04 de maio de 2021 | 15h00
Todas as sextas-feiras o repórter Geoff Edgers hospeda uma live do Washington Post transmitido pelo Instagram, a partir de Massachusetts. Ele já entrevistou a comediante Tiffany Haddish, a atriz Jamie Lee Curtis e o músico Elvis Costello.
Recentemente Edgers conversou com a cantora Dionne Warwick. Abaixo alguns trechos do bate-papo:
Não. Quero dizer, como eu o salvei? Acho que estão se referindo aos meus tuítes, e na Páscoa dei um show virtual, que foi maravilhoso, e farei outro no Dia das Mães. Mas se eles acham que disse coisas que levantaram seu espírito e foram inspiradoras, vou rir, que é o que adoro fazer, e agradecer a vocês.
Eu observava minhas sobrinhas e sobrinhos no Twitter dando risadas. Estavam se divertindo e eu quis saber o que era tão divertido. Brittani disse, “estamos tuitando”. Perguntei o que era aquilo. Então ela me fez ver e quando me mostrou o que se passava no mundo do Twitter não fiquei muito contente com as algumas coisas que vinham sendo ditas.
A maneira como as crianças conversavam entre elas. Atacando uma a outra e se insultando. Se você vai conversar com alguém, converse com civilidade, e talvez a presença de um adulto nesse momento seja necessária. E aparentemente funcionou, você sabe, pois depois Jack (O CEO do Twittter Jack Dorsey) me telefonou.
Sim. Ele ligou e me disse, ‘Você é uma força tão positiva aqui porque se estivesse vendo o Twitter ultimamente veria que o tom mudou um pouco”. Acho que é porque tornei minha presença conhecida, fazendo perguntas primeiro e indo atrás das pessoas. E a alegria foi ver que havia risos por trás de tudo que eu tuitava. Queria respostas e as pessoas responderam sem problema. Então eu me tornei uma espécie de sociedade de admiração mútua, o que é maravilhoso, fazer amigos e ver que não têm nenhum problema em me perguntar coisas que são importantes para eles.
Não, não faço nada especial. Nunca fiz. A única coisa a fazer para preservar sua voz é descansar, o que é muito difícil às vezes. Mas basicamente essa é a fórmula. No ano passado não cantei uma nota, nem na minha casa. E na Páscoa estava com muito medo pois não sabia o que sairia da minha boca. Afinal não cantava há um ano e você sabe, como qualquer músculo, é preciso exercitar. Mas Deus chegou e me ajudou.
A que eu mais admiro é a versão de Luther Vandross de A House is Not a Home. Provavelmente é o maior elogio que você recebe quando alguém regrava uma música que você cantou.
Tudo se resume no fato de as pessoas se identificarem com uma música e desejarem gravá-la. Elas se apaixonam pela música e querem interpretá-la. E Aretha fez um trabalho magnífico.
Tudo tem a ver com a maneira que você foi criado. Minha mãe e meu pai eram maravilhosos, me apoiando, amando e incentivando. Meu avô era pastor e passei muito tempo estudando o Mundo. Não tinha nenhuma razão para ser outra pessoa que não a que sou. Isso sempre me foi ensinado.
Bem, éramos adultos e eles tinham certos valores que vinham da sua própria educação. E meu padrão de conduta é muito elevado. Portanto, você sabe, se não chegar ao meu nível, não vejo necessidade de estar ao seu lado.
05 de maio de 2021 | 11h58
Muitas vezes me perguntaram se, com tantas perdas Brasil afora, nós estaríamos experimentando um luto coletivo. Sempre achei que não: estamos sim, coletivamente em luto, mas é diferente. Luto coletivo não me parece ser quando muitos de nós lamentamos nossas mortes ao mesmo tempo e sim quando todos compartilham uma dor em comum.
Talvez seja isso que tenha ocorrido com a morte do Paulo Gustavo. Com sua simpatia, ele cativava o País inteiro, basta ver o sucesso absoluto de seus filmes. Sua morte aglutina, de alguma maneira, todas as outras, nos levando, agora sim, a um luto coletivo: todos juntos lamentando a mesma perda.
Nosso cérebro primata nos impede de subjetivamente sentir o que objetivamente sabemos. Meio milhão de mortes não chega a nos comover – não temos sequer capacidade mental de processar o que isso significa. Mas a morte de uma pessoa, querida, próxima, essa sim é sentida como uma tragédia.
Paulo Gustavo, querido por todos, encarnou então, em sua última atuação pública, o sofrimento de um país inteiro. Despertou a empatia de quem estava anestesiado e trouxe materialidade à morte por covid que, para muitos, era ainda algo abstrato.
Não há fórmulas para lidar com o luto. Mas, além de lamentarmos sua partida, é importante que celebremos toda alegria que ele nos trouxe. É a melhor maneira de honrarmos sua história.
04 de maio de 2021 | 05h00
Somente na semana passada, 11 pessoas foram libertadas em Abadiânia, arredores do Distrito Federal, porque cortavam eucalipto em uma fazenda em troca de abrigo e comida, e seis trabalhadores que faziam cercamento de gado foram resgatados em Novo Progresso, no Pará, vivendo em barracões sem condições sanitárias. Esses não são os únicos casos recentes. Só no mês de abril, outros 22 foram salvos em Ituverava, no interior de São Paulo, e 12 em Minas Gerais.
Fábio Barreto, Tudo Sobre
No dia 13, completam-se 133 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, mas ela ainda persiste, só que com contornos diferentes. E é esse o tema da série em cinco episódios Escravidão – Século 21, que estreia nesta terça, 4, às 21h, na HBO e HBO Go, abordando temas como Cultura da Escravidão, Escravidão Rural, Dinâmica da Escravidão, Escravidão Globalizada e Sexo e Escravidão.
Foi Luiz Carlos Barreto, o Barretão, veterano produtor de A Hora e a Vez de Augusto Matraga e Terra em Transe, entre outros clássicos do cinema nacional, quem sugeriu ao filho, o cineasta Bruno Barreto, a leitura de Pisando Fora da Própria Sombra: A Escravidão por Dívida no Brasil Contemporâneo, do padre Ricardo Rezende.
O pai achava que o filho poderia fazer um filme de ficção a partir da história de José Pereira Ferreira, um agricultor que foi forçado a trabalhar sem remuneração desde os 17 anos, no Pará. Ele fugiu e foi dado como morto depois de levar tiros dos funcionários da fazenda, mas conseguiu se recuperar e denunciar o dono da propriedade. Ferreira recebeu uma indenização do governo federal, que foi condenado de omissão pela Organização dos Estados Americanos (OEA). “Eu sou ficcionista”, disse Bruno Barreto, que divide a direção da série com Marcelo Santiago, em entrevista ao Estadão por videoconferência. Mas foi o mesmo Barretão quem sugeriu que, antes de um longa de ficção, ele fizesse uma série documental sobre os diversos tipos de trabalho escravo que existem em pleno 2021.
Bruno Barreto teve certas dificuldades em lidar com o documentário. “Tenho problemas éticos. O documentário é uma farsa, porque finge que é a realidade, mas não é, porque você edita, enquadra. O espectador é levado a acreditar que é a realidade.” Por isso, decidiu que ia incluir encenações, como tinha visto na série The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst, coincidentemente também da HBO. “Minha intenção era que não ficasse chato ou didático. Queria que o espectador se envolvesse emocionalmente com essas histórias. Minha meta era emocionar sem manipular. E trata-se de uma linha muito tênue.”
Impacto emocional. Marcelo Santiago contou com a ajuda do próprio padre Ricardo Rezende e do Ministério Público do Trabalho para escolher os personagens e convencê-los a participar da série. “A nossa maior dificuldade foi o impacto emocional”, explicou ele. Os depoimentos são difíceis de ouvir, e nota-se o trauma na voz de cada uma das vítimas. “A maioria acaba chorando, mas não é de maneira nenhuma autopiedade”, disse Bruno Barreto, emocionando-se. “É que, quando começam a contar, volta a dor. Eles choram por dor, não por piedade de si mesmo. São pessoas muito resilientes.”
Para Barreto, o mais importante é justamente a condição humana e não a causa. “A causa tem de ser um subtexto. O que me interessa é a condição humana, os conflitos, os personagens.” José Pereira aparece no segundo episódio – e foi difícil encontrá-lo, pois ele vive escondido, com medo de represálias por ter denunciado seus antigos patrões. Mas Bruno Barreto ainda não desistiu de fazer uma ficção baseada em sua história. “É um roteiro pronto”, comenta o diretor.
Além dos personagens, a série tem entrevistas de figuras como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o diplomata e ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e o jornalista Leonardo Sakamoto, que dão um panorama da situação no Brasil.
Segundo o Radar da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, 1.054 pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão em 2019. Mas, no ano passado, houve uma redução de 40% na verba para o combate ao trabalho escravo. Para Bruno Barreto, a escravidão do século 21 pouco tem a ver com a do século 19. “Hoje, há escravidão no mundo inteiro. Não está resumida a um grupo ou etnia específica.”
03 de maio de 2021 | 05h00
Tom Zé, 84 anos, vibra como um garoto por sua nova criação: uma parede em seu apartamento no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, na qual ele colocou cartazes de rua, folhas de jornais, recordações da infância e letras de música. Foram esses elementos que o ajudaram a criar a performance que ele apresentará na quarta-feira, 5 de maio, Dia da Língua Portuguesa, na exposição temporária de pré-abertura Língua Solta, do Museu da Língua Portuguesa.
Museu da Língua Portuguesa reabre para exposição temporária; veja a programação
Por telefone, em chamada de voz, o artista tenta descrever a tal parede que, em tempos de pandemia, lhe permitiu ver o mundo. Pensa em ligar o vídeo. “Poxa, não vou saber fazer. Não sou bom nisso. Tem gente que se deu bem com essas coisas de modernidade. Eu não”, diz ele, um dos artistas desde sempre moderno, à reportagem. Neusa, sua mulher e fiel escudeira, está em outro cômodo da casa.
Porém, assim como faz em suas canções, Tom Zé se vale das palavras, sua matéria-prima, para explicá-la. Ou melhor, para contar toda a viagem que fez por lembranças, história, professores, conversas dos tios, livros e pensadores, estimulado pelo pedido dos curadores de Língua Solta, Moacir dos Anjos e Fabiana Moraes. “O convite me fez estudar. Você sabe que o ser humano esquece, de dez em dez anos, aquilo que aprende, né?”, diz.
A exposição é composta por um conjunto de objetos que fixam seus significados no uso das palavras na arte contemporânea e popular. Portanto, o público verá – a visitação presencial terá número limitado de participantes – peças como cartazes de rua, cordéis, brinquedos, revestimento de muros e estandartes de dança.
“O que me instigou foi essa retirada da hierarquia do que é clássico, ou a arte, e o popular. Isso cria um vento, ou melhor, um redemoinho no pensamento. Quando eles se juntam dessa maneira, ficamos imaginando nesse um passo para lá ou um passo para cá nessa história de a pessoa ser ou não ser um artista. Quando uma pessoa diz, ‘isso não é arte’, o que ela quer dizer?”, questiona-se Tom Zé.
Um dos pontos de partida do pensamento de Tom Zé foi o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009), pensador da antropologia estrutural que desenvolveu estudos sobre sociedades não civilizadas, com base na linguagem. Dele, Tom Zé segue sua linha de raciocínio fervilhante até sua infância, nos anos 1940, em Irará, nos arredores de Feira de Santana, na Bahia.
Tom Zé diz que, à época, vivia-se outra civilização. “A nossa concepção do universo, antes de entrar na escola primária, não tinha Aristóteles. Quando fui estudar, aos oito anos de idade, analfabeto, senti uma diferença brutal naquilo que o professor dizia. Fiquei assombrado. Eu estava de costas para a civilização”, diz.
Dessa época, ele também se lembra das reuniões na sala da case do avô, quando a língua era a principal distração. A roda de conversa deixava o menino curioso, prestando atenção em tudo – e no modo – como era falado. Nove da noite, o mesmo horário no qual Tom Zé vai para a cama até hoje, era hora de criança dormir. “Eu não conseguia pegar no sono, estava excitadíssimo, tentando me lembrar de tudo o que havia sido dito para saber se eu tinha compreendido”, conta.
Essa paixão pela língua portuguesa aparece na canção Língua Brasileira, que Tom Zé fez para o disco Imprensa Cantada, de 2003, na qual é chamada de “babel das línguas” e “dama culta e bela.” “Sou uma pessoa que vive com a língua de manhã, de tarde e de noite. É o que me provoca. Trabalhei feito um leão nesses dias para decifrar essa exposição. Meu métier é a canção, então tive que estudar, ir atrás.”
A pesquisa de Tom Zé para Língua Solta o inspirou para compor pelos menos três canções. Uma delas, que se confunde com o tema da exposição, ele fez para o Estadão, com o título de O Estado de São Paulo (veja a letra abaixo). Outra, com o título da mostra, brinca com o fato de a língua estar nua no museu – só de “touca”, como diz a letra. O artista não sabe se elas estarão na performance, que será pré-gravada. Para além dessas novidades, diz que pensa em novas canções para o musical de Felipe Hirsch e do coletivo Ultralíricos inspirado na canção Língua Brasileira, que estrearia em março de 2020, em São Paulo. Com a pandemia, a produção foi adiada.
Tom Zé só desconversa quando perguntado se já pensa em um novo disco – seus últimos lançamentos foram o álbum Sem Você Não A (2017) e o retrospectivo Raridades (2020). “Demoro para compor. Tem pessoas que chegam em casa às cinco horas da tarde, tomam um uísque e fazem uma música que dali a pouco vai estar na boca do povo. Sim, tenho feito (novas músicas). Só que, quando contamos antes da hora o que vai ser, a coisa perde um pouco a graça”.
O Estadão
É um clarão de devoção
Coisa bendita do Doutor Mesquita
E a língua solta no museu
É jubileu
Uma pepita que palpita
Língua solta
Coisa louca
O popular, o erudito
Língua solta
Coisa louca
Meu pensamento é um grito
30 de abril de 2021 | 05h00
Os longas premiados na cerimônia do Oscar continuam em cartaz em São Paulo – “Nomadland” (melhor filme, direção para Chloé Zhao e atriz para Frances McDormand), “Meu Pai” (ator para Anthony Hopkins e roteiro adaptado), “Minari – Em Busca da Felicidade” (atriz coadjuvante para Yuh-Jung Youn), “Judas e o Messias Negro” (ator coadjuvante para Daniel Kaluuya e canção original) e “Druk – Mais uma Rodada” (produção internacional). Mas também começam a chegar outros tipos de filmes, como “Godzilla vs Kong”, em pré-estreia, e a comédia nacional “O Auto da Boa Mentira”.
PRÉ-ESTREIAS
'Godzilla Vs. Kong' tenta atrair o público ao cinema pelo gigantismo
Dir. Adam Wingard. Sequência tanto de “Godzilla 2: Rei dos Monstros” (2019) quanto de “Kong: Ilha da Caveira” (2017), coloca as duas criaturas num embate que ameaça a humanidade. No elenco estão Alexander Skarsgaard, Millie Bobby Brown e Bryan Tyree Henry, entre outros.
O Auto da Boa Mentira
Dir. José Eduardo Belmonte. A comédia é uma adaptação de contos de Ariano Suassuna, com quatro histórias estreladas por Leandro Hassum, Renato Góes, Chris Mason e Cacá Ottoni, tendo a mentira como protagonista.
Nazinha, Olhai por Nós
Dir. Belisario Franca. Neste documentário, quatro detentos falam sobre seu passado, sua situação atual e planos para o futuro enquanto esperam pela saída temporária para festejar o Círio de Nazaré.
Sessão Vitrine – Especial 10 Anos
Oito produções brasileiras fazem parte da mostra, que pretende democratizar o acesso ao cinema nacional. As sessões são compostas por um curta e um longa:
Nos cinemas e também nas plataformas digitais Now, Oi Play e Vivo Play. Os curtas estarão na Cardume.
Retrato de uma Jovem em Chamas
Dir. Céline Sciamma. Vencedor estrangeiro do Festival Sesc Melhores Filmes, o longa se passa na França de 1770, quando Marianne é contratada para pintar o retrato de casamento de Héloïse, que não quer posar. No processo, as duas acabam estabelecendo uma relação profunda. Disponível a partir de sábado, às 20h, no Sesc Digital.
Dir. Stefano Sollima. John Kelly (Michael B. Jordan), oficial de elite da Marinha americana, descobre uma conspiração para colocar os Estados Unidos contra a Rússia, ao buscar vingança pela morte de sua mulher. Com Jamie Bell e Jodie Turner-Smith. No Amazon Prime Video.
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
Dir. Michael Rianda. Animação produzida por Phil Lord e Christopher Miller (de “Uma Aventura Lego” e “Homem- Aranha no Aranhaverso”) sobre a última viagem em família dos Mitchell antes de a adolescente Katie ir para a universidade. O problema é que, no meio do caminho, acontece um motim dos robôs contra a humanidade. Na Netflix.
Atlantis
Dir. Valentyn Vasyanovych. Num futuro próximo, um ex-soldado ucraniano sofrendo de estresse pós-traumático depois da guerra com a Rússia encontra um novo objetivo ao conhecer uma voluntária que tenta ajudar uma região completamente devastada pelo conflito. Na Reserva Imovision.
Irma Vep
Dir. Olivier Assayas. Maggie Cheung é uma atriz chinesa com dificuldades no set de uma refilmagem de “Os Vampiros” por um diretor francês (Jean-Pierre Léaud). O longa de 1996 participou da mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Na MUBI.
Cantando na Chuva
Dir. Gene Kelly e Stanley Donen. Um dos maiores clássicos do cinema musical, o filme é um bálsamo para dias difíceis ao mostrar as dificuldades de astros dos anos 1920 de se adaptar à chegada do som. Domingo (2), às 22h, no Telecine Cult, e na plataforma Telecine.
Poeta fenômeno no Instagram e escritora best-seller, Rupi Kaur fala sobre literatura, feminismo e pandemia
Atualizado
Rupi Kaur diz que escreve para entender as complicações e as belezas da vida. A escritora, de 28 anos, é um fenômeno da poesia com 4 milhões de seguidores no Instagram e mais de oito milhões de livros vendidos e traduzidos para 20 idiomas. Para Rupi, que nasceu na Índia e vive no Canadá desde pequena, um poema é feito para criar – e para ser compartilhado, sentido, vivido.
A escritora teria vindo a o Brasil, onde já vendeu mais de 500 mil livros, se não fosse a pandemia. “Não vejo a hora de tudo isso acabar e eu poder visitar o país e me apresentar para meus leitores brasileiros. Eles são, de verdade, os mais doces, gentis e apaixonados. Fazem com que me sinta parte da família”, disse a escritora ao Estadão. Seus fãs terão a chance de vê-la nesta sexta, 30, na transmissão mundial de uma apresentação que ela gravou em fevereiro do ano passado. Um evento nos mesmos moldes do que ela costumava fazer ao vivo, com poemas e histórias pessoais.
Revelada com outros jeitos de usar a boca, livro publicado de forma independente e depois por grandes editoras – aqui, ela é editada pela Planeta –, ela lança agora sua terceira coletânea: meu corpo, minha casa. No meio dos dois está o que o sol faz com as flores. Todos com ilustrações dela.
Confira trechos da entrevista concedida por e-mail.
Um poema é feito para criar. Para ser compartilhado. Para ser sentido. Para ser vivido. Digo com frequência que escrevo para uma versão mais jovem de mim mesma. Aquilo que a minha versão de 15 anos precisava escutar. Palavras que lhe dissessem ‘oi, querida, sei que a coisa está difícil agora, mas vamos ficar bem’. Escrevo como uma maneira de compartilhar experiências e vida. A poesia toma muitas formas. Cresci em meio à poesia. Venho de uma comunidade sikh onde a poesia é quase parte da nossa natureza. Nascemos nela. Nossos nomes vêm da poesia. Nossas escrituras são versos poéticos. Quando eu era pequena, meu pai reunia a família e conversávamos longamente sobre ela. Antes de começar a postar poemas, eu me apresentava no palco. E, depois, passei finalmente a postar alguns dos meus trabalhos. E, a partir disso, uma comunidade se formou. E, assim como o palco inicia uma conversa e um ritmo, a poesia nas redes sociais me permitiu formar uma comunidade mundial que compartilha e se conecta por meio das experiências que temos.
Sabe quando você fica ansiosa, e parece que tem algo borbulhando dentro de você? É uma sensação pesada, que pressiona um pouco seu estômago. Por exemplo, se fico três dias sem escrever, esta sensação se expande até o meu pescoço e parece que está sendo expelida de mim. Começo a me sentir fraca e meu corpo tem uma reação verdadeiramente física. É a maneira de meu corpo me dizer: ‘você precisa escrever, você precisa se sentar e tirar isso de dentro, porque se você não o fizer, isso vai apodrecer dentro de você’. Então sento e escrevo. Às vezes com um papel e uma caneta. Mas, quando a sensação é mais forte, abro um documento no computador e vou adiante. Alguns poemas são apenas uma linha, outros têm páginas e mais páginas. Não se trata de editar; trata-se de botar tudo pra fora. E, quando me sinto vazia outra vez, eu paro. É uma experiência muito emocional.
São histórias reais. Minhas ou vindas de conversas que tive com as mulheres à minha volta. As mulheres que encontrei na minha vida. Amigas, irmãs, primas, tias. Isso ocorreu naturalmente. Os tópicos vieram a mim, e era meu dever escrever a respeito deles. Eram essas as questões que me emocionavam. Eu precisava trabalhar por meio da complexidade delas e fiz isso com a minha linguagem. Por meio das ilustrações, eu tentei suavizar a experiência enquanto inseria o leitor na obra com mais profundidade. Sempre será uma responsabilidade minha continuar a falar sobre a mulher, sobre suas histórias e suas narrativas por meio do meu trabalho.
30 de abril de 2021 | 10h00
O jazz tem um dia especial desde 2011, quando o pianista Herbie Hancock, então embaixador da boa vontade da Unesco, sugeriu que a data fosse criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Foi uma ação para destacar o jazz e seu poder de unir as pessoas em todas as partes do mundo e fomentar a criação de uma agenda cultural que já chega a quase 200 países no mundo.
A morte do criador do afrobeat
Aqui no Brasil, uma das casas mais ligadas ao gênero, o Bourbon Street, que negocia com investidores para não ter de fechar suas portas por causa da crise que pode inviabilizar a reabertura de suas portas, sedia a transmissão ao vivo da 5ª edição online do Art & Jazz Festival da Jazz Mansion, a partir das 15h. O line up terá nomes do jazz independente do país, como as formações exclusivamente femininas da Funmilayo Afrobeat Orquestra e da Mjazz e um show do cantor, que não é de jazz, chamado Alex Albino.
A programação do Art & Jazz Festival da Jazz Mansion ficou assim:
Sexta-feira, 30 de abril
Horário dos shows: das 15h às 22h
Local: YouTube (https://www.youtube.com/channel/UCIiKCSa1VvAGWOoUJ9XSjJw)
Horário da oficina: das 18h às 22h
Local: Zoom - link será enviado por e-mail aos inscritos
Atrações musicais: Alex Albino, M Jazz, Funmilayo Afrobeat Orquestra, Afrojam, Sweet Jazz, O Jazz Não Morde e Yuri Prado Mardi Grass Brazoocas.
15h - Abertura do evento
15h15 - Sweet Jazz
16h15 - O Jazz Não Morde
17h15 - Alex Albino
18h15 - Mjazz
19h15 - Funmilayo Afrobeat Orquestra
19h45 - Afrojam
21h - Yuri Prado Mardi Grass Brazoocas
22h - Término evento
Oficina de arte: Negritoo
Live Painting: Milenna Saraiva e Robson Eleut
Apresentação: Luísa Viscardi, Luísa Caetano e Mana Bella
29 de abril de 2021 | 05h00
“Vou tomar meus ‘uisquezinhos’ – com parcimônia –, comer pizza caseira e bolo. Vai ser um festejo bom, dentro do possível e da tristeza que envolve o mundo no momento. Vou ficar quietinha, igual ao rei (Roberto Carlos, que também completou 80 anos) e à rainha Elizabeth. É a rainha, o rei e eu (risos)”, diz Nana Caymmi, sobre a comemoração das oito décadas de vida nesta quinta, 29.
Nana Caymmi lança disco em que canta Tom Jobim e Vinicius de Moraes
A cantora, como deve ser, está em casa, em seu apartamento no Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro. A única coisa que a chateia no momento é o fato de seu último álbum, Nana, Tom, Vinicius, lançado em julho do ano passado pelo Selo Sesc, ainda não ter saído em edição física. “Ficou só na internet. Estou arrasada”, lamenta. O disco marcaria seu retorno aos palcos, depois de quase cinco anos de afastamento.
“É uma ideia meio amalucada da Nana. Eu pirei, óbvio. É um sonho para qualquer compositor ter um disco inteiro de suas canções na voz dela. Vai ficar lindo. Será ótimo para recuperar músicas nossas que ficaram perdidas no tempo”, diz Motta.
O produtor e compositor, inclusive, escreveu uma letra inédita para uma delas, que era só instrumental. Andréa, que fez parte trilha sonora da telenovela Véu de Noiva, exibida em 1969, gravada com vocalizes da cantora Joyce, virou Valsa de Verão.
A balada Minha Doce Namorada que, na época, acompanhou o nome da novela homônima, agora, por insistência de Motta, chama-se Um Dia de Sol. “É uma ótima música que tinha um título ridículo. Só por ela já valerá o disco”, diz o compositor.
Nana teve Dori por perto por quase toda sua carreira. Em disco e em estúdio. Foi dele a ideia de dar a ela a canção Saveiros. Nana, que lançou seu primeiro disco solo em 1965, voltava da Venezuela depois do fim do casamento de cinco anos com o médico Gilberto Paoli. Nos braços, as filhas Stella e Denise. Na barriga, o caçula João Gilberto.
“Foi quando apostei em mim. Estava na lona. Meus pais eram contra a minha separação. Dori me deu o sapato para caminhar. Ou melhor, uma bota, que até hoje está comigo. Com ela, posso pisar em qualquer canto, na lama, no charco, que tenho firmeza”, diz Nana.
Esse terreno que Nana teve de botar os dois pés já estava cercado pela chamada MPB, invadido pelo bando da Jovem Guarda e, um pouco mais tarde, seria semeado com o Tropicalismo. Ela seguia em rota paralela, sem querer montar acampamento em nenhum deles. “Nunca prestei atenção na música dos outros. Nunca fui mulher de moda. Eu sou samba-canção. Uma cantora de música popular brasileira, nascida na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”, diz.
O segundo disco veio apenas em 1973, por uma gravadora argentina, a Trova. O pianista João Donato e o guitarrista Hélio Delmiro estiveram à frente dos arranjos. Se havia uma trupe que Nana seguia, era a dos músicos, arranjadores e produtores de destaque nos anos 1970 e 1980. Tom Jobim, Toninho Horta, Novelli, Nelson Ângelo, Ivan Lins, Robertinho Silva, Luiz Alves e Ronaldo Bastos eram nomes constantes nas fichas técnicas de seus discos.
Em 1983, um encontro com o pianista Cesar Camargo Mariano produziu uma de suas obras-primas, o disco Voz e Suor. Apenas ela e os acordes tirados do piano pelo músico. O título veio da música de mesmo nome que abre o álbum e que tem assinatura de Sueli Costa e Abel Silva. “Estávamos eu, Nana e Tom na churrascaria Plataforma. Nana buscando um título para o disco e aí escolheu esse. Sempre foi uma honra ser gravada por ela”, conta Sueli.
Apesar do reconhecimento da crítica e dos músicos, Nana era considerada, até mesmo pelas gravadoras, como uma cantora de elite. Ela diz que logo percebeu que esse rótulo não lhe cabia quando, em 1977, ao participar do Projeto Seis e Meia, ao lado de Ivan Lins, viu o público que havia ficado do lado de fora do teatro quase quebrar as portas para tentar entrar. Foi preciso bisar a sessão naquele dia.
As gravações de Nana também sempre foram escolhidas para trilhas de televisão. Se Queres Saber, de Peterpan, do disco de 1977, foi a abertura da minissérie Quem Ama Não Mata, de 1982. Anos antes, o registro havia impressionado Elis Regina, cantora que, nos anos 1960, segundo Nana, a vetou do seu programa O Fino da Bossa. Ao ouvir a canção no rádio, Elis disse, segundo relato do jornalista Eustaquio Trindade Neto: “eu adoro a voz dessa mulher”.
Foi justamente uma canção na TV que deu a Nana seu primeiro e único disco de ouro (150 mil cópias vendidas), em 1998. A canção Resposta ao Tempo, parceria do pianista Cristóvão Bastos e de Aldir Blanc, escolhida para ser tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, escrita por
Glória Perez.
“Eu mostrei a melodia para a Nana e ela gostou muito. Quando a letra do Aldir chegou, todos ficaram emocionados no estúdio. Nos shows, eu tocava a introdução e parecia apresentação de música pop. Era aquele alvoroço na plateia”, conta Bastos.
A versão de Nana para a história é mais dramática. “Foi tirada a sangue. Eu estava com o disco para fechar e a letra não chegava. Um dia, liguei para o Aldir, que não atendia telefone nem à tapa e deixei um recado pedindo por favor que ele fizesse a letra. Dei um daqueles meus ataques. Quem me conhece, sabe”, conta, aos risos.
O produtor de Resposta ao Tempo é José Milton, que está à frente dos discos da cantora desde 1994, quando ele lhe ofereceu o projeto A Noite do Meu Bem – As Canções de Dolores Duran. De lá para cá, produziu 13 álbuns de Nana, incluindo Sangre de Mi Alma, só com boleros cantados em espanhol, e Para Caymmi – De Nana, Dori e Danilo, que levou o Grammy Latino de 2004. “Nana sabe o que quer. Ela entra no estúdio com o copo de água dela, senta, e faz, no máximo, dois ou três takes de cada música. É amiga de todos os músicos”, conta o produtor.
Modesta, Nana diz não saber se sua vida dá um livro. Conta que sua filha Stella, que escreveu a biografia do avô, Dorival Caymmi: o Mar e o Tempo, por enquanto, não se interessou em contar sua história. De álbuns, além do que trará as parcerias de Dori e Nelson Motta, diz que gostaria de fazer um com canções que nunca gravou de Milton Nascimento, Beto Guedes, Tom Jobim, Sueli Costa e Danilo, o irmão mais novo. “Se eu não gravei, é inédita para mim”, diz.
Nana sabe que, nesses mais de 60 anos de carreira – se for considerada a sua primeira gravação, Acalanto, ao lado do pai, Dorival –, a música, alheia a qualquer projeto, segue seus próprios caminhos. “Ela acontece, assim como o amor. É como uma nascente, ela corre. Para quem consegue molhar o rosto nessa água límpida, como eu faço quando estou gravando, é um delírio”, diz.
Ponta de Areia (1975)
O clássico de Milton Nascimento e Fernando Brant fala de Minas Gerais e Bahia, o ponto de encontro dos ascendentes de Nana. Bituca faz participação especial nos vocais, fazendo um contracanto para a voz da cantora.
Milagre (1977)
O samba foi um presente de Dorival Caymmi para a filha, que canta com Nana na faixa. Os arranjos ficaram a cargo de Dori e o piano é tocado por João Donato. Um verdadeiro encontro de craques.
Contrato de Separação (1979)
Uma das músicas mais contundentes da parceria de Dominguinhos e Anastácia foi entregue para Nana lançar. O próprio músico tocou acordeão na gravação.
Sentinela (1980)
Gravação fora da discografia de Nana, a canção está no disco homônimo de Milton Nascimento. Assinada em parceria com Fernando Brant, a música, um cântico de resistência à ditadura, foi gravada em uma capela do Rio de Janeiro e teve a participação de um coro de monges beneditinos.
Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço (1981)
Nome mais ligado ao samba canção, ela caiu – muito bem – no samba de Dona Ivone Lara e Hermínio Bello de Carvalho. No piano, mais uma vez, o amigo João Donato.
Derradeira Primavera (1985)
A canção de Tom Jobim e Vinicius de Moraes contou com arranjo e regência de orquestra do compositor francês Michel Legrand. A faixa está no disco Chora Brasileira, um dos mais cults da discografia de Nana.
Por Causa de Você (1994)
Emocionante encontro do piano de Tom Jobim com a voz de Nana. Apenas os dois nesta faixa que o maestro compôs com Dolores Duran. Nana e Tom foram amigos na música e nos passeios matinais pelo Leblon.
Doralinda (1998)
A música de João Donato e Cazuza faz parte do álbum Resposta ao Tempo, o mais sucedido de sua carreira, e conta com a participação do cantor Emílio Santiago, a quem Nana considerava um afilhado.
Festa de Rua (2002)
Em O Mar e o Tempo, álbum dedicado às canções do pai, Nana reuniu filhas, netas e sobrinhas no coro da faixa que abre o disco. O irmão mais novo, Danilo, toca flautas de madeira.
Contradições (2009)
Parceria de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, os mesmos de Resposta ao Tempo, é um dos grandes momentos o disco Sem Poupar Coração, quando a cantora voltou a gravar composições inéditas. Daquelas de emocionar os ouvintes, como Nana gosta.
27 de abril de 2021 | 21h28
A tela mais cara vendida no Brasil, A Caipirinha, de Tarsila do Amaral, não voltará às mãos de seu antigo proprietário, o empresário Salim Taufic Schahin, envolvido no escândalo da Lava Jato. Foi o que decidiu hoje (27) 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) O quadro A Caipirinha foi penhorado e levado à leilão. A obra era alvo de uma disputa judicial entre Carlos Eduardo Schahin, filho do empresário, e os 12 bancos credores a quem seu pai deve mais de R$ 2 bilhões.
A venda da tela, pintada em 1923 por Tarsila, foi realizada em 7 de dezembro do ano passado, para ajudar a sanar essa dívida. No entanto, Carlos Eduardo justificou que pediu o embargo do leilão porque a obra foi vendida a ele pelo pai em 2012, por R$ 240 mil, com o que não concordaram os credores, questionando a legitimidade da operação. Esse também foi o entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo, o TJ-SP, ao julgar o caso em segunda instância. Hoje, o resultado foi reafirmado pelo STJ. A tela foi arrematada por R$ 57,5 milhões no leilão na Bolsa de Arte, em São Paulo.
27 de abril de 2021 | 05h00
Compreender a meditação e seus benefícios foi o que ajudou o professor de Língua Portuguesa Marcelo Leite a criar uma rotina para a reflexão. “Em março de 2020, eu comecei a me adaptar à meditação basicamente por conta de duas coisas: acompanhamento profissional de terapeuta e muita leitura”, conta ele. “É igual tomar banho. Você não faz uma vez e para. É uma questão de higiene e a meditação é uma higiene emocional.”
Segundo ele, que antes sofria muito de ansiedade, a prática noturna regular administrou suas expectativas em torno da pandemia. “Isso fez e faz com que eu consiga passar por esse período com uma dimensão de que tudo isso é inevitável, é um fato do mundo. O que eu posso trabalhar é a maneira como eu lido com isso”, diz.
Como meditar em casa: um guia com dicas e exercícios
Apesar de a pandemia ser global, cada ser humano a está experimentando de um jeito diferente. Por isso é tão importante a ação de compartilhar experiências, numa tentativa de normalizar alguns dos desafios vividos e trazer mais cuidado para o dia a dia. Algo muito bem explorado pela Monja Coen.
“A gente só pode falar daquilo que tivemos uma experiência pessoal. E eu gosto de dizer para as pessoas: você pode. Seja quem for e o que você estiver fazendo. Já bebi muito, já usei droga e agora eu sou uma monja que não faz nada disso e estou muito bem”, revela.
No livro, Monja Coen afirma que estamos enfermos porque perdemos nosso equilíbrio, o qual pode ser recuperado com a meditação. “É uma mudança de olhar para a humanidade. Ou seja, existe uma doença e existem caminhos de cura. Mas, para haver cura, não pode haver negação. A gente precisa ver a realidade e ver a maneira como estamos respondendo ao mundo. É através da ganância, raiva e ignorância ou através da compreensão, da bondade e da sabedoria?”, indaga ela.
Mudança. A designer de estampas Débora Raysa, de 30 anos, buscou ajuda pelos aplicativos. “Eu tive de abrir mão da terapia durante a pandemia e vi na meditação algo de fácil acesso que me traria calma e relaxamento”, explica ela, que religiosamente faz a prática pela manhã, logo que acorda. “Já usei o aplicativo Cíngulo e agora uso o Lojong. Mas tem vezes, dependendo do dia, que consigo fazer sem ser meditação guiada”, diz.
Ao invés de procurar por aplicativos, a analista de conteúdo Aline Saluotto, de 28 anos, se descobriu em séries. Desde fevereiro deste ano, ela assiste regularmente à Meditação Guiada Headspace, a primeira das três parcerias anunciadas pelo aplicativo com a Netflix.
“Eu já vejo que algumas ações minhas mudaram completamente, sabe? A meditação me ajudou a compreender coisas além da calmaria que ela proporciona”, divide ela, que passou a exercitar a respiração ao longo do dia e até melhorou o seu sono. Tema que a Headspace escolheu para a segunda série, Guia Para Dormir Melhor , que estreia amanhã (28) no streaming.
“Se você parar para pensar, todo humano come e dorme. E existem muitos programas de comida, mas nunca teve um sobre sono. Além disso, tem tantas pessoas que assistem à TV antes de irem dormir, então, e se tivesse um programa que realmente ajudasse você a dormir?”, diz Morgan Selzer, produtora executiva da Headspace.
Eve Lewis Prieto, voz da série e especialista em meditação e mindfulness, explica que a falta de sono pode agravar os problemas que enfrentamos, causando ainda mais estresse e ansiedade. “É como nos relacionamos com essas experiências e achamos maneiras de entender nossos padrões de vida, que somos capazes de colocar em prática uma rotina em torno de nosso sono”, diz ela.
O problema com insônia foi o que fez Geni Bosso, de 63 anos, procurar ajuda. “Quando começou a covid, eu passei os primeiros meses ‘de boa’. Mas depois, por volta de setembro, comecei a acordar às 3h da manhã e não dormir mais. Aí comentei com uma amiga, Mara, que é terapeuta floral, e tudo mudou”, conta.
Desde então, Geni toma gotas de florais ao longo do dia e participa de um grupo de WhatsApp, criado pela amiga, que compartilha meditações diárias pelas manhãs. “Eu aceitei porque sinceramente, nesta pandemia, tudo que for pra você relaxar e ficar bem é importante”, diz ela.
Prática. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a meditação como um método para a prevenção de doenças, além de trazer benefícios comprovados no controle dos sintomas da ansiedade, depressão e insônia. Mas o hábito deve existir. Por isso mesmo, muitas vezes ele é até incentivado por psicólogos e terapeutas.
Foi o caso do representante comercial Jackson Tavares, de 22 anos, que em abril de 2020 começou a terapia e cinco meses depois já passou a meditar. “Ele me indicou a meditação para que eu pudesse controlar o meu foco com a atenção plena, o mindfullnes”, conta ele, que sofria com distrações do home office e compulsão alimentar.
“Na pandemia eu engordei muito, uns 19 quilos, porque eu comia sem perceber o que eu estava comendo. A partir da atenção plena, eu comecei a reparar no que eu estou mastigando. Até porque a gente realmente não consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo. Então é importante ter atenção.”
É comum entender meditação como o silenciamento da mente, quando alguém não pensa em nada. Porém, o que se busca, ao meditar, é acalmar a mente e assim organizá-la.
“Não existe nenhum problema em ter pensamentos. Basta você não conversar com eles. Para isso, imagine que você está na plataforma do metrô e um trem está vindo. Ali tem vários vagões, cada um deles representando um pensamento diferente. Você vai entrar no pensamento que você quer ou simplesmente vai deixá-lo ir embora. O estado meditativo é observar ele vir e não entrar”, exemplifica a professora de ioga e meditação Alik Mio.
Para quem quer começar a prática, o mais indicado é a meditação guiada. Com o tempo, descubra um estilo confortável para você. “No começo a pessoa ainda não sabe o que fazer e precisa de alguém que saiba trazer essa consciência para os seus pensamentos e fazê-la retornar para o aqui e agora”, ensina.
De acordo com ela, não existe maneira certa ou errada de fazer a prática, porém duas regras são essenciais: postura e atenção no presente. “Você pode estar em três posições para circular a energia e conseguir a clareza mental: sentada com os pés tocando o solo e alinhando a coluna, sentada com as pernas dobradas em forma de flor de lótus ou completamente deitada”, diz.
Lojong
Possui diversas práticas guiadas com diferentes objetivos. Oferece opções para quem não pode pagar. R$ 12,90/ mês. Disponível em iOS e Android
Headspace
Práticas de meditação e sono focando no bem-estar do usuário. Tem opções de curso e opções para todas as idades. R$ 19,90/mês. Disponível em iOS e Android
Insight Timer
Aplicativo com mais de 50 mil meditações gratuitas e disponíveis em 44 idiomas diferentes. R$ 10,82/mês. Disponível em iOS e Android
Mediotopia
Sessões personalizadas, guiadas, sons da natureza e histórias para dormir estão disponíveis. R$ 11,65/mês. Disponível em iOS e Android
Zen
Primeiro aplicativo brasileiro de meditações guiadas. Grátis, com opção premium por R$ 19,90/mês. Disponível em iOS e
Android
26 de abril de 2021 | 01h08
Foi um ano como nenhum outro e a cerimônia da 93ª edição do Oscar, realizada em Los Angeles, na noite do domingo, 25, refletiu tal ineditismo: além de evitar discursos de agradecimento por Zoom, apostando na vitalidade humana de um evento presencial, a festa tornou-se histórica ainda por celebrar a cineasta chinesa Chloé Zhao, a primeira mulher a receber quatro indicações em um mesmo ano e a vencer como diretora e, principalmente, o prêmio de melhor filme, por Nomadland.
Em seu discurso, Chloé Zhao agradeceu a todos da equipe pela aventura e lembrou que, quando era criança, costumava fazer um jogo de memorizar poemas chineses. Um deles falava que as pessoas ao nascer são boas. “Às vezes, pode parecer que não é verdade, mas eu sempre encontrei bondade nas pessoas. Dedico o prêmio para todos que têm a fé e a coragem de se manterem bons e enxergar a bondade nos outros.”
Também foi marcante a vitória, nas categorias de atuação, de artistas experientes como Frances McDormand (Nomadland) e Anthony Hopkins (Meu Pai) – não tão favoritos – e de Daniel Kaluuya (melhor ator coadjuvante por Judas e o Messias Negro), além da veterana coreana Yuh-Jung Youn, de 73 anos, que ficou com o Oscar de melhor atriz coadjuvante, por Minari, repetindo seu bom humor no discurso de agradecimento: “Como eu posso ter vencido Glenn Close?”, questionou-se ela, arrancando gargalhadas da plateia que, distribuída em mesas, fez lembrar a forma de premiação do Globo de Ouro.
Os organizadores, aliás, se esforçaram para fazer desta a mais inclusiva das edições do Oscar, como a presença da atriz Marlee Matlin para anunciar o vencedor de curta-metragem – ela, que ganhou o Oscar de melhor atriz por Filhos do Silêncio (1986), tem deficiência auditiva e há muito estava distante da grande festa do cinema.
Não foi mais curta como se esperava, mas a cerimônia começou como prometido por um dos organizadores, o cineasta Steven Soderbergh: enquanto a diretora Regina King caminhava pelos longos corredores da Union Station (o principal local da festa), letreiros surgiam na tela, com nomes dos astros que participariam da entrega. “Nossa pretensão era de que o espectador acompanhasse a cerimônia como se assistisse a um filme”, disse ele.
Para isso, ele contava ainda com o histórico dos indicados e sua relação com o cinema – assim, de cada um era revelada a lembrança de seus primeiros filmes e como se desenvolveu a paixão pela sétima arte.
E o fato de a Academia manter uma base em Londres e outra em Paris, onde se reuniram principalmente os concorrentes europeus, em pouco tempo se revelou acertada – logo no anúncio do segundo Oscar da noite, de roteiro adaptado, o ganhador foi o francês Florian Zeller (ao lado do britânico Christopher Hampton), por Meu Pai. Ele recebeu o troféu e agradeceu direto da capital francesa. Já Sacha Baron Cohen acompanhou desde a Austrália o Oscar de melhor ator coadjuvante ser anunciado para Daniel Kaluuya, por Judas e o Messias Negro.
A ausência da orquestra na Union Station, no entanto, permitiu que alguns discursos se alongassem, como o do dinamarquês Thomas Vinterberg, vencedor por Druk – Mais uma Rodada, eleito o melhor Filme Internacional. O que justificou foi a emoção de suas palavras ao se lembrar da filha adolescente, que morreu poucos dias antes do início da filmagem.
Emocionante ainda foi o discurso de Jon Batiste, um dos vencedores de melhor trilha sonora (ao lado de Trent Reznor e Atticus Ross), por Soul, a obra-prima da Pixar. “Este momento é o ponto de culminante de uma série de milagres”, disse, agradecido. “Deus nos deu apenas 12 notas. Com elas, Duke Ellington, Bach, Nina Simone criaram obras diversas, maravilhosas. Cada contribuição sempre é especial.”
O clima mais intimista permitiu que a cerimônia fosse relaxada, com os artistas verdadeiramente se divertindo. Como a revelação de Harrison Ford sobre as pesadas críticas prévias (“Não fará sucesso”) recebidas por Blade Runner. E Frances McDormand uivando como loba (pelo Oscar de filme) ou ainda Glenn Close arrancando gargalhadas ao dançar e rebolar sob o som do funk Da Butt, que Spike Lee usou em Revolução Estudantil (1988). Definitivamente, o 93º Oscar entrou para a história.
15 de março de 2021 | 01h02
Atualizado 15 de março de 2021 | 09h20
Antes mesmo da hora de início marcada no Brasil, às 21h, o Grammy 2021, realizado na noite deste domingo (15) pela primeira vez sem plateia (ou com algumas dezenas de artistas chamados para receberem os prêmios), começou a distribuir suas estatuetas. Beyoncé, que liderava com nove indicações, ganhou logo no início, junto à filha Blue Ivy, de nove anos, a categoria Melhor Videoclipe pela música Brown Skin Girl. Seus concorrentes eram Life Is Good, de Future e Drake; Adore You, de Harry Styles; Lockdown, de Anderson .Paak; e Goliath, de Woodkid. Taylor Swift, Roddy Ricch e Dua Lipa tinham seis indicações cada; Brittany Howard saiu com cinco e Billie Eilish, Megan Thee Stallion, DaBaby, Phoebe Bridgers, Justin Bieber, John Beasley e David Frost tinham os nomes indicados em quatro categorias cada um.
Já na cerimônia conduzida de forma bastante sóbria por Trevor Noah, comediante, locutor e ator sul-africano, líder no programa The Daily Show, quem levou o prêmio de Artista Revelação foi Megan Thee Stallion, que ganhou de Ingrid Andress, Phoebe Bridgers, Chika, Noah Cyrus, D Smoke, Doja Cat e Kaytranada. Os vencedores surgiam de máscaras, retiravam e faziam seus discursos. A estratégia do Black Pumas em relançar seu álbum de 2019 em versão deluxe deu certo e garantiu o gramofone na categoria Gravação do Ano pela música Colors. Uma grande banda, ainda que em busca de uma identidade além dos covers de seus ídolos da soul music dos anos 70, que venceu a gigante Beyoncé com Black Parade. E venceu bem mais: Rockstar, de DaBaby e Roddy Ricch; Say So, de Doja Cat; Everything I Wanted, de Billie Eilish; Don’t Start Now, de Dua Lipa; Circles, de Post Malone; e Savage, de Megan Thee Stallion com a participação de Beyoncé.
Dua Lipa demarcou território fazendo sua participação toda coreografada, com as câmeras bem aproximadas. Bruno Mars e Anderson .Paak fizeram o número seguinte, com Leave the Door Open e toda a sua estética setentista reverencial a grupos como Manhattan’s e Commodores. Bruno Mars, com Black Pumas, segue em sua elegia ao passado, algo que faz com uma bela voz mas na qual esconde sua falta de identidade gritante.
As mulheres dominaram também a categoria Melhor Álbum Country pela primeira vez na história, e quem venceu foi Miranda Lambert, com Bluebird. Segundos depois, Taylor Swift encheu a tela com seus olhos azuis para cantar Cardigan, do indicado álbum Folklore. Cada número programado pelo Grammy se tornava um videoclipe, uma marca dessa edição. O protagonismo do artista no palco perdeu a importância, o que valia era a estética de estúdio (algo em que os norte-americanos são especialistas).
A Melhor Performance Solo Pop, uma categoria secundária, tinha mais pesos pesados. E quem levou foi o jovem de 26 anos Harry Styles, com Watermelon Sugar, a primeira música que ele fez em sua curta carreira. E com ela ele venceu Yummy, de Justin Bieber; Say So, de Doja Cat; Everything I Wanted, de Billie Eilish; Don’t Start Now, de Dua Lipa e Cardigan, de Taylor Swift. Colado na apresentação, veio a lembrança dos mortos, com Trevor dizendo que foram quase mil artistas levados pela Covid-19 entre 2020 e 2021. Bruno Mars, com Anderson .Paak na bateria, voltou para fazer uma homenagem a Little Richards, morto em 2020, com um medley irresistível. Covers, uma a especialidade de Mars. Lionel Richie passou para cantar Lady para Kenny Rogers, mestre da canção que faz uma falta irreparável na country romântico dos EUA.
A categoria Música do Ano, que não é o topo de ouro da sessão Gravação do Ano, premia os autores, embora seus nomes não sejam muito visíveis. E o vencedor foi I Can’t Breath, de H.E.R, vencendo mais uma de Beyoncé e seu onipresente Black Parade. As maiores temperaturas vieram com o número mais sensual da noite, com Cardi B e Megan Thee Stallion dançando e se atracando sobre uma cama gigante, com direito a um trecho de funk carioca do MC Pedro Sampaio em que ele diz “fica de quatro”. Um espetáculo de nádegas e auto objetificação de enjoar a militância feminista.
A categoria Melhor Música de Rap fez despontar um nome maior na noite. Depois da apresentação explosiva com Cardi B, Megan Thee Stallion venceu com a música Savage, que tem a participação de Beyoncé. E Beyoncé, que subiu de cabelos esvoaçantes a seu lado para receber a estatueta, chegou aos 27 Grammys, o que já era uma conquista inédita de uma mulher na premiação mas não seria só. Dua Lipa, tímida até então, discursou bonito para receber o prêmio de Melhor Disco de Pop Vocal por seu Future Nostalgia. “Eu pensei que só poderia fazer músicas tristes. Venceu, vejam só, Justin Bieber, Lady Gaga, Harry Styles e Taylor Swift.
Beyoncé fez história ao vencer a sessão Melhor Canção R&B com a Black Parade e se tornar a artista mulher com mais vitórias na história do Grammy, com 28 premiações. Beyoncé discursou emocionada: “Como artista acredito que faz parte do nosso trabalho refletir nossa época. Queria homenagear os reis e rainhas que me inspiraram. Eu nem acredito que isso está acontecendo.”
A grande categoria Álbum do Ano, perto do final da apresentação, acabou por consagrar outra mulher, Taylor Swift, com seu Folklore. Foi a terceira vitória de Taylor nessa categoria. A crítica elogiou muito o álbum quando ele saiu e os fãs elevaram Taylor em alguns graus de relevância, o que trouxe uma aura de justiça feita. Ela venceu Jhené Aiko, Black Pumas, Coldplay, Jacob Collier, HAIM, Dua Lipa e Post Malone. A valorização do grupo de k pop sul-coreano BTS era algo avassalador. As redes sociais inflaram com fãs pedindo informações sobre o possível show do grupo, algo que, também como uma inversão de valores no prêmio, o show ganhou espaço mais nobre do que a entrega de Álbum do Ano. Os rapazes chegaram para fazer o hit setentista Dynamite precisos, luminosos, todos de ternos e diante de um trabalho de câmeras minucioso. Uma participação gravada em Seul super produzida.
Ringo Starr apareceu para apresentar o prêmio mais importante, o de Gravação do Ano. "Eu queria dizer uma coisa", discursou: "Se voce está fazendo músicas nesse mundo, você já venceu, muito obrigado." E, então, fez o anúncio: "E o Grammy vai para: Billie Eilish, Everything I Wanted". Billie dedicou o prêmio a Megan Thee Stallion e pediu aplausos à amiga. "Penso em você todos os dias."
11 de março de 2021 | 17h44
NOVA YORK, EUA - Durante muito tempo, as categorias dedicadas ao rock no Grammy eram dominadas pela testosterona, mas este ano as mulheres tomaram conta do microfone.
A mudança será evidente na cerimônia de entrega da premiação no próximo domingo, poucos anos depois do ex-presidente da Recording Academy Neil Portnow ter sido criticado por afirmar que as mulheres deveriam "dar um passo à frente" para alcançar uma representação justa na indústria da música.
Pela primeira vez, a categoria de melhor interpretação rock - introduzida em 2012 - tem apenas mulheres indicadas: Fiona Apple, Phoebe Bridgers, o grupo das irmãs Haim, Brittany Howard, Grace Potter e Big Thief, a banda liderada por Adrianne Lenker.
