10 de dezembro de 2020 | 05h00
Foram quatro anos de turnê do disco Amor Geral, lançado em 2016 e o primeiro de inéditas de Fernanda Abreu em 12 anos – seu mais recente álbum de estúdio até então tinha sido o Na Paz, de 2004. Fernanda queria encerrar esse ciclo com o registro em DVD do show que viajou pelo País e iniciar as comemorações pelos 30 anos da carreira solo, tendo como marco o álbum SLA Radical Dance Disco Club, de 1990. Estava tudo pronto para a apresentação de despedida no teatro Imperator, no Rio, naquela sexta-feira, dia 13 de março de 2020. Ela, os músicos da banda, os bailarinos da Focus Cia de Dança, os dançarinos do Passinho do Funk, a equipe de gravação, todos já estavam a postos no local.
Duas horas antes do espetáculo, no entanto, chegou o decreto do governador do Rio, Wilson Witzel, atualmente afastado, determinando o fechamento de cinemas, teatros e casas de show por causa da pandemia. O público que já estava no teatro teve de ir embora. Fernanda, então, decidiu manter o show, mesmo sem plateia. O registro da apresentação será lançado nesta quinta, 10, no DVD Amor Geral – (A) Live (Garota Sangue Bom/Universal), que originalmente eternizaria uma turnê importante para ela, mas acabou se tornando um documento de uma época. De um mundo paralisado pelo coronavírus. Será exibido às 20h no YouTube da artista e, no mesmo horário, chega às plataformas.
Fernanda lembra do clima de incerteza que se instaurou nos bastidores com a notícia do fechamento do teatro naquela noite. Conta que tentou reverter a situação, mas foi em vão. “Eu me tranquei sozinha no camarim. Passou um filme na minha cabeça desde que eu fiz o primeiro show na Blitz. Falei: não tenho 38 anos de palco à toa. Vou fazer isso, vou fazer o DVD. A banda ficou superinsegura: o que será que ela vai fazer, o que a gente vai fazer, o que vai acontecer? Nesse momento, tive a frieza de tomar essa decisão. Não sair chorando ou me desestruturar e ficar desesperada”, diz a cantora e compositora, de 59 anos, em entrevista por Zoom ao Estadão, de sua casa, no Rio. Pesou também a experiência. “A gente já passou por muita coisa.” Ela acredita que o DVD tenha inaugurado, de certa forma, as lives musicais. “Esse formato que foi o único possível para nós da música, um show sem público”, observa.
O show começaria às 21h, como estava previsto. Antes, Fernanda conversou com equipe, músicos e convidados, com palavras de incentivo. O teatro tocou, então, os três sinais, alertando que o espetáculo teria início. Ela subiu ao palco e seguiu o show exatamente como tinha planejado, com a dança em lugar de destaque e repertório mesclando canções do ótimo Amor Geral, mote da turnê, como Outro Sim e Saber Chegar, e hits como Veneno da Lata, Rio 40 Graus e Garota Sangue Bom, e lados B. O show foi feito direto, sem interrupções. As músicas que precisavam ser gravadas novamente para o DVD ficaram para o final. Fernanda manteve a energia que lhe é característica, mesmo depois do baque – e diante da plateia vazia. “Imaginei o tempo todo que aquilo estava lotado.”
O começo do DVD traz o contexto em que o show foi registrado, fala do decreto. Após o show, os abraços afetuosos no camarim foram os últimos. O mundo entrava em quarentena sem prazo para acabar. A tristeza bateu quando Fernanda chegou em casa, por não ter conseguido fazer o show que idealizara, com uma plateia em êxtase. Ao mesmo tempo, estava tomada pela sensação de ter feito a coisa certa. “Se a gente não tivesse feito isso, nunca mais iria fazer. A gente ia perder o registro de quatro anos de turnê.”
Para Fernanda, este é um momento de desafios como artista, mas também de mergulhar de cabeça no trabalho. Fez lives, pensou em projetos. Além do DVD Amor Geral – (A) Live, dedicou-se a um disco de remixes inéditos de canções de sua carreira, com participação de diferentes DJs, que deve ser lançado no ano que vem. Para ela, não há sentido lançar agora um trabalho com essa atmosfera de baile, de pista. Ainda em seus planos estão uma exposição sobre sua trajetória, que também passa pela cultura urbana; um disco reunindo músicas que gravou para projetos de outros artistas; e um álbum com cantoras de novas gerações. “Eu ia fazer este ano. Eu tinha chamado Anitta, Ludmilla, Céu, Letrux, Alice Caymmi. Várias meninas com quem cheguei a falar, todas acharam superlegal. A ideia não seria cantar exatamente as músicas, mas pegar o título das canções e desenvolver músicas originais.” Mesmo adiados, todos continuam no seu radar.
Este foi ainda um período de mudanças. Por causa do isolamento, ela e o marido, o baterista Tuto Ferraz, por exemplo, passaram a viver juntos no Rio. O que até então não era algo que o casal planejava. Fernanda mora no Rio, Tuto, em São Paulo, e eles estavam há 8 anos dessa forma, com um viajando para a cidade do outro. Fernanda também enfrentou dores. No começo da pandemia, uma de suas filhas, a médica Sofia, de 28 anos, pegou covid. A filha se recuperou. No entanto, poucos dias depois de gravar seu DVD, a cantora perdeu o pai, que tinha câncer. “Sinto falta dele”, desabafa Fernanda, com voz embargada.
A pandemia, e toda a carga de sentimentos trazida por ela, trouxe ressignificações. Isso valeu para as canções do álbum Amor Geral, agora revisitadas no DVD. “Ficou mais atual do que nunca. É exatamente isso que a gente precisa neste momento: amor geral. O amor incluído com respeito, com empatia, com generosidade, com solidariedade”, afirma. “É isso que vai segurar a gente nessa doideira, as pessoas sem emprego, pirando, deprimindo, adoecendo e os parentes adoecendo. E o que a gente mais precisa é de amor, e amor geral, para geral, com geral. Foi uma coincidência de tema e de assunto. O Amor Geral ganhou de novo uma força.”
Veja trailer do novo DVD:
Veja a entrevista que Fernanda deu para a TV Estadão sobre o disco 'Amor Geral':
Veja o clipe de 'Outro Sim':
Lista reúne principais obras da escritora, cujo centenário é celebrado em 2020
Atualizado
Em 2020, comemora-se o centenário da escritora brasileira de origem ucraniana Clarice Lispector. Uma das vozes mais celebradas da literatura nacional, a autora tem diversos livros importantes. Confira uma seleção dos 10 principais livros de sua obra:
Primeiro romance publicado por Lispector, ainda aos 19 anos, Perto do Coração Selvagem se destacou em meio ao ambiente literário brasileiro da época, muito marcado pela literatura regionalista e por obras realistas de cunho social. O livro narra a vida da protagonista Joana da infância à maturidade, trazendo conflitos mais íntimos e uma voz mais próxima das vanguardas literárias modernistas em termos de linguagem, como Virginia Woolf e James Joyce.
Outro romance da juventude de Clarice, O Lustre também emprega os artifícios que a consagraram na literatura brasileira, como o fluxo de consciência, a falta de um enredo linear, a prosa mais impressionista, que se preocupa mais com as percepções do que com as objetividades. Em meio a essa estrutura típica das obras de Clarice, O Lustre narra a vida de Virgínia, uma protagonista mórbida, para quem a morte se anuncia desde a infância.
Vencedora do prêmio Jabuti em 1961, essa coletânea de contos retrata pessoas comuns que vivem situações de epifania em seus cotidianos. Alguns dentre os 13 contos que compõem a obra já haviam sido publicados na imprensa, mas o conjunto das narrativas breves é que faz com que Clarice saia do terreno da ficção e adentre também o terreno da filosofia.
O início da década de 1960 marca um ponto culminante na obra de Lispector, com dois de seus romances mais maduros e mais preocupados com o tom existencialista. A Maçã no Escuro narra a história de Martim, que busca uma nova existência, refutando os valores defendidos por ele até então, após fugir da cena do assassinato de sua mulher.
G.H. é uma dona de casa, mãe e mulher de classe média que demite sua empregada e decide organizar o quarto onde a funcionária morava. Embora o cômodo esteja limpo, ela se depara com uma barata e aí surge uma das mais icônicas cenas da literatura brasileira. A Paixão Segundo G.H. pode ter uma trama banal na superfície, mas esconde muitas camadas sobre a questão da individualidade por baixo desse enredo.
Nesta obra, Clarice narra a história de amor entre Loreley (ou Lóri), filha de uma família abastada que sai do interior para viver no Rio de Janeiro, e Ulisses, professor de filosofia em uma Universidade. Eles se conhecem por acaso e dão início a uma relação pouco usual, mas de muita entrega. Do ponto de vista formal, a obra inova bastante na linguagem, tanto que começa com vírgula e termina com dois pontos.
Talvez um dos mais indefiníveis livros de Clarice Lispector, Água Viva não é (exatamente) um romance, nem uma coletânea de contos, tampouco uma obra de poemas ou de textos de não ficção. Elaborado a partir de crônicas publicadas na imprensa, o livro radicaliza a experiência de escrita da autora, tornando-se híbrido e sem um tema definido.
Nessa obra escrita por encomenda, Clarice Lispector antecipa o percurso de outra escritora fundamental, Hilda Hilst, ao romper as barreiras entre alta literatura e entretenimento, entre filosofia e sensualidade. Na obra de tom erótico, Lispector presta também homenagens formais a autores que desafiaram a moral (e o moralismo) por meio de sua escrita, como Nelson Rodrigues.
Último livro publicado em vida pela escritora e sua obra mais acessível, A Hora da Estrela pode ser lido em muitos níveis, o que o tornou tão popular a despeito do subtexto erudito. O livro narra a história de Macabéa, uma simples retirante que leva uma vida banal, mas descobre ser vítima de tuberculose. Ela tenta saber mais sobre seu futuro em uma cartomante, mas as previsões acabam não se concretizando.
Paralelamente à atividade de escritora, Clarice Lispector foi jornalista e publicou muitos textos na imprensa. A Descoberta do Mundo reúne crônicas escritas para o Jornal do Brasil de 1967 a 1973 sobre temas dos mais variados, de comentários sobre o noticiário até suas angústias e questões mais filosóficas.
HÁ 40 ANOS, JOHN LENNON ERA ASSASSINADO
Nova York, 8 de dezembro de 1980, pouco antes das 23h00. John Lennon e sua mulher, Yoko Ono, voltavam para casa após uma sessão de gravação, quando um homem aparece na frente do prédio e atira no músico cinco vezes.
Gravemente ferido, Lennon é levado às pressas para um hospital no banco de trás de um carro da polícia. Mas ele havia perdido muito sangue e "não tinha chances de sobreviver", explicou um médico.
"O ex-Beatle John Lennon foi assassinado na segunda-feira em frente à sua casa em Nova York": o primeiro despacho daquela noite deu início a uma ampla cobertura da AFP sobre o trágico assassinato de um artista cuja popularidade era planetária.
O assassino, preso no local do crime, se chama Mark Chapman, tem 25 anos e diz que não resistiu às "vozes" que o levaram a matar Lennon.
Horas antes de passar ao ato, Chapman havia se juntado a outros fãs na frente da casa do cantor, que autografou para ele uma cópia de Double Fantasy, seu novo disco.
Aos 40 anos, o músico britânico voltava à ribalta após vários anos de silêncio. Mas ninguém o havia esquecido, mesmo 10 anos após o fim dos Beatles, conforme os arquivos da AFP revelam sobre as homenagens prestadas.
É uma "grande tragédia", afirmou o então presidente eleito dos Estados Unidos, Ronald Reagan, logo após o anúncio da morte do músico, enquanto milhares de pessoas se reuniam próximo ao Central Park, em frente ao prestigioso Dakota Building onde residia Lennon com Yoko Ono e seu filho Sean.
Apesar dos anos de silêncio, John Lennon - que causou escândalo anos antes ao comparar a popularidade dos Beatles com a de Jesus - recebeu homenagens massivas.
Em 14 de dezembro, entre 100.000 e 200.000 pessoas enfrentaram o frio no Central Park, a dois passos da cena do crime, para prestar homenagem ao artista.
Em Miami, Los Angeles, Chicago, Seattle ou Boston, dezenas de milhares de admiradores se reuniram "em parques, praças, estacionamentos ou no anfiteatro natural de Red Rocks, nas Montanhas Rochosas, onde os Beatles deram um show em 1964".
Centenas de rádios americanas transmitiram incessantemente a música dos Beatles durante um dia inteiro e observaram os dez minutos de silêncio desejados pela viúva do músico.
"É preciso voltar à trágica morte de John Kennedy ou do pastor Martin Luther King na década de 1960 para encontrar tamanha comoção com a morte de uma personalidade", disse a AFP naquele dia.
No Reino Unido, o impacto foi enorme. Em Liverpool, cidade natal do músico pacifista, "cerca de 20.000 pessoas cantaram juntas Give Peace a Chance" ao final de um concerto organizado em sua homenagem em 14 de dezembro.
Como nos dias da Beatlemania, os fãs choravam e desmaiavam. "John Lennon não está morto. Enquanto sua música viver, ele não morrerá", disse o ex-empresário do grupo, diante da multidão enlutada.
As homenagens chegaram a Moscou, onde a polícia teve que intervir para dispersar centenas de jovens reunidos perto da universidade, carregando retratos de Lennon.
A União Soviética não ficou de fora do fenômeno dos Beatles, o grupo pop do século, cujos álbuns importados eram vendidos no mercado negro.
Décadas após sua morte, algumas das relíquias de John Lennon ainda estão sendo vendidas a preços elevados em leilões.
O piano com o qual compôs Imagine foi vendido em 2000 em Londres por 2,45 milhões de euros (2,95 milhões de dólares) e uma de suas guitarras por mais de 2 milhões de dólares (1,66 milhões de euros) nos Estados Unidos em 2015.
Alguns nostálgicos também não hesitaram em pagar 137.500 libras (152.000 euros, US$ 182.000) por um par de seus famosos óculos de sol redondos e até US$ 35.000 no Texas em 2016 por uma mecha de seu cabelo.
07 de dezembro de 2020 | 08h03
BRASÍLIA - No meio do caminho havia uma Constituição. Na última sexta-feira, 4, longe dos olhos da opinião pública, o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento que discutia a possibilidade de os atuais presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disputarem a recondução ao cargo nas eleições da cúpula do Congresso marcadas para fevereiro de 2021. A análise da controvérsia ocorreu não nas transmissões ao vivo da TV Justiça, mas no plenário virtual, uma plataforma que permite a análise de casos na surdina, sem maiores debates entre os magistrados - e sem a transparência das tradicionais sessões plenárias. Integrantes da Corte apontavam que a tendência pró-reeleição seria maior com o julgamento na plataforma online, que poderia blindar o Supremo da enxovalhada de críticas e da pressão da opinião pública. Não foi o que ocorreu.
Tão logo começou a sessão virtual, em plena madrugada de sexta-feira, o sistema do STF já contabilizava três votos que abriam caminhos para a reeleição de Alcolumbre - e dois para a de Maia, devido à divergência pontual de Nunes Marques, que destoou parcialmente de Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Indicado por Jair Bolsonaro para o tribunal, Nunes Marques optou por um voto intermediário: a favor de Alcolumbre e contra Maia, atendendo aos interesses do Palácio do Planalto, que deseja ver na chefia da Câmara um dos líderes do Centrão, o deputado Arthur Lira (PP-AL).
Era uma tentativa de criar, logo no início do julgamento, uma "onda" pró-recondução, que foi acompanhada com entusiasmo por Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski. Em menos de doze horas do início da sessão virtual - prevista para acabar apenas no dia 14 de dezembro (segunda-feira da próxima semana) -, o Supremo tinha cinco ministros a favor, em linhas gerais, à tese da reeleição. O movimento era incomum: tradicionalmente, os julgamentos do plenário virtual começam a ficar mais movimentados perto do prazo final, e não já no início.
Depois do barulho provocado pelo grupo pró-reeleição, seguiram-se os votos da ala contrária: Marco Aurélio Mello, Cármen Lúcia e Rosa Weber, todos já dados como certo no grupo dos opositores à recondução de Maia e Alcolumbre. A expectativa - até mesmo de aliados de Arthur Lira, que tentaram sem sucesso tirar o julgamento do plenário virtual - era a de que o relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, acompanharia esse grupo, o que se confirmou.
O placar final foi definido pelas posições de Luís Roberto Barroso e do presidente do STF, Luiz Fux - este, o último a votar, depois que todos os colegas já haviam se manifestado. Segundo o Estadão apurou, ao longo de um domingo chuvoso em Brasília, o presidente do STF e seus colegas Barroso e Fachin - expoentes da ala pró-Lava Jato da Corte - passaram o domingo em sucessivas conversas reservadas entre si.
Antes do início do julgamento, Fux era dado como um voto certo a favor da tese da recondução, mas acabou se alinhando a Fachin e a Barroso, se livrando não apenas do risco de ficar isolado dos colegas, mas também de carregar o ônus de permitir um "duplo twist carpado" na Constituição.
Interlocutores dos ministros admitem reservadamente que pesou no placar final a série de críticas despejadas sobre o STF ao longo dos últimos dias. O ex-presidente do STF Nelson Jobim, por exemplo, disse ao Estadão estar "perplexo" com a discussão. Também proliferaram reprovações na classe política, no meio acadêmico - e, convém ressaltar, dentro do próprio STF.
O duro recado foi dado pelos próprios ministros que rejeitavam a tese da reeleição. No plenário virtual, os magistrados não são obrigados a divulgar os votos. Muitos apenas se limitam, com apenas um clique, a acompanhar ou não o relator. Da ala pró-reeleição, por exemplo, apenas Gilmar Mendes e Nunes Marques divulgaram votos. Lewandowski, Moraes e Toffoli apenas "acompanharam o relator" e pronto.
Do outro lado, todos os ministros que se colocaram contra a recondução de Maia e Alcolumbre fizeram questão de marcar posição, divulgar a íntegra de seus votos -- e enviar contundentes recados à sociedade brasileira em defesa da Constituição.
Disse Marco Aurélio, ao abrir o entendimento que minou o caminho de Maia e Alcolumbre: "A tese não é, para certos segmentos, agradável, mas não ocupo, ou melhor, ninguém ocupa, neste tribunal, cadeira voltada a relações públicas. A reeleição, em si, está em moda, mas não se pode colocar em plano secundário o artigo 57 da Constituição".
"No caso examinado, não há sequer duas opções. Não há alguma", endossou Cármen Lúcia.
Em um voto incisivo, duríssimo, a ministra Rosa Weber afirmou com voz, ou melhor, texto eloquente: "A deslealdade ao texto constitucional caracteriza preocupante ofensa ao pacto da sociedade brasileira em torno do propósito de conferir força ativa aos compromissos assumidos no plano constitucional. Este Supremo Tribunal Federal, no exercício de sua missão de garantir a intangibilidade da Constituição, enquanto seu guardião por força de expresso texto constitucional, não pode legitimar comportamentos transgressores da própria integridade do ordenamento constitucional".
Coube, portanto, a Marco Aurélio e às duas únicas mulheres que compõem a Corte - Rosa Weber e Cármen Lúcia - lembrar aos colegas que havia uma Constituição a ser respeitada no meio do caminho.
