinha' – nos filmes de Curtiz, em ...E o Vento Levou – foi um tormento para ela. Condenou Olivia a um tipo de papel. Era sempre a esposa, a abnegada, a dama. Brigou na Warner, que a mantinha sob contrato, para ter papeis mais fortes. Recusou vários filmes, o estúdio suspendeu-a. Quando terminou seu contrato padrão de sete anos e ela estava livre para fazer os filmes que queria, a Warner tentou descontar a suspensão. Olivia foi à Justiça e teve ganho de causa. Criou jurisprudência na defesa dos direitos de atores e atrizes. Até a irmã, Joan, teve de reconhecer - “Hollywood deve muito a Olivia.”

 Aos 104 anos, Olivia De Havilland é a última rainha do Oscar

Foto da atriz em 1939 no filme '...E o Vento Levou'  Foto: REUTERS/AMPAS/Handout

Deve mesmo. A boazinha era durona, boa de briga. Ela ganhou dois Oscars, mas preferiria ter vencido por The Snake Pitt/Na Cova das Serpentes, de Anatole Litvak, de 1948, mas por esse foi apenas indicada. A história de uma mulher que sofre um colapso e é internada, conhecendo, de dentro, o horror do sistema manicomial. De novo, Olivia fez história – o filme repercutiu tanto que deu origem a uma investigação do Congresso dos EUA que resultou em limitações quanto a internações e tratamentos com drogas. Pelo longa de Litvak, ela pode ter perdido o Oscar, mas ganhou a Copa Volpi no Festival de Veneza. Para ficar no âmbito dos festivais, foi a primeira mulher a presidir o júri de Cannes, em 1965. Só para constar – seu júri outorgou o Grand Prix (houve um período sem Palma de Ouro) a uma comédia – A Bossa da Conquista, de Richard Lester.

Atribuiu também o prêmio especial a Kwaidan/As Quatro Faces do Medo, de Masaki Kobayashi, e deu um duplo prêmio de interpretação a Terence Stamp e Samantha Eggar por O Colecionador, de William Wyler, que havia sido seu diretor em Tarde Demais. Cannes homenageou-a, e a outras mulheres, em 2015, com um prêmio de carreira – Women in Motion. Recompensas nunca faltaram – além dos Oscars, Globos de Ouro, no plural, por papeis no cinema e na TV, o National Board of Review, o prêmio do Círculo dos Críticos de Nova York, etc. Talvez o maior elogio feito a ela tenha sido o de Katharine Hepburn, outra lenda dos anos de ouro. Quando lhe pediram que conselho daria a um jovem ator ou atriz, Kate foi taxativa - “Nunca exagere. Olhe Spencer Tracy, Humphrey Bogart. Ou, melhor, observe Olivia De Havilland em Tarde Demais e verá o que realmente é uma interpretação superior.”

Sobre a lendária longevidade, vale lembrar que Olivia ultrapassou Kirk Douglas, que morreu em fevereiro, aos 103. Quando fez 100 anos, foi capa da revista Frontiers, com o título Oscar's Last Queen. A última rainha do Oscar. Olivia já brincou. “Já que cheguei aqui, quero ir até os 110.”

TRAILER DE E O VENTO LEVOU:

 


Estadão terça, 30 de junho de 2020

HUMORISTAS SE ADAPTAM AOS NOVOS TEMPOS

 

Humoristas criam programas de TV e streaming de dentro de casa

Marcelo Adnet, Paulo Vieira, Eduardo Sterblitch e Bruno Mazzeo se adaptam aos novos tempos

Adriana Del Ré, O Estado de S.Paulo

30 de junho de 2020 | 05h00

Ambientes caseiros, como o quintal e a sala, são hoje os cenários de gravação de Marcelo Adnet. Longe dos estúdios da Globo, assim como todo o elenco da emissora, por causa da pandemia, o ator e humorista transformou seu lar, no Rio, no set de Sinta-se Em Casa, disponível no Globoplay e aberto para não assinantes. Sucesso nas redes sociais e com direito à exibição de trechos no Encontro Com Fátima Bernardes, na Globo, o diário de humor de Adnet é um produto essencialmente do isolamento. “O projeto surgiu em casa, eu já ‘quarentenado’, com alguns vídeos parodiando a situação política do Brasil ou o BBB. Vídeos bem curtinhos”, diz Adnet, ao Estadão

 

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O humorista Marcelo Adnet Foto: Patrícia Cardoso
 

O Globoplay, então, propôs que ele transformasse aquelas experiências em um produto para streaming, de segunda a sexta. “Falei, beleza, vamos fazer bem simplinho, faço um minutinho, dois minutinhos de casa. Só que acontece que a crônica do Brasil ficou tão acelerada e tão louca. Também acho que foi dando certo, descobrindo aqui como se faz, e aí a gente faz bem mais do que um ou dois minutos. Temos várias complexidades no programa. Comprei um chroma que chegou ontem (semana passada), já fiz a cena do Super Queiroz estreando o chroma, em cima da mesa da sala”, conta o humorista, referindo-se ao quadro em que ele faz Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, sobrevoando a casa num colchão.

Adnet traz crônicas inspiradas em acontecimentos do Brasil e do mundo. Mas as figuras políticas que ele imita, como o presidente Bolsonaro, são seus principais trunfos. Aliás, ele vem se especializando cada vez mais nesse tipo de imitação, desde o bem-sucedido tutorial dos candidatos a presidente que fez para O Globo, em 2018. Destaque também para Olimpíada dos Gatinhos, em que registra Romarinho e Princesa – resgatados logo que o programa começou – simulando modalidades esportivas. 

Em tempos de isolamento, Sinta-se Em Casa conta com uma equipe bem reduzida. “Crio tudo: textos, personagens, onde vou filmar, o figurino. A minha mulher, a Patrícia (Cardoso), que é a única que está comigo de quarentena, grava com meu celular, e me ajuda também nas caracterizações, figurinos, direção de arte.” Remotamente, estão envolvidos editor e supervisora artística. “Somos quatro.” 

Assim como Adnet, outros humoristas têm se dedicado a projetos que caibam dentro de seus lares: mais enxutos, intimistas, sem megaprodução, usando, inclusive, recursos domésticos, como cenografia e figurino – e seguindo normas de segurança. Paulo Vieira, que encerrou no domingo a série Como Lidar?, feita no confinamento para o Fantástico, na Globo, agora se prepara para estrear com Fernando Caruso Cada Um No Seu Quadrado, no Globoplay, no dia 3 de julho. Segundo o humorista, a ideia é tentar criar uma festa, uma mesa de bar, mas com cada um na sua casa. “Tem um clima de muita descontração. Na seleção de convidados, chamamos principalmente amigos, gente com quem gostamos de conversar, que a gente acha engraçado, para compor a melhor mesa de bar do mundo”, diz Vieira, ao Estadão. “Chegamos a uma seleção de quatro amigos por episódio, e os convidamos para jogar conversa fora, falar da vida. Para cada um comer e beber na sua casa. Está sendo muito divertido gravar isso.”

Também no Globoplay, Eduardo Sterblitch está à frente do Sterblitch Não Tem Um Talk-Show: o Talk-Show, disponível sempre às sextas. Ele participa da edição do programa, além de aparecer na tela, fazendo entrevistas, e propondo games e dinâmicas com famosos e anônimos. Tudo da casa dele. O material que dá corpo à atração vem de duas lives semanais, realizadas nos perfis do GShow no Twitter e no Facebook, às segundas e terças, às 22h. “Acho que essa pode ser uma forma de a gente lidar com essa pandemia de um jeito criativo, e não ficar só consumindo a informação que chega até nós. Este momento de isolamento social também é uma oportunidade para darmos chance à nossa criatividade, de se conectar, de interagir”, diz Sterblitch, em material para imprensa.

Já o Zorra, da Globo, precisou se readaptar diante da nova situação. Com a pandemia, as gravações foram adiadas, e o programa traz, junto com as reprises, gravações feitas pelo elenco, em um aplicativo de conversas virtuais.

 

Desafios

 Outra série original da quarentena, Diário de um Confinado, escrita e protagonizada por Bruno Mazzeo e dirigida por Joana Jabace, sua mulher, poderá ser vista em várias plataformas. Já disponível no Globoplay, a produção será exibida ainda na Globo aos sábados, a partir de 4 de julho; estreia no dia 6 no Multishow; e terá pílulas durante o mês no GNT. Idealizada por Joana, é gravada no apartamento onde o casal mora com os filhos, no Rio.

Mazzeo interpreta Murilo, que, de uma hora para outra, precisa resolver toda sua vida de dentro de casa – e a distância: terapia, bate-papo com amigos, compromissos profissionais. “Tudo foi um grande desafio. Começamos a criar já tendo limitações, como a locação, um único personagem, com toda a história se passando no mesmo universo. A vida familiar e o trabalho ficaram bem misturados. A única coisa que já é feita assim, por mim, de casa, e que eu faço muito, é o texto. De resto, tudo foi novidade”, conta Mazzeo, em entrevista ao Estadão

“Foi desafiador desde a prova de figurino por chamada de vídeo, com a figurinista olhando meu armário e montando o Murilo com o meu guarda-roupa, até o gravar e editar. Gravar com os filhos aqui, com a vida real seguindo... Olha, desafio não faltou. Adaptamos a nossa casa e, ao mesmo tempo, fomos adaptando coisas no texto também para coisas que a gente tinha aqui. Não estamos nos Estúdios Globo, onde um cenário, por exemplo, é construído de acordo com a necessidade do texto. Aqui é o contrário. O que fizemos se parece um pouco como funciona o teatro, em que o ator também é o contrarregra”, completa.

Na trama, Murilo interage, remotamente, com personagens vividos por nomes como Arlete Salles, Débora Bloch, Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Lúcio Mauro Filho, Renata Sorrah. “Este foi outro grande desafio: contracenar com os colegas sem estarmos juntos, olho no olho, com o calor e a troca que existe no set.”

Mazzeo acredita que, após a pandemia, a dramaturgia vai sofrer adaptações. Que, por necessidade, as coisas vão ser um pouco menores, com produções mais íntimas. “Pra mim, foi muito importante a experiência do Diário de um Confinado. Foi uma prova de que a gente vai se adaptar e que a arte sempre vai se reinventar de acordo com sua época, sobretudo em momentos de exceção”, observa. “No nosso caso, fizemos uma dramaturgia muito íntima e, consequentemente, muito humana, pelo fato de não ter outros cenários, outros universos. Foi uma comprovação – pra gente – de que somos capazes de fazer. E que vai ter que fazer daqui pra frente. Estamos bem dentro da realidade, não só pelo conteúdo, mas pela forma como fizemos a série. E sou muito orgulhoso disso.”


Estadão segunda, 29 de junho de 2020

NOVO PIRATAS DO CARIBE

 

Margot Robbie estrelará novo 'Piratas do Caribe' centrado em mulheres

A iniciativa marca a mais recente campanha de Hollywood para refilmar clássicos com mulheres nos papéis principais

Jill Serjeant, Reuters

29 de junho de 2020 | 08h23

Os Piratas do Caribe estão se preparando para zarpar em uma direção totalmente nova, com a atriz australiana Margot Robbie estrelando uma nova versão de uma das maiores franquias de filmes da Disney.

Robbie, estrela de Esquadrão Suicida e Eu, Tonya, vai liderar um filme conduzido por mulheres dos Piratas, que está nos estágios iniciais de desenvolvimento, disse uma fonte com conhecimento do projeto na sexta-feira, 26.

 
 
A atriz Margot Robbie
A atriz Margot Robbie  Foto: Mike Blake/ Reuters
 

A iniciativa marca a mais recente campanha de Hollywood para refilmar clássicos com mulheres nos papéis principais, incluindo Caça Fantasmas de 2016, estrelado por Melissa McCarthy, e Oito Mulheres e um Segredo de 2018, com Sandra Bullock e Cate Blanchett.

Nenhum detalhe da trama estava disponível, mas a história está sendo escrita pela roteirista britânica Christina Hodson, de Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa, e produzida por Jerry Bruckheimer, disse a fonte.

Baseado em um passeio nos parques temáticos da Disney, os cinco filmes Piratas do Caribe, estrelados por Johnny Depp como Jack Sparrow, arrecadaram 4,5 bilhões de dólares nas bilheterias mundiais desde 2003.


Estadão domingo, 28 de junho de 2020

MILTON NASCIMENTO: É A NOSSA FORÇA QUE TÁ AÍ

 

'É a nossa força que tá aí', diz Milton Nascimento sobre a união contra o racismo

Neste domingo, 28, artista faz a primeira live transmitida em seu canal no YouTube

Entrevista com

Milton Nascimento, cantor e compositor

Renato Vieira, O Estado de S.Paulo

27 de junho de 2020 | 05h00

“Todo artista tem de ir aonde o povo está”, diz a letra de Nos Bailes da Vida, um dos grandes sucessos de Milton Nascimento. Mantendo-se fiel a essa convicção, o cantor e compositor recorre ao único espaço em que os admiradores de sua obra podem vê-lo nesses tempos de pandemia, com teatros e casas de shows fechados: a internet. Por conta disso, amanhã não será um domingo qualquer. A partir de 18h30, Milton faz a primeira live transmitida em seu canal no YouTube, interpretando canções escolhidas pelo público. 

 

Milton Nascimento está resguardado em casa, na cidade de Juiz de Fora
Milton Nascimento está resguardado em casa, na cidade de Juiz de Fora Foto: Augusto K. Nascimento

 

O estímulo para fazer a live veio do filho do artista, Augusto. Resguardado em Minas, na cidade de Juiz de Fora, Milton conta que passa o tempo tocando violão, vendo filmes e programas de TV. Recentemente, teve uma bela surpresa ao ler pela primeira vez o roteiro de Jules e Jim - Uma Mulher Para Dois (1962), de François Truffaut. Foi depois de ver sucessivas exibições do filme, ao lado do amigo Márcio Borges, que ele decidiu ser compositor.

 Mas a quarentena de Milton não é só de contemplação das mais diversas formas de arte. Nesta entrevista por e-mail ao Estadão, ele fala sobre sua relação com a tecnologia, contesta a conduta do governo federal em relação ao controle do novo coronavírus e afirma que a união contra o racismo que estimulou protestos pelo mundo precisa continuar. 

Como surgiu a ideia de fazer essa live?

Como a maioria das coisas que tenho feito ultimamente, essa também surgiu de conversas com meu filho Augusto, sempre aqui em casa, em Juiz de Fora. Tudo foi pensado sem muita cobrança de tempo e tal, e aos poucos nós fomos amadurecendo essa ideia. Estamos organizando todo esse processo com somente o necessário. Somando os músicos, acho que toda equipe não deve passar de dez pessoas. E todos vão fazer os exames antes de entrar aqui em casa. O momento da pandemia é terrível, e temos de cumprir os protocolos de saúde com total seriedade. Então, levando isso em conta, vamos fazer de tudo para que esse show seja especial.

O que pode adiantar da live, você estará acompanhado por algum músico ou será voz e violão? Já definiu o repertório? Os fãs poderão pedir músicas?

Chamamos o nosso maestro Wilson Lopes para tocar os instrumentos de cordas, violão, guitarra. E possivelmente teremos um pianista também. E o repertório vai ser escolhido inteiro pelo público. Numa produção como essa, que vai ser vista por pessoas de diferentes lugares e idades, não tem jeito, a gente tem de cantar o gosto e a vontade do povo mesmo. Estamos fazendo uma campanha nas nossas redes e o pessoal é que vai escolher. Acho que chegamos a uma lista de 20 e poucas músicas, Clube da Esquina 2, Nada Será Como Antes, Tudo Que Você Podia Ser, Bola de Meia, Bola de Gude, enfim, só entraram os pedidos de fãs. Mas pode ser que tenha alguma surpresa.

Há postagens regulares nas suas redes sociais e recentemente em um vídeo você agradeceu aos 700 mil seguidores no Instagram. Como é sua relação com a tecnologia?

Olha, depois da minha mudança para Juiz de Fora, pela proximidade maior com meu filho, acho que eu me aproximei mais. Antes disso, nem celular eu tinha, e agora já tem um tempo que tenho um com meu número pessoal. E recebo ligações de voz e também de vídeo de alguns amigos, e também tenho ligado bastante para eles. É uma coisa que eu nunca fiz antes, além de também acompanhar mais de perto o lance das minhas redes e tal.

Como tem sido seu cotidiano neste momento em que é preciso se resguardar?

Meus últimos cento e poucos dias têm sido de quarentena máxima. A gente precisa entender um negócio, muita coisa depende dos nossos atos. O distanciamento social, o cuidado com o outro, o uso da máscara, tudo isso é importante. Ainda mais agora, que o pessoal aí parece não saber direito o que tá fazendo, né? Imagina só, o Brasil tá no ranking dos países com mais mortes no mundo e a gente não tem nem ministro da Saúde.

Qual composição sua você acha que tem a ver com este momento? Por quê? 

Nem preciso pensar muito, é a parceria com meu irmão Ronaldo Bastos, Nada Será Como Antes.

Em entrevista recente ao ‘Estadão’, João Bosco disse que tudo que ele tem agora, em meio à pandemia, é o violão. Já Gilberto Gil disse que não conseguiria compor nada satisfatório neste momento. E você, tem se apegado ao violão ou o atual estado das coisas o afastou do instrumento em seu cotidiano?

Meu negócio aqui em casa é filme, música, violão e televisão, não muito nessa ordem, mas é por aí... E essa semana eu terminei um livro com o roteiro na íntegra de Jules e Jim, que eu nunca tinha lido. Achei sensacional poder ler o texto desse filme que tanto mudou minha vida.

Você foi um artista muito importante e presente na época das Diretas Já, com canções como ‘Coração de Estudante’ e ‘Nos Bailes da Vida’ servindo de trilha sonora do movimento. Qual sua avaliação do atual momento político, em que as pessoas estão divididas e há quem peça intervenção militar?

Além de tudo isso que estamos enfrentando com a pandemia, ainda temos de lidar com coisas desse tipo. Como eu disse antes, é uma situação terrível. E é muito importante que todos falem disso. O Brasil vive hoje um colapso. Todos os estudos científicos são completamente ignorados. A ciência é ignorada. E é ignorada justamente por quem deveria nos orientar. Temos um governo que não confia na ciência e isso é absurdo. Tenho dito isso em várias entrevistas: voltamos à idade média. A tragédia só aumenta, o abandono é geral. O panorama é de terror.

Após a morte de George Floyd nos Estados Unidos, protestos contra o racismo eclodiram nacionalmente e em outros países. Como você vê essas manifestações e a questão do racismo no Brasil?

É a nossa força que tá aí, eles acharam que passaria assim, sem nada, se enganaram. Agora é o seguinte, essa nossa união precisa continuar. A hora é agora. Na Missa dos Quilombos (celebração religiosa criada por dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, com música de Milton), tem uma coisa que o dom Pedro Casaldáliga falava, e que é a melhor definição deste momento: “Está na hora de cantar o Quilombo que vem vindo, está na hora de celebrar a Missa dos Quilombos, em rebelde esperança, com todos os negros da África, os afros da América, os negros do mundo, na aliança com todos os pobres da Terra”.


Estadão sábado, 27 de junho de 2020

MENINO DE DEZ ANOS COMOVE MÚSICOS COM CONTRABAIXO DE PAPELÃO

 

 

Menino de dez anos comove músicos com contrabaixo de papelão

'Tive a ideia e fui juntando papelão vários meses', conta o garoto, que provocou repercussão na internet

Tiago Queiroz, O Estado de S.Paulo

26 de junho de 2020 | 05h00

O pequeno Kemuel Temóteo da Silva, de 10 anos de idade, comoveu muitos músicos com um vídeo publicado na conta de uma rede social de Israel, seu irmão mais velho, de 14 anos. A gravação mostra o menino com seu contrabaixo, com um belo sistema de captação de som, um braço bem construído, tarraxas consistentes e cordas tinindo. O menino na gravação explica o funcionamento do instrumento, mostra a caixa elétrica contida no interior do aparelho, os botões que modulam os graves e agudos. Um detalhe nesse instrumento, porém, o diferencia de todos os outros: ele é todo de papelão, construído a partir da imaginação do menino.

 

Kemuel
Kemuel, 10, construiu um contrabaixo de papel e fez sucesso nas redes sociais Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O garoto produziu seu baixo de papelão como um verdadeiro luthier. “Tive a ideia e fui juntando papelão vários meses. O corpo, eu fiz primeiro, depois fiz o braço. Colei os dois do jeito que se fabrica”, referindo-se ao modo como os instrumentos reais são produzidos. Com o decorrer dos meses, percebeu que, se colasse alguns peças de Lego atrás do braço de seu baixo, este ficaria melhor para “tocar”. “Eu gosto do som grave, é um som muito bonito, e o mais importante nele é essa parte aqui ó, dentro dele, a caixa elétrica, os captadores”, diz, com propriedade, o menino. A gravação do vídeo foi feita em agosto de 2019, mas sua história continua reverberando pelas redes digitais. 

Kemuel mora com a família desde o ano passado em Barreiro, uma cidade portuguesa pertencente ao distrito de Setubal. Seu pai, Roséliton Temóteo da Silva, de 39 anos, trabalhava duro para o sustento da família em diversas atividades, em Cachoeiro do Itapemirim. Motorista particular e polidor de mármore e granito eram algumas das suas ocupações. “Morávamos em um dos bairros mais pobres e violentos de Cachoeiro, o Zumbi”, recorda-se a mãe do garoto, Priscila Temóteo da Silva, de 34 anos. 

A entrevista foi feita via um aplicativo de conversas online e contou com a presença dos pais e do irmão de Kemuel. Priscila está grávida de seis meses do terceiro filho, que já tem nome, Emanuel. Os nomes, todos bíblicos, têm uma razão de ser: a família é evangélica. Roséliton era pastor da Assembleia de Deus no Brasil. Nos cultos, arriscava tocar algumas notas no contrabaixo. “Minha família tem toda uma relação com a música e todo mundo tem um ouvido apurado”, diz o pai. O que pode explicar essa paixão do menino para o instrumento de quatro cordas. O irmão mais velho, Israel, toca bateria.

O vídeo, publicado em agosto de 2019 no YouTube, acabou compartilhado por diversos canais de música em várias plataformas de redes sociais, como o “Coisa de músico” e “Baixista Sincero”, e gerou um movimento espontâneo para doação de um instrumento “de verdade” para o garoto. A família recebeu mensagens de muitas partes do mundo, pessoas dispostas a ajudar de alguma maneira. “Vieram mensagens da França, Espanha, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal, Argentina, Itália. Era um tal de colocar no Google tradutor pra ver o que o povo estava escrevendo”, lembra o pai. “Muita gente, muitas lojas, entraram em contato conosco para doarem um baixo para o Kemuel, mas, quando ficavam sabendo que estávamos em Portugal, tudo ficava mais complicado.” Um músico amador – que prefere não se identificar –, residente em Portugal e chef de cozinha, levou o instrumento até a família.

O músico recebeu o vídeo através de um grupo de WhatsApp de baixistas brasileiros, o “Baixo Rio”. “Apesar do nome, têm baixistas do Brasil inteiro nesse grupo. Um dos meus amigos me mandou uma mensagem dizendo que o Kemuel morava aqui em Portugal. Fui atrás e consegui o contato com a família”, conta.

As contas de Instagram “Baixista sincero” e “Coisa de Músico” promoveram vaquinhas para comprar um amplificador para o menino, além de cordas novas para o baixo. O dinheiro ajudou em outros itens além dos musicais. “O tênis que ele tinha era o único e estava rasgado”, conta o pai, que usou parte do valor para um calçado novo. 

A família vive com dificuldades. O pai trabalhou alguns meses na construção civil, e depois se estabilizou trabalhando como empregado em uma empresa de jardinagem. A mãe trabalha como faxineira em um ginásio que, em Portugal, significa academia de ginástica. Nesse período de isolamento, todas as intempéries inerentes aos imigrantes se intensificaram para a família, mas o casal não se arrepende de ter deixado o Brasil. “Pensava na questão da segurança. Morei, um pouco antes de vir para cá, em Vila Velha, no Espírito Santo. Violento demais. No Brasil, o filho da gente vai para escola e a gente não sabe se ele volta”, diz. 

Além do baixo e da vaquinha, uma escola de música de Registro, no interior de São Paulo, entrou em contato na semana passada com Roséliton oferecendo um curso gratuito via online para Kemuel – sinal de que o vídeo não para de repercutir. O professor, Fernando Nogueira, músico há vinte anos e com formação erudita, é enfático: “Fiquei bem impressionado. Ele tem ritmo, um ouvido apurado. O Kemuel é um menino musical”.


Estadão sexta, 26 de junho de 2020

MORRE SUZANA AMARAL, CINEASTA DE A HORA DA ESTRELA

 

Morre Suzana Amaral, de 'A Hora da Estrela'

Cineasta, internada por problemas respiratórios, deixa um legado precioso de filmes baseados em obras literárias

Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo

25 de junho de 2020 | 20h05

Morre Suzana Amaral, a cineasta dos grandes autores
Suzana Amaral, na época em que dirigiu 'Uma Vida em Segredo' Foto: Tomás Rezende

Suzana Amaral foi uma das maiores cineastas do Brasil, a diretora que conseguiu transpor para o cinema obras literárias de extrema complexidade, como A Hora da Estrela (1985), baseado no livro de Clarice Lispector, que garantiu à atriz Marcélia Cartxo o prêmio de melhor interpretação no Festival de Berlim de 1986. A adaptação manteve fidelidade ao texto original, mas acrescentou maior dramaticidade à história da jovem nordestina Macabéa, orfã de pai e mãe que se muda para São Paulo para ser datilógrafa e acaba atropelada por um carro de luxo. Só mesmo a sensibilidade de uma realizadora com uma experiência de vida singular (ela criou nove filhos) para tratar com sobriedade e respeito um clássico da literatura brasileira.

Ousada, Suzana também adaptou obras contemporâneas consideradas "intransponíveis', como Hotel Atlântico (2009), sobre um homem angustiado rodeado pela presença da morte desde que testemunha o transporte de um cadáver num hotel. O filme amplia o universo do romance de João Gilberto Noll, funcionando como uma alegoria da abertura política de um país dominado pela ditadura. A diretora ainda recorreria à grande literatura brasileira para filmar  Uma vida em segredo, em 2001, baseada na obra homônima de Autran Dourado.


Estadão quinta, 25 de junho de 2020

ELZA SOARES: SEREMOS MAIS LEVES

 

Elza Soares: 'Quando soubermos que não somos nada, e que somos todos iguais, seremos mais leves'

Cantora que chega aos 90 anos clamando pela volta do amor a um país "tomado pelo ódio" lança dois singles, um inédito e uma regravação de 'Juízo Final', de Nelson Cavaquinho

Julio Maria, O Estado de S.Paulo

25 de junho de 2020 | 05h00

Há dias em que Elza Soares nem nasceu ainda. Está no ventre de Dona Rosária, sentindo o calor do único lugar seguro que diz lembrar ter estado antes de tudo clarear, os ruídos tumultuarem sua paz e ela vir ao mundo mais cantando do que chorando, iniciando uma contagem que daria, mais precisamente no próximo dia 22 de julho, 90 anos. “Será mais uma primavera”, ela prefere dizer, não por rejeitar os números, mas por temer as ideias que eles trazem. “Há dias em que estou no ventre. Outros que já nasci há tempos e outros ainda que acabei de nascer. Vou vivendo assim. Estou vivendo os melhores dias da minha vida.”

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Elza em seu apartamento, no Rio Foto: Pedro Loureiro
 

Elza está em seu apartamento, no Rio, cuidando-se para não contrair o coronavírus e, ao mesmo tempo, indignando-se com as massas de cariocas que vê pela TV caminhando por praias e ruas. “Essa desobediência me entristece muito.” Ela viu suas redes sociais se encherem de pessoas postando fotos a seu lado no dia em que muitos comemoram seu aniversário, 23 de junho, terça passada, mas que, na verdade, se trata apenas da data que consta em seu documento de registro. “Não importa”, ela diz. Elza está de novo no ventre, algo que sempre sente quando tem algo a anunciar.

 Sua voz está em dois singles prontos para serem lançados, depois do anúncio de um filme sobre sua vida, sem prazos de finalização, em que a atriz Taís Araújo faria o papel principal. O primeiro single, Juízo Final, de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, sobe nas plataformas amanhã, 26. A mão dos músicos que estão ali – Pupillo (bateria), Fernando Catatau (guitarra), Guilherme Monteiro (guitarra), Sidão Santos (baixo), Marcus Ribeiro (celo), Bruno Queiroz (efeitos) e Felipe Ventura (violino), com produção de Rafael Ramos – deu peso e um contexto roqueiro para o samba de Nelson. Elza diz que era o momento de trazer de volta esses versos. “O sol há de brilhar mais uma vez / A luz há de chegar aos corações / O mal será queimada a semente / O amor será eterno novamente.” Uma canção lançada em 1973 que lhe parece urgente. “A única coisa que me dá medo é o ódio. Meu Deus, por que nos tornamos assim? O que houve com o nosso País, meu Deus?”, ela diz, com a voz embargada. “O Brasil sempre foi um país do amor, e as pessoas estão se esquecendo disso. De onde pode ter saído tanto ódio?”

A outra faixa já pronta, também pela Deck, é a inédita Negão Negra, de Flávio Renegado e Gabriel Moura, cantada em parceria com Renegado e que virá em julho. A plataforma Spotify preparou três novas playlists sobre a cantora: Elza Soares Samba, Elza Soares Amor e Elza Soares Protesto, reunindo canções de sua trajetória dos anos 60 até hoje. Uma categorização que faz lembrar que, nos últimos anos, mais precisamente desde 2015, quando lançou o elogiado A Mulher do Fim do Mundo, e depois com Deus é Mulher (2018) e Planeta Fome (2019), Elza nunca mais sambou. Sua musicalidade, sorvida pelos recentes produtores, serviu a uma canção beligerante e denunciativa, envolvida no contexto de um recrudescimento das questões raciais que, muito antes de recrudescerem, a perseguem desde o nascimento. Por isso, a denúncia feita por sua voz é um assombro de estremecer fantasmas racistas. “Coitadismo? Onde?”, diz, sobre as declarações do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, de que as alegações de racismo no País seriam frutos de um vitimismo do povo negro. “Precisamos gritar e muito para essas pessoas saberem que racismo existe, é forte e mata tanto quanto o vírus. Ouvir isso é um absurdo.”

E a outra Elza? A dos sambas e das gafieiras, a que gravou Se Acaso Você Chegasse em um álbum espetacular de 1968 com o baterista e compadre Wilson das Neves, feliz, sacolejante, trompeteando os vocais e improvisando como uma jazzista, essa Elza não volta mais? Ela diz que não. “Não volta. Estamos vivendo uma época em que isso seria impossível. Aquilo é lindo, mas está lá, já foi feito.” Ela sabe que fez uma escolha, abrindo mão muitas vezes da própria canção para se tornar mais do que uma cantora, uma mensagem, um veículo. “Vale a pena sim. Seria impossível calar agora, é preciso fazer isso.” Mas ela cala quando a pergunta é sobre como avalia a gestão do atual presidente, Jair Bolsonaro. Cala como que para falar pelo silêncio. “Não, não quero falar disso. Coisas boas virão. Prefiro falar de mim.”

Elza diz que passa horas de sua quarentena ouvindo música. Conta que segue consumindo muito João Gilberto, Caetano Veloso, a quem chama de “o homem que me faz feliz”, Chico Buarque, “meu amor, meu xodó”, e, das gerações mais jovens, Negra Li. Fala que continua se inspirando em Chet Baker e Ella Fitzgerald, o que a faz sentir uma saudade imensa do palco, onde sua alma fica em festa.