Lenker, Apple, Howard e Bridgers também estão na disputa pela melhor canção de rock, enquanto as três últimas também foram indicadas a melhor álbum alternativo. Potter soma outra indicação a melhor álbum de rock.
As mulheres moldaram a evolução do rock, como foi o caso da pioneira do blues Big Mama Thornton, a primeira artista a gravar Hound Dog, canção seminal e muito associada a Elvis Presley.
Mas desde a metade do século XX, a imagem do gênero foi monopolizada pelos homens, afirma Evelyn McDonnell, pesquisadora especializada em cultura pop, música e gênero.
"Você realmente via a divisão: o que os rapazes faziam com as guitarras era rock, e o que as garotas com penteados faziam era Motown ou pop", afirma a professora da Universidade Loyola Marymount. "Existe toda uma forma sexista na qual o rock é definido como homens brancos com guitarras".
As mulheres, no entanto, sempre foram muito influentes no gênero musical: Patti Smith, Kim Gordon, Stevie Nicks e Debbie Harry são apenas algumas referências.
Fionna Apple viu seu álbum de 2020 Fetch The Bolt Cutters aclamado pela crítica - o site Pitchfork o considerou uma "obra-prima".
Durante grande parte da história do Grammy, os prêmios de rock foram divididos por gênero, com exceção de alguns anos em que a Academia alegou falta de interpretações femininas.
Desde a cerimônia de 2012, a Academia eliminou por completo as distinções, tanto no rock, como no pop, R&B e country.
Desde então, apenas uma mulher venceu na categoria de melhor interpretação de rock: Brittany Howard, que venceu como cantora do grupo Alabama Shakes em 2015.
A Academia foi acusada durante muito tempo de priorizar a arte de homens brancos, mas nos últimos anos parece ter dado pequenos passos de mudança.
E não apenas no rock: em 2021 as mulheres também dominam as categorias da música country, gênero tradicionalmente considerado conservador e machista.
Quatro mulheres disputam a categoria de melhor álbum country, ao lado de um grupo misto.
E o mundo do rap, estereotipado durante muito tempo como um clube de homens, também foi abaldo pela ascensão de várias mulheres.
Cardi B venceu na categoria álbum de rap em 2019 e Megan Thee Stallion foi indicada em quatro categorias este ano, incluindo artista revelação.
Apesar dos avanços, a poucos dias da cerimônia deste ano - que acontecerá em grande parte de maneira virtual devido à pandemia -, um novo estudo da Universidade do Sul da Califórnia mostra que a presença da mulher no setor ainda encontra muitas dificuldades.
As artistas femininas representaram quase 20% dos maiores sucessos da Billboard em 2020, participação um pouco menor que os 22,5% de 2019. Dos quase 2.000 artistas que lançaram as 900 canções que integram a lista eram pelo menos quatro homens para cada mulher.
O estudo também examinou as indicações ao Grammy entre 2013 e 2021: dos 1.359 indicados apenas 13,4% eram mulheres, mas a proporção de indicadas cresceu significativamente de 2020 para 2021, a pouco mais de 20%.
Mas os escândalos que sacudiram a Academia recentemente também afetaram seus esforços de mudança de imagem: ano passado sua primeira presidente, Deborah Dugan, foi demitida por suposto assédio moral. Ela afirma que foi afastada por suas queixas por supostas irregularidades nas votações e denúncias de assédio sexual.
A Academia anunciou um estudo em conjunto com uma universidade para analisar a representação da mulher na indústria, com dados destinados a melhorar a prestação de contas e facilitar reformas.
Rodrigo Fonseca
13 de março de 2021 | 08h10
RODRIGO FONSECA
Tem uma obra-prima da crônica afetiva agendada para a TV aberta, nesta madrugada, à 1h, na Globo: “Tá Rindo Do Quê?” (“Funny People”, 2009). Nela, Adam Richard Sandler cala todas as bocas que duvidam de seu gigantesco ferramental cênico numa atuação nas raias entre o riso catártico e a mágoa. Quem viu seu magistral desempenho no thriller “Joias Brutas” (“Uncut Gems”, 2019) sabe o quão alto o mais rentável ás da comédia dos últimos 20 anos pode voar, para além do perímetro da risada. E a dublagem de Alexandre Moreno é um primor. A voz maviosa de Moreno já confundiu-se com a persona de Sandler no imaginário brasileiro. E ela se faz ainda mais ajustada nesta dramédia autoralíssima do diretor de “O Virgem de 40 Anos” (2005), que revê momentos da parceria passada de ambos.
p.s.: “Adieu Les Cons”, de Albert Dupontel, foi o grande vencedor do Troféu César 2021, laureado com os prêmios de melhor filme, direção, roteiro original, fotografia, direção de arte e ator coadjuvante (Nicolas Marié). Na trama, uma mulher (Virginie Efira) tenta encontrar uma criança que há tempos perdeu com a ajuda de dois trapalhões.
p.s.2: A coreógrafa, bailarina e professora Aline Bernardi ministrou, durante sete semanas, uma edição especial do Laboratório Corpo Palavra – coreografias e dramaturgias cartográficas. Uma residência artística intensiva e imersiva no formato virtual de formação e criação artística que se propôs a investigar as tramas entre a escrita e os nossos movimentos mais cotidianos. O resultado deste trabalho e outros desdobramentos da pesquisa desenvolvida por Aline há seis anos serão apresentados na mostra virtual “Cartografias Sensíveis”, de 17 a 20 de março, pelo canal do Youtube Celeiro Moebius (https://bit.ly/3q9zULp). Com direção artística de Aline Bernardi e dramaturgia de Ligia Tourinho, o evento gratuito vai contar com apresentação de obras de videoperformance, videodança e videoarte, show, lançamento de livros e conversas sobre o percurso artístico com os 33 participantes do laboratório.
p.s.3: A obra de Ana Cristina Cesar (1952-1983), uma das grandes poetas brasileiras, é recheada de questões existenciais e reflexões sobre o próprio ato de escrever. Com refinamento, ela transformava a banalidade do cotidiano em arte, a partir de uma linguagem coloquial, mas repleta de imagens e referências sofisticadas. Como essa poesia chega e é sentida, no ano de 2021, por uma atriz de 39 anos que vive a quarentena no Rio de Janeiro? Assim se constrói “Ana C.”, solo com dramaturgia e atuação de Laura Nielsen e codireção dela com Thaís Grechi. A montagem entra em temporada virtual, de 18 a 28 de março, com ingressos gratuitos e exibição pelo Youtube – os links estarão disponíveis 30 minutos antes de cada sessão nas páginas do projeto no Facebook (www.facebook.com/anacteatro/) e Instagram (@ana_c_teatro). Haverá também debates nos dias 20 e 27 após a sessão das 21h.
11 de março de 2021 | 20h00
NOVA YORK - Isabel Allende não é apenas a mais lida escritora viva de língua espanhola, é também uma feminista franca e declarada. Então, não é de surpreender que seu livro mais recente, The Soul of a Woman [A Alma de Uma Mulher], tenha chegado aos Estados Unidos durante o Mês da História da Mulher, poucos dias antes da estreia de uma minissérie sobre sua vida na HBO Max.
No seu primeiro livro de não-ficção em mais de uma década, a autora chilena revê sua relação com o feminismo desde a infância até o presente, lembrando as pessoas que a marcaram - de sua mãe, Panchita, e sua filha Paula, à agente literária Carmen Balcells e às escritoras Virginia Woolf e Margaret Atwood.
“O ano da pandemia paralisou tudo e muito do que as mulheres fizeram foi sair às ruas para se reunir e protestar”, disse Allende numa entrevista recente à Associated Press, via Zoom, de sua casa na Califórnia. “Mulheres sozinhas são muito vulneráveis, mulheres juntas são invencíveis. Não acho que as coisas tenham regredido ou parado. As coisas estão avançando”.
Os primeiros cinquenta anos de sua vida são dramatizados em Isabel: The Intimate Story of the Writer Isabel Allende [Isabel: A História Íntima da Escritora Isabel Allende], filme biográfico em três partes que estreia sexta-feira na HBO Max, estrelado pela atriz chilena Daniela Ramirez.
Produzida por Megamedia Chile e dirigida por Rodrigo Bazaes, a minissérie se encerra com a morte de sua filha, que morreu em 1992, aos 29 anos, em coma profundo devido a uma crise de porfiria (como Allende escreveu em suas memórias, Paula, de 1994).
“Me fez chorar porque começa com a Paula no hospital e acaba com a morte da Paula. Vimos com o meu filho (Nicolas) e tivemos de parar porque estávamos chorando muito com a primeira cena. Mas aí melhora, no sentido de que já não é tão pesado para nós”, disse, acrescentando que ficou extremamente satisfeita e impressionada com o resultado.
Allende começa um novo livro a cada 8 de janeiro. No ano passado, o confinamento permitiu que ela terminasse não um, mas dois: The Soul of a Woman, lançamento da Ballantine Books e um próximo romance intitulado Violeta, que começa com a pandemia de 1918 (“que, na verdade, no Chile começou em 1920”, destaca ela) e termina com a atual pandemia. “É a vida de uma mulher naquela época”, diz ela.
Durante a entrevista, Allende relembrou seus primórdios como feminista e falou sobre sua experiência como uma “recém-casada” de 78 anos de idade em confinamento. Ela se casou com o terceiro marido, o advogado novaiorquino Roger Cukras, em julho de 2019.
As respostas foram editadas por questões de brevidade e clareza.
A senhora disse que se sentiu incomodada por injustiças contra as mulheres desde cedo e que era algo que via em sua própria família. Mas quando e como a senhora percebeu que era feminista?
Querida, não existia tal palavra naquela época! Quando era menina no Chile, nos anos 1940, numa família conservadora, católica e patriarcal, minha mãe fora abandonada pelo marido e morávamos na casa do meu avô. Todos homens, meus tios e meu avô. E meu avô era o patriarca absoluto. Era um homem muito bom, eu o adorava, mas era a autoridade máxima, era um deus.
O que meu avô dizia não era questionado. Cresci com a sensação de que minha mãe estava numa situação de injustiça, de desigualdade, de vulnerabilidade. Minha mãe morava na mesma casa e suponho que meu avô pagasse a escola e tudo mais, mas minha mãe nunca teve dinheiro, nunca teve liberdade.
Por ser uma mulher separada naquela época, naquela sociedade, minha mãe era muito mal vista, tinha de cuidar muito de sua reputação, pela qual também era muito limitada. Quando percebi que essa raiva que sentia tinha um nome? Não foi, creio eu, antes da adolescência, porque não havia referências. E não conseguia perceber que realmente havia um movimento e que eu poderia pertencer a esse movimento até os 20 anos, pelo menos.
Eu me lembro de quando li A mulher Eunuco (1970), de Germaine Greer, que era um livro que tinha humor, inteligência e uma forma de dizer muito direta e óbvia. Estava sentindo todos esses sentimentos, mas não sabia como expressá-los, não sabia como articulá-los, até ler aquele livro.
Não foi ideia minha. Dei uma palestra na Cidade do México um tempo atrás e o discurso foi um fenômeno, viralizou. Os editores na Espanha pensaram em publicá-lo como um livrinho. Eu li e disse: “Essa coisa está totalmente desatualizada”, porque em pouco tempo vieram #MeToo, Black Lives Matter, os protestos de mulheres nas ruas... tinha acontecido muita coisa que não fora mencionada no discurso. Aí eu disse: “Não, isso é inútil”.
E comecei a pensar na minha própria trajetória e em como tenho vivido o movimento, porque tem sido algo quase simultâneo, sabe? O movimento de libertação das mulheres é muito antigo, mas começou de fato com a pílula na década de 1960, quando, pela primeira vez, as mulheres conseguiram controlar sua fertilidade. Isso criou um espaço que não existia antes, um espaço que minha mãe não tinha, claro. Com quatro anos de casada, minha mãe já tinha três filhos.
O ano da pandemia paralisou tudo, mas as coisas continuam avançando. E o feminismo se juntou a outros movimentos que também estão nas ruas, como o Black Lives Matter, que é uma subversão contra o sistema, contra um sistema racista. Esse mesmo sistema, um sistema chauvinista, é o que dá ao gênero masculino a supremacia sobre as mulheres, sobre as outras raças, sobre as pessoas que não têm poder, sobre os filhos. Quando desafiamos o poder do sistema, vemos que temos tanto em comum que podemos fazer isso juntas. Chegamos a um momento em que devemos sacudir a sociedade onde vivemos e tentar estabelecer um novo normal diferente, mais sustentável, mais justo e melhor para nós, para todo mundo.
Boa, porque uma escritora precisa de tempo, silêncio e solidão, e a pandemia me deu tudo isso. Estou recém-casada e olha, a pandemia tem sido um teste de tornassol, porque é como uma longa lua de mel que nunca acaba (risos). Mas, nesta lua de mel, aprendemos muito como casal, como família, o que pode ser extrapolado para a humanidade: fomos forçados a viver num planeta frágil, num espaço limitado que tem de ser sustentável, temos de manter tudo limpo e em ordem, caso contrário, pereceremos. Precisamos de paciência, tolerância, compaixão, bondade. Precisamos de recursos suficientes para todos.
Quando me falaram do projeto, nunca pensei que iriam fazer, por isso não dei muita atenção. Mas um dia eles me ligaram e a coisa estava praticamente pronta. A única coisa que pedi a eles é que respeitassem as outras pessoas que aparecem na série, porque, olha, eu tenho memórias escritas sobre minha própria vida, tenho sido meio tagarela, então não tenho o direito de reclamar de privacidade. Mas as pessoas ao meu redor que têm vida privada, vocês têm que ser respeitosos com elas; essas histórias não me pertencem. Mas eles (os produtores) fizeram um bom trabalho, porque respeitaram o meu ex-marido, os meus filhos. Gostei muito do resultado.
Daniela Ramirez desempenha um papel que acho muito difícil, que é imitar outra pessoa, tentar ser outra pessoa. E, além disso, não somos parecidas: ela é uma mulher muito jovem e bonita. Mas, olha, eles até fizeram os penteados, os vestidos. Tenho um colar com moedas de prata e cada uma das moedas é diferente, uma joia feita especialmente para mim. Eles fizeram um colar idêntico! E o mesmo aconteceu com muitos detalhes, como a casa, as crianças... É realmente muito emocionante.
11 de março de 2021 | 05h00
As incessantes ondas que garantem o frescor do jazz trazem sempre cantoras excepcionais. Assim como no Brasil, a música popular norte-americana tem um de seus eixos mais sólidos na voz feminina e uma potência histórica que se retroalimenta e forma, para o bem e para o mal, um novo cenário a cada fluxo temporal. Como em um reality show, grandes vozes chegam e desaparecem com a mesma velocidade e poucas, realmente poucas, conseguem atingir o “estágio de assombro” de Veronica Swift.
Os pontos fora da curva, antes de surgirem na voz, já estavam na curta e intensa história de Veronica. Ela é uma garota de 26 anos nascida em Charlottesville, Virgínia, onde, em 2017, grupos de supremacistas brancos entraram em confronto direto com manifestantes antirracistas. Várias pessoas ficaram feridas e uma morreu depois que um carro avançou em direção a uma concentração de militantes contrários aos extremistas de direita. O ato se torna particularmente simbólico quando Veronica, branca, estabelece sua carreira sobre os paradigmas deixados por Ella Fitzgerald.
Seu pai era o pianista de jazz de Chicago Hod O’Brien, que tocou com Phil Woods, Freddie Hubbard e Lee Konitz, e a mãe é a cantora Stephanie Nakasian, que fez trabalhos com gente como Pat Metheny, Clark Terry e Philly Joe Jones. Assim que Hod morreu de câncer, em 2016, aos 80 anos, a indignação pela perda fez Veronica integrar uma banda de rock gótico chamada Vera Icon. “Eu precisava extravasar a raiva que sentia pela perda do meu pai”, afirmou, à época.
A raiva não foi mais forte do que aquilo que já estava em Veronica desde a infância. Depois de ver e ouvir pessoas como Annie Ross, Jon Hendricks e Paquito D’Rivera entrando e saindo de sua casa com um instrumento debaixo dos braços, ela abriu a boca para cantar e o que seus pais ouviram foi algo perto do fenomenal. A voz e o pensamento musical de Veronica não eram de uma criança.
Aos nove anos, ela lançou seu primeiro álbum nada infantil, Veronica’s House of Jazz, e saiu em excursão com os pais e com o grupo The Young Razzcals Jazz Project, com o qual tocava trompete. Aos 11, lançou seu segundo disco, It’s Great to be Alive, e se apresentou no Jazz at Lincoln Center, de Nova York. Mais tarde, em 2016, conquistou o segundo lugar na Competição de Jazz Vocal Thelonious Monk, ganhou datas no Birdland Jazz Club e então, em 2017, mudou-se para Nova York. Uma de suas maiores performances foram feitas ao lado de Wynton Marsalis e sua orquestra do Lincoln Center. O vídeo que pode ser visto no YouTube mostra o quanto Marsalis se diverte com seus scats, os improvisos criados por Ella Fitzgerald na distante era do swing dos anos 30 e adotados por Veronica como uma obsessão técnica.
Veronica Swift é mais especificamente uma cantora de bebop, um dos subgêneros sobrepostos do jazz que fez sua era de ouro nos anos de 1940. Sua voz de essência improvisadora funciona ora com a agilidade do estilo do saxofonista Charlie Parker, ora com a precisão do pianista Thelonious Monk. Um canto ágil que não perde cor nem acabamento quando assume o egocentrismo necessário dos voos solos. Mas, se deixarmos ela mesma explicar, talvez nada disso fique de pé. “O jazz tem tantas categorias de subgêneros que, por isso, deixou de ser uma forma de música popular. Quer você toque de forma tradicional ou moderna, é um estilo de vida comunitário, não um gênero musical”, diz ao Estadão.
Mas, ao escolher as palavras, ela também revela uma opção estética. Até os anos 1960, quando o free jazz chegou como forma de rebeldia contra a obrigação dos músicos em “sustentar o peso do passado”, e mesmo depois, nos 1980, quando o neoclassicismo dos young lions de Wynton Marsalis chegou para revalorizar os ancestrais, jazz era um livro de história em constante atualização. E assumir isso é assumir um gênero musical. “Estamos sempre honrando e sendo informados pelo passado do jazz. Mas, concordo que criamos em conjunto com outras pessoas e, por isso, somos inspirados por elas. O jazz está vivo, é algo que se respira.”
Assim como a descoberta de sua trajetória recente, é possível encontrar cantoras exuberantes como Camille Thurman, saxofonista de Marsalis convertida mais recentemente ao canto, Jazzmeia Horn, uma proeza de ascendência africana de 29 anos, e a de carreira mais jovem, Quiana Lynell, todas trazendo o peso da tradição de mais de um século em cada nota. Quiana nasceu no Texas mas se mudou logo para Baton Rouge, na Louisiana. Destacou-se como membro do coro da Igreja Episcopal St. James e ganhou elogios de Herbie Hancock, Patti Austin e Terence Blanchard. A base de seu canto, exposta no único álbum que tem até agora, A Little Love, passa pelo jazz depois de lutar para sair das amarras do gospel. Cantoras de sua geração, mesmo tendo o blues pulsando forte, sabem que precisam expandir territórios.
Veronica não gosta do termo “novo jazz”. “Estamos vivendo um revés temporário de circunstâncias com a pandemia, mas o espírito da música é o mesmo e deve ser constante. Jazz é o que você faz dele, desde que você honre o passado.” Essa devoção supostamente obrigatória ao passado dos músicos de jazz já foi estudada por pesquisadores como Joachin-Ernest Berendt. Ela segue falando sobre a pandemia e como o isolamento social pode influenciar na origem de uma expressão particular do jazz: “A pandemia fez muitas pessoas pensarem em como sustentar suas vidas se não puderem fazer isso musicalmente. Não posso falar pelos outros, mas talvez muitos estejam se voltando mais para arranjos, engenharia, produção musical e trabalhos com edição de vídeo. Não sei, mas, para mim, mantenho meu curso e continuo enriquecendo meu jazz e minha compreensão musical. Essa é a minha pista e devo permanecer fiel a ela!”. Missão, fidelidade, entrega, passado. Coisas de uma senhora jazzista de 26 anos.
10 de março de 2021 | 05h00
Para quem está com problemas de se manter produtivo e criativo durante a pandemia, foi um tapa na cara a seleção do 71.º Festival de Berlim, que encerrou na sexta-feira sua fase virtual, na esperança de realizar uma versão ao vivo em junho. Mesmo com a produção audiovisual semiparalisada há mais de um ano, cineastas do mundo inteiro conseguiram escrever, filmar ou adaptar projetos em plena crise da covid-19.
O vencedor do Urso de Ouro é um deles. Bad Luck Banging or Loony Porn, do romeno Radu Jude, resolveu assumir as máscaras, fazendo uma produção que vai ficar marcada pelo seu tempo. O diretor fazia questão que fosse assim. “Eu até entendo cineastas que querem realizar filmes eternos, mas sou totalmente contra porque eu quero que o filme seja de sua época e do seu lugar”, disse ele em entrevista com a participação do Estadão.
O sul-coreano Hong Sang-soo, que levou o Urso de Prata de roteiro, também rodou seu Introduction pós-pandemia. Mas a única referência à covid-19 é a cena em um restaurante – sempre obrigatória nos filmes do cineasta – em que os personagens comentam que ele está sempre vazio agora.
Também exibido em competição, Memory Box, dos libaneses Joana Hadjithomas e Khalil Joreige, fala da Guerra do Líbano nos anos 1980 e se baseia em uma experiência real dos diretores – na adolescência, Joana escreveu diários e trocou cartas e fitas com uma amiga que havia deixado o país, enquanto Joreige fotografou Beirute na época do conflito. Mesmo assim, o longa ecoa tanto a pandemia quanto a explosão no porto da cidade, que deixou mais de 200 mortos e chocou o mundo. “É muito estranho porque estamos falando do período da guerra, mas o filme é confinado, e aí de repente todo o mundo estava revirando as coisas em casa durante a covid-19”, disse Joreige.
Exibido fora de competição, em sessão especial, Language Lessons, de Natalie Morales, não é sobre a pandemia. “Mas não existiria se não fosse ela”, disse a diretora. O filme também foi inspirado numa história que aconteceu com o ator Mark Duplass, que no confinamento decidiu aprender espanhol para ajudar uma escola guatemalteca à beira da falência. Logo, ele estava discutindo assuntos profundos com sua professora. No longa, Adam (Duplass) contrata a costa-riquenha Cariño (Morales) para aulas de espanhol online. O filme foi quase inteiramente feito no Zoom, com cada um cuidando de seu próprio figurino e maquiagem.
A francesa Céline Sciamma, que apresentou Petite Maman na competição, e o canadense Denis Côté, de Social Hygiene, também enxergaram na pandemia uma oportunidade. Os roteiros já estavam escritos. “Achei que ele era mais relevante do que nunca”, disse Sciamma em coletiva de imprensa. Petite Maman começa com a morte da avó de Nelly. A menina ajuda a mãe Marion a encaixotar seus pertences, até que, num passeio pela floresta, encontra Marion em versão criança. O filme fala de perda, luto, herança, memória.
Já o bem-humorado Social Hygiene, que rendeu a Côté um prêmio de direção da seção Encontros, parece um filme sobre a pandemia. Antonin (Maxim Gaudette) é um bon vivant transformado em ladrão e fonte de decepção para cinco mulheres em sua vida: sua irmã Solveig (Larissa Corriveau), sua mulher Églantine (Evelyne Rompré), sua amante Cassiopée (Eve Duranceau), a coletora de impostos Rose (Kathleen Fortin) e uma das vítimas de seus crimes, Aurore (Éléonore Loiselle). Os personagens, às vezes, usam roupas de época, mas fazem referências a coisas modernas, como o Facebook. Os diálogos, em geral entre Antonin e um personagem, se dão ao ar livre, com grande distanciamento.
Mas, incrivelmente, Social Hygiene nasceu bem antes da pandemia, quando Côté passou férias em Sarajevo. Sem conhecer ninguém na cidade, ele acabou escrevendo um roteiro sobre distanciamento social, antes de virar obrigatório. “Acreditem em mim: escrevi essa história, com esse título, em 2015”, contou o diretor ao Estadão. Em maio do ano passado, sua amiga Larissa Corriveau perguntou se ele não tinha nada que pudesse ser feito naquele momento. O diretor se lembrou das páginas de cinco anos antes, mas precisou ser convencido. Côté nega veementemente que se trate de um filme de pandemia. “Acho a covid-19 deprimente e extremamente chata. Posso me projetar daqui a seis meses ou um ano e acho que não vamos falar mais sobre isso, vai ser uma coisa do passado, a não ser, claro, para quem foi diretamente afetado.”
No caso da diretora chinesa Shengze Zhu, a pandemia era algo pessoal. Hoje baseada nos Estados Unidos, ela nasceu e foi criada em Wuhan, o primeiro epicentro da pandemia. A River Runs, Turns, Erases, Replaces, exibido na seção Fórum, era um projeto de documentação das transformações radicais na paisagem de sua cidade natal a partir do rio, central na vida de seus moradores. “Wuhan foi ficando irreconhecível para mim cada vez que eu voltava para lá”, explicou ela. “Pensei que uma mudança tão vertiginosa poderia causar problemas.”
Shengze Zhu começou a rodar em 2016 e planejava finalizar em 2021. Mas, quando a covid-19 tomou a cidade, ela achou que seu plano não fazia mais sentido. “Embora as imagens sejam as que eu tinha capturado antes, a maneira como editei está bem distante do projeto original. O que aconteceu no ano passado teve profunda influência em mim e nos habitantes.” A diretora incluiu depoimentos em formato de cartas de gente que perdeu marido, pai, irmão para a doença. “O filme já era sobre mudança e perda. A pandemia só reforçou esse sentido.”
09 de março de 2021 | 09h41
No Dia Internacional da Mulher, a Dior se apresentou no Palácio de Versalhes e colocou suas modelos no Salão dos Espelhos sem que suas imagens fossem refletidas, celebrando assim uma nova liberdade feminina.
Para a Semana de Moda virtual, a diretora artística da Dior, Maria Grazia Chiuri, aliou-se à artista italiana Silvia Giambrone e à coreógrafa israelense Sharon Eyal na reinterpretação deste famoso espaço, símbolo do patriarcado inaugurado pelo rei Luís XIV.
Bailarinos e modelos interagiam com uma estrutura artística de resina, cera e acácia que cobria os imponentes espelhos do palácio, localizado nos arredores de Paris.
"Nos contos de fadas, o espelho é importante para as mulheres, é tanto uma fonte de atração quanto de repulsa", disse Chiuri à AFP.
“Se queremos construir uma identidade própria, não devemos olhar para ela”, acrescentou a estilista italiana, uma das figuras feministas mais influentes da moda.
O vídeo da coleção para o próximo outono-inverno lembra o filme A bela e a fera, de Jean Cocteau, com sua poesia sombria, tão bela quanto angustiante.
Com a covid-19, "o tempo ficou suspenso", explica Chiuri. “É a época das histórias, com florestas encantadas que não vão recuperar suas cores até que a vida renasça".
A pandemia foi um duro golpe para as semanas de moda, privando as empresas do glamour e da visibilidade que costumam ter nas passarelas.
Maria Fernanda Rodrigues
08 de março de 2021 | 09h00
São Paulo ganha, em abril, uma livraria dedicada a livros escritos por mulheres. Idealizada por Johanna Stein, a Gato Sem Rabo será inaugurada na Amaral Gurgel, 338, e seu nome remete ao ensaio Um Teto Todo Seu, de Virginia Woolf.
Em 65 m², ela vai abrigar 5 mil exemplares de 1.500 títulos, garimpados no catálogo de cerca de 150 editoras. São obras de ficção e não ficção, dos clássicos à literatura infantil, para mostrar a diversidade dessa produção.
O projeto foi pensado para acolher encontros em torno dos livros, como lançamentos, rodas de discussão e clubes de leitura – quando isso for possível novamente. E haverá um pequeno pequeno café operado pelo Cora, novo restaurante na cobertura do prédio (a livraria vai ficar no térreo).
06 de março de 2021 | 10h00
Há alguns anos, o Pato Fu produziu algo que muita gente já tentou fazer com os instrumentos musicais de crianças. O grupo mineiro colocava em disco canções executadas com esses apetrechos, como saxofone de plástico, pianinho de brinquedo e tecladinhos. Depois do sucesso do primeiro, em 2017 chegou o Música de Brinquedo 2, que tem canções nacionais e internacionais, como Severina Xique-Xique, Mamãe Natureza, Livin’ La Vida Loca, Datemi un Martello. E este é o trabalho que o Pato Fu escolheu para realizar sua primeira live, que será neste domingo, 7, às 16h, com transmissão pelo YouTube da Fundação ArcelorMittal e pelo Facebook do programa Diversão em Cena.
No palco do Centro Cultural Unimed-BH Minas, vão estar reunidos Fernanda Takai, John Ulhoa e Ricardo Koctus e também Glauco Mendes (bateria), Richard Neves (teclados), Thiago Braga e Camila Lordy, em vários brinquedos. Há ainda a participação especial de Groco e Ziglo, monstrinhos do Grupo Giramundo de Bonecos, manipulados pelos mestres Marcos Malafaia, Beatriz Apocalypse e Ulisses Tavares.
Sobre a live e o Música de Brinquedo, Fernanda Takai respondeu às questões do Estadão.
Tínhamos feito apenas uma apresentação assim durante toda a pandemia, mas foi com sinal fechado para um evento sobre educação. Para isso acontecer não é muito simples, é preciso testar todas as pessoas envolvidas na produção com o PCR molecular. Mesmo assim, muita disciplina no uso de máscaras e compartilhamento de áreas comuns, desde a montagem, passagem de som e o show. O espetáculo demanda dez pessoas no palco entre músicos e marionetistas, pois tudo é tocado ao vivo, sem bases programadas. Precisamos de muitas mãos e o Música de Brinquedo não funciona num formato pocket. O seu grande diferencial é a sonoridade coletiva dos brinquedos e miniaturas com a interpretação de humanos e monstros (Giramundo). E ainda é preciso lembrar que a equipe técnica é muito especializada na captação desse som diferente e também na iluminação de cada momento. Realizar um show assim e levá-lo em segurança até a casa das pessoas é desafiador, sem dúvida.
Foi há muito tempo. Em 1995, quando ouvimos a turma do Snoopy cantando músicas dos Beatles com arranjos de brinquedo, mas depois descobrimos que tinham usado alguns sintetizadores. Só em 2009, resolvemos tentar fazer versões de grandes sucessos nacionais e internacionais usando os brinquedos que a gente tinha em casa e alguns instrumentos em miniatura.
Todos os brinquedos e miniaturas que usamos até hoje são encontrados por aí em lojas, feirinhas de artesanato, sites na internet. Muitas vezes, tivemos de trocá-los pois alguns quebraram e não achamos mais para comprar. Outros se perderam nas viagens, tomaram chuva ou foram aposentados pela fadiga do material. Todos são muito frágeis.
Primeiro escolhemos as canções e só depois corremos atrás dos instrumentos que poderiam emular os arranjos originais de cada uma delas. Três critérios foram fundamentais: a música ser muito conhecida, o seu arranjo marcante e que tivesse trechos “cantáveis” pelas crianças.
Acho que esse trabalho tem um quê de experimental recheado com uma alma pop. E dá muito trabalho! Não acredito num terceiro álbum assim, mas há um experimento audiovisual em curso. Não posso dar detalhes agora.
Foi preciso muita insistência e dedicação a cada coisa que tocamos no estúdio. Transpor tudo para o palco foi a segunda etapa do desafio. À medida que as músicas iam ficando prontas, a gente ficava orgulhosa do resultado, além de perceber o sorriso no rosto de todos. As crianças brincaram de gravar, nem imaginavam que viria um disco depois de tudo.
Sim! Ganhamos nosso terceiro disco de Ouro e um Grammy Latino com ele, numa época em que muitos já se questionavam se valia a pena lançar álbuns completos, ainda mais com um projeto improvável e totalmente independente como o que fizemos. E acredito que a sua longevidade é a prova de que não tem prazo de validade. Todos os dias tem gente descobrindo esses dois álbuns, e compartilhando suas memórias através das redes sociais.
06 de março de 2021 | 05h00
“Nossa voz, nossa força”, sentencia Maria Sebastiana Torres da Silva, piauiense, de 59 anos, no programa Falas Femininas, que a TV Globo exibe na segunda, 8, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Agricultora e sanfoneira, ela só aprendeu a escrever o próprio nome em 2019, quando entrou em um curso de alfabetização para adultos. Quem a ajuda nesse processo de fala é a atriz e apresentadora Fabiana Karla, que comanda o programa que, ao lado de Maria e outras quatro brasileiras, de diferentes regiões, raças e profissões – Carol Dall Farra, Cristiane Sueli de Oliveira, Gleice Araújo Silva e Sebastiana dos Santos Oliveira –, reflete sobre abandono, violência e dificuldade para criar os filhos, desafios comuns a tantas mulheres.
Fabiana diz que se reconheceu nas histórias narradas pelas mulheres. “Eu vejo a representatividade das mulheres como uma grande árvore. São raízes fortes e copas frondosas, com capacidade de acolhimento nas sombras que elas geram.” Dirigido por Antonia Prado e Patrícia Carvalho, o especial faz parte do Projeto Identidade da emissora, o mesmo que produziu, no ano passado, o Falas Negras, dirigido por Lázaro Ramos.
“A narrativa do programa é poética, traz a luta dessas mulheres, potencializando o que elas têm de melhor para inspirar outras pessoas. Amplificamos essas histórias. O mundo diz que elas têm de guardar suas experiências, mas nós fizemos com que elas falassem. Isso vai transbordar para quem estiver em casa”, diz Fabiana, que também está na equipe de criação do especial.
A atriz afirma que nunca sofreu nenhum tipo de machismo, assédio sexual ou preconceito, mas que tem consciência que esse tipo de comportamento sempre esteve ao seu redor. “Não posso mentir, nunca fui vítima. Se tentaram, não percebi. Tive, sim, que nadar de braçadas em várias questões. Minha militância é ser como eu sou. Sempre usei da palavra e da inteligência para inibir qualquer tipo de preconceito. Com o tempo, percebi que a minha voz amplifica outras vozes”, diz.
Fora do Se Joga, programa que apresentou ao lado de Fernanda Gentil e Érico Brás – que voltará à grade da emissora neste sábado –, Fabiana estuda duas propostas da emissora. Uma delas é para ser apresentadora. “Tenho adorado ser comunicadora. Me inspiro muito em Regina Casé, que é uma atriz e também apresentadora.” A outra, está ligada ao humor.
Outra mulher forte na vida de Fabiana Karla, a personagem Lucicreide, estreou na quinta, 4, mas, em São Paulo, por conta da volta à fase vermelha, os cinemas fecharam hoje, 6. Em Lucicreide Vai Pra Marte, comédia dirigida pelo pernambucano Rodrigo César, a atriz vive uma empregada doméstica que, após a chegada da sogra em sua casa, quer fugir do inferno que virou sua vida. Sem saber ao certo no que está se envolvendo, Lucicreide se candidata a uma viagem a Marte.
A atriz tem um carinho especial pela personagem, criada na época em que ela estudava teatro no Recife. “A Lucicreide foi criada a partir do meu olhar para as mulheres com quem eu convivia. Ela tem um jeito meio raivoso, mas também uma ternura muito grande.”
Fabiana também é produtora do longa e diz que se emocionou ao filmar na sede da Nasa, nos Estados Unidos – apesar do medo em algumas cenas, como a que entra em um avião que simula gravidade zero. “Quando falaram ‘Lucricreide Go To Mars. Take One’, uma lágrima escorreu. Eu, com um lencinho na cabeça (parte do figurino) vendo a Atlantis atrás de mim... Foi uma aventura deliciosa.” O último filme que havia sido gravado por lá foi Armageddon, de 1998.
Antes de chegar aos cinemas, a personagem Lucicreide fez parte do programa Zorra Total, apresentado pela TV Globo entre 1999 e 2015, com direção-geral de Maurício Sherman. Nessa época, o programa foi reformulado e ganhou esquetes que exploravam críticas sociais e políticas. O novo Zorra foi exibido até o ano passado.
Fabiana não concorda que a personagem possa ser classificada em um tipo de humor ultrapassado. “Tudo tem o seu tempo. O Zorra foi um programa muito importante. O humor é um estado de espírito. A prova que Lucicreide sobreviveu é que ela está agora no cinema”, diz ainda.
A atriz também pode ser vista na reprise da novela Mulheres Apaixonadas, de 2003, no canal Viva. Na trama de Manoel Carlos, ela é Célia, a empregada de Lorena, vivida por Suzana Vieira. Foi a primeira novela de Fabiana na TV Globo. Graças ao seu talento, o pequeno papel garantiu um contrato para que ela continuasse na emissora.
“Não tinha na sinopse que a Célia era fofoqueira. Eu que fui cavando as cenas. Com isso, a personagem ganhou um rumo. Manoel Carlos sempre deu destaque para as empregadas e, com isso, revelou atrizes como eu, Juliana Paes, Carol Castro e Roberta Rodrigues. Eu gargalhava nos bastidores com a Suzana. Ela tem um jeito muito forte, firme, mas me acolheu e me ensinou muito”, conta.
05 de março de 2021 | 05h00
Atualizado 05 de março de 2021 | 09h40
Com São Paulo de volta à fase vermelha, os cinemas estão novamente fechados a partir de sábado, 6. Mas não faltam opções de filmes para assistir em casa.
Fase vermelha: entenda as regras e restrições e tire suas dúvidas
O filme estreia nos cinemas que estiverem abertos no Brasil, mas também chega diretamente ao Disney+. Só que é preciso pagar um extra de R$ 69,90 para poder ver, até o dia 19. A partir de 23 de abril, estará disponível sem custo extra para assinantes da plataforma.
A animação da Disney dirigida por Don Hall e Carlos López Estrada se passa no fictício mundo de Kumandra, que fica no Sudeste Asiático e foi dividido entre vários territórios hostis entre si depois do desaparecimento dos dragões. O líder de um dos países, Benja (Daniel Dae Kim), tenta fazer uma aproximação com os outros. Mas a reunião dá muito errado, e uma força maléfica acaba sendo liberada, transformando Benja e muitas outras pessoas em estátuas.
Sua filha Raya (Kelly Marie Tran) sai em busca do último dragão, Sisu (Awkwafina), que pode recuperar a mágica no mundo, tendo como companhia Tuk Tuk, seu animal de estimação. Raya vai precisar de muita ajuda. O problema é que, ferida pela traição sofrida pelo pai, não consegue confiar em ninguém. No Disney+.
Exibido no último Festival de Veneza, o novo filme de Gianfranco Rosi mostra o drama dos civis afetados pela guerra, pela interferência estrangeira, por regimes autocráticos e pelo terror do Estado Islâmico. Rosi, vencedor do Urso de Ouro em Berlim com Fogo no Mar e do Leão de Ouro em Veneza com Sacro GRA, filmou desta vez na Síria, no Líbano e no Iraque, capturando imagens que refletem a solidão e o trauma das pessoas, expostos nos desenhos infantis de crianças torturadas ou no choro das mães que perderam seus filhos. O documentário foi escolhido pela Itália para ser o representante do país no Oscar internacional, mas não foi selecionado. No MUBI.
Dir. Craig Brewer. Mais de 30 anos depois de Um Príncipe em Nova York (1988), Akeem Joffer (Eddie Murphy) e seu fiel escudeiro Semmi (Arsenio Hall) estão de volta. Só que agora, em vez de ir para Nova York, o agora rei traz a Zamunda seu suposto filho e herdeiro, Lavelle (Jermaine Fowler). Mas a verdade é que Akeem já tem três filhas, Meeka (KiKi Layne), Omma (Bella Murphy) e Tinashe (Akiley Love), todas inteligentes e capazes. A partir de hoje (5), no Amazon Prime Video.
O Samba É Primo do Jazz
Dir. Angela Zoé. Neste documentário sobre sua vida e carreira, a cantora Alcione fala de suas referências musicais, sua relação com a família e os amigos e seu espaço na música brasileira. No Net Now, Vivo Play e Oi Play, iTunes, Apple TV, Google Play, YouTube Filmes e Looke.
Dir. Robert Zemeckis. Esta refilmagem do longa de mesmo nome traz Anne Hathaway no papel de Grande Rainha Bruxa, feito por Anjelica Huston em 1990. Tentando proteger o neto (Jahzir Bruno) das bruxas da cidade, uma avó (Octavia Spencer) vai com ele para um hotel, sem saber que lá haverá uma Convenção das Bruxas, que transformam o garoto em rato. Disponível para compra no Apple TV, Claro, Google Play, Looke, Microsoft, Playstation, Sky, Uol Play, Vivo e WatchBr.
Dir. William Dieterle. Charles Laughton faz Quasímodo, e Maureen O’Hara é Esmeralda nesta adaptação de 1939 do romance de Victor Hugo que foi o único filme apresentado no primeiro Festival de Cannes, cancelado quando Adolf Hitler invadiu a Polônia no dia de início do evento. No Belas Artes à la Carte.
Dir. Susanna Fogel. Nesta comédia, Audrey (Mila Kunis) descobre que seu ex-namorado, Drew (Justin Theroux), é um espião. Junto com sua melhor amiga Morgan (Kate McKinnon), ela se vê envolvida numa trama de espionagem global. No Telecine.
Dir. Joshua Leonard. O adolescente Marcus (Charlie Plummer) e sua mãe Margaret (Marisa Tomei) têm dificuldades de lidar com o luto da morte de Steve (Timothy Olyphant). No iTunes, Apple TV, Vivo Play, Google Play, YouTube Filmes, Now e Looke.
Dir. Arnold de Parscau. Por causa da estudante de piano Margaux, que vive na ilha de Bali, o jovem Eka resolve aprender a compor música. No Cinema Virtual.
[]
04 de março de 2021 | 05h00
Quando Salomão Borges Filho, o Lô, nasceu em casa, em Belo Horizonte, Márcio, o Marcinho, tinha 6 anos de idade. Ao entrar no quarto e ver o sexto filho nos braços de dona Maricota, matriarca da família Borges, pediu à mãe: ‘Dá esse menino para mim?’. Os dois ainda teriam outros cinco irmãos. Esse gesto de amor rendeu uma ligação estreita entre eles, além de, ao longo dos anos, sonhos, girassóis, ventanias, estradas e heróis na música brasileira.
Os parceiros em composições de sucesso como Clube da Esquina n.º 2, com Milton Nascimento, Para Lennon & McCartney, com Fernando Brant, e Um Girassol da Cor de Seu Cabelo e Tudo O Que Você Podia Ser, voltaram a compor juntos depois de nove anos. O resultado está no álbum Muito Além do Fim, lançado nesta sexta-feira, 5, só com músicas inéditas.
“Já estava na hora de voltar a compor com o Marcinho. Foi ele que me incentivou a aprender música, quando, ainda menino, eu ficava tentando tocar no violão as músicas do disco Chega de Saudade, do João Gilberto. É meu parceiro mais importante. Ele consegue ser duro sem perder a ternura”, diz. Lô ainda aponta, além de Márcio, Milton Nascimento e o pianista Marílton Borges, também seu irmão, como seus grandes mestres e incentivadores.
Por conta da pandemia, os irmãos não puderam se encontrar para escrever as canções como faziam no passado. Lô mandava todas as melodias por telefone. Márcio respondia com as letras. “Chegaram prontinhas. Não precisei mudar uma vírgula. Nossa sintonia é cósmica”, afirma Lô.
Muito Além do Fim sucede a Dínamo, lançado no ano passado, que trouxe parcerias com o compositor piauiense Makely Ka. Lô, aos 69 anos, comemora a fase criativa e afirma que escrever melodias faz parte dele. “A composição é meu alimento espiritual. É o momento em que a vida faz mais sentido para mim. Compor é amar. Se eu não componho, sinto que falta algo. Meu pai me falava que o dom a gente ganha, nasce com ele. Mas trabalhar esse dom é uma virtude. Uma vez fiquei um ano sem compor, me achei o bom, que voltaria quando quisesse. Quando quis voltar, foi uma dificuldade. A gente tem que manter a fé cega e a faca amolada. É um ato cotidiano”, diz.
A faixa que dá nome ao disco tem como convidado o carioca Paulinho Moska. A letra prevê o “cessamento desse abalo sísmico” e enxerga um final feliz. Em Canções de Primavera, os versos sugerem que é preciso usar do amor para espantar a ignorância.
Das dez canções do álbum, duas estavam havia tempos guardadas nos cadernos de música de Lô. Terra de Gado é de 1999, mas continua atual. “Que mágica tudo é gado/ Terra boa de ser ninguém/ Que mágica tudo é gado/ Terra boa de ser/ Ou vai morrer nessa praia/ E achar que tá tudo bem”, diz uma das estrofes.
Piano Cigano é de 1978 e ficou de fora do disco A Via Láctea, que Lô lançou no ano seguinte. “Ela é mais pujante e o álbum era mais harmônico. Eu enchi o saco da minha mãe compondo essa música. O piano da casa ficava na parede que fazia divisa com a do quarto de descanso dela. Ela dizia “essa música nunca vai ficar pronta? Não aguento mais. Toca o Girassol para mim”, conta, entre risos.
No álbum, Lô, que toca piano e violões, é acompanhado pelos músicos Henrique Matheus (guitarras), Thiago Corrêa (contrabaixo) e Robinson Matos (bateria). O trabalho foi feito quase toda a distância. O ajuste ficou por conta da “pegada” que Lô queria dar ao disco.
“Muitas músicas eles me mandaram com arranjos mais leves. Eu falei: vamos tirar o terno e a gravata, botar uma bermuda, relaxar. Tocar mais pesado. Se esse disco é mais ‘guitarrado’, é por escolha minha. Não quis nada comportado”, conta.
A cara mais roqueira, ou “vigorosa”, como Lô prefere chamar, é para diferenciar dos discos mais harmônicos que o compositor fez nos últimos anos, com estética mais ligada ao lendário disco Clube da Esquina, que ele, aos 19 anos, assinou com Milton em 1972.
Lô, Márcio, Milton Nascimento e inspiração remetem, invariavelmente, ao primeiro disco solo do compositor, de 1972, conhecido como O Disco do Tênis, que, em 2022, vai completar 50 anos.
Após ser acolhido por Milton, que bateu o pé na gravadora para que Lô, que ele havia levado de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, assinasse a coautoria do disco Clube da Esquina, ele foi contratado para fazer seu álbum de estreia. Empolgado, Lô aceitou o compromisso, mas não tinha uma música sequer pronta.
“Pirei. Fiz um disco todo experimental, psicodélico. Não tinha nenhum Trem Azul. Tinha música de 30 segundos, outras de 5 minutos. Fazia o que vinha na cabeça. E o que vinha era muita loucura. Fazia a melodia pela manhã, à tarde o Marcinho colocava a letra e à noite eu gravava”, conta ainda o compositor.
De hábitos diurnos, Lô diz que prefere compor pela manhã. À tarde, ouve outros artistas. Dia desses, diz, pôs para rodar Araçá Azul, disco experimental de Caetano Veloso. Entre os outros preferidos, estão Tom Jobim e a banda britânica de rock progressivo Emerson, Lake & Palmer. “Gosto de música. Não só de compor, mas de ouvir também”, acrescenta.
03 de março de 2021 | 03h00
Alguns devem pensar que o dinheiro dos Estados Unidos emergiu pronto da explosão do Big Bang. Todavia, os próximos anos devem testemunhar uma mudança no rosto da moeda dos EUA.
A Inglaterra já usava libras quando isso ocorreu. Por lei, entretanto, a velha Albion não permitia que sua própria moeda saísse das ilhas britânicas, nem mesmo para suas colônias. Por isso, no século 18, era muito difícil encontrar libras e shillings circulando. A moeda que surgia de forma mais comum nas colônias britânicas do Novo Mundo era... mexicana! Ah, a ironia da História!
O México, também desde o século 16, tinha sua própria casa da moeda e cunhava os valiosos “reales de a ocho”, um peso de prata que equivalia a 8 unidades de menor valor, chamada real. Esse “spanish dollar”, como era chamado nas 13 colônias, a “Grana espanhola”, era uma das poucas moedas circulantes por ali. No início do século 18, a crise da falta de moeda estimulou o jovem Benjamin Franklin a escrever um manifesto que reclamava como a situação impedia a economia local de se desenvolver. Além disso, ele passou a imprimir dinheiro, na forma de vales em papel. A Coroa proibiu essa prática também. O ressentimento dessa medida estava entre os fatores listados para a guerra de independência pouco tempo depois.
Guerras custam dinheiro e isso a colônia não tinha, já vimos. Solução: imprimir dinheiro. O “continental” (nome dado em homenagem ao Congresso Continental que declarara a independência), em sua intenção inicial, se baseava no valor de um “dólar espanhol”. As cédulas vinham com o valor estabelecido em um pequeno texto que dizia algo como: este pedaço de papel vale 1, 10 ou 20 dólares. Os mais velhos entre nós, leitores, se lembrarão da URV, a unidade que estabelecia quanto valia o real nos tempos que antecederam a implementação de nossa moeda, nos longínquos anos 1990, quando achávamos que vivíamos uma crise.
Imprimiu-se tanto dólar de papel para sustentar o esforço de guerra que eles se desvalorizaram muito rápido. No fim do conflito, já corria o ditado: “Isso vale tão pouco quanto um continental”. As cédulas foram abandonadas e, em 1792, estipulou-se a criação efetiva do dólar americano. Nome alemão e referências espanholas, a moeda estadunidense deveria ser feita apenas e tão somente em metal, não mais em papel. Foi uma das primeiras do mundo a se basear em um sistema centesimal, facilitando a compreensão de suas frações (lembram-se do real de oito?). As efígies das primeiras moedas recém-nascidas eram alegorias da liberdade, da vitória e outros valores. Jamais pessoas.
Por quase um século, os americanos tiveram apenas moedas e não mais cédulas circulando. Precisaram de outro conflito para voltar a imprimir dinheiro: a Guerra da Secessão (1861 a 1865), que rachou o país em dois, Sul e Norte, em torno de várias questões. Tanto um lado quanto o outro, precisando desesperadamente de recursos, voltaram a imprimir dinheiro. O do Norte, criado pelo secretário de Finanças de Lincoln, Salmon P. Chase, era verde e, na sua nota de um dólar, trazia a efígie nada modesta de... Chase! Como na guerra anterior, rapidamente a cédula se desvalorizou e, ao fim do conflito, valia um terço do seu valor de face. Isso porque a cédula verde era uma promessa, um bônus de guerra, que poderia ser resgatado quando os canhões silenciassem.
Pior ocorreu com a moeda sulista, os “dixies”, que se desvalorizaram muito mais e, ao fim das batalhas, se tornaram pedaços de papel colorido com o fim do país e a reintegração ao norte.
A decisão de quem deve ou não estampar a cédula de dólar é atribuição do secretário de Tesouro. Critério é que a pessoa deve ser alguém cujo valor de face (literalmente) seja conhecido da história americana como personagem confiável. Por isso, há ex-presidentes e personalidades como Benjamin Franklin. Mas muita gente já entrou e saiu dessa galeria. Ela não é nem nunca foi fixa: só não podem mostrar pessoas vivas.
Daí o anúncio em 2016 de que, em 2020, as notas de 20 dólares deixariam de estampar o presidente Andrew Jackson, um controverso governante que era escravista, por uma notória abolicionista, Harriet Tubman. A primeira mulher negra (moedas de um dólar mostram, desde 2000, Sacagewa; ainda no século 19, por curto período, a primeira-dama Martha Washington estampou a nota de um “dólar de prata”) em uma moeda norte-americana. Jackson não reclamaria: ele era um feroz opositor das cédulas e de bancos poderosos!
A administração Trump anunciou que o custo seria alto e que postergaria a decisão por, no mínimo, dez anos. Biden, decidido a desfazer a herança do antecessor, anunciou que iniciaria a substituição.
Viram? Não dói mudar uma efígie em uma nota. Especialmente, porque elas estampam valores de época. E nossos tempos podem e devem ser mais plurais. A esperança é associada ao verde, cor tradicional dos dólares. É preciso ter ambos, dólares e esperança.
02 de março de 2021 | 05h00
Ruth Rocha chega aos 90 anos olhando para a frente. Nascida em 2 de março de 1931, na Vila Mariana, em São Paulo, a escritora revela que vai comemorar sim a data, mas que terá de ser de forma virtual por causa da pandemia. “Eu vou mandar umas comidas pros mais próximos, aí a gente vai sentar e comer junto – pela internet”, avisa a alegre e divertida senhora. Em conversa por telefone com o Estadão, fez uma viagem por suas memórias e revelou o que vem de novidade por aí.
Autora de inúmeros livros dedicados ao público infantojuvenil, Ruth Rocha volta no tempo e passeia pelas lembranças, falando da família, do início de sua trajetória na literatura e de momentos atuais. “Fui muito feliz na infância, tive pais muito bons, dedicados a nós, muito interessantes, irmãos divertidos, que são bons até hoje”, conta a escritora, que tem quatro irmãos e se orgulha em afirmar que ainda se dão muito bem. “Nós nos gostamos muito.” Diz que é muito amiga de seus dez sobrinhos.