06 de dezembro de 2020 | 05h04
Seguindo a fase de reprises na televisão, vai ao ar neste domingo, 6, na tela da Globo após o Esporte Espetacular, o episódio O Álbum de Natal da Grande Família, que integrou a oitava temporada da série. A atração vai dar início à programação de fim de ano da emissora.
Escrito por Mariana Mesquita, Max Mallmann, Marcelo Gonçalves e Bernardo Guilherme e dirigido por Maurício Farias, o episódio puxa pela emoção, ao mostrar dona Nenê (Marieta Severo) toda animada com os preparativos para o Natal. Mais que isso, será também a comemoração de um ano do seu neto, Floriano. Mas tem muita coisa no meio do caminho, justo na véspera de Natal. Parece que ela não está tendo êxito em seus preparativos. Primeiro, Lineu (Marco Nanini) está com muito trabalho na pet shop, o que o tem levado a passar do horário de saída, e talvez ele não consiga chegar a tempo da ceia.
Para complicar mais, Tuco (Lucio Mauro Filho) tem sérias intenções de ficar com a família de sua noiva, Gina (Natalia Lage). Mas o pior de tudo é que Bebel (Guta Stresser) e Agostinho (Pedro Cardoso) estão preparando uma festinha de aniversário para o filho, contrariando tudo o que pediu a matriarca. Transtornada, Nenê decide preparar o jantar da forma como pensou e, caso ninguém apareça, vai para a casa de uma prima.
“Lembro muito desse episódio, até do momento de escolher a blusa amarela que a Bebel usa. As gravações eram divertidas, a gente brincava muito, tinha espaço para o improviso”, conta Guta Stresser, que afirma ter sido um momento de muita emoção, pois mostrava a família dividida justo na época de Natal. Mostrava os filhos com as próprias famílias, e os pais querendo todos juntos. “Foi um momento de disputa por protagonismo de Natal, também por marcar o nascimento do Floriano, que é o primeiro neto da família e vem homenagear o avô, nosso querido Seu Flor, vivido pelo inesquecível Rogério Cardoso”, constata a atriz. E isso ocorreu porque a avó e a mãe da criança disputavam essa comemoração. “Mesmo com todas as diferenças que existem, o Natal mostra que nada impede que eles se amem.”
No entanto, esse episódio foi em um outro momento, então, como seria um Natal da Grande Família hoje com a pandemia? Para Guta, a família Silva estaria vivendo como tantas outras pelo Brasil. “Acredito que a família estaria mais unida do que nunca, mesmo que não estivesse unida fisicamente, acredito que todos teriam preocupação em proteger Lineu e Nenê”, diz.
Já Lucio Mauro tem certeza que haveria um embate entre a ciência (Lineu) e o negacionismo (Agostinho). “O Tuco provavelmente ouviria todos os conselhos do pai, mas teria dificuldade em colocá-los em prática. E dona Nenê seria uma vítima em potencial, já que não consegue deixar de fazer tudo pela família, inclusive arriscar-se. Já Bebel, colocaria o marido em quarentena na primeira vacilada que o malandro desse”, se diverte o ator imaginando a situação. Diz ainda que seu personagem não agiria diferente do que fez sempre, querendo mesmo é saber que presente ganharia. “Como eterno desempregado, ele teria que usar sua criatividade para conseguir presentear.”
Guta finaliza dizendo que a exibição desse episódio será um alento para quem está em casa, “vivendo este momento tão triste”. Essa família, diz a atriz, representa várias famílias brasileiras, que se identificam com um pai como o Lineu e uma mãe com a Nenê, a filha protegida e o filho que não consegue sair de casa. “Sem dúvida, o especial de Natal vai trazer muitas alegrias para os lares brasileiros como sempre levou ao longo dos 14 anos que a série esteve no ar.”
05 de dezembro de 2020 | 05h00
A escritora americana Regina Porter abre um sorriso quando observa a capa da tradução brasileira de seu livro Os Viajantes (Companhia das Letras). “Ficou linda e muito apropriada ao texto”, diz ela, que conversa com a reportagem do Estadão por Zoom. Regina é um dos destaques da 18ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que, neste ano, é totalmente virtual – ela conversa com o brasileiro Jeferson Tenório, autor de um dos melhores romances de 2020, O Avesso da Pele, a partir das 16 h deste domingo, 6. Para assistir gratuitamente, basta acessar o canal da Flip no YouTube.
Os Viajantes é sua estreia na ficção, depois de uma bem sucedida passagem pela dramaturgia. Trata-se de uma narrativa de fôlego, que acompanha a trajetória de duas famílias, uma branca e outra negra, desde a luta pelos direitos civis da década de 1950 até os dias iniciais do primeiro mandato de Barack Obama como presidente americano, em 2005. Um relato sobre traumas não cicatrizados, costurados por uma prosa que não respeita uma ordem cronológica, oportunidade para Regina transitar entre gêneros literários e o teatro, cuja presença mais marcante está em um livro com o texto da peça Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos, de Tom Stoppard, que é carregado pelo resto da vida por um personagem, Eddie, que repete incansavelmente seus versos e cuja filha, Claudia, se torna em uma especialista da obra de Shakespeare.
Não há coincidências na trajetória dos personagens de Regina Porter, que ilustra com fotografias os breves relatos, uma alusão ao escritor alemão W. G. Sebald (1944-2001), cujas histórias se entrecruzam em relatos situados na fronteira entre ficção e memórias. Com uma voz suave, pausada, e uma forma de olhar diretamente para seu interlocutor (mesmo que por meio de uma câmera), Regina conversou com o Estadão.
Histórias de viagens e viajantes são sempre inspiradoras – Londres, por exemplo, ajudou a moldar o caráter de Claudia, uma acadêmica de Shakespeare. Que outros locais inspiraram os personagens de Os Viajantes?
Confesso que não cheguei a pensar nisso, pois o que me interessa mais é conhecer pessoas e, quem sabe, seus familiares. E isso é importante para mim, pois me interesso pelas histórias de pessoas mais velhas, especialmente aquelas que revelam a alma dessas pessoas. Eu me sinto obrigada a homenageá-las e evitar que suas histórias permaneçam nas sombras. Mas, para não fugir da sua pergunta, eu me lembro de uma viagem que fiz a Portugal e, além de Lisboa e Évora, me encantei com Sintra, então uma vila que encantou o poeta inglês Lord Byron no século 19. Gostaria de lembrar também de Savannah e Nova York, cidades que considero meus lares, e é importante mencionar, como já disse antes, que existem diversas maneiras de se viajar e não apenas pelo sentido que conhecemos, de deslocamentos: viajamos pelos relacionamentos, nascimentos, funerais, pelos nossos casamentos e, claro, nossas férias.
O interessante em seu romance são as boas histórias envolvendo pessoas que habitualmente não são vistas nas páginas escritas. Como é possível ver a individualidade dentro da diversidade?
Creio que o importante é ter atenção para pessoas com qualidades, digamos, universais mas que são particulares também. Quando escrevo, busco conhecer com detalhes o mundo que rodeia meus personagens. Por isso que gosto de conversar com os mais velhos, de questioná-los sobre suas verdades. Há muitas histórias de pretos que não foram contadas ainda. Você não imagina a riqueza oferecida por pessoas que nem frequentaram a escola. Passei muito tempo com pessoas mais velhas quando criança. Conversei muito com eles e também com minha mãe. A pesquisa emocional chega lá.
O romance se situa entre a década de 1950 e o primeiro mandato de Obama como presidente. Por que esse período?
Eu buscava personagens distintos e não me preocupei, em um primeiro momento, em quantas décadas o romance abarcaria. Cada personagem nasceu devagar, um atrás do outro, o que me fez pensar em seus interesses, no mundo ao seu redor, os seus momentos. Eu escrevia suas histórias, que nem sempre se desenrolavam cronologicamente, pois preciso visualizar esse personagem e ouvir sua voz. Só depois é que crio a história que vai informar sobre suas vidas. É por isso que a música é importante para mim, pois as canções marcam um tempo – algumas até forçaram a mudar meu olhar para o ponto de vista de um personagem. A música é, de certa forma, mais política que a ficção, pois tem menos tempo para narrar uma história e ser eficiente. Exemplo? Cito What's Going On, de Marvin Gaye.
Um de seus mais recentes romances, 'Daily Cleanse', se passa em Nova York no auge da pandemia do coronavírus. Como esse fato mexeu com sua imaginação?
Como fiquei em casa, eu não conseguia parar de escrever. E, nas raras vezes em que saí de casa, só vi negros e latinos trabalhando, se arriscando. Uma experiência difícil de esquecer.
04 de dezembro de 2020 | 08h00
Como não poderia deixar de ser diferente, a programação natalina na cidade também passará por adaptações em função da pandemia de covid-19. Os organizadores investiram em tecnologia e atrações alternativas para garantir que o clima natalino se espalhe por São Paulo de maneira segura.
Uma das principais novidades dessa temporada é o Lummina Fest, um circuito temático de 1 Km montado dentro do Expo Center Norte, na zona norte da capital, para ser percorrido de carro que começa nesta sexta-feira, dia 4. A área dos quatro pavilhões – que passaram boa parte do ano ociosos por conta do cancelamento das feiras de negócios – o público poderá ver portais e mais de 200 esculturas, feitas mecanicamente ou por escultores, repletos de luzinhas. O local também abriga um food park.
O Lummina Fest é dividido em três partes, com elementos do lado direito e esquerdo, para que todos os ocupantes do carro – que podem levar até quatro pessoas – possam observar as cenas do percurso. A primeira estação retrata o mundo animal, como peixes, baleias, leões, macacos, elefantes, jacarés, pinguins e uma árvore baobá feita com restos de madeira usada no evento. A fase seguinte é a Lúdica, com fadas, princesas e bruxas que estarão “voando” pelo espaço. As fadas mostram o caminho para a Lapônia, onde, segunda a lenda, mora o Papai Noel, com tubos de leads que iluminam iglus e ursos polares. Por fim, o espaço do Natal traz trenós, henas, bolas e o protagonista da festa. A trilha sonora foi criada pelo DJ Fernando Figueiredo para cada passagem.
“O evento foi elaborado para emocionar. Queremos resgatar o sentimento de Natal que há alguns anos imperava nas ruas da cidade e que, ao longo do tempo, foi se perdendo”, diz Rizzo, que revela que fechou contrato com o Complexo Center por três anos – o investimento dessa primeira temporada foi de R$ 10 milhões -, inclusive para adaptar o modelo para outros temas ao longo do próximo ano.
Do outro lado da cidade, no Complexo do Ginásio do Ibirapuera, a Vila do Natal Big, aberta em 20 de novembro, tem um circuito de 6 mil metros quadrados de cenários temáticos multimídias e tecnológicos que tem acesso híbrido – ou seja, pode ser feito a pé ou de carro. A Vila do Natal é produzida pela Road Tour Experiencia, a mesma da exposição interativa Vianova e os Viajantes do Espaço, que ocupou o mesmo Ginásio do Ibirapuera entre os meses de outubro e novembro.
Crianças e adultos, em dia e horário escolhidos na hora da compra do ingresso – por conta da regressão da cidade para a fase amarela do Plano São Paulo, o passeio a pé foi limitado a 40% da ocupação permitida - são guiados de forma interativa por 6 diferentes estações. O trajeto tem duração de 40 minutos.
Outro evento semelhante ao Lummina Fest e a Vila do Natal, batizado de Expresso Natal, ocorreria no Allianz Parque a partir de sábado, dia 5, com uma mistura de roteiro temático com shows de artistas como Claudia Leitte, Elba Ramalho, Padre Fábio de Mello e Péricles – esse último anunciou no dia 1º de dezembro que testou positivo para a covid-19 -, porém, na última quarta-feira, dia 2, a assessoria do evento divulgou o cancelamento das atrações.
Segundo o comunicado, isso ocorreu devido ao recuo da cidade para a fase amarela do Plano São Paulo. “(...) entendemos que cancelar o evento neste ano pode auxiliar na diminuição de casos de covid-19 e nos possibilita retornar com mais brevidade às atividades da arena com toda segurança necessária para muitos eventos que virão em 2021", diz parte do texto.
No Parque Ibirapuera, uma das principais mudanças é a que a tradicional árvore de Natal que ficava em frente ao parque – ela, em conjunto com as outras atividades natalinas do local, atraía 100 mil visitantes por noite – não será montada por lá este ano (leia mais abaixo).
As lâmpadas natalinas que enfeitavam as árvores no entorno do parque também não serão instaladas – o novo Plano Diretor do Ibirapuera não permite que luzes em árvores naturais, para evitar prejuízos ambientes como a reprodução das aves, por exemplo. Por isso, o acender das luzes, uma das horas mais esperadas pelo público, não ocorrerá como antes.
“Para evitarmos aglomerações, transformamos o Natal do Ibirapuera não em um evento, mas sim em uma comemoração”, diz Samuel Lloyd, diretor da Urbia, empresa privada que desde outubro administra o parque. “Mas, no ano que vem, com tudo normalizado, a tradicional árvore gigante volta para lá”, garante.
Para que a festa no Ibirapuera seja menos aglomerada e mais fluída, os visitantes poderão percorrer 3 diferentes áreas ao redor do lago onde serão instaladas árvores de Natal com 18 metros de altura e outros enfeites no Natal no Ibirapuera – Uma Aventura Encantada. Nesses pontos, eles poderão acessar um QR code que trará uma programação interativa. As fotos estarão liberadas.
Personagens da flora e da fauna do parque também estão presentes, como o sapo-cururu, abelhas e borboletas – tudo feito de materiais reaproveitáveis ou que serão reutilizados após o evento. “Todas as ações deste ano evolvem sustentabilidade e queremos envolver as pessoas nelas. Além disso, com os enfeites na área interna, ficará o convite para que elas entrem no parque e não fiquem apenas na calçada estreita ao redor do lago”, diz Lloyd.
No entanto, até 6 de janeiro, a partir das 19h30, o balé das fontes luminosas, com músicas natalinas, estará em funcionamento.
Com as mudanças do Ibirapuera, a árvore de Natal gigante será instalada em um ponto próximo à Ponte Estaiada, na Marginal Pinheiros. A estrutura terá 46 metros de altura, 17,65 m de diâmetro, projeção 360° em alta resolução e estrela em movimento no topo. O público não terá acesso ao local onde o enfeite ficará, porém, segundo os organizadores, as luzes do laser poderão ser vistas até 10 km de distância. Por meio de um app e da realidade aumentada será possível reproduzir a árvore na sala de casa, por exemplo.
A inauguração ocorrerá sábado, dia 5, às 19h30, com um show das cantoras Lellê e Luiza Sonsa que interpretarão músicas natalinas- tudo com transmissão nas redes socias da Coca-Cola, empresa patrocinadora do evento, que tem apoio da Prefeitura de São Paulo. A empresa de bebidas promoverá ainda as tradicionais caravanas iluminadas, quando carretas com o logo da empresa e luzes natalinas percorrem a cidade. Este ano, por serem do grupo de risco, Papai e Mamãe Noel não participarão do cortejo.
Para quem prefere um programa mais calmo, o grupo Trovadores Urbanos se transformará em Trovadores Noéis. Durante três sextas-feiras, em quatro horários diferentes, eles vão aparecer na sacada de sua sede, no bairro de Perdizes, para cantar temas natalinos. A apresentação poderá ser acompanhada da calçada e os organizadores orientam que os ouvintes evitem a aglomeração.
O Teatro Alfa não deixará de apresentar seu tradicional espetáculo natalino, mas o fará de maneira diferente. A 37ª edição do O Quebra Nozes não será executado por completo pela Cisne Negro Cia. de Dança, mas apenas em seu 2º ato, seguido da obra Cânticos Místicos - sem intervalo. Com a direção artística de Hulda Bittencourt e Dany Bittencourt, a atração terá três apresentações – 18, 19 e 20 de dezembro – de forma presencial, com 315 lugares. No último dia, haverá uma apresentação online.
O Natal Mágico, que chega a sua sétima edição na casa de shows Tom Brasil, une o tema natalino ao de super-heróis em um espetáculo com telões de LED cenário giratório, projeções em 3D, técnicas de ilusionismo, chuva, neve entre outros recursos para contar a história do Papai Noel que sai da Lapônia para presentear uma família no Brasil.
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Turismo, promoverá a 3ª edição do Festival de Natal que este ano terá como tema Um Sonho de Cidade. Serão dezenas de atrações, todas online, que incluem apresentações artísticas e dicas gastronômicas que serão transmitidas direto de pontos históricos da cidade, como o Teatro Municipal e Mercado Municipal.
Na programação, no dia 16 de dezembro, às 20h, a atriz Letícia Sabatella e o cantor Lirinha fazem uma homenagem aos 100 anos do escritor João Cabral de Melo Neto, direto da Oficia Cultural Mário de Andrade. No dia 18, no mesmo horário, a cantora Alice Caymmi fará um show no terraço do Shopping Light, na região do Vale do Anhangabaú.
Apesar da época de festas, é sempre bom lembrar as recomendações dos médicos: use máscara, mantenha distância segura e lave sempre bem as mãos.
Lummina Fest
De 4 a 27 de dezembro, das 10h às 22h; 2ª a 4ª, R$110; 5ª e 6ª, R$ 190; Sáb. e dom. e 24 e 25/12, R$ 240 (por veículo)
Expo Center Norte: Rua Galatea – Portão 03, Vila Guilherme
Ingressos: www. sympla.com.br
Vila do Natal
4ª a 6ª feira, das 15 às 21h; Sáb. e dom., das 9 às 21h.
Ingressos: 4ª, R$ 240,00 (preço único por veículo com até 4 ocupantes); 5ª a domingo, R$ 140,00 (inteira – ingresso individual)
4ª e 5ª, de carro; 6ª a dom., a pé. Até 20 de dezembro
Complexo do Ginásio do Ibirapuera: Av. Mal. Estênio Albuquerque Lima, 251 (portão 12)
Ingressos: sympla.com.br
Natal no Parque Ibirapuera – Uma Aventura Encantada
De 4 de dezembro a 6 de janeiro, a partir das 19h30
Parque Ibirapuera: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Vila Mariana
Grátis
Árvore de Natal - Ponte Estaiada
Inauguração 5 de dezembro
19h30
Trovadores Noéis
4, 11 E 18 de dezembro. Horários: 20h / 20h30 / 21h / 21h30
Grátis
Rua Aimberê, 651, Perdizes
II Ato de O Quebra-Nozes e Cânticos Místicos
18, 19 e 20 de dezembro; 6ª, 20h; sáb., 19h; dom., 18h; R$ 100
Live, 20/12, R$ 40
Teatro Alfa: R. Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro
Ingressos: www.sympla.com.br
Natal Mágico
13 e 20 de dezembro, 16h
R$ 180/R$ 280
Tom Brasil: R. Bragança Paulista, 1.281, Chácara Santo Antônio
Ingressos: www.eventim.com.br
Programação Festival da Natal – Prefeitura de São Paulo
Confira as atrações programadas: www.facebook.com/turismoprefsp
03 de dezembro de 2020 | 07h58
O humorista Luiz Carlos Ribeiro, mais conhecido pelo nome artístico Rodela, morreu nesta quarta-feira, 2, em São Paulo, vítima do novo coronavírus. Ele estava internado há duas semanas no Hospital Geral de Guarulhos. Aos 66 anos, Rodela era um dos integrantes do programa do Ratinho, no SBT.