A pergunta então é se Elza, levando a voz para onde sempre levou, usando os recursos das mulheres da música negra norte-americana dos anos de 1960, como os drives distorcidos de Etta James, e improvisando sobre escalas de blues como uma Marva Wright de New Orleans, se ela, Elza, nascida em Moça Bonita, Bangu, empregada doméstica ainda adolescente antes de ser descoberta por Moreira da Silva cantando no Texas Bar, se ouviu blues ou jazz na adolescência. “Nunca ouvi, o blues não chegava a mim. Mas eu carregava latas d’água na cabeça gemendo de dor, e esse era o meu blues. O som da dor que eu carrego até hoje.”

 

Elza Soares e Mané Garrincha, em foto de 1971
Elza Soares e Mané Garrincha, em foto de 1971 Foto: Acervo Estadão

Ela não gosta da palavra saudade, como se fosse um gatilho a trazer a tristeza de suas maiores perdas. O filho, a mãe, Garrincha, o amor de sua vida. Mas diz só dizer essa palavra para falar de 1970, quando o Brasil voltou do México como o tri campeão mundial, há 50 anos. “Éramos felizes e não sabíamos”, ela diz, provavelmente com memórias que impediam sua felicidade absoluta, imagens de Garrincha sofrendo pelo alcoolismo, e de si própria, amargando uma perseguição pública e por parte da imprensa. Elza ficou com Garrincha quando ele ainda era casado, e se tornou uma vilã declarada, como conta em sua biografia, escrita pelo jornalista Zeca Camargo. “Eu estava em uma loja na Barata Ribeiro com as crianças e sem o Mané, comprando roupas para os meus filhos irem ao colégio. De repente, eu percebi uma gritaria do lado de fora e, quando vi, já tinha gente jogando pedra na vitrine, balde d’água pela porta da loja, uma confusão. Queriam minha cabeça, foi horrível. Tivemos de sair pela porta dos fundos.”

Antes de se tornar cantora na noite, para o desespero da mãe, Elza trabalhava em uma casa de família. Assim que conseguiu um palco, o do Texas Bar, vivia um drama para conseguir ser mãe ao mesmo tempo. “Eu cantava até as 4h da manhã, pegava um par de ônibus para voltar para casa e, quando chegava, as crianças estavam acordando para irem para escola – era o único momento do dia em que eu ficava com meus filhos”, diz, na biografia.

Ainda assim, com tudo o que poderia devolver em amargura ao mundo que sempre a maltratou, Elza diz que tudo isso, na verdade, a amaciou. “A vida me bateu bastante, nunca me ofereceu nada com facilidade. Mas, engraçado, isso tudo me deixou mais leve.” Ela diz que a chave para se vencer o racismo, mais do que investir em educação ou em qualquer estratégia social, partiria de uma pergunta que todas as pessoas deveriam fazer a si mesmas. Afinal, o que me faz ser melhor do que alguém? A cor da minha pele? “Quando soubermos que não somos nada, e que somos todos iguais, seremos mais leves, teremos mais amor e voltaremos a ter esperança.”


Estadão quarta, 24 de junho de 2020

TUBARÃO: FILME DE STEVEN SPIELBERG COMPLETA 45 ANOS

 

'Tubarão': A 'febre' do filme de Steven Spielberg completa 45 anos

Quando estreou 'Encontros Imediatos de Terceiro Grau, o diretor já fazia sucesso aos 28 anos

Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo

23 de junho de 2020 | 09h07

A estreia do filme Tubarão nos Estados Unidos completa 45 anos neste mês de junho. Naquela época, em 1975, no início do verão do hemisfério Norte, o filme provocou o que o próprio Steven Spielberg, em sua biografia – escrita por Joseph McBride, pela University Press of Mississippi -, define como 'febre de tubarão'. O sucesso foi instantâneo, logo seguido, em 1977, por outro estouro de bilheteria – Encontros Imediatos do Terceiro Grau. Spierlberg, aos 28 anos, tornou-se o jovem Midas de Hollywood.

Rememorando – a tranquilidade da praia de Amity é subvertida pelo grande tubarão branco. A primeira vítima é uma bela mulher que mexe, voluptuosamente, as pernas dentro d' água. O efeito erótico é intencional. Três homens caçam a fera dos mares, os personagens de Richard Dreyfuss, Robert Shaw e Roy Scheider.

 
 
Em 'Tubarão', a primeira vítima do filme é uma mulher Foto: UNIVERSAL STUDIOS
 

Como Dreyfuss explica ao prefeito, “Estamos lidando com a máquina de matar perfeita. É um milagre da evolução. Tudo o que essa máquina faz é nadar e comer com seus dentes afiados tudo o que cruza seu caminho.” A McBride, Spielberg contou que, desde o início, o cinema lhe permitiu exorcizar seus medos. “O medo foi sempre muito real para mim. Então, o que fiz foi me livrar de meus medos, transferindo-os para os outros – o público.”

Ao ler o livro de Peter Blenchly, ele imediatamente percebeu seu potencial. “Filmei movido pela hostilidade. Tive medo e quis revidar.”

Mas ele admite que o tempo todo tinha dúvidas. Joe Alves, que trabalhou na produção, expressou o sentimento comum. Ao ver uma versão não finalizada, achou o tubarão, propriamente dito, ridículo. “Fazia uns barulhos esquisitos, a cor deixava a desejar e dava para perceber quando era (um tubarão) mecânico.” O medo de Spielberg era que o público risse. O teste de público ocorreu em Dallas, em 26 de março. As pessoas gritavam de medo - nas horas certas. Riam, quando era para rir. Spielberg relaxou.

Desde o começo, ele sabia o filme que queria fazer. Assustador. Mas não conseguiu convencer o diretor de fotografia Vilmos Szigsmond, que o advertiu sobre a dificuldade de filmar no mar. Spielberg imaginava um filme realista, quase documentário. Szigsmond caiu fora, foi substituído por Bill Butler.

Spielberg havia se iniciado com o curta Amblin, em 1969. Seguiu carreira na TV. Em 1971, Encurralado, o duelo entre um homem na direção de seu carro e um caminhão, foi considerado tão bom que teve lançamento nos cinemas. Em 1974, o primeiro longa para cinema de Spielberg, outra história de perseguição – com Goldie Hawn – passou em Cannes, Louca Escapada. E veio Tubarão. Spielberg queria que o tubarão fosse, no mar, o que o caminhão de Encurralado foi na estrada. Com Louca Escapada, ele iniciou a parceria com o compositor John Williams. Por pouco não romperam no segundo filme juntos.

Williams teve de convencer Spielberg de que o tubarão era um assunto muito sério - Spielberg, seguindo uma lição de Alfred Hitchcock, que dizia que filmava as cenas de assassinatos como se fossem de amor, e vice-versa, encarava o terror com humor, mesmo com risco de ser ridículo. Quando o compositor lhe apresentou sua proposta, um motivo musical de quatro notas, primitivo em sua força e simplicidade, Spielberg teria rido. “Não dá!”, teria dito. Queria algo mais melódico para o tubarão. Williams retrucou que não havia jeito. O filme não era um romance. Convenceu o diretor dizendo que um popcorn movie aterrotizante não poderia ter uma trilha melódica. Estava certo.

A trilha foi essencial no sucesso. John Williams ganhou o Oscar da categoria, depois vieram mais três – dois por filmes de Spielberg, E.T, o Extraterrestre e A Lista de Schindler, mais o de Star Wars, de 1978. Mas, antes de tudo isso, ele já era um compositor premiado – recebeu seu primeiro Oscar, em 1972, pela canção original e trilha adaptada de O Violinista no Telhado. A parceria com Spielberg continua até hoje. Tubarão estreou nos EUA em 20 de junho de 1975. No Brasil, seis meses mais tarde, em 25 de dezembro.


Estadão terça, 23 de junho de 2020

ANASTÁCIA, A RAINHA DO FORRÓ: AOS 80 ANOS, LANÇA E COMEMORATIVO

 

Aos 80 anos, Anastácia, a rainha do forró, lança EP comemorativo

Produzida por Zeca Baleiro e Adriano Magoo, obra tem participações especiais e música inédita de Dominguinhos

Danilo Casaletti, especial para o Esta, O Estado de S.Paulo

23 de junho de 2020 | 05h00

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Aos 80 anos, Anastácia lança novo EP. 

Quando começou a se apresentar em concursos de calouros, ainda na adolescência, Anastácia costumava ouvir que mulher não tinha fôlego para cantar forró. Tinhosa, como gosta de se definir, deu de ombros. Queria ser artista. “Eu pensava: se mulher tem fôlego para parir, também tem para cantar forró”, diz ela, que agora completa 80 anos, mais de 60 de carreira e, ainda com fôlego, lança um EP comemorativo com cinco canções inéditas – uma delas criada com Dominguinhos, com quem foi casada – e participações de novos e velhos amigos.

Anastácia, embora diga que componha todos os dias, confessa que não tinha certeza se lançaria algo para comemorar a data. “Quem ainda liga para disco?”, pergunta, ignorando as plataformas digitais, que desde 29 de maio, um dia antes de seu aniversário, abrigam Anastácia 80 – Lado A, trabalho produzido por Zeca Baleiro e Adriano Magoo. 

 

O projeto é maior do que as canções que já foram divulgadas. Porém, as gravações tiveram de ser interrompidas por conta da pandemia do novo coronavírus e serão retomadas assim que tudo voltar ao normal.

Nesse Lado A, Anastácia assina duas parcerias com Baleiro: o baião-canção O Sertão Está Chorando, cantada em dueto com Amelinha, e o xote Venha Logo, com participação de Chico César. “Ela escreve o tempo todo, a mulher é danada (risos)”, diz Baleiro, que afirma que, ao comandar o trabalho, se preocupou em manter a essência da artista no forró, mas com toque de modernidade nos arranjos.

Venceu a Solidão, com vocal de Mariana Aydar e Mestrinho na sanfona, é parceria inédita de Anastácia e Dominguinhos, com quem ela foi casada entre 1967 e 1978. A melodia estava com a compositora, que colocou letra quando Dominguinhos estava doente – ele morreu em 2013, aos 72 anos, vítima de um câncer de pulmão. “Pensei na solidão que uma doença traz, ele naquele hospital. Gravei só agora”, conta Anastácia, dizendo ainda ter outras músicas inéditas do antigo companheiro guardadas, esperando por letra. 

Poderia ter mais, mas colocou fogo em várias fitas cassetes quando o casamento terminou. “Na hora da raiva...”, lamenta. Baleiro conta que a emoção foi grande ao gravar a faixa. “A música é linda e emocionante. Mariana caiu no choro. Foi comovente para todos nós. Dominguinhos é um melodista único”, diz. 

A faixa A Saudade Me Trouxe Pelo Braço, que Anastácia assina com a filha, Liane, tem a participação de um antigo companheiro de sanfona e estrada: o alagoano Hermeto Pascoal, que era o sanfoneiro da Rádio Jornal do Commercio, do Recife, e a acompanhava quando ela tinha 14 anos de idade. Outra que ela fez com a filha é Contando as Estrelas, que gravou acompanhada de Roberta Miranda. “Foi uma festa receber todos esses convidados. Uma verdadeira comemoração”, comemora a compositora.

Zeca Baleiro concorda que é preciso festejar a data. “Eu sou suspeito porque sou muito fã, acho Anastácia imensa. Vamos celebrá-la – em vida – de preferência”, diz o músico, que conta ter conhecido o trabalho da compositora por meio das gravações de Gilberto Gil – ele gravou Só Quero um Xodó e Tenho Sede, ambas dela e de Dominguinhos. Hoje, são amigos e parceiros em cinco canções.

O Lado B – ainda sem previsão de lançamento – terá as participações de Alceu Valença, Lenine, Geraldo Azevedo, Almério, entre outros.

Rainha do forró. Nascida no Recife (PE), Lucinete Ferreira, seu nome de batismo, tornou-se Anastácia quando chegou a São Paulo, aos 20 anos, junto com a família. Conciliando o desejo de cantar com o emprego na companhia aérea Vasp, gravou o primeiro LP, que saiu com o título de Anastácia no Torrado. Nem ela sabia quem era a pessoa do título. “Um amigo me disse que havia ouvido o disco, que era minha voz, minha foto, mas a nome da cantora era Anastácia. Corri para tirar a história a limpo”, diverte-se hoje, esclarecendo que a troca foi obra de seu primeiro empresário, o Palmeira, que achava seu nome de batismo muito comum. “No Nordeste tem muito nete. Lucinete, Marinete, Ivonete...”

De lá para cá, Anastácia atuou como locutora, radialista, atriz e comediante, e ganhou o epíteto de Rainha do Forró. Mas foi como compositora, gravada por nomes como Noite Ilustrada (o primeiro a gravar), Luiz Gonzaga (seu padrinho musical), Angela Maria, Gilberto Gil, Gal Costa e Nana Caymmi – e de sua parceria com Dominguinhos –, que ela se consagrou. Ajudou a difundir a música nordestina no Sudeste, rompeu a barreira do machismo e, ao lado de Marinês, Almira e Clemilda, abriu o caminho para nomes como Elba Ramalho, nos anos 1970, e Lucy Alves, mais recentemente. “Valeu a pena. Faço o que gosto. Sou muito grata por tudo. Tenho orgulho de ter nascido no Nordeste, no Brasil”, diz, com entusiasmo.

E, como o fôlego ainda está em cima, Anastácia vai lançar mais uma gravação. Trata-se de Meu Santo É Brasa – que está em pré-venda na Amazon (com lançamento para 26 de junho) –, que ela fez com Jackson do Pandeiro nos anos 1980, mas esqueceu. “Há alguns anos, Lucy Alves pediu autorização para gravá-la, e pensei: nunca fiz música com Jackson. Mas não é que era minha mesmo?”, ri, explicando que tem quase 800 músicas. “Às vezes, ouço na voz de outro artista e me pergunto: fui eu que fiz essa?”, conta. Agora, é sua vez de cantar a composição que, oportunamente, fala das festas e santos juninos. 

AMOR E MÚSICA

Ao lado de Dominguinhos, Anastácia fez quase 250 canções. A pedido do Estadão, ela contou como nasceram duas delas, que viraram clássicos da música brasileira nas vozes de outros artistas.

De Amor Eu Morrerei  

(Gal Costa – 1973)

“Uma das nossas primeiras parcerias. Estava em um hotel em Aracaju, em 1967. Dominguinhos, no quarto da frente, tocando sanfona. Na hora, peguei o papel e fiz a letra para aquela melodia. Bati no quarto dele para mostrar. Era uma declaração de amor. Deu certo. Foi aí que nossa história começou.”

Só Quero um Xodó 

(Gilberto Gil – 1973)

“Fizemos essa música para a Marinês gravar, em ritmo de arrasta-pé. Foi ela que lançou. Depois, veio a gravação de Gil e foi aquele sucesso enorme. Levou o nosso trabalho para um público maior. Essa canção já tem mais de 400 gravações no mundo todo. É um orgulho para mim.”


Estadão segunda, 22 de junho de 2020

TIETA CHEGA À PLATAFORMA DIGITAL

 

'Tieta', sucesso de 1989, chega à plataforma digital

Trinta anos depois, Beth Faria assiste à novela ao lado da neta e diz que "trama segue atual"

Pedro Venceslau, O Estado de S. Paulo

22 de junho de 2020 | 05h00

A  atriz Beth Faria, protagonista da novela 'Tieta', baseada em Jorge Amado: feminista
Foto: GIULIA BUTLER

'Tieta': novela teve diferenças com livro e causou atrito entre Betty Faria e Sonia Braga

Beth tinha 42 anos quando interpretou a “cabrita” que volta triunfante para Santana do Agreste, 25 anos depois de ser escorraçada de sua cidade natal, na trama inspirada no livro de Jorge Amado. O elenco era um dream team: Joana Fomm, José Mayer, Reginaldo Faria, Yoná Magalhães, Armando Bógus, Ary Fontoura, Lidia Brondi e outros.

 A abertura da novela também fez história. Assinada por Hans Donner, misturava elementos da natureza com a beleza da mulher, representada por Isadora Ribeiro, tendo como pano de fundo as dunas de Mangue Seco, na Bahia. Tieta já havia sido exibida no Vale a Pena ver de Novo, em 1994, e no canal Viva, em 2017. 

“Tieta representa a derrubada de todos os preconceitos. O povo está se identificando com ela agora. Todo dia vejo coisas na internet. Um trabalho que fiz há 30 anos hoje está trazendo coisas boas”, disse Beth Faria ao Estadão. A novela tinha uma pegada feminista no momento em que o Brasil respirava a democracia e a liberdade no ano da primeira eleição direta para presidente após a ditadura militar. 

“Nunca me considerei uma feminista, mas li muito cedo, na adolescência, aos 16 anos, O Segundo Sexo, da Simone Beauvoir. Aquilo deu uma abertura na minha cabeça”, disse a atriz. A força feminina de Tieta ajudou a mobilizar o público, que pressionou a Globo a incluir a novela no cardápio de reprises de sua plataforma de streaming.

Em tempo de #metoo e explosão movimentos contra o assédio, Beth Faria disse que existe um “machismo estrutural” na televisão. “O assédio não foi inventado agora. Não sofri assédio, mas passei por muitos. Se eu disser que sofri me coloco como vítima, e eu não gosto. Passei por assédios e sobrevivi. As atrizes mais jovens hoje enxergam o assédio de outra forma. Passávamos por assédios, mas tínhamos vergonha de falar.” 

Cilada. Em sua quarentena, Beth Faria tem dialogado frequentemente com os colegas da classe artística, que estão mobilizados para tentar evitar o colapso do setor audiovisual. Segundo ela, por volta de 350 mil pessoas estão desempregadas, e a crise antecede a pandemia do coronavírus. “Parou tudo há dois anos e meio. O cinema brasileiro precisa destravar. Houve uma desmoralização dos artistas e do cinema. A população começou a ter antipatia pelos artistas.” 

E por falar em artistas, um tema é inevitável. O que vai ser da Secretaria Nacional de Cultura sob comando de Mário Frias? Sobre ele, Beth Faria é sucinta. “Não o conheço. Não sei qual o projeto dele e se ele tem.” Já Regina Duarte, colega de sua geração na Globo, a atriz conhece bem. Beth conta que não se surpreendeu com as posições políticas dela, que eram conhecidas desde o apoio a José Serra na disputa presidencial contra Lula em 2002. 

Sobre a breve passagem de Regina pelo governo Bolsonaro, Beth Faria tem uma explicação: o ostracismo. “Para uma atriz mais velha o ostracismo tem que ser muito trabalhado psicologicamente. Não é igual a jogador de futebol, que uma hora pifa. A atriz vai tendo menos trabalhos, menos convites. E quando aparecem, é um papel pequeno.” 

Segundo a protagonista de Tieta, um convite como aquele para o governo pode “fazer bem para o ego” da pessoa. “Quando a pessoa não tem uma boa formação cultural, pode cair nessa cilada.” 


Estadão domingo, 21 de junho de 2020

O DESAFIO DA MODA NA QUARENTENA

 

O desafio da moda na quarentena

Estilistas lançam projetos inovadores para resistirem à crise durante isolamento

Alice Ferraz, O Estado de S.Paulo

21 de junho de 2020 | 05h00

A coragem para manter seu próprio negócio é, muitas vezes, a mais desafiadora. Li, certa vez, que, como toda a virtude, a coragem só existe no presente. Ter tido coragem não prova que se terá nem mesmo que se tem. Sendo assim, estamos todos na mesma página em tempos de quarentena. Se fomos ou não corajosos, agora, teremos que, novamente, decidir por ser ou não na vida pós-pandemia, para continuar ou recomeçar nossa vida profissional.

No mercado da moda, a compra de roupas é, claro, um bem não essencial. Esse mercado altamente impactado precisará não só da sua conhecida criatividade, mas também da coragem para continuar e se reinventar. Exemplo dessa atitude, a estilista de vestidos de festa Lethicia Bronstein continuou a trabalhar durante seu isolamento na quarentena, tomando, claro, todos os devidos cuidados. Mesmo assim, foi julgada. “Não parar a minha vida profissional parecia errado para muitos, mas eu precisava manter empregos e fornecedores, fazer girar meu negócio e a economia. Uma cadeia inteira dependia de mim e da marca; parar não seria a melhor opção”, explica a carioca. Ela, que já vestiu a cantora Jennifer Lopez e a atriz Megan Fox (além de ter seus vestidos de festa disputados também por celebridades nacionais, entre elas Izabel GoulartCaroline Ribeiro e Fernanda Tavares), decidiu agir. Depois desse primeiro ato de coragem, Lethicia, que teria um lançamento uma semana após o fechamento do mercado pela quarentena, foi rápida para finalmente colocar o e-commerce da grife em pé. Em vinte dias, “para não perder o dia das mães”, diz ela, repensou seu negócio, voltado para a alta-costura e vestidos sob medida, para se lançar em um sonho antigo: uma coleção prêt-à-porter, feita de roupas prontas para vender. Em meio à quarentena, surgia um novo negócio. Chamada Pietra, a grife de roupas casuais nasceu para ser vendida em seu novíssimo e-commerce. “Não sei quando as festas e os casamentos (como costumávamos ter) vão voltar a acontecer. Eu precisava me reinventar, sou uma pessoa racional e entendi que tinha que agir e fiz”, conta ela, com o otimismo característico dos empreendedores. Ela afirma ter tido medo, claro, mas que não se rendeu a ele. Sempre escutou que, em momentos de crise, oportunidades aparecem – então, era chegada a hora.

 
 
O desafio da moda na quarentena
Nova coleção da Reserva, de Rony Meisler, que teve 113 lojas fechadas na quarentena  Foto: Leandro Tumenas
 

Conseguir ter a visão de que uma mudança era necessária e agir com rapidez fizeram a diferença para que seu novo negócio estivesse, agora, em pleno funcionamento.

Segundo Rony Meisler, fundador e CEO do Grupo Reserva, que teve 113 de suas lojas fechadas durante a quarentena, o maior ato de coragem nesse momento foi o de não demitir ninguém. “A decisão foi difícil, pois toda empresa precisa de caixa, ainda mais em períodos como esse. Mas a decisão foi tomada e a equipe, em reconhecimento, colocou todo o empenho para nos ajudar a reinventar o negócio, estou feliz com a nossa decisão”, afirma. Rony acredita que o medo é o oposto do amor. “O amor traz força e intensidade, o medo trava e paralisa, não nos deixa viver. Sempre fui uma pessoa criativa, mas ideias sem a coragem de realizá-las não fazem a diferença.” Aproveitou o momento mundial para colocar muitas de suas ideias em teste e seguiu analisando a possibilidade real de cada uma delas se tornar viável. “A vaidade de acertar sempre tem que ficar de lado”, diz. “Errar faz parte.” Entusiasta do universo digital e de suas possibilidades, lançou durante a quarentena a plataforma reserva.ink, que, em cinco passos, ajuda qualquer empreendedor de qualquer parte do Brasil a montar sua própria marca de camisetas na internet, usando toda a infraestrutura de logística, fornecedores e emissão de nota fiscal do Grupo Reserva, com o pagamento de um valor fixo. “É um novo negócio, mas também faz parte da cultura da empresa.”


Estadão sábado, 20 de junho de 2020

10 BOAS NOTÍCIAS DA SEMANA

 

10 boas notícias: confira a seleção da semana para ler em tempos de coronavírus (até 20/6)

CONTEÚDO ABERTO PARA NÃO-ASSINANTES: Atletas se unem para levar alimento a várias famílias; enfermeiras leem cartas para pacientes na UTI; e outras ações inspiradoras

Marina Vaz, O Estado de S.Paulo

20 de junho de 2020 | 05h00

Artistas e celebridades doam itens para leilão beneficente. Uma escola particular abre seu conteúdo pedagógico online para qualquer estudante. Uma empresa de ônibus usa sua frota para transportar doações. Usando o que se tem, é possível ajudar.

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Na Indonésia, pacientes com covid-19 fazem exercício a partir de suas varandas.  Foto: Adek Berry/AFP
  1. Ginástica matinal. Em Tangerang, na Indonésia, pacientes com sintomas leves de covid-19, que estão isolados em um prédio transformado em “casa de quarentena”, recebem um incentivo extra para manter a saúde. Pelas manhãs, médicos, enfermeiros e voluntários comandam, do térreo do edifício, uma série
 
2. Correio emotivo. As enfermeiras Bruna Dias e Márcia Candura, que trabalham no Hospital das Clínicas da Unicamp, tiveram uma ideia simples para levar esperança e acolhimento aos pacientes isolados na Unidade de Terapia Intensiva. Do lado de fora da UTI, uma caixa de papelão e um cartaz improvisado, onde se lê Cantinho do Abraço Virtual, incentivam os familiares a escreverem cartas para os internados – mensagens que são lidas pela equipe de enfermagem ao lado do leito, mesmo para os que estão sedados. A iniciativa já gerou momentos comoventes para todos. “A primeira carta eu não consegui ler, de tanta emoção, e um colega leu para a paciente”, lembrou Bruna, em entrevista ao site da instituição localizada em Campinas.

3. Em ação. A campanha #VencendoJuntos, liderada por importantes nomes do esporte brasileiro – entre eles, o surfista Gabriel Medina, o ex-tenista Gustavo Kuerten e a ex-jogadora de basquete Hortência –, quer garantir cestas básicas por três meses seguidos a comunidades de diferentes pontos do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina. Até o momento, 11.500 famílias já foram contempladas e receberam cartões de vale-alimentação no valor de R$ 100 mensais. A meta é atender 33 mil núcleos familiares (saiba como contribuir acessando o site).

4. Reforço escolar. Em meio à suspensão das aulas presenciais, a Escola Luminova liberou o acesso a seu conteúdo pedagógico online também para não alunos. Assim, estudantes do Ensino Médio de qualquer instituição, privada ou pública, podem acompanhar vídeos, posts e todos os recursos de sua ferramenta de aprendizagem a distância. Para tanto, o interessado deve se inscrever na página própria do projeto.

5. Rede de proteção. Mais de 33 mil máscaras de tecido foram doadas pelas concessionárias CCR ViaOeste e Rodoanel para entidades assistenciais, populações mais carentes e secretarias de saúde de municípios da Grande São Paulo e também Sorocaba. Dessa leva, uma parte – 3.500 unidades – foi destinada a caminhoneiros que circulam pelas rodovias, que ainda têm recebido marmitas e kits de higiene. A fabricação dos itens de proteção também ajuda a levar renda para integrantes da Associação Cristã de Osasco e do Movimento de Mulheres Negras, de Sorocaba, responsáveis por confeccionar as máscaras.

 

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Robô criado por engenheiro mecânico egípcio faz teste PCR e evita exposição de profissionais da saúde.
  Foto: Mohamed Abd El Ghany/Reuters

6. Experimento tecnológico. Na cidade do Cairo, no Egito, um engenheiro mecânico de 26 anos desenvolveu um robô que pode dar mais segurança aos profissionais de saúde, minimizando exposições desnecessárias a casos suspeitos do novo coronavírus. A criação de Mahmoud El komy realiza testes do tipo PCR, em que é coletada secreção diretamente das vias respiratórias, por meio de controle remoto. As informações são da agência Reuters.

7. Caminho do bem. Com a diminuição dos deslocamentos e das viagens entre municípios, é natural que mais ônibus fiquem ociosos nas garagens das empresas. Nesse cenário, o Grupo RCA, que comanda as redes Cometa, Catarinense, 1001 e Expresso do Sul, resolveu utilizar seus veículos para ajudar quem precisa. E passou a transportar, gratuitamente, doações feitas por empresas a instituições sociais e comunidades que estão em situação de vulnerabilidade. Até agora, já foram transportadas mais de 58 toneladas de doações, destinadas a 27 entidades localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro e também no Sul do País. As ações, que fazem parte do JCA Solidário, ainda incluíram a doação de 21 mil máscaras, produzidas internamente pelas empresas do grupo.

8. Leilão beneficente. Uma serigrafia do famoso muralista Eduardo Kobra. Uma camiseta do Corinthians autografada pelo ex-jogador de futebol Rivellino. Uma réplica do carro do piloto Nelson Piquet, assinada por ele. Esses são alguns dos itens que fazem parte de um leilão virtual promovido, até 28/6, pelo Unidos do Bem (para ver todos os itens e dar lances, acesse o Instagram da campanha: @unidos.dobem). A ideia é arrecadar dinheiro para dar continuidade ao projeto, que, desde o início da pandemia, já produziu e doou mais de 180 mil marmitas. A ideia surgiu com o empresário Carlos Kaufmann, do Villa Glam Buffet, que, com o cancelamento dos eventos, passou a usar seu estoque de alimentos e sua cozinha industrial para preparar refeições a quem precisa. Atualmente, com a ajuda de 250 voluntários, a iniciativa distribui 3 mil marmitas por dia em comunidades como Capão Redondo, Grajaú e Paraisópolis.

9. Palco vivo. O icônico Teatro Oficina, liderado por Zé Celso, precisa de ajuda para se manter em meio à crise gerada com a interrupção de suas temporadas. Enquanto pede contribuições de qualquer valor, a companhia investe em conteúdos online gratuitos. Nesta semana, por exemplo, lançou podcasts com peças transmitidas em formato radiofônico, por meio de sua Rádio Uzona – a primeira em cartaz é Pra Dar um Fim no Juízo de Deus, de Antonin Artaud (saiba mais no site do teatro).

10. Apoio à pesquisa. A empresa BRF acaba de anunciar a doação de R$ 3,5 milhões para fundos de pesquisas de importantes centros brasileiros, entre eles, a Fiocruz, no Rio de Janeiro, e o Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo. A intenção é apoiar estudos ligados ao tratamento e ao diagnóstico da covid-19. 


Estadão sexta, 19 de junho de 2020

MORRE O ESCRITOR CARLOS RUIZ ZAFÓN, AUTOR DE A SOMBRA DO VENTO

 

Morre o escritor Carlos Ruiz Zafón, autor de 'A Sombra do Vento', aos 55 anos

O escritor catalão, que virou best-seller, lutava contra um câncer

Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de S. Paulo

19 de junho de 2020 | 07h27

Carlos Ruiz Zafón, que ficou conhecido mundialmente depois do lançamento de A Sombra do Vento, em 2001, morreu aos 55 anos, informou a editora Planeta, da Espanha, em seu Twitter. Ele, que vivia em Los Angeles e trabalhava, lá, com roteiros de cinema, lutava contra um câncer.

"Morreu hoje Carlos Ruiz Zafón, um dos melhores romancistas contemporâneos. Lembraremos para sempre de você", escreveu a editora para anunciar a morte do escritor catalão, que nasceu em Barcelona em 25 de abril de 1964.

 

A Sombra do Vento foi o primeiro volume da série Cemitério de Livros. A obra ganhou diversos prêmios e, em 2007, apareceu em uma lista feita por 81 escritores e críticos latinos e espanhóis como um dos melhores em língua espanhola dos 25 anos anteriores.

 
Morre Carlos Ruiz Zafón, autor de A Sombra do Vento
Carlos Ruiz Zafón em 2016, em Barelona Foto: Pau Barrena/AFP

A série best-seller, situada em Barcelona e relacionada ao universo literário, inclui, ainda, O Jogo do AnjoO Prisioneiro do Céu e O Labirinto dos Espíritos.

Em entrevista ao Estadão em 2012, o escritor disse: "Todos temos segredos, alguns desconhecidos de nós mesmos. Uma das coisas que a literatura faz é ajudar-nos a revelar o que carregamos dentro de nós porque a literatura é o grande livro da vida e nos fala de nossas emoções, desejos e medos e nos dá a chave para entendermos a essência de nossa própria alma."

Antes de estourar mundialmente com esses livros, Carlos Ruiz Zafón já era conhecido na Espanha desde sua Trilogia da Névoa, dos anos 1990, que é formada pelos volumes O Príncipe da NévoaO Palácio da Meia-Noite e As Luzes de Setembro Zafón é autor, ainda, de Marina.

Seus livros, publicados em mais de 50 idiomas, foram lançados no Brasil pela Suma de Letras.