Escritora, como outras crianças dessa época, gostava de brincar na rua, pois não tinha os perigos enfrentados hoje em dia nas cidades. “Minha mãe era muito acolhedora, então as crianças iam pra minha casa brincar e depois a gente ia para a casa dos outros também. Foi uma infância muito feliz e gostosa e acho que fez muito bem pra mim. Esse é um tesouro que a gente carrega, uma infância boa”, descreve Ruth, que conta ainda ter aprendido a andar de bicicleta no Parque do Ibirapuera, que não era como o conhecemos hoje. “A gente era muito livre.”
O que Ruth viveu na infância e a relação com a família e o mundo foram transpostos para sua trajetória profissional. “A infância forma a gente, é uma coisa que nos modela”, garante a escritora. Ainda no passado, ela lembra de um avô que era contador de histórias e ela e seus irmãos aproveitavam muito a presença dele. “Ele vinha do Rio de Janeiro, chegava cansado, mas a gente ficava em cima dele para contar suas histórias.” E seu pai também não ficava atrás, tinha seus momentos de contador de história. Tinha ainda uma avó que a ensinava a cantar modinhas. Foi com todas essas influências que a menina Ruth adquiriu o hábito da leitura.
Essa bagagem reunida na infância serviu de base para sua vida adulta. Formada em Ciências Políticas e Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, entre 1957 e 1972 exerceu a função de orientadora educacional, o que a ajudou a ter mais interação com crianças. Sua base educacional possibilitou que fosse trabalhar em revistas, criando textos para o público infantil. Mas foi ao entrar na revista Recreio que começou a voar alto em seu estilo de escrita e na criação das histórias. “A revista Recreio foi quem me pôs no mundo” (risos).
Essa fase na publicação e sua carreira na escrita começam com uma passagem que Ruth gosta de contar e se diverte quando o faz. Ela lembra que editava a publicação com sua também amiga Sonia Robatto, que a intimou a escrever uma história para a revista. Conta Ruth que a editora não teve dúvida, trancou a escritora em uma sala e disse que ela só sairia de lá quando tivesse uma história pronta. E foi assim que surgiu o texto Romeu e Julieta, que viria a ser o primeiro de tantos outros criados para a Recreio. “Minha primeira história é sobre preconceito e mostrava duas borboletas, uma amarela e outra azul, que não podiam brincar juntas por ser cada uma de uma cor”, afirma.
De lá para cá, Ruth Rocha não parou mais de escrever suas histórias e transformá-las em livros. Inclusive, revela que até aproveitou este momento de isolamento pela pandemia para criar uma nova obra, que é O Grande Livro dos Macacos, ainda em fase de finalização, sem data para lançamento. “Mas é sobre o que, Ruth Rocha?”. “Macacos!” (risos), respondeu a escritora. “O livro mostra como os macacos são e como são inteligentes”, diz. Outro ponto que a obra vai abordar, segundo a autora, é o fato de ter gente que não gosta muito da ideia de que descendemos de macaco. “Mas eu não queria parecer com girafa, jacaré, hipopótamo. Eu acho muito bom parecer com macaco.”
Outra boa novidade que vem por aí é a transformação do livro clássico da autora, Marcelo Marmelo Martelo, em série de TV. A própria Ruth se encarrega de anunciar que o contrato para a produção foi assinado e agora é aguardar para conferir mais essa conquista do seu personagem. Trata-se de uma realização da ViacomCBS, que comprou os diretos da obra e a levará para o audiovisual.
Publicado pela primeira vez em 1976, o best-seller Marcelo Marmelo Martelo teve mais de 70 edições e vendeu aproximadamente 20 milhões de exemplares. No ano passado, Ruth Rocha, em coautoria com sua filha, Mariana Rocha, brindou seus leitores com o Almanaque do Marcelo e da Turma da Nossa Rua (Editora Salamandra).
Em seus 90 anos, mais de 50 foram dedicados à literatura, em uma jornada incansável pelo universo lúdico da infância. Mas Ruth, com sua escrita elaborada e sem limites para a imaginação, coloca em seus textos mais do que simples histórias, pois elas carregam temas mais profundos, que fazem parte da vida das pessoas e da sociedade. No livro O Reizinho Mandão, outro grande sucesso de sua produção, a autora colocou em cena um rei que decidiu que não queria que as pessoas falassem, que calassem a boca e, assim, o povo acabou esquecendo como falar. Lançada no período da ditadura militar, Ruth conta que a história foi feita dessa forma de propósito. “A censura comia solta”, conta, enfatizando ter horror a essa fase. O que ela observa hoje é que a história “está quase se repetindo, é muito ameaçador”.
A autora premiada dentro e fora do País, com mais de 200 livros lançados, é leitora determinada. Diz que acabou de ler Michel Laub e gosta de Marçal Aquino. Mas, em tom de reclamação, afirma não ter recebido nada de autores infantis. “Ninguém me manda nada, é raro, não recebo nada.” Após tantos anos encantando leitores das mais variadas idades, Ruth Rocha se diz avessa a pensar em uma biografia sua. “Fui muito feliz minha vida inteira, casei com um cara formidável (Eduardo), eu gostava dele e ele de mim, tenho uma filha maravilhosa, dois netos. Não estou desiludida da vida. Não penso nisso, não quero não.”
01 de março de 2021 | 05h00
Nos anos 1980 e 1990, a população ria de piadas racistas nos Trapalhões, se divertia com comentários homofóbicos no Chacrinha e acompanhava com admiração a trajetória do carismático cartola de futebol, dirigente de escola de samba e gângster Castor de Andrade. O banqueiro do jogo do bicho (morto em 1997, aos 71 anos) simboliza como poucos a tolerância da opinião pública com a moral flexível das autoridades, seja no futebol, política ou polícia no Rio de Janeiro. Trata-se, afinal, do único Estado brasileiro que teve seis governadores presos ou afastados nos últimos 6 anos.
É nessa faca de dois gumes que se equilibra a série documental Doutor Castor, disponível na Globoplay. A narrativa começa com as credenciais do personagem central. Castor de Andrade foi um homem extremamente violento no controle dos seus territórios – o Bangu Atlético Clube, a Mocidade Independente de Padre Miguel e os pontos do bicho – e, ao mesmo tempo, um mecenas malandro e boa-praça, que era tratado como o rei do Rio.
Contraventor genro de Castor de Andrade é morto no Rio
Andrade foi um bandido herói que transitou entre dois mundos. Adorava ser tratado como “capo de tutti capi” e cultivava hábitos copiados de filmes de máfia, como o beijo no rosto dos comparsas, mas, ao mesmo tempo, era entrevistado com deferência em programas da TV. O momento mais emblemático foi, sem dúvida, uma entrevista para Jô Soares, no SBT, em 1990.
O documentário da Globo resgatou a conversa na qual o apresentador solta sua risada contagiante ao ouvir o relato do bicheiro de quando foi assaltado. “Dei uma sorte muito grande que o assaltante me reconheceu e pediu desculpas.” Infelizmente, Jô não foi ouvido sobre o episódio, o que certamente lhe causaria constrangimento.
A série dirigida por Marco Antônio Araújo deixa no ar as perguntas que deixaram de ser feitas diante daquela figura mítica e sedutora. Doutor Castor não poupou a Rede Globo e escalou José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, amigo de Andrade e ex-executivo da emissora, para explicar o tom chapa-branca com qual o bicheiro era tratado. “Eu não sou juiz nem nunca fui delegado. Para mim, o jogo do bicho é apenas uma contravenção. Criminosos eram as pessoas que estavam no governo.”
O documentário teve como uma de suas bases centrais o livro mais completo já produzido sobre o tema: Os Porões da Contravenção, de Aloy Jupiara e Chico Otavio, que são entrevistados. Entre desfiles e enredos que marcaram época no auge da Mocidade, Doutor Castor escancara o uso político do carnaval e mostra como a Liga das Escolas de Samba nasceu como uma espécie de agência reguladora do crime.
Políticos eram seduzidos com o luxo nos camarotes da Sapucaí e depois agraciados com malas de dinheiro vivo. Também os atletas do Bangu e até juízes de futebol eram remunerados dessa maneira. Para além dos aspectos criminais, a série da Globo é também uma deliciosa viagem no túnel do tempos dos boleiros.
Nos tempos áureos de Castor de Andrade, quando a compra e venda do passe de atletas se dava muitas vezes em negociações de pontos do jogo do bicho, o Bangu foi a sensação do futebol fluminense e chegou até a Libertadores. Foi favorito na final do Campeonato Brasileiro de 1975, mas deixou escapar o título nos pênaltis, diante do Coritiba.
O time tinha um dono, mas era administrado de forma libertária. O time de Moça Bonita contou com grandes nomes como Marinho, Ado, Arturzinho, Neto e Mauro Galvão. Como cartola, Castor era generoso, mas impiedoso. Andava sempre armado e estimulou seus capangas a agredir árbitros.
Depois da morte do bicheiro, o império de Castor de Andrade se tornou palco de uma guerra fratricida sangrenta que ainda hoje frequenta as páginas policiais. O Bangu está na série D do campeonato carioca e a Mocidade segue em compasso de espera até o fim da pandemia.
24 de fevereiro de 2021 | 05h00
Em tempos de pandemia, é preciso ouvir os cientistas e os humoristas. Não se sobrevive a um ano de notícias ruins, distanciamento social e com todo tipo de tragédias e restrições sem um pouco de comédia. “A única coisa boa desta pandemia é que os casados agora estão transando! Eu mesmo senti uma diferença. Minha mulher começou a ter mais vontade e querer mais sexo durante a pandemia. O que me fez pensar... Será que ela sempre teve essa vontade? Só que agora só tem eu ali”, contou Diogo Portugal, um dos precursores do Stand-up Comedy no Brasil.
Fazer graça com a covid e suas consequências foi quase inevitável para quem trabalha com humor. “Nós, os humoristas, fomos diretamente afetados pelo distanciamento social. Ficamos sem trabalhar, pois dependemos de um mínimo de aglomeração que é o público. O que nos sobrou, enquanto comediantes, foi fazer piadas com a situação, sobre a vida no confinamento, produzir conteúdos online, eventos por Zoom”, disse Portugal.
A questão é (e sempre será) o tom ou o tal limite do humor. É possível fazer piada com algo tão sério? Para o humorista e músico Rafael Cortez trata-se de ter sensibilidade. “Eu me imponho a falar sobre o tema, a selecionar o que pode funcionar e que não soe de mau gosto. O meu humor não é à custa da chacota ou do sofrimento dos outros... Falo no meu show sobre isolamento social, sobre aquilo que estamos todos vivendo, mas não falo sobre morte, desemprego, intubação...”
Cortez contou que seu show Antivírus foi todo criado a partir das observações que fez no auge da pandemia. “Eu colocava a minha máscara e saía andando pelo calçadão do Sumaré (bairro paulistano) para olhar o entorno. Aí, percebia, por exemplo, as pessoas nas janelas, nas varandas, talvez fofocando coisas como ‘você viu o vizinho usando o auxílio emergencial para pedir pizza’”, brincou.
Alguns humoristas têm uma abordagem diferente e não acreditam em nenhum limite para o humor – mesmo em tempos pandêmicos. “Humor não tem limites, mas hoje em dia não duvido que uma piada sobre a covid faça alguém se ofender em nome do vírus. Talvez justifiquem que não posso fazer piadas, pois não sou um vírus e ali não é meu lugar de fala. Piadas não degradam o ser humano, apenas lembram que ele é um ser degradado”, comentou o comediante Léo Lins.
É inegável que a pandemia, e seus desdobramentos, oferece um farto material para a comédia. “A prefeitura de Nova York chegou a lançar um manual do sexo durante a pandemia – com recomendações técnicas e conselhos do tipo ‘masturbação é o tipo de sexo mais recomendável’”, falou a atriz e comediante Angela Dippe.
Não à toa Angela está escalada para uma apresentação no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, nos dias 10 e 11 de março, com a estreia do Protocolo Sexual Pandêmico. “Acho que o humor tem um salvo-conduto para brincar, mas com noção e bom senso. No meu espetáculo tenho coisas como: ‘Sempre gostei de sair com caras mais jovens, o problema é que as crianças são assintomáticas’. Ou diria que transar com os vacinados é mais seguro. Ou seja, com os maiores de 80 anos”, disse.
Angela lembrou que durante a pandemia os comediantes também viraram “um pouco ativistas”. “Não brigamos por políticos, mas por uma causa. Com lives e outras ações, acredito que conseguimos alertar as pessoas para os cuidados contra a covid de uma forma legal”, finalizou.
Especializado em falar com professores, o comediante Diogo Almeida revelou que o cotidiano de seu público foi um prato cheio para o humor durante a covid. “Essa adaptação para o home, as aulas virtuais, tudo isso rendeu muito”, afirmou.
“Os professores já estão preocupados com os nomes dos seus futuros alunos, em um mundo pós-pandemia. Imagina a ‘Ana Cloroquina’, a ‘Aztrazenica’, o ‘Pazuelozinho’”, enumerou Almeida. Aliás, como você mantém as escolas abertas no meio de uma pandemia se uma criança sozinha já é uma aglomeração? Não por acaso os pais já colocam nomes compostos como ‘Pedro Henrique’, ‘João Guilherme’... Dentro dessas crianças, já mora mais de uma pessoa”, completou.
Para o também humorista Emerson Ceará, a comédia busca brechas na realidade. “Tem a vacinação, gente que não quer se vacinar, lockdown, home office, Big Brother Brasil...Tudo o que está no nosso cotidiano pode virar piada”, contou Ceará. O humorista chegou a pegar covid e, sem grandes complicações, escreveu textos sobre a doença. “Eu falo que peguei covid e tentei passar para quem não gostava – inclusive minha sogra.”
Já a comediante Bruna Braga, que disse não ter escrito especificamente nenhuma piada sobre o vírus, vive um bom momento profissional. “Quando a pandemia começou, eu tinha 80 reais na conta. Agora, as coisas melhoraram. No início, chorei em posição fetal como todo brasileiro. Depois, fui atrás, prospectei clientes, fiz shows online para empresas, happy hour online e aniversário de tia pelo Zoom. As pessoas estão buscando entretenimento nesta pandemia”, garantiu.
Bruna afirmou que a demanda do humor aumentou porque o público o está reconhecendo como ferramenta para amenizar este período de sofrimento e para a saúde mental. “O humor não substitui medicação nem psiquiatra, mas consumir comédia faz bem, cria empatia e produz relaxamento. Acho que, por isso, os próprios humoristas estão mais cuidadosos com o trabalho e se dando mais importância.”
23 de fevereiro de 2021 | 10h00
Gilberto Gil divulgou ontem uma canção nova, uma rara criação, a primeira sua inédita feita desde o início dos tempos da pandemia, em março de 2020. A música é um samba e se chama Refloresta, com a participação sutil e delicada de uma instrumentação armada pelo filho Bem Gil na guitarra e no sintetizador e de seus também herdeiros do grupo Gilsons, o snetos Francisco Gil na guitarra e na voz; João Gil no baixo e cavaquinho; e José Gil na bateria, percussão e samples.
40 Anos de Refavela
A canção é uma encomenda de justa causa feita por Lélia Deluiz Wanick Salgado e Sebastião Salgado, líderes do Instituto Terra, uma ONG que preza pela preservação do meio ambiente. Espalhar a ideia do reflorestamento urgente e combater ao mesmo tempo o desmatamento é sua maior preocupação. Gil inspirou-se logo e fez uma canção à altura de seus grandes sambas, desenvolvendo a ideia dos “res” que já renderam a ele toda uma trilogia de álbuns: Refazenda (1975), Refazela (1977) e Realce (1979). A "refloresta" poderia ser tema de um quarto álbum, tamanho o arco criativo que faz abrir sobre a obra do baiano. Vale citar a condução primorosa do vídeo (em tempos de se trabalhar com a limitação de gravações) nas mãos da diretora Ivi Roberg e na produção de Piloto.
22 de fevereiro de 2021 | 09h27
Morreu na última quinta-feira, 18, aos 96 anos de idade, o diretor de TV e escritor italiano Guido Stagnaro, o "pai" do personagem Topo Gigio, o inocente ratinho bochechudo e de orelhas grandes que conquistou crianças no mundo inteiro.
Stagnaro faleceu em Milão, vítima da covid-19, mas sua morte foi divulgada apenas neste sábado.20. Considerado um dos pioneiros da televisão na Itália, ele escreveu e dirigiu dezenas de atrações, especialmente infantis, na emissora pública Rai e depois em canais privados.
50 anos da estreia de Topo-Gigio no Brasil
Sua criação mais famosa é o ratinho Topo Gigio, mas ele entregou os direitos do personagem para o casal Federico Caldura (fabricante de fantoches) e Maria Perego (artista de animação, produtora e roteirista da Rai), que o transformariam em sucesso mundial.
Topo Gigio estreou em 1959, dublado inicialmente pelo cantor Domenico Modugno, e é presença constante na TV italiana desde então. O fantoche também fez sucesso em dezenas de países, incluindo o Brasil, onde chegou em 1969, no programa Mister Show, da TV Globo, contracenando com o humorista Agildo Ribeiro.
Regina Duarte e Topo Gigio, uma dupla de sucesso. Atriz também contracenou com o ratinho, que era adorado pelas crianças no programa da TV Globo em 1970.
Stagnaro abriu mão dos direitos do personagem para se dedicar a outros projetos.
A cor é linda, o sabor é incrível; confira sobremesas que usam a fruta in natura e a goiabada como ingrediente principal
Começo de ano é época de goiaba. Para conseguir aproveitar a fruta, aposte em uma compota ou numa bela sobremesa. Mas, não tendo a fruta fresca em mãos, vá de goiabada. Ela rende doces cremosos e crocantes. O próprio Romeu e Julieta ganha diferentes versões.
Está na época da goiaba! Para aproveitar a estação cheia de opções fresquinhas, a primeira delas é este cheesecake que utiliza a fruta tanto na forma de geleia quanto em fatias semiconfit, que são dispostas em cima da sobremesa. Ao todo, são cinco as etapas de preparação. Confira o passo a passo.
Cheesecake de Romeu e Julieta - com cream cheese. Foto: Alex Silva/Estadão
Com cara de feito pela vó, este bolo se destaca pela doçura dos quadradinhos de goiabada, que são acrescentados aos demais ingredientes ainda antes do prato ir para o forno. Confira a receita.
Bolo feito pela chef Heloisa Bacellar Foto: Tadeu Brunelli|Estadão
Misturada ao vinho, a goiabada ganha uma consistência espessa nesta sobremesa servida em pequenas porções. Em três camadas, ela traz queijo fromage blanc na base, seguido do creme feito com a fruta e de uma farofa de castanhas de caju torradas. Confira a receita.
Clássico doce servido em copos Foto: Roberto Seba|Estadão; Produção: Florise Oliveira
Cozida com açúcar, a goiaba é servida junto com uma farofa de castanhas-do-pará. Na hora de consumir, a sobremesa é combinada ao creme inglês, mantido em um recipiente à parte. Confira a receita.
Receita de crumble de goiaba Foto: Alex Silva|Estadão
Uma opção fácil e barata de aproveitar a fruta durante meses é fazer compotas. Afinal, além de serem consumidas individualmente, elas também podem ser misturadas a sucos, vitaminas e iogurtes. Para prepará-las, são necessários apenas três ingredientes: goiaba, açúcar e água. Confira a receita.
Receita de compota de goiaba Foto: Felipe Rau|Estadão
Outra opção de lanche com a fruta é acrescentar pedaços de goiabada à massa de biscoitos. Neste cookie, por exemplo, o doce contrasta com a crocância da bolachinha. Confira a receita.
Foto: Tadeu Brunelli|Estadão
A parceira quase perfeita ganha nova roupagem ao combinar um mousse de queijo meia cura com goiaba confit e calda de goiabada cascão. Confira a receita.
Releitura do Romeu e Julieta. Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Com uma apresentação digna de um grande restaurante, este pavê utiliza basicamente ingredientes do dia a dia, como ovos, açúcar e goiabada. Para dar contraste no sabor, ele aposta na combinação da fruta com um creme de Catupiry. Confira a receita.
Pavê de Romeu e Julieta. Foto: Roberto Seba/Estadão
A clássica combinação de queijo e goiabada também é o elemento principal desta sobremesa que, ainda, mistura frutas secas, castanha e vinho. Confira a receita.
Foto: Clayton de Souza|Estadão
A brasileiríssima goiabada se mistura à culinária espanhola nesta sobremesa, que pode ser servida como lanche ou guardada em potes de vidro. Ao todo, para replicá-la são necessários apenas oito ingredientes e investir todas as habilidades manuais na hora de moldar os torrones. Confira a receita.
SAO PAULO - 27|09|2015 - PALADAR - 9 º Paladar Cozinha do Brasil - Torrone de castanha de caju e goiabada, Quando o merengue encontra o samba, Lu Bonometti - Tadeu Brunelli|Estadao Foto: Tadeu Brunelli, SP|BRASIL
A goiabada é o recheio principal desta tradicional sobremesa pernambucana. Na hora de preparar a massa, uma das dicas é separá-la em sete assadeiras rasas para, depois, formar as camadas do bolo. Confira a receita.
Receita de bolo de rolo Foto: Reprodução
Em vez de cream cheese e creme de leite, esta versão do prato aposta em uma mistura de ricota, ovos, leite condensado e goiabada cremosa. Para completar, frutas caramelizadas são utilizadas na decoração. Confira a receita.
Cheesecake de goiaba. Foto: Felipe Rau/Estadão
Neste biscoito, a goiabada é acrescentada apenas no momento do consumo. Antes disso, ingredientes como castanhas fritas, fubá e queijo curado são misturados e assados para formar a massa crocante. Confira a receita.
Biscotti com ingredientes brasileiros Foto: Roberto Seba|Estadão
Esta sobremesa também utiliza apenas ingredientes fáceis de encontrar no comércio, como limão, creme de leite, sal e açúcar. Ideal para consumir geladinha e de colher, seu preparo tem apenas três etapas até a sobremesa adquirir uma textura lisa e cremosa. Confira a receita.
Receita de petit suisse de goiaba de Neide Rigo Foto: Felipe Rau|Estadão
Acredite, é muito fácil de fazer - você só vai precisar ter um pouco de habilidade com a faca para fatiar a fruta bem fininho. Depois de pronto, coma com chips ou use para decorar outras sobremesas. Veja como fazer.
Foto: Felipe Rau|Estadão
*Caderno de receitas publicado pela primeira vez em março de 2016. Atualizado pela última vez em fevereiro de 2021.
20 de fevereiro de 2021 | 05h00
O tempo não anda lá muito propício para a sutileza, mas de vez em quando o cinema vem nos relembrar essa dimensão um tanto esquecida da experiência humana. É o caso de Perfil de Uma Mulher, de Kôji Fukuda, em cartaz nos cinemas.
Antes de falar sobre o filme propriamente dito, queria lembrar de um comentário de Roland Barthes sobre as diferenças entre a cultura ocidental e a oriental, baseando-se no simples uso dos artefatos para alimentação. Com o garfo e a faca, os ocidentais espetam, cortam e despedaçam o alimento. Comer é um ato de violência. Os orientais se utilizam dos hashi, os populares “palitinhos”, com os quais separam, agregam ou misturam os alimentos antes de levá-los à boca. Comer é um ato gentil. Desse modo, a sutileza oriental expressa-se nos hábitos de alimentação, mas é algo presente no conjunto das atitudes sociais. É um ethos. Uma mentalidade.
Ishiko (Mariko Tsutsui) é uma cuidadora de idosos. Trabalha numa casa, cuja matriarca é acometida de um câncer em fase terminal. Essa senhora é uma pintora, informação que tem um valor adicional para o espectador. Além de cuidar da anciã, Ishiko dá aulas complementares a suas duas netas. Tudo nela respira dedicação e competência.
Há um momento, em aparência inócuo, quando, numa lanchonete, Ishiko apresenta um sobrinho às duas meninas. O que se segue, é uma tempestade perfeita, com um crime cometido, repercussões policiais, familiares e sociais. Ishiko, que não tem nada a ver com a história, ou, em todo caso, pouco a ver, sofrerá consequências bastante pesadas quando aflora o outro lado dessa civilização da delicadeza e dos gestos elegantes.
Perfil de Uma Mulher é, assim, um estudo de caso sobre como a culpa pode se transferir sobre uma pessoa inocente. Lembremos, é um tema obsessivo de Hitchcock, um católico atormentado pelo pecado original. Não importa muito que Ishiko nada tenha a ver objetivamente com qualquer crime, que seja uma pessoa não apenas inocente, como gentil e prestativa. A culpa respinga sobre ela e não há nada a fazer uma vez que a sociedade tenha decretado que ela tem parte da responsabilidade.
O filme é construído de forma oblíqua. Flutua entre dois tempos. No presente, quando a personagem sofre com o isolamento. No passado, quando encontra-se em plena atividade e parece ter um futuro cheio de perspectivas interessantes.
Há também divagações, quando novas camadas de significado vão sendo depositadas, da mesma maneira que um pintor adiciona tinta sobre tinta para obter o efeito desejado. Por exemplo, quando Ishiko e uma das meninas da família, Motoko (Mikoko Ichikawa), trocam confidências durante um passeio pelo zoológico. É então que temas como a sexualidade afloram e dão novo contorno à história e às relações entre os personagens.
Além da condenação social, da sexualidade reprimida e do machismo estrutural, Perfil de Uma Mulher aborda também o tema da imprensa sensacionalista, ávida por escândalos. Na verdade, são temas entrelaçados entre si, como engrenagens que funcionam apenas quando conectadas. O desafio civilizatório seria desfazer os elos entre preconceitos, machismo, sexo visto como pecado, o prazer voyeurista com a desgraça alheia. Essas peças, funcionando em conjunto, destroem vidas.
19 de fevereiro de 2021 | 09h56
O poeta e letrista José Carlos Capinan, ou simplesmente Capian, que completa 80 anos nesta sexta-feira, 19, serátema central da série documental O Silêncio que Canta por Liberdade. Com estreia programada para o segundo semestre, no canal Music Box Brazil, produção resgatará sua trajetória artística do letrista durante a ditadura militar.
Dirigida pela atriz Úrsula Corona e idealizado por Omar Marzagão, série terá oito episódios e contará com documentos originais, imagens de arquivos e depoimentos sobre censura e repressão imposta na música nordestina no período da ditadura no Brasil.
O Silêncio que Canta por Liberdade traz depoimentos de produtores, instrumentistas e intérpretes, como Gal Costa e Gilberto Gil. Mas é o próprio Capinan que aparece para falar, por exemplo, sobre o surgimento do samba e suas raízes nos porões dos navios negreiros.
Um dos nomes de destaque do Tropicalismo, Capinan assinou a letra de canções que se tornaram populares pelo Brasil afora, mas que, muitas vezes, não tem seu nome citado. Ponteio marca sua parceria com Edu Lobo, que ganhou o Festival da Canção de 1967. Entre outras composições, só para citar algumas, que ele colocou sua poesia, tem Água de Meninos, parceria com Gilberto Gil; O Acaso não Tem Pressa, com Paulinho da Viola; Cidadão, com Moraes Moreira; Moça Bonita, com Geraldo Azevedo; Movimento dos Barcos, com Jards Macalé; Papel Marchê, com João Bosco; Pitanga, com Marlui Miranda.
O Tempo e o Rio
(Edu Lobo e Capian)
O tempo é como o rio
Onde banhei o cabelo
Da minha amada
Água limpa
Que não volta
Como não volta aquela antiga madrugada
Meu amor, passaram as flores
E o brilho das estrelas passou
No fundo de teus olhos
Cheios de sombra, meu amor
Mas o tempo é como um rio
Que caminha para o mar
Passa, como passa o passarinho
Passa o vento e o desespero
Passa como passa a agonia
Passa a noite, passa o dia
Mesmo o dia derradeiro
Ah, todo o tempo há de passar
Como passa a mão e o rio
Que lavaram teu cabelo
Meu amor não tenhas medo
Me dê a mão e o coração, me dê
Quem vive, luta partindo
Para um tempo de alegria
Que a dor de nosso tempo
É o caminho
Para a manhã que em seus olhos se anuncia
Apesar de tanta sombra, apesar de tanto medo
Apesar de tanta sombra, apesar de tanto medo
18 de fevereiro de 2021 | 09h25
Pela primeira vez, a Divina Comédia de Dante Alighieri será apresentada na TV italiana de maneira completa. Serão três cantos lidos diariamente pela atriz Lucilla Giagnoni em transmissões diárias da RAI5 entre 21 de fevereiro e 25 de março.
A data final não foi escolhida por acaso, já que é o dia em que se celebram os 700 anos da morte de Dante Alighieri. O projeto de Giagnoni ganhou muita notoriedade na internet já que, no ano passado, ela narrou a obra, um canto por dia, em uma série que virou febre no YouTube.
A artista gravou cada episódio no Teatro Faraggiana de Novara, durante o primeiro lockdown por conta da covid-19, com a produção da filha, Bianca Pizzimenti, e do marido, o musicista Antonio Paolo Pizzimenti. Eles receberam uma autorização especial da prefeitura local para usar o teatro, que estava fechado por conta das regras sanitárias.
“Um feito nunca realizado. Sou a primeira pessoa em todo o mundo a ter lido em vídeo toda a Divina Comédia. Dante, na realidade, está cheio do ‘agir’ feminino, que não quer dizer ser uma mulher. Não existe outro poeta que soube criar uma imagem, um repertório assim estupendo entre psique, homem e cosmos. Tudo através da linguagem do amor”, disse Giagnoni à ANSA.
Mesmo com a pandemia, a Itália prepara uma série de eventos culturais – presenciais ou virtuais – para lembrar a memória e a herança de Dante.
17 de fevereiro de 2021 | 11h35
No 44.º aniversário de morte de Elvis Presley, os fãs terão a chance de homenagear o músico de novo - na Semana Elvis - em Memphis, no Tennessee.
Graceland, o museu dedicado a Elvis Presley, que funciona onde ele viveu, está se preparando para receber visitantes e para oferecer eventos presenciais entre os dias 11 e 17 de agosto.
Como conhecer Graceland, a casa de Elvis Presley, sem precisar ir a Memphis
Os organizadores disseram que os protocolos sanitários serão seguidos, incluindo a obrigatoriedade do uso de máscaras, medição de temperatura e distanciamento social.
O evento contará com a presença de celebridades e músicos, shows ao vivo, debates, festas, excursões de ônibus e o concurso em homenagem a Elvis Presley, informou a Elvis Presley Enterprises.
O evento principal, mais uma vez, será uma vigília à luz de velas no túmulo do cantor. Desde a morte de Elvis Presley, em 16 de agosto de 1977, seus fãs se reúnem em Memphis para comemorar sua vida e carreira na semana que antecedeu seu aniversário de morte. Por causa da pandemia de coronavírus, os eventos da Semana Elvis foram realizados principalmente online no ano passado.
16 de fevereiro de 2021 | 07h34
O músico Izael Caldeira, integrante do grupo Demônios da Garoa, morreu na noite desta segunda-feira, 15, vítima de covid-19. Ele estava internado desde o começo do mês para tratar a doença. Izael tinha 79 anos, completados no último 27 de janeiro.
Em nota publicada em rede social, a banda diz que “perdemos uma das vozes mais lindas desse País, um ser humano ímpar e que vai deixar muitas, mas muitas saudades”.
15 de fevereiro de 2021 | 05h00
É curioso ouvir Sérgio Mendes dizer que errou o tempo. “Foi o pior timing do mundo”, fala ao Estadão, por telefone, de sua casa, em Los Angeles. Ele, o músico criador da sonoridade que bateu nos norte-americanos como o “groove brasileiro”, um derivado mais dançante do que a bossa nova, embaixadora inconteste no exterior até o lançamento de sua versão de Mais que Nada, de Jorge Ben, lançada em 1966, no álbum Herb Alpert Present’s Sergio Mendes & Brasil’ 66.
Tudo Sobre Sergio Mendes
Sérgio, vendedor à época de assustadores 1 milhão de discos nos Estados Unidos e dono de um hit com alto poder de contágio nas rádios enquanto os Beatles lançavam Revolver, falando de tempo errado. Não é verdade. O tempo estava certo. Era 2020, às vésperas de completar 80 anos, bem apropriado para colocar nas plataformas um álbum cheio de convidados especiais e composições novas a fim de confirmar o quanto seu som se tornou uma marca ainda reverenciada por um extenso arco de artistas da nova geração, de rappers a astros do reggaeton, que o querem por perto.
Jobim nunca se afastou de seu repertório, mas talvez o jornalista se refira ao tratamento das gravações. E ele acerta ao falar do “rosto para os sons alegremente sofisticados do Brasil.” Seu novo álbum, lançado 55 anos depois de Mas Que Nada, preserva o otimismo dos tempos em que levou um outro sol à Califórnia. De produção volumosa e com muitas participações, como gosta Mendes, ele não tem as sutilezas preservadas no passado de 1966, como Going Out Of My Head, ou reverências mais delicadas, como sua versão de O Pato. In The Key of Joy tem bases rítmicas poderosas e arranjos transbordantes para a série de convidados que chegam reforçando a ideia de Brasil turístico de Sergio Mendes com a qual o pianista construiu sua marca.
Sobre o fato de ter feito sua carreira à base de encontros, ele diz: “É isso mesmo, sempre foi assim.” E de ter extraído seu Brasil de uma ideia paradisíaca que, na prática, pode nem mais existir, fala o seguinte: “Eu cheguei aqui (aos Estados Unidos) em 1964. Já foram tantos governos (no Brasil) de lá para cá... Como não estou aí, fica difícil fazer um julgamento à distância.”
Mas os dias de pandemia parecem ter escancarado um pouco mais o que é esse Brasil distante de sua música. “Vejo de longe como o País está sendo administrado e dá uma grande tristeza, triste ver ainda esse negacionismo (com relação à pandemia). Passamos por isso aqui também. Eu acredito que não posso deixar isso afetar o meu trabalho, não podemos perder a esperança. Precisamos continuar dando prazer às pessoas.”
Assim, à parte de uma crítica que pode vê-lo com certo alienismo, Mendes revela seu engajamento como embaixador não oficial de um lugar que precisa resistir ainda que seja apenas na ideia. “A música se torna o único refúgio no qual você pode se expressar.”
Repertório. As bases de samba de seu álbum, e ele está sempre apoiado a elas, foram gravadas no Brasil para receberem a voz do engajado rapper norte-americano Common (em Sabor do Rio), do sambista Rogê e da mulher de Mendes, Gracinha Leporace (em Bora Lá), da jovem Sugar Joans (em Samba in Heaven), de Hermeto Pascoal e Gracinha (em This is It) e de seu talismã das restaurações will.i.am em Água de Beber, uma escolha talvez estratégica se lembrarmos da revisão estrondosa que o Black Eyed Peas, de will.i.am, fez com Sérgio em 2006 ao relançar Mas Que Nada no disco Timeless.
Água de Beber tem um potencial de pista incontestável e vem pronta para as adorações cool que permeiam a carreira de Mendes, mas não havia clima em fevereiro de 2020 para que os volumes fossem aumentados. “Quero fazer uma turnê com esse repertório no ano que vem”, ele diz, já vacinado com a primeira dose do imunizante contra a Covid-19. Seu tempo de isolamento foi aproveitado para assistir a muitos filmes das plataformas de TV e fazer em casa tudo mais o que a estrada não o permitiu que fizesse por anos.
Documentário. Ao mesmo tempo em que pode falar do álbum como novidade, Sergio anuncia um documentário com o mesmo nome do disco, feito pelo diretor John Scheinfeld, autor de filmes sobre as vidas de Harry Nilsson, John Lennon e John Coltrane. “Eu senti fortemente que este filme precisava ser um contraponto à toda escuridão vinda de Washington e à polarização política que domina a paisagem cultural hoje em dia”, disse o cineasta, antes da eleição de Joe Biden. Além de depoimentos de Quincy Jones, will.i.am, John Legend e Carlinhos Brown, há histórias de encontros com Frank Sinatra, Elvis Presley e Stevie Wonder. “Sergio traduziu o que estava acontecendo no Brasil para o resto do mundo”, diz will.i.am.
Sergio fala que seu contato com músicos jovens, como Sugar Joans ou a dupla colombiana Cali Y El Dandee, com quem faz La Noche Entera, vem da mesma curiosidade que o levou aos Estados Unidos nos anos 60. “Tudo tem a ver com essa minha vontade de conhecer gente nova. Recebo muitas coisas de outros países. Às vezes, esse encontro existe, às vezes não.” Uma de suas histórias mais saborosas, que recorda na entrevista, foi a que se passou logo depois de sua gravação da canção assinada por Lennon e McCartney, mas feita de fato por Paul, The Fool on The Hill, do LP de mesmo nome, lançado por Sergio em 1968. Os Beatles haviam lançado a música em Magical Mystery Tour um ano antes. Paul ouviu a versão de Sérgio e escreveu uma carta ao brasileiro, dizendo ser aquela a mais bela regravação de sua música. Ao menos, até ali. Imaginário ou real, o Brasil de Sergio Mendes segue indestrutível aos olhos de um mundo que, da tríade carnaval, futebol e samba, parece estar comprando apenas a música.
14 de fevereiro de 2021 | 05h00
A pandemia da covid-19 pariu um fevereiro sem carnaval. Um mês de sambódromo vazio. Ruas sem bloquinhos e quadras de escola de samba em silêncio. A memória de outros fevereiros, a esperança pelo próximo ou a folia possível é o que tem alimentado figuras proeminentes da nossa folia.
Não bastasse o aviso de todos os cientistas e os números trágicos do coronavírus, o fato de um fevereiro chegar sem nenhuma foto de “Alessandra Negrini no Baixo Augusta” estampando as capas de jornais ou revistas é a prova que vivemos, definitivamente, tempos de exceção.
Mas a rainha do bloco, Alessandra Negrini, 50 anos, não chora o confete derramado. Ao invés de brigar com os fatos, prefere trazer seus arlequins, pierrots e colombinas à razão. “Eu não sou uma pessoa que se deprime e fica remoendo aquilo que não é possível mudar. É claro, é chato, é triste, mas a gente precisa ter prioridades. Vamos guardar energia para o próximo”, falou Alessandra.
Mas se não tem bloco na rua, não tem escola na avenida. Por isso, o sentimento da presidente da Rosas de Ouro Angelina Basílio, 63 anos, ao entrar em um sambódromo vazio não cabe nessa página. "Tentei trabalhar a cabeça para ficar bem durante a pandemia. Mas ver a avenida vazia...Eu choro só de ver as fotos que as pessoas colocam nas redes sociais sobre outros carnavais”, confessou.
Angelina conta que no início da pandemia achou, como muitos, que o pesadelo duraria apenas dois meses e que logo a agitação do barracão seria retomada. “Vivemos um filme de ficção científica. É surreal”, afirmou.
Mas a carnavalesca segue firme no propósito de respeitar o distanciamento e não se arriscar na pandemia. “As escolas perderam muitos integrantes para esse vírus. A covid-19 tirou o que eu mais gostava na vida. Só não desfilei duas vezes na minha vida, quando o médico não deixou por causa da gravidez e quando minha mãe morreu. Mas, mesmo assim, estava assistindo os desfiles. Tem sido muito pesado, mas não podemos desanimar”, completou.
A presidente da Rosas de Ouro acredita que o carnaval sem covid e com vacina vai ser o melhor da história. “Imagino as quadras reabrindo, o sambódromo cheio. Vai ser um momento de revalorização da nossa cultura e identidade”, avisou.
O carnavalesco André Machado, 46 anos, está no time daqueles que não se conformam com um fevereiro assim tão sem cor. No meio do samba e do carnaval desde os 7 anos, e com passagem por algumas das principais escolas de São Paulo, essa vai ser a primeira vez que ele não está na quadra, na avenida ou nos barracões. “Está sendo estranho. Tenho assistido a desfiles antigos para matar a saudade. Já vi compacto dos desfiles dos anos 80, 81, 82, 83”, diz.
Para não esmorecer, Machado inventou uma brincadeira com a família. Com mulher e filhos fantasiados, ele vai armar um baile de carnaval dentro de casa. “Vou colocar umas marchinhas no YouTube e brincar o carnaval no isolamento. Não quero que passe em branco. Vai ter confete, serpentina e tudo o que tem direito”, disse. “Nessa época, eu estaria desfilando ou dando os últimos retoques nos carros. Fico acordado até às duas da manhã pensando nisso. Mas sei que, no ano que vem, teremos o melhor carnaval das nossas vidas", afirmou.
Eliana de Lima, 59 anos, consagrada cantora e intérprete de samba-enredo, responsável por momentos marcantes do carnaval de São Paulo, como a defesa do samba Filhos da Mãe Preta (Unidos do Peruche – 1988) ao lado de Jamelão, fala do buraco deixado por essas semanas sem carnaval. "Como brasileira, a gente sente um vazio, a falta de alguma coisa, mas hoje seria impossível. O mais importante é a vida e a saúde", disse.
“Lembro da torcida da escola gritando meu nome, a sirene que toca para dar início ao desfile. O coração chega a sair pela boca de tanta emoção”, diz Eliana – que para não deixar a peteca carnavalesca cair já está programando lives durante o carnaval. “Vinte anos da minha vida foram dedicados ao carnaval. Ele me abriu muitas portas. Mas carnaval vai ter sempre. Não podemos lastimar, temos que seguir”, completou.
12 de fevereiro de 2021 | 05h00
Quando Gal Costa, em dezembro, foi anunciada como atração do Coala Festival - previsto para acontecer em setembro - cerca de 9 mil ingressos foram vendidos em 24 horas. O Coala é um festival voltado para a nova música brasileira, ou para aquela que não ocupa os espaços convencionais de divulgação. Gal, em tese, não se encaixaria nesse perfil.
Porém, desde 2011, quando lançou Recanto, álbum dirigido por Caetano e Moreno Veloso, a cantora abriu diálogo com o público mais jovem. Na transposição desse disco para o palco, canções como Baby, Divino Maravilhoso e Vapor Barato bateram forte em uma nova geração.
Esses novos seguidores - anônimos ou famosos - a acompanharam em álbuns posteriores, como Estratosférica e A Pele do Futuro. É esse público que anseia vê-la em um festival, em um ambiente mais descontraído e com preços mais acessíveis do que os das grandes casas de shows.
No final 2019, quando os cantores Rubel e Silva participaram de apresentações de Gal, o produtor Marcus Preto sugeriu que Gal fizesse um EP com quatro músicas que trariam duetos com, além dos dois, Criolo e Tim Bernardes. As bases foram feitas, mas a cantora não colocou a voz à época.
Durante o isolamento, no ano passado, em uma conversa por telefone com Preto, Gal decidiu retomar a ideia, justamente impulsionada por essa percepção de que os jovens estão cada vez mais à procura da obra produzida por nomes de sua geração - Caetano, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Maria Bethânia, entre outros. Quis retribuir.
O projeto do EP ganhou força e foi ampliado. Juntaram-se aos participantes iniciais, Zeca Veloso, Zé Ibarra, Rodrigo Amarante, Seu Jorge, Jorge Drexler e António Zambujo. O álbum ganhou o nome de Nenhuma Dor e, depois do ser lançado em formato digital, ganha versões em CD e vinil nesta sexta, 12.
Gal, em conversa por telefone com o Estadão, comentou a valorização da música que ela e seus parceiros produziram. “A bossa-nova foi um movimento muito moderno, e somos filhos dela. Temos uma visão aberta e consistente do mundo - além do talento, claro. Esse é um dos motivos da longevidade da minha geração. Estamos em um período difícil e a música cura. Me curou todas as vezes. As pessoas estão ouvindo músicas do passado em busca de um tempo melhor do que o que estamos vivendo.” Por conta da pandemia, o disco foi gravado a distância. Os convidados mandavam as bases e as vozes. Alguns deles produziram suas próprias faixas. Outras receberam a atenção de Felipe Ventura Pacheco, também responsável pelas cordas do álbum. Por fim, Gal gravou sua parte.
Nenhuma Dor olha para o repertório de Gal gravado entre os anos 1960 e 1970, o mais cultuado de sua carreira, com exceção da faixa Meu Bem, Meu Mal, de Caetano Veloso, que ela lançou no LP Fantasia, de 1981. A canção é dividida com Zé Ibarra, da Banda Dônica. O nome do álbum, inicialmente divulgado como Gal 75, em referência à idade da cantora, é o título da música escolhida por Zeca Veloso, filho de Caetano, que está no disco Domingo, de 1967, que tinha Caetano e Gal nos vocais.
Nenhuma Dor é uma canção de amor que Caetano assina com Torquato Neto (1944-1972), poeta piauiense de quem Gal guarda uma estranha lembrança. “Ele tinha as mãos muito frias. Frias e molhadas. Ele tocava em mim e isso me dava certa aflição. Mas era uma pessoa muito amorosa. Lembro da gente andando pelo Rio de madrugada”, diz Gal.
O português António Zambujo, um dos nomes sugeridos por Gal, escolheu Pois É, de Tom Jobim e Chico Buarque, presente no álbum Água Viva, de 1978. “Gal me confidenciou que havia cantado essa canção apenas no dia da gravação do disco. Depois, nunca mais”, diz Marcus Preto. O arranjo é centrado nas cordas pilotadas por Felipe Pacheco Ventura, que também assina a produção dessa faixa e de Paula e Bebeto, na qual Gal juntou sua voz à de Criolo.
Tim Bernardes escolheu Baby por achar uma das melhores canções pop da música mundial; Rodrigo Amarante foi cogitado para Folhetim, mas sugeriu, por fim, Avarandado. Seu Jorge poderia ter ficado com Folhetim, mas faltava algo de Luiz Melodia e a escolhida foi Juventude Transviada, uma das canções preferida de Gal.
Negro Amor coube ao uruguaio Jorge Drexler, que a cantou em português praticamente sem sotaque. Assim foi montado o difícil quebra-cabeça de quem cantaria o quê.
Bem-humorada, Gal só perde a paciência quando pensa nas questões políticas brasileiras. E, se ela está falando cada vez mais com o público jovem, é essencial que ele queira saber de que lado ela está. Nas redes sociais, quem fica em cima do muro pode cair para algum dos lados, mesmo injusta ou involuntariamente. Gal prefere estar atenta e forte em sua posição.
“Sou contra esse governo. Ele tem propostas erradas Já fui muito criticada (nas redes) por expor a minha posição. Cruelmente criticada. Mas, se não gostar, vaza”, diz.
11 de fevereiro de 2021 | 18h40
O pianista e compositor de jazz Chick Corea morreu no último dia 9 vítima de um câncer raro descoberto há poucos meses, informam textos postados em suas redes oficiais. Chick, nascido Armando Anthony ‘Chick’ Corea, tinha 79 anos e se tornou uma das lendas do jazz a partir do início dos anos 1970, quando seguiu os apontamentos de Miles Davis, inquieto com a perda de espaço do jazz para o rock em alta na época, e ajudou a fundar o subgênero conhecido como jazz rock, ou jazz fusion.
Sua aparição no meio foi com o grupo Return to Forever, por onde passaram instrumentistas como Stanley Clarke, Al Di Meola, Lenny White, Bill Connors e os brasileiros Flora Purim e Airto Moreira. Foi uma das maiores potências do fusion, ao lado do Weather Report e do Mahavishnu Orchestra.
Ele também tocou com Miles Davis por um curto tempo para substituir Herbie Hancock, chegando a tocar no importante álbum Bitches Brew e no Miles Davis at the Fillmore. A passagem pelo grupo o fez evoluir ao deixá-lo, investindo em um jazz de vanguarda.
Outra fase se apresenta nos anos 80, quando, em 1985, forma o grupo The Elektric Band, com o baixista John Patitucci, o guitarrista Frank Gambale, o saxofonista Eric Marienthal, e o baterista Dave Weckl. Durante a quarentena, Chick Corea fez lives de grandes audiências direto de sua casa e lançou um curso para alunos de música sem nunca perder o vigor de seus improvisos.
11 de fevereiro de 2021 | 10h01
Um dos maiores nomes da canção francesa, Charles Aznavour (1924-2018) colecionou sucessos que ultrapassaram fronteiras, chegando ao Brasil, onde ele se apresentou em vários momentos. Sucessos atemporais, como mostram as cinco canções a seguir. Suas letras trazem um tom de nostalgia, sobre os bons tempos passados, além de apontar para um futuro mais humano e melhor. Ele inspira o documentário Aznavour por Charles, que reúne cenas rodadas pelo próprio cantor, em uma câmera de Super 8.
Uma das mais populares canções francesas, com sucesso mundial. A letra fala de um pintor que relembra os bons tempos de boemia passada no bairro de Montmartre, em Paris. A música foi gravada até em alemão e grego
Novamente a nostalgia dá o tom à letra, ao revelar o desejo do narrador de escapar da miséria de sua vida cotidiana e viajar para países ensolarados. Um dos versos da música, "la misère serait moins pénible au soleil" (a miséria seria menos dolorosa ao sol), foi inspirado em uma viagem que Aznavour fez a Macau.
Um dos maiores sucessos de Aznavour em inglês, que gravou ainda versões em francês, italiano, espanhol e alemão. Elvis Costello fez uma versão em 1999, que integra a trilha do filme Um Lugar Chamado Notting Hill.
Com letra de Françoise Dorin e música de Aznavour, a canção fala de como Veneza parece triste aos olhos de quem não ama mais. Lançada em 1964, foi também um sucesso internacional.
Uma das canções interpretadas ao vivo no Palais des Congrès, em Paris, onde Aznavour se apresentou ao lado de Liza Minnelli. Depois da abertura instrumental, essa foi a primeira música apresentada pela dupla. Liza e Aznavour eram grandes amigos. "Charles foi meu mentor, meu amigo, meu amor. Sentirei saudades dele para sempre", disse Liza, depois da morte do cantor.
09 de fevereiro de 2021 | 20h22
O Oscar 2021 definiu os filmes indicados para a sua shortlist, uma lista prévia em nove das categorias da grande premiação do cinema internacional. Apesar de concorrentes como Babenco: Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, de Bárbara Paz, nenhum filme brasileiro marcou presença entre os indicados.
Entre as categorias que tiveram alguns de seus candidatos revelados, estão Filme Internacional, Documentário, Trilha Sonora, Canção Original, Maquiagem, Efeitos visuais e Curtas. A lista final de indicados em todas as categorias será revelada em 15 de março.
A cerimônia do Oscar 2021, que será a 93ª edição da premiação, está marcada para o dia 25 de abril, no Teatro Dolby, em Los Angeles, nos Estados Unidos. São elegíveis ao Oscar 2021 filmes lançados entre 1 de janeiro de 2020 e 28 de fevereiro de 2021.
Confira os pré-indicados ao Oscar 2021:
All In: The Fight for Democracy
Boys State
Collective
Crip Camp
Dick Johnson Is Dead
Gunda
MLK/FBI
The Mole Agent
My Octopus Teacher
Notturno
The Painter and the Thief
76 Days
Time
The Truffle Hunters
Welcome to Chechnya
Abortion Helpline, This Is Lisa
Call Center Blues
Colette
A Concerto Is a Conversation
Do Not Split
Hunger Ward
Hysterical Girl
A Love Song for Latasha
The Speed Cubers
What Would Sophia Loren Do?
Bosnia and Herzegovina, Quo Vadis, Aida?
Chile - The Mole Agent
República Checa - Charlatan
Dinamarca - Another Round
França - Two of Us
Guatemala - La Llorona
Hong Kong - Better Days
Irã - Sun Children
Costa do Marfim - Night of the Kings
México - I’m No Longer Here
Noruega - Hope
Romênia - Collective
Rússia - Dear Comrades!
Taiwan - A Sun
Tunísia - The Man Who Sold His Skin
Aves de Rapina
Emma
The Glorias
Hillbilly Elegy
Jingle Jangle: A Christmas Journey
The Little Things
A Voz Suprema do Blues
Mank
Uma Noite em Miami…
Pinocchio
Ammonite
Blizzard of Souls
Destacamento Blood
O Homem Invisível
Jingle Jangle: A Christmas Journey
The Life Ahead (La Vita Davanti a Se)
The Little Things
Mank
O Céu da Meia-Noite
Minari
Mulan
News of the World
Soul
Tenet
Os Sete de Chicago
Turntables, de All In: The Fight for Democracy
See What You’ve Done, de Belly of the Beast
Wuhan Flu, de Borat: Fita de Cinema Seguinte
Husavik, de Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga
Never Break, de Giving Voice
Make It Work, de Jingle Jangle: A Christmas Journey
Fight For You, de Judas and the Black Messiah
lo Sì (Seen), de The Life Ahead (La Vita Davanti a Se)
Rain Song, de Minari
Show Me Your Soul, de Mr. Soul!
Loyal Brave True, de Mulan
Free, de The One and Only Ivan
Speak Now, de Uma Noite em Miami...
