19 de dezembro de 2020 | 05h10
Margareth Menezes estava tranquila em seu canto, quando foi pega por um convite que a faria sair da zona de conforto. O desafio para a cantora baiana era protagonizar o seriado Casa da Vó, dirigido por Licínio Januário. Mais que isso, que o programa será aquele que inaugurará a plataforma de streaming Wolo, que entra em operação no dia 25 e nasceu com o objetivo de colocar em cena e fora dela profissionais negros.
Ao Estadão, Margareth revela que foi uma surpresa muito boa ter sido convidada para essa sitcom, pois propiciou que ela entrasse nesse mundo da dramaturgia e ainda pudesse dividir cena com jovens talentos, em sua quase totalidade, negros. “Achei muito legal porque não temos isso de mostrar a dinâmica da família afro-brasileira, de maneira bem colocada, com todas as coisas que fazem parte desse contexto de vida”, afirmou a cantora-atriz, que interpreta Teresa, uma ex-funcionária pública, que agora tem um salão de cabeleireiro. Ela explica que o enredo do programa traz essa família, que tem um padrão de vida estável, mostrando o dia a dia de todos os integrantes com muito bom humor.
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Na trama, a personagem central, a avó Teresa, é uma mulher casada, que já tem uma profissão legal e que passa para seus netos suas conquistas, dando força para que consigam uma colocação coerente com as capacidades profissionais de cada um. “Ao mesmo tempo”, conta Margareth, “é uma comédia maluca, porque um neto era da Bahia, outro do Rio, outro de São Paulo, então essa galera, quando se encontra nessa casa, é um Deus do céu”, diverte-se.
Ela ainda destaca os momentos em que entra em cena o amigo da família, Bruno (Cadu Libonati), um menino branco que adora a família e fica dentro dizendo que era neto dela também. “Ele é querido por todos e se acha da família mesmo, é totalmente sem noção, vive entrando na conversa dos outros, nas discussões”, conta Margareth, aos risos, só de relatar as situações vividas em cena.
A baiana destaca os cuidados que foram tomados com todos durante as gravações por causa da pandemia. “A gente fazia o teste de covid toda segunda-feira, ensaiava com a máscara e, na hora de gravar, vinha uma pessoa da produção recolhendo nossas máscaras, que eram devolvidas no final - e também usamos álcool em gel. Foi um cuidado rigoroso, mas valeu a pena, não tivemos um caso de covid no elenco.” Estavam com ela em cena Dum Ice, Johnny Kleiin, Jessica Cores, Dj Pelé, Sol Menezzes, Kiara Felippe, Jacy Lima, Cadu Libonati, Diego Becker e o rapper Rincon Sapiência.
“Um movimento heroico”, define Margareth sobre como foi a saga para o ator e diretor Licínio Januário e Leandro Lemos, da área de tecnologia, conseguirem lançar a Wolo. Ela constata que foi “flagrante a falta de interesse nas coisas que trazem o conteúdo afro por parte das marcas”. Indignada, ela afirma ainda que foi muito complicado para os responsáveis conseguirem colocar no ar uma plataforma dessas. “Não é possível que um projeto novo, de qualidade, que trata os mais variados assuntos de forma inteligente, não encontre empresas que queiram patrocinar.”
Entra no ar, no dia 25, a plataforma de streaming Wolo, um sonho de Licínio Januário e Leandro Lemos, que se torna realidade. Para começar, a palavra africana ‘wolo’ não tem um significado simples, mas é algo tipo ‘axé’. “É uma expressão de felicidade”, explica Licínio. Empolgado com a proximidade da grande estreia, o ator e diretor revela que o catálogo da plataforma é grande, com séries, filmes, programas de auditório, mas eles decidiram começar com calma, somente com a série Casa da Vó, por enquanto. “Resolvemos dar um primeiro passo e projetar essas produções para depois, mas temos muito conteúdo”, afirma.
Esse é um projeto que nasceu há cerca de um ano e meio e, de acordo com Licínio, “entre tantas mudanças de caminho, chegamos ao modelo ideal, conseguindo produzir um conteúdo de qualidade, a preço razoável, bem abaixo do mercado, e que chegue na população, ao nosso público-alvo, que é a população negra”. E Leandro complementa, dizendo que, na equipe que produziu a série, “99% das pessoas eram negras, e desse total, eu diria que 85% já eram da indústria do audiovisual, mas nunca tiveram a força de se unirem e ocuparem esse espaço que o Wolo está ocupando hoje”.
Os dois deixam claro que a plataforma tem como missão dar maiores oportunidades para profissionais negros que lidam com cultura, seja na frente ou atrás das câmeras, mas tem também a preocupação de olhar para outras populações que têm pouca visibilidade. “Nosso time sempre foi diverso, a gente pensa na questão indígena, dos asiáticos brasileiros, da população LGBT.”
Para ter acesso à plataforma, é só entrar no site: www.wolo.tv.