 

Estadão quinta, 18 de junho de 2020

FESTIVA ONLINE DO ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA TRAZ 19 GRADES FILMES

 

Festival online do Espaço Itaú de Cinema traz 19 grandes filmes

Do total arrecadado, 20% do valor será destinado a auxiliar os profissionais do audiovisual afetados pela pandemia

Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo

18 de junho de 2020 | 05h00

Por mais que exista controvérsia quanto ao Dia do Cinema Brasileiro – 19 de junho ou 5 de novembro? –, esta sexta é importante, porque marca o início de uma promoção imperdível do Espaço Itaú de Cinema. O cinéfilo, e não apenas o paulistano, sabe que o conjunto de salas da Rua Augusta tem sido o abrigo da produção brasileira e independente internacional. Pois, neste dia 19, o Espaço inicia um festival de pré-estreias em seu site, e em parceria com a plataforma Looke Eventos Paralelos.

 

Piedade
Cena do filme 'Piedade', de Cláudio Assis Foto: Perdidas Ilusões/República Pureza
 

Serão 11 filmes brasileiros e oito estrangeiros – 19, no total. Além de numericamente privilegiar a produção nacional, e por se tratar do Dia do Cinema Brasileiro, um dos onze estará disponível gratuitamente a partir da meia-noite desta quinta, 18, ou zero hora da sexta. Piedade é o novo (grande filme) de Cláudio Assis, o mais brilhante diretor de sua geração e um gigante do cinema pernambucano – com Kleber Mendonça Filho, claro. A seleção do Espaço Itaú Play no festival de pré-estreias online, que vai até dia 29, terá filmes de São Paulo, Rio, Pernambuco, Bahia, Ceará, Minas e Rio Grande do Sul.

Os estrangeiros também são produções de sete países – Afeganistão, Alemanha, Áustria, China, França, EUA, Turquia. Destacam-se o Liberté de Albert Serra, autor catalão tão e até mais transgressor que Cláudio Assis, e, para as feministas de carteirinha, a história jamais contada da primeira cineasta do mundo, Alice Guy-Blanché. Toda essa programação riquíssima e variada estará disponível a partir de sexta, e Piedade, de graça, por um dia, para festejar não apenas o cinema brasileiro, mas a autoralidade. Só filmes de autor.

Cada um permanecerá disponível durante 48 horas, a um ingresso no valor de R$ 10, exceto Piedade, que, por ter seu primeiro dia de graça, terá mais tempo no ar. Produção da República Pureza de Marcelo Ludwig Maia e da Perdidas Ilusões de Assis e Camila Valença – os nomes das empresas já fazem sonhar –, Piedade não é bem o bairro do Recife, mas uma cidade fictícia, fronteira à metrópole que Assis (e Kleber Mendonça) retrata como espelho das desigualdades sociais que são a cara do Brasil. Uma família e seus dramas. Um grande elenco: Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele, Cauã Reymond, Irandhir Santos, Gabriel Leone.

Uma praia interditada – pelos ataques de tubarões e pelo vazamento de uma tal Petrogreen, que de verde tem só o nome. A praia, não por acaso, chama-se Saudade – do tempo em que o País era outro. E há, ainda, o cinema pornô, cenário de cenas ousadas. 

Todo filme de Assis é pessoal, uma experiência no limite, mas esse é mais. “Cauã faz o papel do meu irmão que foi roubado na maternidade. Passei anos procurando esse irmão. Fernanda é minha mãe, Irandhir sou eu”, disse no debate do filme, no Festival de Brasília do ano passado.

Os demais filmes brasileiros incluem Três Verões, de Sandra Kogut, a crise brasileira retratada ao longo de três temporadas, e a apoteose, o fecho, a Verde-e-Rosa, Mangueira em Dois Tempos, de Ana Maria Magalhães. 

Em tempo: o 19 de junho foi quando o italiano Afonso Segreto fez as primeiras imagens do Brasil, captadas de um navio que chegava à baía de Guanabara, em 1898. O 5 de novembro foi celebrado durante anos porque, segundo Carlos Ortiz em sua pioneira história do cinema no Brasil, teria sido a data da primeira filmagem feita no País – pelo português Antônio Leal, em 1907. A Ancine instituiu o 19 de junho como data oficial.

Do total arrecadado, 20% do valor será destinado à Apro (Associação Brasileira da Produção de obras audiovisuais), para auxiliar os profissionais do audiovisual afetados pela pandemia. E, após a exibição online, os títulos desse festival entrarão em cartaz no circuito Itaú Cinemas, em datas a serem definidas posteriormente, conforme plano de retomada das autoridades sanitárias.

Programação

Sexta (19) e sábado (20)

Três Verões, de Sandra Kogut, e Alice Guy-Blaché: A História Não Contada da Primeira Cineasta do Mundo, de Pamela B. Green

 

Sábado (20) e domingo (21)

Aos Olhos de Ernesto, de Ana Luiza Azevedo, e O Conto das Três Irmãs, de Emin Alper

Domingo (21) e segunda (22)

Piedade, de Cláudio Assis, e Deerskeen: A Jaqueta de Couro de Cervo, de Quentin Dupieux

 

Segunda (22) e terça (23)

A Febre, de Maya Da-Rin

 

Terça (23) e quarta (24)

Música para Morrer de Amor, de Rafael Gomes, e O Orfanato, de Shahrbanoo Sadat


Estadão quarta, 17 de junho de 2020

MORRE O ASTRO DE UM GATO DE RUA CHAMADO BOB

 

Morre o astro de 'Um Gato de Rua Chamado Bob'

Livro que conta a história do felino e seu dono, James, vendeu mais de 1 milhão de exemplares

Redação, O Estado de S.Paulo

17 de junho de 2020 | 08h10

Morreu nesta segunda-feira, o felino astro da história Um Gato de Rua Chamado Bob, aos 14 anos. O animal foi adotado pelo escritor James Bowen em 2007, quando ainda era um morador de rua, e a história virou uma série de livros, entrando para a lista de best-seller do The New York Times e The Sunday Times. A história também ganhou adaptação para o cinema.

 

Morre o astro de
Livro que conta a história do felino e seu dono, James, vendeu mais de 1 milhão de exemplares Foto: Sophia Evans / CP
 

O anúncio foi feito na página de Bob, no Facebook. "James Bowen diz que "Bob salvou minha vida. É simples assim. Ele me deu muito mais que companhia. Com ele ao meu lado, encontrei uma direção e um objetivo que estava perdendo.", informa o texto.

Antes de conhecer Bob, James vivia em um abrigo em Londres, enquanto se tratava do vício em drogas. Um dia, encontrou o gato amarelo nas ruas e o levou ao veterinário. Depois disso, o gatinho começou a segui-lo. 

A dupla ganhou fama pelas ruas de Londres, e muitos videos surgiram no YouTube. James foi procurado por uma editora para contar sua história com Bob. O livro Um Gato de Rua Chamado Bob vendeu mais de 1 milhão de cópias no Reino Unido e foi traduzido para mais de 30 idiomas. 

Mais tarde outros títulos integraram a série, como Mundo Pelos Olhos de Bob e Bob – Um Gato Fora do Normal.


Estadão terça, 16 de junho de 2020

DICAS DE CINEMA: HITCHCOCK COMANDA INDICAÇÕES

 

Dicas de cinema: Hitchcock comanda indicações

As indicações de cinema, pelo crítico Luiz Carlos Merten

Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo

16 de junho de 2020 | 05h00

 Assassinato 

 No seu terceiro longa-metragem sonoro, o mestre do suspense Alfred Hitchcock já brincava de aparecer no próprio filme. Mas demora – mais ou menos uma hora – para passar pela cena do crime. A história, adaptada de uma peça de teatro (Enter, Sir John, de Clarence Dane e Helen Simpson). Uma atriz vira suspeita ao ser encontrada junto ao corpo da amiga, que foi assassinada. Para complicar, não se lembra de nada. O espectador logo deduz que a loira não é culpada, mas, então, quem matou? Trata-se de um raro filme do diretor construído em torno a essa pergunta. A caçada na cúpula do Museu Britânico, o desfecho no circo. Já era um Hitchcock senhor dos seus meios. E para marcar o som, ele usa logo os acordes da Quinta Sinfonia de Beethoven. 

 

Coquetel de Assassinos 

Buffet Froid, no original. O roteirista e diretor francês Bertrand Blier dirige o pai, Bernard Blier, e também Jean Carmet e o jovem Gérard Depardieu nessa história sobre um trio meio inesperado. Um assassino, um inspetor de polícia e um bobão. O primeiro conseguirá enganar os outros dois? Blier filho recebeu o Oscar por Preparez Vos Mouchoirs no ano anterior (1978). Na França, foi sempre muito considerado, queridinho do público e da crítica. Mas no Brasil seu humor – aqui, beirando o surrealismo – nunca entusiasmou as plateias. Quem sabe agora? Disponível no Mubi. 

Um Reencontro 

Elsa e Pierre, que são interpretados por Sophie Marceau e François Cluzet. Na ficção da diretora francesa Lisa Azuelos, o casal faz de tudo para a relação dar certo, mas as coisas estão sempre conspirando. Para começar, ele já é casado – com a diretora do filme! Só que o que poderia virar um drama pesado é tratado por Lisa como comédia. E leve. De cara, Pierre diz a Elsa: “Há tristeza em seus olhos, que bonito!”. A ideia é a de um relacionamento de pessoas maduras, que precisam fazer escolhas. Só isso já tira o filme da rotina. Belas Artes a la Carte.


Estadão segunda, 15 de junho de 2020

SUSHANT SINGH RAJPUT: ATOR DE BOLLYWOOD MORRE AOS 34 ANOS

 

Ator de Bollywood Sushant Singh Rajput morre aos 34 anos

Seu mais recente filme, o remake de 'A Culpa é das Estrelas', está programado para ser lançado ainda este ano

Shilpa Jamkhandikar e Aditi Shah, Reuters

15 de junho de 2020 | 07h34

 A mídia local disse que o ator foi encontrado pendurado no teto de sua casa.

A morte de Rajput provocou ondas de choque em Bollywood e no esporte indiano, com homenagens e condolências nas mídias sociais.

“Isso é tão chocante. Um talento maravilhoso. RIP Sushant”, disse o ator Abhishek Bachchan no Twitter.

Rajput começou sua carreira de ator com novelas de televisão e estreou em Bollywood em 2013. Ele atuou em 10 filmes e o 11º, um remake oficial do sucesso de Hollywood A Culpa é das Estrelas, está programado para ser lançado ainda este ano.

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, também expressou choque pela morte do ator.

“Um jovem ator brilhante foi cedo demais... Sua ascensão no mundo do entretenimento inspirou muitos e deixa para trás várias performances memoráveis”, disse Modi no Twitter.

 


Estadão domingo, 14 de junho de 2020

DALTON TREVISAN: ESCRITOR COMPLETA 95 ANOS

 

Dalton Trevisan completa 95 anos como um dos últimos remanescentes de sua geração

Escritor curitibano é um dos principais contistas da literatura brasileira há mais de meio século 

Andre Cáceres, O Estado de S.Paulo

12 de junho de 2020 | 05h00

Um do últimos remanescentes de sua geração literária, o escritor curitibano Dalton Trevisan completa 95 anos neste domingo, 14. Com mais de 40 livros lançados, diversos prêmios conquistados e textos traduzidos para diversos idiomas em mais de dez países, ele se consolidou ao longo de mais de meio século como um dos maiores contistas da literatura brasileira.

 

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Dalton Trevisan Foto: REPRODUÇÃO
 

Dono de uma carreira exemplar e um dos autores mais reclusos do Brasil, Trevisan evita entrevistas e aparições públicas, à moda de outros escritores, como Raduan Nassar e Thomas Pynchon.

Vencedor do prêmio Camões em 2012 pelo conjunto de sua obra, entre suas principais honrarias, estão quatro prêmios Jabuti (1960, 1965, 1995 e 2011), dois prêmios da Biblioteca Nacional (2008,2015), um da APCA (1976), um Portugal Telecom (2003) e um Machado de Assis (2012).

Embora o autor tenha mantido o alto nível de sua escrita ao longo de toda a trajetória literária, seus livros mais celebrados permanecem sendo alguns dentre os primeiros de sua carreira, ambos reuniões de narrativas breves: Novelas Nada Exemplares (1959), Cemitério de Elefantes (1964) e O Vampiro de Curitiba (1965). Aqueles dois, conquistaram o Jabuti de contos; este, no entanto, permanece como o seu mais conhecido.

O escritor não era um novato na cena literária quando publicou Novelas Nada Exemplares (que foi premiado ao lado de nomes como Antonio Candido, Ricardo Ramos e Menotti Del Picchia na segunda edição do Jabuti).

Em 1946, Trevisan fundou a revista Joaquim, que editaria até 1948, granjeando a colaboração de grandes autores como Carlos Drummond de Andrade, Mario de Andrade e Vinícius de Moraes, além de pintores como Di Cavalcanti e Portinari, e críticos como Otto Maria Carpeaux (que, posteriormente, viria a se tornar um desafeto de Trevisan por conta de um artigo de Temístocles Linhares na revista).

Embora seja tido como sua estreia, Novelas Nada Exemplares não foi o primeiro livro de Trevisan. Antes de publicá-lo, ele já havia lançado o romance Sonata ao Luar (1945) e a coletânea de contos Sete Anos de Pastor (1948), posteriormente renegados por ele e jamais reeditados. Alguns trechos de Sonata ao Luar foram publicados na Joaquim, e Sete Anos de Pastor podia ser adquirido por meio de vendas diretas à época, como autores independentes costumam fazer hoje em dia, em tempos de internet.

O cuidado de Trevisan com a ourivesaria da palavra é uma de suas principais características. Não são raros os seus contos que acabam mudando ao longo dos anos em diferentes edições, demonstrando como ele se debruça sobre um texto já publicado para polir suas arestas.

Não apenas frases completas acabam sendo suprimidas ou transformadas, mas a própria ordem dos contos e até mesmo seus títulos em alguns de seus livros foram mudados de uma edição para a seguinte. Em uma raríssima entrevista concedida em 1968 ao Diário do Paraná, o autor disse que leva “a vida inteira” para escrever um conto, e que nunca para de reescrevê-lo. Pois já são 95 anos dedicados a cada um de seus contos, e contando.


Estadão sábado, 13 de junho de 2020

NANDO REIS PROCURA ALENTO NA MÚSICA E NO INTERIOR DE SÃO PAULO

 

Nando Reis procura alento na música e no interior de São Paulo

Isolado em Jaú, cantor faz live neste Dia dos Namorados, buscando na canção uma forma de lidar com o dia a dia

Guilherme Sobota, O Estado de S. Paulo

12 de junho de 2020 | 05h00

Passar a quarentena numa casa de família em Jaú, a 300 quilômetros de São Paulo, tem servido para mitigar o desalento de Nando Reis com o noticiário. Cria da selva de concreto, é no mato que ele vem encontrando ocasiões para ocupar a cabeça. Em uma ligação nesta semana com a reportagem, mugidos de vacas foram trilha sonora para uma entrevista em que o cantor e compositor refletiu sobre o País e sobre como ele e sua arte podem se encaixar no momento.

“Estou aqui há três meses”, diz Nando. “Foi uma gangorra de sensações, entre momentos de tranquilidade, apreensão, entusiasmo, aflição, simplesmente contemplação… Fiquei angustiado, fiquei feliz… Curiosamente, o trabalho para a primeira live foi o que me pôs de novo com mais disciplina para trabalhar. Fiquei um tempão sem sequer abrir o violão, mas quando peguei fui me acostumando, sentindo prazer com aquilo de novo. Foi numa dessas que compus uma canção bonita, que pretendo gravar.”

Nando Reis faz sua terceira live do período nesta sexta-feira, 12, Dia dos Namorados, às 19h, em seu canal do YouTube. A apresentação abre um “minifestival do amor, à distância”, que terá também, mais tarde, Duda Beat e Anavitória – um EP de Nando com a dupla, gravado num show em 2018 em São Paulo, também chega às plataformas de streaming no mesmo dia. “É engraçado que ter um tempo livre pode pressupor que seja um momento adequado para produzir e fazer”, diz o cantor. “Mas a questão funciona de maneira mais insondável, mais misteriosa. A própria pressão funciona mal.”

Nando Reis

Política. ‘Atuar no microcosmos é um ato de sobrevivência’  Foto: Nando Reis

O formato de lives foi uma das alterações que a pandemia trouxe para o meio musical, e ele também teve de se adaptar, mas conta que o trabalho no canal do YouTube, anterior a tudo isso, ajudou a entender melhor o processo de se comunicar com as pessoas de maneira remota. O fato de sentar-se num banquinho e tocar um violão foi o que sempre fez, afinal. A real novidade é o alcance de cada live, que pode reunir centenas de milhares de pessoas em todos os cantos. “Tudo o que faço trabalha com a linguagem, a canção tem que se conectar com o veículo e a forma causa um efeito também.”

Apesar de estar isolado, Nando tem a companhia dos filhos e de outras pessoas na casa, e acompanhar o noticiário – desalentador, nas suas palavras – se torna inevitável. “Também preciso me cuidar, porque só de ler o nome do presidente me dá um ódio, isso faz um mal tremendo.” A canção, então, pode ir na contramão desses sentimentos.

“A cada dia se inventa uma crise, há uma tensão, um desgaste no qual evidentemente a canção é um conforto e pode agir como um bem-estar, no sentido de atender a terminais dos anseios das pessoas que não se resumem só à aversão a isso tudo que está acontecendo. É um desgaste tão grande porque eu me proponho a entrar num outro âmbito das coisas, que no fim são as coisas pelas quais a gente luta, justiça, felicidade.”

Um de seus filhos, Sebastião, também participará da apresentação ao vivo. Em 2002, Nando lançou com os Titãs O Mundo É Bão, Sebastião. “Por que o Sol saiu / Por que seu dente caiu / Por que essa flor se abriu / Por que iremos viajar no verão/ Por que aqui o mundo não será cão”, cantava, antes de entrar no refrão e repetir a mensagem otimista para o filho. A percepção mudou, quase 20 anos depois?

“A canção é de esperança, e acho que se aplica bem inclusive em tempos sombrios, como este que estamos vivendo. Embora feita para uma criança, está longe de ser negacionista (risos). É uma forma lúdica de dizer que o ‘bão’ é uma forma de como fazer, e como faremos. Faz sentido ter consciência do quão ruim a situação pode estar.”


Estadão sexta, 12 de junho de 2020

AS 9 MELHORES SÉRIES PARA MARATONAR NO DIA DOS NAMORADOS

 

As 9 melhores séries para maratonar no Dia dos Namorados

Confira o que o catálogo da Netflix, HBO Go, Amazon Prime Video e Globoplay tem de mais envolvente para assistir com o par

Leandro Nunes, O Estado de S.Paulo

12 de junho de 2020 | 06h00

A quarentena não será capaz de impedir o amor. Comemorado todo dia 12 de junho, o Dia dos Namorados do Brasil desse ano vai ser um pouquinho diferente. Alguns casais estão distantes desde que a pandemia chegou no País, enquanto outros vivem juntinhos. 

Para aplacar a saudade e ou para inspirar o papo e as ideias, confira nove séries, separadas por plataforma, para arriscar uma maratona à distância - ou ao lado de quem tanto ama.

 
 
As 9 melhores séries para maratonar no Dia dos Namorados
'Ela quer Tudo', de Spike Lee, disponível na Netlfix Foto: NETFLIX

Netflix

 

Love 

Sabe aquela pessoa que não tem nada a ver com você? Já pensou em ter um romance com ela? A série conta a história de Mickey e Gus, cada um mais diferente que o outro. O que pode surpreender é a disposição deles em levar o amor às últimas consequências.

Dark

Essa série pode dar um nó na cabeça, por isso Dark é ótima para assistir acompanhado. Sucesso em língua alemã, a terceira e última temporada está prevista para o dia 27 de junho. A história mistura três épocas distintas, com personagens em diferentes idades, fim do mundo e viagens no tempo. 

Ela Quer  Tudo

Inspirada no filme homônimo, a série de Spike Lee traz em duas temporadas a história de Nola Darling, uma artista que deseja encontrar a liberdade no seu trabalho e no amor. 

 

Amazon Prime Video

Modern Love

Baseada na coluna semanal do The The York Times a série é feita para quem gosta de amores reais. É um antologia que tem no elenco Anne Hathaway, Julia Garner, Dev Patel, Andrew Scott, Tina Fey e Andy Garcia..

The Office

Grande sucesso a premiada série de Greg Daniels reúne um time de comediantes ao estilo Saturday Night Live, como Steve Carell, Jeena Fischer, John Krasinski nas confusões da empresa Dunder Mifflin.

This is Us

Um pouco de drama também faz bem. Nessa produção em quatro temporadas, a família Pearson tem sua história contada a partir dos anos 1979, com momentos de amor e dor, que transformam a vida de todos

 

HBO GO

Game of Thrones

Com muito sangue, cenas fortes e batalhas, o grande fenômeno da HBO é inegável: se você ainda não assistiu, já ouviu falar. para quem é fã ainda tem os livros de George R. R. Martin, o que pode render eternos debates sobre os confins de Westeros.

Insecure

Em quatro temporadas, duas amigas afro-americanas Issa e Molly compartilham aventuras engraçadas e um tanto desconfortáveis. Uma chance de conhecer o cotidiano de mulheres negras no ambiente de trabalho em uma série feita para se divertir. 

 

Globoplay 

Dexter

Sucesso de longa data, a série protagonizada pelo ator Michael C. Hall traz a rotina de um especialista forense que trabalha de dia e comete assassinatos no tempo livro. Em oito temporadas, o "bom moço" te faz suar frio. 


Estadão quinta, 11 de junho de 2020

UMA LINDA MULHER: HÁ 30 ANOS, CHEGAVA AOS CINEMAS PARA FAZER HISTÓRIA

 

Há 30 anos, 'Uma Linda Mulher' chegava aos cinemas para fazer história

Conheça os bastidores de uma das maiores comédias românticas de todos os tempos, que poderia ter sido um drama sombrio sobre prostituição

Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo

10 de junho de 2020 | 14h00

Em julho, serão comemorados os 30 anos do lançamento de Uma Linda Mulher. O longa de Garry Marshall estrelado por Julia Roberts e Richard Gere é mais em muita coisa. Permanece como a comédia romântica de maior bilheteria de todos os tempos (US$ 463 milhões), a de maior público nas salas (mais de 42 milhões de espectadores). Mais, mais. Mas foi um longo caminho para se chegar a esse resultado.

Qualquer espectador da Sessão da Tarde conhece a história - um empresário especializado em sucatear empresas que depois vende pelo maior lucro contrata prostituta para ser sua acompanhante por uma semana. Ele a tira da rua, Rodeo Drive, dá-lhe um banho de butique nas grifes mais chiques de Los Angeles e, como Pigmalião diante de Galasteia, apaixona-se por sua criação. Alguém aí não sabe como termina essa história? É pouco provável. Uma Linda Mulher é mais que simplesmente um filme. Virou referência – ícone? - da cultura pop. É citado até em estudos acadêmicos sobre a mobilidade social.

 

 

'Uma Linda Mulher' foi lançado em julho de 1990 Foto: Touchtstone
 

Mas poderia ter dado tudo errado. Inicialmente, era para ser um drama sombrio, meio documentário, sobre uma prostituta drogada. Como projeto, o título era U$ 3 mil, que é o valor que Vivian Ward cobra para acompanhar Edward Lewis por uma semasna. O roteiro original incluía uma cena de Vivian envolvendo-se numa disputa pesada com seu fornecedor. O então presidente da Disney, Jeffrey Katzenberger – a empresa produtora era uma subsidiária, a Touchstone -, não estava gostando de nada daquilo. Deu o ultimato – exigiu que a história sórdida fosse transformada em conto de fadas moderno.

Parte dessa zona sombria da prostituição aparece, bastante atenuada, na personagem da amiga de Vivian. A primeira escolha para o papel da protagonista foi Karen Allen. Quando Garry Marshall assumiu o comando, a escolha mudou para Mary Steenburgen. Não deu certo. Winona Ryder e Jennifer Connelly foram testadas, mas não serviram porque pareciam muito jovens. Na sequência, boa parte das estrelas de Hollywwod leu o roteiro e declinou – Meg Ryan não aprovou, Michelle Pfeiffer quis mudar 'algumas' coisas. Jennifer Jason Leigh estava quase sendo contratada quando começou a questionar o sexismo da produção. Julia Roberts terminou escolhida aos 45 do segundo tempo. Venceu mais pela desistência das outras que pelo próprio nome, embora já tivesse a credencial do Globo de Ouro de coadjuvante que recebeu por Flores de Aço/Steel Magnolies, de 1989.

 

Julia Roberts e Richard Gere não eram as primeiras opções para o diretor de 'Uma Linda Mulher' Foto: Touchstone

Para protagonista masculino, chegaram a ser considerados Christopher Reeve, Daniel Day-Lewis e Denzel Washington. Al Pacino, ao que se consta, fez uma leitura do papel com Julia e recusou. Richard Gere topou, mas teve alguma dificuldade no começo. Por ser um astro, estava querendo aparecer demais. Ele próprio confirmou, e não sem humor, que o diretor chamou-o de lado e lhe disse que o filme era sobre uma pessoa que se movia e outra, não. E Marshall teria perguntado - “Adivinhe qual das duas você é?”

Anos depois, Julia fez um filme (bom) chamado O Sorriso de Mona Lisa, com direção de Mike Newell. Esse aqui poderia ser O Sorriso de Vivian. Numa cena-chave, Vivian está deitada no chão e assiste pela TV a um episódio do velho seriado, I Love Lucy. É parte da lenda – a atriz não ria como o diretor estava querendo. Fora de campo, o próprio Marshall lhe fazia cócegas nos pés, até vir a estrondosa gargalhada. O público se apaixonou, os críticos colocaram-na nas nuvens. Julia foi indicada para o Oscar, ganhou o Globo de Ouro. Virou estrela. Como outros filmes que, ao longo da história, tiveram os elencos mudados – O Intrépido General Custer, de Raoul Walsh, Casablanca, de Michael Curtiz -, muita gente acha que os deuses do cinema interferiram para que tudo desse certo. Além da química da dupla principal, a trilha contribuiu. Quando Edward e Vivian vão à ópera, é para ver La Traviata. Oh, Pretty Woman segue a 'princesa' na voz de Roy Orbison. Natalie Cole canta, sugestivamente, Wild Women Do. E a banda Roxette estourou em todo o mundo graças a uma faixa, It Must Have Been Love.

 

'Uma Linda Mulher' foi sucesso de bilheteria nos anos 1990 Foto: Touchstone

Claro que tinha de ser amor. De que outra maneira o relato chegaria ao seu happy end? Só falta revelar o segredo de Polichinelo. Por mais bela que fosse a jovem Julia, não foi suficiente. Na cena da lingerie, no começo, e no cartaz, o corpo de Vivian não é o dela. Julia foi 'dublada' por Shelley Michelle. Tão grande foi o sucesso que, por quase dez anos, a indústria tentou repetir o fenômeno. Depois de muita procura, o diretor, o astro e a agora estrela encontraram o que acharam que fosse o material certo. Alguma coisa ficou faltando, porque Noiva em Fuga, de 1999, por mais charme que tenha, ficou abaixo da expectativa, em todos os sentidos.


Estadão quarta, 10 de junho de 2020

MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA VIRA CINEMA DRIVE-IN DURANTE A QUARENTENA

 

Memorial da América Latina vira cinema drive-in durante a quarentena

Filmes nacionais e estrangeiros serão exibidos em 43 sessões a partir do dia 17 de junho

Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo

09 de junho de 2020 | 05h00

Cinéfilos de carteirinha esperam pelo momento mágico – a volta às salas de cinema. Ainda não é hora. Em Paris, os cinemas só reabrem dia 22, e com cuidados redobrados. Aqui, ainda não há data, mas a partir do dia 17 uma parceria do Petra Belas Artes com o Memorial da América Latina, com apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, vai permitir que as pessoas saiam de casa para ver filmes. O cinema será um drive-in e as pessoas terão de estar de carro, em número limitado e atendendo a condições de higiene.

 

Apocalypse Now
Cena do filme 'Apocalypse Now', de Francis Ford Coppola Foto: Buena Vista Home Entertainment
 

Isso já vinha sendo anunciado, a novidade é que saíram os filmes e, a partir desta terça, 8, os interessados já saberão para quais filmes vão comprar ingressos em cinebelasartes.com.br. Serão 27 filmes divididos em 43 sessões, de terça a domingo. Na quarta, 17, para começar a festa, às 19h, foi escolhido o clássico de Francis Ford Coppola, Apocalypse Now – Final Cut, a versão do diretor, com 30 minutos a mais. Como será ver no carro, o ataque de helicópteros ao som da Cavalgada das Valquírias

Na quinta, 18, serão duas atrações – às 18 h, o brasileiro Partida, de Caco Ciocler, que reuniu num ônibus, rumo ao Uruguai do presidente José Mujica, um grupo representativo do processo de radicalização do Brasil que culminou na eleição de Jair Bolsonaro; e, às 21h, Os Melhores Anos de Nossas Vidas, mais um daqueles painéis sobre relacionamentos ao longo do tempo que o diretor Claude Lelouch e seu público tanto gostam. Na sexta, 19, Apocalypse Now de novo, às 19 h; e Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio, terror de Sam Raimi, às 21 h, para manter a plateia à beira de um ataque de nervos. No sábado, 20, o infantil, às 18 h, é O Menino e o Mundo, a premiada animação de Alê Abreu, seguida de Os Melhores Anos de Nossas Vidas, às 20h30, e de um Quentin Tarantino, Pulp Fiction, às 23 h.

A programação prossegue na segunda semana com A Vida É Bela, Matrix, Relatos Selvagens, Annabelle. O segundo está em evidência porque o filósofo negro Cornel West está por trás da concepção de mundo dos irmãos – hoje irmãs – Wachowski, e ele tem refletido sobre o Caso George Floyd. Considera que os EUA são um experimento social “falido”. A partir de terça, 30, começa uma revisão da obra de Stanley Kubrick – De Olhos bem Fechados2001 - Uma Odisseia no Espaço, Nascido para Matar, A Laranja Mecânica, Lolita. Kubrick, que viveu isolado na Inglaterra a partir dos anos 1960, antevia um mundo cada vez mais distópico. No domingo, 12 de julho, para encerrar, Cinema Paradiso. O longa de Giuseppe Tornatore que venceu o Oscar encerra-se com aquela apoteose. Todos os beijos que o padre mandou cortar e o projecionista guardou como um legado para o protagonista. 

A proximidade do beijo. Em época de isolamento, é um sonho que logo todo mundo espera poder concretizar.


Estadão terça, 09 de junho de 2020

PATO DONALD COMPLETA 86 ANOS E RECEBE HOMENAGEM

 

Pato Donald completa 86 anos e recebe homenagem e maratona

Personagem do panteão criado por Walt Disney estrelou, em 1934, o filme 'A Galinha Esperta'

André Cáceres, O Estado de S.Paulo

09 de junho de 2020 | 08h00

Há exatos 86 anos, estreava o curta de animação A Galinha Esperta, estrelado por um pato mal-humorado que viria a se tornar o personagem mais recorrente nas animações de Walt Disney: Donald Fauntleroy Duck, ou Pato Donald para os fãs brasileiros. Para comemorar a data, os canais Disney Channel, Disney Junior e Disney XD transmitirão episódios especiais e, no dia 1º de junho, uma nova temporada de Ducktales - Os Caçadores de Aventuras começou a ir ao ar.

 

Donald
Pato Donald em sua primeira aparição, em 'A Galinha Esperta' (1934) Foto: Walt Disney
 

É verdade que o personagem já havia sido mencionado três anos antes, em 1931, no storyboard de As Aventuras de Mickey Mouse, e com um visual muito diferente da icônica boina azul e uniforme de marinheiro que o consagrou nas telas. Mas foi como um dos protagonistas do universo Disney que Donald se tornou um dos personagens mais importantes da história dos quadrinhos e da animação. 