Green, de Sound of Metal
Hear My Voice, de Os Sete de Chicago
Burrow
Genius Loci
If Anything Happens I Love You
Kapaemahu
Opera
Out
The Snail and the Whale
To Gerard
Traces
Yes-People
Bittu
Da Yie
Feeling Through
The Human Voice
The Kicksled Choir
The Letter Room
The Present
Two Distant Strangers
The Van
White Eye
Aves de Rapina
Bloodshot
Love and Monsters
Mank
O Céu da Meia-Noite
Mulan
The One and Only Ivan
Soul
Tenet
Welcome to Chechnya
09 de fevereiro de 2021 | 05h00
O retrato é uma das mais fascinantes e difíceis linguagens fotográficas. Sempre foi, desde a invenção da fotografia. Mas, ao longo desta história de 189 anos, muitos foram os fotógrafos que se destacaram nesta seara. O retrato não é apenas a confirmação do seu ser e estar no mundo, mas também pode ser crítico, amostra da sociedade, narrativa de um tempo. E assim tem sido. No Brasil, onde encontramos vários retratistas, uma se destaca pelas suas imagens potentes: Madalena Schwartz (1921-1993).
Uma imigrante que sentiu na pele o que é ser segregada, mudar de país e encontrar sua representatividade. Madalena Schwartz é um exemplo de que a fotografia pode narrar sem ser declaratória. No ano de seu centenário, o Instituto Moreira Salles inaugura, nesta terça, 9, apenas uma parte, mas fundamental de seu olhar fotográfico: a exposição As Metamorfoses. A mostra exibe o ensaio no qual a fotógrafa registrou a cena alternativa de São Paulo, na primeira metade dos anos 1970, em plena ditadura militar. Há retratos de nomes como Ney Matogrosso e os integrantes do grupo Dzi Croquettes, até figuras hoje menos conhecidas.
Seu trabalho com intelectuais e artistas pode ser relacionado com o que o fotógrafo francês Félix Nadar (1820-1910) fez no século 19, retratando artistas parisienses – quase que um dicionário imagético.
No Brasil, Madalena tomou conta de uma lavanderia, em São Paulo, na Rua Nestor Pestana, local de teatros, bares, boates e encontro de artistas. Em 1966, ingressou como aluna no Foto Cine Clube Bandeirante, escola que trouxe o modernismo para a fotografia no Brasil, com trabalhos experimentais como a fotografia surrealista de Thomaz Farkas (1924-2011). É sua epifania.
Além disso, morava no icônico prédio Copan, no centro de São Paulo. Transformou sua casa em estúdio onde recebia e fotografava os personagens da vida noturna paulistana. Poucas fotos da exposição foram feitas em camarins. “Suas imagens não são uma fotografia crítica ou militante, mas trazem uma energia incrível da contracultura, da diversidade, da energia humana que estava circulando naquele momento”, relata Samuel Titan Jr., coordenador executivo do IMS que, ao lado de Gonzalo Aguilar, assina a curadoria da mostra.
A importância do trabalho de Madalena Schwartz, cujo arquivo está no IMS (são 16 mil negativos, 450 fotos coloridas que retratam personalidades, povos do Norte e Nordeste e travestis e transformistas), está em ajudar a compreender um importante período da sociedade brasileira. E, além das fotos de Madalena, a exposição traz imagens de autores latino-americanos que, também na década de 1970, retrataram cenas ou personagens que aparentemente estavam na invisibilidade. Em diálogo, a exposição traça um breve panorama da fotografia latina dedicada aos mesmos temas. São obras de coletivos e autores distintos, de países como Argentina, Chile e Bolívia. No total, a mostra reúne 112 fotografias de Madalena Schwartz, além de mais 70 itens, entre periódicos, documentos, filmes e imagens produzidas por outros fotógrafos. “Quisemos falar de Madalena trazendo também outros contemporâneos de sua época. Apresentar sua biografia também pela história da América Latina”, afirma Titan Jr.
08 de fevereiro de 2021 | 05h00
Roberto Menescal costuma dizer que Nara Leão era a cantora “mais inteligente” do Brasil. O compositor fala com propriedade, afinal, ambos vitorienses radicados desde cedo no Rio de Janeiro, conheceram-se ainda na infância, tiveram aulas de violão com o mesmo professor e foram amigos e companheiros de trabalho de uma vida toda.
É justamente essa inteligência a que Menescal se refere – não está restrita ao intelecto, mas também à capacidade de Nara se mover dentro da música brasileira de maneira particularmente racional – que o jornalista Tom Cardoso destrincha no recém-lançado perfil Ninguém Pode com Nara Leão – Uma Biografia.
Cardoso parte da (já batida) rixa entre Elis Regina (1945-1982) e Nara (1942-1989) para mostrar como a segunda estava longe de ser purista e sempre antenada no que estava por vir. Elis, que, desde 1965, ganhara um programa de televisão, O Fino da Bossa, após se consagrar como vencedora do I Festival de Música Brasileira com Arrastão, viu a audiência do seu musical semanal cair pelas tabelas com o avanço da Jovem Guarda, comandada por Roberto Carlos e sua turma.
Elis, então, ao lado de Edu Lobo, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré e o futuro tropicalista Gilberto Gil, saiu pelas ruas do centro de São Paulo em uma passeata de prestígio à música brasileira que entrou para a história como a Passeata Contra a Guitarra Elétrica, em 1965. Nara achou tudo um horror. O ocorrido alimentou a troca de farpas entre as duas por meio da imprensa.
Anos antes, Nara, chamada de musa da bossa nova, deu as costas para a turma que ensaiava no apartamento de seus pais, o advogado Jairo Leão e a professora Tinoca, de frente ao mar de Copacabana, e surpreendeu a todos ao gravar em seu disco de estreia, Nara, de 1964, sambas de Zé Kéti, Carlota e canções engajadas de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes.
A versão consagrada é a de que Nara rompeu com a bossa ao terminar seu namoro, em 1961, com o produtor e letrista Ronaldo Bôscoli, um dos líderes do movimento e responsável por torná-lo comercial, após ser traída. Cardoso, discorda.
“Não podemos reduzi-la a isso. Ruy (Castro, autor de livros como Chega de Saudade e A Onda Que Se Ergueu no Mar) é meio que dono da história da bossa, mas acho que ele contou a versão do ponto de vista do Bôscoli. Não foi uma desilusão amorosa que moveu a Nara. Sem fazer muito barulho, de maneira muito natural, ela era totalmente de vanguarda. Quando todo mundo esperava que ela gravasse os sucessos da bossa em seu primeiro disco, Nara, que àquela altura já estava envolvida com o pessoal do CPC (Centro Popular de Cultura) e do Cinema Novo, foi buscar os compositores do morro”, diz.
Cardoso também esmiúça o entrevero que Nara teve com o Exército, em 1966, dois anos após o Golpe de 1964. Em uma entrevista ao jornal Diário de Notícias, Nara defendeu a extinção do exército e disse que o Brasil tinha outras prioridades como construir escolas e hospitais. Também afirmou que os militares podiam entender de canhão, mas não sabiam nada de política.
Os militares não gostaram nada do que leram. O pai de Nara foi convocado para das explicações à sede do Ministério da Guerra. Jairo Leão não abaixou a cabeça. Disse que a filha era maior de idade e livre para dizer o que pensava.
Mais tarde, quando a AI-5 aumentou a perseguição aos opositores da ditadura, Nara, já casada com o cineasta Cacá Diegues, mudou-se para Paris, no fim de 1969, depois de dar por encerrada a carreira de cantora. Lá, na vida cotidiana, com a primeira filha, Isabel, nos braços, faz as pazes com a bossa nova e grava uma verdadeira antologia do gênero, Dez Anos Depois, com 24 canções, a maioria de Tom Jobim.
A vida e carreira de Nara já foram temas de outras duas biografias. A primeira escrita pelo jornalista (e amigo da cantora) Sérgio Cabral, Nara Leão – Uma Biografia, foi lançada em 2000. Outra, de 2008, pelas mãos do também jornalista Cássio Cavalcante, com o título de Nara Leão: A Musa dos Trópicos, tem quase 700 páginas.
O leitor mais atento perceberá que há diferentes relatos para um momento importante da vida da cantora. Os primeiros sintomas da doença que matou a cantora – um tumor no cérebro – apareceram em 1979. Quase seis anos depois do primeiro diagnóstico, participado pelo médico ao pai de Nara, a cantora ainda não sabia – ou preferiu não tomar conhecimento – da doença que lhe causava tonturas e lapsos de memória.
Após consulta e exames nos Estados Unidos, Nara pediu a Miguel Bacelar, seu empresário, que lhe contasse qual era a doença que tinha. De acordo com o narrado por Cabral, a conversa se deu dentro de um táxi. No texto de Cardoso, a revelação foi feita a Nara na sala de seu apartamento, no bairro do Leme.
Como Nara, uma mulher que sempre teve as rédeas da vida bem firmes em suas mãos, por opção ou excesso de proteção, ficou alheia a tudo, impedida até de tomar decisões de onde ou com quem se tratar? Cardoso opina: “É uma história delicada. O pai sempre foi muito centralizador. Nara, apesar dos sintomas, continuava a produzir, fazer shows e discos. Penso que, da parte dela, também teve aquela história de empurrar com a barriga. Foi tudo muito estranho. Ela tinha consciência de que as pessoas ao seu redor sabiam, mas não queria falar da doença”, comenta.
Além de detalhes da doença que matou Nara em 7 de junho de 1989, aos 47 anos, Cardoso, que optou por privilegiar fatos ligados à carreira da cantora, avança em outros dois acontecimentos da vida íntima de Nara. Um deles é o suicídio de Jairo, pai da artista, no apartamento que morava, em 1981 – algo que Cabral não detalhou.
Da vida amorosa, traz à tona o envolvimento de Nara com o poeta Ferreira Gullar (1930-2016), em 1965. A cantora, segundo consta no livro, chegou a pedir que o escritor, à época, casado com a produtora Tereza Aragão, a acompanhasse por uma viagem que pretendia fazer pelo interior do Brasil. O romance não evoluiu, mas a amizade permaneceu.
Em tempos de música digital, no qual informações e fichas técnicas dos álbuns são raras, Ninguém Pode com Nara Leão peca por não trazer em seus anexos a discografia atualizada da cantora – muitos de seus discos ganharam faixas extras quando foram reeditados em CDs há vinte anos. Também há coletâneas importantes que chegaram ao mercado com raridades e um box que trouxe três apresentações ao vivo de Nara.
Paula Bonelli
07 de fevereiro de 2021 | 00h50
Chegou a vez de Elza Soares. Aos 90 anos, a cantora recebeu a primeira dose da vacina contra o coronavírus nesta sexta-feira, 5, no Rio, em casa, com o início da imunização de idosos. “Posso voltar para o meu mundo, sair de dentro de casa”. A conquista não significa que pretende baixar a guarda. Com a folia em fevereiro desmarcada, ponderou: “Estamos atravessando uma fase muito difícil. É preciso ter consciência. Acho que o carnaval tem que ocorrer no próximo ano”.
Neste período de pandemia, ela compôs samba para a disputa do hino da Mocidade Independente de Padre Miguel, do próximo carnaval, sobre Oxóssi e o enredo “Batuque ao Caçador”. A canção de Elza, feita em grupo, homenageia também os ritmistas da escola e está muito bem cotada no concurso concorrendo com criações de Carlinhos Brown, D2, e Sandra de Sá entre outros.
A artista está cheia de planos e os exames de saúde mostram que Elza está em formas mas sente um pouco de dor por causa de um dos pinos que tem na coluna desde que sofreu um acidente na casa de shows Metropolitan, no Rio, em 1999 quando caiu do palco. Ela passou por cirurgias e a fazer show sentada. A seguir, os principais trechos da entrevista com Elza.
Eu me sinto segura, lógico. Sou pela ciência e é nisso que acredito. O resto é falatório sem comprovação. A ciência é tudo. Fico feliz por chegar minha vez, mas também fico muito preocupada com tanta gente que ainda não se vacinou, com tanta gente morrendo. Temos que correr e vacinar todo mundo para salvar a vida dessas pessoas.
Quais são seus planos agora que está vacinada?
Voltar para o meu mundo, sair de dentro de casa, viva a vacina, viva.
O Carnaval está suspenso, quando acha que a festa deve ocorrer?
Acho que as autoridades devem responder por mim. Estamos atravessando uma fase muito difícil. É preciso ter consciência. Acho que o carnaval tem que ocorrer no próximo ano.
Vamos nos garantir, já que sabemos que a coisa é tão terrível.
Como encara a pandemia?
Gente, tem pessoas que não levaram a sério a pandemia. É só pensar, raciocinar e ver que tem que levar a sério. O que os órgãos da saúde mandam tem que seguir. Foi o que eu fiz. Graças a Deus, eu não peguei covid, quem está do meu lado também não.
Pretende cantar e escrever sobre a pandemia?
Não é preciso cantar, a gente fala, grita, briga. Sei que o nosso povo é guerreiro e vai conseguir passar por isso. Mas temos que lutar, gente do céu, lutar outra vez, mais uma vez.
Existe preconceito contra os orixás e as religiões africanas?
Existe preconceito em tudo, mas continuo acreditando e está aí a composição que fiz para a Mocidade com amor e fala da religião em que acredito.
Há quem defenda que o País é miscigenado e que não tensão racial no Brasil. O que pensa sobre isso?
Ah, bonitinho, quem pensa isso é horrível, existe sim, por favor. Inclusive a carne mais barata do mercado é a carne negra, cantada por mim.
O que te inspira a cantar e compor?
O amor que eu tenho à minha vida me inspira a cantar e compor.
Como você lida com o envelhecimento?
É querer viver, deixa o tempo passar, graças a Deus estou tendo esta oportunidade de ver o tempo passar.
E seus próximos projetos?
Estou preparando um DVD, um disco de jazz que é o meu sonho, participo de documentários, filmes muita coisa pra viver gente.
/PAULA BONELLI
05 de fevereiro de 2021 | 15h21
O ator canadense Christopher Plummer morreu nesta sexta, 5, aos 91, em sua casa em Connecticut, segundo informou sua mulher Elaine Taylor, com quem era casado há 53 anos.
Plummer era uma das lendas de Hollywood, atuando em filmes como A Noviça Rebelde, O Homem que Queria Ser Rei e Elsa & Fred: Um Amor de Paixão. Ele ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante por Toda Forma de Amor (2010), tornando-se o mais velho ator a vencer nesta categoria (estava com 82 anos).
Plummer manteve uma carreira longeva, com 217 créditos em filmes, curtas e programas de televisão. Ele se tornou conhecido ao interpretar o capitão John Von Trapp ao lado de Julie Andrews, que viveu Maria, no filme A Noviça Rebelde, musical de enorme sucesso dirigido por Robert Wise em 1965. Mas, prova de sua importância cênica, foi novamente indicado ao Oscar recentemente, na categoria de ator principal, por Todo o Dinheiro do Mundo (2017), no qual substituiu às pressas Kevin Spacey, afastado por estar envolvido em denúncias de abusos sexuais.
Antes ainda, em 2009, tinha recebido outra indicação, novamente como coadjuvante, por A Última Estação.
Nascido em Toronto,no Canadá, em 13 de dezembro de 1929, Plummer se motivou a seguir a carreira artística depois de assistir ao filme de Laurence Olivier, Henry V, de 1944, que despertou uma paixão por Shakespeare que permaneceria com ele pelo resto de sua vida. Sua estreia na Broadway aconteceu em 1953 e, seis anos depois, ganhou sua primeira indicação ao Tony pelo drama J.B., mas sua carreira realmente explodiu quando ele estrelou, ao lado de Julie Andrews, como um rigoroso viúvo austríaco, que tratava militarmente seus filhos, em A Noviça Rebelde.
O musical logo se tornou uma das maiores bilheterias de todos os tempos, mas Plummer sempre nutriu sentimentos confusos sobre seu papel. "Nos filmes, acabei estigmatizado como um ator romântico mas bastante tenso, quando, na verdade, queria fazer tantas coisas mais interessantes - e era capaz de fazê-las", disse ele em 2005. "Em vez disso, estava ficando bastante preso a esse perfil. Pelo menos, eu estava ganhando dinheiro. E podia fazer teatro."
Nos palcos, seu talento foi reconhecido, com os dois prêmios Tony recebidos (pelo musical Cyrano e por Barrymore), além de outras sete indicações – a mais recentes vieram em 2004, por Rei Lear, de Shakespeare, e três anos depois, pelo belo trabalho em Inherit the Wind.
De fato, o talento de Plummer logo se impôs e ele conseguiria participar de filmes variados, desde a ficção científica de Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida (1991) até Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011), sem se esquecer de dublar um personagem na animação Up – Altas Aventuras (2009) e de também ceder a voz para um game inspirado na saga Star Trek.
Sua disposição parecia infinita, pois não cessou de trabalhar nos últimos anos. Participou, por exemplo, da ação Entre Facas e Segredos e também de Verdade e Honra, ambos de 2019. E ainda emprestou sua bela e imponente voz para Heroes of Golden Masks, que ainda está em filmagem.
Para Plummer, definitivamente não existia aposentadoria. Ele gostava de dizer que sempre encontrava um papel para sua idade, mesmo com o passar dos anos, o que normalmente empurram os atores para uma aposentadoria forçada. “Acho que um dia, quando não existirem mais peças para mim, estarei salvo pois sempre haverá Matusalém”, brincou em entrevista ao site Entertainment Weekly, em 2005. “E talvez Deus. E então é isso.”
04 de fevereiro de 2021 | 19h17
O criador de um dos grupos percussivos mais importantes do país, Fernando Barba, morreu nessa quinta, aos 49 anos. Uma nota divulgada pelo grupo e seus familiares lamentou a partida do artista: “É com profundo pesar que nós do grupo Barbatuques informamos aos nossos fãs, amigos e parceiros de trabalho, o falecimento do nosso fundador e eterno mestre Fernando Barbosa. Barba fez sua passagem nesta madrugada. Nesse momento de dor tão intensa, não temos informações se haverá a possibilidade de uma despedida aberta aos amigos devido aos protocolos da Covid-19. Permanecem nosso eterno amor e gratidão a esse músico genial que tanto fez pela música brasileira e cativou corações por todos os lugares do mundo onde passou.”
Tudo sobre Barbatuques
Barba sofria de limitações neurológicas desde 2017, quando foi diagnosticado com tumor no cérebro e precisou fazer uma cirurgia. As sequelas não foram superadas e ele decidiu se afastar do grupo que havia concebido. Na manhã deesta quinta (4), após quase quatro anos de uma luta diária, Barba desistiu de viver. A família, mesmo devastada, respeita sua decisão e pede que a imprensa não dê detalhes do suicídio.
O Barbatuques é seu maior legado. O grupo que Barba concebeu tem um pensamento de percussão completamente diferente dos outros, com integrantes que usam todo o corpo, incluindo a voz, como um verdadeiro instrumento percussivo. Seu legado segue defendido por alguns dos melhores amigos e instrumentistas corporais que fez em sua trajetória.
03 de fevereiro de 2021 | 11h00
As conversas não foram muito longe. Mas quem poderia culpá-lo por imaginar que poderia dar certo - que alguém poderia simplesmente querer tocar no Super Bowl e, alguns telefonemas depois, de fato tocar para 100 milhões de telespectadores? Nos últimos 25 anos, o Foo Fighters tem crescido a firme compasso, deixando de ser o projeto de um homem só para se tornar uma genuína instituição do rock. “É quase como se fôssemos agricultores, e a lavoura continua crescendo”, disse Grohl sobre as conquistas da banda. “Aí nós colhemos e a lavoura cresce um pouco mais, aí nós colhemos e a lavoura cresce um pouco mais”.
Embora sua música tenha partido do espectro que antes era considerado “alternativo”, os Foos se deixaram associar confortavelmente a um estilo de rock pesado e cheio de adrenalina, entregue em shows que geralmente ultrapassam a marca das duas horas. Ainda que esse som tenha permitido à banda construir um negócio lucrativo - sua turnê mundial do álbum Concrete and Gold, de 2017, arrecadou US$ 114 milhões, de acordo com o comércio da indústria Pollstar - o rock não lidera a indústria fonográfica há mais de uma década. A banda não tem um single no Top 40 desde 2007.
No entanto, os Foo Fighters ocupam um espaço raro: uma banda com apelo mainstream, liderada por uma estrela inegavelmente famosa que ainda não se sente um estadista envelhecido. Abençoados com uma energia implacável e uma lista de contatos robusta, eles são chamados sempre que é preciso tocar rock com alegria e seriedade, seja no late-night show de David Letterman, num estrelado tributo a Prince no Grammy, num show beneficente para ajudar músicos afetado pelo coronavírus, no Kennedy Center Honors ou num evento de arrecadação de fundos para a campanha presidencial democrata. Não importa onde os Foo Fighters apareçam: a banda sempre faz sentido.
Pelo menos em parte, isso é resultado da consistência: por estar sempre aí, sem gerar polêmicas, só lançando inúmeros hits com poder de duração, os Foo Fighters ficaram conhecidos por várias gerações. O Nirvana continua sendo uma banda importante para sucessivas gerações de jovens, e Grohl sempre será um de seus integrantes. Mas, se as estrelas do rock de antigamente pareciam ícones inacessíveis, Grohl parece um cara comum, acessível, alguém com quem você realmente poderia tomar uma cerveja. E com o passar dos anos, enquanto muitos de seus colegas morriam ou se afastavam dos holofotes, ele seguiu em frente, sobrevivente de sua antiga banda, de sua era, das sucessivas modas e tendências. Nada disso parece ter diminuído sua infatigável positividade, tudo o que ele canaliza para invocar aquela catarse comunal do rock 'n' roll, sempre que necessário.
Seu novo álbum, Medicine at Midnight, que será lançado na sexta-feira, 6, traz uma reviravolta sutil, mas perceptível. Sem abandonar suas tradicionais guitarras distorcidas e uivos expansivos, os Foos incorporaram funk e ritmos dançantes em suas novas canções, influenciados por artistas como David Bowie e os Rolling Stones, que fizeram o mesmo.
A ironia de lançar um álbum dançante quando a música ao vivo continua indefinidamente adiada não passou despercebida por ninguém, nem mesmo por Grohl, que continua sendo a força motriz criativa da banda. Quando conversamos, ele não mostrou nenhuma vergonha de suas ambições, mas seu jeito amistoso contrasta com foco monomaníaco necessário para ser tão produtivo. Trabalho duro não é uma característica muito associada ao rock, mas os Foos têm feito em média um álbum novo a cada três anos desde o início, e raramente ficam dormentes por mais de alguns meses de cada vez. “Ele não fica preso às próprias ideias”, disse o tecladista Rami Jaffee, que começou a tocar com a banda em 2005 e ingressou como membro permanente em 2017. “O negócio é só avançar a toda velocidade”.
O baterista Taylor Hawkins foi mais direto. “Quero ser a maior banda do mundo”, disse ele. “Não tenho dúvida nenhuma (palavrão), e Dave também não tem. Acho que ele nunca teve”.
Sem uma turnê em que embarcar, os Foos iniciaram uma campanha promocional pela internet. Junto com Greg Kurstin, o produtor de Medicine at Midnight, Grohl lançou uma série de covers de músicos judeus, como Drake e Beastie Boys, em homenagem ao Hanucá; ele também enfrentou uma batalha de bateria com Nandi Bushell, baterista britânica de 10 anos de idade; e lançou um perfil no Instagram onde conta algumas histórias engraçadas de sua vida. Já a banda mergulhou em transmissões de lives; e seus integrantes se reuniram na mesma sala para tocar Times Like These e comentar uma apresentação de slides com fotos selecionadas ao longo dos 25 anos da banda. Também há planos de lançar um documentário sobre turnês em vans, e um membro deixou escapar algo sobre um projeto de filme.
A longa jornada de Grohl pela indústria da música começou em meados dos anos 80, quando largou o colégio para tocar bateria na banda de hardcore Scream, em Washington, D.C. Depois que a banda acabou, ele foi convidado para fazer um teste para a vaga de baterista do Nirvana, na época uma banda emergente de Seattle. Não muito depois, o Nirvana gravou e lançou Nevermind, um grande sucesso da indústria que inclinou o eixo do gosto popular em direção ao rock angustiado.
Butch Vig, que produziu Nevermind em 1991, lembrou que Kurt Cobain exaltava Grohl como “o maior baterista do mundo” e se maravilhava com a força de suas batidas no estúdio. “Mas o que mais me impressionava era que ele tinha uma energia incrível - ele trouxe muita vida e poder para a banda, mas também alguma leveza”, disse Vig. “Conforme a banda evoluía e virava um grande sucesso, pude ver Kurt internalizar todo o peso do mundo, e Dave continuou trazendo um senso de humor e uma alegria para tudo o que o Nirvana estava fazendo”.
Depois do suicídio de Cobain, em 1994, Grohl recebeu várias ofertas de outros empregos na bateria, até mesmo uma posição de tempo integral com Tom Petty, mas decidiu seguir seu próprio projeto solo: Foo Fighters, nome derivado de uma expressão usada na Segunda Guerra Mundial para designar Ovnis. Ele acabou tocando todos os instrumentos naquele que se tornaria o álbum de estreia do grupo em 1995 e recrutou o ex-guitarrista do Nirvana Pat Smear, além do baixista Nate Mendel e do baterista William Goldsmith do grupo proto-emo Sunny Day Real Estate, para formar uma banda para a turnê.
Nos anos seguintes, os Foos fizeram turnês e gravaram furiosamente, lançando vários singles que se tornaram sinônimo de rock nas rádios: Everlong, My Hero, Learn to Fly. Apesar do sucesso, havia pouca estabilidade: Goldsmith foi substituído por Hawkins; Smear saiu por causa de pressões da turnê (e voltou em 2005); Mendel quase desistiu também. “Durante muito tempo, cada álbum parecia ser o último”, disse Grohl. Eles quase se separaram durante a gravação do álbum One by One de 2002, durante o qual descartaram o álbum inteiro em meio a uma escalada na tensão interpessoal.
“Foi a primeira vez em que realmente nos deparamos com qualquer tipo de obstáculo”, disse Mendel. Quando a poeira baixou, depois muitas conversas francas, One by One foi regravado com sucesso e recebeu aclamação comercial, e a banda finalmente emergiu como uma unidade estável.
Geralmente, Grohl pede à banda para expandir quaisquer demos e ideias que ele traga para o estúdio, mas, no caso de Medicine at Midnight, seus conceitos foram formados de forma mais completa. “Comecei a pensar em bases, grooves e ritmos, mantendo os grandes refrões que sempre tivemos, mas enquadrando tudo de um jeito que não fosse 200 batidas por minuto, gritando que nem condenado”, disse Grohl.
A vibe lânguida de Shame Shame é uma novidade; o ritmo elástico de Cloudspotter abre mais espaço para as guitarras distorcidas respirarem. Grohl citou Abba várias vezes ao falar sobre seus pontos de referência sonoros, e o baterista Omar Hakim - que tocou em Let’s Dance de Bowie - aparece em várias faixas. “A ideia de ouvir uma de nossas músicas tocando numa festa dançante (palavrão) parecia totalmente irracional, mas depois pensei: ‘Por que não?’”, disse Grohl.
Depois da nossa primeira conversa, a banda realizou mais um feito: show na cerimônia de posse. A conexão com a campanha do presidente Joe Biden começara no outono, quando Grohl, sua mãe, Virginia, e Jill Biden se encontraram numa chamada de Zoom sobre educação (Virginia foi professora de escola pública por 35 anos). Numa convergência de circunstância com oportunidade que funcionou perfeitamente, como as coisas tendem a acontecer com a banda, os Foos também tocaram no Saturday Night Live na noite em que Biden foi declarado o vencedor da eleição - uma apresentação que aconteceu só quatro dias depois do convite.
Para a cerimônia de posse, não havia nenhuma dúvida sobre o que eles iriam tocar: a esperançosa Times Like These, uma faixa lançada há quase 20 anos que perdurou como um hino inflexível e otimista, onde a voz de Grohl vai de terna a trovejante à medida que ele conclama um novo começo. Não importa em que ano a música seja tocada, Times Like These sempre olha para o futuro, imbuída de um espírito de renovação muito parecido com o próprio Grohl. Nas redes sociais, a resposta foi extremamente positiva; mais do que isso, a banda foi saudada como um velho amigo. Mais uma vez, Foo Fighters fazia todo sentido.
Acima de tudo, Grohl mantém uma forte crença no poder unificador da música - na criação de um espaço onde as pessoas possam se juntar e gritar para sentir alguma coisa. Como ele explicou, tudo o que a banda fez e continua fazendo decorre desse propósito muito claro.
“Só quero ficar vivo e fazer música, especialmente depois do Nirvana”, disse ele. “Quando Kurt morreu, eu realmente acordei no dia seguinte e me senti muito sortudo por estar vivo e muito triste por alguém ter simplesmente desaparecido. Decidi me valer desse sentimento, pelo resto da minha vida”.
Ao longo de nossas conversas, ele demonstrou saber muito bem o que as pessoas esperam do Foo Fighters, mas não assumiu essa responsabilidade levianamente. “Para mim, a banda sempre representou essa continuação da vida”, acrescentou. “Fomos acusados de ser a banda menos perigosa do mundo, e acho que isso se justifica, de certa forma, porque sei o que é estar naquela outra banda e sei aonde isso pode levar. Não é por isso que faço música. Não é por isso que comecei a fazer música. E não é por isso que ainda faço música”. Afinal, ele já tocou na maior banda do mundo. E por que não tocar de novo?
02 de fevereiro de 2021 | 17h33
Um beijo apaixonado digno do final de um lindo filme romântico. Frida Kahlo e Diego Rivera são assim surpreendidos pelas lentes de sua amiga Lucienne Bloch, cujas fotografias são exibidas pela primeira vez em Paris. Embora tudo pareça ter sido dito sobre a artista mexicana (1907-1954), uma das mais proeminentes do século 20, uma pequena galeria agora oferece um novo e intimista olhar sobre sua passagem pelos Estados Unidos na década de 1930, em uma mostra que atrai centenas de curiosos nos finais de semana.
10 fatos incríveis sobre a pintora mexicana Frida Kahlo
As fotos chegaram à dona da Galerie de l'Instant por acaso, quando em 2019 ela descobriu, vasculhando uma caixa em uma sala de Nova York, a imagem de uma jovem Frida Kahlo posando sob um autorretrato. Era a mesma que a havia fascinado dias antes, quando a viu em uma exposição no Museu do Brooklyn. “Comprei a foto e postei no Instagram. Pouco depois, Lucienne Allen, a neta da fotógrafa, me contatou! Não a deixei mais sozinha até que ela me deu permissão para organizar a exposição”, confidenciou Julia Gragnon à AFP.
A fotografia em que o casal de artistas revolucionários se abraçam e se beijam, com o rosto iluminado pela luz que entra pela janela, é sem dúvida uma das mais marcantes. “Teve uma mulher que se apaixonou, veio oito dias seguidos para olhar para ela. Ela acabou comprando”, explica Granon.
A versátil artista também imortalizou o mural que Rivera começou a pintar para o Rockefeller Center em Nova York: Frida posa diante da obra semiacabada, à esquerda uma caixa de pincéis, à direita uma escada. “A obra causou escândalo. Não é difícil imaginar a reação de Rockefeller ao ver Lenin, Trotsky e companhia no mural que encomendou. Não se devia esperar que Diego fosse tão comunista", diz Gragnon.
O proprietário explica que as mulheres são a maioria dos visitantes. “São muito sensíveis à história de Kahlo”, uma artista pioneira e empenhada, de grande talento e forte personalidade, cuja vida também foi marcada pela dor física, um casamento tumultuado e a impossibilidade de ter filhos. Mas jovens estudantes também visitam a mostra. “Todos reconhecem a sua imagem, a viram nas camisetas, nas canecas. Mas muitos descobrem que existiu mesmo”. A exposição vai até o final de março, além do que estava inicialmente planejado. “Nos finais de semana é uma loucura, há filas que quase dão a volta no quarteirão e somos apenas uma pequena galeria. Dá para perceber que as pessoas têm fome de cultura", com museus fechados em Paris por conta da pandemia.... - AFP
02 de fevereiro de 2021 | 05h00
O mundo já começa a comemorar o centenário de nascimento de Astor Piazzolla, um dos maiores músicos do século 20, responsável por uma revolução no tradicionalíssimo tango argentino. A data exata é 11 de março de 1921. Mal comparando, Piazzolla está para o tango como Tom Jobim para a música brasileira – um divisor de águas, responsável por uma revolução artística raríssima: transformou um gênero totalmente estratificado em laboratório de pesquisas para novos vôos instrumentais. De repente, o tango propiciou improvisos, como o jazz (e também a bossa nova por aqui).
Não por acaso, ele nasceu na Argentina mas passou a meninice e adolescência em Nova York, com a família. Eles retornaram a Buenos Aires em 1937. Dois anos depois, já atuava na orquestra de Anibal Troillo. Depois de uma passagem por Paris, onde estudou com Nadia Boulanger, empreendeu a partir de 1955, com seu Octeto Buenos
Qual o maior diferencial de grandes músicos como Tom e Astor? Com certeza, sua concepção inclusiva da música. Eles trafegaram com a mesma sabedoria e expertise pelo mundo dito erudito e também pela música popular. Ampliaram o alcance de suas criações, sem abrir mão da qualidade de invenção. Afinal, todo músico não-nascido na Europa convive com estas duas tradições: de um lado, a europeia branca, estratificada por séculos de domínio que lhe deram espaço para enfiar nos corações e mentes do público e dos músicos dos demais continentes de que aquela – e só aquela – era a grande música. Quem olha com atenção para o seu entorno não pode limitar-se a colocar como maçã de ouro no pau-de-sebo a música clássica europeia. Ao contrário, acaba operando uma fusão virtuosa em que “nuestras buenas cualidades” ultrapassam confrontos oriundos de um nacionalismo estrito, tosco, e passam a dialogar com outras tradições musicais, não só europeias, em pé de igualdade.
Uma corda bamba sobre a qual é obrigatório caminhar. Alguns momentos-chaves de suas vidas nos ajudam a entender melhor sua grandeza. No caso de Piazzolla, foram duas epifanias.
A primeira aconteceu em 1933, em Nova York. Emocionado, o menino de 12 anos entrou no apartamento penthouse de Carlos Gardel em 28 de dezembro de 1935. Levava uma escultura em madeira de um gaúcho tocando violão feita por seu pai Vicente, coisa de fã, para o grande astro do tango que viera a Nova York para gravar programas para a NBC. Começava ali uma curta porém intensa amizade entre eles. Gardel não falava inglês e pediu-lhe que o acompanhasse em passeios por Manhattan. Foi assim que Astor tocou seu bandoneón para o ídolo e o ajudou a comprar na Saks da Quinta Avenida uma batelada de 20 camisas listradas multicoloridas, as suas preferidas. Como intérprete de inglês, o menino tirou nota 10. Mas Gardel não gostou do modo como tocava tango: “Mira, pibe, el fueye lo tocas fenómeno, pero el tango lo tocas como un galego”, em autêntico lunfardo, gíria portenha. O menino chegou a atuar em 1935 como jornaleiro em El día que me quieras, terceiro filme de Gardel em Hollywood. Não sei se o menino presenciou, mas deve ter ouvido a então muito divulgada observação de um executivo de Hollywood ao ouvir Gardel: “Ele tem uma lágrima na garganta”.
Talvez a chave para entendermos a essência não só do tango, mas da música revolucionária de Piazzolla, seja esta: ele transportou para a música instrumental o poder inigualável de um gênero essencialmente popular, nascido e nutrido no baixo mundo portenho. As letras são melancólicas, trágicas até o épico (um épico meio brega, reconheça-se), que nos adentram alma feito punhais de sentimentos, diria um poetastro parnasiano. Pois me atrevo a afirmar que Piazzolla cultiva uma lágrima em seu bandoneón, como Gardel na garganta.
Lágrimas, entretanto, não significam necessariamente música de qualidade. Aqui, Astor teve uma dupla epifania: primeiro, adolescente conviveu com o blues e as big bands na Nova York dos anos 1930. A volta a Buenos Aires marcou o mergulho mais fundo no universo do tango portenho, por meio do trabalho com o grande Anibal Troillo, para o qual fez arranjos e com quem, aliás, tocou em 1952 no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, sua Sinfonietta para orquestra de câmara opus 19 foi escolhida pela crítica argentina como melhor obra erudita. Graças a outro prêmio, também ganhou bolsa de estudos do governo francês. Lá encontrou a célebre professora francesa Nadia Boulanger (1887-1979). Foi sua epifania final – e mais significativa. Nadia foi a maior parteira dos grandes músicos do século 20 – e não só eruditos. Pierre Boulez e Leonard Bernstein, Aaron Copland e Egberto Gismonti, Almeida Prado e Quincy Jones – todos a idolatraram. Ela sabia encaminhá-los para suas verdadeiras vocações. “Foi como estudar com minha mãe”, disse Astor amorosamente. Depois de ouvir sua Sinfonietta citada acima, ela foi direta: “É música bem escrita, mas falta-lhe sentimento”. Ele caiu em depressão por alguns dias. Nadia então perguntou-lhe que música tocava na Argentina. “A contragosto, admitiu que era tango”, escreve Maria Suysana Azzi, co-autora com Simon Collier do livro Le Grand Tango – the life and music of Astor Piazzolla, 2000). “Mas eu adoro tango. E em que instrumento você toca tango? Imagino que não seja o piano”. Mesmo sabendo que era o bandoneón, pediu-lhe que tocasse um tango ao piano . No oitavo compasso, interrompeu-o: “Isto é Piazzolla!”. Em entrevistas posteriores, Astor reconheceu a epifania:”Ela me ajudou a me encontrar comigo mesmo”,
A lágrima jamais lhe abandonou os dedos, fosse ao bandoneón ou compondo e arranjando música da mais alta qualidade.
Em 1990, antes de sofrer um AVC que o levaria à morte dois anos depois, no dia 4 de julho de 1992, Astor “previu” o futuro glorioso de sua música: “Tenho esperança que minha obra será ouvida em 2020. E no ano 3000 também. Às vezes tenho certeza disso, porque a música que faço é diferente... Terei um lugar na História, como Gardel... Minha música pode agradar ou não, mas ninguém pode negar que ela é boa: é bem orquestrada, é nova, é deste século, e tem o perfume do tango, que é o que a torna atraente no mundo inteiro”.
Piazzolla y Noneto – 1h07’ – um desfile de suas mais conhecidas criações
Concerto duplo para violão, bandoneón e cordas, com Yamandu Costa e Richard Galliano (solistas) e seção de cordas da Orquestra. de Paris, regência de Alondra de la Parra – Paris, 15 de julho de 2015
“Reunión Cumbre: Piazzola & Mulligan Itália, 1974 - 37’
Eight Seasons – as “Quatro Estações” de Vivaldi e as “Cuatro Estaciones Porteñas”, de Piazzolla, com o violinista Gidon Kremer & Kremerata Baltica. Álbum Nonesuch,(2006)
“Maria de Buenos Aires” (álbum duplo Warner, 2018) – relançamento de gravação liderada por Gidon Kremer e Horácio Ferrer, com solistas, Coral Lírico de Buenos Aires e Kremerata Baltica,
01 de fevereiro de 2021 | 05h00
Talvez o público não saiba quem seja Rubens Antônio da Silva, mas certamente conhece o músico pelo apelido que o notabilizou: Caçulinha. Sua projeção veio na TV, tocando em programas da Record, Bandeirantes, Globo e Gazeta, mas é a dedicação à música que está na raiz, na essência de sua carreira. E é justamente essa trajetória musical que ele celebra no disco Caçulinha – 60 Anos de Música, lançado pela Kuarup nas plataformas de streaming e também em versão física.
Com produção de Thiago Marques Luiz, o álbum foi gravado ao vivo, no Teatro Itália, em São Paulo, em 2019, com a participação de cantores de diferentes gerações, como os contemporâneos Sérgio Reis, Agnaldo Rayol, Claudette Soares e Wanderléa, além de Daniel, Thobias da Vai-Vai, Zé Luiz Mazziotti, Mônica Salmaso, Simoninha e Ayrton Montarroyos. Ele também dividiu o palco com a irmã, Wanda Carvalheiro, ela cantando Quem Me Levará Sou Eu (Dominguinhos e Manduka). Foram belos encontros.
E esse formato do projeto comemorativo não poderia ser diferente: Caçulinha no acordeon e no piano, e seus convidados nos vocais. Afinal, aos 80 anos, o músico nascido em São Paulo se orgulha de ter acompanhado uma longa lista de cantores, nos programas de TV e nos palcos, nas últimas seis décadas. Caçulinha se lembra dos primeiros trabalhos com Wanderléa, Agnaldo Rayol e Claudette Soares. “São todas pessoas que eu acompanhava no tempo de O Fino da Bossa, na Record. Cheguei a acompanhar todos eles: Agnaldo, Wanderléa. A Claudette é minha contemporânea fazendo jingle na RGE”, diz ele, em entrevista ao Estadão, por telefone. Já Sérgio Reis, ele conhece desde os tempos do disco de estreia do cantor, Coração de Papel, de 1967. “Gravei com ele vários sucessos, como Cavalo Preto, por exemplo, sou eu na sanfona.”
O repertório do disco faz um pequeno panorama de músicas que ele gosta pessoalmente. “Eu me norteei no sucesso das pessoas do passado. Muita coisa que eu gravei foi pensando em pessoas que acompanhei.” Ai Que Saudade da Amélia, que está no Pot-pourri Ataulfo Alves, na voz de Thobias da Vai-Vai, tem uma história curiosa. Caçulinha conta que, na época do programa Jovem Guarda, exibido nos anos 1960, ele e Nilton Travesso sugeriram a Roberto Carlos que ele cantasse essa música. “Falei: os pais das crianças e as crianças, você já dominou. Agora você vai tomar conta dos mais velhos, e ele tomou conta mesmo”, afirma. “Ele cantou Amélia, foi o maior sucesso no Brasil.”
Caçulinha tocava com seu regional no programa Jovem Guarda, apresentado por Roberto, Erasmo Carlos e Wanderléa, ao mesmo tempo que estava em O Fino da Bossa, ciceroneado por Elis Regina e Jair Rodrigues – mas Elis não escondia de Caçulinha o ciúmes que ela tinha de ele participar de outros programas da Record além do dela. Ele se diverte com a lembrança.
A trajetória de Caçulinha se mistura com momentos importantes da música e da televisão no Brasil. E sua história, de certa forma, está ligada à jornada do pai, Mariano, que com seu tio, Caçula, formou uma dupla, em Piracicaba. “Eles fizeram a primeira dupla caipira.” Tempos depois, os dois se mudaram para São Paulo, a convite do jornalista e escritor Cornélio Pires.
Houve a separação da dupla, Mariano se juntou com outros parceiros, mas acabou chamando o filho para se apresentar com ele. O apelido Caçulinha foi uma homenagem ao tio. “Eu estava estudando no conservatório, mas não era músico profissional.” Seu primeiro disco solo veio em 1959. Foram mais de 30 trabalhos lançados ao longo da carreira.
Na TV, além do destaque em programas da Record, Caçulinha ficou famoso por fazer parte do Domingão do Faustão, na Globo, onde ficou por mais de 25 anos. Ele saiu do Domingão em 2014, e em 2015, passou a participar do Todo Seu, de Ronnie Von, na TV Gazeta, onde ficou até o programa chegar ao fim, em 2019. E por que ele saiu do Domingão? Segundo o músico, Faustão “foi acabando com os musicais, trazia gente que fazia playbacks”. “Ninguém queria cantar ao vivo, porque, para cantar ao vivo, tem que saber, não é para qualquer um.” A parceria profissional terminou, mas a amizade se manteve.
Sobre a saída de Faustão da Globo, anunciada semana passada, Caçulinha diz que o apresentador “é imprevisível”. “Não se sabe a cabeça dele: hoje está assim, daqui a uns tempos: ‘não vou sair nada, vou continuar, é uma vez por semana’. Ninguém sabe”, opina. “Ele gosta do que faz. Se não gostasse, não ficava tantos anos fazendo isso.”
30 de janeiro de 2021 | 18h33
O produtor musical e guitarrista Líber Gadelha morreu aos 64 anos, vítima de covid-19. Ele estava internado em um hospital no Rio de Janeiro. Nas redes sociais, Luiza Possi, filha do produtor, confirmou a morte de Gadelha. "É com uma dor imensa e o coração na mão que eu venho aqui hoje dizer que o Nosso Guerreiro descansou. Escolhi essa foto que foi feita após um show nosso e estávamos felicíssimos!", escreveu a cantora.
Nos anos 1980, o produtor conheceu Zizi Possi e lançou diversos álbuns da cantora, além parcerias. A relação virou romance e do casamento nasceu Luiza Possi, em 1984. "É assim que vou te guardar meu pai. Dentro de mim", comentou a filha do produtor na postagem. "Eu e meus irmãos, Marcela e Bernardo, e todos os familiares agradecemos demais todas as orações de vocês. Um beijo do que sobrou de mim."
30 de janeiro de 2021 | 05h00
Nome central do concretismo brasileiro, o carioca Ivan Serpa (1923-1973) integrou o histórico Grupo Frente e foi mestre de artistas consagrados como Hélio Oiticica (1937-1980) e Waltercio Caldas. Pela primeira vez serão mostrados alguns trabalhos raros na grande retrospectiva dedicada ao pintor pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo, que será aberta no dia 3 de fevereiro com 200 obras suas. A mostra cobre todos os períodos da produção de Serpa, do final dos anos 1940 até o último trabalho produzido pelo artista dois dias antes de sua morte, de ataque cardíaco e derrame, em 19 de abril de 1973 – o desenho de um rosto angustiado, mas não exasperado como os de sua Série Negra, sua incursão no expressionismo, em 1964, após anos dedicados ao abstracionismo geométrico.
Até porque ficou conhecido por sua filiação ao movimento concreto, grande parte das obras expostas no CCBB é abstrata. No entanto, por ser um artista marcado pela pluralidade, todas as suas fases e técnicas estão representadas na retrospectiva, em especial as obras geométricas dos anos 1950 – período de fecunda atividade, em que cria, ao lado dos críticos Ferreira Gullar e Mário Pedrosa, o grupo Frente (1954), o front carioca do concretismo no qual figuravam Aluísio Carvão, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape e Franz Weissmann. Com a dissolução do grupo em 1956, Ivan Serpa, cuja paixão pela Europa foi alimentada por uma tia francesa, seguiu para o continente em 1957 com um prêmio do Salão Nacional de Arte Moderna e lá permaneceu até 1959, quando voltou ao Brasil.
“Nessa viagem pela Europa, ele se encontrou com Max Bill e ficou chocado ao descobrir que o principal artista concreto da Suíça deixava para terceiros a tarefa de executar seus projetos”, conta Lontra – vale lembrar que, em 1951, ao ganhar o prêmio de melhor pintor jovem na primeira edição da Bienal de São Paulo, toda a comunidade dos concretos o saudou. Inclusive Max Bill.
Ivan Serpa amava, antes de tudo, o trabalho artesanal. Meticuloso, era capaz de reproduzir o caminho de cupins devoradores de livros em seu trabalho, só de observar essa devastação, quando trabalhou como restaurador da Biblioteca Nacional. É o caso da série Anóbios (produzida entre 1961 e 1962), exposta na retrospectiva de Serpa ao lado de outras séries como Op-Erótica, Amazônica, Geomântica e Mulher e Bicho.
Op-Erótica (1967) é uma espécie de Suíte Vollard picassiana vista sob o ângulo da op art, em que mulheres contracenam com bestas – por seu conteúdo, ela ocupa o “cofre’ no subsolo do CCBB. Os curadores Marcus de Lontra Costa e Hélio Márcio Ferreira optaram por uma montagem cronológica. Assim, no subsolo está seu desenho mais antigo, de 1949, além de magníficos trabalhos da série Antiletras, que cria novos signos ao subverter letras impressas por sobreposições caligráficas. No primeiro andar estão seus materiais de pintura e seu último desenho. No segundo, as pinturas concretas dos anos 1950. No terceiro, a mais terrível das salas: as obras da Série Negra (1964), o expressionismo radical que faz referência aos famintos de Biafra e às vítimas da guerra do Vietnã. Finalmente, no quarto e último andar, a volta à geometria com cores fortes e certa remissão às teorias cromáticas de Josef Albers.
Dito assim, pode parecer que tantas mudanças em apenas 50 anos de vida são um exagero, mas não quando se tem pressa como Ivan Serpa. Ao nascer, foi diagnosticado com cardiopatia congênita grave e seus pais tiveram de lidar com a possibilidade de o menino não chegar à adolescência. Ainda assim ele completou 50 anos – no dia de sua morte.
Ele perdeu a mãe cedo e foi criado por uma tia francesa, artista de teatro que o iniciou nas artes, exercendo forte influência sobre Serpa. “É curioso que, ao ganhar o prêmio Viagem do Salão Nacional, era esperado que Serpa se instalasse em Paris, por causa da tia, mas ele preferiu outros países, como a Espanha, onde conheceu o poeta João Cabral de Melo Neto”, lembra o curador Marcus Lontra.
Na volta, a aproximação com a arte gestual resulta numa pintura de caráter expressionista que transmite a angústia do pintor diante de um mundo caótico, marcado por guerras ideológicas – como a do Vietnã – e a fome (em Biafra, por exemplo). A arte concreta já não respondia às grandes questões de Serpa. “Não parecia fazer sentido a ordem e a rigidez geométrica num mundo como esse, destroçado”, observa Lontra. O resultado foi o advento da Série Negra, que o aproximou dos artistas ligados à Nova Objetividade brasileira.
O nome deriva de uma mostra realizada no MAM carioca em 1967, em que a figura dominante foi mesmo Hélio Oiticica, aluno de Serpa, que propôs com o movimento uma reflexão sobre o papel das vanguardas brasileiras. Serpa, por essa época, estava antenado com a arte pop e a arte op, como muitos de sua geração. É desse ano sua série de desenhos eróticos exposta na retrospectiva. No fim da vida, Serva volta à abstração em pinturas que retomam o caminho do construtivismo.
29 de janeiro de 2021 | 05h00
De “Charles Chaplin subdesenvolvido”, no entender de Nelson Rodrigues, a fenômeno da comunicação de massa, na análise do pensador francês Edgar Morin, o fato é que Chacrinha foi o mais original e revolucionário dos apresentadores de programa de auditório da TV brasileira. Com o dom do improviso e senhor de uma alegria circense, ele desestruturou regras de um meio que sempre dependeu da organização. “Foi um revolucionário, um cara totalmente disruptivo e que transformou tudo por onde passou. Ao mesmo tempo que apresentava uma característica de palhaço, também tinha do comunicador de massa com uma inteligência impressionante”, observa Micael Langer que, ao lado de Claudio Manoel, é diretor do documentário Chacrinha – Eu Vim Para Confundir e Não Para Explicar, que estreia nos cinemas na semana em que Fausto Silva, cujo programa praticamente substituiu o do Velho Guerreiro na Globo, anunciou sua saída, após 32 anos no ar.
Trata-se de uma variada coleção depoimentos – alguns, de artistas que já se foram como Chico Anysio e Gugu Liberato – que, em sua estrutura de mosaico, buscam traçar o perfil de José Abelardo Barbosa de Medeiros (1917-1988), criador da persona Chacrinha, nome mítico que comandou extravagantes concursos de calouros, revelou grandes nomes da música brasileira e inventou bordões tanto originais como infames. Era ainda um homem bipolar, meticuloso com o trabalho, obcecado pela medição da audiência, mas impaciente com as pessoas que o rodeavam, disparando palavrões e impropérios.
“Chacrinha soube usar a ferramenta da comunicação em massa de uma maneira que ninguém tinha feito antes. Era um gênio da comunicação, só que travestido de um palhaço de estilo popular”, continua Langer. O documentário traz informações conhecidas e outras nem tanto. Como a suspeita de que Chacrinha teve um caso extraconjugal com a cantora Clara Nunes, confirmada por um dos operadores de câmera do programa.
Outra história pouco conhecida é revelada por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que comandou a Globo entre as décadas de 1970 e 1990, concebendo o formato básico da emissora que se mantém até hoje. Em 1972, Chacrinha decidiu, num ímpeto, trocar a Globo pela Tupi, abrindo um buraco na programação. Boni, então, recorreu a Roberto Carlos, grande amigo do Velho Guerreiro.
“Eu falei o seguinte: você faz um único programa por ano (que daria origem ao seu tradicional especial de Natal) e apresenta agora 11 programas Globo de Ouro no mesmo horário do Chacrinha na Tupi.” Roberto relutou, argumentando que tinha sido praticamente lançado pelo Chacrinha. Boni, então, apelou: “Roberto, coloca então aí a nossa amizade, sua história na Globo e também o fato de eu ter cancelado seus patrocinadores de bebida alcoólica como você me pediu. E aí ele fez”.
Além disso, Boni orientou a criação do Fantástico que, ao estrear em 1973, logo dominou a audiência da noite do domingo, achatando ainda mais o ibope de Chacrinha: a Globo cravava 50-60 pontos e a Tupi ficava com 10-12. “Mas Boni e Chacrinha sempre foram amigos, apesar de tudo”, explica Langer. “Ou, caso contrário, Chacrinha não teria voltado para a Globo em 1982, retomando a carreira de sucesso que manteve até os últimos anos de vida.”
De fato, o Velho Guerreiro voltou a bater recordes de audiência nas tardes de sábado, com até 52% de share. Ficou na emissora até morrer em decorrência de um câncer de pulmão, em 1988, aos 70 anos. Vascaíno de coração e apaixonado pela Portela, foi enterrado com as duas bandeiras sob seu caixão.