Rodela era conhecido pela proeza de fazer inúmeras caretas e conquistou os fãs ao participar de diversos programas de auditório no SBT. Ele apareceu pela primeira vez na televisão em 1992. Cinco anos depois, ele foi um dos destaques no programa Ratinho Livre, ainda na Record TV. Rodela transitava entre as duas emissoras. Havia feito participações em A Praça é Nossa e no Show do Tom.
"Que triste a perda desse artista excêntrico e talentoso. Rodela foi nosso parceiro de palco e fez muita gente rir. Meus sentimentos a família. Vai deixar saudades", escreveu Ratinho no perfil oficial dele no Instagram. No final de outubro, o apresentador também teve diagnóstico positivo para covid-19, mas conseguiu se recuperar.
A assessoria de imprensa do SBT confirmou a morte do ator e lamentou: "É com pesar que o SBT lamenta o falecimento do humorista Luiz Carlos Ribeiro, mais conhecido como Rodela, nesta quarta-feira, 2 de dezembro. Nesta terça-feira, 1, foi confirmado seu diagnóstico para covid-19. O SBT presta solidariedade e deseja que Deus conforte sua família".
Eliana Silva de Souza
02 de dezembro de 2020 | 10h51
Viver no passado não é a melhor forma de levar a vida, mas ativar a memória para lembrar coisas boas que foram vistas e nos remetem a momentos agradáveis é das melhores coisas. Dando uma olhadela nas redes sociais, dá para perceber quanto as pessoas têm carinho por produções antigas, por suas histórias ou pelos personagens marcantes. Internet e streaming são boas alternativas para recordar algumas dessas atrações antigas. Vasculhando o catálogo da recém-chegada Disney+, foi uma grata surpresa encontrar preciosidades do estúdio. Entre tantas, há o filme O Signo do Zorro.
Matt Dillon é o protagonista do curta-metragem ‘Nimic’, que estreia na Mubi
Datado de 1960, em preto e branco, e com direção de Lewis R. Foster e Norman Foster, o filme é uma junção de alguns episódios do seriado de TV, que fez a alegria do público com esse herói mascarado, que não temia seus rivais e lutava para libertar seu povo. Personagem criado por Johnston McCulley, Zorro teve várias versões, mas esta do seriado em questão é a mais lembrada. Difícil não se divertir com as histórias desse herói de vida dupla. Ele é Don Diego (Guy Williams), em momentos corriqueiros, mas se transforma no Zorro, montado em seu cavalo e com Bernardo (Gene Sheldon), seu fiel escudeiro, ao seu lado. E como não lembrar do atrapalhado Sargento Garcia (Henry Calvin).
01 de dezembro de 2020 | 10h04
O Prêmio São Paulo de Literatura revelou os finalistas de sua 13ª edição nesta terça-feira, 1º. São 10 finalistas na categoria melhor romance de ficção e 10 na categoria melhor romance de ficção de autor estreante. Os dois vencedores ganham R$ 200 mil cada um.
Ao todo, o prêmio, promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, recebeu 200 inscritos. Estão na disputa autores de nove estados brasileiros: São Paulo (7), Rio de Janeiro (4), Rio Grande do Sul (2), Amazonas (1), Bahia (1), Ceará (1), Espiríto Santo (1), Mato Grosso (1) e Santa Catarina (1), além de uma finalista uruguaia radicada no Brasil, Gabriela Aguerre.
Maria Valéria Rezende, Milton Hatoum, Julián Fuks, Milton Hatoum, João Anzanello Carrascoza e Carol Rodrigues estão entre os concorrentes.
A previsão é que o anúncio dos vencedores ocorra em março de 2021.
30 de novembro de 2020 | 05h00
A certidão de nascimento saiu em setembro de 2019, quando o ateliê do artista e escritor Francisco Brennand foi oficialmente transformado em um instituto cultural sem fins lucrativos. Com isso, o gigantesco espaço de 15 km² de área construída, localizado no bairro da Várzea, no Recife, tornou-se uma entidade com o objetivo de preservar a obra do artista e de se tornar um polo cultural da região.
“Foi um gesto nobre de Brennand, pois o espaço, durante 30 anos, foi voltado para a sua criação artística e nunca houve uma gestão voltada para o público”, comenta Marianna Brennand, sobrinha-neta do artista, nomeada presidente do Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand. “Ele sempre se preocupou com a preservação de sua obra, mas desejava também que a Oficina pudesse sediar outros programas culturais tanto da cena artística pernambucana quanto brasileira.”
Brennand morreu em dezembro de 2019, aos 92 anos, deixando um acervo monumental, tanto na quantidade como na qualidade: cerca de 3 mil obras, entre pinturas e esculturas de cerâmicas, ocupam o espaço. Com o instituto, mais pessoas poderão conhecer a oficina, cujos trabalhos surpreendem qualquer visitante. Inicialmente, ali era uma antiga fábrica de telhas e tijolos fundada pelo pai do artista plástico, Ricardo de Almeida Brennand, em 1917. Desativada nos anos 1960, a área foi remodelada e, em 1971, nasceu a Oficina Cerâmica Francisco Brennand.
“No final da vida, ele não queria que a Oficina se transformasse em um museu restrito às suas obras, daí o nascimento do Instituto, que Francisco pôde ver nascer ainda em vida”, explica Marianna, uma das grandes conhecedoras e fomentadoras da obra do tio-avô, diretora do documentário Francisco Brennand (2012) e também idealizadora do livro O Universo de Francisco Brennand e responsável pela edição da compilação de memórias do artista, reunidas na caixa de quatro volumes intitulada Diários de Francisco Brennand.
O primeiro desafio de Marianna foi escolher profissionais que tanto entendessem e valorizassem a obra de Brennand como apresentassem propostas curatoriais de oficinas e exposições que não apenas dialogassem com aquele acervo como incentivassem novas criações. Tais requisitos foram encontrados em Lucas Pessôa, que teve uma participação decisiva no redesenho do Masp nos anos 2010, o que permitiu que o museu retomasse sua importância no âmbito nacional e mundial – ele assumiu a direção geral do Instituto, em novembro do ano passado.
Pernambucano, desde jovem Pessôa conhece a importância do trabalho de Brennand, mas, sobretudo, de sua Oficina, instalada em uma área ambiental que é protegida pela família há mais de um século, o que se torna um tesouro quando florestas e matas ardem criminosamente pelo País. “Essa é uma instituição que emerge num contexto de desmantelamento civilizatório e colapso ecológico”, comenta Pessôa. “Esse conjunto único no mundo será o ponto de partida para um programa curatorial e educativo que amplifique e potencialize esse legado, reconhecendo sua vocação pública como espaço de reflexão e fomento ao pensamento crítico, além de atuar como vetor de desenvolvimento da comunidade do entorno.”
Para compor o grupo de trabalho, foi convidada Júlia Rebouças para assumir a direção artística do Instituto. Não foi uma escolha aleatória: além de ter sido cocuradora da 32ª Bienal de São Paulo, ela integrou o grupo de curadores do Instituto Inhotim, um dos maiores museus a céu aberto do mundo, situação semelhante ao espaço que hoje abriga as obras de Brennand.
“Ele nos deixou um legado artístico de grande importância, que inclui esculturas, pinturas, gravuras, desenhos e textos, mas também a Oficina, com sua cidadela, jardins, construções preservadas, espaços de convivência e a rica presença do Rio Capibaribe e da Mata da Várzea, constituindo um espaço institucional de feições absolutamente próprias”, observa Júlia.
O grupo iniciava seu trabalho quando a pandemia provocada pelo novo coronavírus deixou cada um isolado em sua casa. “De uma certa forma, foi positivo pois pudemos elaborar melhor os projetos iniciais”, conta Marianna. Assim, durante a reclusão, uma série de projetos foi definida e todos partindo de três conceitos que se tornaram os pilares curatoriais do Instituto: Natureza, Território e Cosmologia. São características que se observam na obra de Brennand e que permitem abrir para novas práticas artísticas.
Assim, Natureza propõe a construção de pontes entre cultura e meio ambiente, Território amplia a relação entre entorno e produção artística, e Cosmologias se apoia nas diferentes cosmovisões que marcam a obra de Brennand.
Assim, o primeiro passo foi dado com lives em que eram explicadas cada eixo. Nesta terça, 1º, às 19h30, a conversa será sobre Cosmologias (os debates sobre Natureza e Território podem ser vistos no site do Instituto) – esse trabalho tem a curadoria de Catarina Duncan. Como a Oficina completa 50 anos em 2021, uma grande retrospectiva da obra de Brennand está prevista para junho. Em setembro, haverá uma mostra coletiva de artistas pernambucanas e brasileiras, que vai culminar, em dezembro, com a chegada da icônica e monumental escultura Spider (Aranha), da francesa Louise Bourgeois.
Também no segundo semestre, o Instituto deve abrigar uma exposição inédita do artista Ernesto Neto, que deve ocupar o galpão com pé direito de 14 m, onde ele, pela primeira vez, trabalhará com cerâmica, dialogando com as origens históricas do local. E, ao longo do ano, dependendo do controle da covid, estão agendadas residências artísticas e programação educativa. “Queremos que a Oficina seja um espaço público que vá muito além de um museu a céu aberto”, afirma Marianna.
29 de novembro de 2020 | 03h19
Em uma exibição de gala, Mike Tyson e Roy Jones Jr. esbanjaram categoria e técnica, neste sábado, 28, no Staples Center, em Los Angeles. Seguindo as regras da Comissão Atlética da Califórnia, os cinquentões (54 anos e 51, respectivamente) calcularam cada golpe, mas proporcionaram às mentes dos fãs do boxe um retorno aos seus anos de glórias no ringue.
Durante oito rounds, de dois minutos, os dois lendários pugilistas mostraram preparo físico privilegiado e habilidade para boas trocas de golpes. Pouquíssimos atingiram a cabeça, o corpo foi o alvo preferido. Tudo para que não houvessem cortes, que causariam, por regra, a paralisação do combate.
Carência mundial no esporte por causa da pandemia transforma Tyson x Jones no evento de 2020
Nas redes sociais, o mundo do boxe aprovou a apresentação, com elogios do mítico George Foreman. "Foi uma grande exibição. Foi ótimo para o boxe", disse o campeão mundial em 1974 e 1994. A série de elogios faz com que a "Liga das Lendas" se torne uma realidade daqui para frente e outros campeões do passado deverão voltar à atividade, para alegria dos amantes da nobre arte. "Lógico que vou voltar", disse Tyson, após a exibição. "Eu vou falar com minha família primeiro", disse Jones, bastante cansado e orgulhoso por usar luvas nas cores do Los Angeles Lakers em homenagem ao amigo Kobe Bryant, morto em janeiro.
O primeiro round mostrou um Tyson muito rápido para a idade, fazendo os saudosistas vibrarem com sua iniciativa. O Iron Man soltou jabs, saltou e golpeou forte o corpo de Jones, que tentou escapar do ataque e usou bastante os clinches.
No segundo round, Tyson seguiu melhor e até tentou dois golpes na cabeça de Jones, que não se intimidou a agarrar o rival. No soar do gongo, apontando o final do assalto, Tyson deu dois golpes na cintura e pediu desculpas.
Tyson tentou duas esquerdas fortes no terceiro assalto, mas errou. Neste round foi possível notar bem que os dois mediram a força nos golpes.
Depois de um quarto assalto muito agarrado, o quinto teve boas trocas de golpes, sem acerto na cabeça. Tyson seguiu muito rápido e Jones arriscou usar mais seu jab e agarrou menos.
No sexto, Tyson mostrou a mania de morder a luva. No sétimo, os dois imprimem velocidade nos braços, mas nenhum golpe acerta. As imagens da transmissão com as câmeras de longe dão a impressão falsa de agressividade.
O oitavo assalto foi um show, com Jones ora com a guarda de canhoto ora com ela baixa e até arriscando uma dança, enquanto Tyson seguiu no ataque até o fim.
No fim o juiz Ray Corona indicou o 'empate' na exibição. Justo. Afinal, o boxe foi o grande vencedor da noite.
27 de novembro de 2020 | 05h00
Na última vez em que Kurt Russell e Goldie Hawn estrelaram juntos um filme, o Muro de Berlim estava intacto. Mais de 30 anos se passariam desde a comédia Um Salto para a Felicidade (1987), estrelada pelo casal, até que a dupla voltasse a trabalhar junto nas telas: a primeira tentativa foi uma breve participação de Goldie no filme de Natal que Russell estrelou para a Netflix em 2018, Crônicas de Natal, e agora eles voltam com força total para a sequência, Crônicas de Natal – Parte 2 (Netflix, que estreou na quarta, 25), sob a direção de Chris Columbus.
Desta vez, a Mamãe Noel de Goldie Hawn divide os holofotes com Russell – um “Papai Noel mais atualizado, que tem até um lado sexy”, nas palavras dela – e o casal ajuda duas crianças a frustrar os planos de um vilão do Polo Norte.
Ser a cara do Natal parece um destino digno desse casal, junto há 37 anos. Depois de se conhecerem em um set de filmagens em 1966, os dois começaram a namorar em 1983 durante as filmagens de Amor em Perigo e logo formaram uma espécie de Família Dó Ré Mi de celebridades. Sem nunca terem se casado, eles criaram os atores Kate e Oliver Hudson – filhos do casamento de Goldie com Bill Hudson –, que se referem a Russell como “Pa”. O casal também teve um filho, o ator Wyatt Russell (Kurt tem outro filho, Boston Russell).
Mais recentemente, Goldie, que completou 75 anos no dia 21 de novembro, e Russell, 69 anos, têm procurado um ao outro durante a pandemia, fazendo caminhadas mascaradas por Los Angeles e filmando enérgicos vídeos domésticos para o Instagram – os destaques incluem Russell fazendo cócegas em Goldie durante um “desafio do riso” e Goldie dançando na cozinha ao som de Hey Ya, do Outkast. “Gosto de dançar com Goldie de vez em quando, mas você nem imagina o quanto acho as redes sociais enfadonhas”, afirmou Russell.
Para a nossa conversa por vídeo em outubro, os dois estavam no pátio de sua casa em Pacific Palisades. As lentes dos óculos de Russell escureceram com o sol da tarde; Goldie fez pausas para acariciar e mandar beijos para o cachorro ou para esfregar as costas de Russell na tentativa de fazê-lo mudar de assunto. Poderiam ser o vovô e a vovó que moram na sua rua, se os avós da sua rua fossem astros de Hollywood com direito a suas próprias estrelas na calçada da fama de Hollywood.
É a primeira vez que estrelam juntos um filme desde 'Um Salto para a Felicidade'. Por que tamanha demora?
Goldie Hawn: Material! É sério, o maior problema foi encontrar o material certo, que não apareceu durante todo esse tempo.
Kurt Russell: Pensei que voltaríamos a trabalhar juntos muito antes disso, mas Goldie e eu somos exigentes. E, em geral, filmes estrelados por Goldie Hawn e filmes estrelados por Kurt Russell costumam ser bem diferentes entre si.
Goldie: É verdade.
Kurt: Não existe uma regra dizendo que, quando vivemos com uma pessoa, moramos com ela e gostamos de trabalhar juntos, temos que fazer 10 ou 15 filmes em dupla.
Papai e Mamãe Noel se comunicam com os duendes falando a língua yulish, criada especificamente para esses filmes. Foi um desafio?
Kurt: Tem um sujeito que transcreve tudo foneticamente para nós, basta ler. Não fazíamos ideia do que estávamos dizendo!
Goldie: Ele diz que é uma linguagem, mas, para mim, são apenas sons.
Kurt: Não é apenas um detalhe. Nunca vou esquecer de quando vi A Paixão de Cristo. Mel Gibson descobriu algo que ninguém mais se deu conta durante todo o tempo em que produzimos filmes de guerra: quando estamos retratando algo histórico, ou mais especialmente no caso da Bíblia, se isso é feito no idioma original, o resultado ganha muito em autenticidade. Quando eu vi isso e li esse roteiro, pensei, a língua dos elfos dará um toque de autenticidade ao filme.
Como é a dinâmica de trabalho quando vocês estão juntos? Usaram o método de atuação para interpretar Papai e Mamãe Noel?
Goldie: Só encarno a Mamãe Noel quando visto o figurino. Depois da cena, deixei-o pendurado em um cabide e fomos tomar um drinque com sopa de cogumelos, só isso.
Kurt: Somos antiquados. Temos nossa rotina de trabalho, mas, quando voltamos para casa, não a deixamos dominar nossa vida.
Goldie: O mais divertido é que estávamos só nós dois no camarim fazendo a maquiagem. Estávamos sempre ao lado um do outro. E o seu maquiador sempre tinha docinhos.
O Natal parece ser uma ocasião importante no lar dos Hawn-Russell, não?
Goldie: Você nem imagina; e não é apenas o Natal. Este ano passaremos aqui, mas, normalmente, vamos a Aspen. É uma fantasia: a neve, as crianças e toda a decoração ao redor da lareira. E Kurt vestido de Papai Noel…
Kurt: Tenho que ser cuidadoso com o que digo, pois tenho netos que lerão isso.
Goldie: Ah, claro. Bem, duvido que eles leiam esta entrevista no jornal.
Kurt: Sei, sei. Depois do jantar de Natal, alguém lê Uma Visita de São Nicolau, e então acompanhamos o trajeto do Papai Noel pelo aplicativo. A partir de então, é melhor deixar tudo em ordem porque ele pode aparecer a qualquer momento.
Goldie, você foi criada em uma família judaica. Ainda observa as tradições do Chanuká?
Goldie: Na infância, acendíamos velas no Chanuká, mas acho que minha mãe parou com isso, pois um dia eu estava no telefone e esbarrei nas velas acesas. Lembra dos telefones fixos de parede? Eu me enrosquei no fio e peguei fogo. Meu roupão e minhas costas ficaram queimados. Minha mãe chegou, eles me desenrolaram, e graças a Deus fiquei bem.
Vocês viram a indústria passar por muitas mudanças. O que pensam sobre Hollywood em 2020?
Goldie: Estamos todos tentando entender o que fazer. Quero dizer, temos o exemplo da AMC, cujos recursos estão se esgotando. Quando vemos o pessoal do cinema envolvido na campanha para salvá-la… Não há nada igual. É uma tristeza pensar que possa acabar.
Dito isso, a disponibilidade de conteúdo atual é maior do que nunca e, além disso, há espaço para esse material. Há muitas pessoas talentosas. Por exemplo, a série Succession, que tem excelente atuação. Mas, vendo tudo isso, eu me pergunto se ainda existirão estrelas de cinema. Parece algo do passado, estrelas glamourosas do cinema trabalhando em filmes que mal podíamos esperar para ver. Não sei se teremos isso novamente. O que acha?
Kurt: Eu me pergunto se haverá espaço para isso. Sem o devido espaço, não há como criar estrelas de cinema. Esse aspecto cultural tem que ser favorecido.
Falando em espaço, Kurt, no passado você disse que as celebridades não deviam opinar muito na política. Ainda pensa assim?
Kurt: Totalmente. Sempre fui da opinião de que somos bobos da corte. É o que fazemos. E, para mim, devemos evitar situações em que dizemos algo marcante para que o público possa nos enxergar como qualquer personagem. Não há razão pela qual quem trabalha com entretenimento não deveria se educar e aprender como qualquer outra pessoa, seja qual for o tema. Mas o que acho lamentável é perder o status de bobo da corte. E eu sou um bobo da corte. Foi o que nasci para fazer.
Goldie: Nem sempre você consegue ser engraçado.
Kurt: O bobo da corte não é sempre engraçado. O bobo da corte é o único que pode entrar no castelo e criticar o rei, desde que não exagere na sinceridade. Me parece que essa é uma parte muito importante das culturas ao longo da história.