Tanto é que hoje ele é a criação que mais apareceu em filmes da Disney - mais até que seu mascote, o Mickey Mouse, que surgiu seis anos antes - e é o personagem com mais publicações de HQs, com exceção de super-heróis, afinal é difícil competir quantitativamente com oito décadas ininterruptas de Marvel e DC Comics.

Donald

Versão antiga do Pato Donald em quadrinho do Mickey de 1931 Foto: Walt Disney

A evolução do traço do Pato Donald dependeu de grandes artistas que trabalharam em suas feições. Já na década de 1930, o ilustrador Al Taliaferro, em parceria com o roteirista Ted Osbourne, adaptou o curta A Galinha Esperta e deu prosseguimento às tirinhas e histórias do personagem, lançando as bases para sua caracterização visual inicial, ainda um pouco rudimentar.

No entanto, quem moldou o personagem como o conhecemos hoje, tanto visual quanto narrativamente, foi Carl Barks, que criou a cidade de Patópolis e foi construindo as relações entre personagens como o Tio Patinhas, Margarida, Huguinho, Zezinho e Luisinho, estabelecendo, nos anos 1950, o universo do Pato Donald, que receberia ainda algumas contribuições de outros artistas ao longo das décadas.

Já em 1938 havia pesquisas de mercado que indicavam que Donald era mais querido pelos fãs do que Mickey, e ele passou a ganhar protagonismo nas produções do estúdio. No clássico Fantasia, de 1940, sua aparição como mago tornou-se icônica, e é até hoje um marco para a Disney.

Mas foi durante a Segunda Guerra Mundial que o Pato Donald consolidou de vez sua importância para a cultura pop. Ele foi o principal personagem a estrelar os filmes da Disney no período, que criticavam - com boas doses de inspiração de Charles Chaplin - o regime nazista. O destaque dessa época é Der Fuehrer's Face, de 1942, propaganda anti-nazista que venceu o Oscar de curta animado.

 

Donald
Cena de 'Der Fuehrer's Face', de 1942 Foto: Walt Disney

A consistência dos personagens sempre foi uma das características das criações de Walt Disney, e o dublador que criou os guinchos e a voz de Donald, Clarence Nash, foi o único a emprestar-lhe a voz durante meio século, até sua morte em 1985. Desde então, a voz oficial do personagem é de Tony Anselmo, embora em outras mídias haja dubladores diferentes para ele.

Por falar em outras mídias, o pato se sobressai em suas adaptações. Não é por acaso que na série de videogames Kingdom Hearts (2002-2019) ele é um dos principais protagonistas de uma jornada que reúne praticamente todas as franquias da Disney e alguns heróis clássicos de Final Fantasy, célebre saga de RPG da Square Enix. Sua contribuição ao mundo dos games, aliás, não começou com Kingdom Hearts. O jogo Ducktales, lançado em 1989 para o Nintendinho (NES), foi um marco para os games de plataforma bidimensionais. 

 

Donald
Pato Donald em cena do game 'Kingdom Hearts III' Foto: Square Enix

É graças a esse legado em animação, quadrinhos e games que o Pato Donald se tornou um personagem fundamental para os estúdios Disney, quase tão importante quanto o próprio mascote. Ao lado de Mickey, Pernalongas, Picapau e os Simpsons, ele tem uma estrela no Hall da Fama de Hollywood.


Estadão segunda, 08 de junho de 2020

SÔNIA BRAGA COMEMORA SEUS 70 ANOS DE VIDA

 

Sônia Braga, gloriosa, comemora seus 70 anos

Guerreira e engajada, atriz acumulou prêmios e adoração superlativos ao longo da carreira; veja fotos

Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo

08 de junho de 2020 | 09h00

Nesta segunda, 8, a paranaense de Maringá completa 70 anos. Nasceu em 1950. Talvez não seja mais páreo para as pin-ups do momento, mas segue gloriosa. A Sônia setentona virou a musa de Kleber Mendonça Filho em dois filmes que nunca serão suficientemente elogiados, Aquarius Bacurau. No primeiro, de 2016, com toda a equipe, participou daquele protestoo na escadaria do palais de Cannes. Os cartazes denunciando a situação política no Brasil ganharam projeção pelo mundo. Sônia e o diretor entraram na mira das milícias. Não se intimidaram. No ano passado voltaram a Cannes e foram premiados com Bacurau.

 
 
Sônia Braga
Sônia Braga na coletiva de lançamento de 'Bacurau', realizada no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo
  Foto: Hélvio Romero/Estadão - 20/8/2019
 

Era o ano de Parasita e o longa de Bong Joon-ho venceu a Palma de Ouro e, depois, recebeu a definitiva consagração no Oscar. Bacurau, além do prêmio do júri, inscreveu-se na mesma tendência que, a partir da Croisette, ditou a regra no cinema mundial em 2019 – a revolta dos deserdadosParasitaBacurau e também Os Miseráveis, de Ladj Ly, outro premiado de Cannes. E Coringa, de Todd Philips, vencedor do Leão de Ouro de Veneza. Neste dia tão especial, vale lembrar a trajetória dessa mulher que não briga com o tempo e exibe as rugas pelo que são – a expressão de uma bela história de vida. Embora nascida no Paraná, criou-se em São Paulo. Aos 14 anos, começou a fazer teleteatro e programas infanto-juvenis. Aos 18, apareceu nua na montagem brasileira do musical Hair.

Em 1968, fez sua estreia no cinema, num filme que se tornou marco – foi uma das vítimas em O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla. No ano seguinte, estreou na TV – Odília em A Menina do Veleiro Azul. Não parou mais – Irmãos Coragem, Selva de Pedra, Vila Sésamo, Fogo sobre Terra. Em 1975, foi a consagração – Gabriela, na novela da Globo. O primeiro encontro com Jorge Amado. O restante é história. No cinema – Dona Flor, outra heroína de Jorge Amado. Solange, a dama do lotação. Maria, em Eu Te Amo. De volta à TV, foi Júlia Matos em Dancin' Days, de 1978, na onda das discotecas. Em 1985, o tríplice papel em O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco, lançou-a internacionalmente. Seguiram-se Luar sobre Parador, Rebelião em Milagro, Rookie - Um Profissional em Perigo, Amazônia em Chamas e um grande etc.

No Brasil, e com direção de Bruno Barreto, foi de novo Gabriela, em 1983, e desta vez com o astro italiano Marcello Mastroianni como Nacib. Em 1996, sob a direção de Cacá Diegues, viveu sua terceira heroína amadiana, Tieta do Agreste. Dez anos e vários filmes e séries depois – Sex and the City, Law and Order, CSI: Miami –, venceu, graças à Clara de Aquarius, muitos prêmios de interpretação em Biarritz, Lima. Foi a melhor atriz pela Associação de Críticos de San Diego, vencendo nomes que depois iriam para o Oscar. Em 2017 interpretou a mãe de Julia Roberts em Extraordinário, baseado no livro de R.J. Palacio. Em 2019, teve aquela cena com Udo Kier em Bacurau.

Sônia já disse que desistiu de ter filhos para focar na carreira. Teve grandes amores, mas sempre foi discreta, são coisas de foro íntimo. Se não for verdade, não faz mal – vale imprimir a lenda, como dizia John Ford –, mas Caetano Veloso compôs para ela "Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel / Uma mulher, uma beleza que me aconteceu". Divide-se entre casas nos EUA – em Nova York –, e no Brasil. Tantos filmes em língua inglesa lhe garantiram o Green Card. Lá e cá. Internacional, mas sem deixar de ser brasileira. Fez campanha contra Jair Bolsonaro. Na internet você encontra seu depoimento que não perdeu, pelo contrário ganhou, atualidade – #SeuVotoMePoeEmRisco. Em sucessivas entrevistas, dedicou a personagem de Bacurau Marielle Franco. Sônia guerreira, engajada. Serão 70 anos esta noite. Comemorados à distância. No isolamento, mas no coração dos brasileiros. A história continua.

Veja fotos da carreira de Sônia Braga:

 

Sônia Braga
Cena do filme 'Dona Flor e Seus Dois Maridos' (1976)  Foto: Acervo Estadão

 

Sônia Braga
Sônia Braga em cena de 'A Dama do Lotação', de Neville D'Almeida Foto: Acervo Estadão

 

Sônia Braga
A atriz em cena de 'O Beijo da Mulher Aranha', de Hector Babenco (1985)  Foto: Acervo Estadão

 

Sônia Braga
Sônia Braga e Fernanda Montenegro, na gala dos prêmios da National Board of Review, em Nova York, em 8 de fevereiro de 1999 
Foto: Jeff Christensen/REUTERS

 

Sônia Braga
Sônia Braga em Nova York, em 29 de maio de 2000  Foto: André Penner

 

Sônia Braga e Caetano Veloso
Caetano Veloso e Sônia Braga no Grande Prêmio Cinema Brasil, em Petrópolis, em 10 de fevereiro de 2001 
Foto: Fernanda Fernandes/Estadão

 

Sônia Braga
Sônia Braga posa para foto no centro do Rio, em 18 de março de 2006  Foto: Wilton Junior/Estadão

 

Sônia Braga
No dia 5 de abril de 2014, ela recebeu o Prêmio Platino pelo conjunto da obra, na Cidade do Panamá 
Foto: REUTERS/Ed Grimaldo

 

Sônia Braga
Sônia Braga na apresentação de 'Aquarius', no Festival de Cinema de Cannes, em 18 de maio de 2016
  Foto: REUTERS/Yves Herman

 

Sônia Braga
Sônia Braga cena do filme 'Bacurau', de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, como a inesquecível Domingas 
Foto: Victor Jucá

Estadão domingo, 07 de junho de 2020

FILMES PARA ENTENDER O RACISMO E A VIOLÊNCIA RACIAL

 

Filmes para entender o racismo e a violência racial

Neste momento em que o Caso George Floyd provoca protestos, recordamos filmes que fizeram história com sua abordagem de temas como racismo e linchamento

Luiz Carlos Merten, O Estado de S.Paulo

05 de junho de 2020 | 10h00

Do clássico O Nascimento de Uma Nação, de David W. Griffith, de 1915, ao recente Infiltrado na Klan, de Spike Lee, por mais de um século o racismo esteve presente nas telas como na própria vida norte-americana. Os dois filmes são emblemáticos porque abordam a sociedade secreta criada no Sul dos Estados Unidos, após a Guerra Civil, para tentar manter o ideal da supremacia branca. Neste momento em que o Caso George Floyd provoca protestos e as grandes cidades dos EUA ardem em manifestações como no auge da luta por direitos dos anos 1960, vale viajar um pouco na lembrança para recordar filmes que fizeram história com sua abordagem de temas como racismo, linchamento. A violência racial é endêmica na 'América', como afirma a ON 

John David Washington no papel de Ron Stallworth, e Laura Harrier no de Patrice em “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee.
John David Washington no papel de Ron Stallworth, e Laura Harrier no de Patrice em “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee.
Foto: David Lee/Focus Features
 

 

O Nascimento de Uma Nação

 

A morte da garota branca pelo 'negro' - um ator branco com o rosto pintado - impressiona até hoje pela perfeição da montagem e pela utilização da paisagem natural. O paradoxo de Griffith. Grão-senhor sulista, filho de um coronel arruinado, foi decisivo para o desenvolvimento do bê-á-bá da linguagem cinematográfica. Mas The Clansman, como se chamava originalmente o filme, é um monumento ao racismo. Griffith fez outros filmes que mostraram seu lado liberal e progressista (Hearts of the WorldIntolerância), mas o sulista confederado falava mais alto quando o tema era a negritude.

  


 

...E o Vento Levou

O romance de Margaret Mitchell já é uma ode ao espírito sulista. O épico produzido por David O' Selznick mantém o tom. Ganhou todos aqueles Oscars em 1939. Mostras os carpetbaggers, escravos libertos que serviram de testas de ferro para os nortistas que compravam a troco de nada propriedades de aristocratas falidos. As personagens negras (Mammy, Prissy) são vistas com preconceito. E na estreia do filme, em Atlanta, as atrizes - nem Hattie McDaniel, que ganhou o Oscar de coadjuvante -. puderam sentar-se com o restante do elenco porque era proibido, pelas leis racistas da Georgia.

  


 

O Mundo não Perdoa

Talvez o maior filme antirracista produzido por Hollywood na fase pré-Spike Lee. Baseada no livro de William Faulkner, a história do velho negro ameaçado de execução sumária por um crime que não cometeu. O clima de festa, quando os brancos preparam o linchamento, é de arrepiar. Provada sua inocência, a comunidade branca terá de conviver com o fato de que o preconceito quase destruiu o homem bom, íntegro.

  


 

Carmem Jones

Da obra de Prosper Mérimée revista no musical de Oscar Hammerstein, Otto Preminger tirou um grande filme, com canto, dança e Dorothy Dandridge como a definitiva femme fatale. Esqueça Gilda. Nunca houve uma mulher como Carmem Jones. Dorothy, Harry Belafonte. Black is beautiful, mas o tom é de tragédia, um clássico.

  


 

Acorrentados

Tony Curtis e Sidney Poitier fogem da cadeia ligados por uma corrente. O ódio mútuo cede espaço à compreensão e à solidariedade. Stanley Kramer era aquele diretor que os críticos amavam odiar nos anos 1950 e 1960, mas abordou grandes temas políticos. Abordou ou estragou? Há controvérsia, mas não há como negar a força dos atores.

  


 

Porgy and Bess

Dorothy Dandridge e Otto Preminger, juntos e de novo. A ópera folk de Gershwin, a história de amor, sonho e ciúme. Sidney Poitier construiu uma persona de 'bonzinho', meio assexuado. Nunca foi tão viril como aqui. E Summertime é daqueles números que não se esquece.

  


 

Imitação da Vida

O clássico dos clássicos do melodrama, pelo maior autor do gênero, Douglas Sirk. A estrela Lana Turner, sua doméstica negra (Juanita Moore) e a filha dela (Susan Kohner) que se faz passar por branca. Sexo, racismo e o grandioso funeral do desfecho. O adeus à velha Hollywood. O mundo e o cinema iriam mudar nos anos 1960.

  


 

Audazes e Malditos

western de John Ford que marca o tributo do grande diretor aos soldados negros da Cavalaria norte-americana. O assassinato da garota branca no forte, o negro levado a julgamento. Jeffrey Hunter como o oficial que trabalha na defesa, Woody Strode, o acusado. Narrado em flash-back, um filme fora do eixo (adiante do seu tempo?) em 1960.

  


 

Uma Voz nas Sombras

Sidney Poitier tornou-se o primeiro negro a ganhar o Oscar de melhor ator. Fez história, e foi nesse filme dirigido por Ralph Nelson. O operário desempregado (e negro) que ajuda o grupo de freiras (brancas) a construir a capela. Lilies of the Field, título original. Olhai os lírios do campo, Senhor. Ecumênico, bonito.

  


 

Adivinhe Quem Vem para Jantar?

Stanley Kramer, de novo, e Sidney Poitier. Ele faz o namorado que a garota branca leva para conhecer seus pais. Spencer Tracy e Katharine Hepburn, no último de seus nove filmes juntos, são os pais liberais, e chiques, que tomam um susto. Os dois veteranos ganharam o Oscar, e foi o segundo para cada um dos dois.

  


 

O Poder Negro

Jules Dassin transpôs o romance de Liam O Flaherty, que já havia inspirado O Delator, de John Ford, nos anos 1930, para os protestos de negros nos 1960. 'I have a dream' e o assassinato de Martin Luther King. Protestos em Cleveland provocam a morte de um vigia branco. A polícia oferece recompensa e Tank Williams/Julian Mayfield termina por delatar o amigo. Por que? Dassin teve de se exilar nos anos 1950 por causa do macarthismo.Voltou para esse acerto de contas com a 'América'.

  


 

Lágrimas de Esperança

Martin Ritt fez o que talvez seja o Vidas Secas do cinema norte-americano. A vida de uma família negra, e pobre, durante a depressão econômica, vista através dos olhos do cachorro, que se chama Sounder, o mesmo título original do filme. Indicado para melhor filme, ator e atriz, Paul Winfield e Cicely Tyson, mas era o ano de O Poderoso Chefão. E Cabaret.

  


 

Faça a Coisa Certa

Spike Lee, a pizzaria no Brooklyn que só tem na parede retratos de personalidades ítalo-americanas. O calor insuportável que acirra os ânimos da população negra, que quer se ver representada, o confronto. Não foi nem indicado na categoria principal, mas segue sendo o melhor filme feito por um cineasta negro dos EUA. Concorreu a roteiro (Lee) e ator coadjuvante (Danny Aiello). Não levou nenhum.

  


 

Conduzindo Miss Daisy

Oscars de melhor filme, atriz (Jessica Tandy) e roteiro adaptado para a história da velha dama sulista e seu motorista negro. Foi o filme para o qual Spike Lee perdeu em 1989. Bruce Beresford dirige. E Morgan Freeman já vinha se destacando (Armação PerigosaTempo de Glória). Nos anos e décadas seguintes, adquiriu estatura. Interpretou presidiários, sábios, presidentes, até Deus. Grande ator.

  


 

Malcolm X

A cinebiografia de Malcolm Little, que se tornou conhecido como Malcolm X. Sua transformação em Al Hajj Malik Al-Shabazz que criou a Organização para a Unidade Afro-americana e defendia o Nacionalismo Negro. Spike Lee dirige o imperial Denzel Washington, que foi indicado para melhor ator (e perdeu aquele Oscar para o Al Pacino de Perfume de Mulher).

  


 

Fruitvale Station: A Última Parada

Tudo a ver com a história de George Floyd. Baseado em outra história real, a do jovem negro Oscar Grant, morto em 2009 por um segurança de metrô em Oakland. Estreia do futuro diretor de Pantera NegraRyan Coogler, que declarou. “Em Oakland, se você é negro, não tem expectativa de chegar aos 30. Eu jurava que não chegaria, tal é a violência que nos é (como negros) imposta.” Michael B. Jordan virou astro no papel.

  


 

OJ - Made in America

O Caso O.J. Simpson e o julgamento do ator acusado de matar a mulher e o amante dela. Oscar de melhor documentário de 2017, o longa de Ezra Edelman e Caroline Waterlow é sobre o processo e o julgamento que inocentaram O.J. Para a dupla, a culpa é da 'América'- racismo, sexo, celebridades, dinheiro. Todos os ingredientes para um novelão.

  


 

Corra!

Jordan Peele virou o arauto do novo poder negro de Hollywood. Ganhou Oscar e tudo o mais. E embora seu filme deva muito a Esposas em Conflito, de Bryan Forbes, de 1975, tem também um quê de Adivinhe Quem Vem para Jantar? A história do jovem negro que vai conhecer os pais da namorada branca e ingressa num pesadelo tem muito a ver com o racismo instalado na cabeça das pessoas e que, de Griffith a Donald Trump, com seu discurso belicoso contra as manifestações atuais nos EUA, exige reflexão - e repúdio.

  


 

Infiltrado na Klan

Spike Lee chegou lá e finalmente ganhou seu Oscar (de roteiro adaptado) graças ao apadrinhamento de Jordan Peele, que produziu o filme. John David Washington, filho de Denzel, faz policial negro que se infiltra na racista Ku Klux Klan. Como? A história é real e o relato integra elementos da estética dos blaxploitation movies dos anos 1970.

  


 

Pantera Negra

Ryan Coogler e o super-herói negro dos comics, interpretado por Chadwick Boseman. Sucesso de público e crítica, um filme rico em colorido e som, com o pé na cultura africana. Venceu, merecidamente, os Oscars de trilha, figurinos e direção de arte em 2019, no mesmo ano de Infiltrado na Klan.

  


 

Casa de Antiguidades

Cannes divulgou na quarta-feira, 3, sua lista de filmes para a edição de 2020. Serão distribuídos em parcerias com diversos eventos internacionais de cinema no segundo semestre, quando se presume que a situação da covid-19 terá melhorado. Há esse filme brasileiro, e sobre racismo. João Paulo Miranda dirige Antônio Pitanga na história do operário negro que conhece o preconceito numa cidade fictícia de colonização austríaca no Sul do Brasil.

 

 

 


Estadão sábado, 06 de junho de 2020

ALCIONE: PASSOU DA NORA DE O PRECONCEITO ACABAR

 

'Passou da hora de o preconceito acabar'

Com novo álbum de inéditas recém-lançado, a cantora fala sobre como escolhe o repertório, de fé e pede o fim do preconceito de cor e de religião

Entrevista com Alcione

Danilo Casaletti, Especial para o Estado

05 de junho de 2020 | 10h00

Ao longo de quase 50 anos de carreira, a maranhense Alcione nunca parou, mas já estava há um bom tempo sem lançar um álbum de músicas inéditas – nos últimos anos, estava na estrada com o show Eu Sou a Marrom, de caráter retrospectivo para comemorar seus 70 anos. Nada que lhe cause ansiedade. A cantora sabe que tem seu público consolidado – o qual, segundo ela, gosta de ouvir canções românticas. Não por acaso, são elas que dão o tom em seu novo trabalho, Tijolo por Tijolo (em edição física e digital pela Biscoito Fino), título emprestado da canção que abre o trabalho, de autoria de Serginho Meriti e Claudemir.

Em entrevista por telefone ao Estadão, Alcione conta que desenvolveu um jeito próprio de selecionar as centenas de canções que recebe dos compositores logo que anuncia que está preparando um novo projeto. “Imagino a plateia cantando junto comigo. Esse é meu termômetro”, conta. Usando esse critério, ela selecionou músicas de colaboradores antigos, como Altay Veloso, Paulo César Feital, Roque Ferreira e Telma Tavares, e gravou Jorge Vercílio pela primeira vez. Com saudade do palco, ela segue atenta ao que acontece no Brasil e no mundo. “Já passou da hora do preconceito de cor e religião acabar. Todo mundo merece respeito”, diz, sobre os recentes protestos nos Estados Unidos e no Brasil.

 
 
Alcione
Alcione lança seu novo trabalho, 'Tijolo por Tijolo' Foto: Marcos Hermes
 

Tijolo por Tijolo chega sete anos depois de seu último trabalho com músicas inéditas. Por que demorou tanto tempo?

Tem que demorar! Não posso dar minha cara todo ano por aí com um novo trabalho. Lanço algo, deixo o repertório ecoar, faço bastante shows. Aliás, como eu amo cantar ao vivo, estar com o público. Ando com muita saudade de um palco. No começo da carreira, era obrigatório lançar um disco por ano. Mas, agora, não preciso disso.

Na época do lançamento do single com a canção que dá nome ao disco, você disse que ela representava muito a sua carreira. Teve que batalhar muito?

Sim, tudo foi feito com uma batalha. Outro dia, achei uma foto em que eu estava no programa do Bolinha (o apresentador Edson Cury, morto em 1998). Fiz tudo quanto foi programa de TV, ia a todas as emissoras de rádio. Bati perna de norte a sul do País. Valeu a pena.

Como você escolhe o repertório?

Os compositores me mandam – hoje vem via WhatsApp – e eu ouço exatamente tudo. O que me guia na escolha é o meu instinto, algo que desenvolvi ao longo da carreira. Sei o que vai pegar o público. Ouço e imagino a plateia cantando junto comigo. Esse é meu termômetro.

O álbum é constituído essencialmente por músicas românticas. É o que você tem preferido cantar?

Sim, e é o que meu público gosta de ouvir. 

No disco tem uma canção em homenagem ao Pelé chamada O Homem de Três Corações. Vocês são amigos?

Pelé é um ídolo para mim. Fiquei muito feliz de fazer essa homenagem para ele. Quando o Altay Veloso (o autor, ao lado de Paulo César Feital) me mandou a música, logo gravei uma versão voz e violão e enviei para o Pelé. Ele adorou, me mandou um vídeo para agradecer.

Foi uma encomenda sua?

Não. Altay mandou para mim. Em toda a minha carreira, só duas músicas foram feitas por encomenda ('Obrigada' e 'Estrela Luminosa', segundo Alcione). O resto veio até mim. Veja, Não Deixe o Samba Morrer... Caiu no meu colo, foi um sucesso e virou uma marca minha. Nada encomendado. 

Em abril, o rapper americano Snoop Dogg publicou um vídeo ouvindo uma música sua (Você me Vira a Cabeça). O que achou quando viu?

Comigo acontecem coisas do arco da velha (risos). Vê se pode! Quando eu imaginei que ele ouvia minhas músicas, que tinha algo com o meu trabalho? Admiro-o muito. Foi engraçado vê-lo curtindo aquele charutão com a minha música ao fundo.

Você gravou uma canção chamada Em Barco que Navega Malandro, Não Navega Mané (Serginho Meriti/Claudemir), que brinca com quem é mané, quem é malandro. Tem muito ‘mané’ no Brasil?

Ah, tem! Esse presidente da Fundação Palmares (Sérgio Camargo, que durante uma reunião classificou o movimento negro como “escória maldita”, conforme revelou o Estado), por exemplo, é um mané. Ele nem merece que eu fale nele. Não peço justiça para ele, peço clemência. Se tem um Deus lá no céu, (ele) não há de ficar impune.

Você é espiritualizada. Como analisa o que está acontecendo no mundo atualmente?

Eu respeito e obedeço ao sagrado. Acredito em Deus e sou da umbanda, filha de Xangô e Iansã. É bom acreditar em algo superior para não andar nas trevas. Tudo o que está acontecendo, essa pandemia, veio para nos ensinar algo. Alguma coisa vamos aprender.

Os seguidores da umbanda dizem que este ano é de Xangô. O que isso significa?

É um ano em que a pessoa tem que cuidar de si, da família e dos amigos. Veja o que aconteceu nos Estados Unidos, essas marchas (uma reação à morte do ex-segurança George Floyd). Os policiais ajoelhando e se confraternizando com os manifestantes. Isso é Xangô! E as injustiças que acontecem lá, também ocorrem aqui no Brasil. Já passou da hora de o preconceito de cor e de religião acabar. Todo mundo merece respeito.

O Miguel Falabella estava escrevendo um musical chamado Marrom para comemorar seus 50 anos de carreira. Como anda o projeto?

Está em construção. Espero que essa pandemia não atrase tudo (Alcione diz não poder revelar quando será a estreia). Falabella é um craque e vai fazer um lindo trabalho ao lado do Jô Santana (produtor). Não participarei, apenas vou assistir. Será um pouco estranho ver minha vida e carreira no palco, mas acho esse projeto magnífico.

Existe uma fita demo que você fez em 1972 para a gravadora Eldorado antes de sua carreira se consolidar. Nela, você canta músicas como Yesterday, Bebete Vãobora e Travessia. O produtor Thiago Marques Luiz tem um projeto de lançar essa gravação. O que você acha?

Eu lembro de ter gravado, fiquei honrada com o convite da Eldorado. Na época, eu era cantora da noite, mostrei tudo o que sabia fazer. Mas não acho que esse material tem que ser lançado agora. Essa gravação não representa o que eu sou hoje, a cantora que me tornei.


Estadão sexta, 05 de junho de 2020

YMANDU COSTA LANÇA ÁLBUM EM QUE REVERENCIA A CULTURA LATINO-AMERICANA

 

Yamandu Costa lança álbum em que reverencia a cultura latino-americana

Disco 'Festejo' é a nova empreitada do mestre do violão de sete cordas

João Marcos Coelho, Especial para O Estado de S. Paulo

05 de junho de 2020 | 05h00

Yamandu Costa, mago do violão sete cordas e senhor absoluto do instrumento, comemorou, em 24 de janeiro passado, seu primeiro aniversário morando fora do Brasil. Assoprou as velinhas dos 40 anos em sua nova casa, em Lisboa, ao lado da mulher, a também violonista, só que clássica, Elodie Bouny, francesa nascida na Venezuela, e dos dois filhos, Benício, de 9, e Horácio, de 7 anos. E trabalhou nos detalhes finais do seu álbum Festejo, lançado semana passada apenas em versão digital, mas já presente nas plataformas de streaming.

 

Yamandu Costa
De olhos bem fechados. Yamandu Costa compõe e grava em sua casa em Lisboa  Foto: Maristela Martins
 

A mudança para Lisboa foi uma questão de logística, nada teve a ver com a pandemia. “Minha carreira estava se intensificando muito, e eu já estava cansado de viajar demais entre Brasil-Europa-Brasil. Me cansei disso e resolvi me fixar num ponto mais central.” De fato, além dos 32 CDs autorais – 33 agora, com Festejo –, Yamandu tem tocado com frequência, de 2015 para cá, o concerto Fronteira, que gravou com a Orquestra de Mato Grosso, com sinfônicas como a Orquestra de Paris, a Gewandhaus de Leipzig e a de Roterdã. Sem contar as dezenas de apresentações anuais por festivais de toda a Europa, Japão e até África. “A pandemia, aliás, primorosamente enfrentada aqui em Portugal, transformou 2020 num ano profissionalmente perdido. Mas, em compensação, nunca convivi tanto com meus filhos. E continuo trabalhando e gravando, produzindo em casa. Vejo de longe o que acontece no Brasil. Para este governo, a cultura não é uma coisa importante. Pelo caos, pelo modo irresponsável do governo de agir – ou melhor, não agir – em relação à pandemia, agradeço a cada dia ter tomado previamente a atitude de sair de meu País.”

E por falar em pandemia, a gestação de Festejo aconteceu durante dois anos e meio em que Yamandu e o arranjador Marcelo Jiran praticamente não se viram – apenas uma vez em 30 meses de trabalho. Um no Rio, outro em Belo Horizonte, trocaram áudios de bases dos arranjos com os solos de Yamandu. A distância, como só poderia ser hoje em dia. “A feitura começou comigo mandando as coisas para ele, que colocava a orquestra em cima. Um pouco antes da metade inverteu-se o processo: eu ficava esperando e ele mandava a base pronta. Foi um disco muito trabalhado.”

Jiran, mineiro de Belo Horizonte cinco anos mais novo que Yamandu, parece irmão gêmeo dele, musicalmente falando. Praticamente autodidata, tem como mote “O meu aprendizado é ouvir”. Ou seja, como Yamandu, que não é muito dado a partituras, ele também faz do ouvido privilegiado e a incomum habilidade para tocar muitos instrumentos diferentes (algo que tem em comum com André Mehmari) suas habilidades essenciais. 

Eles se conheceram em Belo Horizonte, em 2011, e não se largaram mais. Em Festejo, Jiran fez todos os arranjos e toca todos os instrumentos. E olhe que a lista é longa: piano acústico e elétrico, vibrafone, baixo elétrico, “baixolão”, saxofones alto e soprano, flauta transversal, clarinete e percussão (congas, bongôs, cowbell, clave, shakers, caxixi, vassourinha, tamborim, coquinhos, agogô e efeitos). Jiran esbanja categoria em cada um deles. E foi capaz de construir arranjos leves para um Yamandu mais amadurecido. Afinal, ele agora é um senhor de 40 anos. 


Estadão quinta, 04 de junho de 2020

IRA! LANÇA ÁLBUM DE INÉDITAS

 

Depois de 13 anos, Ira! mantém relevância com álbum inédito

Intitulado 'Ira', sem acento, disco traz músicas inspiradas que mostram a banda em plena forma criativa

Julio Maria, O Estado de S.Paulo

04 de junho de 2020 | 05h00

Seria um disco do Ira!, um bom disco do Ira!, com as guitarras timbrando e as composições de Edgard Scandurra em plena forma criativa, mesmo nas métricas nem sempre polidas para a interpretação que Nasi conseguiu reinventar a si mesmo usando as limitações da própria voz. Um disco importante, lançado 13 anos depois do que havia sido o último de inéditas antes da confrontação entre os integrantes e o fim, Invisível DJ. Ira, o novo álbum, não por acaso sem o acento de exclamação, já seria um marco importante se fosse lançado até janeiro de 2020, mas agora ganha ainda outra significância quando soa como se estivesse atendendo a um chamamento. No momento em que o País desmorona, o rock and roll, ou a parte de resistência que lhe restou depois da debandada conservadora, também pode soar como uma esperança.