Em todas as entrevistas mostradas no documentário, destaca-se a opinião unânime de que Chacrinha era a personificação de um Brasil livre, solto. O público, de todos os níveis sociais e econômicos, se encantava com aquela forma miúda de andar do Velho Guerreiro, os abraços abertos para a plateia, a voz rasgada ligeiramente rouca e até minúcias, como a forma de acertar os óculos no rosto. “Hoje, o que fica é um símbolo, uma ideia, uma lenda, algo que está muito acima do homem e do personagem”, observa Langer.
28 de janeiro de 2021 | 05h00
Sucesso de público e crítica, Bom Dia, Verônica estreou na Netflix em outubro, mas a série brasileira ainda repercute. E colhe frutos – sobretudo, o elenco. Até hoje, a personagem Janete reverbera na carreira da atriz Camila Morgado, que dá vida a essa mulher presa a um relacionamento abusivo, de forma realista, precisa, primorosa. Os elogios são merecidos, assim como os prêmios. No final do ano passado, Camila ganhou o prêmio Contigo! de melhor atriz coadjuvante, e neste início de 2021, levou mais dois troféus: de melhor atriz coadjuvante no Prêmio Brasileiro de Teledramaturgia e de melhor atriz no Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).
“Foi muito bom dividir o prêmio da APCA com a Tatiana Tibúrcio (por ‘Falas Negras’, da Globo). Fiquei muito emocionada, porque ela também faz uma mulher que fala de um tema real, de algo que aconteceu. Então, ela ter sido premiada e eu também, fazendo a Janete, que representa todas essas mulheres que sofrem violência doméstica, psicológica, física, achei muito simbólico nós duas ganharmos esse prêmio”, diz Camila, em entrevista ao Estadão, por telefone – referindo-se à interpretação emocionante de Tatiana como Mirtes, mãe do menino Miguel Otávio, que caiu de um prédio no Recife, após ela deixar o filho sob os cuidados da patroa.
Em Bom Dia, Verônica – inspirada no livro de Ilana Casoy e Raphael Montes, e com direção-geral de José Henrique Fonseca –, a Janete de Camila Morgado é a mulher subjugada pelo marido algoz, o policial Brandão (Eduardo Moscovis) – que esconde outra faceta violenta, a de serial killer. Com o tempo, Brandão vai cerceando a liberdade e a ligação da mulher com o mundo exterior. Sem contato com amigos ou família, ela acaba se isolando, tal e qual acontece em relacionamentos abusivos na vida real.
“Estamos vendo agora na pandemia como aumentaram os casos de feminicídio, de violência doméstica”, observa a atriz. “São temas que fazem parte da nossa realidade. O Brasil é o 5.º país que mais mata mulheres. Eu e o Du sempre falávamos sobre isso: o Brandão vê a Janete como propriedade dele, aquela mulher é dele, e passa muito isso, a submissão da Janete, ela sendo aquele ser que é manipulado pelo marido, que vai perdendo sua identidade, seus laços com a família.”
Aliás, a sintonia em cena entre Camila e Moscovis se mostra fundamental na narrativa. Existe um jogo muito intenso, na medida certa, entre eles, que são dois grandes atores. Esse casal tem grande importância na trama, assim como a protagonista, a escrivã Verônica (Tainá Müller), que inicia uma jornada sem precedentes após testemunhar, na delegacia onde trabalha, o suicídio de uma mulher enganada por um homem. É Verônica quem escuta, acolhe Janete, e tenta tirá-la dessa relação, do domínio desse homem que a chama de “passarinha” – mas o apelido gera arrepios a quem assiste à série.
E como foi construir essa Janete? “Pensei muito em trabalhar o silêncio, o vazio, eu pensava muito nessas coisas, porque é uma mulher que fica dentro de casa e sai pouquíssimo. A casa é a própria prisão, é o cativeiro”, diz. Preste atenção no olhar de Camila, na postura de seu corpo, para dentro, como se Janete quisesse se esconder, ficar invisível. “Ela vai perdendo toda a vaidade, é como se estivesse num outro tempo.”
Na mesma época em que a série da Netflix foi lançada, Camila iniciava as gravações, no Uruguai, de outra série, para a Amazon. Sobre a nova produção, ainda sem nome, a atriz diz que não pode adiantar detalhes. “O que posso falar é que faço uma advogada criminalista.” As filmagens devem ser retomadas entre fevereiro e março. Por causa da pandemia, a atriz ficou o ano passado praticamente sem trabalhar. Parou de procurar textos para teatro e, por ora, não há projetos previstos no cinema nem na TV. As produções, de maneira geral, foram adiadas ou canceladas. Ver esse cenário para o teatro e o cinema no Brasil a entristece, assim como a falta de ajuda do governo. “Sei que a gente está atravessando uma pandemia, mas esse projeto de destruição (da arte) começou antes da covid.”
Assim, o lançamento de Bom Dia, Verônica e as gravações da série da Amazon surgiram como alentos para ela em 2020. “Fico muito contente de fazer parte de uma série como Bom Dia, Verônica, que é voltada para o entretenimento, e falar de um tema tão importante e urgente como esse.”
27 de janeiro de 2021 | 05h00
Aconselhada pela filha Sasha, a apresentadora Xuxa Meneghel visitou a Aldeia Nissi, em Bié, Angola, uma região carente que sofreu com a guerra e onde hoje são cuidadas cerca de 1.200 crianças. E ela viajou com o plano de conhecer um menino em especial, cuja história extraordinária a inspirou a escrever Betinho – O Amor em Forma de Criança, lançado agora pela Globo Livros (32 págs., R$ 52, com ilustrações de Monge Lua).
Trata-se do garoto nascido em uma família pobre. Para completar, seu pai ficou cego quando ele ainda era bebê e a mãe, julgando-se incapaz de cuidar de todos, decidiu tentar a sorte em outra região. Um vizinho passou a cuidar de Betinho e o pai, buscando mantimentos em uma região distante.
“Quando fui a Bié, conheci Betinho e seu pai. Betinho é um menino doce, com lindas bochechas e boca que parece um coração. Essa história mostra que, quando você é guiado pelo coração e age com amor, tudo dá certo”, conta Xuxa que, recentemente, lançou outro livro infantil, também inspirado em uma história real: Maya – Bebê Arco-Íris, sobre uma menina que vive com duas mães.
Desde o lançamento de sua autobiografia no ano passado, quando revelou assuntos incômodos de sua vida (como o sofrimento com bullying e assédio sexual), Xuxa vem tomando posições mais firmes sobre temas como política e a guerra estabelecida nas redes sociais entre grupos de pensamentos antagônicos. Sobre o livro e outros assuntos, ela respondeu por e-mail as seguintes questões.
O que é real e o que é ficcional na sua história do Betinho?
É tudo verdade, só o lance da mãe dele que é ficção. Eu não sei de fato o motivo de ela ter abandonado os dois. O que sei é que ela pediu para o Betinho ficar com ela, mas o pai insistiu em ficar com ele.
Como você chegou a esse personagem tão envolvente?
Sasha me apresentou o Betinho por meio de fotos, pois já tinha ido três vezes para Angola como missionária. Na quarta vez, fui junto. Eu já sabia que ia conhecê-lo. Assim que cheguei na aldeia, fui recebida com música, mais de 30 crianças cantando e dançando, um cachorro veio dar as boas-vindas e, logo depois, veio Betinho, que pediu colo e não saiu mais de perto de mim, foi uma conexão imediata.
A Aldeia Nissi parece ser repleta de pessoas com histórias tão tocantes como a de Betinho. O que, de fato, mais te impressionou na história dele?
Sim. Têm muitas histórias pesadas e chocantes. A do Betinho me fascinou quando ouvi o pai dizer que acha que ele tem dois anos – pois não sabe ao certo o dia em que nasceu. E, mesmo pequeno desse jeito, ele pegou a bengala (na verdade, um pedaço de madeira) e puxou o pai cego por quilômetros até achar a aldeia. Ninguém sabe direito o que se passou na cabeça dele, nem ninguém vai saber. Mas ele apareceu lá em busca de comida para ele e o pai. Mas como um bebê consegue fazer isso? Ele era um bebezão. Se hoje fala pouco, na época menos ainda. O que me intriga é como ele cuida do pai, é tão responsável e com tanto carinho para dar. O esperado de uma criança seria o contrário, por isso senti vontade de mostrar sua história.
E Betinho vai ter música, como aconteceu com Maia?
Sim, mas essa foi feita e cantada por Betto Essoko, um jovem talento da aldeia, e no dialeto deles.
Quais outras histórias que você descobriu lá e que mereceriam ser contadas em livro?
Hummmm... São pesadas para livros infantis, mas estão escritas e gravadas na minha alma.
Você se interessaria em escrever a história de alguma criança ou animal que tiveram de enfrentar o isolamento social, provocado pela pandemia?
Não. As pessoas não estão nem acreditando no vírus, como acreditariam na minha história?
Você já disse que era uma pessoa que não tinha opinião própria, preferindo usar a dos outros.
Preferindo não, me era passado: “Você tem que falar isso”.
Agora, se sente dona da própria voz. Assim, o que pensa sobre o que acontece no Brasil no combate da covid-19?
Uma vergonha, que vai fazer parte da nossa história para sempre. Um desgoverno em uma pandemia, uma falta de respeito.
A internet tem acentuado a criação de bolhas, com as pessoas só recebendo informações que lhe agradam. Isso faz com que muitas acreditem mais no que recebem das redes sociais do que em notícias divulgadas por meios confiáveis. Como uma pessoa com muita presença na internet, como você, lida com isso?
Lido de uma maneira ruim e estou com medo, pois não vejo melhora nessas desinformações desnecessárias, muitas fake news em um momento no qual deveríamos nos alimentar de informações corretas. E isso pode gerar uma guerra.
26 de janeiro de 2021 | 05h00
Desde que seu documentário Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou foi escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional, em 18 de novembro, a atriz e cineasta Bárbara Paz iniciou uma corrida contra o tempo. Afinal, era dada a largada de uma campanha de divulgação do longa entre os votantes da Academia de Hollywood, uma corrida curta e cuja disputa normalmente conta com muito dinheiro.
“Campanhas relacionadas ao Oscar normalmente envolvem milhões de dólares – a nossa é uma ação entre amigos”, conta Bárbara, que participa nesta terça, 26, do último grande evento promocional: às 23h (horário de Brasília), começa a exibição de um debate virtual sobre o filme para setores do mercado e votantes do Oscar. Contará com a participação do produtor associado e ator Willem Dafoe, além de Bárbara, da produtora Myra Babenco (filha de Hector) e da mediadora Jen Yamato, repórter do Los Angeles Times, jornal que organiza o evento.
“Até lá, publicaremos mais anúncios na imprensa especializada, como a revista Variety e o site Deadline, e ficamos na torcida”, explica Bárbara que, com isso, encerra a primeira fase da campanha. “Se o filme figurar na shortlist, iniciamos a segunda fase, que deverá contar com um distribuidor internacional.”
Isso significará um tremendo reforço na divulgação, tanto financeiro como de mídia, até 15 de março, quando saem as indicações dos cinco finalistas para o Oscar, cuja cerimônia de entrega está marcada para Los Angeles, dia 25 de abril – por enquanto, ainda de forma presencial.
Mesmo que não alcance esse objetivo, Bárbara Paz já terá conquistado uma vitória fenomenal. Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou é um documentário-poema, que registra os últimos meses de vida de Hector Babenco, um dos maiores cineastas nacionais, autor de obras fundamentais como Pixote, Lúcio Flávio e O Beijo da Mulher Aranha, entre outros, e que morreu em 2016, aos 70 anos.
Companheira do diretor na vida e na arte, Bárbara começou a fazer os registros quando Babenco rodava Meu Amigo Hindu, seu derradeiro longa, e continuava uma incansável luta contra o câncer – o primeiro foi diagnosticado quando ele tinha 38 anos. “Eu não queria realizar um documentário clássico, com pessoas opinando sobre ele, pois Hector estava vivo. Ele mesmo dizia isso, ‘quero ser o protagonista da minha própria história, não quero que ninguém fale de mim’”, conta. “Assim, fizemos um filme muito pessoal, em que ouvi Hector falar sobre ele mesmo.”
Como a figura pública do cineasta já era amplamente conhecida, Bárbara optou por um longa autoral, que vagueia pelo subconsciente de um homem que resistia, mas sabia que estava com os dias contados. “Aos poucos, ele foi baixando o escudo e se revelou o pensador, o poeta, o homem que lutava para sobreviver. Por isso, as cenas íntimas são, disparadamente, as melhores. É uma carta de amor ao cinema.”
O longa, que continua em cartaz no cinema e destaca o confronto entre a força intelectual e a fragilidade física, estreou mundialmente no Festival de Veneza de 2019 e faturou os prêmios de Melhor Documentário na Mostra Venice Classics e da crítica independente. Isso logo o credenciou para o Oscar desta categoria, mas, quando foi escolhido para representar o Brasil no prêmio de Filme Internacional, os rumos mudaram.
“Começamos a concentrar esforços para essa categoria”, explica Bárbara, que recebeu apoio financeiro dos coprodutores Globo Filmes e Canal Brasil, além dos apoiadores Globo, Itaú e SpCine – nenhum tostão do governo federal. Com isso, foi possível bancar os custos das primeiras exibições e dos anúncios na mídia especializada dos EUA, que consumiram cerca de US$ 8 mil. “Confeccionamos cópias de DVDs também, pois há jurados, como o cineasta e roteirista Paul Schrader, que se recusam a assistir por streaming.”
Com a pandemia, a Academia de Hollywood criou um portal no qual os votantes podem assistir em casa aos filmes de todas as categorias. Mesmo assim, é preciso fazer publicidade para chamar atenção. Uma forma é a de debates virtuais, como o desta terça, envolvendo personalidades. Em encontros passados, Bárbara contou com a presença desde o cineasta e pintor Julian Schnabel até o diretor Walter Salles, empenhados em ressaltar as qualidades do documentário. Schnabel, aliás, emocionado com o filme, afirmou que Bárbara conseguiu fazer o que Babenco ambicionava em Meu Amigo Hindu: uma leitura em vida de sua trajetória.
Ao mesmo tempo, como reforço de caixa, foi criada uma campanha de crowdfunding (www.benfeitoria.com/babenco) para arrecadar R$ 200 mil – a meta tem de ser atingida até o dia 31 e, até esta segunda, estavam garantidos R$ 137.105. “Se o filme figurar na shortlist, iniciaremos a segunda fase da campanha, para arrecadar outros R$ 300 mil, pois a publicidade terá de ser maciça”, explica Bárbara.
Babenco é um dos 7 documentários que concorrem como Filme Internacional, um fato inédito. Entre eles, há fortes candidatos como o italiano Notturno e o romeno Collective. “São todos grandes filmes”, comenta Bárbara, que conta com um publicista em Los Angeles para cuidar da campanha, além de receber dicas de Petra Costa, cujo documentário Democracia em Vertigem foi finalista no ano passado.
“Acho que Hector estaria feliz com todo esse trabalho”, confidencia Bárbara, que ainda se emociona ao lembrar de uma observação do companheiro: “Eu não conhecia esse tipo de amor”.
23 de janeiro de 2021 | 05h00
Com um acervo de 2,5 milhões de imagens registradas por mais de 300 fotógrafos entre os séculos 19 e 21, parece natural que o Instituto Moreira Salles (IMS) seja hoje a principal referência da área no País. E já começa a temporada, em fevereiro – ainda em plena pandemia – com a mostra Metamorfoses, de uma fotógrafa bem adiante de seu tempo, Madalena Schwartz (1923-1993). Ela teve sua obra (16 mil negativos em preto e branco e 450 cromos) adquirida pelo IMS em 1998, destacando-se uma série pioneira com retratos de travestis e transformistas feita nos anos 1970, reunidos no livro Crisálidas, que o instituto publicou em 2012. Sobre essa e as outras exposições do ano, o superintendente executivo Marcelo Araújo e o diretor artístico do Instituto Moreira Salles, João Fernandes, falaram com exclusividade ao Estadão.
Exposição em SP explora influência da moda na história da arte
Depois da mostra de Madalena Schwartz, que tem como curadores Samuel Titan Jr. e Gonzalo Aguiar, o IMS promove em março uma grande retrospectiva com mais de 300 obras do fotógrafo, escultor e cineasta baiano Mário Cravo Neto (1947-2009), imagens escolhidas pelo curador e crítico Luiz Camilo Osório, todas provenientes do acervo do artista, sob a guarda do IMS em regime de comodato.
Duas grandes escritoras serão homenageadas nesta temporada pelo IMS paulistano: em junho, será a vez da mineira Carolina Maria de Jesus (1914-1977), que se tornou símbolo de um país marcado pela desigualdade social: negra e pobre, ainda assim ela conseguiu vencer todos os obstáculos e ficou internacionalmente conhecida, em 1960, ao publicar Quarto de Despejo, traduzido em vários países. A curadoria da mostra é do antropólogo Hélio Menezes e da historiadora Raquel Barreto.
Um mês depois, ainda como parte das comemorações do centenário de nascimento de Clarice Lispector (1920-1977), o instituto abre uma exposição multidisciplinar (Constelação Clarice) com curadoria do poeta carioca Eucanaã Ferraz e da romancista gaúcha Veronica Stigger. Todas as telas pintadas pela escritora serão exibidas na mostra, além do retrato que o pintor metafísico italiano Giorgio De Chirico fez dela nos anos 1940.
Fora de São Paulo ainda estão programadas mostras do fotógrafo de origem alemã Peter Scheier (1908-1979), no IMS Rio, com curadoria de Heloisa Espada, e Limercy Forlin (1921-1986), no IMS de Poços de Caldas, cujo acervo foi doado ao instituto por seus herdeiros em 2016. O curador e também pintor Teodoro Stein Carvalho Dias selecionou imagens produzidas por ele em seu estúdio entre 1958 e 1982.
O fato de duas escritoras integrarem a programação de 2021 não deve ser visto como um desvio de rota. Será, com certeza, difícil imaginar uma escritora capaz de transformar imagens em palavras como Carolina Maria de Jesus, como assinala o diretor artístico do IMS, João Fernandes. “Além disso, era ligada ao universo musical, compondo e desenhando os próprios figurinos do carnaval”, diz. Como se sabe, além de fotografia, o acervo musical do instituto é vasto – mais de 50 mil discos disponíveis em seu site, segundo o superintendente Marcelo Araújo, que conta com um orçamento generoso para programar com antecedência as exposições – R$ 50 milhões por ano.
Isso possibilita, por exemplo, organizar uma retrospectiva como a do grande fotógrafo e cineasta norte-americano Gordon Parks (1912-2006) no próximo ano. Parks, pobre e negro como Carolina de Jesus, nasceu no Kansas e comprou sua primeira câmera numa loja de penhores. Via no instrumento uma arma contra a intolerância e a segregação racial. E subverteu padrões hollywoodianos ao dirigir, em 1971, Shaft, que tinha como protagonista um detetive negro, filme pioneiro no gênero blaxploitation.
Outros nomes anunciados pelo diretor artístico João Fernandes são os artistas conceituais Lothar Baumgarten, um alemão de Rheinsberg que foi discípulo de Josef Beuys e Helena Almeida (1934-2018), performer portuguesa de Lisboa que, no ano de sua morte, foi homenageada pela Tate Modern com uma retrospectiva em que se destaca uma de suas mais conhecidas obras, Pintura Habitada (1975), intervenção pictórica sobre uma fotografia em preto e branco que sintetiza sua meta de autorrepresentação. “Em contrapartida, estamos mandando para a Europa exposições concebidas e montadas aqui, como a da fotógrafa Cláudia Andujar, que passou pela Fundação Cartier e agora está na Trienal de Milão”, comemora Fernandes.
Videoclipe da música foi produzido no Instituto Butantan, centro de pesquisa que desenvolve o imunizante contra a covid-19
MC Fioti gravou um remix da música 'Bum Bum Tam Tam' com letra que faz referência à vacina Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan. Foto: Reprodução / YouTube / Canal KondZilla
MC Fioti lançou neste sábado, 23, o hino da vacina, um remix da música Bum Bum Tam Tam sobre o imunizante Coronavac, desenvolvido
pelo Instituto Butantan e a farmacêutica Sinovac.
Lançado em março de 2017, o funk original já fazia sucesso em todo o Brasil e, recentemente, o refrão foi associado ao nome do centro de pesquisa paulistano.
Com a expectativa de ter uma vacina aprovada para uso no País, a música do funkeiro ganhou mais repercussão, o que levou à gravação de um clipe na sede no instituto, em São Paulo.
"Me sinto muito satisfeito em participar disso. Eu me comunico com a comunidade e muita gente lá não acredita nisso. Fico feliz em passar um incentivo, através da música", disse MC Fioti em entrevista à AFP.
A letra da música foi adaptada para falar sobre a Coronavac: "É a vacina envolvente que mexe com a mente de quem tá presente / É a vacina saliente, que vai curar 'nois' do vírus e salvar muita gente / Aí eu falei assim pra ela: Vai, vai no Bubutantã, vem no Bubutantã".
O clipe começa no mesmo estilo do original e MC Fioti faz dois pedidos ao gênio da lâmpada: a cura do coronavírus e "paz, amor e saúde para a humanidade". Na música, ele incentiva a vacinação ao dizer: "Autenticamente falando: Se vacina aí, pô".
Assista ao clipe abaixo:
21 de janeiro de 2021 | 14h00
Uma exposição que mostra como o surgimento dos ateliês de costura em 1910 na Europa, especialmente na França e no Brasil, influenciou os artistas será aberta nesta sexta-feira, 22. A mostra Arte da Moda - Histórias Criativas reúne em dois andares do Farol Santander, em São Paulo, 170 itens como um tear de 200 anos, casacos, bordados, acessórios, fotos e vídeos de coleções clássicas e contemporâneas.
Entre esses artigos, está o vestido de casamento de Tarsila do Amaral com Oswald de Andrade, que será exibido pela primeira vez ao público. A peça foi criada, em 1926, a partir do traje matrimonial da mãe do escritor, por Paul Poiret, um dos principais estilistas franceses da época e dono do legado que ajudou a definir o conceito moderno de estilista.
Esse vestido puxou todo o fio da meada para a curadora Giselle Padoin contar a evolução da moda. “Sou apaixonada pela década de 1910, porque foi um momento crucial para a cultura mundial em função da vanguarda que se reuniu em Paris, centro cultural que inclusive acolheu inúmeros intelectuais brasileiros e a Tarsila foi uma delas. Em uma viagem ela foi apresentada ao Paul Poiret que acabou se tornando seu estilista preferido”, conta Padoin.
“Eu espero mostrar que até a partir de um vestido a gente pode descobrir tantas coisas interessantes sobre história da modernidade. São fascinantes as conexões que a moda faz com vários assuntos como história e comportamento, porque você pode a partir de um vestido descobrir tudo o que estava acontecendo em determinada época”, afirma Giselle.
A exposição Arte da Moda - Histórias Criativas proporciona ao público uma imersão e uma viagem no tempo. Capas da revista Vogue ilustradas pela artista americana Helen Dryden levam o visitante até os anos 20.
Um pouco mais à frente na linha temporal estão outros destaques da exposição: bijuterias dos anos 1960 e 1970 assinadas por Yves Saint Lauren.
São do mesmo período, mas de produção nacional, os dez vestidos da coleção Rhodia que estão na mostra. As peças foram desenvolvidas por estilistas e artistas da época como Dener Pamplona, Alceu Penna, Ugo Castellana, Fernando Martins, Hércules Barsotti e Alfredo Volpi.
Ainda da moda brasileira, o visitante pode apreciar um corset da coleção A Costura do Invisível, apresentada pelo designer Jum Nakao na Semana de Moda de São Paulo (SPFW), em 2004.
Para retratar tempos mais atuais, vêm da capital francesa para a mostra três peças da grife Christian Dior Couture, incluindo um look completo da coleção de alta costura Cirque, desenhado por Maria Grazia Chiuri para a primavera-verão de 2019.
Falando em atualidade, a exposição também oferece ambientes interativos. Crianças e adultos podem montar looks com mini roupas inspiradas nos estilistas da mostra e bonecas feitas de material magnético. De acordo com a organização, após o manuseio todos os cuidados sanitários e de higienização serão feitos pela monitoria.
A exposição segue até 4 de abril, e estará aberta excepcionalmente no feriado de segunda-feira, no dia 25, para celebrar o aniversário da capital paulista.
Maria Fernanda Rodrigues
21 de janeiro de 2021 | 11h00
O livro mais vendido no Brasil em 2020 foi Do Mil ao Milhão. Sem Cortar o Cafezinho. Com esse título publicado em novembro de 2018 e que fechou 2019 na terceira posição do ranking, Thiago Nigro, criador do canal Primo Rico, desbancou Mark Manson – A Sutil Arte de Ligar o F*oda-se, do americano, ficou no topo durante dois anos consecutivos -, e confirmou o bom desempenho durante os primeiros meses da quarentena. O levantamento exclusivo foi feito pela Nielsen a pedido do Estadão.
Há menos autoajuda (pessoal ou financeira) entre os 15 livros mais vendidos de 2020 do que tinha em 2019 – foram 9 agora e 13 antes (os outros dois eram títulos infantis de Luccas Neto). Se em 2019 nenhuma ficção chegou à lista, agora temos dois de George Orwell às vésperas do domínio público – A Revolução dos Bichos, em 7º lugar, e 1984, em 10º -, e Sol da Meia-Noite, de Stephenie Meyer, em 14º. O livro de Meyer, aliás, que resgata os personagens e o universo de sua saga best-seller Crepúsculo, foi o único publicado em 2020 a entrar no ranking dos mais vendidos.
O grupo Companhia das Letras tem mais títulos na lista – 5, contando os selos Objetiva e Companhia das Letras. HarperCollins Brasil e Intrínseca aparecem com dois livros cada uma.
Em novembro, na esteira do sucesso de Do Mil ao Milhão, Thiago Nigro lançou outros dois livros pela HarperCollins: O Método Financeiro do Primo Rico, um guia interativo para ajudar o leitor a atingir metas na área financeira; e o infantil Como Cuidar do Seu Dinheiro, escrito em parceria com Maurício de Souza, um guia da Turma da Mônica de educação financeira para crianças.
20 de janeiro de 2021 | 12h11
A atriz Zezé Motta se juntou aos colegas Herson Capri, Beth Goulart, Fúlvio Stefanini, Miguel Falabella e Suely Franco em uma vídeo para defender a vacinação contra covid-19.
Com a frase "Eu abraço a vacina', o objetivo do vídeo é debater o assunto e incentivar a população a se imunizar. No domingo, 17, as vacinas Coronavac e a de Oxford foram aprovadas no Brasil para uso emergencial.
Em outros vídeos da associação também estão Ney Latorraca, Léa Garcia, Louise Cardoso, Rodrigo França, Marcos Caruso, Flávio Marinho, Françoise Forton e Cristina Pereira.
Confira.
19 de janeiro de 2021 | 08h00
Na língua japonesa, a palavra “tsutsumu” significa “embrulhar”. Seu ideograma simboliza uma criança no ventre da mãe, o que transmite a ideia de proteção de algo precioso. Essa e outras curiosidades são apresentadas ao público em Embalagens: Designs Contemporâneos do Japão, nova exposição que ocupa a Japan House até 14 de março.
Uma vez que o ato de presentear faz parte do código de etiqueta da cultura japonesa, como um sinal de respeito, as embalagens desempenham um papel fundamental para esse gesto social, sendo parte agregadora do objeto ofertado. O mesmo ocorre com as embalagens dos produtos do dia a dia dos japoneses, em que cada detalhe, aliado à sustentabilidade e às tradições do país, ampliam a experiência de consumo.
“O público poderá sentir que está passeando pelo Japão, não só no sentido da experiência estética, mas da percepção de hábitos de consumo e tradições culturais que fazem parte do dia a dia deles. A partir dessa observação, é possível ter uma visão do que é a sociedade japonesa hoje”, diz a curadora Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da Japan House.
Seleção. A exposição apresenta, por exemplo, itens cotidianos como chicletes envoltos em papéis de dobradura para Origami ou uma caixinha colorida de biscoito, que lembra um embrulho de presente e cuja dimensão a faz caber perfeitamente nas mãos, assim como embalagens de arroz resultantes de um projeto com famílias agricultoras da cidade de Wajima, com cada uma delas ilustrando um elemento da cultura local.
São expostas ainda embalagens como uma caixa destinada a trutas com ovas, com invólucros em forma de onda que se encaixam, e também uma embalagem especial para guardar cerejas de alta qualidade, remetendo a um estojo de joias.
Há outros itens curiosos, como caixinhas destinadas a um carvão artesanal para pintura, conhecido como Narasumi, que traz a forma das máscaras usadas no teatro Gigaku. A embalagem criada para o produto é decorada com ilustrações inspiradas nos tecidos de um templo de Nara, cidade em que é produzido, e com um brilho que reproduz o de uma técnica específica da região.
Cosméticos e produtos de higiene também ganham destaque na mostra. Latinhas de um pó compacto, por exemplo, remetem à experiência de visitar uma galeria de arte, com peças limitadas e exclusivas trazendo ilustrações de grandes criadores da atualidade. Já a embalagem de um sabonete para as mãos, de fácil manuseio para as crianças, produz uma espuma em formato de flor.
Segundo Natasha, com produtos como esses, a mostra evidencia a importância do design não apenas ligado a coisas “grandiosas”, como eletrodomésticos e mobiliário, mas também a detalhes que têm o poder de “agregar valor ao produto, atrair o consumidor e tornar o seu dia mais feliz.”
Ações paralelas. A quem se sentir instigado pelo tema, estão programadas atividades online complementares à exposição.
Nesta terça-feira, às 16h, o núcleo educativo do espaço cultural promove um primeiro encontro que propõe explorar a tradição dos embrulhos japoneses. No sábado, 23 de janeiro, será divulgado um vídeo com lições sobre como fazer uma caixinha de papel utilizando a técnica do origami.
As transformações de técnicas tradicionais na criação de algumas embalagens do país ganham destaque em dois encontros, nos dias 22 e 29 de janeiro, às 17h. Já no dia 26 de janeiro, às 16h, haverá uma conversa dedicada à cultura do presentear no Japão.
Japan House. Av. Paulista, 52, Bela Vista, 3090-8900. 11h/17h (fecha 2ª). Grátis. Reserva online opcional pelo site agendamento.japanhousesp.com.br.
Acesso às atividades online em bit.ly/eventosJHSP.
18 de janeiro de 2021 | 09h30
Graceland, de Elvis Presley, agora oferece tours online ao vivo para fãs de todo o mundo, incluindo aqueles que não podem viajar para a atração turística do Tennessee durante a pandemia do coronavírus.
Graceland disse que as visitas guiadas de duas horas levarão visitantes virtuais à antiga casa de Elvis Presley em Memphis, que foi transformada em um museu, e através do Jardim de Meditação, onde ele está enterrado. O cantor e ator morreu em Memphis em 16 de agosto de 1977.
Graceland costuma receber centenas de milhares de visitantes por ano. Mas a atração turística diminuiu o número de visitantes durante o surto do coronavírus. Graceland esteve fechado por várias semanas no ano passado e agora está aberto para passeios presenciais de capacidade limitada.
17 de janeiro de 2021 | 05h00
Às costas do Brasil, mas como se estivessem em outra galáxia, países da América Latina receberam o rock desde suas calças curtas, em 1957, a partir do encorajador fenômeno planetário em espanhol Richie ‘La Bamba’ Valens, e o transformaram em seu com poesia, fúria e personalidade. As duas primeiras qualidades o rock traz em seu DNA para se estabelecer em qualquer lugar do mundo. A terceira, não. Ou seja, antes mesmo de ser absorvido no Brasil com algum caráter particular, argentinos, mexicanos, uruguaios, peruanos e chilenos o usavam à sua forma, filtrado em suas tradições, como uma arma que não havia sido apontada da mesma forma nem em seus berços. Sem governos ditatoriais a combater nos Estados Unidos dos anos 50 ou na Inglaterra dos 60, o rock aprendeu a ser rock mesmo, de dimensões sociais coletivas e não apenas comportamentais, sob as rajadas das ditaduras latino-americanas.
Há muito mais conjecturas a se fazer depois dos reveladores seis episódios da série Quebra Tudo – A História do Rock na América Latina que a Netflix oferece desde janeiro. São quase 100 entrevistas, imagens de arquivo valiosas e, para os brasileiros, um deleite extra. Salvo nas passagens sobre artistas como os argentinos Soda Stereo e Café Tacuba, os colombianos Aterciopelados ou os mexicanos superstars do Maná, que conseguiram de algum modo furar o bloqueio linguístico – o fator apontado como a principal causa do distanciamento industrial mantido dos hispânicos no lado português do continente – tudo é uma saborosa descoberta narrada sempre em paralelo aos tremores políticos provocados por presidentes ora assassinos, ora assassinados.
A festa dos hermanos não passou pelo Brasil por falta de interesse das gravadoras, que patrocinaram o intercâmbio continental em língua espanhola sem envolver o Brasil. A sensação, agora, pode ser de perda. O quanto perdemos longe do uruguaio Hugo Fattoruso, antes de ser quem se tornou, como roqueiro dos seminais Los Shakers e por não ouvirmos os argentinos do Joven Guardia (ninguém consegue dizer se foram ou não inspirados na Jovem Guarda brasileira) cantando El Extraño de Pelo Largo. De quanta poesia fomos privados sem os LPs do genial Luis Spinetta, líder do fabuloso grupo Almendra. Quanta energia deixamos de conhecer por não termos ouvido os discos do mexicano de Tijuana, Javier Bátiz, de vocal poderoso e dono de uma versão estupenda de The House of the Rising Sun. O homem que, depois de ser visto cantando na praça por um menininho de 5 anos chamado Carlos Santana, foi procurado pela mãe do futuro maior guitarrista de rock da língua espanhola no dia seguinte: “Por sua culpa, meu filho ficou sem dormir a noite toda!”. E que história é essa do Woodstock mexicano realizado às margens do Lago Avándaro, em 1971, quando se esperavam 5 mil pessoas e apareceram – até onde conseguiram contar – algo como 250 mil. Como o rock, por seu potencial explosivo, foi proibido no México por oito anos? E de que forma a MTV Latina conseguiu unificar esse gigantesco bloco produtor de um som vigoroso e cheio de influências que iam da cumbia ao tango?
Seria um erro não incluir o Brasil em nenhum capítulo do documentário? “Eu morei em São Paulo por cinco anos e sei que o universo roqueiro de vocês é gigante. Seria preciso mais dez temporadas”, diz ao Estado o diretor da série, Picky Talarico. Ele conta que pensou em fazer duas entrevistas, que acabaram não sendo levadas adiante: uma com Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, e outra com Caetano Veloso. Os Paralamas são uma exceção no proclamado autossuficiente rock brasileiro dos anos 80, considerados “a banda de rock brasileira mais argentina da história” desde que o piano de Charly Garcia, o herói portenho, apareceu na gravação de Quase Um Segundo, do álbum Bora Bora, de 1988. E Caetano por um ponto curioso: sobretudo os argentinos o percebem até hoje como um roqueiro, não como um cantor de MPB. E isso graças ao 3.º Festival da Música Popular Brasileira de 1967, quando cantou Alegria Alegria acompanhado pela banda de argentinos chamada Beat Boys, com Tony Osanah (guitarra e voz), Cacho Valdez (guitarra), Toyo (órgão), Willy Verdager (baixo) e Marcelo Frias (bateria). Os dois últimos estariam na base dos Secos & Molhados cinco anos depois.
“Mas a postura dele é roqueira. Aliás, foi a MPB de vocês que teve a atitude do rock nos anos 70”, diz Talarico. E como o próprio Caetano considera o título de roqueiro latino-americano dado pelos argentinos? “Acho merecido pelas coisas que fizemos antes mesmo de argentinos, uruguaios, mexicanos ou chilenos. Cantei Alegria Alegria em 1967. Toda aquela atitude roqueira que fazia parte do tropicalismo foi aparecer só mais tarde em cantores argentinos ou mexicanos”, diz ao Estado. Talvez se surpreenda se vir a série. Mas, instantes depois, ele manda outra mensagem com um complemento: “Eles (os produtores da série) deveriam falar é de Raul Seixas. Quando eu e Gil fazíamos, em 1964, shows no Teatro Vila Velha, de bossa nova, Raul fazia show de rock no Cine Roma, lotado!”.
O argentino Gustavo Santaolalla, músico, produtor e compositor que levou dois Oscar pelas trilhas sonoras originais dos longas O Segredo de Brokeback Mountain (2005) e Babel (2006), aparece sendo entrevistado em vários momentos – um espectador desavisado pode terminar de assistir ao documentário o considerando, de fato, um gênio, já que sua figura é colocada como central em vários casos de sucesso de bandas e cenas. Mas fica mais estranho quando se percebe também que seu nome aparece nos créditos como produtor executivo. Não haveria, no mínimo, um conflito de interesses?
A checagem é feita com Billy Bond, músico e produtor argentino que hoje vive no Brasil e que liderou um supergrupo nos anos 70, em Buenos Aires, chamado La Pesada Del Rock and Roll, uma formação estelar com líderes de outros grupos, como Spinetta e Charly Garcia. Apesar de também aparecer como entrevistado, ele diz: “O erro desse documentário se chama Santaolalla. Ele mente, não participou de tudo o que diz”. Procurado pela reportagem, Santaolalla não retornou aos pedidos de entrevista, mas o diretor Talarico falou a seu favor. “Ele disse que deveríamos tirar um pouco as partes em que aparecia, mas achei que, por sua importância, precisava ficar mais tempo.” Alguns memes não perdoaram o centralismo de Santaolalla e passaram a fazer montagens com o rosto do produtor ao lado de frases como “no dia em que nasci, nasceu o rock latino” e “sem a minha música a vida seria um erro”.
15 de janeiro de 2021 | 10h00
A corrida para Oscar deste ano se tornou a mais longa de todos os tempos e a mais difícil de prever: em meio à persistente pandemia, a cerimônia foi adiada para 28 de abril (com filmes lançados até 28 de fevereiro na disputa), e a pompa comum ao circuito de festas e ostentação praticamente evaporou, deixando como rastro uma série de links para exibições pouco empolgantes.
Ainda assim, em pelo menos uma das categorias principais me sinto confortável em apontar um favorito: na disputada corrida pelo Oscar de Melhor Ator, Boseman assume a vantagem por sua excepcional atuação em A Voz Suprema do Blues. Os jurados dificilmente deixarão passar a oportunidade única de reconhecer o talento do superastro morto recentemente.
Quais desses nomes têm mais chance de surpreender? Aqui vão minhas projeções.
Ahmed mostrou sensibilidade como coadjuvante em O Abutre e Os Irmãos Sisters, mas, como ator principal de Sound of Metal, deu um passo além: representando um baterista envolvido com drogas, que não consegue aceitar sua repentina perda de audição, Ahmed simplesmente arrasa. Uma recente vitória sobre Boseman no Gotham Award sugere que ele tem o que é preciso para merecer sua primeira indicação ao Oscar; esperemos que os jurados também incluam na disputa seu maravilhoso coadjuvante, Paul Raci, tão marcante como líder da banda de Ahmed.
Enquanto esse drama encenado na época do movimento pelos direitos civis (que estreia sexta-feira na Amazon) confere a quatro personagens um peso similar, o serviço de streaming posiciona Ben-Adir (que representa Malcolm X) e Eli Goree (Muhammad Ali) como atores principais, enquanto Leslie Odom Jr. (Sam Cooke) e Aldis Hodge (Jim Brown) deverão disputar categorias de apoio. É uma estratégia arriscada, mas Ben-Adir mostra potencial para disputar a estatueta de Melhor Ator: o emergente britânico dá um toque intimista a Malcolm X que gratifica o ícone com um sentimento humano.
Apesar de a morte de Boseman ter criado certa urgência em honrá-lo, a atuação dele nessa adaptação de August Wilson teria conquistado a atenção do Oscar de qualquer maneira: ele é simplesmente tremendo, em um papel corajoso e atrevido, que se descola totalmente de sua estoica atuação em Pantera Negra. Premiações póstumas no Oscar são difíceis de acontecer, mas Boseman remete a Heath Ledger em Batman: o Cavaleiro das Trevas, uma de suas mais aclamadas atuações, no fim de sua curta carreira.
Com o dom de Borat para acabar com qualquer festa, um azarão como Baron Cohen não deveria ser descartado, especialmente desde que o primeiro Borat rendeu ao ator e roteirista um Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. As duas categorias estão em jogo novamente, apesar de podermos transferir qualquer ímpeto que Baron Cohen tenha para levar o prêmio de Melhor Ator para uma indicação muito mais provável como Melhor Ator Coadjuvante, por sua atuação como Abbie Hoffman em Os 7 de Chicago.
Uma indicação para Melhor Ator Coadjuvante no ano passado por Um Lindo Dia na Vizinhança quebrou um jejum de Oscars de aproximadamente duas décadas para Hanks, cujas atuações mais recentes têm sido frequentemente desdenhadas. Se os jurados optarem por grandes nomes este ano, Hanks terá uma boa chance, mas seu papel como veterano da Guerra Civil Americana em Relatos do Mundo é terrivelmente contido e digno de se perder nesse mar de reluzentes concorrentes.
As coisas teriam que sair muito errado para Hopkins deixar de ser indicado: como um patriarca que começa a perder seu lugar no mundo por causa da demência, Hopkins entrega uma obra-prima da fase mais madura da carreira (o filme será lançado em 26 de fevereiro). Papéis tão bons não aparecem com frequência para um ator de 83 anos e, em um outro ano, esse fenômeno poderia ter garantido a Hopkins seu segundo Oscar. Mas será que os jurados negligenciarão sua única e verdadeira oportunidade de dar o Oscar deste ano a Boseman?
Lindo é infinitamente convincente como veterano da Guerra do Vietnã no drama de Spike Lee - e o ator de 68 anos, nunca indicado antes, foi louvado pelos principais críticos, chamando a atenção do New York Film Critics Circle e da National Society of Film Critics como candidato a Melhor Ator. Como ele é o único desta lista que atuou em um filme lançado no verão americano, esses constantes elogios o ajudarão a permanecer à frente da disputa em uma temporada de Oscar que ainda se arrastará por alguns meses.
Poderá Mank se tornar o Era uma Vez em… Hollywood deste ano? Um caro filme de época a respeito da indústria cinematográfica que ganha várias indicações, mas tem dificuldade em convertê-las em prêmios? Veterano do Oscar, Oldman certamente entrega o tipo de atuação pela qual os jurados babam: todas as falas de seu personagem, em uma voz que range como uma porta enferrujada, estão repletas de grandes decisões. Mesmo assim, os jurados com quem conversei mais respeitam do que amam o filme.
Esse drama que tarda em ser lançado, a respeito do assassinato do líder dos Panteras Negras, Fred Hampton, vai reconfigurar a corrida pelo prêmio de Melhor Ator Coadjuvante, já que a brilhante atuação de Daniel Kaluuya tem força de favorita (o filme será lançado em 12 de fevereiro). O que isso significa para Stanfield, o verdadeiro ator principal do filme, que representa um traiçoeiro informante do FBI infiltrado no círculo íntimo de Hampton? Se o filme fizer sucesso, o talentoso ator pode ser levado por essa onda; ainda que as motivações de seu personagem permaneçam um pouco sombrias, Stanfield entrega boas atuações a cada cena.
Depois de perder por pouco a indicação entre os cinco concorrentes ao Oscar na categoria Melhor Ator com Infiltrado na Klan, talvez Washington tenha mais sorte com sua atuação de energia máxima em Malcolm & Marie (5 de fevereiro), um diálogo filmado na quarentena, no qual ele representa um cineasta abjeto e amalucado, que briga com a namorada (Zendaya) por 1 hora e 45 minutos. Certamente essa é a atuação mais exibicionista e palavrosa desta lista, apesar de os jurados deverem simpatizar mais com Zendaya, por sua resistência às broncas.
Yeun merecia atenção do Oscar por sua astuta atuação como coadjuvante no filme Em Chamas, de 2018, mas os jurados logo terão chance de compensá-lo. No aclamado Minari (com lançamento em 12 de fevereiro), Yeun representa um pai que imigra para o Arkansas com sua família, para iniciar uma fazenda - seu orgulho e frustração são sentidos a cada cena, mesmo quando o diálogo é escasso. Mas, em meio a um conjunto de filmes com atuações individuais retumbantes, que chance um trabalho como o de Yeun tem de se sobressair? Até a inclinação indie dos Gotham Awards o desprezou para uma indicação e, no Oscar, a concorrência será ainda mais acirrada.
15 de janeiro de 2021 | 08h30
Enquanto o restante do mundo se fechava para evitar a covid-19, a estrela norte-americana Anne Hathaway se viu iniciando um novo projeto de filme - uma comédia romântica ambientada na pandemia.
"Acho que nenhum de nós sabe bem como conseguimos", disse Anne Hathaway à Reuters ao lado do coprotagonista Chiwetel Ejiofor para falar sobre Locked Down, o resultado do trabalho deles que começou a ser transmitido por streaming na HBO Max nesta quinta-feira, 14.
O filme conta a história de um casal prestes a se separar, até que as medidas contra o coronavírus os deixam juntos em Londres.
A frustração da convivência forçada e uma série de reviravoltas na trama se transforma em um esquema para roubar um diamante da loja de departamentos Harrold's.
As filmagens começaram no outono do hemisfério norte, quando o Reino Unido estava aumentando as restrições novamente após uma relativa calmaria. A corrida começou para fazer com que tudo fosse finalizado antes de um novo isolamento, e lançar o filme enquanto o cenário era atual.
Os dois atores concordaram em fazer o filme depois de ver apenas um roteiro incompleto.
“Foi complexo, mas foi divertido ... meio que se jogar nisso e estar no limite", disse Ejiofor, astro de 12 Anos de Escravidão.
"É estranho fazer um filme com todos de máscara", acrescentou. "Tem gente lá que eu não vi o rosto completo. Provavelmente vou passar por eles na rua um dia e então eles vão se cobrir e eu vou me dar conta, oh, é você!"
13 de janeiro de 2021 | 11h00
No primeiro projeto da atriz, apresentadora e influencer Maisa Silva na Netflix – o filme Pai em Dobro – ela interpreta Vicenza, uma jovem de comunidade hippie que vai ao Rio de Janeiro tentar encontrar seu pai, figura ausente nos seus 18 anos de vida. Dirigido por Cris D’Amato (de Confissões de Adolescente, É Fada e outros) e com roteiro de Thalita Rebouças, o filme é uma aventura adolescente com amor, humor e carnaval, filmado antes da pandemia, mas também trata de uma questão bastante delicada, o abandono de crianças por parte dos pais, problema comum no Brasil. O longa chega à plataforma na sexta-feira, 15.
A ideia do filme surgiu em um papo da escritora e roteirista com o ator Edu Moscovis – que no filme interpreta Paco, um dos “candidatos” a pai de Vicenza. A escritora que já teve diversos livros adaptados para o cinema agora fez o caminho inverso: criou uma história original para a tela e depois escreveu o romance, lançado em novembro pela editora Rocco com o mesmo título.
“Foi muito rápido”, diz Rebouças ao Estadão. “Logo depois de uma conversa com o Du sobre fazermos um filme, me veio uma cena dele vestido de odalisca para o carnaval, e com uma filha de 18 anos chegando na vida dele. Nasceu assim. De brincadeira, mandei essa ceninha para ele, logo pensei na Maisa e começamos a escrever.” Ela assina o roteiro do longa ao lado de Renato Fagundes, Marcelo Andrade e João Paulo Horta.
Na história, Vicenza faz um desejo de aniversário para a mãe, Raion (Laila Zaid): conhecer seu pai. Com a resistência da mãe, a protagonista decide partir para o Rio de Janeiro com uma única pista, uma foto do carnaval de 2002 que mostra um endereço no bairro de Santa Teresa. Depois de encontrar Paco (um solteirão que até leva na boa a possibilidade de ter uma filha perdida, alguém bem diferente do personagem de Moscovis em Bom Dia, Verônica), ela também esbarra em outras fotos da mãe com Giovani (Marcelo Médici), na mesma época. Os dois novos relacionamentos entre possíveis pais e filha se misturam com a descoberta, por parte de Vicenza, do amor, com o jovem Cadu – vivido aqui por Pedro Ottoni, revelação da internet, aos 21 anos ele acumula centenas de milhares de seguidores no seu canal do Youtube ATORmentado.
O filme tem tudo para representar uma virada na carreira de Maisa, que começou no SBT ainda criança e hoje, aos 18 anos, é uma das principais vozes do Twitter brasileiro. “Como qualquer ator, com a idade tenho aprendido bastante nestes últimos tempos. O Pai em Dobro marca uma nova etapa na minha carreira, é o meu primeiro grande projeto depois que fiz 18 anos, o primeiro depois de sair da TV e o primeiro na Netflix”, diz. “A Vicenza é diferente de tudo que fiz até hoje, e sinto que ainda quero interpretar muitas pessoas diferentes.”
Ela conta que ainda não tem um “plano de carreira” estabelecido, mas como outras atrizes da sua geração (como Maisie Williams, a Arya de Game of Thrones) pretende manter canais abertos em diversas áreas: na atuação, apresentação, redes sociais e empreendedorismo – em dezembro, ela anunciou a criação da Mudah, uma agência para conectar marcas e artistas, ao lado do empresário e sócio Guilherme Oliveira. “Vejo em cada situação o que faz sentido nos projetos”, diz – ecoando aqui uma fala de Vicenza no filme.
As companheiras de Maisa na produção são só elogios. “É muito lindo acompanhar o crescimento dela como atriz”, diz Thalita. “Nesse filme, ela é um monstro, está perfeita, fala com os olhos.” A parceria é a terceira entre a escritora e a atriz, depois de Tudo Por Um Popstar (2018) e Ela Disse, Ele Disse (2019). “A Maisa é uma estrela”, certifica a diretora, Cris D’Amato. “Sou fã dela desde pequenininha.”
A diretora conta que recebeu uma ligação de sua amiga, produtora executiva do filme, Cecília Grosso, e topou a empreitada na hora. “A Thalita é um sucesso. Eu sentia vontade de fazer um filme dela mesmo depois de É Fada (baseado num livro da escritora e dirigido por Cris), e esse é o seu primeiro longa com ‘roteiro original’. Ela tem uma proximidade com essa garotada que não é uma coisa de autora que fica em casa. A gente sai com a Thalita e as crianças vêm em cima dela. Ela tem um vocabulário que atinge essas meninas sem ser piegas. É um dom para poucos.”
D’Amato conta que o trabalho foi feito muito em parceria com a roteirista. “Eu fazia as locações, mandava fotos para ela e a gente trocava ideias. Costumo dizer que num filme o diretor orquestra, mas os músicos estão ali para contribuir.”
Filmado em locações no Rio, o filme teve os sets montados entre janeiro e fevereiro de 2020 – logo antes da tragédia global lançar os braços com força sobre o Brasil. “Lembro que estávamos filmando numa casa, em um dia meio chovendo, e eu comentei com a equipe que aquele ‘negócio’ surgido na China ia chegar aqui, que era perigoso... Juro que fui sacaneada. As pessoas lembram dessa história, porque o negócio tomou uma proporção absurda”. Uma das cenas tem um bloco de carnaval descendo as ladeiras do bairro. “A gente podia se abraçar, se beijar, suar juntos… aquele bloco é um bloco de verdade, contratamos, a maioria são mulheres. Vamos abraçar a mulherada, temos que sair do discurso”, conclui a diretora.
13 de janeiro de 2021 | 05h07
Uma das maiores cantoras brasileiras, Dalva de Oliveira foi pioneira em outra área. É dela a voz na primeira dublagem nacional, interpretando Branca de Neve, na animação de 1937 – enquanto seu príncipe ganhou a entonação do cantor Carlos Galhardo. Foi o início da profissão no Brasil. Além do cinema, a partir do surgimento da TV, nos anos 1950, a dublagem ganhou também espaço na telinha das casas, por uma determinação do então presidente Jânio Quadros, em 1961. Assim, todo o material que vinha de fora deveria ser dublado. Ao longo das décadas, o mercado no País se consolidou, e revelou nomes e vozes marcantes. Agora, afetados também pela pandemia, os dubladores voltaram a trabalhar, mas grande parte deles adaptou sua casa para poder continuar na ativa, sem precisar ir aos estúdios.
Trata-se de uma área repleta de curiosidades. Afinal, sempre há um personagem que agrada mais por causa de sua voz – e o espectador faz tudo para descobrir quem é o dono dela. Não deixa de ser surpreendente saber, por exemplo, que o centenário Orlando Drummond é reconhecido até hoje por fazer a voz do cachorro Scooby-Doo. Ou então Isaac Bardavid ser o incrível Wolverine (Hugh Jackman), da franquia X-Men. Outro também antigo na área é o ator Lima Duarte, que deixou sua marca em desenhos dos anos 1960, como Manda-Chuva, da Hanna-Barbera.
Destaque do momento, o ator Jorge Lucas é o responsável pela voz de Joe Gardner, protagonista da animação Soul, da Disney+, e que, no original, ganhou a interpretação de Jamie Foxx – o ator americano, aliás, é um dos nomes dublados constantemente pelo próprio Lucas. “No caso de Soul, havia uma forte indicação de que eu faria o personagem, mas foi realizado um teste de amostragem de voz para saber se realmente havia harmonia, não só de timbre quanto de interpretação”, diz o dublador. Com mais de 25 anos de carreira, Lucas deu voz a diversos astros, como Vin Diesel, Ben Affleck e Johnny Depp. Claro que sempre existe algum mais trabalhoso. “A RuPaul”, revela Lucas. “Sempre é trabalho de composição e naturalidade muito difícil, pois não se pode cair no estereótipo óbvio, além de ser um mito.”