Goldie: Mas tivemos um presidente que era ator, Ronald Reagan.
Kurt: Como eu disse, os atores podem aprender tanto quanto qualquer pessoa.
Goldie: Bem, estou dizendo que Reagan era um ator conhecido. Me parece que esse tipo de envolvimento é uma escolha pessoal. O que eu discordo é a ideia segundo a qual o fato de termos uma plataforma significa que temos que usá-la sempre. Isso é uma escolha nossa.
O que ainda querem fazer em suas carreiras antes da aposentadoria?
Goldie: Eu não tenho nenhum sonho que eu pense em realizar atuando. Quero uma vida feliz, e já tenho isso. Quero conhecer o mundo, mas, no momento, não é possível. Se vier pela frente um filme interessante, o trabalho pode ser divertido. Caso contrário, quero estar com os meus netos.
Kurt: Ainda me divirto atuando. Não sei bem por quê. A essa altura, a diversão já devia ter acabado.
Goldie: Acho que estamos diante de uma realidade, e talvez ela não se aplique tanto a Kurt ou a tipos de homens que fazem determinados tipos de filmes. Mas, para pessoas que tiveram carreira como a minha, é preciso cair na real. O tempo que temos para fazer o que queremos é finito.
Kurt: Estou mais interessado na carreira dos meus filhos do que na minha.
Goldie: Oliver está trabalhando no piloto de uma série e, se tudo der certo, meu neto também participará. Então, se tudo der certo, eu disse: “Tem alguma mãe que visita essas pessoas de vez em quando? Alguém quer me contratar como mãe de Oliver e avó de Bodhi?”. Ou seja, estou interessada no lado divertido, e não na carreira. Sou grata pela carreira que tive. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
26 de novembro de 2020 | 19h20
Atualizado 26 de novembro de 2020 | 21h00
O Prêmio Jabuti 2020 anunciou seus vencedores na noite desta quinta-feira, 26, em cerimônia virtual apresentada pela jornalista Maju Coutinho. Veja a lista completa abaixo. Solo Para Vialejo, o livro de poemas de Cida Pedrosa, publicado pela Cepe Editora, foi escolhido como o livro do ano em 2020.
O livro Torto Arado, elogiado romance de Itamar Vieira Junior (editora Todavia), ganhou na categoria romance literário. Uma Mulher no Escuro, de Raphael Montes (Companhia das Letras), venceu o prêmio de romance de entretenimento. A Feira Literária das Periferias (Flup) venceu na categoria inovação.
Durante a cerimônia, o presidente da Câmara Brasileira do Livro, Vitor Tavares, citou o projeto Retomada das Livrarias, programa de apoio à entidade para as pequenas livrarias, e diversos livreiros gravaram mensagens de agradecimento e falando sobre a importância dos espaços. "Trabalhamos também pela defesa da não taxação", comentou, lembrando as 1 milhão de assinaturas do manifesto #defendaolivro. Veja aqui a cerimônia:
Tavares também defendeu a inclusão da nova categoria do Jabuti, a de romance de entretenimento, dizendo que o objetivo era dar voz e representatividade a autores brasileiros, e não separar literatura canônica da popular.
A homenageada deste ano do Jabuti é a poeta Adélia Prado.
O vencedor de cada categoria recebe R$ 5 mil e a estatueta, exceto na categoria livro brasileiro publicado no exterior, que leva só a estatueta em formato de jabuti. O autor do Livro do Ano ganha R$ 100 mil.
26 de novembro de 2020 | 05h00
A Orquestra Filarmônica de Minas Gerais ainda não encerrou 2020. Nesta quinta e sexta, por exemplo, faz concertos no palco da Sala Minas Gerais. São apresentações adequadas à realidade da pandemia, ou seja, com restrição de público e no número de músicos no palco; e transmissão pela internet. Mas o grupo já olha para o ano que vem. Largou na frente e tornou-se a primeira orquestra brasileira a anunciar uma temporada para 2021 - adequada ao que se imagina que será o desenvolvimento da pandemia.
A programação vai se transformar ao longo do ano, “dançando conforme a música ditada pelo coronavírus”, nas palavras do maestro Fabio Mechetti, diretor artístico e regente titular da filarmônica. No primeiro semestre, o repertório ainda aposta em obras menores, que exigem a participação de número menor de músicos. No segundo, a ambição cresce. A razão é simples: a expectativa da chegada da vacina no começo de 2021 e de uma progressiva vacinação da população.
“Planejar com antecedência tornou-se muito difícil com a pandemia”, diz o maestro. “Mas nessas horas é preciso refletir sobre o que fazer e ficar atento acima de tudo às informações disponíveis. E ficou claro para nós que, no primeiro semestre, seria preciso manter o modelo atual, ou seja, com restrições tanto na presença do público quanto na escolha de obras, que precisam ser interpretadas por no máximo quarenta, cinquenta músicos. Mas a expectativa da chegada da vacina sugere a possibilidade de mudança no quadro ao longo de 2021.”
Mudança foi a palavra de ordem para a orquestra - e para todo o meio musical - ao longo de 2020. A temporada imaginada anteriormente precisou ser refeita. Mas o grupo manteve o foco principal da programação, a homenagem aos 250 anos de Beethoven. Em agosto, voltou a realizar concertos no palco, a princípio com no máximo seis músicos. Com o tempo, foi ampliando o tamanho da orquestra, passo a passo, até chegar aos cinquenta músicos atuais. Em novembro, as portas da Sala Minas Gerais foram reabertas ao público, com atenção à lotação máxima de 40% da casa.
Foi um caminho parecido ao da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Com uma diferença importante: todos os concertos, mesmo após a reabertura da sala, foram transmitidos ao vivo pela internet; no caso da Osesp, as transmissões foram encerradas com a volta do público, mas, após críticas pela decisão, o grupo as retoma esta semana.
Em Minas Gerais, havia uma vantagem: no ano passado, a filarmônica montou um estúdio em sua sede, com câmeras que podem ser controladas remotamente, com o maestro Leandro Oliveira como diretor de transmissão. A ideia original era de que, em 2020, o sistema fosse testado e aperfeiçoado. Mas a pandemia fez dele um dos principais ativos da orquestra durante este momento, chamando atenção da crítica pela qualidade não apenas das execuções musicais como também da filmagem e da exibição. O público também gostou: as quinze transmissões ao vivo já realizadas tiveram 74 mil visualizações e alcançaram 53.478 espectadores, número que corresponde a 36 Salas Minas Gerais lotadas.
“Ficou muito claro para nós que a internet é uma ferramenta fundamental para ampliar o escopo das atividades da filarmônica. Com ela, chegamos a um público grande e que não está apenas em Belo Horizonte, o que só ajuda na consolidação do projeto e nos reforça ainda mais a importância de se investir nele”, diz Mechetti. Para 2021, já estão previstas pelo menos onze transmissões - e a expectativa é de que o número cresça ao longo da temporada.
Teremos que dançar conforme a música ditada pelo coronavírus. No primeiro semestre, vamos manter o modelo atual. Mas a expectativa da chegada da vacina sugere a possibilidade de mudança ao longo do ano.
Homenagens
A programação 2021 vai celebrar aniversários importantes, como os 125 anos de morte de Carlos Gomes e os 50 de morte de Igor Stravinski - dele, a expectativa é interpretar, no encerramento do ano, os balés Petrushka, A Sagração da Primavera e O Pássaro de Fogo, um plano antigo da direção e dos músicos da orquestra, segundo o maestro.
Entre os solistas, haverá um espaço grande para os próprios músicos da filarmônica. E também a abertura para convidados, como os pianistas Arnaldo Cohen, Benedetto Lupo, Ricardo Castro e Jean-Louis Steuermann, e para símbolos da nova geração do instrumento no Brasil, como Juliana Steinbach, Cristian Budu, Ronaldo Rolim, Leonardo Hilsdorf e Lucas Thomazinho; o violoncelista Antonio Meneses; o violonista Fábio Zanon; a mezzo-soprano Luisa Francesconi e a soprano Camila Titinger, que vai repetir seu papel na ópera Cartas Portuguesas, de João Guilherme Ripper, estreada em agosto deste ano pela Osesp na Sala São Paulo.
Na série Fora de Série, com concertos que não integram as assinaturas, Mechetti aproveitou as restrições de palco para contar a história da orquestra sinfônica. “Ela começou no barroco, com formações pequenas, e foi crescendo ao longo dos séculos. Então, faremos o mesmo trajeto nos concertos dessa série, o que vai permitir à filarmônica abordar também um repertório mais antigo, que não costuma apresentar.”
A orquestra fará venda de assinaturas, como nos anos anteriores. Ela começa com renovação de planos daqueles que já são assinantes e segue para novos públicos. Mais informações podem ser obtidas no site da filarmonica.
Um programa com concertos para piano de Beethoven será transmitido nesta quinta-feira, 26, a partir das 20h30, pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. O solista será o pianista brasileiro Eduardo Monteiro e a regência fica a cargo de Fabio Mechetti. Eles vão mostrar dois dos cinco concertos do compositor: o nº 3 e o nº 4, pilares do repertório para piano (o objetivo inicial, que precisou ser adaptado com a pandemia, era realizar as cinco obras). O programa inclui ainda as Contradanças de Beethoven. No domingo, às 11 horas, haverá nova transmissão, agora de música de câmara, com obras de Villani-Côrtes, Tournier, Dvorák e Piazzolla. As transmissões são realizadas gratuitamente e podem ser vistas no canal oficial do YouTube da Filarmônica de Minas Gerais. Também estão disponíveis outros concertos da temporada e séries de vídeos batizadas de Universo Sinfônico e Formas Musicais, com conteúdo didático sobre música clássica, além de indicações de obras feitas regularmente por Mechetti.
23 de novembro de 2020 | 14h09
Atualizado 23 de novembro de 2020 | 17h06
Duas produções brasileiras levaram categorias de destaque no Emmy Internacional, cujos prêmios foram entregues nesta segunda-feira, 23, em cerimônia transmitida ao vivo de Nova York. Órfãos da Terra, produção da Globo escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid, com direção artística de Gustavo Fernandez, ganhou o prêmio de melhor telenovela, e Ninguém Tá Olhando, a série da Netflix e da Gullane Entretenimento escrita e criada por Daniel Rezende, levou o concorrido troféu de melhor comédia.
Em conversa rápida com o Estadão, Rezende contou estar muito feliz e também surpreso. “Quando a gente cria um filme ou uma série, nunca o faz pensando num prêmio, mas sim em contar uma boa história. Aí de repente tem uma série, brasileira, da Netflix, que ganha o maior prêmio de séries do mundo… é muito inacreditável”, comentou. Para o diretor – indicado ao Oscar e vencedor do BAFTA pela montagem de Cidade de Deus (2002) – a surpresa veio por ele considerar que a Academia escolheria uma série com temas mais atuais e contemporâneos. “Achei que outras venceriam, porque os nossos temas são mais filosóficos. É um reconhecimento mundial de uma série que talvez o Brasil não tenha reconhecido, ou o que quer que seja. Nenhum de nós esperava.”
Em Ninguém Tá Olhando, Victor Lamoglia vive Ulisses, um Angelus – um ser criado pelo “Chefe” para interferir na sorte dos humanos, respeitando um sistema de regras básicas, estritamente seguido pelos seus companheiros mais antigos. Usando a figura do anjo da guarda e com produção cuidadosa, a série reflete sobre temas densos – como o livre arbítrio, as fronteiras entre o bom e o mau, amor – em tom de comédia, num universo à parte.
Anunciada pela Netflix em 2019 como parte de um plano de expansão das produções nacionais e lançada na plataforma em novembro do ano passado, a série foi cancelada pela plataforma em março deste ano.
“Isso a gente não controla”, comenta Rezende. “Nós trabalhamos muito na dramaturgia, nos personagens, no valor de produção, construindo um tipo de humor que não se faz muito no Brasil. A comédia brasileira não cria mundos e realidades que não existem, mas nós fomos criar um universo, tentar desconstruir padrões.” O diretor – o nome por trás de Bingo, o Rei das Manhãs e Turma da Mônica: Laços – denomina Ninguém Tá Olhando como uma “comédia existencialista”.
Mesmo assim, ele afirma que adoraria dar continuidade ao projeto. “A série foi super bem, conseguimos botar na tela a ideia original, e para isso a Netflix abraçou a ideia desde o começo, incentivando uma produção com um conceito original muito forte. A premiação mostra que talvez o Brasil e o resto funcionem de modo diferente”, aponta, referindo-se, entre outras questões, à pouca atenção crítica que a série recebeu no País desde o lançamento.
“Estamos muito felizes”, comentou ainda. “Um grande nacionalismo é dar atenção a nossas produções, e não lutar contra elas. Nessa série, fizemos personagens brasileiros, falando em língua portuguesa, fazendo questionamentos humanos profundos. Gosto muito da nossa série porque ela questiona nossa existência e ao mesmo tempo faz rir.”
O diretor disse não poder compartilhar no que está trabalhando no momento, mas garantiu que a parceria com a produtora dos irmãos Gullane continua. “Temos o pensamento de que para fazer dramaturgia no Brasil, precisamos prestar atenção na qualidade da dramaturgia, dos personagens e da produção, que assim a obra vai se comunicar com o público. Espero que o prêmio incentive outras séries a pensarem nesse caminho.”
Ninguém Tá Olhando segue disponível na Netflix – a plataforma não se manifestou sobre o prêmio, nem nas redes sociais. O roteiro é assinado por Mariana Trench Bastos, Mariana Zatz, Leandro Ramos, David Tennenbaum, Cauê Laratta, Felipe Sant'Angelo e Rodrigo Bernardo. Sob a direção geral de Rezende, o showrunner, a série é dirigida por ele mesmo, Fernando Fraiha e Marcus Baldini.
A Globo também amealhou um novo Emmy Internacional com a novela exibida no ano passado (são 17 na história da emissora, nas 48 edições do prêmio). É o terceiro prêmio internacional de Órfãos Da Terra, que já recebeu o Grand Prize no Seoul Drama Awards, e, em 2019, ganhou ainda o Rose D’Or Awards. Segundo a Globo, a produção foi licenciada para mais de cinquenta países, entre eles México, Uruguai e Bolívia.
Em um comunicado, as autoras da novela (que já haviam levado um Emmy em 2014 com o trabalho na novela Joia Rara) se disseram emocionadas especialmente por conta da temática da obra. “É muito gratificante saber que uma história que saiu de sua cabeça, de seu imaginário, de sua arte, chegou a tanta gente em tantos lugares diferentes. Vencer o Emmy Internacional, considerado o Oscar da TV mundial, é uma honra e uma responsabilidade enorme”, comemorou Thelma Guedes.
“É muito bom ter o seu trabalho reconhecido. É o momento de celebrar, depois da estiva de fazer uma novela. E dessa vez tem um gosto ainda mais especial, que é saber que nossa história de acolhimento e empatia tem sensibilizado pessoas em todo o mundo”, complementou Duca Rachid.
A novela está disponível para os assinantes do serviço de streaming Globoplay.
Veja abaixo os vencedores (em negrito) e os indicados ao Emmy Internacional 2020:
NHK
Japão
HBO Brasil / Conspiração
Brasil
Babel Doc / France Televisions
França
Sky Arts Production Hub
Reino Unido
Kudos / 72 films
Reino Unido
Sky / Wildside / Beta Film
Itália
The Walt Disney Company / Barry Company
Brasil
Excel Media & Entertainment LLP / Tiger Baby Productions
Índia
Sappralot Productions / Tellux Next / BR / ARD Degeto
Alemanha
Globo / 20th Century Fox Brazil / Hebe Forever / Labrador Filmes / Loma Filmes / Warner Bros
Brasil
STV Productions
Reino Unido
HBO Asia / Birdmandog
Singapura
SHOWTIME Presents / Two Brothers Pictures Ltd.
Reino Unido
EndemolShine Israel
Israel
Pritish Nandy Communications Limited
Índia
Gullane Entertainment / Netflix
Brasil
Caracol Television
Colômbia
Channel 4 News / ITN Productions / PBS Frontline
Reino Unido
Korean Broadcasting System
Coreia do Sul
De Chinezen / VRT
Bélgica
UFA FICTION GmbH
Alemanha
Idiotlamp Productions / Netflix
Reino Unido
Ivanhoe Pictures / Golden Karavan / Poor Man’s Productions / Netflix
Índia
HBO Latin America Originals / Pol-ka
Argentina
Univision / The Latin Recording Academy
Estados Unidos
Telemundo Global Studios / Netflix / AG Studios Colombia / Diagonal TV / Argos
Estados Unidos
Telemundo Global Studios / Netflix
Estados Unidos
Telemundo Global Studios / Keshet
Estados Unidos
Rádio e Televisão Record S.A. / Endemol Shine
Brasil
Teddy TV
Noruega
Heliconia H Group Company Limited
Tailândia
Endemol Shine Australia
Austrália
Ludo Studio
Australia
Bionaut / MALL.TV / cz.nic
Czech Republic
Storylab / Atomic Lab / Flow
Argentina
Action for AIDS Singapore / Cheo Pictures / Pilgrim Pictures
Singapura
Gcoo Entertainment Co. Ltd. / iQIYI
China
Plural Entertainment Portugal
Portugal
Globo
Brasil
Viacom International Studios / Oficina Burman
Argentina
ET BIM / STUDIO+ / CANAL+
França
Globo / Globo Filmes / Bravura Cinematografica / Academia de Filmes
Brasil
Tohoku Broadcasting
Japão
Kudos / 72 films
Reino Unido
24 de novembro de 2020 | 09h00
Francisco José de Camargo, pai da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, morreu aos 83 anos de idade na noite desta segunda-feira, 23, em Goiás. Ele estava internado em um hospital particular há quase duas semanas. A causa da morte ainda não foi divulgada, mas no dia 10 de novembro, Francisco havia sido internado com fortes dores no intestino e precisou passar por uma cirurgia de emergência para estancar o sangramento.
A assessoria de imprensa dos cantores confirmou, por meio de nota, que o velório será às 10h no cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia. Luciano Camargo está com coronavírus e foi diagnósticado há menos de uma semana. Zezé usou as redes sociais para expressar a tristeza com a morte do pai. "Nenhuma tristeza é pra sempre, como nenhuma felicidade é eterna. Prepara-te para aprender com a dor e viva intensamente o que Deus te deu de presente: “a vida”. Me perdoe pelo egoísmo de insistir que fique aqui, mas meu amor é tão grande, que me tira a sensatez, a lucidez e o entendimento, que a vida é assim! Mais uma vez me perdoe, por insistir que fique aqui. Te amo meu pai!", declarou no Instagram.
Zezé Di Camargo e Luciano cancelam live após equipe registrar casos de coronavírus
Além de Zezé e Luciano, Francisco Camargo deixa a esposa, Helena Siqueira de Camargo, e mais seis filhos: Marlene, Wellington, Emanoel, Luciele, Wesley e Walter. Um outro filho dele, Emival Camargo, morreu em 1975 em um acidente de carro.
A vida dele foi registrada no filme Dois Filhos de Francisco, lançado em 2005 nos cinemas, e contou a história de vida da dupla Zezé di Camargo e Luciano e o esforço do pai para tornar a dupla conhecida no mundo da música sertaneja.