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Edgard e Nasi: retorno em álbum para se tocar ao vivo Foto: Ana Karina Zaratin
 

A esperança que soa em Ira, o primeiro disco da banda paulistana a levar seu próprio nome no título, não é de panfletos, apesar de letras como O Homem Cordial Morreu trazer versos como “e se eu me distanciar do que clama meu interior / que seja por um instante e que eu saia do torpor / de ver tudo acabar, tudo o que se sonhou / esperando por alguém que vá e lute por mim / não pode ser assim / que eu esteja ao seu lado / lado a lado por favor”. A força de canções inteiramente novas – e o inteiramente não é pleonasmo no caso de canções – é uma quase milagrosa reação em si de uma banda liderada por dois homens de 58 anos dada por muitos como produtivamente extinta mesmo com um show redentor para milhares de pessoas na Virada Cultural de 2014, no pós rompimento. Seu retorno às rotativas sobretudo com músicas como O Amor Também Faz ErrarMulheres à Frente da TropaA Torre e O Homem Cordial Morreu acessam as matizes do Ira! sem acessar o velho Ira! E quando um fã sente isso, ele percebe que, apesar de algumas baixas, muitos de seus heróis ainda caminham a seu lado.

 “O Ira sem acento é para traduzir os tempos da ira em que estamos vivendo, esse sentimento de confronto. Não tínhamos também nenhum álbum com o nome da banda”, diz Nasi. O disco já estava praticamente pronto quando a pandemia atropelou o mundo, por isso não entenda errado a frase da música Nossa Amizade quando ela diz “deixemos assim, alguns metros de distância, agora é assim. Atrás das paredes de concreto, deixamos assim”. Ao olhar para trás, Nasi diz o que vê. Ele não queria fazer o projeto Ira! Folk, foi resistente, mas acabou aceitando o argumento do irmão, Airton Junior, de que o formato o colocaria em teatros que nunca viram as bandas de rock com muito carinho. Sobre o disco Invisível DJ, de 2007, ele avalia com ressalvas. “Eu fui convencido a fazer, mas entendo que aquele é um disco mais ou menos do Ira!”

O tempo passou e a banda volta em uma configuração que redistribui a política interna, o que pode facilitar o fluxo de operações. Com o baterista Evaristo Pádua e o baixista Johnny Boy, como diz Nasi, a sonoridade dos registros da banda é respeitada ao mesmo tempo em que as decisões não precisam mais passarem pelas desgastantes votações dos quatro integrantes originais. “Não que Johnny e Evaristo não sejam importantes, claro que são, mas quero dizer que a tocha está nas nossas mãos.” Aos fãs que perguntarem até onde pode durar o novo armistício entre Nasi e Edgard, ou Nasi e seu próprio irmão que também trabalha a seu lado, Junior, Nasi diz: “Olha, sendo bem sincero, nós do grupo sabemos que um dia podemos decidir uma parada, mas isso não será mais da forma como foi, com brigas. Podemos hoje fazer isso com tranquilidade.”

O Ira!, assim como o próprio rock and rol, surge de um universo majoritariamente masculino, muitas vezes machista. Assim, vira um outro marco do disco a canção Mulheres à Frente da Tropa, composta e cantada por Edgard Scandurra. “Achei ótimo quando ele pediu para cantar essa, sempre tivemos algo no disco em que ele canta”, diz o vocalista. A canção tem algumas das ideias de arranjos mais belas do álbum, aquelas que o grupo costuma acertar quando sai do formato de front do rock e parte para cordas e outras sensibilidades. Scandurra lembra que sua trajetória está cercada de trabalhos com mulheres, desde sua passagem pelo grupo As Mercenárias, em 1983, até produções e participações em trabalhos de cantoras, além das parcerias que fez para criar as novas canções, como as duas com Silvia Tape (Respostas Você Me Toca) e uma com Virginie Boutaud (Efeito Dominó). Mas reconhece também que era preciso marcar território, posicionando-se em uma causa dos novos tempos. “Era importante para o Ira! entrar nesse terreno. O rock carrega muito esse estigma do sexo-drogas-rock and roll, existem as lendas das groupies (as mulheres que seguiam as bandas oferecendo-se aos roqueiros), as tietes, um olhar sempre de exploração das fãs, aquele olhar de cima para baixo.” Sua canção, com cordas de violão dedilhadas em acordes abertos, cria um clima reconfortante para versos implacáveis: “Ouçam os gritos das ruas / peito à mostra, vozes agudas / ouçam as bombas que caem no solo / tremem os corpos das crianças de colo / mulheres à frente da tropa... / Jovens mulheres, adolescentes / lutam por todos até os descrentes / imóveis ficamos sem reação / somente nos restam os calos nas mãos / mulheres à frente da tropa.” Há um coro de mulheres, entre elas a cantora Virginie Boutaud, da banda Metrô, e um belo clipe gravado nas dependências da Ocupação 9 de Julho, dirigido por Luciana Sérvulo, que conta uma história a partir do sonho de uma senhora que cochila em sua poltrona. 

Manter a sonoridade do Ira! relevante em 2020 foi também, na fala dos integrantes, uma conquista do produtor Apollo 9, um conhecedor de anos da sonoridade sem grandes concessões da banda. O que se ouve é um álbum de solos de guitarra elásticos, sem as métricas de tempos milimetrados de outros discos, e com canções com muitas possibilidades de aberturas para serem destrinchadas em shows ao vivo, assim que for possível fazê-los. “O conceito de guitarra nesse disco acabou se tornando algo super forte, o que nem sempre aconteceu em outros álbuns”, diz Scandurra. “A gente às vezes se preocupa com as canções, os arranjos, a estética, e quando vê, a guitarra está escondida lá atrás, pequena na composição.” A crítica muitas vezes chamou a atenção para uma certa adolescência nas letras de Edgard em outros discos, o compositor de quase tudo no grupo. Os anos precisavam passar para que pudesse contar aquilo que se viveu, ou o que não viveu, assim que chegasse vivo a 2020.

Crítica: Que seja deles o primeiro grande show

 O Ira! se fez sobre uma das sonoridades mais férteis do rock, baseada nas bandas inglesas dos anos 1960, o que lhe permitiu seguir o que propôs desde Mudança de Comportamento, em 1985, sem se tornar repetitivo. Os mesmos críticos que apontaram com alguma razão para um texto excessivamente juvenil também elogiavam a forma como o grupo conseguira atravessar tantos anos sem macular uma discografia com algum disco menor, apesar das ressalvas do próprio Nasi ao de fato menos importante Invisível DJ, de 2007.

Ira, o disco que chega nesta sexta (5) às plataformas, é uma vitória sobretudo da composição de Edgard Scandurra, com justiça feita a toda a presença que Nasi consiga com sua persona, muitas vezes tão ou mais forte até do que a própria voz. Mesmo tantos anos depois de compor para o parceiro cantar pela última vez, Edgard soube guardar o lugar da banda em si, mesmo ainda depois de decretá-la morta e com vários outros compartimentos criados de 2000 para cá, e reacessá-lo para trazer um espírito de volta. De tão forte, a marca que este grupo imprimiu parece sólida a ponto de ser ativada com originalidade sem que se proponha um instrumento a mais como novidade. O Ira! está tinindo, e deveria fazer o primeiro show de estádio da reabertura, assim que isso for possível, para lavar as ruas e as almas.


Estadão quarta, 03 de junho de 2020

TURMA DA MÔNICA DESENVOLVE CARTILHA COM ORIENTAÇÃO PARA O USO DE MÁSCARAS

 

Turma da Mônica desenvolve cartilha com orientações para o uso de máscaras durante pandemia

Material foi desenvolvido em parceria com o Centro de Pesquisa em Alimentos da USP; saiba mais

Camila Tuchlinski, O Estado de S.Paulo

03 de junho de 2020 | 09h00

A Mauricio de Sousa Produções e o Centro de Pesquisa em Alimentos da Universidade de São Paulo (FoRC/USP) desenvolveram uma cartilha ilustrada com os personagens do Bairro do Limoeiro, da Turma da Mônica, para estimular e orientar o uso correto de máscara de proteção diante a pandemia do novo coronavírus. O material têm como base as orientações da ANVISA.

 Turma da Mônica

Turminha do Bairro do Limoeiro ensina como usar máscara de proteção corretamente durante pandemia Foto: Divulgação/MSP
 
 

A cartilha "Como usar máscara para se proteger do coronavírus" apresenta instruções para o uso de máscaras descartáveis e as de pano reutilizáveis estão didaticamente detalhadas para que todos possam se proteger da melhor forma possível. 

Em muitas localidades, o uso da máscara  contra covid-19 se tornou obrigatório, seja em estabelecimentos comerciais ou no transporte público e privado. Essa proteção facial é de extrema importância, pois evita que gotículas suspensas no ar - quando pessoas infectadas tossem, espirram ou simplesmente conversam - se espalhem. Por isso, Cebolinha, Jeremias, Milena, Magali e Mônica, todos devidamente protegidos usando máscara, mostram de uma forma fácil os cuidados básicos para manipular esse item. 

Para Mônica Sousa, diretora executiva da MSP, é muito importante intensificar os hábitos no combate ao vírus. Ela também ressalta a importância do material em tempos de fake news. "Buscamos produzir um material que contenha orientações de fontes seguras para que o combate à pandemia seja feito da forma mais correta possível. Para reforçá-las, utilizamos os personagens da Turma da Mônica, tão querida pelos brasileiros, para apresentar os cuidados de uma forma mais leve e didática", pontua.

Além da cartilha, a Mauricio de Sousa Produções tem realizado uma série de ações de conscientização. São diversos materiais informativos de prevenção e dicas para higienização de objetos utilizados no dia a dia durante esse período de quarentena. A empresa também está disponibilizando conteúdos educacionais e de entretenimento para os pequenos e fãs da Turma da Mônica durante o isolamento social.

A cartilha com orientações para o uso correto das máscaras estará disponível para consulta e compartilhamento nas plataformas digitais da Turma da Mônica, no TwitterInstagram e Facebook.


Estadão terça, 02 de junho de 2020

VALORIZAÇÃO DA LEITURA ESCOLHIDA PELOS JOVENS

 

Valorizar a leitura escolhida pelos jovens pode ser incentivo para torná-los leitores ávidos

Embora ler uma notícia não seja o mesmo que ler um romance ou um livro de não ficção, especialistas dizem que não ajuda em nada adultos desmerecerem a leitura que muitos adolescentes estão fazendo

Karen MacPherson, The Washington Post

02 de junho de 2020 | 04h49

É natural que muitos pais se preocupem em conseguir que seus filhos leiam durante as férias, mas as apostas podem parecer especialmente altas este ano, depois de meses de “ensino a distância”. Quando se trata de adolescentes e leitura, as definições contam.

Sim, pesquisas mostram que os adolescentes estão lendo menos, uma queda que começa no ensino fundamental II. Mas muitos especialistas acham que os critérios usados por pesquisadores são muito limitados e refletem a maneira como muitas vezes definimos instintivamente “ler” como leitura de ficção em geral, e ficção literária em particular. E livros físicos, sem incluir os digitais. 

 

Leitura
Papel dos pais. Além de entender melhor os temas escolhidos pelas crianças, é preciso dar abertura para as leituras online, sejam elas de ficção ou não. Foto: REUTERS/Amanda Voisard
 

Os adolescentes de hoje estão lendo, tanto material impresso quanto online, de acordo com especialistas em educação, bibliotecários e professores. Mas o que eles estão lendo - livros de terror e distópicos, perfis de revistas esportivas, artigos de notícias online etc, - frequentemente não é considerado nas pesquisas como “leitura”.

Embora ler uma notícia não seja o mesmo que ler um romance ou um livro de não ficção, especialistas dizem que não ajuda em nada adultos desmerecerem a leitura que muitos adolescentes estão fazendo. 

Em seu livro Reading Unbound: Why Kids Need to Read What They Want - and Why We Should Let Them (Leitura livre: Por que as crianças precisam ler o que querem - e por que devemos deixar que façam isso, em tradução livre), os especialistas em educação de adolescentes Michael W. Smith e Jeffrey D. Wilhelm destacam o fato de que as crianças que foram observadas apresentaram um “envolvimento surpreendentemente rico com textos que não valorizamos muito”. Segundo Smith, professor da Temple University, “muitos eram leitores ávidos de textos marginalizados”. 

Isso é particularmente verdade com adolescentes do sexo masculino. Conforme relatado em seu livro anterior, Reading Don’t Fix No Chevys (Ler não conserta nenhum Chevrolet, em tradução livre), os estudos de Smith e Wilhelm descobriram que muitos adolescentes estão interessados em ler livros e outros materiais por meio dos quais aprendam algo, como a história de um esporte favorito ou mesmo manuais de carro. Eles sentem prazer em se tornar um especialista em alguma coisa. (Claro, isso também é verdade para muitas garotas). 

“Mas esse é exatamente o tipo de leitura que pais e professores querem que as crianças ‘deixem para trás’”, disse Wilhelm, professor da Universidade Estadual de Boise (Idaho, EUA). Como os adultos com quem convivem subestimam o que gostam de ler, muitos adolescentes - especialmente os garotos - não se consideram leitores, uma percepção de si mesmo que começa no ensino fundamental II e piora com a idade. 

“Ensino literatura infantil em uma faculdade de educação, para que meus alunos sejam professores”, disse Laura Jimenez, professora da Faculdade de Educação e Desenvolvimento Humano Wheelock da Universidade de Boston. “Raramente há um homem na sala de aula e, quando há, diz: “Eu não sou um leitor de verdade’. Mas eles não estão considerando o que leem de fato.” 

Como verdadeiros nativos digitais, os adolescentes estão lendo cada vez mais textos online, especialmente notícias, artigos de esportes e de entretenimento, além das mídias sociais. Um adolescente, que é um leitor apaixonado, me disse recentemente que “é preciso muito mais esforço para ler um livro do que olhar a tela”. Embora a leitura na tela também carregue a tentação de “começar a jogar ou verificar suas redes sociais”, disse ele. “É quase impossível evitar.” 

Então, qual é o papel dos pais quando se trata de adolescentes e leitura? Aqui estão algumas dicas e estratégias de especialistas:

1) Confira - e valorize - o que seus filhos gostam de ler.

Como adulto, você pode ver alguns títulos como lixo e artigos online sobre artistas populares como uma perda de tempo. Mas tente evitar criticar o tipo de leitura que seu filho está fazendo. É crucial permitir que os adolescentes, que geralmente têm muita lição por fazer, escolham o que ler no seu tempo livre. Laura, por exemplo, tem um filho que gosta de ler notícias, então sua família tem assinaturas de vários veículos de comunicação.

2) Veja o tipo de leitura que seu filho curte como uma ponte para outros tipos de leitura.


Uma maneira pela qual os pais podem incentivar seus filhos a diversificar é explorar diferentes tipos de leitura sobre os tópicos que lhes interessam. E não deixe de fora os textos online. Smith cita sua própria experiência como fã de futebol que lê tudo o que pode: estatísticas, breves perfis de jogadores, artigos longos sobre jogadores e livros. “Acho que cometemos um erro quando traçamos linhas duras entre os livros e outros tipos de leitura”, disse. “Leio mais online e me considero um leitor." 

Wilhelm oferece outra perspectiva nessa ideia de “focar nos tópicos” que pais e professores podem usar. Digamos que seu filho tenha que ler Romeu e Julieta para a escola e relute em fazê-lo. Por que não abordar a peça de Shakespeare como uma história sobre “o que faz relacionamentos acabarem? Qual aluno do nono ano não está interessado nisso?”, Wilhelm perguntou.

3) Leia em voz alta para seu filho adolescente ou escutem audiolivros juntos.

Sim, seu filho sabe ler. Mas há um prazer distinto em ter alguém lendo em voz alta para você. Isso também cria uma “experiência em comum”, disse Abigail Foss, professora de inglês avançado da Northwood High School, em Silver Spring, Maryland, que diz que seus alunos “adoram que leiam para eles”.

Outra possibilidade para essa ideia é ouvir audiolivros juntos, algo ideal para viagens de carro, mas também pode ser feito em um piquenique em casa ou mesmo durante um "jantar de leitura". Para pais e adolescentes, ouvir audiolivros e ler um livro em voz alta são ótimas atividades para fazer em família, mesmo que por um curto período todos os dias. Isso também ajudar a ter um tema em comum para conversas em família.

4) Crie tempo para a família ler.

Os adultos nem sempre dão o melhor exemplo para os leitores adolescentes que desejam formar. Portanto, tente diminuir o tempo gasto no telefone com e-mail ou mídia social e dedique 20 minutos por dia para ler um livro ou artigo de revista, enquanto os demais integrantes da sua família também leem algo que cada um escolheu. Mesmo se seu filho adolescente não topar a ideia, você ainda poderá desfrutar de um pedaço de seu dia para ler algo por prazer. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA 


Estadão segunda, 01 de junho de 2020

MENO DEL PICCHIA, BISNETO DE MENOTTI, LANÇA DISCO ORGÂNICO

 

Bisneto do modernista, Meno Del Picchia lança disco 'orgânico', com voz, baixo, piano e violão

Músico criou as letras em 2017 e as melodias surgiram como alívio para a pandemia

Tiago Queiroz, O Estado de S.Paulo

30 de maio de 2020 | 13h37

O músico Meno Del Picchia
O músico Meno Del Picchia Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

“Minha casa é esse disco, esse disco é minha casa” – foi com esse mantra ecoando pelos ladrilhos, paredes, violões e teclas do piano e sob o impacto da solidão provocada pelo isolamento social imposto pela pandemia de coronavírus que o músico Meno Del Picchia compôs, tocou, gravou e filmou o disco Pele de Água, com oito músicas. Elas estão sendo lançadas uma a uma em sua página no Instagram e em seu canal no YouTube. O compositor pretende reuni-las depois na plataforma BandCamp e esse será seu quarto disco. O último, Barriga de 7 Janta, foi lançado em 2016, contemplado pelo prêmio ProAC do Estado de São Paulo. Seu bisavô paterno foi o poeta modernista Menotti Del Picchia e o materno, Zicão, compositor de catira, moda de viola caipira. 

Multi-instrumentista, com paixão pelas quatro cordas do contrabaixo, nascido em Campinas, criado em Bragança Paulista, mas sobretudo paulistano, de seus 43 anos de idade, mora na capital desde os 18. Já tocou com Ná Ozzetti, Karina Buhr, Tulipa Ruiz, Bocato e Metá Metá, entre outros. Hoje, integra a banda do pernambucano Otto, mas, como os demais colegas, teve shows cancelados. As canções gravadas nessas semanas já habitavam o dedilhado do seu violão há anos. “O germe desse disco está em 2017, quando comecei a compor as músicas, tanto letra quanto melodia. Estava deixando para um dia gravá-las, quando diminuísse a rotina de shows, quando terminasse o doutorado”, diz ele, que prepara uma tese sobre o funk paulistano para ser apresentada em uma banca, no curso de Antropologia Social da USP. “Aí veio a pandemia, a quarentena, e comecei a gravá-las como forma de terapia, de não enlouquecer em meio a tudo isso. Foi um processo de enfrentamento da pandemia. Para nós, músicos, está sendo angustiante, não sabemos quando vai voltar a ter show, isso gera uma ansiedade extrema, e fazer o disco me ajudou a lidar com isso”, ressalta.

 

As músicas de Pele de Água foram todas compostas de voz, piano, violão e baixo acústico de uma maneira “bem orgânica”, como faz questão de definir. “Não há nenhum instrumento eletrônico. Nem metrônomo, eu usei. Deixei fluir.” Além da música em si, também atuou, dirigiu e filmou clipes caseiros que produziu para cada canção. “Na minha pesquisa sobre o funk na cidade, filmei muito com o celular, produzi vários diários de campo e essa vivência me ajudou agora na produção dos vídeos”, diz. Ele pretende – se tudo der certo – defender no final do ano sua tese de doutorado, que teve lances inusitados: como forma de imersão, ele morou alguns meses em uma comunidade periférica da zona sul de São Paulo.

As letras tiveram a participação de amigos: em Meu Ouro é Outro, fez parceria com Anna Zepa e, em Número da Sorte, com Poeta Arruda. “Apesar das letras já estarem escritas, muitas delas falam de separação, solidão. Temas que não envelhecem. O disco fala de aceitar esses sentimentos. Misteriosamente, apesar de falar de um outro tipo de solidão (a separação de um grande amor), ele fala também desse momento, de aprender a estar sozinho. Ele carrega um aprendizado que é atemporal e que casa muito bem com o momento. Não é um disco feito para a pandemia, mas ele se relaciona com ela”, acredita. 

Os vídeo foram feitos com a câmera emprestada de um amigo. A casa, um simpático sobradinho remanescente de uma outra São Paulo, em uma calma rua do bairro da Pompeia, serve como fundo e personagem de suas produções. “Tanto eu como ela fomos personagem das narrativas. Produzir os filmes tornou a história toda não só musical, mas imagética também”, diz. Sem um roteiro amarrado, o músico fez tomadas de seu dia a dia nesse período – em alguns momentos, atua em situações imaginárias: faz as vezes de um trabalhador saindo de casa, o trânsito, a volta para o lar, situações corriqueiras de um passado recente que tanto se alterou. 

Em outras situações, utilizou imagens desfocadas, elementos da natureza como o por do sol que se esvai com delicadeza ou os fios elétricos cobertos de vegetação em frente à sua casa. Imagens de anotações, poesias, letras e ideias para futuras canções, escritas nos azulejos da cozinha – ele se abraça, encena uma dança improvisada em um estreito corredor, anda de bicicleta, prepara o café e picha a parede de sua própria residência com uma frase libertadora. Em alguns momentos, nos mostra cenas da noite, da bruma enevoada da madrugada. Períodos de insônia, enfrentada por muitos que atravessam esses dias. Um universo de euforia, solidão, alegria e amor contido na casa, no disco. 


Estadão domingo, 31 de maio de 2020

LADY GAGA LANÇA NOVO ÁLBUM: CHROMATICA

 

Lady Gaga lança novo álbum 'Chromatica' com referências ao passado

Cantora retorna às origens em disco que conta com participações de Elton John, Ariana Grande e grupo de k-pop Blackpink; ouça

Redação, O Estado de S.Paulo

29 de maio de 2020 | 12h03

Lady Gaga lançou nesta sexta-feira, 29, seu sexto álbum em estúdio, Chromatica, com 16 faixas, sendo três interlúdios e músicas com referências eletrônicas e ritmos dançantes. 

Diferente de seus últimos discos, a cantora volta às origens com cabelos coloridos e figurinos excêntricos. As parcerias também chamam atenção. Apostando em artistas de diferentes gêneros, ela canta com o grupo de k-pop Blackpink a canção Sour candyElton John assina a Sine from above; e Ariana Grande, que recentemente lançou com Justin Bieber a música Stuck With U, sobre o distanciamento social, divide o microfone com Gaga em Rain on Me.

 
 
Lady Gaga em
Lady Gaga em 'Chromatica', seu sexto álbum Foto: Reprodução
 

O álbum tinha previsão de lançamento para abril, mas foi adiado devido ao novo coronavírus. Lady Gaga já havia divulgado duas músicas de ChromaticaRain On Me, maior estreia internacional da história do Spotify Brasil, e Stupid Love, divulgada há três meses e com mais de 86 milhões de visualizações no YouTube. Sour Candy, por sua vez, veio ao público um dia antes do lançamento oficial do álbum.

O mais recente disco de Lady Gaga era até então Joanne, lançado em 2016. Em 2018, ela protagonizou o filme Nasce Uma Estrela junto com Bradley Cooper, e foi responsável pela trilha sonora da produção.

Confira as músicas de Chromatica:

1. Chromatica I

2. Alice

3. Stupid Love 

4. Rain On Me (feat. Ariana Grande)

5. Free Woman

6. Fun Tonight

7. Chromatica II

8. 911 

9. Plastic Doll

10. Sour Candy (feat. Blackpink)

11. Enigma

12. Replay

13. Chromatica III

14. Sine From Above (feat. Elton John)

15. 1000 Doves

16. Babylon


Estadão sábado, 30 de maio de 2020

O QUE CHEGA EM JUNHO NO STREAMING

 

Streaming em junho de 2020: o que ver na Netflix, HBO Go, Globoplay

Veja o que chega à Netflix, Globoplay, HBO Go, Mubi, Prime Video, Starzplay em junho de 2020

Redação, O Estado de S. Paulo

29 de maio de 2020 | 10h00

Todos os meses, o Estadão faz uma varredura e junta em páginas como essa os lançamentos nas principais plataformas de streaming em atuação no Brasil.

Entre as principais novidades da Netflix, está a estreia da segunda temporada de Coisa Mais Linda, com Maria Casadevall, Pathy Dejesus, Mel Lisboa e Larissa Nunes, e a chegada do novo filme de Spike Lee, Destacamento Blood.

 

Na HBO, Kristen Bell vive uma inteligente e destemida investigadora particular dedicada a resolver os mistérios de uma cidade litorânea em Veronica MarsIt - Capítulo 2, Green Book: O Guia e Zumbilândia: Atire Duas Vezes entram no catálogo de filmes da plataforma.

 No Mubi, um dos destaques é a mostra Foco em Sacha Guitry, cineasta russo radicado na França e que, entre 1935 a 1957, produziu, escreveu, dirigiu e atuou em cerca de 32 filmes. Neste mês, chegam à programação três comédias adaptadas de peças teatrais assinadas por ele.

Na lista abaixo, confira as novidades dos principais serviços (NetflixHBO Go, Mubi, Globoplay, Amazon Prime Video, Starzplay, Telecine) para junho de 2020, com as sinopses fornecidas para a imprensa. A lista está em atualização.

 

Coisa Mais Linda
A segunda temporada de Coisa Mais Linda estreia na Netflix no dia 19 de junho  Foto: Netflix

NETFLIX

Séries

  • Coisa Mais Linda: Temporada 2 (19/6/2020)

Enquanto seguem em frente após uma recente tragédia, Malu e as amigas abraçam novos desafios profissionais e novas possibilidades de amor, além de confrontar injustiças corajosamente. Com Maria Casadevall, Pathy Dejesus, Mel Lisboa e Larissa Nunes.

  • The Sinner: Jamie (19/6/2020) 

O Detetive Harry Ambrose investiga um acidente de carro que acaba se tornando um dos casos mais complicados de sua carreira.

  • Reality Z (10/6/2020) 

Participantes de um reality show brasileiro ficam presos em um estúdio de TV depois de um apocalipse zumbi.

  • The Politician: Temporada 2 (19/6/2020) 

Adversários cada vez mais difíceis estão no caminho de Payton, mas sua obsessão é uma só: o Senado.

  • Fuller House: Episódios finais (2/6/2020) 

Em casa com o novo bebê, Jimmy e Steph mergulham no mundo das fraldas e mamadeiras. E não faltará gente para ajudar.

  • Perdida (5/6/2020)

Nesta série de suspense, um pai orquestra sua própria prisão para tentar encontrar na cadeia a pessoa que sequestrou sua filha.

  • Marcella: Temporada 3 (14/6/2020) 

Um ano e meio depois, Marcella tem uma nova identidade em Belfast e convive com uma família de criminosos como agente infiltrada.

  • F is for Family: Temporada 4 (12/6/2020) 

Frank precisa lidar com a visita inconveniente do pai, Sue descobre as maravilhas do método Lamaze e Bill ganha respeito no hóquei.

  • Professor Iglesias: Parte 2 (17/6/2020)

A série sobre o professor hilário determinado a fazer a diferença na vida de seus alunos está de volta para uma segunda temporada.

  • A Busca (12/6/2020) 

O desaparecimento de uma criança na Cidade do México levanta questões sobre poder e privilégios nas camadas mais abastadas da sociedade.

  • Modern Family: Temporadas 7 a 10 (2/6/2020)

Na 7ª temporada, Jay Pritchett e sua turma redefinem os valores de família quando as crianças saem do ninho, surgem novos empreendimentos e a paternidade em idade avançada traz desafios. Na 8ª temporada, Luke e Manny terminam o ensino médio, Haley começa uma nova carreira e Alex continua na faculdade, enquanto Gloria e Claire enfrentam desafios no trabalho. Na 9ª, está difícil para Phil fazer a nova empresa decolar. Haley arranja um emprego estressante e Manny começa a faculdade. Na 10ª, que estreia no dia 9/6/2020, prepare-se para mudanças de carreira, namoradas canadenses e cirurgias caninas. A família Pritchett-Dunphy-Tucker encara altos e baixos unida.

Reality shows

  • Queer Eye: Temporada 5 (5/6/2020) 

Nesta temporada, os Cinco Fabulosos vão à histórica Filadélfia para novas e incríveis transformações.

  • RuPaul’s Drag Race: Temporada 12 (Em breve) 

Treze queens. Uma só coroa. RuPaul e sua equipe estão de volta para mais uma temporada de muita música, jurados famosos e roupas ousadas.

  • RuPaul’s Drag Race: Untucked!:  Temporada 12 (Em breve) 

Barracos, fofocas e muita queimação de filme. Conheça os bastidores da temporada 12 de RuPaul's Drag Race.

  • Namoro, Amizade... Ou Adeus?: Temporada 2 (12/6/2020) 

Seis solteiros buscam o amor em uma maratona de encontros com novos pretendentes. Mas será que vai rolar um segundo date?

  • Jogo da Lava (19/6/2020) 

Nesta competição, as equipes precisam atravessar cômodos com chão de lava pulando sobre cadeiras, pendurando-se nas cortinas e nos lustres. Sim, você entendeu certo.

  • Crazy Delicious (24/6/2020) 

Com ingredientes de uma floresta mágica comestível, esses chefs amadores precisam preparar delícias inovadoras para impressionar os jurados

  • Keeping up with the Kardashians: Temporadas 1 e 2 (1/6/2020)

Com o apoio da mãe Kris, as irmãs Kim, Kourtney e Khloé se tornam celebridades internacionais nesta série divertida e cheia de glamour.

  • Top Chef: Temporada 1  (1/6/2020)

Este premiado reality show acompanha os acessos de fúria e as amizades que surgem na cozinha enquanto os competidores fazem de tudo para serem o novo Top Chef.

  • Jogo de Titãs: Temporada 1 (1/6/2020)

Nesta série épica, o apresentador Dwayne Johnson mostra atletas desafiando o limite de suas forças pelo prêmio de 100 mil dólares.

  • The Real Housewives of Beverly Hills: Temporadas 1 e 2 (1/6/2020)

Esta franquia de sucesso acompanha as brigas, bebedeiras e ostentações das endinheiradas de Beverly Hills. Também estreiam no serviço, na mesma data, as temporadas 1 e 2 de Atlanta, Geórgia, que mostra os altos e baixos da vida de cinco socialites em meio a extravagâncias, gafes e discussões.

Coleção Midnight Diner

  • Midnight Diner: Temporadas 1 a 3 (1/6/2020)

Um restaurante abre toda noite e serve somente quatro pratos. Mas os fregueses não vão até lá apenas pela comida, e sim para desabafar e ouvir conselhos. A clientela não poderia ser mais diversa – de strippers a membros da yakuza (a máfia japonesa), todos são bem-vindos.

Filmes

  • Destacamento Blood (12/6/2020) 

Spike Lee conta a história de quatro veteranos de guerra que voltam ao Vietnã em busca dos restos mortais de seu comandante e de um tesouro enterrado.

  • Wasp Network - Prisioneiros da Guerra Fria (19/6/2020) 

Na década de 1990, espiões cubanos pagam um preço alto ao se infiltrar em grupos de exilados para impedir ataques terroristas contra a ilha. Baseado em fatos reais. Com Wagner Moura, Ana de Armas, Édgar Ramírez, Penélope Cruz e Gael García Bernal.