E Soul vem conquistando crítica e público, já somando premiações, tendo o Oscar como perspectiva. Para Lucas, isso até dá a impressão de que “eu também estou concorrendo”, diverte-se. Para ele, ganhar o maior prêmio do cinema será a demonstração de se render à beleza, à força e à sutileza de uma animação, ainda mais “sendo protagonizada por um personagem preto, e raros são os Oscars concedidos aos meus colegas pretos, além de ser uma constatação de que as animações são e devem ser mais respeitadas”, diz.
Outro nome que tem sua voz ligada a diversos personagens famosos é da dubladora Mabel Cézar. É dela a voz da Minnie; da Princesa Leia (Carrie Fisher), de Star Wars; da atriz Tisha Campbell-Martin, de Eu, a Patroa e as Crianças; da Jessie, de Toy Story; entre tantas outras. No mercado há 26 anos, Mabel tem inúmeras histórias para contar. Ela é do tempo em que os atores-dubladores ficavam juntos no estúdio para gravar, coisa que a tecnologia alterou. Entre seus trabalhos mais queridos, dublar Toy Story e dar voz à divertida Jessie foram para ela um presente. “Eu tinha pouco tempo de carreira, pois o Toy Story 2, quando a Jessie entra em cena, foi lançado em 1999 e eu entrei na (produtora) Herbert (Richers) em 97”, conta Mabel, lembrando que, de um filme para o outro da franquia – até o Toy Story 4 –, houve uma distância, o que a fez ter de recordar como fazer a voz da personagem. “Tenho sempre que rever um pedacinho do desenho ou então ‘chamar’ a minha palavra-chave que é o ‘irrraaaaa, é você, é você, cowboy’. Aí coloco a mandíbula no lugar, que me traz a voz e o espírito dela”, explica.
Certamente, você já ouviu a voz dele. Pode ser com a cara de Jude Law, Jake Gyllenhaal, da Zebra de Madagascar ou do cãozinho de A Dama e o Vagabundo. Para o dublador Felipe Grinnan, esses são todos seus “filhos”, pelos quais tem imenso carinho. Ele explica que uma mágica se faz quando consegue convencer o público de que aquela voz está mesmo saindo da boca do ator na tela. Isso se dá quando o dublador, diz Felipe, acompanha a respiração, as pausas do personagem, e tudo isso junto faz com que o público veja um Tom Cruise ou uma Jennifer Lawrence “falando em português”.
Mas é justamente nesse trabalho perfeito que mora a dubiedade da dublagem. “Quando essa magia acontece, as pessoas saem comentando sobre as belas cenas ou os atores maravilhosos, mas poucas vão pensar como a dublagem foi bem executada, com um dublador perfeccionista”, afirma Felipe. Por isso mesmo, para ele, um filme muito bem dublado é aquele “em que a dublagem não aparece, os louros ficam para o ator, o diretor, os roteiristas. Nesse ponto, é um pouco cruel”.
Existem alguns personagens que não são fáceis de dublar. Que o diga Claudio Galvan, que faz a voz do Pato Donald. “Sim, o Donald tem uma emissão bem diferente e difícil, pois não é um som que vem normalmente pelas cordas vocais, mas, sim, de uma combinação de ar que é expelido pressionado na parte de dentro da bochecha, e isso faz com que a articulação das palavras seja bem difícil”, revela.
Mas não é o único. Ele lembra que, para dublar a animação Megamente, teve bastante dificuldade, pois o personagem fala muito, “com variações de temperamento e vozes, por isso demoramos bastante tempo para obter um bom resultado, mas valeu a pena, porque Megamente é um daqueles que jamais serão esquecidos, se tornou um clássico”.
Voz de Leonardo DiCaprio em alguns filmes, Danton Mello lembra, com carinho, sua dublagem do cãozinho Max, da animação Pets, em que conseguiu impor uma personalidade diferente da do original. Ele lembra de sua emoção com o filme, que “tem uma coisa bonita, quando surge a criança”. Danton conta que, quando estavam nas últimas cenas, em que Max acompanha a criança até a escola, “me veio a imagem das minhas filhas, que foram embora para Nova York, e a voz embargou, não conseguia prosseguir”, revela o dublador e ator. “Os filhos vão para a vida, né? É louco.”
Cantora emprestou sua voz, uma das mais cultuadas da era do rádio no Brasil, para a personagem central da animação clássica da Disney, Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937. No estúdio, dividia o microfone com o também cantor Carlos Galhardo, que dublou o Príncipe. Mas Dalva não cantou as músicas da animação.
Ator é um dos nomes que ajudaram a fazer a história da dramaturgia brasileira. Mas não se limitou a atuar, sendo um dublador reconhecido. Nessa área, foi responsável por dar voz a personagens de animações de Hanna-Barbera, como o Manda-Chuva, Catatau (do Zé Colmeia), Dum Dum (do Tartaruga Touché) e Pepe Legal.
Conhecido pelo Seu Peru, da Escolinha do Professor Raimundo, o dublador tem sua voz eternizada em personagens como Scooby Doo, Alf (O ETeimoso), Popeye, e Vingador (em Caverna do Dragão). “Ser dublador é emprestar emoção a uma cena onde você não está presente fisicamente”, disse o ator ao Estadão quando de seu centenário.
Com seu timbre de voz singular, o ator é o Wolverine nacional, dublando o personagem vivido por Hugh Jackman. Entre outras dublagens, fez o Tigrão (Ursinho Pooh), Obi-Wan Kenobi (Alec Guinness, em Star Wars) e Anthony Hopkins em filmes como Thor, e os vilões Esqueleto (He-Man) e Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo).
Entrevista com
Tatá Werneck
12 de janeiro de 2021 | 05h07
A tecnologia invadiu a vida das pessoas mundo afora e abriu inúmeras possibilidades para fazer com que se conectem, estando onde estiverem, no mesmo país ou em pontos distantes do planeta. Entre os aplicativos que fazem parte da nossa vida, existem aqueles que são para aproximar os indivíduos que querem ter um relacionamento amoroso. São os aplicativos de namoro. Usando esse tema como mote, Fernanda Young e seu parceiro, Alexandre Machado, criaram a série Shippados, último trabalho em conjunto – pois Fernanda morreu em 2019 –, que estreou primeiro na plataforma de streaming Globoplay e, nesta terça, 12, chega à Globo, com exibições às segundas, terças, quintas e sextas.
Dirigida por Patricia Pedrosa, a trama conta a história de Rita, que é interpretada por Tatá Werneck. Ela é uma pessoa que leva tudo muito a sério, acredita em tudo que sua mãe diz, seja ou não um absurdo. Tudo o que acontece em sua vida, seja bom ou ruim, ela vai para o computador e revela a seus seguidores. Mas ela quer muito encontrar um namorado, o que não tem sido uma tarefa fácil, mas ela não desiste.
Da mesma forma que a garota, Enzo, vivido por Eduardo Sterblitch, se vale do aplicativo de namoro para conhecer a pessoa que o fará feliz. No entanto, sua jornada também não rende muitos bons frutos, com encontros nada proveitosos. Para completar, o rapaz divide o apartamento com seu amigo Valdir (Luis Lobianco), que namora Brita (Clarice Falcão), e o casal mantém uma relação muito boa, entretanto, os dois são adeptos do naturismo, o que significa que desprezam roupas e têm a mania de andar pelados em casa, o que não agrada nada ao colega de apartamento.
A atriz Tatá Werneck, como toda mãe que trabalha fora de casa, se desdobra entre os cuidados com a pequena Clara Maria, o companheiro Rafael Vitti e sua agenda de gravações. No momento, ela aproveita suas férias curtindo o quanto pode a filha. Pelo menos é o que se observa em suas redes sociais. Separando um tempinho do descanso, a humorista respondeu a algumas perguntas, por e-mail, do Estadão sobre Shippados.
Acho que existe uma Rita por aí. Ou pelo menos com uma parte dela. Talvez com suas crises e medos as pessoas se identifiquem, essa busca pela aceitação, pelo amor nos tempos dos likes. Essas personagens são porta-vozes de visões críticas de mundo muito interessantes.
Acho que eles se conectam justamente por isso. Eles têm uma loucura parecida e uma retórica espontânea e eloquente.
Vale. E vale tentar mil vezes também. Mas com o tempo você aprende que não é o outro que te fará feliz. Se você não estiver inteiro, vai buscar a vida toda. Ou vai usar sua relação como muleta para suas próprias questões existenciais.
Eu nunca entrei em aplicativo de namoro e nem me arriscaria. Ainda acredito no acaso dos esbarros nas esquinas.
Nunca tive esse problema. Sempre fui do jeito que sou. Mas acho que as pessoas têm medo de serem o que são e não serem compreendidas ou aceitas. Estamos carentes de colo. Daquele abraço que diz “calma, vai ficar tudo bem”.
Eles têm crises parecidas. São anti-heróis. Se encontram no erro. Na tentativa. Na perda. Já estão no fundo do poço. Brindando angústias.
Sempre teve. Sempre sonhei em estar em um trabalho com eles. A Rita conta um pouco da história da Fernanda. Essa busca pelo pai era uma busca da Fernanda. Ela estava tão feliz com a série. Eles são tão brilhantes. Fico muito feliz por tê-la deixado feliz. Eles são gênios.
11 de janeiro de 2021 | 08h44
Eva Wilma está internada desde a noite deste domingo, 10, no Hospital Vila Nova Star, na zona Sul de São Paulo, em decorrência de uma pneumonia. A atriz, de 87 anos, fez teste de coronavírus, mas deu negativo. Os médicos decidiram deixá-la na Unidade de Terapia Intensiva porém, de acordo com o último boletim, o quadro de saúde dela é estável.
Em 2016, Eva Wilma teve embolia pulmonar e chegou a ser levada para o Hospital Albert Einstein, onde ficou por três semanas internada.
Em dezembro, Eva Wilma prestou uma homenagem para a amiga Nicette Bruno, no Instagram, que morreu em decorrência do novo coronavírus. "Eu te amo e vou amar sempre, minha amiga querida!", escreveu na legenda da foto em que as duas aparecem abraçadas.
10 de janeiro de 2021 | 05h00
A fábula do boneco de madeira que vira um menino de verdade nasceu na Itália oitocentista e espalhou-se pelo mundo. Mesmo antes da célebre adaptação da Disney, de 1940, Pinóquio era já lido em muitos países, Brasil inclusive, via Monteiro Lobato. Mas é verdade que, com o poder de difusão da maior indústria cinematográfica do mundo, o personagem criado por Carlo Collodi em 1881 tornou-se de fato universal.
O desenho da Disney tornou-se um clássico da animação por sua beleza e excelência de realização. É vivamente colorido, em contraste com as outras adaptações cinematográficas que optam pelos tons mais escuros, mais adequados ao clima da história. Mesmo formatado nos padrões “para toda a família” Disney, o desenho não escapa a certas situações soturnas. É verdade que atenuadas. Mas a própria estrutura da narrativa propõe uma experiência um tanto assustadora, sobretudo para o público infantil. Inevitável, por exemplo, em certas cenas famosas, como a do boneco procurando pelo pai no ventre de um ser marinho espantoso (uma baleia para a Disney, enorme tubarão, segundo outras adaptações). Ou quando os meninos desobedientes caem na tentação da vagabundagem e se veem transformados em asnos.
É bastante provável que Collodi (nome verdadeiro, Carlo Lorenzini) tivesse uma intenção moralizante, pedagógica e civilizatória ao lançar seu personagem. Primeiro sob forma de folhetim, em jornal dirigido ao público infantil; depois em livro, Le Avventure di Pinocchio, publicado em 1883. A história, de tom moral, enaltece as virtudes da educação, da honestidade e do trabalho, e pune a malandragem, a mentira e a vadiagem.
Eram valores então idealizados em uma Itália tradicional, povo antigo reunido num país novo – o chamado Risorgimento, processo que deu unidade a uma coleção de pequenos estados, se completa em 1871. Era um país com dificuldades econômicas e zonas extensas de pobreza.
Esse ambiente de carência é devidamente apagado do desenho da Disney, mas forma o quadro de fundo das outras adaptações do livro. Comparece nas Aventuras de Pinocchio (Luigi Comencini, 1972), em Pinóquio e a Fada Azul, de Roberto Benigni (2003) e, de forma bastante acentuada, no soturno Pinóquio de Matteo Garrone (2019).
A fábula tornou-se universal e permanente não apenas por suas qualidades literárias, mas provavelmente porque toca e ilumina alguns desvãos obscuros da natureza humana. Em especial, a quantidade de sofrimento necessária ao processo de humanização. No ensaio clássico O Mal-Estar na Cultura, Freud descreveu o esforço de repressão de instintos necessário para o processo civilizatório. E a contrapartida de sofrimento que essa repressão traz à natureza rebelde do ser humano. Daí o inevitável mal-estar incrustado no cerne da civilização.
Collodi parece antever esse processo. Seu boneco falante é expressão de uma natureza anárquica, como ele próprio não deixa dúvidas. Em certo trecho, Pinóquio diz claramente que sua vocação é “Comer, beber, dormir, me divertir e vagabundear de manhã até a noite”. Mesmo amando o pai e com a Fada como protetora, terá de atravessar sua estrada de sofrimento até se tornar um ser humano de verdade.
09 de janeiro de 2021 | 05h00
O belo disco Obatalá – Uma Homenagem à Mãe Carmen foi lançado em 2019 como uma ode aos orixás, sendo Obatalá o pai da criação, e à Mãe Carmen, ialorixá do terreiro do Gantois da Bahia, importante representante do candomblé no País e filha da lendária Mãe Menininha. Contando com um grande elenco da MPB, incluindo nomes como Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Marisa Monte, Alcione, Gal Costa, Daniela Mercury, Jorge Ben Jor, Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho, o álbum reúne canções entoadas no idioma iorubá e outras em português, levando a cultura dos terreiros para a canção popular.
O projeto deu origem ainda ao documentário Obatalá, o Pai da Criação, que a GloboNews, em parceria com Gege Produções, exibe neste domingo, 10, às 23h. Com registros inéditos de bastidores e depoimentos, o filme, em P&B, assim como já fazia o disco, reforça a importância do candomblé e da ancestralidade africana, tendo como símbolo de referência – e resistência – o terreiro do Gantois. Vale ressaltar aqui: o filme foi feito antes da pandemia. Filho de Xangô, Gil, aos 78 anos, falou por telefone, ao Estadão, sobre o documentário – e o reencontro musical com Jorge Ben Jor, 44 anos depois de eles gravarem o disco Gil & Jorge – Ogum, Xangô.
A questão da intolerância é uma das discussões trazidas no documentário. Você tem uma fala ali em relação a uma nova tendência de busca de hegemonia religiosa no País, com ênfase político-religioso. Mas há também a questão do racismo, sendo o candomblé uma religião de matriz africana, não?
Também, claro. Um dos traços básicos da rejeição a manifestações de matriz africana é o racismo. Essa questão da defesa dos interesses religiosos em relação ao candomblé e seus derivados é uma coisa que vem desde a hegemonia católica. Agora, essa hegemonia católica foi desafiada pelo pentecostalismo, que chega com novas estratégias políticas, de luta, e esses ataques, essa ameaça a essas manifestações afro-brasileiras recrudescem agora com essas novas ambições desses grupos neopentecostais, políticos.
Por falar no tema, temos visto uma grande repercussão contra atos racistas, muito tem se falado sobre antirracismo, e isso tudo tem sido potencializado pelas redes sociais. Como você tem visto essas manifestações?
Há pelo menos dois aspectos relevantes nisso tudo. Primeiro é a capacidade crescente de conscientização e mobilização dos próprios setores, dos próprios grupos negros afro-americanos, afro-brasileiros, afrointernacionais de um modo geral, atuando nos vários países. Toda essa mobilização, todo esse surgimento mais evidente de uma indignação resultam nisso, no crescimento dessa atuação dos grupos negros. A segunda questão é também o crescimento de uma solidariedade cada vez maior dos setores não negros, das sociedades contemporâneas, no mundo inteiro. São brancos, mestiços, etc., do mundo inteiro, que solidarizam cada vez mais com a luta negra, que reconhecem cada vez mais os direitos de inserção plena desses segmentos nas vidas nacionais, nas sociedades nacionais. A luta negra é cada vez menos uma luta negra e cada vez mais uma luta das sociedades por inteiro.
Outro aspecto importante tratado no documentário diz respeito ao matriarcado, da figura da mulher nos terreiros do candomblé, e como isso vem de gerações.
Com relação a essa questão da forte presença matriarcal, nessa institucionalidade do candomblé, das religiões afro-brasileiras, tem aí também uma aliança importante com o feminismo, com toda essa emergência da força feminina. Há uma ligação direta entre o prestígio crescente dessas entidades, tipo as mães de santo importantes, e a causa feminista. Então, também tem isso: o matriarcado clássico vindo lá de trás, do candomblé, se associando, desaguando nessa coisa do feminismo contemporâneo.
O disco promoveu um reencontro seu com Jorge Ben Jor, que disse que foi levado à Bahia por Iemanjá (no dia 2 de fevereiro), e por isso acabou participando do disco. Fale desse encontro, que foi totalmente por acaso, não?
Totalmente. O interesse profundo de Jorge Ben por todas essas questões é uma coisa muito conhecida por nós. Ele é um dos grandes mentores desse discurso do engajamento na luta negra no Brasil com seu modo próprio, bem particular através de suas músicas. Ele queria ver a festa de Iemanjá na Bahia, ligou para nós e disse: estou indo, vou ficar aí com vocês. Coincidentemente, esse dia era o dia que eu ia gravar uma das faixas. Na hora, ele disse: vou com você. E foi. Ele participou (de ‘Odu Re Odure Ayelala / Orixá Oxalá’), ensinamos para ele na hora o canto, as palavras em iorubá, e ele gravou.
Você tem forte relação com o candomblé, mas há um sincretismo na sua vivência. Você já disse em música que ‘minha religião é a luz na escuridão’. Fale da sua relação com as religiões.
Para muitos da minha geração, a aproximação com o candomblé é feita por essa dimensão mais sincrética que você menciona. Pelo fato de ter já, na tradição da música baiana, uma forte presença dos elementos ligados ao candomblé, dos ritmos, dos temas, dos nomes dos orixás. Então, a minha geração cresce ali na Bahia convivendo com esse sincretismo: Oxalá com Senhor do Bonfim, essa aproximação entre o catolicismo popular e o candomblé. Tudo isso foi porta de entrada para essa minha geração. Então, o sincretismo é uma porta de entrada para esse interesse mais direto, mais profundo, mais específico em relação ao candomblé. A religião para mim é essa conversa permanente entre todas as manifestações do desejo da transcendência, do desejo da religação com uma essência primordial. E, entre isso tudo, o candomblé, sem dúvida alguma, participando de uma forma muito grande, porque é um segmento importantíssimo da formação brasileira do ponto de vista do povo, da raça brasileira, da cultura brasileira.
Numa entrevista, Flora Gil (mulher de Gil e diretora do projeto ‘Obatalá’) disse que o carnaval para família Gil só após a vacina.
É, Flora e todos os meus filhos, e essa comunidade em torno da família, vêm fazendo há 20 e tantos anos o carnaval e agora darão essa parada e, se eventualmente voltarem a fazer, só será depois que as questões sanitárias estiverem propriamente resolvidas.
Para você, é o que faz sentido: não é possível fazer carnaval sem a vacinação.
Até que a gente tenha uma imunidade de rebanho, que acho que só a vacina pode garantir. Só a partir dessa imunidade coletiva é que a gente pode fazer as festas. Enquanto a contaminação estiver ainda em alta, como é o caso, não dá para fazer essas coisas. Uma das reclamações mais fortes que a gente faz hoje, todos os segmentos mais sensatos da sociedade brasileira, é isso, com relação a esse descuido, a esse descaso em relação a aglomerações. O carnaval é a maior aglomeração possível que a gente tem no País.
Você tem visto esses vídeos de festas que têm acontecido, de aglomerações? O que sente em relação a isso?
Tenho, aqui e em vários outros lugares do mundo. Há várias maneiras de reagir a isso. Primeiro com uma certa indignação pelo fato de que as pessoas sejam tão descuidadas, tão negligentes em relação aos cuidados. Também por outro lado, uma reação de compreensão, as pessoas não habituadas a esses regimes de obediência a protocolos, uma falta de cultura de vivências desse tipo. Não é toda hora que a gente tem pandemias ou coisas desse tipo que obriguem as pessoas a adotarem regimes rígidos de disciplina. Então, tem os dois sentimentos.
Assim que você for vacinado, qual a primeira coisa que pensa em fazer?
Não tenho pensado nisso, não. Outro dia alguém me perguntou isso e eu disse: no dia em que eu tomar a vacina, a primeira reflexão mais imediata que vou fazer é com relação à manutenção dos cuidados: uso da máscara, cuidado com as aglomerações, porque os resultados efetivos da vacinação só virão tipo um ano depois, se pelo menos mais da metade da população esteja vacinada.
Você tem feito composições neste período?
Não, a única composição que eu fiz foi uma música com Ruy Guerra (Sob Pressão) para Sob Pressão – Plantão Covid. Até agora só isso.
Você fez EP com sua neta Flor. Tem sido um período produtivo de outras formas, com muitas lives, mas não para compor?
Compor, não. Não sinto impulso ainda. Preciso sossegar um pouco mais, desviar um pouco a atenção. Essa atenção muito concentrada nos cuidados que temos que ter. Quando passar um pouco isso, acho que então a mente e a alma vão dar espaço a outras coisas, à parte mais criativa mesmo, mais inspiracional, digamos assim.
08 de janeiro de 2021 | 08h19
Morreu na quinta-feira, 7, aos 73 anos, a atriz Marion Ramsey, que ficou conhecida por interpretar a oficial Laverne Hooks na franquia Loucademia de Polícia,. As informações foram divulgadas pela Variety e confirmadas pela agência da artista. A causa da morte não foi revelada.
No entanto, Marion Ramsey ganhou destaque ao participar dos filmes da franquia Loucademia de Polícia, na qual interpretava a oficial Hooks. Personagem tinha como característica sua fala tranquila, se mostrando uma pessoa muito calma, mas que, de um momento para outro, se revelava descontrolada.
Na sequência, apareceu nos seriados The Nanny, Barrados no Baile e MacGyver e fez dublagem na Família Adams. Além disso, reencontrou Steve Guttenberg, colega em Loucademia de Polícia, no filme Lavalantula, em 2015, que teve uma sequência no ano seguinte.
O último trabalho de destaque de Ramsey foi no filme When I Sing, de 2018. Produção independente retrata a luta de uma artista que não teve sucesso em sua longa carreira, mas tenta um novo caminho na indústria da música.
07 de janeiro de 2021 | 08h42
Genival Lacerda não resistiu às complicações do novo coronavírus e morreu nesta quinta-feira, 7. O cantor, ícone do forró brasileiro, tinha 89 anos e estava internado no Recife, em Pernambuco, em estado grave, desde o dia 30 de novembro. A informação da morte dele foi confirmada pelo filho, João Lacerda.
Nesta quarta-feira, 6, Genival Lacerda teve complicações no estado de saúde e teve de continuar respirando por ventilação mecânica com o auxílio de remédios. Recentemente, o cantor chegou a ter perspectivas de melhora diante da covid-19.
Genival Lacerda nasceu em Campina Grande, na Paraíba, em 1931, e era um dos destaques da cultura nordestina. Em 1975, o cantor alcançou o sucesso com a música Severina Xique Xique. Outras canções que marcaram a carreira de 64 anos dele foram Mate o Véio, Radinho de Pilha e De Quem é esse Jegue.
Em 2014, o cantor se apresentou durante o programa Senhor Brasil, de Rolando Boldrin, na TV Cultura.
Assista ao vídeo:
05 de janeiro de 2021 | 14h00
“Sem ele nada se faz/A roda da sorte é sua”. Com esses versos, a cantora e compositora carioca Cecília Beraba presta tributo a um dos mais importantes orixás presente nas religiões de matriz africana na música Exu, primeiro single de dois singles que a artista lançou no fim de 2020.
A faixa, cantada com suavidade pela voz inspirada por referências da MPB, do jazz e da música cubana, destaca a virilidade e o aspecto de mensageiro ligado a Exu.
É, porém, no segundo single, que a contemporaneidade e a ancestralidade se conectam de modo íntimo na voz de Cecília. Omolu traz uma homenagem ao orixá de mesmo nome, vinculado à cura de doenças epidêmicas. Nada mais adequado para os tempos atuais.
“Exu representa a inteligência emocional, cuida do caminho, das encruzilhadas da vida”, comenta a artista, que conta estar totalmente cercada pelas tradições do candomblé e da umbanda.
Não por acaso, quando a música foi disponibilizada para ser reproduzida nas plataformas digitais, ela celebrou em suas redes sociais dizendo que a canção foi “uma oferenda para aquele orixá que deve-se saudar antes de tudo”.
Por isso, a faixa já começa declarando que “Na frente lá vem ele, o mensageiro/Plantado bem na porta do terreiro”, referência ao fato de que Exu é tido como um guardião e colocado para proteger as entradas de casas e de locais de oração.
“É uma música também bastante filosófica”, afirma a cantora carioca, que gravou ambas as faixas durante o período de isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Em Exu, ela conta ainda com a participação da cantora Patrícia Bastos, amapaense radicada em São Paulo. “Ouvi Zulusa, seu penúltimo álbum, até não ter mais lágrimas para chorar na faixa Mal de Amor. Quando pensei em gravar Exu, não conseguia imaginar sem ela.”
As vozes de ambas as cantoras têm timbres relativamente semelhantes, mas ainda assim formam um dueto nuanceado ao ouvinte atento.
O interessante em uma gravação feita em período pandêmico é que a afinidade artística nem sempre está combinada à proximidade geográfica: Cecília e Patrícia nunca chegaram a se encontrar presencialmente. “A música pedia a energia dela cantando, então fui atrás na cara de pau, arranjei o telefone e a convidei”, conta Cecília, lembrando dos bastidores da gravação que ela considera “um grande privilégio”.
“Sopra chagas, misérias, pestes”, canta Cecília em Omolu, música que faz referência à característica do orixá de dissipar epidemias. “Seja além de alguém que fere/Mestre, amigo, professor e guardião/Meu sol de meio-dia”, diz a letra da canção, acompanhada por um piano enérgico.
Na mitologia iorubá, Omolu nasceu coberto de máculas pelo corpo por causa da varíola, que o havia atacado por ser filho de uma relação proibida entre os orixás Nanã e Oxalá – este, marido de Iemanjá.
As feridas pelo corpo fizeram Nanã abandonar o recém-nascido Omolu ao mar, mas Iemanjá cuidou dele e o curou, o que ainda o deixou com cicatrizes profundas, o que explica por que ele é sempre representado coberto com uma espécie de manto de palha por quase todo o corpo, com exceção dos braços e das pernas, que não foram atingidos pela moléstia.
No entanto, Omolu aprendeu a tratar dessa e de muitas outras doenças, o que explica sua capacidade de curar as enfermidades, especialmente aqueles que são altamente contagiosos. Isso faz com que a divindade seja associada às epidemias, tornando a canção curiosamente propícia para os tempos contemporâneos.
A cantora lista, entre suas principais inspirações, Jorge Mautner, Elza Soares e Bola de Nieve, artistas cuja influência reverbera com clareza e pode ser ouvida em seu estilo e também nas temáticas que suas canções abordam.
Os assuntos que mais a inquietam em suas composições são extremamente diversos, segundo ela relata. “Sou muito curiosa sobre estar viva.” E nesse “estar viva” ela aborda temas que vão do “processo de relacionamento com os outros, o processo de aprendizado” até observações poéticas e questões folclóricas. “Essas coisas mais filosóficas, metafísicas me tocam profundamente”, diz ela.
Cecília se prepara para lançar, em fevereiro, um disco com composições que ela fez em parceria com Jorge Mautner, uma de suas principais referências — não só na música. “Jorge era um grande ídolo, mas quando comecei a ler os livros dele eu pirei. Ele criou uma filosofia própria e ali ele abrange tudo, desde questões humanas de comportamento até questões políticas. Li tudo dele, de frente para trás, de trás para frente”, relembra a cantora e leitora de Jorge Mautner, que também é escritor de livros como Deus da Chuva e da Morte (1962), Mitologia do Kaos (1962) e Narciso em Tarde Cinza (1969), fundador do partido do Kaos e um multiartista que completa 80 anos em 2021.
Dizem que nunca se deve conhecer seus próprios ídolos para não se frustrar com quem eles realmente são. Não é o caso de Cecília. Ela conta que, após anos cantando composições de Mautner, um dia ela foi a um show dele, chegou cedo e conseguiu conversar com o ídolo. Desse primeiro encontro, surgiu uma frutífera parceria que ela considera “uma realização, uma catarse”. “Quando eu pude conviver com ele todo dia, isso tomou outra dimensão.”
Lançar um álbum musical durante a pandemia pode ser uma decisão corajosa, e Cecília bem sabe disso. “Esse foi um disco totalmente independente, ainda mais com a quarentena no meio”, afirma a cantora. “Nesse período, acabei fazendo muita coisa de casa. Até gravei vídeo, que é algo de que não gosto”, acrescenta.
Cecília se diz preocupada com o futuro do mercado musical do Brasil. “Muitas casas de show fecharam aqui no Rio”, comenta ela, que acredita que a música se tornou uma “terra tão arrasada” que os que permanecem nessa área ou são “muito privilegiados, com muitas condições”, ou são aqueles incansáveis para quem “a música é uma sina”.
“Vamos precisar encontrar formas mais simples e mais honestas para continuar”, conclui a cantora.
05 de janeiro de 2021 | 10h01
Sequência da icônica comédia dos anos 1980, Um Príncipe em Nova York 2 tem estreia programada para o dia 5 de março, na Amazon Prime Video. Com elenco novamente encabeçado por Eddie Murphy, longa tem direção de Craig Brewer. Para ter um gostinho do que vem por aí, vale conferir o trailer do filme.
Para quem não lembra, ou ainda não viu, no filme original, Um Príncipe em Nova York, de 1988 e dirigido por John Landis, Murphy é o príncipe Akeem, que faz parte da realeza afriacana. Para fugir de um casamento arranjado pela família, ele parte para os EUA, tendo ao seu lado o amigo e assistente Semmi (Arsenio Hall), em busca de sua rainha. Na tentativa de passar despercebido na América, Akeem finge ser um estudante estrangeiro e acaba se apaixonando por Lisa. Mas nada é tão fácil como ele imagina.
Integram também o elenco, Jermaine Fowler, Leslie Jones, Tracy Morgan, KiKi Layne, Shari Headley, Wesley Snipes e James Earl Jones, John Amos, Teyana Taylor, Vanessa Bell Calloway, Paul Bates, Nomzamo Mbatha, Bella Murphy.
04 de janeiro de 2021 | 08h51
BERLIM — Quando o diretor Paul Greengrass se preparava para rodar seu novo filme, Relatos do Mundo (News of the World), a respeito de um veterano da Guerra Civil Americana no Texas dos anos 1870 que acompanha uma órfã cruzando o estado na jornada até seus parentes, ele esperava um desafio significativo.
“É o primeiro filme que fiz girando em torno de uma atriz infantil", disse ele recentemente pelo telefone.
Ele se deu conta que a escolha do elenco seria difícil em diferentes sentidos. Embora a personagem esteja em cena durante a maior parte do filme, ela tem poucas falas. Tom Hanks já tinha aceito o papel principal, de modo que a atriz “contracenaria diretamente” com um superastro, disse Greengrass. “Uma tarefa muito, muito difícil.”
Mas uma das primeiras crianças que ele viu durante os testes em 2019 foi Helena Zengel, então com 11 anos, uma menina de Berlim cheia de energia e com o cabelo platinado.
“Não cheguei a considerar outra candidata para o papel", disse ele. “Foi a decisão mais fácil do filme.”
News of the World, que estreou nos cinemas americanos e canadenses no dia 25 de dezembro e deve chegar a outros países via Netflix em fevereiro, é a grande estreia internacional de Helena, que já se tornou uma das atrizes (que dirá atrizes mirins) mais faladas a surgir da Alemanha nos anos mais recentes.
Ela foi muito elogiada no ano passado por seu retrato de uma garota de 9 anos quase selvagem no filme System Crasher, que recebeu a indicação alemã de melhor filme estrangeiro na premiação do Oscar. Essa interpretação rendeu a ela o prêmio de melhor atriz no Lola, equivalente alemão ao Oscar, fazendo dela a mais jovem a receber o prêmio.
Em News of the World, a personagem de Helena, Johanna Leonberger, torna-se órfã quando os pais são violentamente assassinados em sua fazenda quando ela tem 4 anos. Levada e criada pela tribo Kiowa, ela é afastada dela por soldados, e um veterano viajante, interpretado por Hanks, concorda em levá-la até um casal de tios.
Helena foi muito elogiada pelo papel, com os críticos exaltando sua capacidade de imprimir algo de terno e inteligente a uma personagem desafiadora e alienada, e por canalizar os horrores do passado de Johanna em silêncio quase total. A maioria das falas dela são em Kiowa, idioma que ela teve de aprender para o papel.
Falando por chamada do Zoom recentemente, Helena parecia muito mais risonha e loquaz do que seus papéis recentes sugeririam - mais parecida com uma garota normal de 12 anos. Ela disse que, como a maioria das alemãs da sua idade, passou a maior parte do ano em casa, e estava atualmente de quarentena porque alguns colegas tinham testado positivo para o coronavírus.
Ela disse que, antes de ser escolhida para o filme, nunca tinha ouvido falar em Hanks.
“Acho que já tinha visto Código Da Vinci, mas não sabia quem ele era", disse ela. “Pensei que fosse só algum ator.”
Por e-mail, Hanks elogiou a capacidade de Helena de atuar “sem tensão, sem apreensão nem consciência de si", dizendo que gostaria de ter “sua facilidade e simplicidade".
Helena disse que nunca fez aulas de atuação, “pois não sei se realmente há muito o que aprender".
“Fico diante da câmera, sei o que quero fazer, e simplesmente faço", disse ela, prática.
A mãe dela, Anne Zengel, explicou que essa concentração e força de vontade são uma característica da filha desde pequena. De acordo com ela, seus primeiros contatos com a atuação, aos 4 anos, foram fruto principalmente do cansaço dos pais, pois a filha tinha “três vezes mais intensidade” do que as outras crianças e fazia manha quando contrariada.
“Ela tinha que funcionar dentro da sociedade, e então buscamos uma forma de redirecionar essa energia", disse ela.
Ela matriculou Helena em aulas de patinação no gelo e a incentivou a atuar. Depois de alguns papéis menores em séries policiais da TV alemã, como filha de um ladrão de bancos ou uma garota que cai da ponte, ela acabou recebendo o papel principal em um filme alemão de arte, Dark Blue Girl, aos 7 anos.
“Em algum momento, aconteceu o que eu torcia para que acontecesse", disse a mãe ela. “A intensidade dela passou a ser valorizada.”
Em 2017, Helena chamou a atenção de Nora Fingscheidt, diretora alemã de System Crasher, um drama difícil a respeito de uma menina chamada Benni que é alvo de abusos quando bebê e é abandonada pela mãe, posteriormente atacando seus cuidadores e a sociedade ao seu redor. O filme trazia uma série de cenas chocantes, incluindo uma sequência de violência entre crianças.
Em entrevista, Nora explicou que precisava de uma atriz infantil capaz de transmitir o lado físico frequentemente assustador de Benni, ao mesmo tempo suportando o fardo psicológico do papel.
Ela ficou impressionada com a “qualidade cinematográfica [de Helena], sua pele branca quase translúcida, o cabelo branco que lhe dava a aparência de um anjo, mas com uma ambivalência fascinante", disse ela. Durante o teste da atriz mirim, quando pediram a ela que improvisasse uma cena na qual “se descontrola”, gritando e arremessando objetos, Nora disse ter reparado em como os “olhos dela brilharam quando lhe disse que poderia se comportar tão mal quanto quisesse".
Nora disse que, para ajudar Helena a distinguir entre si mesma e a personagem traumatizada, as duas imitavam uma cena após as filmagens, com a diretora erguendo o braço feito um chuveiro e a menina fingindo se lavar, indicando a transição de volta a si mesma. A diretora acrescentou que Helena também escrevia um diário para ajudá-la a processar as emoções.
Helena disse que a experiência de filmar System Crasher ajudou-a a se preparar para o papel de Johanna, que ela reconheceu ser “menos extremo".
Agora Helena confronta a estranha realidade da fama internacional enquanto se vê presa em casa, concluindo o sétimo ano. No segundo trimestre do ano, a revista Variety a indicou como um dos “atores e atrizes que devemos acompanhar", e ela disse ter recebido ofertas de outros papéis nos meses mais recentes, mas espera o fim da pandemia antes de tomar novas decisões.
Ela se disse aberta à ideia de uma mudança para os Estados Unidos, embora a mãe insista que ela tenha uma infância normal. A cultura das celebridades na Alemanha, mais discreta, é outro conforto.
“Atuação é uma coisa que simplesmente fazemos, e enquanto isso nos deixar felizes, estaremos atuando bem", disse Helena. “Além disso, é divertido correr e gritar pelo set.” / Tradução de Augusto Calil
01 de janeiro de 2021 | 14h36
Sem gravar um álbum de inéditas desde 2004, quando fez Em Algum Lugar, Beto Guedes postou uma nova música em seu canal do Youtube nesta quinta-feira, 31. Toda Vida Quer Paz é uma adaptação de Jesus, Alegria dos Homens, clássico tema do compositor alemão Johann Sebastian Bach, que ganhou letra de Chico Amaral.
A música foi lançada como uma mensagem de fim de ano do artista. Além de cantar, Beto tocou violão, viola e fez o arranjo. O músico Eneias Xavier pilotou baixo, piano e coordenou a gravação e mixagem no Usina Estúdio, em Belo Horizonte.
O último disco de Beto Guedes, Outros Clássicos, foi gravado ao vivo em julho de 2010. O artista é um dos nomes principais do Clube da Esquina e é autor dos sucessos Amor de Índio, O Sal da Terra e Sol de Primavera.
01 de janeiro de 2021 | 16h00
Atualizado 01 de janeiro de 2021 | 18h04
Vinte anos antes de partir rumo a um exílio artístico e pessoal, Belchior fez uma música chamada Arte-Final, em que perguntava se “a saída era mesmo o aeroporto”. Depois de se envolver em situações familiares que culminaram no fim de seu casamento e de cometer erros estratégicos na condução da carreira, o autor de Como Nossos Pais acreditou que era. Deixou seu carro importado no estacionamento do aeroporto de Congonhas, pegou um avião e tornou-se um nômade que passou por cidades do Brasil e do Uruguai.
A atitude fez com que Belchior se tornasse admirado pela coragem de deixar tudo para trás, mas também expôs a intimidade de um homem discreto e avesso a badalações. No livro Viver é Melhor Que Sonhar - Os Últimos Caminhos de Belchior, que entra em pré-venda este mês, os jornalistas Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti percorrem as cidades por onde passou o artista, morto em abril de 2017, nos últimos anos de vida. A ideia da dupla era tentar entender como e por que ele se afastou de amigos, familiares e da carreira, além de revelar histórias desta fase de exílio e fuga.
Os autores fizeram um road book, viajando para os lugares onde Belchior esteve nos últimos anos de vida e entrevistando pessoas que abrigaram o cantor e Edna Assunção de Araujo, conhecida como Edna Prometheu. A vida de Belchior começou a mudar quando ele a conheceu no ateliê do pintor e gravador Aldemir Martins.
O livro conta como Edna, antes do exílio, se tornou companheira e produtora de Belchior, tomando o lugar de empresários com quem o cantor trabalhava. A um deles, ela diz que Belchior, então fazendo shows modestos, mas que mantinham a agenda aquecida, somente aceitaria cachê “no patamar do de Zé Ramalho”. Isso fez com que os contratantes o procurassem cada vez menos.
Os autores também reconstituíram fatos da vida pregressa dele e concluíram que o processo de desconexão do artista com a família e a profissão foi gradual. Das entrevistas com Ângela Henman, casada com ele por mais de 30 anos, e com os filhos do casal, Camila e Mikael, vieram informações importantes. “Ele era um grande pai e marido, músico com suas ausências normais. Era mulherengo, mas Ângela também não ficava procurando saber disso”, afirma Fuscaldo. Porém, um momento de ruptura ocorreu quando Belchior contou à família que tinha duas filhas, de mulheres diferentes, fora do casamento. Em setembro de 2007, o divórcio foi formalizado com divisão de bens e pagamento de pensão alimentícia a Ângela.
A partir daí, Belchior e Edna passaram por várias cidades e deixaram dívidas em hotéis de São Paulo e Rio antes de ir para o Uruguai. Em algumas passagens do livro, Belchior se mostrou pouco disposto a voltar para a música. Em Montevidéu, pediram que ele cantasse. A negativa veio em tom de deboche: “dentista não sai no meio da rua fazendo canal!”.
Belchior nunca disse para as pessoas com quem esteve se o afastamento da carreira seria definitivo. Para Fuscaldo, o que tinha a possibilidade de ser uma fase de recolhimento tornou-se permanente quando ele viu expostas sua intimidade e as dívidas que tinha. “Acho que ele foi passar um tempo fora porque não sumiu de cara, chegou a ver um show do Tom Zé em Brasília. Ele estava com uma certa pressão e sem muita perspectiva profissional. Mas não imaginava que o que era uma coisa pequena iria se tornar algo enorme. Quanto mais tempo ele dava para ver o que ia fazer, ficava mais difícil voltar. Na cabeça da Edna, eles eram perseguidos pela mídia. Deve ter tido uma hora que ele entendeu que era melhor morrer como mito do que voltar pedindo dinheiro para pagar as dívidas”.
O livro é aberto por um momento dramático que ocorreu na cidade uruguaia de Artigas. Sem pagar pensão a Ângela, uma decisão judicial bloqueou as contas bancárias de Belchior e ele ficou sem renda para pagar o hotel onde estava hospedado com Edna há meses. Os dois saíram do local com a roupa do corpo, poucos pertences e nenhum dinheiro. O casal passou a noite debaixo da Ponte Internacional da Concórdia, ligação entre Brasil e Uruguai.
Os autores não conseguiram localizar Edna, mas Fuscaldo a isenta de ser a grande vilã da história. “É cruel dizer que tudo foi arquitetado por ela. Porque Belchior teve muitas oportunidades de voltar, de gente que estendeu a mão, mas ele não quis.” Na passagem por Saberi, cidade gaúcha em que foi abrigado por um grupo de camponeses, Belchior pegou um trator para passear e Edna pediu para que ele não fosse. Não foi ouvida e, enquanto o veículo sumia na estrada, ele respondeu: “assim eu não vivo, amorzinho”.
A pré-venda do livro Viver é Melhor Que Sonhar - Os Últimos Caminhos de Belchior (Sonora Editora) está prevista para começar no dia 18 de janeiro pela plataforma Benfeitoria, por meio do link http://benfei.to/belchior. Quem comprar o livro com antecedência poderá escolher algumas recompensas.
Uma delas é a reedição em vinil do álbum Alucinação, o trabalho mais conhecido de Belchior. Produzido por Marco Mazzola, nome forte da indústria fonográfica que trabalhou regularmente com o cantor e compositor, o álbum gravado em 1976 inclui sucessos como Apenas Um Rapaz Latino-Americano, A Palo Seco, Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida.
Outras recompensas previstas para quem adquirir o livro pelo site são uma camisa e uma bookbag, que estão em fase de desenvolvimento e devem incluir trechos de letras de canções célebres de Belchior. Valores do livro e dos combos de recompensas ainda estão em aberto.
01 de janeiro de 2021 | 06h06
A tradicional festa de Ano Novo na Times Square, em Nova York, nos EUA, contou com a participação de Anitta. A brasileira subiu ao palco poucos momentos antes da meia-noite. A apresentação da cantora contou com os sucessos "Vai, Malandra", "Bola Rebola", "Me Gusta" e "Downtown". Anitta foi a primeira brasileira na história a se apresentar no réveillon da Times Square, um dos mais famosos do mundo.
Antes do show, Anitta compartilhou alguns dos bastidores da preparação do show em sua conta no Instagram. "Não é show de 1 hora não, 'tá', gente? É uma apresentação, assim como todos os outros artistas que vêm aqui todo ano. E outra coisa: é playback porque pediram para ser e é isso que vai ser. É isso aí. Cheguei agora no ônibus, não vou chegar sentando na janela."
Nas redes sociais, brasileiros comemoraram a conquista da artista e o fato de ela ter levado o ritmo do funk para uma das celebrações mais assistidas no mundo.
31 de dezembro de 2020 | 07h35
Dawn Wells, que aproveitou seu charme e beleza para uma fama duradoura na TV como a doce náufraga Mary Ann numa ilha deserta no clássico sitcom dos anos 1960 Ilha dos Birutas, morreu nesta quarta-feira, 30, aos 82 anos, informou seu agente.
Wells, que ganhou o título de Miss Nevada em 1959 e competiu no concurso Miss América, morreu por complicações da covid-19, disse o representante da atriz, Harlan Boll, em um comunicado.
Nascida na cidade de Reno, Wells interpretou a fazendeira do Kansas Mary Ann Summers, uma dos sete náufragos depois que seu barco, o S.S. Minnow, foi atingido por uma tempestade durante o que deveria ser uma excursão de três horas saindo do Havaí.
Ilha dos Birutas durou três temporadas (1964-1967) com um elenco que também incluía Bob Denver como o maluco Gilligan, Alan Hale Jr. como “O Capitão”, Jim Backus como o milionário Thurston Howell III, Natalie Schafer como sua esposa elegante, Russell Johnson como “O Professor” e Tina Louise como a estrela de cinema Ginger.
A morte de Wells deixa Louise, de 86 anos, como a única sobrevivente deste elenco.
Os 98 episódios invariavelmente envolviam seus esforços em vão para sair da ilha. Wells, interpretando uma alegre morena do Meio-Oeste, aparecia na série vestindo shorts curtos, blusinhas e rabo de cavalo. Louise, interpretando uma sensação ruiva que remetia a Marilyn Monroe, usava vestidos justos.
As duas inspiraram o que se tornou uma pergunta duradoura da cultura pop para os homens: “Ginger ou Mary Ann?”
29 de dezembro de 2020 | 08h36
Com fins de beneficentes, ou festivos, em forma de avatar, ou com guitarras: as estrelas da música Kiss, David Guetta, Kylie Minogue e Jean-Michel Jarre farão shows de fim de ano em "livestream", devido à proibição dos concertos físicos pela crise sanitária global.
Buscador incansável de avanços tecnológicos, o pioneiro da música eletrônica Jean-Michel Jarre se apresentará em realidade virtual em uma catedral de Notre-Dame digitalizada, um evento que se poderá ser acompanhado pelo YouTube e Facebook.
Patrocinado pela Unesco, este concerto imersivo, chamado Bem-vindos ao outro lado, é uma "mensagem de esperança para 2021 nos tempos difíceis que enfrentamos, mas também uma oportunidade para homenagear a debilitada Notre-Dame [após o incêndio de abril de 2019] e todos nós", explica o artista que se propõe a "contribuir, apesar desses tempos difíceis para fazer ressoar Paris na meia-noite de 31 de dezembro".
Também em Paris, o show transmitido ao vivo de David Guetta será de caridade, como os que fez em Miami e em Nova York durante a crise sanitária. Com 50 milhões de visitas acumuladas, arrecadou-se US$ 1,5 milhão. Agora, este terceiro evento tem como objetivo apoiar as ações do Unicef.
"Transmitido de um dos lugares mais mágicos de Paris, que será anunciado nessa mesma noite", promete Guetta em um comunicado, antecipando um "espetáculo impressionante" para assistir no Facebook, YouTube, Instagram, entre outras redes.
Em um ano que não teve muita luz, Kylie Minogue fará os holofotes brilharem com Infinite Disco. Não será uma performance ao vivo, mas de um espetáculo em streaming que poderá ser visto apenas quando for anunciado o dia, com a compra de ingressos pelo aplicativo Dice.
Este espetáculo, que dura cerca de 50 minutos, focará nas faixas de seu último álbum Disco e em novas versões de seus sucessos passados. Já foi divulgado em novembro com ingressos comprados em mais de 100 países.
Como no caso da diva australiana, este tipo de encontro virtual pago é a resposta dos artistas para a ausência de shows há dez meses, devido à pandemia.
"É sobre administrar esta pausa até que os shows físicos possam voltar normalmente e seja possível viver da música", explica à AFP Emily Gonneau, professora do Centro de Informação e Recursos para a Música Atual (Irma).
"Durante o confinamento, foi preciso manter o vínculo com o público com conteúdos gratuitos. Agora, a questão é como encontrar um modelo econômico", completou.
A transição para o novo ano oferecerá opções para todos os gostos, desde o hard-rock pirotécnico do Kiss, com um "livestream" de Dubai (via Tixr), até o icônico hip-hop de J. Period (que colaborou, entre outros, com The Roots) e Rakim nos telhados do Brooklyn (via Stageit).
Outra artista que apostará no streaming é Patti Smith, que vai comemorar seus 74 anos em 30 de dezembro com um show, conforme sua tradição.
Este ano, porém, ela tocará em Nova York com sua banda, em um "livestream" pago (via Veeps) que coincidirá com 31 de dezembro em determinadas regiões do planeta, devido à diferença de horários.
>
28 de dezembro de 2020 | 07h00
Ela, Rita, fará 73 anos no próximo dia 31 de dezembro. Ele, Roberto, fez 68 em 16 de novembro. Juntos, se tornaram um dos únicos casais entre seus contemporâneos do meio pop que vingaram e sobreviveram à lógica do próprio tempo em que se conheceram, há 44 anos, quando qualquer compromisso conjugal era visto como uma traição às liberdades conquistadas desde a década de 1960. Rita e Roberto se libertaram de um passado no qual poderiam viver até hoje ao virarem a chave que os livraria das tiranias do rock and roll para conduzi-los por lugares mais espaçosos. Sem um, o outro existiria sim, mas a história seria bem diferente.
Pela primeira vez, Rita e Roberto aceitam o convite de entrevistarem-se um ao outro. Combinaram de não saber o que perguntariam e talvez, se realmente aguentaram esperar, só saberão das respostas ao lerem essa matéria. Com fotos raras fornecidas pelo Acervo do Estadão (as quais também não conheciam até hoje), a entrevista revela que há mais do que afinidades musicais por trás de um amor afirmado nas canções e reafirmado no silêncio.
TUDO SOBRE: RITA LEE
Roberto de Carvalho: Parafraseando o Police, “we are spirits in a material world” (somos espíritos em um mundo material). Como você acha possível resolver esta equação?
Rita: Sou darwinista até a página 3. A raça humana é híbrida, metade celeste e metade terráquea. Houve até uma época em que éramos hermafroditas. Estar no mundo da matéria é uma experiência individual, intransferível e difícil, uma aventura do nosso espírito (que é eterno) mas que aqui na Nave Mãe Terra tem começo, meio e fim. Quando morremos, ‘voltamos para casa’ e planejamos a próxima viagem a caminho da Luz.
Se a vida terminasse amanhã, o que ficou faltando, o que ficou sobrando?
Rita: Ficou faltando realizar na Terra o velho mantra clichê dos hippies: Paz e Amor. Ficou sobrando uma gentalha tosca e cafona que só tem como meta de vida o poder material.
Há 30 anos, em Perto do Fogo, você disse que em 2020 ia ser tudo igual. A profecia se confirmou? Daqui a 30 anos, vai ser tudo igual?
Rita: Eu me referia ao estupro que o Brasil sofreu e ainda sofre desde seu descobrimento sob as canetadas toscas dos poderosos da vez e que continuaria tudo igual em 2020. Tenho um pressentimento de que em algum momento haverá uma interferência externa na consciência humana: no sentido de que ou nos autodestruímos com o aumento do poderio nuclear ou passamos no teste evolutivo proposto por nossos pais celestes.
Existe vida fora da Terra?
Rita: Com zilhões de galáxias, zilhões de planetas, zilhões de estrelas e zilhões de dimensões existentes no universo, é um tanto pretensioso e ignorante os terráqueos se imaginarem a única forma de vida que existe.
Geneticamente em você, prevalece uma metade italiana, uma metade americana. Essa arquitetura moldada em forma brasileira. Na formação da sua identidade onde esses genes prevalecem, se destacam?
Rita: Dos antepassados italianos herdei a alegria pela música, o deboche latino, os beijos e agarros de carinho, a paixão por cinema e a formação católica. Dos americanos herdei a disciplina, a independência, a responsabilidade, o duvidar das certezas e o interesse por ufologia.
Falando sobre Brasil, como colocar ordem no caos?
Rita: Houve uma época em que o caos brasileiro tinha um cotè charmoso, exótico e criativo, que encantava o mundo. Hoje, o caos está na política incompetente e corrupta, que corta o barato do nosso humor debochado instalando ódio entre ‘nós e eles’, enquanto se destrói a natureza, sempre cagando e andando para o futuro do país.