23 de novembro de 2020 | 08h36
O Vaticano informou neste domingo, 22, que o papa Francisco nomeou o brasileiro Marcos Pavan como diretor do coral da Capela Sistina, cargo que já ocupava interinamente desde 2019, quando tomou posse após a renúncia de Massimo Palombella devido a irregularidades financeiras.
Pavan nasceu em São Paulo em 23 de outubro de 1962 e foi ordenado sacerdote em junho de 1996. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo em 1985 e completou seus estudos de filosofia e teologia em Roma.
Ele tem uma sólida formação artística e musical, estudou piano, solfejo e canto gregoriano, bem como regência coral, e fez apresentações e gravações de concertos para rádio e
televisão.
Em setembro de 2018, o Vaticano informou a abertura de uma investigação sobre os aspectos econômicos e administrativos do coral da Capela Sistina, e o jornal italiano La Stampa publicou que o maestro Massimo Palombella e seu diretor administrativo Michelangelo Nardella eram suspeitos de desvio de verba, fraude e lavagem de dinheiro.
Em janeiro de 2019, o papa ordenou que o coral fizesse parte do Escritório de Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice e nomeou um administrador econômico, Guido Marini, que em julho escolheu Pavan para ser diretor interino.
Entrevista com
Luan Santana
22 de novembro de 2020 | 05h03
Na música Um Grito Entre as Cinzas, que Luan Santana compôs recentemente em parceria com Matheus Marcolino para chamar atenção para o projeto que criou, #OPantanalChama, ele diz que tem “sangue nativo” – ele nasceu em Mato Grosso do Sul – e “queria ser chuva”, mas que só vê cinzas no Pantanal.
De forma mais objetiva, o alívio que o cantor quer oferecer virá na live que fará neste domingo, 22, às 17h, direto da região, quando pedirá a seus fãs e aos simpatizantes da causa que doem recursos para o instituto SOS Pantanal, que luta para minimizar os estragos causados pelas queimadas recordes que atingiram a região neste ano e ajudar animais e a população pantaneira.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente em agosto as queimadas no Pantanal ficaram 300% acima do mesmo período do ano passado.
A live de quatro horas será transmitida pelo perfil do YouTube do cantor e pelo canal National Geographic. “As queimadas me afetaram de tal maneira que quis me unir às ONGs e criar um movimento para ajudá-las”, explica Luan, em entrevista ao Estadão. Além da live, Luan criou estampas para camisetas que estão à venda em seu site e vai leiloar o figurino que usou na gravação do DVD Viva. O objetivo de Luan é arrecadar R$ 8 milhões para o projeto.
Luan diz ter sonhado várias vezes com a triste imagem de uma onça-pintada com as patas queimadas em meio a um incêndio no Pantanal. Na semana passada, o cantor visitou a região de Corumbá e viu de perto as carcaças de animais que não resistiram ao fogo. Em conversa com biólogos, soube que algumas espécies de animais podem ter sido extintas pelo fogo e que a recuperação do bioma será lenta.
Aos 29 anos, o cantor, que busca seu espaço no mercado internacional, diz que espelha seus passos na carreira de Roberto Carlos. Em ações sociais, ele tem como exemplo o irlandês Bono, do U2. Com mais de 29 milhões de seguidores no Instagram, Luan sabe que sua voz tem força. “O meu ofício me ajuda como formador de opinião a abraçar causas em que acredito. Sou um homem sensível aos problemas da humanidade.”
Meus melhores momentos em família quando criança, as melhores férias, foram lá. Foi no Pantanal que aprendi a pescar, devolvendo à natureza o que pegamos, claro. Tive a honra de conhecer e desfrutar do Pantanal várias vezes. É um contato tão forte com a natureza que você se sente em conexão direta com Deus. As queimadas me afetaram de tal maneira que quis me unir às ONGs e criar um movimento para ajudar.
Senti uma dor tão grande, cheguei a sonhar várias vezes... Toca a alma mesmo. Sempre fui muito ligado à natureza. Se eu não fosse cantor, seria biólogo. Minha preocupação é com as queimadas recordes deste ano.
Não tem como ficar mudo diante dessa tragédia. Queria que todos os brasileiros abraçassem a causa. Vamos andar 12 horas pelo rio até o local da live. Sem internet, com um sistema inédito para conseguir transmitir do meio do Rio Paraguai não apenas uma live histórica, mas uma forma de transformar o canto num grito para engrossar esse pedido de socorro entre as cinzas.
O objetivo é arrecadar fundos para a recuperação da região e prevenção a possíveis novos incidentes que castiguem aquele solo e o seu entorno. Pretendo arrecadar ao menos R$ 8 milhões com todas as ações do movimento, incluindo a live, que serão encaminhados ao SOS Pantanal, entidade que tem auxiliado diversas iniciativas que visam à recuperação e a preservação do bioma.
Sim, é nítido ver a mudança que nosso bioma vem passando. O Pantanal sofre influência direta de três importantes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Apesar de sua beleza natural exuberante, o bioma tem sido impactado pela ação humana, principalmente pela atividade agropecuária, que faz com que além de mim, de minha família, de todos os brasileiros, os indígenas e quilombolas também tenham grande influência nesse processo.
Por ser natural de Campo Grande e padrinho do Instituto Arara Azul (que preserva a ave em seu hábitat natural) há seis anos, quis amplificar o abraço de que a minha região tanto carece. Não é tempo de medir esforços para salvar tantos animais e tanta gente que sobrevive da riqueza ribeirinha produzida pela fauna e a flora locais.
O convite nunca chegou para mim. Eu aceitaria na hora se o convite viesse.
Meu ofício me ajuda como formador de opinião a abraçar causas em que acredito. Eu me considero um homem sensível aos problemas da humanidade. Gosto dessa conexão com o público, com as pessoas e essa troca de opiniões. Precisamos nos unir e dar voz a outras pessoas e causas importantes.
Acabei de voltar do México onde me encontrei com alguns produtores e músicos latinos. Fui com meu produtor e outros dois compositores do Brasil e foi extremamente revigorante. São muitos meses no Brasil, e em casa, por causa da covid. Sair, ganhar novos ares, ajuda até na criatividade e inspiração.
Em minha carreira, Roberto Carlos. Nas ações sociais, Bono.
Estava no México e soube disso bem depois. Quando voltei, já tinham postado um pedido de desculpas pela atitude. Creio que o amor entre artistas e fãs é incondicional. E assim seja, amém!
20 de novembro de 2020 | 05h00
O novo trabalho de Elba Ramalho, Eu e Vocês, seu álbum da quarentena que chega nesta sexta, 20, às plataformas digitais, soa como um abraço, um acolhimento. Para ela e para quem ouve. Em tempos difíceis, Elba acessou o universo da música nordestina, que lhe é tão afetivo. Dos xotes, do baião. E fez um disco sobre o amor. São 12 canções, gravadas no estúdio de sua casa, no Rio, com músicos colaborando a distância e filhos participando de perto. Seu filho, Luã Yvys, de seu relacionamento com o ator e cantor Maurício Mattar, assina a produção do disco da mãe, além de também compor e tocar nele.
Elba lembra que um novo disco não estava em seu radar. “Se a vida tivesse seguido normal, talvez eu não tivesse tido inspiração e também não teria tido tempo como tive de fazer um processo lento, porque, como a gente não tinha acesso aos músicos, tinha de fazer cada um de forma individual e cada um da sua casa. Então, demorou mais. Foi um processo criativo diferente, mas que acabou dando certo”, diz a cantora, em entrevista ao Estadão por Zoom, de sua casa em Trancoso, na Bahia.
“Depois de remexer muitas coisas, arrumar muitas coisas, o estúdio ali parado na minha frente todo dia, e a melhor forma de eu me expressar é através da música, achei que gente podia brincar um pouco, cantar umas coisas, nada pretensioso. Eu queria fazer algo simples, que tivesse a linha musical do Balaio de Amor (de 2009), que foi um disco que me deu até um Grammy Latino, que tinha muitas canções nordestinas, xotes, baiões. Aí convidei meu filho. Ele é músico, produtor, já tinha feito um disco comigo, que foi Do Meu Olhar Pra Fora (de 2015). A gente estava junto na quarentena, minha netinha nasceu, a gente mora perto. Então, a gente estava vivendo essa história, as canções foram surgindo”, descreve ela, que virou avó em abril, após o nascimento de Esmeralda, filha de Luã.
No repertório de Eu e Vocês, o 38.º disco de sua carreira, Elba combina releituras e algumas canções inéditas. E, quando se trata do universo afetivo da cantora, Dominguinhos é obrigatório. Ela canta duas composições do mestre da sanfona, que morreu em 2013: Ter Você É Ter Razão (parceria dele com Climério) e O Inverno É Você, em que Elba faz dueto com o amigo padre Fábio de Melo. Aliás, com essas duas canções, atinge a marca de 40 canções do compositor gravadas por ela.
Elba conta que O Inverno É Você estava com o maestro José Américo Bastos, com quem ela trabalhou por muito tempo. Mestrinho acabou gravando a música em seu álbum É Tempo Pra Viver, de 2017, e agora Elba faz sua versão da canção. “Mas eu a considerava inédita, porque é muito nova, muito fresquinha”, diz. “Desde que Dominguinhos tinha morrido que eu sabia que tinha aquela canção e uma hora eu ia tocar nela. Lembrei que padre Fábio gostava de cantar, fizemos um show juntos ano passado no Rio e cantamos O Inverno É Você.” Há outras belas releituras, de canções como Maçã do Rosto, antiga composição de Djavan; Felicidade, de Marcelo Jeneci e Chico César; e Sintonia, clássico de Moraes Moreira que ela gravou em homenagem ao amigo, morto em abril.
Entre as inéditas, estão uma música de Mestrinho, Eu Vou Chegar Chegando, com participação do sanfoneiro; De Onde Eu Vim, de Luã; e Ainda Tenho Asas, parceria de Elba e Luã – em um dos raros momentos em que Elba, intérprete consagrada, assina como compositora. “Sou preguiçosa para compor. É um desafio você ser intérprete. Adoro esse desafio, adoro mexer nas canções dos outros, trazer para mim aquilo que o outro pensou, criou, e colocar minha alma nela.”
Ainda sobre as novas canções, há um lugar especial no coração (e no disco) de Elba para a inédita Eu e Vocês, composta por Juliano Holanda e Zélia Duncan na quarentena. Endereçada por Zélia especialmente para Elba, a música não só dá nome ao disco, como fecha o álbum em clima de comunhão, de celebração em família. Nela, Elba conta com a participação dos quatro filhos, Luã, Maria Clara, Maria Paula e Maria Esperança, tocando (violão, ukulele) e cantando. E descobriu o talento das filhas como cantoras. “Achei (essa canção) extremamente adequada, oportuna, acertada, caiu como uma luva. Tem uma singeleza do lar, acaba que minhas filhas cantaram e ela acabou sendo um momento especial para mim.”
E traduziu o que ela está vivenciando. “Pude compartilhar de uma forma mais intensa a minha família, nunca consegui espaço em 40 anos para revisitar a mim mesma nos meus ambientes de casa. Foi muito positivo isso para mim. Era sempre uma ida e vinda, quase que uma vida toda na estrada, e agora não. Aproveitei bastante e ainda estou aproveitando, apesar de toda a parte dramática da história. Foi bom ficar em casa, ficar com Luã quando a filha dele nasceu, minha primeira neta. Foi bom poder pensar muito, rezar mais, buscar o equilíbrio, que a gente acha que não tem, mas é na adversidade que você conhece o herói, o guerreiro.”
Para ela, muita gente “talvez não estivesse preparado para lidar com esse processo de solidão, de autoconhecimento, de despertar da consciência, de introspecção, de oração”. “Coube tudo isso nesta quarentena. A fé duplicou, porque tem que ter esperança, se não você entra em desespero. Tudo isso procurei refletir nas canções. É uma música alegre, leve, suave. É feita com o emocional do sanfoneiro, com a emoção musical do guitarrista, do baixista, do percussionista.”
Elba contraiu covid em setembro. Uma das filhas saiu um único dia de casa para visitar uma amiga, conta ela, e acabou contaminando Elba, o pai, Gaetano, e a babá. Mas todos tiveram sintomas leves. “Para mim, foi um pouco mais difícil, porque não consigo tomar antibióticos, sou supersensível, abri mão do remédio de cara”, diz a cantora de 69 anos, que teve acompanhamento médico contínuo para monitorar o avanço da doença. “De imediato eu já estava com pneumonia, mas uma pneumonia levíssima.” Agora ela diz que está bem, correndo 6 km todo dia. “Você precisa ter um bom acompanhamento clínico e manter uma vida saudável.” Elba afirma que manteve serenidade e fé. E não teve medo de morrer. “Meu conselho é que as pessoas tenham confiança, não tenham medo, porque o medo é paralisante. Você quer tomar uma atitude e o medo não deixa raciocinar.”
Assista ao clipe de 'Eu e Vocês':
Assista à vídeo de 'Ainda Tenho Asas':
20 de novembro de 2020 | 05h00
Jonathan Ferr acredita que sejam seus guias espirituais. Generosos seres de luz que o colocam nos lugares que muitos pianistas gostariam de estar, com pessoas que o apoiam e inspirações que o conduzem para uma musicalidade desbravadora. A explicação sensorial para o que tem acontecido em sua vida desde que começou a usar o que ouvia pelos ares do Morro da Congonha, uma comunidade no reverencial bairro de Madureira, zona norte do Rio, e criar uma música cheia de personalidade não deve ser desprezada. Mas, mais do que uma proposta com cruzamentos que começam a levar seu jazz a lugares especiais, Ferr entende que não é só a música o que está em jogo.
Aos 32 anos, com um primeiro álbum lançado em 2019, Trilogia do Amor, e uma ficha de atuações que inclui o show de abertura para o saxofonista californiano Kamasi Washington no Circo Voador, em março de 2019, a apresentação anterior à de Hermeto Pascoal, no Marien Calixte Jazz Music Festival, em Vitória, em outubro do mesmo ano, e uma das atrações do recente Rio Montreux Jazz Festival, em outubro, Ferr acaba de assinar com a gravadora Som Livre para lançar seu segundo trabalho. Uma conquista rápida num tempo em que gravadoras não contratam ninguém, sobretudo se esse alguém tocar música instrumental. Seu lançamento vai começar com a divulgação do single Saturno, que Ferr fez em homenagem a Sun Rá, o lendário organista do Alabama e pai do afrofuturismo que acreditava que a população negra não pertencia ao planeta Terra, mas havia chegado do espaço. Em dezembro, sai sua segunda faixa autoral, Esperança.
São temas que já frequentaram seu repertório, mas que serão agora produzidos com as benesses de uma companhia de discos, algo que a geração de Ferr não se lembrava de que ainda existia. “Creio que as pessoas (da gravadora) me viram quando abri o show do Kamasi, no Circo Voador”, conta. Sobre a liberdade de criação, ele diz: “Eles querem o som que estou fazendo, garantiram que terei liberdade.” E nada funcionaria sem liberdade. Faixas como Bike, Luv Is The Way, Borboletas e Sonhos, as últimas três lançadas em Trilogia do Amor, chegam muitas vezes com linhas melódicas redondas e soando como se fossem cantadas. Seu pensamento é de uma música contemporânea sem hermetismos, com climas de neo soul, hip hop e recursos do fusion setentista como, por exemplo, quando toca Luv Is The Way.
Um primeiro single de Jonathan Ferr saiu em 2013, Vem Dançar, quando ele tinha 25 anos e começava a dar forma aos sons que criavam sua identidade. E talvez seja essa a palavra mais sensível ao momento de Ferr. Ao pensar em identidade, ele se apresenta com um visual arrojado, trabalhado pela estilista Denise Salles, e atua em plataformas para lançar singles, investe em boas fotos, cuida das redes sociais e produz bons clipes, tudo de que os jazzistas brasileiros parecem correr por entenderem que nada deva se sobrepor à música. E eles estão certos. Mas Ferr entra no vácuo aberto pelo temor que sempre tiveram de vender a alma às superficialidades do pop e firma sua presença no instrumental de uma forma que sua música se comunique também pela imagem.
“Sinto que o pessoal do instrumental está muito focado nos temas. Claro que é importante, mas acho que vai além.” Seu maior exemplo da força de uma estética está no dia em que o pai o deixou escolher um disco de vinil. Ferr escolheu a capa mais bonita da loja, mas se decepcionou com o que ouviu no LP.
Então não deve ser o caso de vender-se pela capa, e não parece ser o que quer fazer. Sua fala tem sinceridade, carisma e uma história de vida que começa em Madureira, bairro romanceado por Arlindo Cruz em Meu Lugar e espalhado entre três escolas de samba, centenas de rodas, um Jongo da Serrinha e um baile charm realizado aos sábados, há 25 anos. Tudo o que poder fazer alguém grande suficiente para entender que só o visual não vai segurá-lo.
Ferr tem um caminho a percorrer. Sua identidade está em formação e a linguagem que propõe pode se desenvolver muito se a técnica for mais depurada. “As composições têm suingue, algo superimportante para o que ele faz, e o fato de abrir a música para o cuidado com figurino e com os clipes vai lhe dar visibilidade. Só sinto que tenha ainda algo a desenvolver”, diz a cantora e saxofonista e Fernanda Porto.
O idealizador e curador do Rio Montreux Jazz Festival, Marco Mazzola, que escalou Jonathan para uma das noites do festival, produtor de discos de quase toda a música brasileira dos anos de 1970 e responsável pela noite brasileira no festival de Montreux, na Suíça, vê um Jonathan Ferr audacioso e cheio de frescor, mas em um ponto que pode torná-lo vulnerável. “Se ele acreditar que é um gênio, pode parar de se desenvolver, de estudar, e colocar seu futuro a perder. Já vi isso acontecer algumas vezes.”
Quem conhece Jonathan e tem com ele laços de amizade o vê como um acontecimento. “Apesar de acharmos que o instrumental não se comunica, essa ideia é quebrada em um show do Jonathan”, diz a cantora Tassia Reis. “Ele consegue estabelecer essa conexão com as pessoas.” Mahmundi, cantora e dona de um dos trabalhos mais criativos de sua geração, diz que o show de Montreux foi a “comprovação de que ele está pronto paro ser conhecido pelo mundo. Um instrumental pop e acessível.” Outra cantora, Paula Lima, diz que Jonathan é “um pianista genial, urbano, negro e fazendo jazz para todos.”
O jazz chegou ao menino filho de mãe dona de casa e pai metalúrgico quando ele fez 18 anos e ouviu A Love Supreme, de John Coltrane, mostrado por um professor no Conservatório Villa-Lobos, onde começou a cursar música com uma bolsa de estudos. Antes, veio o piano de Pedrinho Mattar, morto de 2007. Jonathan sentava-se com a mãe e os irmãos na sala para assistirem ao programa Pianíssimo, que Pedrinho apresentava na Rede Vida tocando standards de jazz.
Por mais que sua música não traga sinais de brasilidade, ao menos das brasilidades mais aparentes que os tempos tornaram uma espécie de pedágio obrigatório a quem decide tocar jazz no Brasil – como a reprodução de fragmentos rítmicos de maracatu, baião e samba feito mesmo por quem não vive esses gêneros –, Jonathan trilha uma escola mais colada aos jazzistas norte-americanos. Ele tem o afrofuturismo de Sun Ra, o piano de Robert Glasper e as visões de Kamasi Washington como alguns faróis, mas diz não ter medo do pop e quer fazer as pessoas perderem o medo do jazz. Um legado legítimo de quem carrega a gene de um lugar chamado Madureira.