  • The Last Days of American Crime (5/6/2020) 

Um ladrão de bancos participa de um plano para cometer o último grande assalto antes de o governo ativar um sinal que acabará com todas as atividades criminosas.

  • Feel the Beat (19/6/2020) 

Ao fracassar na Broadway, uma dançarina volta à sua cidade natal e aceita treinar um grupo de crianças para uma competição.

  • Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars (26/6/2020) 

Eles têm um sonho: participar da maior competição de música do mundo, o Eurovision. Desistir não faz parte dos planos. Com Will Ferrell e Rachel McAdams.

  • Expresso do Destino (19/6/2020) 

Dois estranhos se cruzam em um trem na Turquia e descobrem que têm muito em comum, inclusive o plano de acabar com o casamento dos ex-namorados.

  • Mulher-Maravilha (26/6/2020)

Nascida na ilha das Amazonas, a poderosa princesa Diana deixa a segurança de sua terra natal para pôr fim a uma grande guerra.

  • Em Ritmo de Fuga (30/6/2020)

O rosto angelical de Baby esconde um piloto de fuga viciado em música e envolvido com o mundo do crime. Seu último trabalho será mais difícil do que imaginava. Com Ansel Elgort e Lily James.

  • Escritores da Liberdade (1/6/2020)

Enquanto seus alunos em situação de risco leem clássicos como “O Diário de Anne Frank”, uma professora pede a eles para fazerem diários de suas vidas conturbadas. Com Hilary Swank.

  • A Torre Negra (30/6/2020)

Com seus poderes especiais, o jovem Jake Chambers une forças com o último Pistoleiro para impedir que um feiticeiro destrua a única coisa que mantém o equilíbrio do universo. Com Idris Elba e Matthew McConaughey, o filme é inspirado na obra de Stephen King.

  • Homens, Mulheres e Filhos (1/6/2020)

Adolescentes e pais se deparam com mudanças inevitáveis em suas vidas à medida que navegam o cenário cada vez mais complexo da era digital. Com Ansel Elgort, Timothée Chalamet, Jennifer Garner e Adam Sandler.

  • Amor Sem Escalas (1/6/2020)

Ryan Bingham (George Clooney) voa o mundo a trabalho sem parar, até que conhece Alex (Vera Farmiga) e descobre que a vida não vale pelas viagens, mas pelas conexões que fazemos pelo caminho.

  • Branca de Neve e o Caçador (30/6/2020)

Nesta moderna versão de um clássico, a bela de pele branca como a neve (Kristen Stewart) luta contra a Rainha Má (Charlize Theron) com as habilidades que aprendeu com o caçador (Chris Hemsworth) enviado para matá-la.

  • Invasão de Privacidade (1/6/2020)

Uma mulher divorciada se muda para um apartamento onde algo terrível aconteceu. Sem saber que está sendo observada o tempo todo, começa um caso tórrido com um vizinho. Com Sharon Stone.

  • O Show de Truman - O Show da Vida (1/6/2020)

Truman Burbank (Jim Carrey) é a estrela de "O Show de Truman", um fenômeno da TV que vai ao ar 24 horas por dia e transmite todos os aspectos da sua vida sem o seu conhecimento.

  • Perfume de Mulher (30/6/2020)

Esperando ganhar algum dinheiro durante o feriado de Ação de Graças, um estudante pobre concorda em cuidar de um coronel aposentado, que é cego e muito rabugento. Com Al Pacino.

  • Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (1/6/2020)

Indiana Jones é sequestrado por agentes soviéticos para encontrar as caveiras de cristal de Akator, artefatos amazônicos com poderes sobrenaturais.

  • Indiana Jones e a Última Cruzada (1/6/2020)

Acompanhado do pai, Indiana Jones embarca em sua terceira aventura para explorar o berço da civilização em uma perigosa busca pelo Santo Graal.

  • Indiana Jones e o Templo da Perdição (Em breve, em junho)

Indiana Jones, seu jovem ajudante e uma cantora mimada vão à Índia em busca de uma pedra mágica. Lá, encontram muito mais aventuras que esperavam.

  • Robin Hood (30/6/2020)

Nesta recriação da lenda, o soldado Robin encontra Robert de Loxley à beira da morte e promete entregar sua espada à família em Nottingham. Com Russell Crowe e Cate Blanchett.

  • Rei Arthur: A Lenda da Espada (7/6/2020)

Após retirar uma espada mágica de uma pedra, o destino de um jovem é revelado: ele será rei e terá que brigar pelo trono. Com Charlie Hunnam e Jude Law, o filme é dirigido por Guy Ritchie.

  • Jack Reacher - O Último Tiro (1/6/2020)

Neste suspense emocionante, um policial ex-militar é atraído para um jogo de gato e rato ao investigar um atirador de elite acusado de cinco homicídios. Com Tom Cruise.

  • Heróis (20/6/2020)

Dois jovens, ele com poderes telecinéticos e ela clarividente, unem-se para encontrar um terceiro paranormal e destruir a sombria agência chamada "a Divisão". Com Chris Evans e Dakota Fanning.

  • Lara Croft - Tomb Raider (1/6/2020)

Baseado no jogo de mesmo nome, este filme de aventura coloca uma aristocrata inglesa treinada em combates, interpretada por Angelina Jolie, em uma batalha com uma sociedade secreta.

  • Hancock (1/6/2020)

Will Smith é Hancock, um super-herói falido forçado a contratar um especialista em relações públicas para ajudá-lo a refazer sua imagem.

Documentários

  • Lenox Hill (10/6/2020) 

Esta série documental mostra de perto a rotina de quatro médicos no Hospital Lenox Hill, em Nova York.

  • Pai, Filho, Pátria (19/6/2020) 

Gravemente ferido no Afeganistão, um soldado norte-americano embarca com os filhos em uma jornada de amor, perda, redenção e legado.

  • Atleta A (24/6/2020) 

Acompanhe os repórteres que revelaram a história sobre os abusos do médico Larry Nassar e veja o depoimento de ginastas como Maggie Nichols.

  • Esportes do Mundo (26/6/2020) 

Da luta livre vodu no Congo ao roller derby no Texas, conheça algumas das práticas esportivas mais esquisitas e emocionantes do mundo.

  • Toda Palavra Conta (3/6/2020) 

Este documentário mostra a eficiência dos descendentes de indianos no Concurso Nacional de Soletração Scripps desde 1999.

  • Bebês em Foco: Parte 2 (19/6/2020) 

Pesquisas revelam como os bebês têm capacidades inatas para lidar com as complexidades da vida humana.

Stand-up comedy

  • Jo Koy: In His Elements (12/6/2020) 

Jo Koy volta às Filipinas para mostrar ao mundo a cultura do país neste especial de stand-up que também conta com outros comediantes, DJs e dançarinos.

  • Eric Andre: Legalize Everything (23/6/2020) 

Um especial de stand-up do comediante norte-americano Eric Andre.

  • George Lopez: We'll Do It For Half (30/6/2020) 

Um novo especial de stand-up de George Lopez filmado em São Francisco.

Crianças e Famílias

  • Alexa & Katie Parte 4 (13/6/2020) 

De volta às aulas, Alexa e Katie começam o último ano da escola. Elas já passaram por um monte de coisas juntas, mas ainda têm muito pela frente.

  • A Noiva Cadáver (6/6/2020)

Neste conto de Tim Burton, o jovem Victor, que está prestes a se casar, é arrastado para outro mundo por uma noiva cadáver que o deseja para si.

  • Vera - Resgate Arco-íris (2/6/2020) 

Vera e Bartleby embarcam em uma aventura para tentar resgatar alguém especial para o Rei do Arco-Íris!

  • Kipo e os Animonstros: Temporada 2 (12/6/2020)

Kipo precisará de força e inteligência para salvar Lio e derrotar Scarlemagne. Por isso, ela está decidida a dominar seus poderes e descobrir as origens de seu mundo.

  • Cocomelon: Temporada 1 (1/6/2020)

Aprenda letras, números, os sons dos animais e muito mais com J.J. nesta divertida série educativa repleta de canções para toda a família!

Anime

  • Baki: A Saga do Grande Torneio Raitai (4/6/2020)  

Mesmo envenenado, Baki participa do Grande Torneio Raitai e enfrenta lutadores na China.

  • BNA: Temporada 1 (30/6/2020) 

Transformada em um ser feral, Michiru busca refúgio e respostas com a ajuda do lobo-humano Shirou em uma área especial da Cidade de Animália.

  • Olhos de Gato (18/6/2020) 

Neste segundo longa-metragem da Studio Colorido, uma garota com um apelido curioso quer conquistar seu crush a qualquer custo. A solução: se transformar em um gato.

HBO GO

  • Veronica Mars (5/6)

Na rica comunidade litorânea de Neptune, os ricos e poderosos fazem as regras. Eles são donos da cidade e tentam desesperadamente manter seus segredinhos... secretos. Infelizmente para eles, lá está Veronica Mars (Kristen Bell), uma inteligente e destemida investigadora particular dedicada a resolver os mistérios mais complicados da cidade.

  • Trackers (5/6)

Com suas filmagens realizadas na África do Sul, a série que entrelaça três tramas em um thriller sofisticado e cheio de ação, atravessa todo o país. As histórias convergem para a Cidade do Cabo e mostram o crime organizado, o contrabando de diamantes, a segurança de Estado, a CIA e um complô terrorista internacional – além de muitos rinocerontes negros típicos da país.

  • O Dia de Amanhã (8/6)

Com seis episódios de uma hora, a série espanhola acompanha a história de Justo Gil (Oriol Pla), que chega com sua mãe doente na Barcelona dos anos 60, em busca de uma grande oportunidade que lhe dê condições para ajudar a família. Com persistência e ambição, as portas para a dolce vita da cidade se abrem para ele, assim como o coração de Carmé (Aura Garrido).

  • I May Destroy You (15/6)

A nova série tem Michaela Coel como protagonista, roteirista e produtora executiva. Com episódios de meia hora, I May Destroy You explora questões relacionadas ao consentimento sexual na vida contemporânea e como, no atual cenário de encontros e relacionamentos, é feita a distinção entre liberdade e exploração.

  • Perry Mason (21/6)

Situada em 1932 em Los Angeles, a série se concentrará na história de origem do famoso advogado de defesa Perry Mason, baseado em personagens dos romances de Erle Stanley Gardner. Vivendo sob controle como investigador particular de baixa renda, Mason é assombrado por suas experiências de guerra na França e sofre os efeitos de um casamento desfeito. L.A. está crescendo enquanto o resto do país luta pela Grande Depressão mas um sequestro que deu muito errado leva Mason a expor uma cidade fraturada enquanto descobre a verdade do crime.

  • I'll Be Gone in The Dark (28/6)

Documentários

  • BULLY, COWARD, VICTIM: THE STORY OF ROY COHN PROJECT | 23 de junho
  • TRANSHOOD | 30 de junho

Filmes

  • · IT: CAPÍTULO 2 | 6 de junho
  • · GREEN BOOK: O GUIA | 13 de junho
  • · TALK-SHOW - REINVENTANDO A COMÉDIA | 20 de junho
  • · ZUMBILÂNDIA: ATIRE DUAS VEZES | 27 de junho

MUBI

Confira a agenda completa de junho:

  • 1/6 – Breves Encontros: Olla – Ariane Labed (2019) - Estreia da atriz Ariane Labed (O LAGOSTA, ANTES DA MEIA-NOITE) como roteirista e diretora. Dramático e intenso, oferece um novo olhar sobre a erótica feminina.
  • 2/6 – Os Galhofeiros - Victor Heerman (1930) - O famoso Capitão Spaulding acaba de retornar da África. Durante uma festa, um valioso quadro desaparece. O explorador tentará resolver o crime com a ajuda de seus aliados malucos.
  • 3/6 – Girimunho – Helvécio Marins Jr., Clarissa Campolina (2011) - Estreia da dupla de diretores brasileiros Marins Jr. e Clarissa, GIRIMUNHO já foi exibido nos festivais internacionais de Veneza, Toronto e Rotterdam.
  • 4/6 – A Vizinhança do Tigre - Affonso Uchoa (2014) - Grande vencedor da Mostra de Cinema de Tiradentes em 2014 e também exibido na Viennale em 2019, o longa é uma tocante narrativa sobre o cotidiano de quatro jovens no Bairro Nacional, em Contagem, MG.
  • 5/6 – A Proletarian Winter's Tale – Julian Radlmaier (2014) - O primeiro longa de Julian Radlmaier aborda, de forma cômica, a sociedade de classes que vivemos e as formas de ignorar seus limites.
  • 6/6 – As Hiper Mulheres - Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takuma Kuikuro (2011) - Com uma abordagem sensível e pessoal, a obra nos leva para dentro da comunidade indígena do Alto Xingu e de seu maior ritual feminino, o Jamurikumalu.
  • 7/6 – Sol Alegria – Tavinho Teixeira (2018) - Pastores ocupam os principais cargos políticos do país, o apocalipse está próximo e uma excêntrica família comete um atentado e se refugia na sede da falange Sol Alegria.
  • 8/6 – Espero a tua (re)volta - Eliza Capai (2019) - Um poderoso retrato do movimento estudantil que ganhou força a partir de 2015 e ocupou escolas estaduais por todo o Brasil.
  • 9/6 – El mar la mar – Joshua Bonnetta, J.P. Sniadecki (2017) - Os perigos dos caminhos que imigrantes mexicanos enfrentam ao atravessar o deserto de Sonora para chegar aos Estados Unidos.
  • 10/6 – E agora? Lembra-me - Joaquim Pinto (2013) - Uma reflexão sobre o tempo e sobre a luta de uma pessoa para continuar vivendo e aproveitando a vida. Conheça a rotina de quem luta há quase 20 anos com HIV e com a hepatite C.
  • 11/6 – Retrospectiva Straub-Huillet: Gente da Sicília – Danièle Huillet, Jean-Marie Straub (1999) - Após 15 anos no Norte da Itália, um homem siciliano retorna à sua terra natal. Vencedor do Critics Award na 23ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
  • 12/6 – Foco em Sacha Guitry: O Novo Testamento - Sacha Guitry (1936) - Adaptado de uma peça de sua própria autoria, o cineasta dessa vez estrela sua própria comédia em preto e branco.
  • 13/6 – Foco em Sacha Guitry: Faisons un rêve... – Sacha Guitry (1936) - Um marido que acaba de trair sua esposa volta para casa no início da manhã, confuso. Lá, ele encontra, sem saber, o amante de sua esposa, a quem confessa sua infidelidade.
  • 14/6 – Coquetel de Assassinos - Bertrand Blier (1979) - A história de Alphonse Tram, um jovem desempregado. Seu único vizinho é o inspetor-chefe da polícia Morvandieu. Então um terceiro homem aparece, que por acaso é o assassino da falecida esposa de Alphonse.
  • 15/6 – French Dressing – Ken Russell (1964) - Um atendente de espreguiçadeiras no resort à beira-mar de Gormleigh-on-Sea é promovido a oficial de publicidade, após sugerir um festival de cinema para atrair turistas.
  • 16/6 – O Dono da Noite - Paul Schrader (1992) - Em uma narrativa existencial de crise profissional, Willem Dafoe e Susan Sarandon se encontram nesse drama idealizado por Paul Schrader.
  • 17/6 – Assassinato – Alfred Hitchcock (1930) - Baseado na peça "Enter, Sir John" de Clemence Dane e Helen Simpson, foi o terceiro filme sonoro da carreira de Hitchcock e foi escrito em parceria com sua esposa, Alma Reville, e Walter C. Mycroft.
  • 18/6 – Debut: O Dia Depois Que Eu Partir - Nimrod Eldar (2019) - De forma cuidadosa, sensível e emocionante, o primeiro longa do diretor israelense é uma ode aos relacionamentos problemáticos entre pais e filhos.
  • 19/6 – Foco em Sacha Guitry: O Meu Pai Tinha Razão – Sacha Guitry (1936) - Deixado sozinho por sua esposa, Charles Bellanger decide cuidar da educação de seu filho, ensinando-lhe as virtudes do egoísmo, solidão e tudo o que há de errado no casamento.
  • 20/6 – Popeye the Sailor Meets Sindbad the Sailor - Dave Fleischer (1936) -Indicado ao Oscar de Melhor Curta de Animação em 1937, o desenho de 17 minutos traz o famoso personagem da década de 30, Popeye, em mais uma aventura para salvar sua amada OlÍvia Palito contra um de seus arqui-inimigos.
  • 21/6 – Novos Autores: MS Slavic 7 – Sofia Bohdanowicz, Deragh Campbell (2019) - Um drama intergeracional que reconecta uma bisneta com a bisavó por meio de cartas esquecidas. Baseada em fatos reais, a narrativa construída pelo duo de diretoras é instigante e comovente.
  • 22/6 – Uma Lagartixa num Corpo de Mulher - Lucio Fulci (1971) - Uma jovem é acusada de assassinar seu vizinho debochado depois de ter um sonho sobre o ocorrido.  Ela realmente cometeu o crime ou foi incriminada por alguém?
  • 23/6 – Todas as Manhãs do Mundo – Alain Corneau (1991) – No século 17, um renomado tocador de viola de gamba se isola após a morte de sua esposa. Porém, tudo muda quando um jovem pede para que ele seja seu tutor no aprendizado do instrumento.
  • 24/6 – Sitcom – Nossa Linda Família – François Ozon (1998) – Uma família francesa convencional vive em aparente harmonia até que um dia o pai leva para casa um rato de estimação. Quando entram em contato com o roedor, cada membro da família revela suas perversões sexuais e psicológicas ocultas.
  • 25/6 – Novas Descobertas: Não Pense Que Eu Vou Gritar – Frank Beauvais (2019) – Ao refazer um ano crucial de sua vida por meio de um estilo selvagem de terapia, o francês Frank Beauvais entrega por completo ao público seu corpo e alma. O longa de estreia do cineasta teve sua première no 69° Festival Internacional de Cinema de Berlim.
  • 26/6 – Somniloquies – Verena Paravel, Lucien Castaing-Taylor (2017) – O compositor Dion McGregor ficou famoso na década de 1960 por narrar seus sonhos enquanto dormia. Em Somniloquies, as diretoras superam as fronteiras entre paisagens de sonhos interiores e corpos humanos.
  • 27/6 – Paixão Selvagem – Serge Gainsbourg (1976) – Uma garçonete solitária se encanta por um caminhoneiro homossexual. Apesar dos avisos de seu chefe, a moça insiste no romance que desperta o ciúme no namorado do rapaz.
  • 28/6 – O Fundo do Coração – Francis Ford Coppola (1982) – Considerado por alguns críticos como um dos filmes mais sublimes e engenhosos em toda a sua obra, foi o segundo musical da carreira do cineasta.
  • 29/6 – A Terceira Geração – Rainer Werner Fassbinder (1979) – Uma comédia extremamente irônica em seis partes que conclui o pensamento e o olhar político ensaiado do cineasta sobre a Alemanha Ocidental. Propositalmente esquecido durante seu lançamento, o filme permanece atual e muito preciso em suas reflexões.
  • 30/6 – O Mistério de Picasso – Henri-Georges Clouzot (1956) – Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes de 1956, o documentário biográfico sobre o grande Pablo Picasso almejou alcançar o que o Fausto de Goethe havia sonhado: capturar e armazenar os grandes momentos de inspiração.

Estadão sexta, 29 de maio de 2020

FEIRA DO LIVRO DE FRANKFURT MANTEM EDIÇÃO 2020, ANUNCIADA PARA OUTUBRO

 

Feira do Livro de Frankfurt mantém edição 2020, anunciada para outubro

Maior evento editorial do mundo vai ser realizada na cidade alemã, com edição presencial e online

Redação, O Estado de S. Paulo

27 de maio de 2020 | 21h17

Feira do Livro de Frankfurt anunciou nesta quarta-feira, 27, que sua edição 2020 será realizada, de maneira presencial, na cidade alemã, entre os dias 14 e 18 de outubro. A decisão da Associação Alemã de Editores e Livreiros foi tomada após a liberação do estado de Hesse, na região central do país, onde fica Frankfurt.

Os eventos serão realizados nos galpões tradicionais, em locais da cidade e, ao mesmo tempo, virtualmente. Segundo a organização, um plano detalhado de higienização e manutenção da saúde de visitantes, exibidores e funcionários será implementado, de acordo com a orientação das autoridades de saúde, que já o aprovaram.

 
 
Feira do Livro de Frankfurt
Pessoas na histórica praça Roemer, em Frankfurt, nesta quarta-feira, 27; Alemanha começa a relaxar a quarentena
  Foto: EFE/EPA/MAURITZ ANTIN
 

“A Frankfurter Buchmesse é o showcase para a indústria internacional do livro", disse o presidente do conselho da Feira, Siegmar Mosdorf, em nota. "Queremos usar esse potencial apesar da pandemia, mantendo o evento em nome da indústria do livro e do seu futuro."

Para o diretor da Feira, Juergen Boos, é mais importante do que nunca que o evento seja realizado em 2020. "Por conta da pandemia, a edição deste ano será especial, com uma programação no local combinada por uma oferta digital, de olho no futuro." Ele explicou que o evento está desenvolvendo formatos de eventos digitais para que editoras e outras empresas do mundo todo possam participar.

No local, são esperados visitantes e exibidores da Europa, mas profissionais de outros países ainda dependem da liberação das autoridades sobre as restrições de voos para o continente. Mais detalhes sobre a programação serão divulgados no fim de junho.

O Canadá é o país homenageado desta edição, e os organizadores dos dois países trabalham para adaptar a homenagem ao momento atual.


Estadão quinta, 28 de maio de 2020

OS SEM-LIVES: POR QUE ALGUNS ARTISTAS NÃO DERAM AS CARAS

 

Os sem-lives: por que, apesar do apelo dos fãs, alguns artistas não deram as caras online?

Redação Divirta-se

28 de maio de 2020 | 05h00

Danilo Casaletti
ESPECIAL PARA O ESTADO

CONTEÚDO ABERTO PARA NÃO-ASSINANTES

Elza Soares promete live para comemorar os 90 anos. Caetano: incentivo a fazer lives vem de Paula Lavigne. Fotos: Nilson Fukuda/Estadão; Iara Morselli/Estadão

 
“Caetano, quando você vai fazer a live?”. Quem acompanha as redes sociais de Caetano Veloso já viu que ele é sempre instigado pela companheira e empresária Paula Lavigne a aderir ao movimento das lives. Ele diz ora que está pensando, ora que está “esperando a voz estar boa”. Passados mais de 60 dias da recomendação de isolamento social, a live do cantor ainda não saiu. Os vídeos postados por Lavigne viraram uma diversão para os fãs e, claro, servem para aumentar a expectativa de que Caetano se renda à apresentação online.
 
 Assim como ele, outros nomes da música brasileira ainda não deram as caras nas lives. Uns, como o cantor e compositor baiano, por escolha. Outros, por falta de condições técnicas, por não tocarem um instrumento ou mesmo pela falta de patrocínio.

Ney Matogrosso igualmente foge das lives. Em entrevista ao repórter do Estadão Julio Maria, o cantor demonstrou desconforto com a modalidade. “Não sinto atração por fazer. Talvez seja medo da novidade.”

Desde que lançou o álbum A Mulher do Fim do Mundo, em 2015, Elza Soares, de 89 anos, renovou seu público e tem as redes socais como grande aliada. Mas tampouco se apresentou virtualmente. “Tenho recebido muitos convites e negado vários, mas estou a fim de fazer. Estou pensando em fazer um grande live show em julho, quando carimbo meu passaporte (completa 90 anos)”, diz a cantora, que interrompeu a turnê do show Planeta Fome por causa da pandemia.

Na lista dos que ainda não fizeram live, há ainda nomes desde sempre reclusos, como Maria Bethânia – sua assessoria diz que ela não tem planos de se apresentar nas redes sociais, apesar dos pedidos dos fãs –, Chico Buarque e Jorge Benjor; artistas que se comunicam bem com o público virtual, como Gal Costa e Erasmo Carlos; e outros que encontraram diferentes soluções para se fazerem presentes.

Milton Nascimento, por exemplo, tem soltado vídeos cantando alguns de seus sucessos e Gilberto Gil tem reciclado imagens com aulas sobre como tocar suas composições ou gravado mensagens para campanhas de solidariedade às vítimas da covid-19. Já Rita Lee participou recentemente de um bate-papo sobre seu álbum Lança Perfume e gravou um vídeo cantando o hit Saúde.

Erasmo: sem shows online, apesar de boa presença virtual; Bethânia: ela não tem planos de se apresentar nas redes. Fotos: Patirck Gomes; Ana Oliveira

O produtor Marcus Preto, que trabalhou com artistas como Gal, Erasmo e Nando Reis, diz compreender que nem todos se sintam à vontade nas lives. “É um formato novo para eles, que pensam: ‘Será que o som vai ficar bom?’. Também não terão toda uma equipe que costuma ficar no palco e que resolve qualquer problema com rapidez”, diz. Preto acredita que, cedo ou tarde, os citados poderão aderir ao formato, mas na hora em que se sentirem confortáveis.

O grupo Racionais Mc’s, que soma mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, aponta um outro motivo para a ausência no movimento. De acordo com sua assessoria de imprensa, Mano Brown e seus companheiros não querem passar a impressão de que estariam desrespeitando o isolamento social – já que uma apresentação deles reuniria ao menos oito pessoas no mesmo ambiente.

E quem não pode? Caetano Veloso e Ney Matogrosso fazem parte de um grupo que lota casas de shows e teriam apoio de gravadoras e patrocinadores. Porém, há um grupo de artistas que está à margem das lives. São nomes ainda atuantes – como Claudette Soares, Eliana Pittman, Doris Monteiro, Luiz Ayrão, Zezé Motta, As Galvão –, mas sem possibilidades de aderir à única forma de apresentação possível no momento.

A cantora Eliana Pittman e o cantor e compositor Luiz Ayrão. Fotos: Murilo Alvesso; JFDorio/Estadão

O produtor Thiago Marques Luiz, há quase 20 anos no mercado, é responsável por revitalizar as carreiras de Cauby Peixoto e Angela Maria, no início dos anos 2000, e, de certa forma, se especializou em trabalhar com artistas da velha guarda. Ele traçou um perfil dos preteridos: mais de 70 anos de idade, 50 de carreira, sem o número expressivo de seguidores em redes sociais e que precisam de pelo menos um músico presente – o que, por estarem no grupo de risco para o coronavírus, não é recomendável.

“Eles estão em casa, sem trabalho por conta da pandemia. Muitos se sentem inúteis, mas a história que eles construíram ao longo da carreira é muito importante para ser esquecida nesse momento” diz Marques Luiz, que criou o projeto Vozes da Melhor Idade. A ideia é que os artistas façam pequenos vídeos contanto suas histórias e cantem uma música de seu repertório, para que depois, em estúdio, um violonista grave o acompanhamento. Uma tentativa de aproximá-los de seu público, enquanto os shows continuarem proibidos. A TV Cultura se interessou em exibir o material, mas não tem dinheiro para produzi-lo. O Sesc São Paulo ficou de analisar o projeto. “Já bati em várias portas em busca de patrocínio, mas não houve interesse.”

Aos 73 anos, a cantora Eliana Pittman havia acabado de lançar o álbum As Divas do Sambalanço (ao lado de Claudette Soares, de 83 anos, e Doris Monteiro, de 85) quando foi declarada a pandemia. “Estou dentro de casa tentando me reinventar. Esse é o desafio do momento”, afirma Eliana, que mora sozinha e pede ajuda de um vizinho quando quer gravar vídeos para postar em suas redes. As Divas estavam com seis shows marcados, mas tudo foi interrompido. “Quando tudo isso passar, vamos lançar novamente”, diz ela, que participará como atriz na segunda temporada da série Coisa Mais Linda, que chegará à Netflix no dia 19 de junho.

Luiz Ayrão, de 78 anos, outro da turma dos sem-live, afirma ficar preocupado com a falta de qualidade técnica que poderia oferecer para fazer uma apresentação de dentro do seu apartamento, em São Paulo, onde passa a quarentena ao lado da mulher e de um neto. “Não acho que ficaria interessante. Para fazer de qualquer jeito, prefiro não fazer”, diz o compositor carioca,  autor de sucessos como Bola DivididaNossa Canção e Os Amantes, que recentemente lançou o CD Um Samba de Respeito, com participações de Alcione, Zeca Pagodinho, Zeca Baleiro e Diogo Nogueira. No entanto, quis fazer a entrevista para a reportagem por chamada de vídeo – e fez praticamente uma minilive. Nela, contou histórias, tocou violão e cantou – abriu a chamada entoando os primeiros versos da canção She, de Charles Aznavour, um de seus ídolos.

Grupos como MPB4 e Quarteto em Cy, também com limitações para se reunirem, tentam marcar presença na internet. O primeiro resolveu a questão com um vídeo no qual cada integrante gravou sua participação de casa e, depois, as vozes e os instrumentos foram juntados. Já Cynara Faria, uma das fundadoras do Quarteto em Cy, cantou acompanhada dos filhos, representando o grupo.

Alguns artistas têm encontrado respaldo do projeto online Sesc Ao Vivo, do Sesc São Paulo, que, desde metade de abril, já trouxe 37 atrações musicais de nomes como Roberta Sá, Adriana Calcanhoto, Chico César, Marcelo Jeneci e Céu. Entre artistas com mais de 70 anos, já se apresentaram João Bosco, Joyce Moreno, Dori Caymmi e João Donato – todos se acompanharam, ou sejam, tocaram e cantaram. Juntas, as lives já somam mais de 2 milhões de visualizações.

O diretor regional da entidade, Danilo Santos de Miranda, diz que a escolha dos artistas segue os mesmos critérios que sempre marcaram a instituição, com um olhar para a diversidade de gêneros e públicos. Alguns dos shows estavam já estavam previstos para as unidades do Sesc, outros atendem propostas recebidas antes e depois da pandemia.

Miranda afirma que o Sesc está atento aos sem-live. “Estamos avaliando possibilidades, evitando ao máximo o deslocamento, preservando da melhor maneira possível a manutenção do isolamento social. A mensagem da instituição é para que as pessoas fiquem em casa”, diz. “O Sesc toma os mesmos cuidados com todos os artistas para evitar qualquer tipo de exposição, de modo que a instituição não incentiva o acesso de pessoas na casa dos artistas, ou a permanência de equipes externas no local”, complementa.

Fazer ou não fazer? Os shows presenciais ainda não têm previsão de volta. Mas, até lá, é importante o artista ficar em contato com o público, por meio de lives? “Quem não fizer live agora vai perder financeiramente, mas a pandemia vai passar e a história de muitos artistas é mais forte do que tudo isso”, acredita Thiago Marques Luiz, referindo-se aos veteranos.

Para Marcus Preto, os artistas terão de repensar suas apresentações online, sob pena de cansarem o público. “Tem gente que está apenas trabalhando, apresentando seus sucessos. O formato vai se desgastar.”

O produtor Ricky Bonadio, que trabalhou com bandas como Charlie Brown Jr e CPM22, diz ser importante que o artista se mantenha ativo – e os que são “verdadeiros” se sairão melhor diante da falta de uma grande produção. “Esse momento deixa claro quem é quem, quais artistas são muitos produzidos e protegidos no palco e quais têm qualidade musical de verdade.”


Estadão quarta, 27 de maio de 2020

EMICIDA USA TRAJETÓRIA PESSOAL PARA CONSTRUIR JORNADAS COLETIVAS

 

Em novo projeto, Emicida usa trajetória pessoal para construir jornadas coletivas

'AmarElo Prisma' envolve podcast, vídeos no YouTube e conteúdo nas redes sociais

Guilherme Sobota, O Estado de S.Paulo

27 de maio de 2020 | 05h00

Quando Emicida lançou AmarElo, seu disco mais recente, em outubro de 2019, sua ambição já mirava voos mais altos que um simples conjunto de canções. Resultado de anos de pesquisas e vivências em diversas partes do mundo, o disco traz em sua forma esse indicativo. São raps com histórias e recados de amor, oferecendo um abraço em tempos – mesmo antes disso tudo – sombrios. Talvez num momento de falta de iluminação, artistas consigam jogar luz sobre um ambiente, e é o que pretende o novo projeto de Leandro Roque de Oliveira, 34 anos, o AmarElo Prisma.