Por que uma grande parte da raça humana não consegue captar a divindade que existe nos animais?
Rita: Pela ignorância espiritual dos humanos em se considerarem arrogantemente como a única imagem e semelhança de um deus que eles mesmos inventaram, se achando superiores aos reinos mineral, vegetal e animal. A defesa da causa animal é a luta contra a nova escravidão.
O que esperar do mundo pós-pandemia?
Rita: Minha esperança um tanto utópica é pensar que essa pandemia trará um upgrade na consciência espiritual em um bom número de humanos em termos de respeito à nossa Nave Mãe Terra. Ainda vivemos em tribos, é hora de nos unirmos como uma única humanidade e respeitarmos todas as formas de vida.
O que de melhor a música trouxe para sua vida?
Rita: A música me trouxe a oportunidade de levar às pessoas alegria e divertimento, fazendo-as esquecer por uns momentos de seus problemas e de seus sofrimentos. É o tal do prazer em ter prazer comigo.
Você acaba de ganhar um dia num paraíso à sua escolha. Como você idealiza este dia? Quem e o que vai estar lá? O que não pode estar lá?
Rita: Imagino meu paraíso cheio de bichos e de plantas, com uma biblioteca completa, o poder de ter acesso aos mistérios numa dimensão superior onde reencontrarei almas queridas que se foram antes de mim, além de aprender coisas fantásticas com os mestres de Luz. Meu paraíso na Terra é ter você como companheiro de vida, melhor amigo, parceiro ideal musical, pai dos meus 3 filhos lindos e avô dos meus 2 netos fofos.
Rita entrevista Roberto
Rita: Como e quando descobriu que tinha ‘ouvido absoluto’? Confissão: cantar perto de você me dá uma certa vergonha pois sei que sou meio desafinada... mas no peito dos desafinados também bate um coração... que no caso é todo seu – não resisti a fazer uma declaraçãozinha.
Roberto: Quando eu tinha uns 12 anos, fiz aulas de piano com um professor chamado Amyrton Vallim. Além de ser um grande pianista, ele era cego, e, portanto, o sentido de audição dele era muito mais apurado do que o normal. Ele fez os testes de identificação das notas nos sons, então, fiquei sabendo que meu ouvido era absoluto e não relativo. O que não fez nenhuma diferença na minha vida, até acho que o ouvido absoluto tem algumas desvantagens. Por exemplo: quando você toca um instrumento e ele não está afinado corretamente, nas notas pré-estabelecidas, você se perde completamente, porque é o ouvido que está no comando, então, se você toca onde tem que ser uma nota Lá e ouve uma nota Dó, você perde o senso de direção. E quanto à sua declaração aí, bom, além de ser super afinada, você tem o mezzo soprano mais bonito que meus ouvidos já ouviram, a textura da emissão, cheia de ar, doce, a sensualidade delicada, bom, para mim é o nirvana. Please, confia na minha capacidade de avaliação e sinceridade.
Como você me aguenta há 44 anos? Confissão: Sou uma mulher esquisita, ex-presidiária, ex-AA (Alcoólicos Anônimos), ex-NA (Narcóticos Anônimos), não sei cozinhar, sou cinco anos mais velha, sem peito, sem bunda e fumante.
Roberto: Sou teleguiado pela paixonite há 44 anos, espero que tenhamos pelo menos mais 44 anos pela frente. Só consigo visualizar a antítese do que está nesta confissão. Quando você se declara esquisita, vejo original e genial. Ex-presidiária por injustiça, vítima da repressão. Não precisa cozinhar, eu cozinho pra você. Os peitos amamentaram nossos 3 filhos. Cinco anos mais velha, não, mais antiga, e você sabe o quanto eu adoro antiguidades. Tenho Vênus em Capricórnio, que sempre vai me ajudar a relevar essa sua Lua em Virgem que vejo se manifestando aí na confissão. E quanto aos AA e NA, well, “shit happens to everyone!” (merda acontece com todo mundo!).
Seu piano é desbundante e sua guitarra é poderosa. Qual outro pianista/guitarrista brasileiro além de você? Confissão: grande frustração/preguiça minha é não saber tocar piano nem guitarra pra valer.
Roberto: Poxa, não acho nada disto. Então, vou adiante, como pianista, tenho profunda admiração por João Donato e Cesar Camargo Mariano. Guitarrista, são muitos os que adoro, mas muitos são meus amigos, daí fica complicado fazer essa escolha de Sofia, sendo assim, fico com nosso filho Beto. Fico impressionado com a qualidade de guitarristas e músicos em geral que vejo no Instagram. Se hoje fosse montar uma banda, uma pesquisa no Instagram já dava conta do recado. E tenho que citar dois violões maravilhosos que para mim são influências basilares, João Gilberto e Gilberto Gil, além do Guinga e Yamandú entre tantos. E viva Caetano!
Você acha que essa sua paixão por quiabo tem a ver com algum ‘santo’? Confissão: Só de ver aquela baba do quiabo me faz ter ojeriza. Meu ‘santo’ é chegado num acarajé.
Roberto: Ah, certamente o quiabo tem um significado esotérico, apesar de eu não saber exatamente qual. O quiabo é de origem africana e na umbanda é ofertado a diversos orixás com finalidades diferentes. O fato é que para mim quiabo é força, energia, raiz, quase como uma droga, me dá barato.
Há alguma possibilidade de vc escrever uma autobiografia contando seu lado da história? Confissão: eu seria a primeira a comprar.
Roberto: Nesse lance de quarentena, tenho passado uma boa parte do tempo meditando sobre o tanto de situações que aconteceram ao longo da vida e que passaram meio batidas. Tentando criar uma expedição arqueológica na minha memória. Acho que tive uma vida bem interessante, mas sou reservado demais para autobiografias, além de ter a certeza de que minha vida não seria do interesse de ninguém além de mim mesmo. Provavelmente, você seria a primeira e a última a comprar (risos)!
Você é um cara pragmático e enigmático, tem uma sensibilidade incrível de sacar o ‘qual é’ das pessoas assim que põe os olhos nela. De onde vem esses sopros? Confissão: eu caio direto na conversa dos outros e geralmente me estrepo.
Roberto: Tem a ver com o fato de ter perdido minha mãe muito cedo, com 6 anos. Já notei que quem passa por essa experiência fica com uma consciência exagerada, beirando a paranoia, de que de repente você pode perder tudo. Claro que qualquer um pode de repente perder tudo. Mas a mãe, para uma criança, simboliza o "tudo" mais do que tudo. E passando por isso, você fica com uma necessidade exacerbada de avaliar repercussão e de se precaver o quanto possível de qualquer imprevidência. O que talvez seja uma ilusão. O sopro da intuição a gente sempre vai ouvir, mas devemos sempre questionar. Nem sempre sabemos de onde o sopro está vindo. Isto é cabalístico. Never trust your intuition (Nunca confie na sua intuição). Eu tinha certeza, na virada do ano, que 2020 ia ser um ano sensacional, histórico... e veja o que está acontecendo.
Sei que você se diz agnóstico, mas existe uma tradição espiritual com a qual você mais se identifica/simpatiza? Confissão: eu continuo sendo hippie e tenho um altar com imagens de divindades diversas, sou de todas e não sou de nenhuma. Minha praia mesmo são os extraterrestres.
Roberto: Simpatizo com várias, me identifico com algumas, não pratico nenhuma. Rezo na tradição católica e a Grande Invocação, tenho santos de devoção e acredito nas Grandes Luzes do Universo. Mas a Kabbalah, que não é uma religião, realmente faz sentido na busca do invisível, porque não elimina o visível. Rejeita dogmas, convida e incita aos questionamentos, ensina a construção de uma estrutura, de um sistema de método e disciplina, totalmente abrangente, que vai da existência mais individual e densa possível até a mais etérea e espiritual, decifrando tudo que está entre uma ponta e outra. Faz o maior sentido e é um incrível instrumento de navegação através dos oceanos tempestuosos de nossa existência.
Você é mais ‘cachorreiro’ do que ‘gateiro’, o que te desperta no cachorro que o gato não tem? Confissão: isso tudo só pra você saber que desde que minha guardiã preta Sophia morreu com 27 anos, estou com a alma carente de um novo gato pretinho...
Roberto: É que sou um cachorro disfarçado de humano, é uma questão de identificação pura e simples.
Com a idade, você tem se tornado cada vez mais charmoso e interessante. Envelhecer dá barato? Confissão: digo a mim mesma que ‘vaso ruim e velho quebra, mas se colar fica perfeito, 'and you know what I mean' (você sabe o que eu quero dizer)...
Roberto: Acho que são seus bons olhos que me veem! Envelhecer pode trazer expansão de consciência, capacidade de filtrar e de reduzir o desnecessário e supérfluo, cresce uma calma interior, você não está mais no olho do furacão, não precisa provar muita coisa. Desapego para gerar um novo posicionamento em relação ao inevitável ponto final. E limitações físicas começam a dar as caras.
Outro dia você estava lendo Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire. Como você percebe o Brasil de hoje? Confissão: sinto que esta é minha primeira vida no Brasil. Nunca quis fazer carreira no exterior, sou filha de imigrantes e meu lance sempre foi ficar aqui por amor a este país que anda tão mal governado.
Roberto: Tem muita coisa errada no Brasil e no mundo, sem solução à vista. Estamos vivendo uma distopia sem precedentes com essa pandemia. A origem do mal é em grande parte a necessidade atávica das classes dominantes de explorar, controlar, seduzir e impor a vontade em benefício próprio. O instrumento é o domínio racial, social, ideológico, político, de gênero, de tudo, da apropriação indevida da verdade, do domínio da narrativa. Não existem sinais claros de que isto algum dia isso vá mudar, apesar de existir muita gente do bem que se esforça para segurar a peteca e fazer o contrapeso. Agora, como cada qual tem sua própria utopia, na minha não existe a hipótese de ser governado por ninguém ou por nada. E ídem de governar seja lá o que for além de mim mesmo. É claro que essa utopia me provoca uma tremenda irritação ao constatar a estupidez e a incompetência dos tantos que governam o mundo. Escrúpulo é algo cada vez mais raro. A raça humana evolui na ciência, mas no sentido de progresso social ainda estamos muito longe do aceitável. Lampejos de irracionalidade estão pipocando em toda parte. Essa pandemia, que atingiu todo mundo, pode ter sido uma voz que mais alta se alevanta avisando para todo mundo: "Ó, perdeu!”. Mas vamos em frente que atrás vem gente!
26 de dezembro de 2020 | 05h00
Uma das palavras mais ouvidas neste ano foi “live”. Com a paralisação dos shows ao vivo, os artistas viram nas redes sociais uma possibilidade de continuar presente entre o público. Em um primeiro momento, o movimento era amador: o cantor abria a câmera e se apresentava para o público, como um afago em tempos em que é preciso ficar em casa para conter o avanço da covid-19.
Porém, no dia 28 de março, aqui no Brasil, o sertanejo Gusttavo Lima foi além de um cantinho, um violão e um celular. Em uma live patrocinada que durou mais de cinco horas, ele mostrou que era possível fazer do ao vivo na internet uma fonte de renda diante das bilheterias fechadas – e atrair um grande público.
“O Gusttavo Lima sempre gostou de fazer produções grandiosas. Ele enxergou que podia fazer algo maior do que um artista com seu violão tocando em casa”, diz o jornalista André Piunti, autor do site Universo Sertanejo e do livro Música Sertaneja – Uma Paixão Brasileira (volumes 1 e 2).
Diante da porteira aberta, outros artistas seguiram pelo mesmo caminho e, segundo um ranking elaborado pelo YouTube (veja a lista abaixo), os artistas sertanejos lideram a audiência mundial do formato. Das dez transmissões ao vivo de música com maior audiência de todos os tempos na plataforma de streaming, oito são brasileiras – sete são sertanejas. Essa audiência recorde foi conquistada nos dois primeiros meses de isolamento, entre abril e maio.
O primeiro lugar ficou com Marília Mendonça, com a Live Local, realizada em 8 de abril, que alcançou pico de 3,31 milhões de visualizações simultâneas – ou seja, enquanto a apresentação acontecia ao vivo. De lá pra cá, a live, que durou 3 horas e meia, já tem mais de 55 milhões de acessos. Marília também ocupa a 8ª posição do ranking com a live Todos os Cantos da Casa.
Em segundo está a dupla Jorge & Mateus, que em 4 de março levou 3,24 milhões de pessoas a assistirem à Live Na Garagem. Quebrando a hegemonia sertaneja, o italiano Andrea Bocelli aparece em terceiro com a apresentação na Catedral de Milão, na Itália, vazia, no domingo de Páscoa. Outro estrangeiro entre os dez artistas mais vistos no mundo foi o grupo sul-coreano BTS, com 2,31 milhões de espectadores. Gusttavo Lima ficou em 7º, com a segunda live que fez, em 11 de abril.
Piunti afirma que o sucesso dos sertanejos no YouTube veio da capacidade que artistas, empresários e produtores tiveram em se articular para criar um modelo rentável. Ele acredita que as lives devem continuar, mesmo que os shows para públicos maiores sejam liberados quando a pandemia der trégua. “O sertanejo sempre foi muito focado em shows, que é de onde vem o dinheiro mesmo, mas não tinha essa articulação direta com os patrocinadores. As lives ajudaram nessa aproximação. Acredito que Jorge & Mateus, por exemplo, podem fazer uma live a cada três meses, bancada por alguma marca, para lançar um disco novo, fazer uma divulgação. Cada um vai achar seu modelo.”
Júlia Braga, head comercial da gravadora Som Livre, que tem a cantora Marília Mendonça em seu cast, diz que as lives se tornaram um meio de aproximação entre artista e público. A análise da executiva vai na mesma linha de Piunti em relação ao modelo de negócio que foi criado. “As lives patrocinadas geraram uma receita para a indústria fundamental nesse período, mas entendemos que também destravaram possibilidades futuras de parceria, mesmo após passada a quarentena. Outro ganho foi o fato de os artistas usarem sua força para arrecadações em prol de instituições e comunidades. E quando as marcas somaram nestas ações, facilitou ainda mais toda essa logística”, diz.
Para Júlia, uma das possibilidades será um modelo híbrido de show + live, e o que o momento é de entender como a indústria da música vai funcionar nos próximos anos. “Muitas frentes se abriram e é nisso que estamos trabalhando, entendendo o que pode ser feito, o que público quer e olhando o nosso portfólio de produtos, como os nossos festivais, para adaptá-los a esse novo mundo. Estamos atentos às mudanças e às inovações que envolvem o comportamento e o consumo seguro da música, isso é decisivo para o sucesso.”
Fora do circuito das megalives, o Sesc São Paulo realizou desde abril, dentro do projeto #EmCasaComSesc, 434 transmissões ao vivo de shows, peças teatrais, espetáculos de dança, atividades infantis e treinos esportivos. O conteúdo, disponível no youtube.com/sescsp, soma mais de 13,5 milhões de visualizações. Entre os artistas que se apresentaram estão Adriana Calcanhoto, Erasmo Carlos, Elza Soares, Arnaldo Antunes e Majur.
‘Caetano Veloso expressou um acolhimento musical’
“Em 2020, as músicas afetivas nos confortaram em meio à pandemia. Levando esse tipo de repertório para o campo das lives, Caetano Veloso foi o músico que melhor expressou esse “acolhimento musical” em sua primeira apresentação ao vivo, no dia de seu aniversário, 7 de agosto – depois de uma campanha liderada pela mulher, a produtora Paula Lavigne, para que ele se rendesse ao formato.
Apresentada na sala de sua casa, a live foi como um abraço no espectador, que pôde acompanhá-la pelo Globoplay. A sensação era exatamente essa: a de um abraço. Cercado por seus talentosos filhos, Moreno, Zeca e Tom, numa versão caseira do bem-sucedido show do quarteto, o Ofertório, Caetano embalou o público a distância com sucessos atemporais, como Leãozinho, Desde Que o Samba é Samba, Reconvexo e Sampa. Em How Beautiful Could A Being Be, foi o momento de levantar do sofá ou da cadeira, e sambar junto com Moreno e Caetano.
A ideia aqui é eleger uma apresentação, mas é importante deixar registrado que a segunda live, de Natal, que Caetano fez no último sábado, 19, a partir do Teatro Claro Rio, despertou as mesmas sensações, os mesmos sentimentos. Cabe então lançar uma pergunta para o músico: que tal uma terceira live, quem sabe de verão, Caetano?"/Adriana Del Ré, jornalista do Estadão
‘Gil deu uma festa junina em casa’
“Em meio à tristeza da impossibilidade de se realizarem as festas juninas neste 2020, uma das comemorações mais populares do País, Gilberto Gil nos deu A Festa do Gil, em 26 de junho, dia em que completou 78 anos. Acompanhado de banda, com direito a sanfona e zabumba, e cercado pela família, o artista baiano apresentou, com qualidade musical incontestável – e talvez tenha sido a primeira live da chamada MPB com aparato mais profissional –, clássicos como Xote das Meninas, Eu Só Quero um Xodó e Andar Com Fé.”/ Danilo Casaletti, jornalista especializado em música
‘Jagger passou a mensagem do ano’
“Para mim, a imagem de live que fica no coração é a primeira de todas, One World: Together At Home. Quando vi os Rolling Stones, cada um em sua casa, tocando You Can’t Always Get What you Want, me emocionei e percebi que teríamos uma longa jornada pela frente. Percebemos que havia uma base pré gravada e que o baterista Charlie Whats fazia praticamente um “air drum” sobre algumas malas, mas foi lindo. Keith Richards com aquela voz tosca e Mick Jagger no cantinho da sala passaram a principal mensagem do ano: fiquem em casa.” /Julio Maria, repórter de música do Estadão
‘A força que leva Caetano a cantar continua intacta’
“Nos anos 1970, Caetano Veloso viveu momentos importantes no palco do teatro Tereza Rachel. Por seres tão inventivo e pareceres contínuo, o tempo passou, o espaço mudou de nome – hoje é Teatro Claro –, mas a força que leva Caetano a cantar continua intacta, como se viu na live de 19 de dezembro.
No palco em que já se apresentou tantas vezes, ele rememorou canções emblemáticas, relembrou outras há muito ausentes de shows, apresentou a inédita Autoacalanto e deu espaço para duas obras-primas alheias, Boas Festas (Assis Valente) e White Christmas (Irving Berlim), esta com participação do filho Zeca. Trem das Cores e Reconvexo contaram, respectivamente, com a presença de Tom e Moreno, os outros filhos. No fim da live, a câmera mostrou o trio sentado no chão do teatro, vendo o pai com admiração. Quem estava do outro lado da tela teve o mesmo sentimento.” /Renato Vieira, jornalista do Estadão especializado em música
1º Marília Mendonça – Live Local 08/04/2020 3,31 MI
2º Jorge & Mateus - Live na Garagem 04/04/2020 3,24 MI
3º Andrea Bocelli 12/04/2020 2,86 MI
4º Gusttavo Lima 11/04/2020 2,77 MI
5º Sandy & Junior 21/04/2020 2,55 MI
6º Leonardo – Cabaré Em Casa 01/05/2020 2.52 MI
7º BTS 18/04/2020 2,31 MI
8º Marília Mendonça Todos Os Cantos De Casa 09/05/2020 2,21MI
9º Henrique & Juliano 19/04/2020 2,06 MI
10º Bruno e Marrone 16/05/2020 2,05 MI
Pelas redes sociais, eles produziram conteúdo e surpreenderam os fãs
Simone
A cantora, até então distante das redes sociais, surpreendeu o público ao anunciar uma live em 12 de abril. De lá para cá, não parou mais e, todo domingo – já são mais de 30 -, às 18h, apresenta, de casa, um “show” diferente para os fãs no perfil @simoneoficial, com sucessos como O Que Será e Cigarra, além de músicas que nunca havia cantado antes.
Rita Lee
A roqueira ainda não tem uma live musical para chamar de sua, mas, entre bate-papos e entrevistas, acalentou o coração de seus saudosos fãs com alguns números musicais. A lado do parceiro Roberto de Carvalho, cantou Nem Luxo, Nem Lixo, Ôrra Meu e Saúde – essa última, simbolizando um desejo de todos em época de pandemia.
Elza Soares
Aos 90 anos, a cantora trabalhou bastante durante a pandemia, em lives, gravações e comerciais. O aniversário foi comemorado na apresentação online Elza in Jazz, em julho. Em setembro, ela se uniu a Seu Jorge e Agnes Nunes para celebrar o samba, gênero que a consagrou. Nas plataformas, ela lançou singles como Negão Negra, Comida e Divino Maravilhoso.
Teresa Cristina
Com transmissões caseiras e diárias, a sambista ganhou o apelido de “rainha das lives”, angariou seguidores, conquistou patrocinadores e recebeu – virtualmente – convidados como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Djavan. Teresa montou um novo show batizado de Ao Vivo e A Live com estreia para este fim de ano, mas, com o recrudescimento da pandemia, adiou a novidade para fevereiro.
Mônica Salmaso
Isolada em seu sítio no interior de São Paulo, a cantora criou a série Ô de Casas, no qual, de maneira remota e usando um editor de vídeo disponível na internet, gravou duetos com nomes como Ney Matogrosso, Dori Caymmi, João Bosco, Guinga e muitos outros. Já são 130, todos ainda disponíveis em seu perfil @monicasalmasofocial.
Ayrton Montarroyos
O cantor transformou as apresentações, que já tinham patrocínio aprovado, em 8 lives com repertório variado que abordou as obras de Cartola, Dorival Caymmi, Noel Rosa e João Gilberto que foram lançadas em formato de álbuns nas plataformas digitais. Depois, por meio de um financiamento coletivo, fez outras 5 apresentações online. Foram cerca de 160 canções diferentes.
Zuza Homem de Mello entrevista Chico Buarque
Não se trata de uma live, mas, dentro do projeto Muito Prazer, Meu Primeiro Disco, o musicólogo, ao lado do jornalista Lucas Nóbile, realizou uma longa entrevista com Chico Buarque – algo raro. Com uma memória afiada, o compositor falou sobre seu primeiro álbum, Chico Buarque de Hollanda, de 1966. Zuza morreu em 4 de outubro, aos 87 anos, antes mesmo do programa ir ao ar no canal do Sesc Pinheiros no YouTube.
25 de dezembro de 2020 | 05h00
Uma nação dilacerada pela violência racial, uma indústria com histórico de exploração da cultura negra, executivos brancos querendo se passar por aliados e artistas negros no centro de tudo, lutando com um sistema que os cumprimentava com uma mão e limpava seus bolsos com a outra.
A história de Ma Rainey’s Black Bottom, a aclamada peça de 1982 de August Wilson sobre o orgulho negro, o poder dos brancos e o blues da Chicago de 1927, é tão incendiária hoje quanto no dia em que foi escrita. Uma nova adaptação para o cinema na Netflix (A Voz Suprema do Blues) revive a narrativa histórica de Wilson num tempo contemporâneo em que muito mudou – e muito pouco mudou.
Segunda obra das dez peças de seu Ciclo do Século Americano, no qual narra a experiência negra em cada década do século 20, Rainey ganhou três Tonys por sua edição original na Broadway. A adaptação para o cinema já é candidata a prêmios para o ano que vem, graças a uma atuação marcante de Viola Davis e uma aparição poderosa de Chadwick Boseman, em seu último papel no cinema antes de morrer de câncer, em agosto.
Davis interpreta Ma, uma artista indomável baseada na vida real da “Mãe do Blues”, cujo estrelato sem precedentes a levou dos shows nas tendas de Barnesville, Geórgia, a uma sessão de gravação em Chicago. Os homens brancos que supervisionam a sessão, com cifrões dançando nas cabeças, temem e respeitam Ma, assim como todas as outras pessoas de sua órbita gravitacional, entre elas sua namorada, Dussie Mae (Taylour Paige) e o experiente quarteto de músicos de apoio: Levee (Boseman), Cutler (Colman Domingo), Toledo (Glynn Turman) e Slow Drag (Michael Potts). Mas, quando as ambições de carreira de Levee o colocam em confronto com o grupo, sua frágil infraestrutura ameaça implodir.
George C. Wolfe, vencedor do Tony (Angels in America), dirigiu o filme a partir de um roteiro adaptado por Ruben Santiago-Hudson. Numa recente mesa-redonda por chamada de vídeo, Wolfe, Davis, Domingo, Turman e Potts discutiram o trabalho com Boseman, o poderoso legado de Rainey e a afirmação de seu valor num mundo construído sobre sua desvalorização. Estes são alguns trechos editados (e sem spoilers) de nossa conversa.
O filme é dedicado a Chadwick Boseman, que tem uma atuação inesquecível como Levee. Quais são suas memórias de trabalhar com ele? O que ele trouxe para o filme que vocês viram como seus colaboradores e que nós, como espectadores, talvez não consigamos ver?
George C. Wolfe: Eu me lembro de uma vez, quando a banda estava só esperando no ensaio, ele começou a se lançar a um de seus monólogos finais. Tudo estava muito casual. Aí, num certo momento, não era mais casual – foi um momento totalmente engajado, cheio de energia, intensidade e verdade. Só me lembro de ter pensado: “Oh, é agora que vamos embarcar?”. E ele embarcou. Estávamos todos metade personagem e metade quem éramos, e então, naquele momento, a metade personagem assumiu o controle. E foi um negócio glorioso.
Glynn Turman: Eu adorava o jeito como ele tinha seu trompete sempre por perto. Ele estava sempre fazendo alguma coisa com o instrumento, se familiarizando com ele, descobrindo a maneira como um músico e seu instrumento se tornam uma coisa só. Sempre que ele o pegava, estava na posição certa. Sempre que o deixava em algum lugar, estava na posição certa. Sempre que o colocava na boca, estava na posição certa. Ele se tornou um músico. Foi maravilhoso testemunhar isso. Todos nós meio que pegamos essa deixa para não ficarmos para trás, é uma coisa que os atores sempre fazem.
Colman Domingo: É verdade.
Wolfe: Quem? Nós aqui? Fiquei confuso (risos).
Eu fico me perguntando, quando vocês olham para a atuação dele agora ou quando vocês assistem ao filme, ela é diferente para algum de vocês, por causa do falecimento? O significado dessa atuação mudou para vocês, de alguma maneira?
Domingo: Com certeza. Eu assisti outra noite e ouvi a linguagem de Chad de um jeito diferente. Você vê sua força e seu humor. Fiquei com lágrimas nos olhos desde o começo, por saber o que sabemos agora. E sabendo que estávamos todos bem saudáveis e estávamos fazendo um trabalho incrível, dando um passo à frente e enfrentando a linguagem de August. Este cara estava enfrentando uma outra luta enorme em cima de tudo isso. Não sei como ele conseguiu. Fiquei pensando comigo mesmo por uns bons 15 minutos depois de assistir ao filme e chorei um pouco, principalmente quando vi a dedicatória. Aí me bateu de verdade que ele não está mais conosco. Eu sabia que ele não estava aqui, mas ver a dedicatória escrita na tela meio que acabou comigo.
Viola Davis: Tinha alguma coisa transcendente na atuação do Chad – e precisava ter mesmo. É um homem que está furioso com Deus, que perdeu até mesmo sua fé. Então (Boseman) tem que ir até o limite da esperança, da morte e da vida para fazer esse personagem funcionar. Claro, você olha para trás e vê que é o lugar onde ele próprio estava. É o que sempre digo: um carpinteiro, ou qualquer outra pessoa que trabalhe, essas pessoas precisam de certas ferramentas para criar. Nossa ferramenta somos nós. Temos que usar a nós mesmos. Não há como juntar tudo o que você está passando e deixar no quarto do hotel. Você tem que trazer isso com você e precisa de permissão para fazer isso. E ele fez isso, fez mesmo.
George e Viola, ‘Ma Rainey’s Black Bottom’ é a única peça do ‘Ciclo do Século Americano’ de August Wilson que é inspirada numa figura pública da vida real. Por que você acha que a história dela foi propícia para o teatro?
Wolfe: Acho que uma das razões pelas quais August se sentiu atraído por ela é que ela vivia fora das regras. E quando alguém vive fora das regras, fica muito claro quais são as regras. Eu amo que ela sempre luta a luta, sem pensar nas consequências. E luta a luta porque é o que deve fazer. Ela me lembra... minha avó era assim. Se você fosse uma mulher negra e ficasse esperando que alguém reconhecesse seu poder, isso nunca iria acontecer. Então você tinha que reivindicar seu poder. Ela tem aquela qualidade que todo mundo que é artista tem que desenvolver e ponto final. E, se você é uma artista negra, ainda mais. Esta é a verdade e este é o meu talento, e isto é o que estou disposta a fazer e isto é o que não estou disposta a fazer. Acho que ela viveu sua vida muito puramente assim. E se você situar tudo isso em 1927, você vai ter muito drama, porque o mundo não está reconhecendo nada disso.
Davis: Uma das coisas que adoro em August é que ele nos dá uma coisa que não tínhamos em muitas narrativas, principalmente nos filmes: autonomia. Sempre somos mostrados pelo filtro de um olhar branco. É como Toni Morrison fala sobre O Homem Invisível, de Ralph Ellison. Ela fica tipo, “invisível para quem?”. August nos define de um jeito particular. Se você perguntar a qualquer um de nós que estamos aqui nesta teleconferência por Zoom se conhecemos alguém como Ma Rainey, que podia acabar com você na quinta e ir à igreja no domingo, que não pedia desculpas por seu próprio valor, você vai ver que nós crescemos com pessoas assim. E com certeza acho que é um ótimo começo para uma narrativa, ter uma mulher que era conhecida por sua autonomia, que não abria mão de seu valor, e os homens que estavam ao seu redor.
Glynn, Colman e Michael, grande parte da eletricidade do filme vem das interações entre os rapazes da banda. Existe uma espécie de jocosidade e camaradagem entre vocês, mas também existe uma corrente de tensão e rivalidade. Falem um pouco sobre como vocês trabalharam juntos para criar essa dinâmica.
Turman: Começa de um ponto em que realmente podemos desfrutar da companhia um do outro. Acho que jantamos uma noite depois do ensaio, todos nós saímos logo depois de nos conhecermos. Nossa amizade foi construída em cima dessa base. Assim como na vida real, as dores e o desconforto vêm do quão bem vocês se conhecem, porque as pessoas que você conhece são as únicas que podem realmente chegar até você. Então, todos sofremos muito nisso de tentar nos conhecer dentro do prazo que tínhamos. Assim, ficamos à vontade zoando, xingando e falando bobagem. E isso aconteceu na tela e fora dela (risos).
Michael Potts: A zoeira não acabava. A gente estava no set com um bando de caras sem noção. Sem a mínima noção (risos).
Domingo: Lembro que um dia o Chad apareceu, foi logo no início dos ensaios, ele entrou com o chapéu inclinado para o lado e o trompete. Ele entra na sala silenciosamente, de um jeito muito elegante. E eu não sei se é o Cutler em mim também, mas aí eu falei algo do tipo, ‘Oh, então você acha que vai entrar aqui e não vai falar com ninguém? Você chega aqui e não fala com ninguém?’ (risos). Ele disse: ‘Ah, não, não!’. A gente tirava sarro desse jeito. Mas, a partir daí, ele fez questão de chegar todas as manhãs e dar um salve para os irmãos e mostrar respeito. Porque o sentimento era: não podemos ficar dentro das nossas próprias cabeças. Nós temos que entrar e nos entregar uns aos outros. E foi isso que fizemos.
Uma das principais questões apresentadas pelo filme é como você encontra seu lugar no mundo – como artista e cantora, mas também como uma pessoa negra na base de uma hierarquia racial rígida. Estou curioso para saber se havia elementos das histórias dos personagens que ressoaram em qualquer um de vocês, em suas próprias jornadas artísticas e profissionais.
Davis: Acho isso exaustivo. Acho mesmo. Acho muito necessário, mas exaustivo. Você está lutando para conquistar seu lugar. Você está lutando para ser vista. Você está lutando para ser ouvida. É sempre uma luta. E é uma luta pelas coisas mais simples que as outras pessoas ganham sem dar nada em troca. Meu grande problema é quando tenho que lutar por minha competência. Não suporto isso. Essa parte de mim é a parte que passou dez anos na escola de atuação, que fez todo aquele teatro, off-Broadway, Broadway, TV e tudo mais. E então você entra numa sala em Hollywood e vê que, quando você é uma pessoa negra, tem uma vida útil curta. É isso que me irrita. Não gosto quando as pessoas questionam minha capacidade. Mas sinto que é disto que tratam todas as peças de August: lutar por um lugar no mundo. E tem mais outra coisa: você não precisa ser rei ou rainha. Você não tem que ser alguém lá no alto. Ele infundiu importância nas nossas vidas, mesmo que não o tenhamos colocado nos livros de história. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
Sonia Racy
25 de dezembro de 2020 | 00h50
PAI RODNEY, SOCIÓLOGO E BABALORIXÁ
Essa pandemia é uma guerra mundial, com a diferença que o inimigo é invisível?
Não sei se dá pra comparar, embora ambas escancarem diferenças sociais e problemas bastante profundos. Mas, de qualquer maneira, a pandemia, assim como as guerras, está matando muita gente. Temos que deflagrar, sim, ação contra a omissão, o descaso e a ideologia política que vem afetando os mais pobres. E acredito que a pandemia tem cumprido o papel de escancarar as diferenças, e isso é algo que precisa ser enfrentado. Fui tocado pessoalmente por essa pandemia, minha mãe morreu em decorrência da covid e sei qual é a dor dessa perda. Então, é extremamente importante que nós tenhamos essa consciência de que a morte é pra todos sim, mas existe uma morte social, uma morte que é deflagrada pelo descaso político, uma morte que é deflagrada pela falta de ação e essa é a morte que a gente precisa enfrentar.
Dá para prever a duração da covid-19?
Do ponto de vista daquilo que os orixás nos ensinam, temos que encarar essa pandemia com bastante resignação, compreender qual é aprendizado. A pandemia nos ajudou a reforçar a
fé e a busca pela espiritualidade. Por mais que a gente tenha enfrentado algo difícil, continuaremos com problemas em 2021.
O ano de 2021 será regido pela energia do Odu Oxê. Um ano de Odum, que terá a forte influência de Odu, orixá da fertilidade e a dona da beleza, da riqueza, a senhora de todas as artes. Vai nos ensinar muito sobre a necessidade dos caminhos espirituais, da magia, de fazer do ritual uma rotina, sobretudo que a gente possa se reconectar com o sagrado, com a natureza. Acredito que quem é melhor vai sair melhor da pandemia e quem é pior vai sair pior.
O universo vai finalmente sair do buraco?
Bom, eu não sei se o universo vai sair do buraco, eu espero que sim. Eu acho que nós precisamos renovar as esperanças, e o grande aprendizado de 2020 é que nenhum ser humano pode viver sem esperança. É importante que se pense na questão social, na questão racial, nessa estrutura que foi pautada na desigualdade, e que a gente supere.
O Brasil vai se recuperar em 2021?
O ano começa numa sexta feira, dia regido por Oxalá. É muito importante que as pessoas passem a virada de branco. Branco é a representação da criação, da ausência. Possibilita que criemos um mundo novo.
Bolsonaro será reeleito?
Muito cedo pra dizer. Eu rezo aos orixás para que ele não se reeleja, porque acredito que exista nele mais do que uma incompetência política, existe nele uma perversidade e o povo brasileiro não merece passar por isso por mais quatro anos. Agora, eu não posso desconsiderar, olhando para extrema polarização que temos vivido e considerando as novas bases das campanhas políticas – as fake news, estrutura de redes sociais – que há grande possibilidade dele se reeleger. Isso vai depender muito da capacidade das forças que se opõem a esse governo pra derrotá-lo.
CACÁ NOGUEIRA, ASTRÓLOGO E EMPRESÁRIO
Essa pandemia é uma guerra mundial, com a diferença que o inimigo é invisível?
Toda guerra acontece por um desequilíbrio da mente quando conflitos de ideais ocorrem. Isso é alimentado pela busca de poder e dinheiro, que incitam a violência, o medo, a destruição e o pior uso do capital, resultando na morte de seres humanos. A pandemia revelou que mesmo vivendo no século 21, o maior inimigo do homem continua sendo ele mesmo e não um vírus.
Dá para prever a duração da covid-19?
Tivemos um importante aspecto astrológico neste fim de dezembro de 2020, que só ocorre a cada dois séculos (conjunção de Júpiter com Saturno simultânea à uma mudança de casa astrológica, de Capricórnio para Aquário) anunciando grande impulso nas pesquisas científicas, na tecnologia e acelerando descobertas e soluções no campo da saúde. Isso, acredito, pode abreviar a vida da covid-19. Outros novos vírus podem ser criados e produzidos, como já vem ocorrendo há uma década. A humanidade precisa acordar para uma nova consciência sobre o que queremos para as nossas vidas, refletir sobre valores que não são mais verdadeiros e sustentáveis. Não somos nós que precisamos da sociedade e sim a sociedade que precisa de nós. Sem uma profunda transformação em nossa consciência todas as resoluções, decisões e mudanças serão superficiais. ]
O ser humano sairá melhor desta crise na saúde?
De jeito nenhum… essa é uma mentira que contamos para nós sobre nós mesmos, por não assumirmos um maior comprometimento com a vida nesse planeta.
O universo finalmente sairá do buraco?
Universo é uma palavra que significa “tornado um”, algo que a humanidade, mesmo depois de muitos mestres espirituais terem explicado, continua não compreendendo o significado. Por essa razão é que a humanidade está no “buraco”.
E o Brasil, vai se recuperar em 2021?
O País se recupera a partir do começo do ano de 2021. Surgirão medidas políticas e econômicas que serão benéficas para o Brasil. Teremos, gradualmente, importantes investimentos estrangeiros. Um ano expressivo nas exportações. Após o mês de março, começa um aspecto astrológico no mapa do Brasil, favorecendo a população com aumento de empregos e o início das vacinações ajudando na saúde física, emocional e mental. Teremos também importantes reformas estruturais que há muito tempo o País necessita, além de algumas privatizações. O setor da construção civil terá um bom impulso bem como o segmento imobiliário.
Bolsonaro será reeleito?
Embora ainda distante das eleições, mas analisando o mapa astral do presidente Bolsonaro na época da disputa, em 2022, dá para ver forte possibilidade de ele ser reeleito. Quando soubermos na época das eleições quem serão os concorrentes aí sim será possível ter mais clareza. Mas o mapa dele é positivo. Isso quer dizer que para ele, o resultado das eleições será bom. Dilma, quando venceu as eleições, apresentava aspectos astrológicos ruins. E vencer as eleições, para ela, não foi nada bom.
23 de dezembro de 2020 | 17h11
A Cinemateca Brasileira, instituição que tem o dever de preservar e difundir o acervo audiovisual do Brasil, sofreu muito em 2020. O que começou com atrasos de pagamentos por parte do governo federal se transformou em arma na guerra cultural em curso, acentuada pela troca constante de secretários especiais da Cultura e por um longo período de indefinição por parte do Ministério do Turismo, que ainda não cumpriu a promessa — de agosto — de lançar um novo edital de gestão para a entidade.
Os sinais da crise já estavam presentes em maio, quando o presidente Bolsonaro demitiu Regina Duarte da Secretaria Especial e anunciou, ao lado da atriz, que ela iria passar a "fazer Cinemateca". O cargo anunciado não existia, pois quem administra a instituição é uma Organização Social definida em edital. No caso, a Associação Roquette Pinto (Acerp), que já na época reclamava dos atrasos nos repasses do governo federal, previstos em orçamento.
O que é a Cinemateca Brasileira?
O que aconteceu foi que o contrato da Cinemateca (assinado pelo então ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão, durante o governo de Michel Temer) era vinculado a outro contrato que a Acerp mantinha com o governo, no Ministério da Educação, para a gestão da TV Escola. O então ministro Abraham Weintraub decidiu unilateralmente não renovar este vínculo, que se encerrava em 2019, e assim o acordo com a Cinemateca ficou num limbo.
A Acerp fez seus esforços para manter a instituição funcionando até agosto, quando, acompanhado de agentes da Polícia Federal, um membro da Secretaria Especial da Cultura foi até a instituição "pegar as chaves". Nesse dia o Ministério do Turismo, ao qual a Secretaria está vinculada, prometeu que em poucas semanas um novo contrato de gestão seria lançado, o que ainda não ocorreu.
A questão da Cinemateca envolve diversos fatores sensíveis, como a formação específica de seus funcionários (muitos há décadas na casa; todos foram demitidos nesse episódio de agosto), termos e acordos antigos assinados entre esferas diferentes de governo (municipal e federal, especialmente), e a necessidade de segurança especializada no local, para evitar acidentes, como um incêndio em 2016 (quando a instituição passava por outra crise) que levou mais de mil rolos de filmes.
O Ministério Público Federal ajuizou uma ação civil pública cobrando da Justiça um posicionamento no sentido de dar urgência à questão dentro do governo federal. Uma liminar decidiu por não dar esse encaminhamento, mas a ação ainda corre.
No dia 17 de dezembro, uma carta assinada pelo movimento S.O.S. Cinemateca, apoiada por mais de cem produtores audiovisuais, foi entregue à Secretaria do Audiovisual. "Isso porque apesar das promessas do Secretário do Audiovisual, Bruno Côrtes, de que a Sociedade Amigos da Cinemateca seria contratada para executar um plano de trabalho emergencial de gestão do acervo, transcorridos 4 meses desde a entrega das chaves, a Cinemateca continua abandonada", diz um comunicado à imprensa. "A recente exoneração de mais um Ministro do Turismo e o infarto do Secretário da Cultura, Mário Frias, pressagiam mais imobilismo."
Demissão de Regina Duarte e seu anúncio para a Cinemateca pega todo mundo de surpresa: instituição já estava mergulhada na crise, com risco de ter energia elétrica cortada por falta de pagamentos das contas de luz.
Manifestação em frente ao prédio, na Vila Mariana, pedia resolução do impasse na instituição. Em ofício enviado ao Governo Federal, a Acerp pedia esclarecimentos sobre questões ainda indefinidas, como os repasses atrasados. A sensação na Acerp, segundo fontes ouvidas pelo Estadão na época, é de que a Cinemateca chegou a esta situação de agora porque a Secretaria de Cultura está à deriva.
Uma intervenção do vereador de São Paulo Gilberto Natalini (PV) apontou para a Enel (antiga Eletropaulo) sobre a importância da manutenção da energia elétrica na instituição. "Recomendo que a Cinemateca enquanto inadimplente não seja tratada como uma entidade ou empresa qualquer, as consequências culturais de um apagão energético seriam graves", dizia o ofício do vereador. A dívida da conta de luz se aproximava dos R$ 500 mil.
O Ministério Público Federal ajuizava uma ação civil pública contra a União pedindo a renovação do contrato de gestão da Cinemateca Brasileira com a Associação Roquette Pinto, e o repasse imediato de R$ 12 milhões, recursos já previstos e alocados no orçamento.
A Justiça Federal nega em caráter liminar o pedido do MPF em razão da "separação entre poderes", bem como da ausência da "urgência na decisão", conforme a Procuradoria apontava.
Representante do governo federal, acompanhado de agentes da Polícia Federal, chega à Cinemateca para “pegar as chaves”, um ato simbólico de transferência de responsabilidades.
O presidente da Acerp, Francisco Câmpera, disse: 'Foi uma brutalidade eles virem para a Cinemateca com a Polícia Federal'.
O Ministério do Turismo, com extratos de dispensa de licitação publicados no Diário Oficial, destina verbas emergenciais à Cinemateca. Um deles de cerca de R$ 1 milhão para a Eletropaulo, por meio da concessionária ENEL Distribuidora São Paulo, para fornecimento de energia elétrica.
Todos os funcionários da Cinemateca, especialistas que trabalhavam na casa há anos, e em alguns casos, décadas, são demitidos.
Um decreto (10.548/2020) define que a Cinemateca será gerida pela Secretaria Nacional do Audiovisual, que pertence à Secretaria Especial da Cultura, ligada ao Ministério do Turismo, até 5 de outubro de 2021. Cargos em comissão do Ministério foram transferidos à instituição, mas ainda não preenchidos.
23 de dezembro de 2020 | 08h30
Tom Hanks levou mais de 35 anos para fazer seu primeiro faroeste, e por isso quis ter certeza de que tinha algo especial a dizer quando finalmente montou em um cavalo e participou de um duelo com armas.
Hanks, conhecido por interpretar tipos bem-comportados, estrela Relatos do Mundo, que estreia nos cinemas norte-americanos no dia 25 de dezembro, e brincou que gosta de pensar no filme como "O Mandaloriano sem os sabres de luz".
"Não existe motivo para fazer um faroeste só porque você pode vestir roupas confortáveis e usar um chapéu. Tem que se tratar de algo maior do que o gênero em si", disse Hanks.
Transcorrido após a Guerra Civil, o filme acompanha o capitão Jefferson Kyle Kidd (Hanks) enquanto ele atravessa uma América dividida lendo as notícias em cidades pequenas. Ele conhece uma menina traumatizada, vivida pela novata Helena Zengel, que foi levada pelo povo indígena kiowa anos atrás, e decide conduzi-la a seus parentes sobreviventes.
Para Hanks e o diretor Paul Greengrass, Relatos do Mundo trata do poder da cura depois de acontecimentos desestabilizadores.
"Ele me deu a sensação de uma história contemporânea --o mundo dividido amargamente, a paisagem (pós) Guerra Civil, o desejo desesperado de cura, mas sem saber como é a estrada para a cura", disse Greengrass.
Embora a filmagem tenha acontecido mais de um ano atrás, ecoa os tempos atuais por ter como pano de fundo as epidemias de cólera e meningite que atingiram os Estados Unidos no final do século 19.
21 de dezembro de 2020 | 17h00
A quarentena foi um tempo de ainda mais leitura para os colunistas do Estadão. Ficção, não ficção. Sobretudo, livros que ajudam a entender o Brasil. Livros que ajudam a escrever novos livros. Nada passou batido pelo olhar dos nossos colunistas, que contam agora um pouco sobre suas leituras no período do isolamento social e sugerem livros (quase todos de 2020) para ler ainda este ano ou em 2021.
O escritor Ignácio de Loyola Brandão, imortal da Academia Brasileira de Letras, conta que leu muito de março para cá. Com os eventos literários presenciais cancelados, sobrou mais tempo para colocar a leitura em dia. “Li bastante este ano. Devorei tudo de Rosa Montero. Mas nenhum livro me impressionou tanto quanto A Organização: A Odebrecht e o Esquema de Corrupção que Chocou o Mundo, de Malu Gaspar”, diz.
Marcelo Rubens Paiva também indica livros que ajudam a entender “o confuso Brasil”. Sua primeira sugestão aos leitores é A Máquina do Ódio: Notas de Uma Repórter Sobre Fake News e Violência Digital, de Patrícia Campos Mello.
Leandro Karnal, que dedicou uma coluna recente a dicas de leitura, conta agora que entre os livros que o fizeram pensar este ano está Guerra Pela Eternidade: O Retorno do Tradicionalismo e a Ascensão da Direita Populista, de Benjamin R. Teitelbaum.
Sérgio Augusto também dedicou sua leitura no isolamento a obras “com forte ressonância em desgraças correntes”. Tempos Ásperos, de Mario Vargas Llosa, também colunista do Estadão, é um dos melhores livros de 2020 em sua opinião.
Humberto Werneck, mergulhado na pesquisa para a sua biografia de Carlos Drummond de Andrade, portanto, seguindo todo e qualquer rastro do poeta em outros livros, sugere, para o leitor que queira conhecer mais Drummond, Amor Nenhum Dispensa Uma Gota de Ácido, reunião dos escritos do autor sobre “a tremenda pedra no caminho dos modernistas que foi Machado de Assis”.
Li bastante este ano. Devorei tudo de Rosa Montero. Mas nenhum livro me impressionou tanto, me deixou tão fascinado, deslumbrado, irritado, com ânsia de vômito quanto A Organização, de Malu Gaspar. A corrupção, a falta de ética, de decência, de retitude, de correção, de compostura, a ausência de moral, de princípios dos empreiteiros, dos governos, políticos, ministros, lobistas. Chega um momento que nos enoja os rios subterrâneos de dinheiro correndo, comprando tudo e todos. Se não for o melhor livro do ano, se não provocar polêmica, discussão, algo de muito estranho ocorre neste Brasil. Tudo está escancarado aqui, com provas.
Autora: Malu Gaspar
Editora: Companhia das Letras (2020)
(640 págs.; R$ 99,90; R$ 39,90 o e-book)
Leia as colunas de Ignácio de Loyola Brandão.
Recomendo três títulos: um romance histórico e dois livros de não ficção, todos de cunho político, com forte ressonância em desgraças correntes ou que "conversam com o tempo presente", como outros talvez prefiram dizer.
A Bailarina da Morte, de Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Como a Gripe Espanhola, o covid-19 do século passado, chegou ao Brasil, a bordo de um navio, em 1918, aqui se disseminou e em questão de meses fez 50 mil vítimas fatais numa população de menos de 30 milhões de habitantes. Escrito durante a pandemia ainda em curso, ilumina outro momento dantesco de nossa história, de nosso descalabro sanitário, quando também a negação da ciência e a crença absurda em curas milagrosas expuseram a ignorância letal das autoridades e da população e escancararam ainda mais nossas seculares desigualdades sociais.
Autoras: Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling
Editora: Companhia das Letras (2020)
(368 págs.; R$ 59,90; R$ 29,90 o e-book)
Tempos Ásperos conta a história do primeiro golpe de Estado articulado pela Casa Branca na América Latina e seus dois protagonistas: Jacobo Árbenz Guzman, presidente honesto e nacionalista da Guatemala, e o ressentido e corrupto tenente-coronel Carlos Castillo Armas, que à frente de uma tropa de mercenários patrocinados pela CIA e a serviço dos interesses monopolistas da United Fruit, derrubou Guzman em 1954. Bom romance histórico, na linha de A Festa do Bode, em que Vargas retratou a ditadura de outro militar bananeiro, o general Rafael Trujillo, da República Dominicana. A Guatemala nunca se recuperou das sequelas daquele golpe militar. Castillo Armas inaugurou uma dinastia de ditadores fardados, que não parece ter fim.
Autor: Mario Vargas Llosa
Editora: Alfaguara (2020)
(280 págs.; R$ 59,90; R$ 34,90 o e-book)
The Jakarta Method é um ensaio histórico de alto nível cujo subtítulo impressiona pelo tamanho e pela abrangência: “A cruzada anticomunista de Washington e o programa de extermínio em massa que mudou o mundo”. Jacarta foi o maior laboratório de atrocidades cometidas em defesa da democracia, dos valores cristãos ocidentais e dos interesses geopolíticos e econômicos dos EUA. Com muita pesquisa fresca, o americano Vincent Bevins, correspondente internacional em diversos países, inclusive no Brasil, detalha a implantação, em meados da década de 1960, de um método de combate ideológico e guerra suja que seria responsável por alguns banhos de sangue entre 1945 e as últimas décadas do século passado, na Ásia e na América Latina. O golpe militar de 1964 no Brasil foi parte daquela cruzada. Merecia ser traduzido entre nós. De preferência ainda no governo Bolsonaro.
Autor: Vincent Bevins
Editora: Public Affair Books (2020)
(320 págs.; R$ 155,73; R$ 65,18 o e-book; em inglês)
Veja aqui as colunas de Sérgio Augusto.
Todos esses livros ajudam a entender o confuso Brasil, com sua tragédia secular.
Autora: Patrícia Campos Mello
Editora: Companhia das Letras (2020)
(292 págs.; R$ 39,90; R$ 27,90 o e-book)
Autor: Joaquim Ferreira dos Santos
Editora: Intrínseca (2016)
(672 págs.; R$ 69,90; R$ 14,90 o e-book)
Autora: Ana Paula Maia
Editora: Companhia das Letras (2018)
(136 págs.; R$ 34,90; R$ 23,90)
Autor: João Cabral de Mello Neto
Editora: Alfaguara (2020)
(896 págs.; R$ 154,90; 49,90 o e-book)
Autoras: Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling
Editora: Companhia das Letras (2020)
(368 págs.; R$ 59,90; R$ 29,90 o e-book)
Autores Jorge Caldeira, Julia Marisa Sekula e Luana Schabib
Editora: Estação Brasil (2020)
(352 págs.; R$ 69,90; R$ 39,90)
Autora: Karla Monteiro
Editora: Companhia das Letras (2020)
(576 págs.; R$ 89,90; R$ 39,90)
Confira as colunas de Marcelo Rubens Paiva.
Indico os livros mais recentes que me fizeram pensar:
Autor: Benjamin R. Teitelbaum
Editora: Unicamp (2020)
(288 págs.; R$ 66)
Autor: Jurandir Malerba
Editora: FGV (2020)
(748 págs.; R$ 94; R$ 63 o e-book)
Tradução: Elvio Funck
Editoras: Movimento/EDUNISC
Vários volumes
E as biografias:
Autor: Andrew Roberts
Editora: Companhia das Letras (2020)
(1.200 págs.; R$ 129,90; R$ 49,90 o e-book)
Autor: Julian Jackson
Editora: Zahar (2020)
(1.080 págs.; R$ 139,90; R$ 49,90 o e-book)
Autora: Sue Prideaux
Editora: Crítica (2019)
(440 págs.; R$ 99,90; R$ 79,90 o e-book)
Leia as colunas de Leandro Karnal.