19 de novembro de 2020 | 08h50
O ator e dublador Jonas Mello morreu na quarta-feira, 18, aos 83 anos. A causa da morte não foi revelada, mas, segundo informações de sua irmã, ele teria passado mal e ligado para um primo, que já o encontrou morto ao chegar no apartamento do ator, na Zona Norte de São Paulo.
O trabalho mais recente de Jonas Mello na TV foi em 2013. Ele interpretou o capanga Arruda na novela Flor do Caribe, que está sendo reprisada pela Globo agora. Em 1969, ele atou na novela A Cabana do Pai Tomás. Em 1975, foi o protagonista de Meu Rico Português, da TV Tupi.
Atuou também em Baila Comigo (1981), Dona Beija (1986), Barriga de Aluguel (1990), A Escrava Isaura (2004) e Salve Jorge (2012), entre muitas outras produções para a TV.
No cinema, integrou, entre outros, o elenco de O Cangaceiro (1997) e Lula, O Filho do Brasil (2010).
Jonas Mello também foi dublador. Foi narrador, por exemplo, de Os Cavaleiros do Zodíado, e emprestou a voz para o personagem Joe Swanson em Family Guy e para Samuel L. Jackson em Jurassic Park.
18 de novembro de 2020 | 05h00
Ele já encantou e divertiu o público com seus inúmeros personagens na TV, no cinema, no teatro. Foi o terrível Zeca Diabo, na novela O Bem-Amado, um jagunço que morria de amor pela mãe e pelo Padre Cícero. Ganhou o Brasil com seu impecável Sinhozinho Malta, de Roque Santeiro, citado até hoje em momentos polêmicos da política. Nascido há 90 anos, em Sacramento, Minas Gerais, Ariclenes Venâncio Martins, ou simplesmente Lima Duarte, ganha agora homenagem com exposição temática no Itaú Cultural, a partir desta quarta, 18. Mas, para visitar a Ocupação Lima Duarte, seja online ou pessoalmente, o público terá de fazer agendamento no Sympla.
Além de sua extensa carreira artística, que não se limitou a atuação, Lima é reconhecido também por ser um bom contador de histórias. Fato que pode ser conferido em sua página no YouTube, que é um deleite para seus fãs e para o público em geral. Dono de uma memória invejável, ele revela, nesses vídeos, que continua guardando recordações vivas de seu passado. E sobre essa homenagem e sua vida na área cultural, suas memórias, o ator respondeu algumas perguntas via WhatsApp.
‘Falar da velhice não é fácil’, diz Lima Duarte
Por ser esse nonagenário ativo, lúcido, dono de suas palavras e, consequentemente, ter uma carreira tão longeva, participando das mais variadas produções, pois ainda se propõe a atuar e incentivar os novatos, Lima Duarte não foge à luta e demonstra, em suas respostas, que sabe muito bem lidar com as palavras, que muitas vezes ganham um toque de poesia. E começa afirmado que a vontade de estar em cena o artista nunca perde. “É uma coisa latente, essencial, faz parte da gente, faz parte de ser o que sou, como sou, o que vi, o que aprendi, o que esqueci. Eu tenho a vontade sempre, porque eu tenho a vontade de continuar vivo”, afirma.
Como consequência dessa longevidade, como todo ser humano, vem a hora complicada de se despedir de colegas e amigos, que têm a vida por aqui não tão longa. E ele não foge à regra, afirmando ser esse um momento muito difícil, dolorido e incômodo. E, justamente no dia em que respondeu as perguntas, ele estava passeando pelo centro da cidade de São Paulo, um local que o remete a muitas lembranças. “Nós vivíamos aqui, na (avenida) São João com a Ipiranga, tomávamos aquele caldo verde no Jeca, às 3, 4 horas da manhã, esperando nossas senhoras saírem dos taxi dancings, o Tropical, que era logo ali adiante, ou o Lido, que era aqui na Ipiranga mesmo”, fala Lima, fazendo uma viagem no tempo. E vai costurando essas lembranças, que, como ele diz, são guardadas em um baú, onde “vão se acumulando”.
Ao seguir discorrendo sobre suas lembranças, surgem detalhes mais melancólicos, como ao se referir à falta de alguém que saiba do que ele está falando. “Eu andei por esses lugares e senti falta de alguém com quem eu pudesse dizer, ‘lembra como era aqui?’ ‘lembra que nós brincávamos aqui?’, ‘lembra que corríamos por aqui na São João?’”, diz o ator, que conta ainda ter visto o local onde funcionava o cine Broadway, hoje um terreno baldio. “Afinal, acho que tudo dentro de mim virou um terreno baldio, onde a gente vai jogando coisas, olhares, pessoas, sentimentos, ódios, amores. E o meu baú já está bem cheio, viu?! E eu gosto dele, portanto eu gosto de vir aqui no centro à procura do tempo perdido.”
Saindo da rua para as telas, Lima Duarte fala de alguns dos seus personagens mais emblemáticos na história da TV e do cinema brasileiros: Sargento Getúlio, criado por João Ubaldo Ribeiro, e do seu Zeca Diabo. Em tom divertido, ele acredita que os dois personagens sejam bem próximos. “Sargento Getúlio é filho do Zeca Diabo, se não for irmão, se não for pai. Eu sei que o Sargento Getúlio e o Zeca Diabo são a mesma pessoa, no fundo, eu”, constata. E deixa claro que os dois personagens estão dentro dele e que soube colocá-los para fora.
Quanto a esse período de pandemia, que obrigou a todos a se manterem reclusos, com tempo de sobre para pensar na vida, Lima acredita que se trata de um período que nos possibilitou a refletir sobre nossos atos. “Puxa vida, acho que é, também, a procura do tempo perdido, fizemos tanta besteira, perdemos tanto tempo, que agora temos de parar e pensar, o que é que temos feito na nossa vida, de todas a maneiras, elegendo essas pessoas que acabamos de eleger, tendo de viver sob a égide desse homens, que não sabem nada disso.”
17 de novembro de 2020 | 08h00
Há 110 anos, no dia 17 de novembro de 1910, Rachel de Queiroz nascia em Fortaleza. Primeira mulher a ser eleita imortal da Academia Brasileira de Letras, em 1977. Primeira mulher a ganhar o Prêmio Camões, em 1993. Rachel de Queiroz (1910-2003) entrou para a história da literatura brasileira e criou obras que marcariam gerações de leitores e autores, como O Quinze, As Três Marias e Memorial de Maria Moura.
100 textos de Rachel de Queiroz
Entre as idas e vindas da infância (Rio, Belém, Fortaleza novamente) e entre os dias em contato com a natureza e com a biblioteca da família, Rachel de Queiroz começou sua formação. Aos 15, já era professora. Aos 17, em 1927, publicava crônicas e poesias no jornal O Ceará. Rachel de Queiroz estreou na literatura com O Quinze em 1930, inaugurando o romance regionalista nordestino e abrindo o caminho para Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos. O livro é situado na seca de 1915, cujos efeitos levaram sua família a buscar refúgio no Rio em 1917.
Depois de publicar O Quinze, Rachel de Queiroz volta ao Rio e passa a publicar suas crônicas em veículos como O Jornal, Diário de Notícias, Folha Carioca, Última Hora e Jornal do Comércio. Nos anos 1940 e 1950, assina a crônica da última página da lendária revista O Cruzeiro. Em 1988, assume uma coluna semanal no Estadão.
Sua carreira literária segue com a publicação de romances, coletâneas de crônicas, folhetins, peças e livros infantis, como João Miguel (1932), Caminho de Pedras (1937), As Três Marias (1939), A Donzela e a Moura Torta (1948), O Galo de Ouro (1950), Lampião (1953), A Beata Maria do Egito (1958), Cem Crônicas Escolhidas (1958), O Brasileiro Perplexo (1964), O Menino Mágico (1969), Dôra, Doralina (1975), Memorial de Maria Moura (1992) e As Terras Ásperas (1993), entre outros títulos.
Sobre As Três Marias, Mário de Andrade disse que o romance era “uma das obras mais belas e ao mesmo tempo mais intensamente vividas da nossa literatura contemporânea”.
Memorial de Maria Moura, de 1992, virou minissérie da TV Globo em 1994. Em 2021, chega às livrarias uma reedição, com a fortuna crítica.
Dôra, Doralina ganha nova edição no fim do mês pela José Olympio, que vem reeditando a obra de Rachel de Queiroz em novo projeto gráfico.
Rachel de Queiroz morreu em 4 de novembro de 2003, pouco antes de completar 92 anos.
(192 págs.; R$ 69,90 em capa dura)
O grande clássico de Rachel de Queiroz, lançado por ela aos 20 anos e que marca sua estreia literária, em 1930. Ao narrar as histórias de Conceição, Vicente e a saga do vaqueiro Chico Bento e sua família, a autora expõe o drama causado pela histórica seca de 1915, que assolou o Nordeste brasileiro.
(256 págs.; R$ 49,90; R$ 37,90 o e-book)
De 1939, obra conta a história das três amigas Maria Augusta (Guta), Maria da Glória e Maria José, desde sua infância em um colégio de freiras até a vida adulta. Neste romance de formação, a autora retrata o processo de ajustamento ao mundo pelos olhos das meninas e convida o leitor a acompanhá-las desde os medos e as incertezas da juventude até o amadurecimento e aos dilemas da vida adulta.
(432 págs.; R$ 59,90)
O romance de 1975 narra a história de Maria das Dores, viúva recente de um casamento de conveniência, que sai da sombra da mãe e de uma vida de submissão para viver em Fortaleza, onde ela se torna atriz e passa a viajar pelo Brasil como integrante da trupe de uma Cia de teatro mambembe.
(496 págs.; R$ 79,90 a brochura; R$ 34,90 em versão pocket e R$ 59,90 o e-book)
Rachel de Queiroz publicou este romance em 1992, aos 82 anos, e ele foi adaptado pela Globo dois anos depois, com Glória Pires no papel de Maria Moura que luta para salvar sua terra apesar de todas as dificuldades.U
16 de novembro de 2020 | 05h00
Pedro Pascal é um ator chileno-americano que ganhou projeção em Game of Thrones, fazendo o personagem Oberyn Martell, que atravessa a saga tentando vingar a morte da irmã. Guerreiro poderoso, de língua afiada como sua espada, Oberyn formou a própria companhia de mercenários, sendo pai das chamadas ‘serpentes da areia’. Não admira que, com esse perfil, tenha sido requisitado por Jon Favreau para ser o Mandaloriano.
Em novembro de 2019, The Mandalorian estreou nos EUA. Quase um mês depois, não se falou de outra coisa na CCXP de São Paulo. Agora, na terça, 17, a Disney, que produz O Mandaloriano, lança seu serviço de streaming no Brasil, o Disney+. A Globo, que será parceira da plataforma por meio do GloboPlay, antecipa-se e mostra na segunda, 16, na Tela Quente, dois episódios da nova série derivada de Star Wars. Chama-se The Mandalorian: Uma História de Guerra nas Estrelas.
Como ator e diretor, Jon Favreau não era exatamente nota 10, mas adquiriu o toque de Midas com suas intervenções no universo Marvel. À revista Empire, contou que The Mandalorian começou a nascer na cantina de Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança. Quem eram aqueles arruaceiros no bar em Mos Eisley? Situado cinco anos após a destruição da segunda Estrela da Morte, que carregou consigo o governo imperial, a série mostra a Nova República tentando restaurar a ordem na galáxia, que virou esse lugar sem lei.
Favreau compara o futuro distópico à conquista do Oeste, como território livre para caçadores de recompensas. O Mandaloriano é um deles, ou o melhor deles. Para o criador da série, é uma espécie de Clint Eastwood intergaláctico – um Estranho sem Nome com um código de ética flexível (Pascal prefere dizer ‘questionável’) e grande habilidade com as armas. Quando lançou Star Wars, Guerra nas Estrelas, em 1977 – só mais tarde viraria Episódio IV: Uma Nova Esperança –, George Lucas parecia mais maluco do que visionário ao dizer que o filme integrava uma série com nove filmes. Três trilogias, e aquele seria o primeiro episódio da segunda trilogia. A construção do herói – Luke Skywalker. No segundo episódio, Luke encontrava mestre Yoda, que lhe ensinava que era possível mexer o universo só com a força da imaginação.
O conceito da Força tornou-se vital em Star Wars. Realizada depois, a que virou a primeira trilogia era sobre o pai de Luke, Annakin, que se entrega ao lado escuro da Força e vira o vilão Darth Vader. Mais tarde, a terceira trilogia seria centrada em Ray, que trouxe com ela ‘o despertar da Força’. Contratado pelo Cliente – o diretor Werner Herzog, numa participação como ator –, o Mandaloriano vai aos limites da galáxia. Feito mochila, carrega uma criaturinha exótica que se transformou no maior atrativo da série toda. Baby Yoda, com aquelas orelhas e olhos pedintes, faz a liga do público com esse novo universo de ação e fantasia. Está ali para evocar uma frase de mestre Yoda em O Império Contra-Ataca: “Faça ou não faça, tentativa não há”. E o Mandaloriano terá de fazer.
O Estranho tem nome, Din Djarin. Baby Yoda não é referido como tal, mas como The Child, a Criança. Mais até do que o herói de moral duvidosa, Baby Yoda foi responsável pelo sucesso instantâneo. Nos EUA, The Mandalorian bateu Stranger Things e transformou o bebê num fenômeno de vendas. Bonecos, bonés, camisetas, – tudo dele para o público que o adotou.
Os fãs da saga oficial Star Wars sabem que ela se estrutura no binarismo – heróis e vilões, luz e sombra. Favreau foi logo anunciando que, aqui, era melhor esperar outra coisa. Uns 50 tons de cinza, mesmo sem o foco no sexo. Entre os diretores dessa primeira temporada está Bryce Dallas Howard, atriz de Lars Von Trier em Manderley e filha de Ron Howard. Seu pai não se saiu muito bem, em termos de bilheteria, no spin-off sobre Han Solo. O público não aceitou as liberdades que ele tomou com o personagem. Pode ser que a filha tenha mais sucesso. No site do Rotten Tomatoes, usuários dizem que a trama de Mandalorian é a melhor de toda a saga Guerra nas Estrelas.
13 de novembro de 2020 | 17h54
LOS ANGELES - Edoardo Ponti viajou para o sul da Itália com o objetivo de trazer sua mãe, Sophia Loren, de volta para as telas, com o filme A Vida Pela Frente, drama sobre uma sobrevivente do Holocausto que cuida de crianças abandonas e que marca a volta da lendária atriz italiana às telas depois de mais de uma década.
“Com minha mãe posso repetir a mesma cena dez, doze, quinze vezes. Nunca, jamais, em três filmes que realizamos juntos, ela me disse, “Edoardo, chega, não posso mais”. Ela nunca desiste, sempre quer o melhor. Com 30 anos é normal, mas ter esse desejo com 86 é uma grande lição”, afirmou o cineasta em uma entrevista à EFE.
É a terceira vez que Edoardo dirige sua mãe diante das câmeras. Mas desta vez isto parece ainda mais especial pois é o primeiro longa de Sophia Loren depois de mais de dez anos, rodado em sua terra natal, no sul da Itália, em que ela interpreta uma rígida e generosa madrasta.
“É assim que vejo minha mãe. Sempre desejo mostrar Sophia não como diva, mas como atriz, a mãe e a artista que conheço”, disse ele. Durante a entrevista, Edoardo, que é filho de Sofia com o produtor Carlo Ponti, não poupou elogios à mãe, à disciplina que inculcou nele e a um estilo artesanal de fazer filmes afastado dos “egos” e das “superficialidades”.
Sophia Loren, 86 anos, e cuja última aparição no cinema até agora foi em Nine, de Rob Marshall (2009) volta em Rosa e Momo (título no Brasil) uma nova adaptação do romance A Vida Pela Frente, escrito por Romain Gary e publicado em 1975, que já foi adaptado para o cinema em 1978, no filme Madame Rosa - A Vida Pela Frente, dirigido pelo israelense Moshe Mizrahi e que recebeu um Oscar.
Nesta nova versão para a Netflix, Sophia Loren retoma a personagem de Madame Rosa, uma anciã que inicia uma amizade singular com um menino imigrante senegalês (Ibrahima Gueye) que ficou órfão.
Diferente da obra original, a história não se passa em Paris, mas em Bari, cidade do sul da Itália onde a beleza das ruas barrocas e a luz do Mediterrâneo contrastam com as tensões envolvendo a imigração e a pobreza.
“Para ela era importante se reencontrar com sua língua (o napolitano) porque quando você fala o idioma que aprendeu quando nasceu tudo muda, as expressões do rosto, o olhar”, disse Edoardo. O diretor dedicou grande parte do trabalho em Rosa e Momo procurando fazer com que Ibrahima Gueye, um ator mirim de 13 anos que divide as cenas com Loren, interpretando Momo, não se sentisse bloqueado diante do resplendor que cerca uma estrela da magnitude da italiana.
“Quando você junta duas pessoas que têm um grande coração e uma alma sensível é fácil”, afirmou o diretor.
Sophia e Edoardo passaram mais de um mês em Bari com o jovem ator e sua família para criar um vínculo cotidiano que se traduzisse para a tela. “Queria que Ibrahima conhecesse Sophia como a “mamma”, tanto no início como no final da jornada, que tomasse o café da manhã e assistisse TV junto com ela”.
Assim, a emblemática atriz e o jovem ator construíram sua química na tela sob o olhar atento de Edoardo Ponti, que continua aprendendo com sua mãe. “Nunca desiste”.
Indagado se é obcecado pela perfeição depois de crescer e viver no meio de gênios da sétima arte, Edoardo deixou claro que uma das lições mais importantes, influenciada pelo neorrealismo, é a verdade.
“Não é a busca da perfeição, mas chegar a um momento autêntico. Ao mais real possível, a esse momento de verdade”, disse.
Num ano estranho para o cinema, Rosa e Momo já surge como um filme forte candidato ao Oscar, pois Hollywood tem muita expectativa com essa nova obra italiana que conta também com Laura Pausini, que responde pela trilha sonora.
Uma nova indicação para Sophia Loren quebraria vários recordes e restituiria a atenção da premiação para o cinema italiano.
“Sem dúvida seria belo, mas o nosso Oscar já está no coração e na lembrança de uma experiência inesquecível”, disse Edoardo.
O diretor lembra que sua família sempre se manteve longe do showbiz e por isso ele vê o cinema como algo artesanal, como “estar a serviço de uma obra e não do ego ou da superficialidade”, valores que procura realçar neste filme que fala de “inclusão e tolerância”.
Sonia Racy
14 de novembro de 2020 | 00h40
“Esse ano está sendo devastador”, confessou à coluna Luisa Mell. “Ano passado conseguimos promover a adoção de dois mil cachorros. Esse ano, foram só 200 e o número de resgates continua crescendo”, lamenta a ativista.
12 de novembro de 2020 | 12h23
O bom e velho Charlie Brown. Essa é a história que abre o primeiro volume de uma nova coleção dedicada à mais simpática turma de amigos das histórias em quadrinhos. Peanuts. Snoopy. Minduim. Há 70 anos, em outubro de 1950, Charles Schulz dava início à sua história que passaria por algumas transformações ao longo das décadas e não sairia de moda nunca.
As tiras do Snoopy podem ser lidas diariamente no Estadão, e também em diversos livros e coleções disponíveis em bancas, livrarias e sebos - a coleção da L&PM, por exemplo, a mais completa e que apresenta as tiras ano a ano, já está com alguns dos volumes esgotados.