 Emicida

O cantor Emicida, que lança o projeto 'AmarElo Prisma' Foto: Júlia Rodrigues
 

Está lá, na capa do Pink Floyd, para todo mundo ver: o prisma transforma um raio de luz, alterando a velocidade das ondas em cores diversas. O Prisma – projeto multiplataforma que envolve podcast, vídeos no YouTube e conteúdo nas redes sociais a partir desta quarta-feira, 27 – também trata sobre isso: transformação e velocidade. “Você já parou para pensar que é parte de um sistema gigante, um sistema que envolve todos os seres vivos, todos os elementos do planeta, todas células do seu corpo?”, diz, no Movimento 1 – serão quatro, como uma sinfonia.

 Em cada movimento, o cantor – que, em uma entrevista, cita de Belchior e Paulo Moura a Toni Morrison e bell hooks – exerce mais uma vez o que AmarElo deixava claro como um de seus preceitos: uma empatia humanista transformadora e única no cenário não só do rap nacional, mas da cultura brasileira como um todo.

A primeira das quatro partes do projeto joga sua atenção para a alimentação e os cuidados com o corpo. Com entrevistas com nutricionista, profissionais da gastronomia, da Ayurveda e de empreendedores da alimentação saudável – a maioria ligada a trabalhos em regiões menos favorecidas financeiramente –, Emicida compartilha narrativas pessoais buscando uma estratégia coletiva.

Privilégio. Um dos fatores mais interessantes da discussão, usualmente restrita às rodas de conversa de veganos, é justamente tentar compartilhar a ideia de que a alimentação saudável não pode ser um privilégio.

“A gente já concebia o AmarElo maior do que simplesmente um disco nas plataformas”, explica Emicida, por videoconferência com a reportagem. “A construção do projeto trouxe muitas histórias, ideias sobre contar histórias diferentes, contrapontos à oficial. Passamos agora pelo 13 de Maio – nos últimos cinco ou dez anos, essa data foi muito atacada. Dizem que a princesa Isabel deveria ser a protagonista, mas quem está mais informado sabe que houve movimentos abolicionistas responsáveis pelo contexto.” Para ele, é constrangedor que esse tipo de revisionismo histórico esteja associado a ideias absurdas como o “terraplanismo” e a total falta de entendimento sobre o que foi o nazismo. O novo projeto é também uma tentativa de nadar contra essa maré.

“Quando mergulhamos nas referências, samples e metáforas, o disco faz uma reflexão involuntária e se conecta com muito do Brasil do passado. Mas acredito que ele trata muito também sobre o futuro, e o Prisma é essa ‘forma geométrica’ que recebe luz branca e a converte em um arco íris, dissipando para todas as possibilidade de cor.” 

Emicida acredita que o momento histórico é marcado pelo esgotamento do modelo da colonização, “perigoso e limitador”, e a ideia é compartilhar informações e sabedorias afro-americanas, nativas, orientais.

“Penso muito sobre a escola e nos buracos deixados pela informação que recebi ali. Se a escola tivesse me instigado, com dúvidas que me fizessem olhar para o lugar onde nasci e entender que as plantas podem ser comestíveis, que taioba não é capim… Essas informações não chegaram por vias tradicionais”, lamenta o artista.

Para ele, o ensino insuficiente da história do País também impediu a construção de um caminho melhor, de um “projeto Brasil com humanidade”.

Prisma é também mais um passo na missão que Emicida empreende com o rap nacional para desmontar estereótipos. 

“Há uma forma de se comunicar, entre nós, que nos fez reproduzir muitos comportamentos que já não fazem sentido em 2020. bell hooks diz que o rap tem um potencial gigante, mas que arranha apenas a superfície do que é ser um homem preto. Existem tantas camadas dentro disso. Não podemos ficar limitados a ser uma cicatriz, uma tragédia. A indignação também é urgente e útil, mas é importante entender a necessidade de se conectar com a vida antes de uma tragédia.”

Os Movimentos, com podcasts de cerca de 1h30, vídeos e textos nas redes sociais, vão tratar ainda sobre saúde mental, atividades físicas e da importância de se conectar com sua comunidade – “também não quero que seja individualista, quero que conexões aconteçam”.

“A doçura é revolucionária”, diz o artista, compositor, empresário. “Malcolm X diz, na sua autobiografia, que, se você oferecer ao sedento um copo de água suja, ele vai beber, mas, se colocar uma água limpa, melhor. A gente está oferecendo o que acreditamos que seja a água limpa. A gente parte do rap, e tudo está entrelaçado na história, a gente caiu, sofreu, chorou, mas a gente se levantou, construiu, sonhou. As pessoas precisam partir do micro, e aqui eu digo no sentido de pensar o que comer. Será que a comida que eu coloco na minha mesa não tem destruído a vida de famílias no cerrado, no Norte do meu País? Estou falando, nesse projeto, desse tipo de reflexão mais ampla, para que as pessoas saiam do modo avião.”

Live rendeu R$ 800 mil para mães solo

No dia 10 de maio, Emicida fez uma live que já foi chamada de “histórica” nas redes sociais: o rapper ficou mais de 8 horas de pé e cantando, uma atrás de outra, 100 músicas da sua caneta (e de parceiros), cujos fonogramas são da Laboratório Fantasma, sua empresa e gravadora. Com uma ação do patrocinador, o montante arrecadado via um QR Code na tela foi de R$ 800 mil, para o Mães da Favela, programa criado pela Central Única das Favelas (CUFA) para auxiliar mães solo moradoras de favelas de 17 Estados e do Distrito Federal. 

Foram mais de 900 mil visualizações e cem mil tuítes sobre a maratona. “Antes de começar, a gente estava preocupado, achando que não ia ter música suficiente (risos)”, diz Emicida, por videoconferência. Participaram da live o DJ Nyack e o cantor Thiago Jamelão, na sede da gravadora, zona norte de São Paulo. Toda a equipe está em home office, e Emicida é também um empresário tentando caminhar pelas novas circunstâncias.

“A gente faz nossas reuniões por vídeo, pensamos como organizar o RH, demos férias para uma parte da equipe, fazendo equilíbrios e ajustes para não prejudicar ninguém. A gente faz muita coisa, tem muita ideia, e temos conseguido conduzir sem desligar ninguém. Estamos antecipando algumas ideias, acrescentando outras camadas do entretenimento, no videogame, cinema, literatura, tudo isso vai ser amplificado, queremos potencializar e nos transformar em um grande hub de ideias e conteúdo.” Ele para: “não gosto desse termo, não (risos)”.

Um dos lançamentos previstos é a LAB Fantasma TV, no Twitch, previsto para junho. “Nossa primeira preocupação são as pessoas, depois vamos entender os mercados, não são coisas antagonistas”, diz. “É desafiador, nos primeiros 15 dias (de quarentena), fiquei desesperado, mas passou. Vamos vibrar positivamente, porque tem isso também: a gente desconhece nossa capacidade de colaboração.”


Estadão terça, 26 de maio de 2020

SÉRIE A AMIGA GENIAL

 

'A Amiga Genial' reflete dualidade entre norte e sul da Itália

Série da HBO inspirada na tetralogia napolitana de Elena Ferrante chega à segunda temporada

Luiz Zanin Oricchio, O Estado de S.Paulo

26 de maio de 2020 | 05h00

 A Amiga Genial

Margherita Mazzucco, Gaia Girace e Federica Sollazzo na segunda temporada de 'A Amiga Genial' Foto: HBO
 

Lila se afunda num casamento medíocre e vive num ambiente machista, abaixo da sua inteligência. Lenu, apelido de Elena, segue com brilho sua carreira escolar e ganha uma bolsa para estudar em Pisa, no norte da Itália.

A dualidade norte-sul é importante no contexto histórico italiano. O norte, desenvolvido, sente-se superior ao sul subdesenvolvido (pelo menos na época da história). Há toda uma questão histórica e econômica nessa dualidade, implicando preconceitos e ressentimentos regionais.

A autora da tetralogia, a napolitana Elena Ferrante, ambienta essa ficção, talvez baseada em parte significativa de experiência pessoal, em boa parte num bairro pobre (o “rione”) de Nápoles. Pode-se dizer que é uma narrativa que adota o ponto de vista meridional. 

Será todo um desafio para a estudiosa Lenu superar suas deficiências (inclusive o sotaque advindo do dialeto napolitano) para vencer na parte desenvolvida do país. Ao passo que Lila resolve permanecer no ambiente onde nasceu. Mas a relação é conflitiva. Com o marido, com os amigos, com os membros da Camorra local, que mandam e desmandam no bairro. Mas ela não se dobra a eles. Não se curva a ninguém. É um espírito rebelde, belicoso.

Inclusive com relação a Elena, pois, como costuma dizer a autora do livro (que se esconde atrás do pseudônimo), toda amizade é feita de uma estranha e sólida mistura de amor e ódio. Lina e Lenu não passam uma sem a outra. Mas às vezes ficam longos períodos sem se ver. E, quando se reencontram, alegram-se e brigam, além de disputar um namorado numas férias de verão na ilha de Ischia.

Para situar o leitor em relação à obra literária: a chamada “tetralogia napolitana” de Elena Ferrante é composta pelos livros Volume 1: A Amiga Genial, Volume 2: História do Novo Sobrenome, Volume 3: História de quem Vai e de quem Fica e Volume 4: História da Menina Perdida. O conjunto da obra acabou ficando com o título do primeiro tomo, A Amiga Genial. Quanto à autora, pouca gente sabe de fato quem é Elena Ferrante. Alguns familiares e por certo seu editor. Comunica-se e dá entrevistas por e-mail. Há diversas especulações sobre sua identidade. Nenhuma conclusiva. Sabe-se apenas (e já é o suficiente) que sua obra é encantadora, uma voz feminina poderosa e com milhões de leitores mundo afora.

Elena Ferrante comparece nos créditos da minissérie, ao lado de outros roteiristas, o que garante autenticidade em relação à obra original. A série é dirigida pelo cineasta Saverio Costanzo e, tanto quanto possível, acompanha a obra literária. É uma banalidade dizer, mas vá lá: são duas linguagens diferentes e nunca serão a mesma coisa, e nem a mesma experiência de quem lê os livros e quem assiste ao produto audiovisual.

Mas se pode dizer, por depoimentos, e por experiência de quem escreve estas linhas, que a obra audiovisual não decepciona aqueles que se apaixonaram pelos livros. Apenas apresenta as coisas de maneira diferente. Passagens longas são comprimidas e divagações (extensas e interessantíssimas) sobre questões literárias, são compactadas em poucas palavras da narrativa em off, voz da ótima atriz Alba Rohrwacher. A “voz” é de Elena, a autora, aquela que, no primeiro volume, ao saber do desaparecimento da amiga, decide contar a história das duas. 

Na fase juvenil desta segunda temporada, Elena é interpretada por Margherita Mazzuco e Lila, por Gaia Girace. São boas atrizes, jovens, cheias de frescor. A loirinha Elena, com sua determinação, seu olhar frontal, sua disciplina, suas dúvidas. A morena Lila, com seus gestos inesperados, sua inteligência mordaz, sua raiva e seus olhos penetrantes, como os de uma Capitu meridional, olhos de ressaca e de mistérios.

A terceira temporada, confirmada, mas ainda sem data de estreia, será baseada no volume 3 da tetralogia: História de quem Vai e de quem Fica. A série é relato das duas personagens, da infância à velhice, mas também uma espécie de afresco da Itália, do pós-guerra aos dias de hoje, pelo ponto de vista feminino. Elas vivem num ambiente machista e opressor. Suas armas são as da inteligência, cultura e astúcia contra a força bruta, associada ao mundo masculino. Impossível não torcer por elas.


Estadão segunda, 25 de maio de 2020

BATERISTA JIMMY COBB MORRE AOS 91 ANOS

 

Baterista de 'Kind of Blue', Jimmy Cobb morre aos 91 anos

Em 1959, o músico gravou com Miles Davis o álbum mais vendido da história do jazz

Redação, O Estado de S.Paulo

25 de maio de 2020 | 09h38

O baterista Jimmy Cobb morreu nesta segunda-feira, 25, aos 91 anos. Músico icônico, Cobb gravou com Miles Davis Kind of Blue, considerado o álbum mais vendido da história do jazz. A causa da morte não foi divulgada.

 

Baterista de
Em 2009, o músico se apresentou no Bridgestone Music Festival, no Citibank Hall, em São Paulo
Foto: ERNESTO RODRIGUES/AE. / 2009
 

Em 2009, o músico se apresentou no Brasil com o álbum gravado em 1959.  Kind of Blue é uma obra que até hoje turbina apaixonadas discussões musicais. "Miles entendia que menos era mais. O mais impressionante sobre aquele disco é que, se você quer analisar algo, não há muito o que analisar. São apenas alguns acordes. Freddie Freeloader não tem mais do que cinco notas", afirmou o pianista Larry Willis em entrevista ao Estado, em 2009.

O escritor Ashley Kahn discordou radicalmente e disse que a declaração era "incrivelmente não verdadeira". Willis voltou atrás e disse que o fato de Bill Evans estender os acordes fez a diferença, e salientou a influência da música impressionista francesa, de Eric Satie e outros, no mundo harmônico que emanava do piano em Kind of Blue.


Estadão domingo, 24 de maio de 2020

CAIO CASTRO REVÊ A CARREIRA

 

Com duas reprises no ar, Caio Castro revê a carreira

Ator analisa como foram suas atuações nas novelas ‘Fina Estampa’ e ‘Novo Mundo’

Eliana Silva de Souza, O Estado de S.Paulo

24 de maio de 2020 | 05h00

Além de poder ser visto em Malhação, na época em que ele estava com 18 anos, o ator também surge agora em outros dois folhetins, que estão sendo reapresentados pela Globo. Em Fina Estampa, de 2011, ele surge como o filho que renega a mãe, um rapaz muito egoísta e que não mede esforços para ganhar dinheiro e integrar a alta sociedade. E dá vida ainda ao imperador d. Pedro I, na novela Novo Mundo, que foi exibida originalmente em 2017. Sobre essas suas interpretações, em fases diferentes de sua carreira, Caio Castro conversou por telefone com o Estadão, direto de sua casa, em São Paulo, onde está cumprindo, à risca, sua quarentena.

 
 
Caio Castro
‘Eu surtei’, diz sobre ouvir Selton Mello pedir ajuda na construção de personagem. Foto: Matheus Coutinho
 

Para o ator, essa é uma possibilidade de poder ver o próprio trabalho de uma forma diferente, distante, como um telespectador, algo que não tinha como fazer na época das gravações. Nada mais correto, pois, como ele diz, quando estava trabalhando nas tramas, seu olhar era profissional, e tinha de avaliar se havia possibilidade de alterar alguma coisa, se podia corrigir, se fosse o caso, algo que estivesse fora do tom. “Meu olhar era técnico, era para melhorar a minha performance na época”, conta. O que não é possível agora, claro: não há mais o que fazer para mudar o que está gravado. “Agora não tem o que fazer, virou história, minha história, mas tenho a possibilidade de assistir como telespectador”, com distanciamento e avaliar de outra forma, comenta ele.

Por outro lado, Caio mostra que é curioso se ver na tela nesses trabalhos passados. “Porque eu vejo nitidamente algumas coisas de que eu nem lembrava, coisas que talvez eu não fizesse de novo ou outras que faria, porque gostei bastante”, revela e avalia terem sido essas atuações completamente diferentes o que o choca algumas vezes. “Eu vejo algumas cenas, principalmente em Malhação, e digo ‘caramba, foi ao ar esse tipo de coisa?, não acredito que possa ter sido exibida’.” Mesmo assim, diz sentir um saudosismo, pois foi um período de conhecimento, afinal, Malhação, para ele, era um aprendizado, que ele encarou como uma escola que dava a possibilidade de todos colocarem seus experimentos para o público de casa ver. “O pessoal tratava a gente como aluno mesmo, a gente estava ali para aprender.”

 

Caio Castro em Fina Estampa
Caio Castro como o filho interesseiro de Lília Cabral, em ‘Fina Estampa’. Foto: Alex Carvalho/Globo

Entre seus outros trabalhos, Fina Estampa também tem um lugar guardado nas boas recordações do ator. Mas foi também a dura construção de um personagem sem caráter, que não se importava com os outros, principalmente com a própria mãe. Por isso mesmo, Caio conta que teve dificuldade para assumir um personagem que nutria o sentimento de ódio pela mãe. “Todo personagem, a gente tem de fazer uma desconstrução pessoal para construí-lo”, afirma, enfatizando que essa foi a primeira construção mais pesada da carreira, pois tinha pouca idade e não tinha nada em comum com Antenor, o personagem de Fina Estampa. “Eu não consegui emprestar nada de mim.” 

Outro ponto que destaca nesse trabalho foi contracenar com Lília Cabral, que fazia sua mãe na história, a batalhadora Griselda, mas que a atriz foi muito paciente com ele e hoje são muito bons amigos.

Referência. Com relação a viver d. Pedro I, na novela Novo Mundo, também em reprise na Globo, Caio Castro conta que foi um dos papéis mais importantes que fez, inclusive diz que teve uma “permissão ancestral” do retratado, para poder fazer o imperador do Brasil. Ele lembra que pensava que seu personagem, na novela, seria secundário, que haveria uma outra história em paralelo, mas foi uma boa surpresa descobrir a importância do que faria, que seria, sim, o protagonista.

 

Caio Castro
Em ‘Novo Mundo’, como d. Pedro I, com o sotaque em português de Portugal. Foto: Raquel Cunha/Globo

Entre as curiosidades dessa fase, Caio conta sua surpresa ao receber mensagem do ator Selton Mello, que viverá d. Pedro II na próxima novela das 6h, Nos Tempos do Imperador, que será uma sequência de Novo Mundo. “Eu surtei”, diz sobre ouvir Selton pedir ajuda na construção de seu personagem, no caso, o filho de d. Pedro I.

“A mensagem mais inesperada de todas foi uma que ele me mandou perguntando se eu tinha algo para passar para ele, se eu poderia dizer alguma coisa para ajudar na construção do personagem”, conta. “Isso para mim, como artista, tendo o Selton como uma das minhas referências, foi muito especial. Ele ter essa preocupação e essa vontade de querer saber mais do ‘pai’ dele foi muito legal”, relata. Diz ter mostrado o áudio para a família, que foi surpreendente ter esse contato com Selton, que é um referencial “dentro da profissão, na forma como conduz sua carreira, como trabalha os personagens”, acrescenta Caio. “Sou seu fã.”

ANÁLISE | Adriana Del Ré

Com as reprises de novelas ocupando as faixas das 18h, 19h e 21h da Globo, no lugar de tramas atuais cujas gravações foram interrompidas por causa da pandemia do novo coronavírus, vários atores, coincidentemente, estão no ar em dois ou três folhetins, que foram exibidos em diferentes momentos de suas carreiras. E é inevitável comparar suas atuações em épocas distintas. É o caso de Caio Castro, que pode ser visto como d. Pedro I, protagonista da novela das 6, Novo Mundo, e, mais tarde, como Antenor, filho de caráter duvidoso de Griselda (Lília Cabral), na novela das 9, Fina Estampa

Hoje aos 31 anos, o ator, assim como muitos jovens que iniciam sua trajetória na emissora, despontou em Malhação. E, a partir da longeva novela juvenil, consolidou-se na Globo – o que não necessariamente acontece com todos os atores que surgem nessa produção, considerada celeiro de talentos. 

Exibida entre 2011 e 2012, Fina Estampa foi a estreia do ator em horário nobre. Até então em início de carreira, Caio não interpretava o papel principal da trama, mas fazia parte do núcleo de uma das protagonistas, Griselda, e circulava no núcleo da outra protagonista, a vilã Tereza Cristina (Christiane Torloni). Portanto, era aposta da casa. O ator abraçou o personagem, o que lhe rendeu bom desempenho numa cena em especial, no início da novela, quando Antenor é desmascarado pela mãe Griselda, o que desencadeia ali o conflito entre os dois – com a participação de vários atores (muitos deles, experientes) em cena. 

Mas o amadurecimento de Caio na atuação fica evidente com seu d. Pedro I, em Novo Mundo, de 2017. Elogiado pelo trabalho, o ator trazia mais camadas de emoções a seu personagem histórico, com direito a sotaque em português de Portugal. O ator havia transposto, ali, a condição de galã para ator. Isso se confirmou em outra boa interpretação, no papel de Rock, na novela das 9, A Dona do Pedaço, de 2019. 


Estadão sábado, 23 de maio de 2020

JORGE MAUTNER NÃO PARA DE PRODUZIR

 

Jorge Mautner não para de produzir e reflete sobre a pandemia no Brasil

Músico e escritor afirma que o País só avançará 'quando proclamarmos a segunda abolição da escravidão'

Renato Vieira, O Estado de S.Paulo

23 de maio de 2020 | 05h00

 

Jorge Mautner
Músico e escritor Jorge Mautner Foto: Gustavo Peres

Como estão as coisas e como você tem passado por esse período de resguardo? Está na sua casa no Rio? 

 Sim, estou na minha casa, sem sair. Lendo, escrevendo, falando com a minha filha, com a minha esposa e com meu amigo João Paulo Reys (que trabalha com Mautner).

Como está sua relação com a criação neste momento de quarentena? Você está produzindo? 

Eu sempre produzi muito. Os fatos, para sempre e em todos os instantes, mesmo lá atrás, são muito fortes, são muito importantes. Eu sempre tive um pensamento fundamentado na história. Tudo é história. Tanto as estórias como a História, mas é tudo uma história só. Tudo que é da história me abala. Toda semana, com a ajuda do João Paulo pelo telefone, tenho publicado novos inéditos poemas em meu Instagram.

Pensa em fazer uma live?

Olha, fazer lives não se coordena com a minha situação atual. Mas eu recomendo que consultem o meu portal Panfletos da Nova Era, que é uma obra-prima feita pelo João Paulo e pela Maria Borba. Lá estão infinitos shows gravados, entrevistas que eu dei, recomendações de leitura. É interessantíssimo.

Os shows estão parados neste momento. As plataformas digitais revolucionaram o consumo de música e as lives são um caminho para que cantores e compositores apareçam para o público, mas o dinheiro para os profissionais das artes em geral está escasso. Como resolver essa questão?

Eu recebo direitos autorais e tenho a minha filha Amora Mautner (diretora da TV Globo) que me financia o apartamento onde eu moro, a comida que eu como. É isso. Infelizmente, minha situação é um privilégio para poucos. Penso que nesse momento extraordinário deveriam haver subsídios públicos urgentes para quem está precisando. A arte é fundamental para a vida do ser humano. O Brasil se fez com os cantos e os atabaques dos negros trazidos como escravos. Getúlio Vargas governou o Brasil através da Rádio Nacional. Tudo aqui é música, é poesia. O brasileiro e a brasileira vivem em plena imaginação de criatividade permanente.

Em entrevista ao ‘Estadão’, seu amigo Gilberto Gil disse ser otimismo demais que a pandemia tenha força para refundar a essência das pessoas. Você concorda?

Eu acho que toda essa experiência altamente traumática de sofrimento e dor, com a chegada do vírus contrastando com as conquistas inacreditáveis da ciência, incentivará a imaginação de todos. É preciso falar sobre essas coisas de qualquer maneira para que elas mudem para sempre. O filósofo Carvaka disse que apenas duas coisas importam: boa digestão e nenhuma consciência. Nos Upanishads (escrituras consideradas instruções religiosas pelo hinduísmo), está escrito: tudo é sofrimento. E logo abaixo: gostar de tudo que acontece. Por fim, as últimas palavras do Buda: embora seja inútil, não negligenciai esforços.

Regina Duarte foi criticada por artistas, especialmente após a entrevista dada para a CNN. Qual sua opinião sobre ela? (a entrevista foi feita antes de Regina deixar o cargo)

Eu não concordo em nada com o que ela diz. A visão dela está equivocada. É justamente nas horas mais atrozes que as vozes dos artistas têm que ser ouvidas. Eles mudam a realidade da história. Nas escolas de samba, nos candomblés, em todos os lugares as pessoas continuam compondo e fazendo versos que, no fundo, são orações para o bem-estar em direção a uma felicidade que se situa tanto no futuro distante como no instante em que ela está sendo fabricada no meio do horror, exaltando o amor.

Você batizou seu disco mais recente com o título ‘Não Há Abismo em que o Brasil Caiba’, frase de Agostinho da Silva. Essa frase continua válida para o Brasil de 2020, diante de tantas divisões políticas e de questões relativas à desigualdade social potencializadas pelo novo coronavírus?

Sim, as palavras de Agostinho são cada vez mais atuais. Quanto maior o contraste com que vivemos, maior será a força do contrário. Nunca poderemos nos calar. O tempo todo, as orações, as músicas, os cânticos, a poesia, a pintura trarão sempre o átomo do otimismo. Isso não quer dizer que esse otimismo ignore o pessimismo e o terror. Ele apenas os engloba e os transforma em algo superior.

Há quem afirme que a pandemia pode servir de pretexto para o fim da democracia em alguns países. Você vê essa perspectiva como verossímil? 

Eu vejo sempre todas as possíveis perspectivas de tudo. O acaso, as intenções, o instante do momento em que tudo se dá forjam as saídas mais surpreendentes. Mas eu acho que uma situação em que, num mundo de 8 bilhões de pessoas, a renda é concentrada nas mãos de 1% terá que se acabar. Isso se dará quando todos tiverem condições de trabalho digno, de tempo para o devaneio (que talvez seja o mais importante porque é o da criatividade e do amor). A ciência está do nosso lado e a maioria dos povos do mundo também está do nosso lado, no sentido de estar do lado dessa ideia.

Quais seus planos para 2020?

Os planos são os que estou concretizando. Escrever, cantar, falar, irradiar a notícia sempre nova da esperança. A esperança não é a última que morre, ela nunca morre. E como disse São Paulo, mesmo quando não houver mais nem fé, nem esperança, o amor continuará a resplandecer no universo. “A religião é o coração de um mundo sem coração”, Karl Marx.

Em 17 de janeiro de 2021, você faz 80 anos. Como quer ver o Brasil e o mundo no dia do seu aniversário?  

Deslumbrantes, com emprego para todos os brasileiros, salários dignos, nossas florestas asseguradas, a liberdade imperando em todos os lugares, a compreensão mútua. A compreensão mútua é a mais importante, e acontece sempre que se encontram opiniões diferentes ou mesmo inimigas em conversas, música, na ação, na experiência da vida. Tudo dentro do limite dos Direitos Humanos, que são sagrados e devem ser sempre respeitados e não são questão de opinião. A resposta é o trabalho, mas o trabalho criativo. No caso do Brasil, só avançaremos quando proclamarmos a segunda abolição da escravidão exigida por Joaquim Nabuco.


Estadão sexta, 22 de maio de 2020

REESE WITHERSPOON FALA SOBRE NOVA SÉRIA LITTLE FIRES EVERYWHERE

 

Reese Witherspoon fala sobre nova série 'Little Fires Everywhere'

Inspirada em romance de Celeste Ng, autora com ascendência asiática, série trata de racismo

Mariane Morisawa, Especial para o Estado

22 de maio de 2020 | 05h00

LOS ANGELES - Little Fires Everywhere, série em oito episódios que chega ao Amazon Prime Video no Brasil nesta sexta-feira, 22, tem alguns pontos em comum com o sucesso Big Little Lies, da HBO – além do “little” no título. 

Reese Witherspoon

Reese Witherspoon em cena da série 'Little Fires Everywhere' Foto: Amazon Prime Video
 

Ambas têm um mistério no centro, mulheres como personagens principais e são baseadas em best-sellers. Pequenos Incêndios por Toda Parte, de Celeste Ng, e Pequenas Grandes Mentiras, de Liane Moriarty, foram publicados aqui pela Intrínseca. E as duas são produzidas e estreladas por Reese Witherspoon, que interpreta mães controladoras – lá, Madeline, aqui, Elena. “Engraçado, eu não consigo ver semelhanças entre as duas, a não ser a maternidade, que é a essência das personagens”, disse a atriz em evento da Associação de Críticos de Televisão, em Pasadena, região de Los Angeles.  

Big Little Lies se passava numa área afluente da Califórnia, com cinco mães lidando com masculinidade tóxica, abuso sexual e violência doméstica. Em Little Fires Everywhere, baseado nas experiências da escritora Celeste Ng como americana de origem asiática em Shaker Heights, em Ohio, também mostra diferentes maneiras de ser mãe e discute privilégio, classes sociais e racismo. 

Elena Richardson (Witherspoon) é de uma família tradicional da cidade do Meio-Oeste, um lugar cheio de verde, com belas casas e muitas regras para não só ser, mas parecer rica. Elena tem um casamento modelo, quatro filhos adolescentes e é jornalista. Acredita-se uma progressista, sem um fio de cabelo racista, mas não se dá conta das vantagens que teve na vida. E crê em se encaixar nos moldes e fazer tudo de forma planejada e certinha, por isso vive às turras com a filha Izzy (Megan Stott). 

A chegada de Mia Warren, vivida pela atriz Kerry Washington (da série Scandal e do filme Django Livre) e sua filha, a também adolescente Pearl (Lexi Underwood), num carro velho, onde moram se for preciso, transforma tudo. Mia é o oposto de Elena: artista plástica, faz tudo espontaneamente, mudando-se quando dá vontade. As duas têm uma relação tensa desde que se conhecem, quando Elena mostra um apartamento da família para Mia alugar. Piora quando Pearl fica amiga dos filhos de Elena, fascinada por aquela vida que não tem, e Izzy, incompreendida pela mãe, se identifica com a artista. 

O romance de Celeste Ng lidava com o racismo com a personagem Bebe Chow (Lu Huang), uma imigrante que vai colocar Elena e Pearl de lados opostos mais uma vez. Mas, ao escalar Kerry Washington para o papel de Pearl, há uma outra camada de debate sobre o assunto. Não que ela tenha sido escalada por isso. 

Ganhadora do Oscar de melhor atriz de 2006 pelo filme Johnny & June e indicada na mesma categoria por Livre (2015), Reese Witherspoon estava procurando uma parceira dentro e fora das telas, como já tinha feito com Nicole Kidman em Big Little Lies e Jennifer Aniston em The Morning Show

“Eu queria trabalhar com a Kerry fazia tempo. Somos amigas há anos e, quando li o livro, vi que havia ali muitos elementos complexos. Precisava de alguém com quem pudesse ter conversas difíceis. Meu primeiro instinto foi o de pensar em quem realmente vai botar a mão na massa. Porque é muito trabalho produzir e atuar em uma série. E Kerry faria isso, eu sabia. Fora que ela traz uma graça e um aspecto intelectual ao trabalho”, afirmou ainda.

O livro já tratava de diferenças sociopolíticas, culturais e de classe, na opinião de Kerry Washington. “E também lidava com raça e de uma maneira não binária, não são só brancos e negros”, contou a atriz. “Ele fala de identidade asiática e imigrante, além de classe. Mas adicionar esse outro elemento de raça na equação, com a Mia, enriquece a narrativa. É bastante coisa para destrinchar.” 

Para dar conta de tudo, a showrunner Liz Tigelaar montou uma equipe de roteiristas diversificada, não só em termos de raça e de classe. “Havia mães solteiras, filhos de imigrantes, gente como eu que foi adotada, artistas, poetas, gente criada em Ohio”, informou. “E ninguém estava lá por um aspecto, para ser a voz de uma raça, ou para representar. Todos estavam lá como seres completos e tiveram conversas muito pessoais sobre os temas que importavam para eles.” 