Uma de minhas boas leituras em 2020 foi Amor Nenhum Dispensa uma Gota de Ácido, reunião dos escritos de Carlos Drummond de Andrade sobre a tremenda pedra no caminho dos modernistas que foi Machado de Assis. Por que pedra no caminho? Esbordoar parnasianos era fácil, mas o que fazer com o maior de nossos escritores? Drummond sempre admirou Machado, mas no ardor dos 20 anos fez pingar sobre ele mais de "uma gota de ácido", por considerá-lo um "entrave à obra de renovação da cultural geral". A coletânea organizada por Hélio de Seixas Guimarães permite acompanhar, ao longo de décadas, o processo em que Drummond, a princípio com dois pés atrás, aos poucos se rendeu à paixão machadiana, por fim escancarada no poema A um bruxo, com amor.
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Org.: Hélio de Seixas Guimarães
Editora: Três Estrelas (2019)
(160 págs.; R$ 44,90)
Gostei também, e muito, de reler O Observador no Escritório, diários de Drummond publicados em vida e que ganharam neste ano nova edição, para a qual, aliás, escrevi um posfácio. Reedição no capricho, pois, além de pequenos acertos, traz indispensável índice onomástico. Sua leitura nos conduz de modo natural a mais diários do poeta, ao fascinante Uma Forma de Saudade", saído da gaveta faz uns poucos anos, e que, carregado de informações por vezes cruas, não teve ainda a atenção que por certo merece.
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Editora: Companhia das Letras (2020)
(272 págs.; R$ 79,90; R$ 39,90 o e-book)
20 de dezembro de 2020 | 13h42
Atualizado 20 de dezembro de 2020 | 18h43
A atriz Nicette Bruno morreu aos 87 anos no final da manhã deste domingo, 20, devido a complicações decorrentes do novo coronavírus. Ela estava internada desde o dia 26 de novembro na Casa de Saúde São José, no Rio, que confirmou a morte da artista.
Nicette Bruno nasceu em Niterói, no Estado do Rio, filha única de Sinésio Campos Xavier e da atriz Eleonor Bruno, em 1933. Seguir a carreira artística foi quase uma imposição familiar. Estudou balé, piano. Aos 11 anos, entrou para o grupo de teatro da Associação Cristã de Moços, depois foi para o Teatro do Estudante do lendário Paschoal Carlos Magno. Aos 14 anos, já era profissional na Cia. de Dulcina de Morais. Estreou numa montagem de Romeu e Julieta, o clássico de Shakespeare. Em 1947, foi premiada por sua atuação na peça A Filha de Iório, de Gabriel D'Annunzio. Seguiram-se participações em montagens de Nelson Rodrigues (Anjo Negro) e Oscar Wilde (O Fantasma de Canterville).
Aos 17 anos, fundou em São Paulo o Teatro de Alumínio. Novo sucesso como Antônia em Pedro Mico, de Antonio Callado. A primeira novela foi Os Fantoches, de Ivani Ribeiro, em 1967. No cinemas, atuou em Querida Susana, de Alberto Pieralisi, Canto da Saudade, de Alberto Cavalcanti, e A Guerra dos Rocha, de José Fernando.
Nos anos 1970, a atriz estrelou nos sucessos Meu Pé de Laranja Lima, Éramos Seis, e Como Salvar Meu Casamento. Esta última não foi encerrada porque marcou a extinção da TV Tupi.
A ida de Nicette para a Rede Globo foi a convite do diretor e ator Fabio Sabag, para interpretar a freira Júlia na novela Obrigado, Doutor, em 1981. Já na emissora, a atriz interpretou Sara Mendes, mãe da personagem paranormal de Regina Duarte, em 1982, na novela Sétimo Sentido, de Janete Clair.
Nos anos seguintes, esteve em Louco Amor, folhetim de Gilberto Braga, Selva de Pedra (1986), Rainha da Sucata (1990) e Mulheres de Areia (1993). Úrsula foi a primeira vilã de Nicette, na novela O Amor Está no Ar, em 1997.
A temporada de retorno a O Sítio do PicaPau Amarelo levou à atriz para as novelas Alma Gêmea (2005), como a Ofélia, e Sete Pecados (2007), ambas de autoria de Walcyr Carrasco. Em 2010, estreou em Tititi, em seguida A Vida da Gente (2011), passou por Salve Jorge (2012), Joia Rara (2013), I Love Paraisópolis (2015), e Pega Pega (2017).
O teatro permaneceu em sua vida – Perdas e Ganhos, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? O monólogo de Lya Luft foi dirigido por Beth Goulart, uma dos três filhos que Nicette teve com Paulo Goulart, com quem foi casada por 60 anos, até a morte dele em 2014. Todos – Barbara Bruno, Paulo Goulart Filho e Beth – seguiram a carreira artística, uma tradição da família.
Nas redes sociais, a filha de Nicette Bruno, Beth Goulart, prestou uma homenagem à mãe. "Minha mãe, minha vida, meu amor", escreveu ela em uma publicação no Instagram. A atriz vinha comunicando o estado de saúde de Nicette, pedindo orações diárias sempre às 18h.
Nos comentários da publicação, artistas se solidarizaram com Beth. "Beth querida, receba meu abraço forte e em toda sua família. Que honra ter tido a chance de trabalhar com ela, que energia linda, que grande atriz, que olhinhos únicos que brilhavam tanto! Guardarei na memória nosso último encontro no aniversário da Natalia Thimberg. Amo vocês", disse Selton Mello.
A apresentadora Sabrina Sato também deixou uma mensagem de carinho. "Beth, sua mãezinha foi recebida com todo amor. O sorriso puro e alegre de Nicette vai ficar pra sempre na nossa memória."
A atriz Vanessa Goulart falou do "privilégio" de ser neta de Nicette. "Sim, ela partiu, nossa luz, nosso amor maior... Mas agora ela está em todos os lugares, em todos os corações, em toda partícula de fé e amor emanadas por todos e por cada um. Que privilégio viver a experiência de ser sua neta nesta vida. Sou neta e sou meta, seguindo seu exemplo em todos os momentos. O momento é de dor, mas a sua vibração sempre será a da alegria, do sorriso, do amor", escreveu ao publicar uma foto em homenagem à avó.
Ela se solidarizou com as famílias que estão com parentes internados devido à covid-19. "Saibam que a vontade de Deus é soberana, entreguem em suas mãos." "Nós, que continuamos, seguimos com a missão de levar luz a esta Terra em transformação", completou.
Em entrevista à GloboNews, o ator Ary Fontoura disse que conhecia Nicette Bruno havia 60 anos e que a atriz fará "uma falta extraordinária" para a dramaturgia, do teatro à televisão, bem como para os amigos e familiares. "Estou bastante abalado, estava acompanhando esse trajeto todo, torcendo demais por ela, torcendo para que ela se reestabelecesse", afirmou.
Ele a descreveu como "uma figura extremamente humana, dificílima de encontrar, e que colocava sempre o perdão em primeiríssimo lugar". Segundo isso, era isso que fazia a admiração das pessoas por ela aumentar cada vez mais.
"É natural que nós estejamos nesse impacto, um tanto constrangidos até para falar, mas isso é porque que, apesar de tudo isso, de termos a certeza de que a vida continua e que essas memórias serão cultuadas com certeza, é sempre uma notícia que a gente não gostaria de ouvir", disse Fontoura. No Instagram, ele também prestou uma homenagem à amiga. "Uma das grandes amizades se foi, estou extremamente triste", escreveu.
Tony Ramos, que trabalhou com Nicette em A Próxima Vítima e Bebê a Bordo, também tinha uma relação muito próxima com a atriz e o marido dela. Os três conviveram por muito tempo na extinta TV Tupi e estiveram juntos em jantares e visitas no Rio e em São Paulo.
"O que eu quero me lembrar é da capacidade produtiva de Nicette, essa mulher absolutamente batalhadora, sonhadora, que completando uma novela e dois meses antes pensando no próximo projeto. Já trocamos ideias de como seria o próximo espetáculo, o levantamento do cenário, do elenco, enfim, uma atriz que não estava nunca acomodada, nunca esteve. Nunca é nunca", relatou o ator. "A gente pode afirmar: a gente perde um dos grandes pilares do teatro, do cinema e da televisão brasileiros. A gente perde mesmo. Saudade para todo o sempre."
À emissora, o jornalista e escritor Artur Xexéo falou do legado da atriz de 87 anos. "A Nicette é um dos pilares de uma geração que é muito importante para o teatro brasileiro, é a geração que modernizou o teatro brasileirro (...) que trouxe uma modernidade à interpretação", afirmou. Ele comentou sobre os filhos e netos da atriz que também seguiram uma carreira artística. "Já tem uma geração posterior, uma dinastia que ajudou a contar a história do teatro no Brasil."
Em nota a Rede Globo relembrou da trajetória da atriz em Órfãos da Terra e Éramos Seis. "Seus últimos trabalhos na TV foram em Órfãos da Terra – obra vencedora do Emmy de Melhor Telenovela, do Grand Prize no Seoul Drama Awards, e do Rose D’Or Awards na categoria Serial Drama – como Ester Blum, e uma participação em Éramos Seis (2020), como Madre Joana. Foi uma merecida homenagem à atriz, que havia interpretado a protagonista Lola na versão da trama exibida pela TV Tupi."
19 de dezembro de 2020 | 05h10
Margareth Menezes estava tranquila em seu canto, quando foi pega por um convite que a faria sair da zona de conforto. O desafio para a cantora baiana era protagonizar o seriado Casa da Vó, dirigido por Licínio Januário. Mais que isso, que o programa será aquele que inaugurará a plataforma de streaming Wolo, que entra em operação no dia 25 e nasceu com o objetivo de colocar em cena e fora dela profissionais negros.
Ao Estadão, Margareth revela que foi uma surpresa muito boa ter sido convidada para essa sitcom, pois propiciou que ela entrasse nesse mundo da dramaturgia e ainda pudesse dividir cena com jovens talentos, em sua quase totalidade, negros. “Achei muito legal porque não temos isso de mostrar a dinâmica da família afro-brasileira, de maneira bem colocada, com todas as coisas que fazem parte desse contexto de vida”, afirmou a cantora-atriz, que interpreta Teresa, uma ex-funcionária pública, que agora tem um salão de cabeleireiro. Ela explica que o enredo do programa traz essa família, que tem um padrão de vida estável, mostrando o dia a dia de todos os integrantes com muito bom humor.
'Racismo não foi destruído - só evoluiu', diz Viola Davis sobre o filme 'A Voz Suprema do Blues'
Na trama, a personagem central, a avó Teresa, é uma mulher casada, que já tem uma profissão legal e que passa para seus netos suas conquistas, dando força para que consigam uma colocação coerente com as capacidades profissionais de cada um. “Ao mesmo tempo”, conta Margareth, “é uma comédia maluca, porque um neto era da Bahia, outro do Rio, outro de São Paulo, então essa galera, quando se encontra nessa casa, é um Deus do céu”, diverte-se.
Ela ainda destaca os momentos em que entra em cena o amigo da família, Bruno (Cadu Libonati), um menino branco que adora a família e fica dentro dizendo que era neto dela também. “Ele é querido por todos e se acha da família mesmo, é totalmente sem noção, vive entrando na conversa dos outros, nas discussões”, conta Margareth, aos risos, só de relatar as situações vividas em cena.
A baiana destaca os cuidados que foram tomados com todos durante as gravações por causa da pandemia. “A gente fazia o teste de covid toda segunda-feira, ensaiava com a máscara e, na hora de gravar, vinha uma pessoa da produção recolhendo nossas máscaras, que eram devolvidas no final - e também usamos álcool em gel. Foi um cuidado rigoroso, mas valeu a pena, não tivemos um caso de covid no elenco.” Estavam com ela em cena Dum Ice, Johnny Kleiin, Jessica Cores, Dj Pelé, Sol Menezzes, Kiara Felippe, Jacy Lima, Cadu Libonati, Diego Becker e o rapper Rincon Sapiência.
“Um movimento heroico”, define Margareth sobre como foi a saga para o ator e diretor Licínio Januário e Leandro Lemos, da área de tecnologia, conseguirem lançar a Wolo. Ela constata que foi “flagrante a falta de interesse nas coisas que trazem o conteúdo afro por parte das marcas”. Indignada, ela afirma ainda que foi muito complicado para os responsáveis conseguirem colocar no ar uma plataforma dessas. “Não é possível que um projeto novo, de qualidade, que trata os mais variados assuntos de forma inteligente, não encontre empresas que queiram patrocinar.”
Entra no ar, no dia 25, a plataforma de streaming Wolo, um sonho de Licínio Januário e Leandro Lemos, que se torna realidade. Para começar, a palavra africana ‘wolo’ não tem um significado simples, mas é algo tipo ‘axé’. “É uma expressão de felicidade”, explica Licínio. Empolgado com a proximidade da grande estreia, o ator e diretor revela que o catálogo da plataforma é grande, com séries, filmes, programas de auditório, mas eles decidiram começar com calma, somente com a série Casa da Vó, por enquanto. “Resolvemos dar um primeiro passo e projetar essas produções para depois, mas temos muito conteúdo”, afirma.
Esse é um projeto que nasceu há cerca de um ano e meio e, de acordo com Licínio, “entre tantas mudanças de caminho, chegamos ao modelo ideal, conseguindo produzir um conteúdo de qualidade, a preço razoável, bem abaixo do mercado, e que chegue na população, ao nosso público-alvo, que é a população negra”. E Leandro complementa, dizendo que, na equipe que produziu a série, “99% das pessoas eram negras, e desse total, eu diria que 85% já eram da indústria do audiovisual, mas nunca tiveram a força de se unirem e ocuparem esse espaço que o Wolo está ocupando hoje”.
Os dois deixam claro que a plataforma tem como missão dar maiores oportunidades para profissionais negros que lidam com cultura, seja na frente ou atrás das câmeras, mas tem também a preocupação de olhar para outras populações que têm pouca visibilidade. “Nosso time sempre foi diverso, a gente pensa na questão indígena, dos asiáticos brasileiros, da população LGBT.”
Para ter acesso à plataforma, é só entrar no site: www.wolo.tv.
18 de dezembro de 2020 | 11h56
O ex-presidente do EUA, Barack Obama, citou Bacurau, filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, em sua lista de obras audiovisuais preferidas de 2020.
17 de dezembro de 2020 | 20h45
Tarsila do Amaral (1886-1973) já é a artista mais cara do Brasil. O leilão de sua tela modernista Caipirinha, de 1923, cujo lance inicial era de R$ 47,5 milhões, fez sua cotação disparar na noite de quinta-feira, 17, no pregão da Bolsa de Arte comandado por Jones Bergamin. A tela, vendida para um colecionador brasileiro, foi disputada por três pessoas, teve 19 lances e alcançou o estratosférico valor de R$ 57,5 milhões, inferior ao seu recorde no exterior, o da tela A Lua (1928), vendida para o Museu de Arte Moderna de Nova York no ano passado por US$ 20 milhões (valor aproximado de R$ 100 milhões). Nunca uma obra de arte brasileira alcançou esse preço. Os maiores valores registrados até hoje foram de obras assinadas por Guignard e Lygia Clark. O primeiro alcançou R$ 5,7 milhões com Vaso de Flores, em 2015. Lygia Clark teve sua Superfície Modulada Nº 4, arrematada por R$ 5,3 milhões em 2013 (valores não corrigidos pela inflação).
Mais recentemente, uma tela menos conhecida de Tarsila, também do período modernista, foi colocada à venda por US$ 7 milhões (cerca de R$ 36 milhões), numa feira online internacional. Desde 1995 sua cotação no mercado não parou de subir. Naquele ano, o empresário argentino Eduardo Costantini comprou a mais conhecida tela de seu período antropofágico, Abaporu (1928), por US$ 1,3 milhão durante um leilão em Nova York. A pintura foi vista pela última vez no Brasil na exposição Tarsila Popular, no Masp, que recebeu 400 mil visitantes.
Depois de percalços jurídicos, o leilão de Caipirinha (um óleo de 60 cm x 81 cm) foi afinal realizado, mas não sem tumulto. A pintura é alvo de uma disputa judicial entre Carlos Eduardo Schahin, filho do empresário Salim Taufic Schahin, envolvido na operação Lava Jato, e os 12 bancos credores a quem seu pai deve. A venda do quadro ajudaria a pagar essa dívida. No entanto, Carlos Eduardo alega que a obra foi vendida a ele pelo pai em 2012, por R$ 240 mil. Os credores questionaram a legitimidade da operação, justificando que a obra nunca chegou a sair das mãos de seu pai.
O advogado de Carlos Eduardo Schahin, Márcio Casado, entrou com uma medida cautelar para impedir o leilão. O Superior Tribunal de Justiça ( STJ) rejeitou a liminar que pedia sua suspensão. Apesar de ter sido mantido o leilão, o ministro Moura Ribeiro estipulou duas condições para a sua realização: o valor obtido não irá imediatamente para os bancos credores, mas será guardado numa conta específica até o fim do processo judicial envolvendo a obra. O fato de o comprador ter de depositar o dinheiro um dia depois da compra afastou possíveis interessados estrangeiros a participar do leilão, segundo informou a assessoria da Bolsa de Arte.
A segunda condição: o comprador precisa ser notificado de que o julgamento final pode reverter o entendimento atual do Tribunal de Justiça de São Paulo de que o quadro pertence a Salim e, portanto, pode ser vendido para ajudar a quitar sua dívida com os bancos credores.
O advogado Márcio Casado entrou, no dia do leilão (17), com uma petição nos altos do processo, em São Paulo, argumentando que os bancos credores, cientes da decisão do STJ, não deram publicidade à medida do ministro Moura Ribeiro, o que é contestado pela Bolsa de Arte. “A petição é despropositada e ignora as condições fixadas pelo Poder Judiciário para a venda, inclusive recente decisão datada de 14 de dezembro que já havia rejeitado exatamente a mesma alegação do filho do devedor. Todas as condições exigidas pela lei e pelo Poder Judiciário, que reconheceu a validade do certame, foram respeitadas”, segundo a assessoria da Bolsa de Arte.
Sob a guarda inicial de dona Olívia Guedes Penteado, primeira proprietária da tela e mecenas dos modernistas, a pintura foi herdada por sua filha, Carolina Penteado da Silva Teles e, posteriormente, foi comprada pelo empresário Salim Taufic Schahin. Há poucas obras do período modernista de Tarsila disponíveis no mercado e poucos colecionadores têm uma tela da artista de importância histórica comparável à pintura, realizada em Paris um ano após a Semana de Arte Moderna de 1922. Registrado no catálogo raisonné de Tarsila do Amaral, é um quadro considerado pela artista uma de suas melhores pinturas do período modernista. Tarsila, em 1923, estudava pintura com os cubistas em Paris – e Caipirinha reafirma a influência de Léger na composição – quando escreveu uma carta aos pais comunicando sua intenção de registrar numa tela suas lembranças de infância na fazenda. “Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com bonecas no mato, como no último quadro que estou pintando”.
17 de dezembro de 2020 | 05h00
A dramaturga inglesa Enid Bagnold (1889-1981) perguntou a uma feminista que conselho ela daria a uma dona de casa de 23 anos de idade que, tendo perdido quatro filhos, engravidasse outra vez de um marido alcoólatra e violento. “Eu insistiria para que ela interrompesse a gravidez”, respondeu a feminista. “Neste caso”, concluiu Bagnold, “você teria abortado Beethoven”.
O menino nasceu, de fato, em 17 de dezembro de 1770, em Bonn, em família musical. E apanhou muito do pai Johann, seu primeiro professor de música, para estudar piano: eram raros os dias em que não levava chicotadas ou ficava trancado no porão de castigo por não estudar direito piano, violino ou teoria musical. Ou então era acordado à meia-noite e obrigado a estudar durante a madrugada.
Como Beethoven mudou a relação entre o ouvinte e a música
Pois é, a vida era duríssima para o menino Ludwig Beethoven (o van, signo de nobreza, foi por ele acrescentado para frequentar com mais facilidade os círculos da elite vienense, farsa desmontada quando teve de lutar na justiça pela adoção do sobrinho).
Mesmo assim, ele fez história. Em pouco mais de três décadas vivendo em Viena – entre 1792 e 1827 –, o compositor transformou-se não só no mais celebrado e prestigiado músico da Europa, como alterou radicalmente o modo como se compõe e se ouve música. Adorou Napoleão (Sinfonia Eroica) e depois o odiou quando Bonaparte autocoroou-se imperador da França.
Permaneceu fiel aos ideais da Revolução Francesa. Mas, aos poucos, o ardor militante deu lugar a mensagens utópicas que abraçou ao incorporar os versos de Schiller ao movimento final de sua Nona Sinfonia – a mais celebrada obra orquestral de todos os tempos.
Beethoven nasceu há 250 anos. A cada efeméride, um novo músico surgia. No centenário, em 1870, por exemplo, Richard Wagner transformou o que seria uma deficiência, sua surdez, na razão de sua genialidade: “Um músico privado do sentido do ouvido! Pode-se imaginar um pintor cego? Mas conhecemos um espectador que ficou cego. Tirésias que, a partir de sua cegueira, percebe com seu olho interior o fundamento de toda aparência! (...) Beethoven se parece com ele, este músico que não se aborrece com os ruídos da vida e escuta apenas as harmonias de seu foro íntimo”. Palavras impactantes. O filósofo Peter Szendy considera que ali Wagner ungiu a interpretação da surdez de Beethoven como “divina”: Beethoven tem clarividência auditiva, ou melhor, “clariaudiência”.
Saltamos um século e, em 1970, no bicentenário, um emérito especialista em Beethoven, o pianista Friedrich Gulda (1930-2000), apareceu nu para tocar sonatas do compositor em recital comemorativo na majestosa Musikverein de Viena.
Naquele mesmo 1970, o compositor Mauricio Kagel (1931-2008) concebeu Ludwig van, um filme em branco e preto que denuncia a comercialização de Beethoven, transformado em produto de consumo, como os bonequinhos do “gênio furioso” feitos de marzipã, ao lado de pastéis Schiller. Kagel usou a palavra “musealização” para bradar contra a escuta banalizada de sua obra.
Ora, com ou sem efemérides, a música de Beethoven é sempre a mais tocada no mundo inteiro. Assim, Kagel propôs que sua música não seja tocada durante um ano inteiro, “porque só assim, depois de certo tempo, voltando às salas de concerto, os nervos acústicos conseguirão de novo reagir a ela”. Não era um ataque ao compositor, mas apenas uma defesa de Beethoven contra seus admiradores (parafraseando o célebre artigo de Adorno sobre Bach, em 1950, no bicentenário de sua morte).
Chegamos aos 250 anos. No segundo semestre de 2019, a regente Marin Alsop encerrava seu ciclo à frente da Osesp dando a largada ao projeto “Global Beethoven”, viabilizado pela Fundação Weill do Carnegie Hall de Nova York. Alsop regeria a Nona em nove países, com os corais entoando a Ode à Alegria em suas línguas. O projeto abortou logo após a largada.
Cruel ironia. A pandemia transformou em realidade o desejo de Kagel. Uma ou outra sinfonia do compositor foi tocada para meia dúzia de gatos pingados na Sala São Paulo e em outras espalhadas pelo Brasil.
Nossos “nervos acústicos” foram obrigados a descansar este ano, não só de Beethoven, mas de toda música ao vivo.
Naturalmente, muitas integrais foram lançadas aos borbotões das nove sinfonias, dos dezesseis quartetos e das 32 sonatas para piano. Sinceridade? Nenhuma gravação nova das sinfonias chegou perto dos monumentos assinados por maestros lendários como Herbert von Karajan (várias, a melhor elas de 1962, com a Filarmônica e Berlim) e Leonard Bernstein (com a Filarmônica de Nova York). Está bem, concordo que há centenas de outros registros maravilhosos, históricos e também mais recentes. Com exceções: um que me apaixona sempre que ouço é o de John Eliot Gardiner com sua Orquestra Revolucionária e Romântica, aliás também responsável por uma leitura impecável da Missa Solemnis.
No domínio dos quartetos de cordas, a concorrência também é feroz, e abundante. Aí entra o gosto pessoal por este ou aquele grupo. Para mim, dois são pontos fora da curva. E, não por coincidência, ambos captados em apresentações ao vivo, ou presenciais, como se diz em tempos pandêmicos. A primeira, dos anos 1980, é do excepcional Alban Berg Quartet – uma maratona de mais de oito horas (EMI, hoje disponível em streaming). A segunda é talvez o mais bem-sucedido tributo de um quarteto a Beethoven nesta efeméride: os jovens músicos franceses do Quarteto Ebene tocam juntos desde 1999. Vinte anos de convivência e integração absoluta. Mas acontece que a mágica em quartetos de cordas só acontece quando cada músico mantém sua individualidade. Disso resulta música e alta voltagem, que não deixa nenhum ouvido indiferente.
Beethoven around the world, foi gravado em salas em todos os continentes em 2019. São registros ao vivo, inclusive um da Sala São Paulo em setembro do ano passado. Comece com os três quartetos Razumovsky, opus 59, que são de 1806, um “annus mirabilis” para o compositor. Ele foi criticado mas respondeu:”Não é para vocês, mas para os tempos que virão”. Trinta anos depois, Robert Schumann escreveu a respeito destes quartetos: ”Beethoven encontra os seus motivos na rua, mas faz deles as palavras mais belas do mundo”. Daí em diante, ouça na ordem cronológica de composição, até os enigmáticos e revolucionários quartetos finais, incluindo a Grande Fuga. No mesmo 1806, ele também compôs o concerto no. 4, que muitos consideram (e eu me incluo entre eles) mais extraordinário que o quinto, apelidado “Imperador”. Preferencialmente em duas leituras apaixonantes: de Mitsuko Uchida e a
Concertgebouw com Sanderling, em 1994; e com Maria João Pires em 2014 com a Orquestra Sinfônica da Rádio Sueca regida por Daniel Harding.
E das sonatas, fique com a novíssima versão do pianista turco Fazil Say, de 50 anos. Ele teve de estudar várias, por simplesmente não tocava todas elas, para horror dos ortodoxos, que consideram 32 sonatas verdadeiro rito de passagem fundamental para todo pianista. Daí, quem sabe, suas interpretações personalíssimas e sempre envolventes – da Sonata ao Luar até a imponente opus 111, sonata tão monumental que levou Thomas Mann a dedicar um capítulo inteiro de seu romance “Doutor Fausto” a uma análise detida e comovente (ajudado por Theodor Adorno). Portanto, leia o capítulo 8 do romance e ouça a 111. É uma grande porta de entrada (ou chegada?) para o mundo sempre surpreendente de Beethoven.
16 de dezembro de 2020 | 10h50
Uma das grandes cantoras brasileiras, Baby do Brasil terá sua trajetória pessoal e artística retratada no documentário Apopcalipse Segundo Baby, de Rafael Saar. Uma coprodução do Canal Brasil com a Dilúvio Filmes, longa-metragem tem estreia programada para 2022. "Esse filme vai mostrar, com muita verdade, a Baby de verdade, ou melhor a Baby da Verdade", afirma a cantora.
"Esse filme é sobre a minha trajetória no planeta Terra, até o momento, traz cenas reais e profundas da minha vida", afirma Baby sobre a produção, destacando o trabalho do jovem diretor e que "não tem barreiras e, nenhum compromisso a nao ser com a fidelidade dos fatos".
O documentário, acompanha a cantora, ícone da contracultura e do movimento hippie brasileiro, desde 2008, registrando seu retorno aos palcos. Houve também um extenso trabalho de pesquisas de imagens de acervo e remonta, ao lado da protagonista, parte de sua trajetória, desde a infância em Niterói, passando pela ponte cujas marquises fizeram as vezes de moradia para a cantora em um momento de sua vida, passando pelo caminho de Santiago de Compostela (Espanha), tradicional rota de peregrinação religiosa, até a vida com os Novos Baianos e os trios elétricos – ela foi precursora no carnaval de rua de Salvador. "Ele (Rafael Saar) acompanha a minha trajetória desde menina e essa fidelidade na mistura do meu lado espiritual, tão forte na minha vida, com o meu lado natural, me cativaram para caminharmos juntos nesse roteiro de vida apopcalíptico."
O filme traz ainda encontros com Elza Soares e Ademilde Fonseca - suas duas maiores influências na música - além, claro, dos eternos companheiros dos Novos Baianos.
14 de dezembro de 2020 | 21h55
Atualizado 14 de dezembro de 2020 | 22h05
O cantor Paulo César Santos, o Paulinho do Roupa Nova, morreu nesta segunda-feira, 14, aos 68 anos. Ele estava internado em um hospital na zona sul do Rio e teve falência múltipla dos órgãos após uma parada cardiorrespiratória. A internação veio a público no último dia 4 de novembro, quando ele testou positivo para a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Na ocasião, ele já estava há cerca de dois meses se recuperando de um transplante de medula óssea no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN).
"As luzes do palco se apagaram. Infelizmente o nosso querido Paulinho não resistiu", escreveu a banda em sua página oficial nas redes sociais.
Paulinho chamava-se, de batismo, Paulo César dos Santos. Nascido no Rio a 6 de setembro de 1952, era percussionista e vocalista do Roupa Nova, apesar de ser mais conhecido por suas interpretações. Sua história na música começa ainda na década de 1970, quando passa a formar a banda de bailes Los Panchos Villa, com os também amigos de Roupa Nova Kiko e Feghali. Depois de um convite feito por um dos integrantes do grupo Os Famks, migrou de conjunto e levou consigo o guitarrista Kiko.
Uma das vozes mais potentes do Roupa Nova, ele tinha como sucessos obrigatórios de serem cantados nos shows canções como Canção de Verão, Clarear, Sensual, Volta pra mim, Whisky a Go-Go, Linda Demais, Meu Universo É Você, De volta pro futuro, Asas do Prazer, Os Corações não São iguais, Maria Maria e Felicidade, dentre várias outras. Ele chegou a gravar com o Roupa Nova vocais com importantes nomes da música, como o grupo The Commodores, em Esse Tal de Repi Enroll. Ivete Sangalo (em O Sal da Terra) e Elba Ramalho (em Fé Cega, Faca Amolada) também fizeram parcerias, além de Marjorie Estiano, Fresno, Zezé Di Camargo e Luciano, Marcos e Belutti, Tico Santa Cruz e Angélica, mostrando o poder de alcance que sua voz tinha a frente do grupo.
Um dos raros momentos em que se afastou do grupo foi em 2009, quando, alegando problemas de saúde, foi substituído pelo ex-vocalista da banda Rádio Táxi, Maurício Gasperini, em três shows do Roupa Nova. Ele é um dos membros fundadores do grupo, que mantém sua formação original há mais de 40 anos. Em 2009, veio um Grammy Latino na categoria melhor álbum pop contemporâneo brasileiro, concorrendo com Rita Lee, Ivete Sangalo, Skank e Jota Quest.
13 de dezembro de 2020 | 19h53
O lendário escritor britânico John Le Carré, que se inspirou em suas próprias experiências como espião para criar algumas das melhores obras de intriga da literatura no século 20 como O Espião que Saiu do Frio, morreu aos 89 anos após uma breve doença, informou seu agente literário, Jonny Geller. O homem cuja imaginação criou personagens como o agente George Smiley, um ícone da Guerra Fria, morreu de pneumonia, na noite de sábado, 12, em um hospital na Cornualha (sudoeste da Inglaterra).
Durante muitos anos, John Le Carré, cujo nome verdadeiro era David Cornwell, foi o eminente autor de livros sobre espionagem. Com a derrubada do Muro de Berlim, no ano de 1989, e o fim da Guerra Fria, passou-se a acreditar que ele não teria mais assunto para escrever. O próprio Carré declarou, em uma entrevista: “Tive a impressão de ler meu próprio obituário”. Mas a verdade é que o autor inglês nunca sentiu falta de material, escrevendo vários livros sobre conflitos e corrupção, sempre que se deparava com isso em governos e em empresas. Pode-se dizer que foi o escritor de livros de espionagem que saiu do frio.
Nascido em 19 de outubro de 1931, em Poole, na Inglaterra, ele trabalhou no corpo diplomático britânico entre 1960 e 1964, notadamente nos serviços secretos. Sua experiência terminou repentinamente quando o agente duplo britânico Kim Philby denunciou a identidade de dezenas espiões. Revelado, Cornwell logo assumiu a ficção para dar vazão ao maravilhoso mundo secreto em que habitou durante certo tempo – foi na seção operacional do MI5 que ele conheceu o escritor de livros de mistério e crime John Bingham, que primeiro o encorajou a escrever.
O primeiro livro, O Morto ao Telefone, foi lançado em 1961. Logo foi seguido por Um Crime Entre Cavalheiros (1962) e depois aquele que o tornou referência na literatura de espionagem, O Espião que Saiu do Frio (1963) – como ainda era um espião ao publicar essas obras, ele adotou o pseudônimo e assim permaneceu, escolhido porque gostou do som vagamente misterioso. “Em clássicos como este, além de O Espião que Sabia Demais e Sempre um Colegial, Le Carré combinou uma prosa concisa, mas lírica com o tipo de complexidade esperado na ficção literária”, observa Jill Lawless, da Associated Press. “Seus livros lutam contra a traição, o compromisso moral e o custo psicológico de uma vida secreta. Com o silencioso e vigilante espião George Smiley, ele criou um dos personagens icônicos da ficção do século 20 – um homem decente no centro de uma teia de engano.”
De fato, seus thrillers de espionagem estabeleceram uma atitude que se tornou conhecida como “equivalência moral”: a ideia de que o comportamento de ocidentais e soviéticos no jogo da espionagem era igualmente suspeito ou igualmente justificável. Com o fim da Guerra Fria, Le Carré, assim como outros escritores, saiu em busca de outro inimigo do mesmo quilate que os agentes de Moscou, até descobrir que os vilões estavam no mesmo sistema que ajudou a apoiar para derrubar o comunismo.
Destaque dessa fase o romance O Jardineiro Fiel (2001), levado ao cinema por Fernando Meirelles. “O que ele fez foi trazer algo da paixão insana de Cidade de Deus, que me remeteu a Dante e a Goethe, para O Jardineiro Fiel”, disse Le Carré ao Estadão, em 2005. O livro se passa no Quênia e contém uma dura invectiva contra as indústrias farmacêuticas. “Muitas das notícias que recebemos não passam de ilusão”, continuou. “Assim, acredito que não é apenas social mas principalmente patriótico revelar a forma como estamos sendo subjugados.”
A notícia de sua morte logo provocou lamentos. “Este ano terrível vitimou agora um gigante literário e um espírito humanitário”, tuitou o romancista Stephen King. Já Margaret Atwood disse: “Lamento saber da sua morte. Seus romances estrelados por Smiley são a chave para a compreensão da metade do século 20”. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
12 de dezembro de 2020 | 05h00
A produção de Beatriz Milhazes é o foco de uma exposição promovida em conjunto pelo Masp e Itaú Cultural – a maior retrospectiva já dedicada à artista carioca, de 60 anos. A parceria entre as duas instituições vem na esteira da união de esforços de espaços da região em estabelecer projetos comuns que explorem o potencial da Avenida Paulista, “corredor cultural” que completa 129 anos exatamente neste mês de inauguração da mostra. Assim, o título da exposição – Beatriz Milhazes: Avenida Paulista – vem a calhar. A artista, aliás, deu o nome da via a uma pintura inédita, doada ao Masp, que estará em exibição no andar dedicado ao acervo do museu.
A doação é tudo menos modesta. Afinal, a produção de Beatriz, artista de projeção internacional, vem sendo cada vez mais valorizada no mercado. Em um leilão da Sotheby’s em 2012, por exemplo, a tela Meu Limão teve o maior preço já alcançado por um artista brasileiro vivo: US$ 2,1 milhões. Na SP-Arte de 2016, um comprador adquiriu uma pintura sua por R$ 16 milhões, vendida pela Dan Galeria. Suas obras estão também no acervo de importantes instituições americanas e europeias, como o Museum of Modern Art (MoMa), em Nova York, e o Museu Reina Sofia, em Madri.
Não se pode negar o apelo da obra da artista, cujas formas e cores “falam diretamente ao olhar”, segundo Ivo Mesquita, curador da mostra no Itaú Cultural, que ressalta, no entanto, a “grande inteligência” existente por trás de tal mérito. “Ela criou uma identidade própria com as cores, os enlaces das formas e os efeitos ópticos. Isso faz com que seu trabalho seja extremamente apreciado, mas, para além da popularidade, ela está num lugar que contém a densidade de uma profunda reflexão sobre a história da pintura”, avalia Mesquita.
Concepção. Programada desde 2018, a retrospectiva partiu de um convite simultâneo do Masp e do Itaú Cultural. Com a última instituição, a artista havia publicado um livro dedicado a suas colagens e gravuras e, disso, nasceu a ideia de uma exposição com tal recorte. A possibilidade de exibição em dois espaços tão próximos permitiu, contudo, que a mostra fosse concebida como a mais abrangente de sua trajetória, com 170 trabalhos de seus últimos 30 anos de carreira.
Beatriz afirma valorizar o diálogo com críticos e curadores. Assim, envolveu-se diretamente na produção da mostra. Durante o processo, as condições específicas da pandemia demandaram ajustes, mas a quarentena, segundo a artista, acabou tendo um lado positivo, com um maior tempo para a discussão e a revisão de detalhes do projeto. Beatriz veio do Rio de Janeiro para acompanhar o processo final de montagem e a inauguração da mostra. Em seu primeiro dia em São Paulo, conversou com o Estadão.
Diante das atuais circunstâncias, a artista considera que o público, mais do que nunca, precisa de acesso à arte e à cultura. Nesse sentido, admite as potencialidades de sua produção: “Hoje, eu tenho consciência que o meu trabalho tem este poder de comunicação, de atingir desde a área especializada até aqueles não necessariamente familiarizados com a arte. O que me deixa feliz é que ele traz essa energia que a arte pode ter – de fazer pensar diferente, de transformar as pessoas. Por isso, torço para que venham ver a mostra”, comenta. Por questões de logística, a exposição começa antes no Itaú Cultural, onde o público poderá conferir, prioritariamente, colagens e gravuras, enquanto no Masp, a partir do dia 18 de dezembro, estarão, sobretudo, suas pinturas e esculturas.
A artista, que despontou com a Geração 80 – grupo que se contrapôs à arte conceitual dos anos 1970 –, tem a pintura na base de sua produção, marcada pelo uso de cores vibrantes, ornamentos e sobreposição de formas. “A pintura é a raiz; é dela que vem a coisa mais bruta. Gosto de desafios, de introduzir novos elementos, fazer eles se desdobrarem. Mas, para mim, é muito importante respeitar o tempo desse processo. Eu paro de pintar durante alguns períodos, mas, com os outros meios, posso continuar a pensar e obter resultados que me estimulam e devolvem informações para a pintura”, explica Beatriz, ressaltando que, no diálogo entre os dois espaços expositivos, será possível perceber como ocorre essa dinâmica.
O curador Ivo Mesquita reforça que é precisamente essa a proposta da mostra no Itaú Cultural: “É a primeira vez que são exibidas juntas tantas colagens e gravuras. O objetivo é mostrar como essas duas práticas ganharam uma autonomia no trabalho da Beatriz, mas como mantêm uma relação de irmãs com a pintura e se retroalimentam”. Desse modo, quem visitar a mostra poderá perceber o que Mesquita descreve como a “imensa curiosidade” por trás do trabalho da artista, marcado, segundo ele, por um “pensamento extremamente coerente, desenhado e programado”.
Tais aspectos são desdobrados ao longo de três pisos do instituto. No mezanino, predominam as colagens, a partir das quais é possível notar, por exemplo, que seus trabalhos começam com uma “grade” de linhas verticais e horizontais, que formam o plano para a aplicação dos famosos ornamentos da artista. No 1º subsolo, ganham destaque as gravuras e formas circulares exploradas por ela. Motivos como a rosácea, constante no trabalho de Beatriz, compõem um efeito óptico cujas modulações poderão ser observadas pelo visitante. “Essa sala mostra como ela constrói a superfície em movimento”, acrescenta Mesquita.
O 2º subsolo, por sua vez, propõe ao público um percurso didático e ilustrativo, com obras e publicações que evidenciam a construção das composições de Beatriz e os desdobramentos de um suporte para o outro. Ali, um trabalho de 1989 aparece como exemplar das primeiras aplicações de uma técnica criada por ela, chamada “monotransfer” – em uma folha de plástico, desenha uma imagem de um lado e pinta o seu verso, colando, então, a superfície pintada sobre a tela. Quanto a essa técnica, Beatriz explica que surgiu de sua insatisfação com o resultado plástico de suas pinturas. A descoberta permitiu a preservação das cores no processo de transferência e também que ela não se dissociasse da ideia de colagem que permeia sua produção.
“Ver o trabalho da Beatriz ao vivo reafirma o quanto a gente pode aprender com o olhar. A pintura dela é uma aula de procedimentos técnicos e formais”, avalia Amanda Carneiro, curadora da mostra no Masp ao lado de Adriano Pedrosa. Qualidades como essa poderão ser visualizadas, por exemplo, em 12 pinturas de pequeno formato no mezanino. A seção que promete ser a mais impactante, no entanto, é a galeria do 2º subsolo, com 50 pinturas em grandes dimensões dispostas em cavaletes desenhados com base nos originais de Lina Bo Bardi (só que com têxtil e metal em vez de concreto e cristal). A ideia é promover a mesma atmosfera de “floresta” contida na exibição do acervo no segundo andar, mas com a diferença de que haverá obras fixadas nos dois lados dos cavaletes. Tal escolha permitirá que sejam observadas associações e contrastes entre diferentes períodos da produção de Beatriz.
Ainda no 2º subsolo, de cujo teto pende Gamboa, uma das esculturas presentes na mostra, foi instalado um piso de linóleo, reforçando a ligação da artista com a dança, linguagem que pauta a programação do Masp este ano. “Simbolicamente, é como se a dança fosse a estrutura sobre a qual o trabalho dela se assenta”, diz Amanda. A artista costuma colaborar com as produções da companhia de dança de Márcia Milhazes, sua irmã, que agora poderá dar uma “retribuição” – para o ano que vem, estão programadas apresentações suas no ambiente expositivo.
Itaú Cultural
No instituto, estarão expostas, predominantemente, gravuras e colagens de diferentes fases da carreira de Beatriz. Sob a curadoria de Ivo Mesquita, este núcleo da exposição reúne 79 obras, dentre as quais três são inéditas: ‘Havaí em Amarelo Vibrante’; ‘Cor de Pele’ e ‘Giro Horizontal’. Entre os outros destaques, a gravura ‘Dovetail’, de 2019, é a maior já produzida por ela, com dois metros de comprimento.
Masp
Pinturas e esculturas serão privilegiadas. Telas de grandes dimensões estarão em cavaletes desenhados com base nos originais de Lina Bo Bardi. Beatriz produziu a tela ‘Avenida Paulista’ especialmente para a instituição. Com a escultura ‘Marola’, essa obra será exibida à parte, na sala de exibição do acervo. A curadoria da mostra, que integra a programação dedicada à dança deste ano no museu, é de Adriano Pedrosa e Amanda Carneiro.
Paralelamente à mostra, o público poderá participar de encontros online dedicados à produção de Beatriz Milhazes. Com a mediação de educadores do Itaú Cultural, serão discutidas questões como o uso da cor, a escolha de materiais e a recorrência de formas e temas em sua obra. Gratuita, essa atividade ocorre em 13 e 20 de dezembro, das 11h às 12h, com vagas limitadas (inscrições no site itaucultural.org.br). Ao longo do mês de dezembro, o espaço promove ainda uma série de oficinas virtuais sobre práticas de desenho e pintura.
Segundo Eduardo Saron, diretor do instituto, esse tipo de experiência virtual ficará como uma das principais lições do período de pandemia. A ideia, segundo ele, é que os recursos online sejam sempre complementares às exposições, indo além da mera reprodução de conteúdo. Em tempos de distanciamento social, outra aposta, por exemplo, é oferecer aos visitantes o acompanhamento remoto de educadores por meio de videochamada.
Como complemento, o Masp, por sua vez, lança o catálogo da retrospectiva de Beatriz, que será vendido, a partir de janeiro, tanto na loja física quanto no site masploja.org.br (R$ 159).
ITAÚ CULTURAL. AV. PAULISTA, 149, METRÔ BRIGADEIRO, 2168-1777. VISITAS DE 3ª A DOM., MEDIANTE RESERVA EM SYMPLA.COM.BR/AGENDAMENTOIC
MASP. AV. PAULISTA, 1.578, METRÔ TRIANON-MASP, 3149-5959. INAUGURAÇÃO: 18/12. 13H/19H (3ª, 10H/20H; SÁB. E DOM., 10H/18H; FECHA 2ª). R$ 45 (3ª E 4ª, GRÁTIS). RESERVA EM MASP.ORG.BR/INGRESSOS. ATÉ 30/5/2021.
10 de dezembro de 2020 | 19h57
Um serviço de streaming totalmente gratuito, que não precisa de cartão de crédito nem mesmo de registro. Assim é a Pluto TV, que acaba de ser lançada no Brasil pela ViacomCBS, um dos maiores conglomerados de mídia e entretenimento do mundo.
De cara, estão disponíveis 24 canais fixos, incluindo Nick Jr. Club, Nick Clássico, Naruto, Pluto TV Anime, Os Três Patetas, cinco filmes e Porta dos Fundos, com a estreia do novo especial de Natal da turma de comediantes. Três outros entram no ar em 18 de dezembro: As Pistas de Blue e Você, Turma da Mônica e Pluto TV Cine Família. Três canais pop-up ficam no ar até o final do mês: Pluto TV Cine Natal, Pluto TV Clima de Natal e Pluto TV Músicas de Natal. “A gente pretende criar coisas novas mensalmente”, disse Maurício Kotait, gerente-geral da ViacomCBS no Brasil, em evento virtual para a imprensa. No futuro, há planos de um pop-up de Star Trek, por exemplo. O objetivo é chegar até o final de 2021 com 60 canais e 7.800 horas de conteúdo.
Com 36 milhões de usuários ativos por mês e presença em 24 países, a Pluto TV chega ao Brasil para disputar espaço com a TV aberta. “Na nossa opinião, a gente vai conquistar o Brasil de forma muito forte. As pessoas que gostam de TV aberta e de streaming vão ter na Pluto uma grande opção”, disse Kotait. Os planos são ambiciosos. “A estratégia é dominar o streaming no Brasil”, disse Rogério Francis, vice-presidente de CDM da ViacomCBS na América Latina.
Segundo Francis, o alvo são as classes C, D e E. “Há uma sede de demanda de conteúdo da população que infelizmente não tem a capacidade financeira de pagar uma TV por assinatura. Este é o serviço que esse público esperava”, afirmou. Kotait completou: “A gente quer falar com todos os brasileiros”. Num primeiro momento, a expectativa é de atrair mais jovens, que têm mais familiaridade com a tecnologia. “Mas com o passar do tempo a gente deve ter bastante adulto e criança. O espectador pode esperar todo tipo de conteúdo, novo, antigo, nem tão antigo assim”, disse ele. Já estão disponíveis desde longas como Blue Jasmine e Crô até seriados clássicos como Jeannie É um Gênio. Por enquanto, não há planos de fazer produções originais.
Além da programação linear, como da televisão normal, a Pluto TV terá diversos conteúdos disponíveis em vídeo on demand. Haverá intervalos comerciais, totalizando cerca de 10 minutos por hora.
A chegada da Pluto TV não vai atrapalhar os canais da companhia disponíveis na TV por assinatura, como MTV, Nickelodeon, Nick Jr., Comedy Central e Paramount Network. “Não há competição”, afirmou Francis. “A Pluto TV traz essa experiência para um universo da população que não tem acesso a conteúdo de qualidade. Tão logo esse público tenha condições econômicas de acessar uma TV por assinatura, ele vai querer ter mais conteúdo do que tem hoje. A gente vai usar a Pluto TV para trazer gente para a TV por assinatura.”
Segundo ele, também não há concorrência com o serviço de streaming Paramount+, que chegou ao Brasil em 2019, mas vai ser relançado ano que vem, com quatro vezes mais conteúdo do que hoje – a expectativa é incluir séries de CBS All Access e Showtime. “A Paramount+ que a gente vai lançar no próximo ano terá produções novas e premium. A Pluto TV é um produto da ViacomCBS, mas não tem só coisas da ViacomCBS.” A Pluto TV pode ser acessada pela internet (pluto.tv), em aplicativos para Android e iOS, além de Amazon Fire TV, Android TV, Apple TV, Chromecast e Roku.
11 de dezembro de 2020 | 05h00
No final de 2017, um ônibus percorreu diversos pontos de São Paulo transportando uma surpresa: tão logo o veículo estacionava, uma animada trupe descia e, em um palco adaptado, apresentava uma série de canções natalinas para um público que, curioso, logo se acomodava para assistir. “Já na segunda canção, havia pessoas cantando e dançando”, relembra Zé Henrique de Paula, diretor daquele projeto intitulado Jingle Bus – Um Concerto de Natal.
Com a pandemia do novo coronavírus, um ônibus circula agora vazio pela cidade, apenas para anunciar a montagem que ocupa o Teatro Santander, para onde o espetáculo foi adaptado. Se antes eram 15 artistas, agora são seis em cena (além de quatro músicos), todos respeitando os protocolos de segurança, o que permite atuar e cantar sem máscaras – e, na plateia, apenas 40% da capacidade é ocupada no teatro, com lugares separados.
O objetivo do projeto, criado e produzido por Adriana Del Claro, continua sendo o mesmo: levar a essência do Natal e fazer as pessoas relembrarem o espírito dessa época do ano com simplicidade e alegria. “Mas agora a energia é específica para o momento, ou seja, celebrar a nossa volta e a do público ao teatro, depois de nove meses de isolamento social”, comenta Zé Henrique.
De fato, para o fã de musical, é emocionante retomar o que antes era uma prática comum, ou seja, acompanhar ao vivo uma apresentação cantada. O novo Jingle Bus foi adaptado para os tempos modernos pelo diretor e por Fernanda Maia, que assina a direção musical. Assim, as duas primeiras canções já esclarecem a intenção do espetáculo ao trazer um acalento com sua mensagem de esperança diante da pandemia: Ali (do maravilhoso grupo Barca dos Corações Partidos), com seu poderoso verso “Vai Passar”, e o clássico Stand By Me (Ben E. King) e seu acalentado refrão “Fique Comigo”.
“É uma forma de dar boas-vindas a quem teve coragem de sair de casa e ir até ao teatro”, observa Zé Henrique, lembrando dos diversos blocos que se seguem, como a homenagem aos musicais com assinatura Disney (como Mogli) ou os standards natalinos, como Jingle Bells, Hallelujah, White Christmas e Imagine, além de canções nacionais, como Papai Noel de Camiseta, de Ivan Lins.
O espetáculo não segue um roteiro tradicional, com as canções sendo interpretadas como em um show, mas os seis atores se apresentam com os próprios nomes e revelam momentos de ansiedade vividos durante a pandemia. “No dia de nossa viagem para Fortaleza, onde iniciaríamos a turnê de Chaves – Um Tributo Musical, fomos informados do fechamento dos teatros”, relembra Mateus Ribeiro que, em busca de uma pequena compensação, retorna ao personagem ao lado de Carol Costa, que viveu Chiquinha.
A paralisação cancelou sonhos e iniciou uma era de incertezas. “Pegos de surpresa com a ausência de trabalho, muitos artistas até pensaram em mudar de profissão”, argumenta Davi Tapias, que participa de um divertido número sobre a necessidade de se usar constantemente álcool em gel nas mãos – o tom educativo mira uma parcela do público jovem, para o qual o show é principalmente direcionado.
A precaução contra a covid, aliás, está em todas as fases da produção: os atores mantêm o distanciamento nos camarins e testes para detectar o vírus são feitos com constância. E, em cena, não há praticamente nenhum momento de contato, o que torna a coreografia criada por Gabriel Malo ainda mais desafiadora – a dança é, ainda assim, contagiante e criativa.
“O que antes a gente fazia com facilidade, agora é mais cansativo”, comenta Carol Costa, referindo-se ao peso imposto por tanto tempo sem atividade artística por conta do isolamento social. “O despreparo foi notado logo no início, quando o rendimento nos ensaios não era o mesmo de antes”, conta Zé Henrique.
Mesmo assim, as dores são ínfimas se comparadas ao prazer do seleto grupo em estar novamente em cena. “Estamos aqui homenageando os colegas que ainda esperam pela volta à normalidade”, comenta Gui Leal. “E também o público que tem vindo ao teatro, revelando seu amor pela arte”, completa Ettore Veríssimo.
Em uma das mais belas cenas do espetáculo, os atores sacam seus celulares e fazem uma chamada de vídeo para alguém querido – e a plateia é convidada a fazer o mesmo. “É um momento de amor, em que a tecnologia é usada a nosso favor para minimizar o isolamento”, constata Luci Salutes. “É quando cai a ficha sobre o que acontece hoje.”
Os ingressos para Jingle Bus são gratuitos e distribuídos para ONGs e instituições. Mesmo assim, alguns bilhetes são sorteados nas redes sociais do espetáculo, que terá sessões na segunda, 14, e na sexta, 18.