A Planeta DeAgostini começa agora a reunir as tiras dominicais de Charles Schulz, publicadas entre 1952 e 2000. Serão, ao todo, 61 volumes e o projeto de edição, que inclui coletâneas temáticas, deve ser concluído em junho de 2022.
Que o leitor não estranhe ao ver que o primeiro número é, na verdade, o 11º. A coleção não seguirá uma ordem cronológica e, sim, critérios adotados pelos curadores. No volume de estreia, lemos os quadrinhos de 1967, ano em que eles apareciam em nada menos do que 745 jornais dominicais e 393 diários na América do Norte.
Os livros também trazem textos escritos por Alexandre Boide e Érico Assis contextualizado as tiras e explicando suas mudanças. O preço de capa é R$ 49,99, mas há algumas promoções no site - inclusive para quem assinar.
12 de novembro de 2020 | 05h00
Nelson Rodrigues, ele tira de letra. Daniel Filho tinha 25 anos – nasceu em 1937 – quando fez Boca de Ouro, com direção de Nelson Pereira dos Santos. Quase 60 anos depois, ele volta a Nelson e ao Boca, agora como diretor. Marcos Palmeira é quem faz o papel. Daniel conta que sua geração era fascinada por Nelson – “Jece Valadão, Hugo Carvana, Ivan Cândido. Para nós, os jovens, ele era o nosso Shakespeare pela grandiosidade do texto, da dramaturgia. Nelson expunha as misérias da classe média. Mas o outro Nelson (o Pereira dos Santos) não o admirava como pessoa. Foi algo que parecia improvável. O encontro do comunista com o grande reacionário.”
Boca de Ouro – a morte do bicheiro retratada de três diferentes pontos de vista, segundo as narrativas de Guigui, a ex-amante que alterna os relatos com seus estados emocionais. “Norma Bengell seria a Guigui, mas aí houve o sucesso de O Pagador de Promessas, ela foi filmar na Europa e a Odete Lara a substituiu.” Malu Mader é a nova Guigui. Boca de Ouro – “O nosso Rashomon!”, define Daniel, citando o filme clássico de Akira Kurosawa, de 1950. Boca de Ouro foi filmado há dois anos, em 2018. Foi feito rapidamente, com economia de tempo e dinheiro, uma produção da Lereby, de Daniel, com a Globo. O diretor fez valer seu método do “take one”. A menos que houvesse algum problema técnico, as cenas – os planos – eram filmadas uma única vez. “Não sei de você”, Daniel comenta para o repórter, “mas eu, quando leio Fernando Pessoa, tenho de imitar o sotaque português. Com o Nelson (Rodrigues), ocorre uma coisa parecida. O texto do Nelson, tem aquele carioquês muito forte. Para servir ao texto, isso tem de aparecer no trabalho dos atores. Trabalhei com um elenco muito bom, e alguns deles já tinham feito A Vida Como Ela É comigo, na televisão.”
A Vida Como Ela É era o nome da coluna que Nelson Rodrigues mantinha no jornal Última Hora, no Rio. Cenas da vida cotidiana. Euclydes Marinho fez a série com Daniel e agora assina o roteiro do filme. Os diálogos estão ali, taco no taco.
Como se desteatraliza no cinema um grande texto? Daniel explica que foi na contramão. “Na verdade, teatralizei as cenas de morte, que são essenciais na trama.” A cada um seu Nelson. O Pereira dos Santos foi realista, Daniel busca a coloquialidade do texto para jogar a tragédia na cara do espectador. Entre ambos, houve uma versão fraca de Walter Avancini com Tarcísio Meira. Grandes diretores de teatro também reinventaram Boca de Ouro no palco. Zé Celso Martinez Corrêa, no Oficina, foi dionisíaco e Gabriel Villela, tropicalista.
Onde andava Daniel Filho? Nos últimos meses, como todo mundo que não necessita do auxílio emergencial, ele tem se mantido isolado. Resguarda-se da pandemia, trabalha. Aos 83 anos, integra o grupo de risco. Parou de ver o noticiário na TV. “A ignorância tomou conta deste País”, lamenta. “E não só do Brasil. Olha o absurdo dos EUA com o (Donald) Trump. Sou de um tempo, você também, em que as pessoas até podiam ser de direita, mas ninguém admitia em público. Agora é esse exibicionismo maluco. Tem candidato na eleição de domingo que briga para ver quem está mais à direita da direita. E se orgulham disso!” Como ator e diretor – de TV e cinema –, a trajetória de Daniel acumula uma impressionante sucessão de sucessos. Nem por isso sua vida é menos difícil que a de muitos diretores brasileiros.
“Quando comecei a discutir a exibição do Boca de Ouro, me ofereciam uma sessão às 4h da tarde, ou às 6h. O cinema brasileiro é estranho no próprio mercado, todo mundo sabe. Batalhei muito para que o Boca tivesse uma vida decente na tela.” O filme estreia nesta quinta, 12, em salas e depois vai para o streaming, que parece ser o destino de todo filme na pandemia. Além do Boca, Daniel tem pronto outro filme que deve encerrar o Cine Ceará, de 5 a 11 de dezembro, integrando a homenagem do festival ao ator Lázaro Ramos, que receberá o troféu Eusélio Oliveira. Trata-se de uma adaptação do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, o mestre da narrativa literária policial no Brasil, que morreu em abril.
Silêncio da Chuva, o livro é de 1996, narra a primeira aventura do inspetor Espinoza. Um homem é encontrado morto na direção de seu carro. Quem o matou, e por quê? Como nas mortes do Boca de Ouro, a morte é essencial na trama e leva um desfecho com violência e abuso. Thalita Carauta e Cláudia Abreu também estão no elenco e o Cine Ceará ocorrerá de maneira remota no Canal Brasil, no serviço de streaming Canais Globo, mas com direito a algumas sessões presenciais em Fortaleza.
Lázaro é ator e também diretor num terceiro filme ao qual o nome de Daniel Filho está ligado. Daniel produz Medida Provisória, o longa de estreia de Lázaro como diretor, um projeto que já vinha sendo gestado há oito anos.
Medida Provisória ainda não tem data para estrear. Por enquanto, a prioridade é Boca de Ouro – que Daniel define, para fechar, como “uma excelente história de paixão e poder”.
11 de novembro de 2020 | 05h00
Não são muitas as séries inspiradas em fatos reais que têm o poder de fazer o público torcer, mesmo sabendo como tudo vai terminar. The Crown, da Netflix, é uma delas. Aliás, a nova temporada, que estreia neste domingo, 15, foi feita para despertar sentimentos e paixões.
Talvez a parte da trama mais aguardada da produção – que narra as décadas do reinado de Elizabeth II, entre o fim dos anos 1970 e o início dos 1990 – desembarca com a chegada da jovem Diana Spencer, a futura Lady Di, a princesa mais amada do mundo.
'The Crown': Assistimos a série e contamos como a nova temporada escancara o coração da realeza
Em coletiva virtual, a atriz Emma Corrin dá seu palpite sobre a origem da admiração que eternizou Diana, sua personagem. O Estadão foi o único veículo brasileiro a participar. “Ela tinha um jeito de alcançar as pessoas, como nenhuma celebridade ou membro da família real conseguiram antes.”
Na quarta temporada, The Crown resgata o começo do encantamento do público, com os boatos do noivado com o príncipe Charles, e também a perseguição da imprensa, que se tornou contínua, até o fim da vida de Diana. “Ela saiu de uma rotina comum para encarar muitos desafios e, como tudo, com ganhos e perdas”, explica a atriz. “Havia um tratamento mais carinhoso do público, mas acredito que a imprensa tenha drenado suas energias. Diana ficou em dúvida sobre quem realmente era.”
E os afeitos à especulação da vida da personagem criaram sintomas imediatos. Desde o primeiro episódio, Diana é acompanhada de uma solidão cruel. E o seriado não esconde cenas bastante perturbadoras a respeito da bulimia, enfrentada pela princesa.
Para Emma, a época impediu que o problema fosse uma preocupação do palácio, o que lança a personagem ao abandono. “Ela falou bastante sobre isso em vida, em entrevistas”, lembra a atriz. “Naquele momento, a realeza hesitava em dar voz para um distúrbio alimentar, que eles não entendiam. Hoje em dia, acredito que precisamos ficar alertas, entender o que está acontecendo e respeitar a dificuldade dos outros.”
Mas também há beleza – e muita – na nova temporada. A transformação visual pela qual Diana passa é um dos pontos altos da série, que sempre abusou de uma grande produção, incluindo efeitos gráficos e belas paisagens. No que já está documentado em jornais e revistas, vê-se que Diana deixa as saias e o traje formal de estudante para um mergulho em tudo o que o luxo e as grifes podiam oferecer.
A surpresa é que Emma prefere a fase “pré-realeza” de Diana. “Gosto muito dos figurinos dela mais jovem, enquanto ainda morava com as amigas. Eu sei que são mais controversos e menos glamourosos, mas acho interessantes.”
Da fase princesa, a atriz destaca o figurino usado no sexto episódio em uma das tantas tréguas na relação com o príncipe e marido. “O meu preferido é o vestido azul, que ela usa na viagem à Austrália.” Na cena, a mãe do pequeno William descansa em uma casa no país-membro da Coroa Britânica.
A viagem fazia parte de uma turnê pelos demais estados integrantes, no momento em que alguns, entre eles a Austrália, cultivavam as primeiras ideias de independência da Coroa. Com o bebê herdeiro no colo, Diana deseja paz e Charles, a felicidade. Anseios nunca alcançados pelo casal.
Outro grande momento para a personagem, segundo a atriz, é a viagem que Diana faz, dessa vez sozinha, a Nova York. Nesse período, os Estados Unidos sofriam com a dura infecção da aids. A princesa, em mais um ato de compaixão, avesso aos de sangue real, surpreendeu.
Em visita a um hospital, Diana abraça e se compadece de uma criança soropositiva. “Ela percebe que pode ajudar muitas pessoas, por atrair a atenção para quem está necessitado”, conta Emma.
Política e guerra
O burburinho que preenche os dez episódios de The Crown não perde para a profundidade do debate político. Nesta temporada, a atriz Gillian Anderson estreia como a premiê do Reino Unido Margaret Thatcher em um registro de atuação diferente para quem viu Meryl Streep como a Dama de Ferro no cinema.
O elenco já conhecido também brilha. Helena Bonham-Carter entrega um episódio delicado sobre os primeiros sinais de demência da princesa Margaret e Olivia Colman, a rainha, ferve de indignação pelos efeitos destrutivos na política da primeira-ministra. Uma temporada de caos e lágrimas.
10 de novembro de 2020 | 09h11
Sem precisar sair de casa e enfrentar as tradicionais filas e aglomerações na Cidade Universitária, talvez apenas alguma instabilidade do site por causa da grande procura, a Feira do Livro da USP segue até domingo, 15, online, com uma ampla lista de livros com desconto - de pelo menos 50%.
Cerca de 170 editoras, de todos os portes e das mais variadas linhas editoriais, participam este ano. Ela fizeram uma seleção de livros, que pode ser consultada no site da Feira da USP. A compra é feita diretamente no site das editoras.
Feira do Livro da USP 2020 terá grandes descontos e nenhuma aglomeração
Entre as editoras estão algumas especializadas em livros para a infância, e outras mais gerais, mas que também publicam obras infantis. Pulo do Gato, Jujuba, Peirópolis, Brinque-Book, Callis, Biruta, 34, Global, WMF Martins Fontes são algumas delas.
Selecionamos 10 bons livros para crianças, à venda na Festa do Livro da USP 2020. Mas, antes, uma dica de livros para os pais: Como Falar de Arte Com as Crianças, de Françoise Barbe Gall. O livro traz informações práticas sobre obras, artistas e sobre como abordar determinadas questões com crianças entre 5 e 13 anos - ela as divide em três grupos. Conta, por exemplo, que as que têm entre 5 e 7 anos criam suas próprias histórias para o que veem na tela e se divertem imitando os personagens. Já as de 8 a 10 se encantam com as diferentes civilizações e aqueles entre 11 e 13 querem saber sobre a vida dos artistas. A autora mostra como tirar proveito dessa curiosidade. Publicado em 2012 pela WMF Martins Fontes, ele pode ser comprado por R$ 32,45.
Esse é um livro para crianças, mas com um importante recado para os adultos. Bernardo queria avisar aos pais que na casa havia um monstro, mas eles não tinham tempo para ouvi-lo, e nem perceberam quando o menino acabou sendo devorado. O livro de David McKee está de R$ 44,90 por R$ 22,45 na WMF Martins Fontes.
Cinco elefantes iniciam uma longa jornada sem saber ao certo o que procuram. Ora são pequenos, ora grandes, ora se sentem frágeis, ora solitários, mas caminham sempre juntos e juntos descobrem que as grandes conquistas não dependem do tamanho ou da distância, porque a beleza da vida está nas pequenas coisas. Um livro muito bonito e sensível do colombiano Dipacho, à venda na Pulo do Gato por R$ 20,38.
O livro do escritor e ilustrador argentino Gusti Rosemffet parte de sua própria experiência para contar, com graça e afeto, a vida vivida por crianças com síndrome de Down e suas famílias. Crianças que também ficam tristes e chateadas, que se divertem e choram, que são amorosas, piadistas, travessas. Nada de anjinhos, como se diz. Apenas crianças. Por R$ 29,95 no site da Solisluna.
Pinóquio, o célebre boneco de madeira, passa o tempo querendo ser um menino de verdade. Mas ele quer isso ou está apenas tentando corresponder às expectativas dos outros? Em Pinóquio: O Livro das Pequenas Verdades, à venda na Boitempo por R$ 22, o escritor e ilustrador Alexandre Rampazo nos colocados frente à frente com todas as possibilidades de nossas identidades pessoais e da descoberta e aceitação de si.
Um livro sobre deslocamentos e sobre se sentir diferente. Ao se mudar com o pai para uma nova cidade, Eloísa acaba por se defrontar com um mundo totalmente diferente do que conhecia, no qual se sente um verdadeiro bicho estranho. Com o passar do tempo, tudo o que a assustava começa a ser incorporado com naturalidade a sua rotina. O livro, do colombiando Jairo Buitrago e do peruano radicado na Colômbia Rafael Yockteng pode ser adquirido na Pulo do Gato por R$ 20,38. Buitrago tem outro livro interessante, sobre imigração, com desconto, na lista: Para Onde Vamos.
O clássico de Lewis Carroll ganhou, em seus 150 anos, uma edição especial da Editora 34, em dois volumes, reunidos numa caixa: Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho e o Que Alice Encontrou lá. Trata-se da tradução integral do poeta Sebastião Uchoa Leite, com diversos poemas traduzidos por Augusto de Campos e com as 92 ilustrações originais de John Tenniel. Item obrigatória na biblioteca de uma criança, o box está custando R$ 43,50.
Outro clássico - desta vez, da literatura brasileira para crianças: Ou Isto ou Aquilo, de Cecília Meireles, está à venda em duas versões pela Globla. A de capa dura vale, durante a Feira da USP, R$ 27,50. Aqui, a autora convida as crianças a se aproximarem da poesia, brinca com as palavras, explora a sonoridade, o ritmo, as rimas e a musicalidade. Um livro que vem sido lido por diversas gerações desde 1964.
Pedro Coelho, um dos mais conhecidos personagens da literatura inglesa para crianças, cuja história remonta a 1902, ganhou recentemente uma edição da Barbatana, com tradução de Rosana Rios, que pode ser encontrada durante a feira por R$ 15. O volume foi editado tal qual Beatrix Potter o imaginou - com as aquarelas em página inteira dialogando pausadamente com os textos e em formato pequeno para caber nas mãos das crianças.
Uma fábula sobre o poder da imaginação. Um ratinho, com astúcia e imaginação, vai criando um monstro terrível e assustador, o Grúfalo, e diverte-se espantando seus predadores. Mas qual não é o seu espanto ao ver sua imaginação personificada à sua frente. O Grúfalo, de Julia Donaldson com ilustrações de Axel Scheffler, está custando R$ 24 na Brinque-Book. Há outros títulos com o personagem no catálogo.
ABCDinos é um abecedário poético, concebido pelo paleontólogo Luiz E. Anelli e pela escritora e ilustradora Celina Bodenmüller. A obra traz 26 poemas e uma pílula informativa sobre dinossauros que habitaram diversas partes do planeta. No final do livro há um mapa que indica os locais onde seus fósseis foram encontrados, o que revela hoje como eram os dinossauros, onde e como viviam, o que comiam e muito mais. A criança está na fase dos dinossauros? Há outros títulos dos autores na lista da Peirópolis. ABCDinos custa, na feira, R$ 22.
08 de novembro de 2020 | 08h00
Com atuação em mais de 80 filmes em cinco décadas de carreira, o ator francês Alain Delon completa 85 anos neste domingo, 8. Estrela de produções emblemáticas, como O Leopardo (1963), de Luchino Visconti, e O Samurai (1967), de Jean-Pierre Melville, o ator anunciou sua aposentadoria em 2017 e tem ficado afastado, cada vez mais, do foco midiático.
Uma de suas últimas aparições públicas foi no Festival de Cannes de 2019, quando ganhou a Palma de Ouro honorária por sua trajetória no cinema. Também no ano passado, Delon sofreu um AVC e ficou hospitalizado por três semanas.
Sonia Racy
08 de novembro de 2020 | 00h40
Em um ano marcado pela morte de George Floyd e manifestações pelas vidas negras nos Estados Unidos e no mundo, nasceu no Brasil o movimento Pretos na Moda. O que vem a ser? Trata-se de um coletivo formado por modelos, artistas e empreendedores negros e está por trás das mudanças implementadas na edição virtual da SPFW – que se encerra hoje.
O evento baixou regra este ano, obrigando o casting de modelos de todos os desfiles ser composto em 50% por negros, afrodescendentes ou indígenas. “A proposta, encampada por Paulo Borges, responsável pelo evento, ainda é uma ação de curto prazo”, ressalta Natasha Soares, modelo à frente do coletivo. “Mas estamos batalhando para torná-la permanente”. Confira trechos da conversa com a coluna:
Venceram uma batalha, quais foram as barreiras que enfrentaram no caminho?
O Paulo Borges foi muito receptivo, nós e o evento entendemos que é um momento de mudança. É necessário que a moda nacional represente o Brasil. Nossa ideia é trazer essa proporcionalidade racial para todos os criativos que exibem sua marca neste evento, e não exclusivamente para os modelos.
Além da discrepância salarial entre as modelos de diversas origens, quais são os outros obstáculos do mercado?
A oportunidade. Existe uma certa obsessão do mercado com as tops brasileiras que fizeram sucesso no começo dos anos 2000. E é este tipo de modelo, com beleza estabelecida, que acaba conseguindo mais trabalhos na moda. Existe a necessidade de quebrar esse padrão.
Quais os próximos passos do projeto Pretos na Moda?
Temos a intenção de ir para outras ramificações da moda. Queremos entrar na publicidade, na questão da grade de cachês. Queremos igualdade no pagamento. Queremos entrar nas revistas também. O mercado da moda brasileiro abrange muita coisa, ainda mais hoje em dia, com toda essa tecnologia. O Instagram virou a fonte de renda de muita gente nesse período de quarentena, então nós queremos, de alguma forma, padronizar isso e deixar mais justo para todos.