Para Kerry Washington, isso tornou os personagens mais ricos ainda. “Essas duas são mulheres que se ama ou se odeia. São como você, ou não dá para ter ideia de como se tornaram quem são. Mas são muito reais e complexas”, acrescentou. 


Estadão quinta, 21 de maio de 2020

A GRANDE TESTEMUNHA: FILME FAZ DE JUMENTO A GRANDE PERSONAGEM

 

Clássico do Dia: 'A Grande Testemunha' constrói grande personagem em um jumento

Todo dia um filme será destacado pelo crítico do 'Estado'; filme de Robert Bresson traz características do seu cinema, como minimalismo e racionalidade

 

Imagem Luiz Carlos Merten

Luiz Carlos Merten , O Estado de S. Paulo

Atualizado 

Cena de 'A Grande Testemunha' (Au Hazard, Balthazar, 1966)  Photofest/Film Forum

Robert Bresson foi sempre alvo das mais bizarras comparações. Pauline Kael dizia que, embora algumas pessoas possam achar os filmes de Bresson espantosamente belos, outros acreditam que aguentá-los até o fim seria algo assim como ser açoitado, vendo cada lambada se aproximando. E Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, refletia que o ideal de cinema desse grande autor poderia ser uma tela branca e uma voz monocórdica lendo em off O Discurso do Método, de Descartes, dessa maneira destacando duas características essenciais, o minimalismo, verdadeiro ascetismo, e a racionalidade.

A Grande Testemunha
Cena de 'A Grande Testemunha' (Au Hazard, Balthazar, 1966)  Foto: Photofest/Film Forum
 

Dez anos antes, o poeta espanhol Juan Ramón Jiménez recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Sua extensa obra poética inclui uma obra-prima de poesia em prosa, Platero e Eu, cuja primeira edição, reduzida, é de 1914 e a completa, de 1917. Platero é um burrinho de campanha que o narrador – Juan Ramón – adota não apenas como companheiro de aventuras, mas de uma maneira muito simples – muy sencilla, como dizem os espanhóis – também escolhe para ser o filtro, vendo o mundo, a rotina da aldeia, pelos olhos dele. O Balthazar de Bresson é um jumento, e o autor também escolhe ver o mundo pelos seus grandes olhos tristes. Em paralelo com a odisseia de Balthazar – melhor seria dizer, sua via-crúcis –, Bresson cria a garota, Marie.

Logo no começo, numa cidadezinha francesa próxima à fronteira da Suíça, um casal de crianças, Jacques e Marie, batiza o jumento que acaba de nascer como Balthazar. A família de Jacques muda-se e o pai de Marie assume o encargo da fazenda, e do animal. Balthazar cresce e passa a carregar peso. Jacques, de volta, declara-se a Marie, mas ela ama Gérard, que não vale nada – e maltrata Balthazar. O burro passa de mão em mão – vira propriedade de um sujeito que vive na rua, que o vende a um circo, que o devolve ao vagabundo. Já velho e doente, Balthazar volta à fazenda, Gérard violenta Marie e usa o jumento para transportar contrabando. Num confronto com a polícia de fronteira, Balthazar é atingido e agoniza no campo em que pasta um rebanho de ovelhas.

Cordeiro de Deus

Impossível não pensar em Balthazar (e Marie) como representações do sofrimento humano. O próprio Cristo? Jansenista da mise-en-scène – o teórico André Bazin aplicou a definição a William Wyler, mas ela é perfeita para definir o estilo de Bresson. Os jansenistas acreditavam na graça e na predestinação e o acaso (hazard) se faz presente na trajetória de Balthazar desde o título original do filme. O jumento é o fio condutor dessa verdadeira viagem pela diversidade da condição humana, e para Bresson carregamos todos a chaga do pecado original. Ecos de Georges Bernanos e Fiodor Dostoievski, que ele adaptou (nunca com fidelidade à letra dos romances). Cobiça, avareza, luxúria – Balthazar, e Marie, vivenciam toda a patologia da experiência humana. Como diretor, Bresson perseguia o que chamava de 'imagens puras', que pudessem se transformar em contato com outras imagens, e com sons. “Para mim”, dizia, “o cinema é uma arte autônoma que se faz de ligações – de imagens com imagens, de imagens com sons, de sons com outros sons.”

A violência sexual contra Marie é exemplo disso. Ruídos, câmera parada, Bresson foge de uma regra fundamental da indústria, o movimento. Não por acaso, uma das palavras para filme, em inglês, é movie, da mesma forma que filmar é shoot, que também quer dizer tiro. Em busca da desdramatização, Bresson preferia os atores naturais, embora, pontualmente, tenha recorrido a profissionais. O acaso – a predestinação? – fez com que Jean-Luc Godard visitasse o set de A Grande Testemunha, onde conheceu a atriz que fazia Marie. Anne Wyazemsky virou sua mulher na fase de radicalização política de A Chinesa, de 1967. Mais tarde, Anne tornou-se escritora e está na origem do livro que inspirou Formidável, de Michel Hazanavicius, sobre sua ligação com Godard durante o célebre Maio de 68.

No livro Watching Them Be, da Faber and Faber, James Harvey analisa a busca da graça por grandes diretores, a partir da maneira como buscam a transcendência por meio da carnalidade de seus atores e atrizes. O livro tem um subtítulo – Star Presence on the Screen, from Garbo to Balthazar – que entrega tudo. Balthazar é um dos grandes personagens do cinema. Dentro desse sortilégio que Bresson lograva criar, ligando imagens e imagens, imagens e sons, sons e sons, o desfecho, naquele campo, a solidão pungente do jumento, ao som de Schubert, é um momento de antologia. Harvey não deixa por menos. No livro de 2014, considera A Grande Testemunha o maior de todos os filmes a que assistiu. Cada um terá seu favorito, que poderá até ser outro, mas Balthazar, com certeza, é um desses grandes.


Estadão quarta, 20 de maio de 2020

OLGA TOKARCZUK, NOBEL DE LITERATURA: SEM CULTURA, SOCIEDADE NENHUMA SOBREVIVERÁ

 

'Sem cultura sociedade nenhuma sobreviverá', diz Olga Tokarczuk, Nobel de Literatura

Leitora de Mário de Andrade e José Mauro de Vasconcelos, a escritora polonesa, autora de 'Sobre os Ossos dos Mortos', fala sobre literatura e as lições da pandemia do coronavírus

Maria Fernanda Rodrigues, O Estado de S. Paulo

20 de maio de 2020 | 05h00

Leitora de Mário de Andrade e José Mauro de Vasconcelos, psicóloga que deixou a profissão para se dedicar à literatura, Olga tem 58 anos e vive entre Wroclaw e uma pequena vila como a que situa o romance Sobre os Ossos dos Mortos, lançado em novembro pela Todavia, e onde passa cada vez mais tempo para “tentar enraizar”.

 
Olga TokarczukA escritora polonesa Olga Tokarczuk, autora de 'Sobre os Ossos dos Mortos, vai lançar obra infantil em 2020
Foto: Adam Stepien/Agencja Gazeta/Via Reuters
 
 

Seu primeiro livro publicado aqui, Vagantes, vai ganhar nova tradução no ano que vem e deve se chamar Viagens (o original é Flights). Ainda em 2020, sai A Alma Perdida, infantil dela com ilustrações de Joanna Concejo – uma história sobre espera, paciência e desapego. Sobre os Ossos dos Mortos é narrado por Janina, uma excêntrica professora de inglês aposentada, amante da astrologia e defensora dos animais, que se envolve na investigação de uma série de assassinatos macabros.

Leia trechos da entrevista concedida por e-mail e traduzida por Piotr Kilanowski, professor de literatura polonesa na UFPR.

Este é um romance policial clássico, mas não só. O que você tinha em mente quando começou a escrever este livro e por que quis contar essa história?

Eu dispunha de seis meses, queria fazer algo leve. Pensei também que, uma vez que estava escrevendo um pastiche de suspense com enredo de novela policial – pois me parece que nos tempos de hoje não é mais possível escrever algo assim totalmente a sério – iria fazer meu trabalho com toda seriedade. Eu me empenhei para seguir as exigências da literatura popular: algo que seja facilmente digerível, não muito extenso e com imagens. Gosto muito das ilustrações (da edição original) pintadas por Jaromir, pois são assombrosamente tristes. No final, embora a intenção em si fosse modesta, ao escrever esse livro acabei me envolvendo e o vivenciando profundamente. Quando manipulava os personagens, desenhava as cenas para eles, tive impressão, e é algo que ocorre muito comigo, de estar jogando o sempiterno e poderoso jogo mitológico. Então nesse sentido não me afastei muito de mim mesma.

Você concorda com Janina, que acredita que o mundo é injusto e mau?

Às vezes me acontece de pensar como Janina, quando vejo quanta desgraça ocorre no universo e como não estamos conseguindo lidar com este mundo. Mas, no fundo, sei que o mundo não é desse jeito nem daquele outro. Ele simplesmente é. E nossa responsabilidade por ele, como seres conscientes, é enorme.

Por falar em mundo, esses são tempos estranhos, em que presenciamos um aumento do totalitarismo e enfrentamos algo como o coronavírus. Ao longo da história, a Polônia aprendeu a começar de novo. Talvez estejamos neste ponto: vamos precisar descobrir uma forma de recomeçar depois do coronavírus. O que podemos aprender, ou deveríamos aprender, com esta pandemia?

Penso que antes de tudo estamos aprendendo a humildade. É um conceito antigo e ao que parece um pouco em desuso. O ser humano esqueceu sobre a humildade diante da natureza, diante das forças maiores que ele mesmo. Impelido pela inacreditável soberba, destruiu muito ao seu redor: seres vivos, meio ambiente, paisagem. Agora está se preparando para a conquista do cosmos. A pandemia nos ensina que ainda somos apenas uma das espécies que vivem na Terra, dependente de uma complexa rede de relações, que nosso corpo é frágil e mortal e que nossas possibilidades são limitadas. Tenho impressão que observamos a volta da sentença memento mori, tão popular no barroco europeu, a época que teve que lidar com as epidemias e guerras cruéis e com as forças que o ser humano não conseguia dominar. A volta da visão do mundo como um mistério, a volta da procura pelo sentido da existência humana na Terra, a volta da pergunta sobre a natureza do homem e sobre a origem do mal. Podem ser tempos bem interessantes.

Como esse tempo de isolamento a toca pessoalmente?

Devo dizer que tudo isso não influenciou minha vida de uma maneira significativa. Precisei cancelar as viagens, mas isso foi até um certo alívio. Fazia tempo que eu não morava na minha própria casa. Para mim, é o tempo de serenar e de colocar os assuntos atrasados em dia. O tempo de lockdown coincidiu também com uma grave doença de meu cachorro, o que acabou sendo bom, pois pude dedicar muito mais tempo a ele. 

O que a motiva? O que você busca como escritora? E por que trocou a psicologia pela literatura?

É quase a mesma coisa. Olhe para Freud – ele é escritor ou psicólogo?

Quando você ganhou o Nobel, disse que acreditava que a literatura aproximava as pessoas. O que mais ela pode fazer por nós e o que ela já fez por você?

Penso que cultura de um modo geral tem como objetivo ordenar e transmitir a experiência humana. Simplesmente assim. É um mecanismo evolucionário sem o qual não sobreviverá nenhuma sociedade. É uma forma de comunicação muito sofisticada e profunda e ao mesmo tempo compreensível para a maioria. A literatura nos integra, pois nos mostra os outros a partir de seu interior. Graças a ela podemos viver as vidas das outras pessoas, entrar nas suas existências. Mostra também as semelhanças que se sobrepõem às diferenças, pois atinge aquela esfera da experiência humana que é fundamental e comum a todos.

A literatura precisa ser política e provocativa?

Na acepção mais ampla do político, sim. O político compreendido amplamente sempre se relaciona com o ato de refletir e de construir nossa própria concepção do mundo. Observo o mundo e escolho o que é bom e o que é ruim – para mim, para os outros. Essa valorização frequentemente é feita inconscientemente. Às vezes tentamos nos abster de julgar. A reflexão nos serve para fazermos isso de modo consciente e então construímos a nossa visão do mundo. Não existem livros apolíticos. Sempre transparecem neles alguns mecanismos sociais, mecanismos de gênero, de comportamento, decisões, escolhas que se referem de uma maneira mais ou menos direta à realidade. Mesmo o conto de fada sobre a Cinderela ou um romance por mais meloso que seja serão políticos naquele sentido mais amplo – falarão sobre os condicionamentos de relações de gênero, sutilmente aludirão à dominação de um sexo pelo outro, apresentarão alguns tipos de exclusão, opressão e economia, por mais rudimentares que sejam. Entendo política de forma muito ampla, como uma reflexão sobre o mundo e não apenas a questão de eleições parlamentares ou governo de um partido ou outro.

Você está familiarizada com a literatura latina?

Eu era adolescente na época do boom da literatura ibero-americana na Polônia. Cresci e me formei lendo essa literatura: Jorge Luis Borges, Júlio Cortázar, Mário Vargas Llosa, José Donoso, Ernesto Sábato, Mário de Andrade, José Mauro de Vasconcelos, Luis Sepúlveda e outros. Penso que como escritora e leitora tenho muito a agradecer a ela. Acho que temos muito em comum – nós, centro-europeus com a nossa sensibilidade popular-camponesa-católica-pagã, e vocês. Me parece, no entanto, que existe uma diferença básica e que é perceptível também na literatura – nós somos soturnos.

 

Sobre os Ossos dos Mortos
Sobre os Ossos dos Mortos será publicado em novembro pela Todavia Foto: Todavia

Estadão terça, 19 de maio de 2020

MERYL STREEP E BEENEDICT CUMBERBATCH LEEM LIVRO INFANTIL PARA INICIATIVA DE CARIDADE

 

Meryl Streep e Benedict Cumberbatch leem livro infantil para iniciativa de caridade

O cineasta neozelandês Taika Waititi convocou alguns amigos de Hollywood confinados pelo coronavírus por videochamada para lerem o clássico 'James e o Pêssego Gigante', de Roald Dahl

Peter Graff, Reuters

19 de maio de 2020 | 07h50

A atriz Meryl Streep
A atriz Meryl Streep  Foto: John Sibley/ Reuters

O cineasta neozelandês Taika Waititi convocou alguns de seus amigos de Hollywood confinados pelo coronavírus por videochamada para lerem em suas salas de estar o clássico James e o Pêssego Gigante, de Roald Dahl, para uma iniciativa de caridade.

Waititi, diretor de Jojo Rabbit Thor: Ragnarok, lê o livro infantil de 1961 do autor britânico enquanto seus amigos - incluindo Meryl StreepBenedict Cumberbatch e Cate Blanchett-- participam dublando personagens e se divertindo.

 

Cynthia Erivo, Beanie Feldstein, Josh Gad, Mindy Kaling, Gordon Ramsay, Eddie Redmayne, Olivia Wilde, Ruth Wilson e Archie Yates são alguns dos demais participantes. 

Em trailers divulgados nesta segunda-feira, Chris Hemsworth se gaba de sua "amabilidade" ao irmão Liam, astro de Jogos Vorazes, o que se acredita ser sua primeira atuação conjunta.

As vozes cômicas de Streep estão entre os destaques, e provocaram risadas em Cumberbatch. O romance será lido em 10 episódios, e os dois primeiros estão disponíveis a partir desta segunda-feira, 18, no canal de YouTube de Roald Dahl. Os fundos arrecadados irão para a Partners In Health, uma instituição de caridade de saúde materna de Serra Leoa.

Waititi, ganhador do Oscar, disse que ele mesmo é "uma criança adulta" que leu o livro muitas vezes para suas filhas.

O livro trata das aventuras de um órfão em um mundo mágico surreal dentro de um pêssego gigante, e Waititi diz que é a história perfeita para os tempos de confinamento.

"Esta história doida e maravilhosa diz respeito à resistência das crianças, ao triunfo sobre a adversidade e a se lidar com a sensação de isolamento, o que não poderia ser mais relevante hoje."


Estadão segunda, 18 de maio de 2020

LYNN SHELTON SE ENCANTOU: DIRETORA DE O DIA DA TRANSA MORRE AOS 54 ANOS

 

Morre, aos 54 anos, a diretora Lynn Shelton

Revelada com o filme 'O Dia da Transa', no Festival de Cannes de 2009, ela dirigiu a série 'Mad Men'

O Estado de S. Paulo, O Estado de S. Paulo

17 de maio de 2020 | 15h53

Morre, aos 54 anos, a diretora Lynn Shelton

A diretora Lynn Shelton na première de 'Laggies', no Festival de Sundance, em 2014
Foto: REUTERS/Jim Urquhar

Ela realizou dois filmes muito elogiados pela crítica, Entre Irmãs (2011) e Encalhados (2014). Revelada no Festival de Cannes com O Dia da Transa (Humpday, 2009), sobre dois amigos heterossexuais que decidem fazer um filme pornô gay, a diretora passou a frequentar o circuito alternativo de festivais (Sundance e outros).


Estadão domingo, 17 de maio de 2020

FOTÓGRAFOS ABUSAM DA CRIATIVIDADE

 

Fotógrafos abusam da criatividade e passam a fazer sessões de fotos via chamada de vídeo

Redação Divirta-se

17 de maio de 2020 | 05h00

A cantora Any Gabrielly, da Now United, ficou surpresa com o resultado: “Adorei”. Foto: Mateus Aguiar

Ana Lourenço

O que seria dessa quarentena sem a tecnologia? Além de garantir a continuidade do trabalho por home office, possibilitar a conexão com amigos e familiares para matar as saudades e, sejamos reais, permitir passar o tempo com filmes disponíveis em plataformas e com lives, as redes sociais ainda abrem espaço para a criatividade. A tendência, agora, são as sessões de fotos realizadas via chamadas de vídeo.

 

“É algo que a gente nunca imaginou na vida, né? Como eu vou fotografar alguém se eu não estou lá, se eu não vou segurar a câmera?”, indaga a fotógrafa Fernanda Abreu, de 24 anos, que passou recentemente a fotografar dessa maneira. O processo parece simples: as pessoas se conectam via aplicativos – Skype, Zoom, Facetime, Google Hangouts – e o fotógrafo captura as imagens da tela. Depois disso, bastam algumas edições e pront 

Mas a criação por trás é maior. “Converso bastante com a pessoa e, às vezes, até faço uma chamada de vídeo antes do ensaio para ela me mostrar a casa e eu já ter uma ideia de onde fazer as imagens, ver a luz do lugar. Eu também indico algumas coisas que ficariam legais na foto, sejam objetos ou roupas”, conta o fotógrafo Mateus Aguiar.

Luz – natural ou artificial –, boa conexão com a internet e boa qualidade da câmera do celular são imprescindíveis. Porém, os envolvidos também precisam desenvolver comunicação, confiança e paciência. “Eu saio até cansada da sessão, porque você tem de passar todo o seu conhecimento para a modelo sem ela estar te vendo, sem você estar presente”, observa a fotógrafa Isadora Tricerri, de 22 anos.

Isso porque, para maximizar a qualidade da imagem, as fotos são feitas com as câmeras traseiras do celular, dependendo totalmente da voz do fotógrafo para indicar as posições ao fotografado. “É muito difícil trabalhar com um espaço que você não está vendo e entender aquilo que o profissional quer”, conta Rafaela Lima, que foi fotografada por Isadora.

 

Sessões de fotos via chamada de vídeo

 Alguns utilizam o novo recurso como um passatempo e não cobram nada. Outros cobram um preço mais baixo do que o presencial – em média, de R$ 100 a R$ 300. De acordo com os fotógrafos entrevistados, além da qualidade da imagem, os gastos com transporte, alimentação, locação e duração são suprimidos do preço. O tempo da sessão pode variar de 15 minutos a duas horas. Apesar de longo, Natália Felipe, fotografada por Fernanda, afirma que o processo foi divertido. “A sessão aliviou um pouco a alma, sabe? Por duas horas, eu me esqueci completamente da pandemia. Foi revigorante.”

Original. O precursor da tendência foi o fotógrafo italiano Alessio Albi. Trancado em casa desde o dia 9 de março, ele conta que foi uma maneira de se manter ativo. “Eu precisei me manter ocupado e motivado, uma vez que eu ficaria em casa o dia todo, sem fazer nada.” Assim, ele convidou a modelo Meghan Collison, sua amiga, para testar a ideia. E o sucesso foi instantâneo. “O interesse das pessoas começou a crescer e eu também passei a aceitar comissões de revistas para esse tipo de trabalho, porque, na realidade, toda a indústria está tentando se readaptar e se renovar durante essa situação que passamos”, diz.

A modelo Meghan Collison. Foto: Alessio Albi

A ideia se espalhou pelo mundo. “É um exercício de fotografia. Você sai totalmente da sua zona de conforto – posicionar a modelo, pensar na luz”, diz Fernanda. “É sempre desafiador dirigir alguém a distância. É novidade para todo mundo. Mesmo para artistas já acostumados a fotografar é bem mais complexo. O clássico ‘um passinho pra direita’, eu tenho que pensar antes de falar, porque não tenho um gesto pra fazer, já que o fotografado só tem a minha voz pra se guiar. No fim, acaba sendo divertido para todos e eles se sentem sendo assistente de fotografia por um dia”, explica o profissional Jorge Bispo, que já conta com cem ensaios via chamada de vídeo.

Como o intuito é não sair de casa, os adereços utilizados e até os “tripés” são improvisados. “Em uma das sessões, usamos uma xícara para apoiar o celular”, diz Isadora. Em outra, ela aproveitou a presença do marido da modelo. “Foi muito legal porque a gente conseguiu explorar ângulos que, talvez com o celular parado, não iríamos conseguir”, relata a criadora cultural Flávia Carvalho, clicada por Isadora.

Aceitação. “Eu tinha minhas dúvidas sobre o resultado. Confio muito no Mateus e sei que ele tem um talento absurdo, mas não esperava algo tão bom. Quando vi o resultado, nem acreditei que foi por Facetime”, declara a cantora Any Gabrielly, fotografada por Mateus Aguiar.

Para a influenciadora Júlia Rodrigues, o momento é perfeito para fotografar. “Tirar foto via Facetime é como se estivesse só você ali, porque pode se ver melhor e se entender.”

Dentro de casa, sem acesso a alguns eventuais cuidados de beleza, a aceitação do corpo e o amor próprio precisam ser cultivados e as sessões podem ser grandes aliadas. “Eu acho que é um processo de autoaceitação. Na sessão, você acaba fortalecendo isso”, diz Isadora. “Às vezes, a gente só foca nossas imperfeições, que, aliás, só a gente vê. Eu percebo muito isso com as pessoas que eu fotografo.”

A atriz e apresentadora Titi Müller também fala em autocuidado. “Acho que (na sessão) a gente se coloca de um jeito mais parecido com que a gente se via antes da quarentena, o que é muito legal, porque eu só estou andando de pijama em casa”, conta. Grávida de oito meses, a novidade da foto a distância foi o que permitiu à apresentadora ter um registro profissional do momento. “Fiquei chateada; eu estava com vários ensaios marcados, estava animada. Mas, quando a barriga começou a despontar, começou a ficar redondinha, foi bem quando foi decretada a quarentena.” A solução foi ser fotografada pelo amigo e fotógrafo Jorge Bispo. “Ele tem um olhar poético, muito lindo e adorei o resultado.”

Sessão de fotos via chamada de vídeo foi a maneira encontrada por Titi Müller de registrar a gravidez. Foto: Jorge Bispo

Conceitos. Se, por um lado, a novidade permite que as fotografias cruzem fronteiras, por outro, a qualidade diminui. Para solucionar isso, Mateus Aguiar passou a fotografar a tela do computador com a câmera. “Isso me possibilita uma melhor resolução da imagem e melhor qualidade de edição”, afirma. Outros discordam. “Sim, a qualidade é limitada, mas, se você consegue executar sua ideia e depois editar de uma forma que fique legal, é possível atingir a sua expectativa e a da pessoa que está sendo retratada. Você aprende a fazer a foto com o que tem”, diz Isadora.

O desafio faz com que, no mínimo, se repense o conceito de fotografia. “Todo o processo me fez lembrar de coisas que eu havia esquecido. Quando se trabalha há muito tempo nessa área, você pensa muito na técnica e em outros fatores que, na verdade, não são importantes. São muito mais importantes, para um retrato, as emoções, como a pessoa vê ela mesma e como você a vê. É sobre comunicação e conexão humana”, opina Albi.

O italiano, porém, espera que isso seja algo momentâneo. “Provavelmente, esse será um recurso útil para pessoas que não podem viajar, por condições políticas ou de saúde. Mas eu espero que, em condições normais, tudo volte ao normal”. Jorge Bispo também aguarda esse momento: “Estou doido pra receber gente aqui no ateliê, passar um café e colocar um disco na vitrola”.


Estadão sábado, 16 de maio de 2020

SOPA RÚSTICA DE TOMATE ASSADO

 

Sopa rústica de tomate assado

Muito fácil de fazer, essa receita é de uma simplicidade reconfortante, que a torna perfeita para uma noite fria

por Patrícia Ferraz
 
 Ninguém precisa saber cozinhar para fazer essa sopa. Ela não requer qualquer habilidade, além de cortar os tomates ao meio, descascar as cebolas e o alho. E é espetacular. OK, sou fã e posso estar exagerando no entusiasmo, mas ela é bem boa. Faça e tire a prova você mesmo.

 Sopa de tomates assados.

Sopa de tomates assados. Foto: Patrícia Ferraz/Estadão/Cerâmica Muriqui

Um pouco adocicada, um pouco ácida, encorpada, é de uma simplicidade reconfortante, o que a torna perfeita para uma noite fria. O único segredo é usar tomates bem maduros, que são menos ácidos e mais carnudos – a cenoura entra na receita para ajudar a reduzir a acidez. Se quiser caprichar, faça também algumas torradas com pesto de salsinha ou crocantes de presunto cru.

Preparo

1 - Corte os tomates ao meio no sentido vertical e ponha numa assadeira com a parte cortada virada para cima.
 
2 - Descasque as cebolas e corte-as ao meio; descasque os dentes de alho, mas deixe-os inteiros; descasque a cenoura e corte ao meio; distribua os três na assadeira com os tomates.
 
3 - Tempere com sal e pimenta, regue com azeite e leve ao forno preaquecido a 220°C. Asse os vegetais por aproximadamente 30 minutos, até estarem levemente tostados.
 
4 - Tire do forno, espere amornar e ponha os vegetais no liquidificador, ou no processador, junto do caldo vegetal ou de carne. Bata até obter um creme espesso – a textura fica irregular, o que confere o estilo rústico à sopa.
 
5 - Pesto de salsa: bata todos os ingredientes (exceto o pão) num processado e espalhe sobre a torrada.
 
6 - Crocante de presunto: forre o prato do micro-ondas com papel-toalha, ponha duas ou três fatias de presunto e cozinhe por uns 20 a 30 segundos. Tire do forno e espere esfriar e ficar crocante.
 
7 - Sirva a sopa quente, pura ou com os acompanhamentos. 

Estadão sexta, 15 de maio de 2020

LOS HERMANOS DÁ RECADO SOBRE O PODER DA MÚSICA AO VIVO

 

Com live dedicada aos fãs, Los Hermanos dá recado sobre poder da música ao vivo

Em tempos de covid-19, ninguém mais sabe quando poderá curtir um show novamente; 'Los Hermanos 2019' foi gravado em 11 cidades na turnê de 2019

Guilherme Sobota, O Estado de S. Paulo

14 de maio de 2020 | 20h44

Num momento único e terrível para o sistema da música ao vivo no mundo todo, e quando artistas procuram formas de se comunicar com os fãs, a banda apresentou uma novidade: o vídeo mostra o “ponto de vista Hermanos”, ou seja, a câmera, de cima do palco ou no solo, fica apontada o tempo todo para a plateia, para “los fãs”, num tipo de homenagem que ganha novos significados nos tempos em que vivemos.

O vídeo, agora disponível no canal oficial da banda, mas transmitido ao vivo com um chat, criando uma espécie de festa entre pessoas conectadas de diversos locais, mostra a cerca de 1h30 do disco gravado, interpolada com imagens, em shows nas 11 cidades pelas quais a banda passou em 2019. É uma hora e meia de faces, cantando emocionadas uma hora e meia de músicas que (já ficou claro) marcaram uma geração de brasileiros, talvez a última geração de amantes da música tão centralizada por uma banda de rock nacional, cria deste solo 

 O repertório é conhecido e já foi estudado, analisado e relatado por diversos colegas. Aqui, o faro jornalístico busca imparcialidade sóbria para entender o que funciona e o que não funciona no formato, mas antes disso, é fácil perceber que a iniciativa da banda, certamente pensada antes da pandemia, propõe um ato tão simples quanto olhar para as pessoas. Olhe para quem está do seu lado, é o que pede o vídeo, estipulando uma base de empatia e solidariedade em falta no Brasil.

Com O Vencedor, Marcelo Camelo aponta o microfone e o público canta, vibrante, os primeiros versos de uma música que preconiza um tipo de otimismo melancólico, signo de uma geração, transformado em música: “Olha lá, quem acha que perder / É ser menor na vida / Olha lá, quem sempre quer vitória / E perde a glória de chorar / Eu que já não quero mais ser um vencedor / Levo a vida devagar pra não faltar amor”. Com Primeiro Andar, A Outra, Pois É, Sentimental, a banda arranca um riacho de lágrimas desgarradas de rostos às vezes mais jovens do que as músicas, marcas de uma idade em que sofrer por amor é regra, e não exceção. 

De Onde Vem a Calma é nomeada pelos fãs de “Evangelho Segundo São Camelo”, e uma série de canções do primeiro disco recupera das entranhas do início dos anos 2000 (parece, agora, cinco mil anos atrás) as batidas aceleradas descendentes do indie rock de guitarras do século passado. 

Os mal humorados podem encarar o vídeo, uma “live” sem a presença dos músicos (embora Rodrigo Barba e Bruno Medina estivessem participando do chat no Youtube), como algo frio num tempo em que a comunicação direta com os fãs poderia, sei lá, oferecer algum alívio. Por outro lado, também é interessante notar como a banda parece gostar de fato dos fãs. “Claro que a peça central disso tudo são vocês, ano após ano, e agora enchendo estádios”, diz Camelo a certa altura, genuinamente impressionado. “Um sonho que a gente jamais ousou sonhar, como disse o Bruno.”

No chat, os fãs tentaram fazer subir a hashtag #LH2021, pedindo uma nova turnê da banda no ano que vem, quando, aparentemente, todos esperam poder retornar a shows e aglomerações. Ano passado, o Los Hermanos lançou Corre Corre, a primeira música inédita em 14 anos, mas a verdade é que nem mesmo os mais apaixonados esperam de fato uma reunião completa da banda. 

O assunto política surgiu aqui e ali no chat, com a maioria dos participantes pedindo a saída do presidente e azucrinando os eventuais “bolsominions” que apareceram.

Nada que atrapalhe um pensamento que essa “live” desperta. Assim como o excelente disco Gil Baiana Ao Vivo Em Salvador, lançado no fim de abril, gravações ao vivo assim demonstram algo que escapou por entre nossos dedos sem ninguém perceber. A música ao vivo foi negada aos habitantes da Terra, de uma hora para a outra, e neste dia 14 de maio ninguém sabe exatamente qual é o futuro dela no mundo. Quando é que bandas, técnicos de som e de luz, produtores, e simplesmente fãs poderão novamente se aglomerar em frente a um palco para criar ali um tipo de movimentação cósmica, a cada momento inédita, visto que sempre diferente uma da outra? Mas ao mesmo tempo igual? O poder da música ao vivo foi contaminado pela covid-19, e por enquanto, sofremos, pois não há previsão de cura.

 

Los Hermanos
Imagem do show do Los Hermanos em show no Maracanã, em 2019  Foto: Léo Aversa

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