A SPFW foi a primeira semana de moda no mundo a adotar a proporcionalidade racial em seus desfiles. Acha que será uma tendência?
Acho que é um bom parâmetro a se seguir. É necessário entender a mudança que a sociedade tem demonstrado, e acredito que o mundo da moda tem essa sensibilidade.
05 de novembro de 2020 | 05h00
Andréa Beltrão esteve recentemente no ar, na Globo, com a minissérie Hebe – inspirada no filme – e também com Tapas & Beijos, em que formou aquela dupla com Fernanda Torres. Fátima & Sueli, Sueli & Fátima. “Adorei rever. Toda terça eu me sentava bem aplicada para ver aquelas duas. E também não perdia a Hebe”, confessa. Por Hebe – A Estrela do Brasil –, Andréa foi indicada para o Emmy Internacional de melhor atriz, que deve ocorrer neste mês, dia 23, de forma remota, em Nova York. Andréa gravou um vídeo de uma hora e meia que está sendo editado para ser apresentado no show de premiação. Não tem muita expectativa de ganhar.
“Imagina, estou concorrendo com a Glenda Jackson. Só isso já é o máximo. Sempre fui a maior admiradora dela. Estava no exterior, e a Glenda fazia no teatro o Rei Lear. Ingressos esgotados. Fiz de tudo para conseguir ver. Rei Lear! Que coisa mais maravilhosa.” O fato de destacar a grande Glenda, duas vezes vencedora do Oscar – por Mulheres Apaixonadas, de Ken Russell, e Um Toque de Classe, de Melvin Frank, em 1970 e 73 –, não significa que Andréa subestime as outras duas concorrentes, a alemã Emma Bading e a malasiana Yeo Yann Yann. “Devem ser muito boas, também.” A própria Andréa, encerrada a pandemia, deve voltar ao teatro com Antígona, outra personagem clássica. E, nesta quinta, estreia nos cinemas de São Paulo e Rio com Verlust. O longa de Esmir Filho teve estreia presencial na Mostra, no Drive-in Belas Artes. Daqui a duas semanas, chegará ao streaming. Andréa divide a cena com Marina Lima, também autora da trilha, e com o chileno Alfredo Castro, Ismael Caneppele e Fernanda Pavanelli.
“Sempre tive a maior admiração pelo Esmir, desde que vi Os Famosos e Os Duendes da Morte. A maneira como ele filma a juventude com suas necessidades vitais, em ambientes fechados, reprimidos. Achava que seria muito interessante trabalhar com ele. Queria isso. Um dia ele me chama. Me convida para almoçar e me apresenta o projeto. Aceitei sem nem ler o roteiro.” Teatro, cinema e TV. Nesta segunda, 2, Andréa voltou aos estúdios da Globo para iniciar a gravação da novela das 9 que substituirá Amor de Mãe, a próxima depois da reprise de A Força do Querer. Um Lugar ao Sol tem texto de Lícia Manzo. “Ela estreia na faixa das 9 depois de fazer sucesso no horário das 6 e das 7. Um Lugar ao Sol também marcará a volta do Maurício à direção de novelas.” Andréa refere-se ao marido, Maurício Farias, parceiro na arte e na vida. Com ele fez Hebe, Tapas & Beijos e muito mais. Comenta: “Estou muito animada, mas vai ser uma loucura gravar a novela com os atuais protocolos de segurança. Máscara para tudo, álcool em gel e, para ter cena de beijo, a gente terá de fazer testes rigorosos para ver se não está com covid.”
Verlust foi gravado no Uruguai. “Uma praia linda, e aquelas casas sensacionais.” A praia chama-se José Ignácio, distante uns 40 minutos da mais badalada Punta Del Este. Possui o farol de mesmo nome. A sinopse que se encontra no catálogo da Mostra – em 2020, membros da elite intelectual do Brasil decidem se mudar para uma praia distante. Como símbolo da estrutura degenerativa, política e social do País, uma gigantesca criatura marinha chega à praia e se transforma em catalisadora de conflitos.
Quem vê o filme, aqueles personagens isolados, o clima de insatisfação e degradação, tudo leva a crer que se trata mesmo de 2020, mas Verlust foi filmado em 2018. É o nosso olhar de espectadores, neste momento que estamos vivendo, que faz do filme um reflexo do estado do mundo ou a arte antecipou a realidade? Andréa reflete. “A gente ouve sempre que a arte pode ser um farol e o artista tem uma intuição do que poderá vir a ser. Eu mesma experimentei isso recentemente, com três trabalhos.”
Quando se uniu a Amir Haddad para fazer Antígona, o grande diretor a questionava sobre sua motivação mais íntima. “Dizia que eu tinha de descobrir por que queria tanto fazer o texto clássico, e insistia que, se eu não chegasse lá, seria apenas mais uma peça em minha vida. Foi muito mais que isso.” Na peça de Sófocles, Antígona confronta o poder para enterrar o irmão. O questionamento da lei e da (des)ordem do Estado tornou o texto atualíssimo. Parecia que a gente estava fazendo teatro político, mandando mensagem.”
O caso de Hebe também foi especial. “A Carolina Kotscho escreveu o roteiro, o Maurício ia dirigir e ela me via como a Hebe. Eu dizia que não, que havia muitas atrizes que eram inclusive parecidas com ela. Por que eu? Comecei a ler tudo sobre a Hebe, a ver suas entrevistas. Inicialmente, a imitava, e não estava gostando. O Maurício me dizia para ter calma, me incentivava a buscar a ‘minha’ Hebe. E aí um dia ela veio, tive o meu click. Por que a Hebe? Porque ela era uma mulher de direita, mas não aceitava que a censura e os militares dissessem quem ela podia entrevistar no seu sofá. Hebe era pela diversidade. Quando finalmente fizemos filme não sabíamos que a situação ia se reproduzir neste país que ficou tão conservador e discricionário.”
Da mesma forma, o Esmir. “Gostei muito do filme, quando o vi. Acho que tem tudo a ver com o que estamos vivendo. O Esmir foi visionário? Foi, e eu me sinto muito honrada de estar no filme dele.” Andréa de todas as mídias. Tapas & Beijos? “Era muito bem escrita e realizada, com um timing de comédia muito bom. Naquela equipe todo mundo estava ajustado no mesmo ritmo, pegando junto. Revi tendo o maior prazer. Não envelheceu nada. Na rua, nas redes sociais, Sueli e Fátima continuam sendo personagens com quem as mulheres podem se identificar.”
Antígona? “Ainda tenho de fazer a peça por mais um tempo, mas está difícil recomeçar as atividades do Teatro Poeira (no Rio). É um teatro pequeno, e com os protocolos de segurança e o distanciamento, abriga pouca gente. Marieta (Severo) e eu já providenciamos toda a segurança, mas com público reduzido não paga nem as despesas. Enquanto não resolvemos isso eu fico buscando novos projetos. Tenho lido muito, escrito. O que fazer na pós-pandemia? A vida está difícil para todo mundo, mas ainda está mais difícil para quem já sofre com a desigualdade social. A gente liga a TV no noticiário e é esse descaso com a vida das pessoas, com a natureza. Não é um problema só do Brasil, é planetário. A arte nos ajuda nesses momentos. Só espero não perder a fé de que um dia tudo dará certo.”
Cenário
Não apenas as casas ultramodernas, mas a paisagem também é personagem. A praia, o mar. É muito provável que José Ignacio passe a integrar a lista de seus destinos sonhados para viagens quando a pandemia acabar.
Trilha
Marina Lima também participa do filme como atriz. Esmir Filho confirma o que as músicas e documentários já antecipavam – Marina tem temperamento de atriz. Canta como quem atua – atua como quem canta?
Ator
Alfredo Castro, que faz o fotógrafo Constantin, é um dos mais conhecidos atores chilenos de teatro e cinema, presente em praticamente todos os filmes do diretor Pablo Larraín – Fuga, Tony Manero, No, O Clube, Neruda.
06 de novembro de 2020 | 05h00
Em A Arte de Viver, novo álbum de Toquinho, há dois tipos de rei. Um é aquele idealizado nas histórias românticas que rouba – com consentimento – o coração de sua amada. O outro é um autoritário que, com suas atitudes, acaba por impingir sofrimento ao povo – e este, mais uma vez, tenta dar a volta por cima. Ambos os personagens nasceram das cordas do violão do paulistano Toquinho e das palavras do poeta carioca Paulo César Pinheiro. Os dois assinam todas as 11 canções do disco que chega às lojas e plataformas digitais hoje, 6, em lançamento da gravadora Deck, com produção de Rafael Ramos.
“Fomos fazendo sem pretensão, música por música, até atingirmos um número de canções que julgamos estar linkadas no nosso DNA. Não pensamos no disco em si, mas nas composições propriamente. A unidade veio com o meu violão, que foi a base de tudo”, diz Toquinho. O trabalho foi feito a distância. Toquinho mandava as canções e Paulinho fazia os versos. “Elas já iam prontas melódica e harmonicamente e as letras que vinham eram irretocáveis. Paulinho é um grande poeta, com muita técnica. Eu nem mandava os temas. Temos m gosto musical muito parecido: música brasileira.”
Essa afinidade fica explícita na faixa Mão de Orfeu, na qual eles homenageiam o violonista Baden Powell (1937-2000), parceiro de Paulinho em sambas como Lapinha, Vou Deitar e Rolar e Cai Dentro. Para Toquinho, Baden é uma “entidade” que o guiou com sua técnica e brasilidade. “Não dá para esquecer o seu violão vadio gemer”, diz um dos versos da música que traz citações de Samba da Bênção e Deixa, ambas parcerias do músico com Vinicius de Moraes da década de 1960, pouco antes de o Poetinha se tornar parceiro de Toquinho. Ou seja, a vida e a arte dos quatro amarradas pelo fio da música.
A história do rei que, apaixonado, toma o coração da rainha está na modinha Rainha e Rei, uma das canções de amor na qual Toquinho divide o vocal com a cantora Camilla Faustino. A parceria também está em Roda da Sorte, que versa sobre a passagem do tempo e a importância de acompanhar a ciranda da vida.
Esse mesmo tema aparece de forma mais descontraída no samba que dá nome ao disco. A Arte de Viver aponta caminhos para levar a vida um pouco menos a sério, sem sofrer em demasia com os reveses que ela apresenta. “O mundo é um brinquedo para quem merecer”, sentencia a letra. “Ela serve como um conselho para quem se preocupa demais com a vida. A arte de viver é improvisada. Em tempos atuais, então, com essa pandemia, é preciso deixar mais leve tudo aquilo que nos pesa cotidianamente”, ensina Toquinho, aos 74 anos.
Como nem tudo são flores, o desamor aparece em Papo Final, um diálogo em que um homem faz de tudo para reconhecer os erros e tenta retomar um relacionamento, mas a amada não quer saber de volta. A canção tem a participação da cantora Maria Rita. A turbulência de uma relação a dois também está em Amor Pequeno, que conta com o bandolim de Hamilton de Holanda.
O disco não deixa de tocar em feridas sociais e políticas do povo brasileiro. Na faixa Tudo de Novo, um “rei” autoritário mata o sonho e deixa a esperança de uma nação na corda bamba. Paulinho usa sua voz rouca para cantar Coitado do povo, entrou mais um rei/ E vai começar tudo de novo. É a única vez que a voz do compositor aparece no álbum.
Em Fato Novo a mensagem se dá de forma mais direta ao citar as investidas da Polícia Federal para tentar frear a corrupção em Brasília. Só tem réu confesso com muito processo/ Enchendo o Supremo Tribunal/ Só falta o Congresso entrar em recesso/ Por causa da ficha criminal, diz o samba, que aponta “os tempos de Cabral” como o início da prevaricação no país. “O Brasil é corrupto, triste, sempre tem algo desagradável. Que vergonha isso!”, diz.
Futuro. A capa de A Arte de Viver é uma criação do artista gráfico Elifas Andreato, conhecido por assinar trabalhos de nomes da música brasileira como Chico Buarque, Paulinho da Viola, Tom Zé, entre outros. Andreato já havia criado para Toquinho as capas de Toquinho e Vinicius (1975), Aquarela (1983) e 30 Anos de Música (1994). Valendo-se da música que abre o disco, o artista colocou o compositor de costas, olhando para o futuro por meio de um espelho de camarim, mas cercado do seu passado – representado pelas fotos de Toquinho em diferentes fases da vida.
Apesar de A Arte de Viver ter uma versão em CD, Toquinho diz que se sente feliz por experimentar, pela primeira vez, o lançamento de um disco de inéditas nas plataformas digitais – Papo Final e Rainha e Rei foram lançadas como singles e ganharam clipes no YouTube.
05 de novembro de 2020 | 05h00
Juntar os cacos. Recomeçar. O mercado editorial viveu tantos altos e baixos nos últimos anos, assistiu à ascensão e queda da Cultura e da Saraiva, entrou em recessão, fechou temporariamente livrarias para combater o coronavírus, fez campanha de financiamento coletivo para ajudar as independentes a passar por este momento e está voltando a respirar – e tendo agora a chance de fazer diferente.
Quem termina 2020 mais fortalecido, e investindo na ampliação do negócio, como a Livraria da Vila e a Livraria Leitura, está fazendo isso com mais cautela. Nada de lojas deficitárias abertas por muito tempo, tamanhos além de suas possibilidades ou grandes empréstimos para abrir novas unidades – alguns dos erros cometidos pelas duas redes que estão em recuperação judicial e à espera, nos próximos dias ou semanas, de definições que vão garantir, ou não, o seu futuro.
E a situação não está fácil para elas. A Livraria Cultura, que começou antes seu processo de recuperação judicial – ele foi homologado em abril de 2019 e o da Saraiva, em setembro –, enfrentou credores desconfiados em sua assembleia, que preferiram não aprovar seu novo plano, pavimentando, assim, o caminho para a falência. A rede de Pedro Herz recorreu e ganhou mais prazo, mas o cerco vai se fechando. O juiz responsável pela condução da recuperação cobra relatórios e diz que o descumprimento do plano já atinge, por exemplo, 84,7% dos créditos alimentares devidos aos credores trabalhistas. Para piorar, a Globo Livros entrou, individualmente, com o pedido de falência da Cultura porque ela não pagou por livros comprados depois do acordo de recuperação.
Já a Livraria Saraiva, que adiou duas vezes a assembleia com seus credores, deve divulgar um novo plano no dia 16 e uma assembleia deve ocorrer no dia 24. Se eles aceitarem, ela segue na luta. Se não aceitarem, fica na mesma situação crítica da Cultura.
A Saraiva tem 41 lojas – eram 84 há dois anos. E a Cultura, 14.
Quando a crise econômica começou a ser sentida pelo mercado editorial, Samuel Seibel deu um passo para trás. Diminuiu drasticamente o tamanho de suas lojas dos shoppings Cidade Jardim e JK Iguatemi, de cerca de 2.500 m² para 400 m², e do Higienópolis, de 800 m² para 500 m². Ele acredita no modelo de livraria mais compacta, e quando surgiu a oportunidade de abertura de mais três lojas, em espaços ainda menores, ele não pensou duas vezes. Em dezembro, a Livraria da Vila chega ao Shopping Eldorado e ao Park Shopping São Caetano. Em 2021, ao Anália Franco. As novas livrarias terão cerca de 200 m².
Com essas inaugurações, a Vila, que já é a maior em número de lojas na Capital, terá, no começo do próximo ano, 13 lojas – 9 aqui, essa de São Caetano e as de Guarulhos, Curitiba e Londrina. Num eventual desfecho desfavorável para a Cultura, ela deve herdar os clientes de Pedro Herz. Mas Seibel prefere não pensar nisso, trabalha no seu ritmo, de acordo com suas possibilidades. “O que procuramos é atuar com os pés no chão e ter um equilíbrio entre o controle e a ousadia. Um misto de cautela sem perder de vista as oportunidades”, diz o livreiro – que só no fim de 2019 lançou seu e-commerce. Enquanto prepara a expansão de sua rede, ele acompanha com apreensão as notícias sobre a possível taxação do livro e assiste a uma melhora no desempenho das vendas depois da reabertura.
Samuel Seibel prefere as lojas pequenas, mais fáceis de serem administradas, e gostaria de estar em cidades que não contam com livrarias. Por outro lado, Marcus Telles, sócio da rede mineira Leitura, não se preocupa com o tamanho e não tem medo das megastores – em 2021, deve inaugurar 12 delas. Nesta quarta, 4, com a abertura de uma unidade de 1.100 m² no Recife, ela chegou a 77 livrarias em 20 Estados. Vai fechar o ano com 79, já que ainda inaugura uma no Shopping Mooca e outra do Diamond Mall, em Belo Horizonte.
Com o enxugamento da Saraiva e a ousadia e estratégia de Telles, a Leitura se tornou a maior rede em número de lojas do País. Embora saiba que, na média, uma livraria nova se paga em seis anos, ele não mantém uma loja deficitária aberta por mais de dois anos, independentemente do investimento feito. Ele já chegou a suspender seu e-commerce por isso.
Marcus Telles não tem medo que aconteça com sua empresa o que está acontecendo com a Cultura e a Saraiva. “Elas estavam dando prejuízo há muito tempo e acumularam muitas dívidas. A Leitura tem caixa positivo, com pouquíssimas dívidas e com capital aplicado superior a essas dívidas”, comenta – e conta que cerca de 90% do investimento é próprio. “Há mais de 20 anos, sempre fechamos no mínimo uma loja deficitária por ano. Em 2020, foram duas, mas estamos abrindo 9. Temos lucro líquido distribuído e parte dele reinvestida todos os anos, com exceção entre abril e agosto devido à covid-19. E mesmo com a pandemia mantivemos as contas em dia. Enquanto estivermos crescendo com lucro e saúde financeira, vamos manter nossos investimentos. Acreditamos nos livros e nas livrarias”, explica o livreiro. No momento, ele está em negociação com shoppings para instalar uma Leitura onde antes havia uma Saraiva e prevê mais 5 lojas em São Paulo para o ano que vem – hoje, são 7 na capital, contando a do Shopping Mooca, e 8 no interior.
Rui Campos, dono da Travessa, também tem novidades. Ao incorporar a casa vizinha à sua pequena loja da Rua dos Pinheiros, sua primeira livraria de rua paulistana vai dobrar de tamanho, ficando com 400 m² até o começo do ano.
Alexandre Martins Fontes, dono da Martins Fontes Paulista e da unidade da Dr. Vila Nova, acredita que dá para crescer sem precisar expandir. “Vamos continuar investindo muito nas duas livrarias e no site, mas não temos planos de abrir outras lojas. Não tenho vocação para administrar uma rede de livrarias. Estou muito otimista em relação ao nosso futuro. Sinto que temos ainda muito a crescer e a realizar”, comenta o livreiro. Ele diz torcer para que outras redes ocupem os espaços vagos na cidade, e destaca o surgimento das livrarias de bairro, como a Mandarina e a Livraria da Tarde. “Precisamos, desesperadamente, de mais livrarias”, conclui. Alexandre, aliás, é idealizador do projeto Retomada das Livrarias, que ajudou financeiramente 53 pequenas e médias lojas afetadas pela pandemia – Mandarina e Tarde entre elas.
Há um ano e três meses a Mandarina era instalada numa casinha de Pinheiros. As sócias Roberta Paixão e Daniela Amendola deram um novo passo e inauguraram na terça, 3, um ponto de venda no café e casa de eventos Marché de Fête, no mesmo bairro. Haverá 500 títulos lá, mas também será possível comprar pelo site, criado na pandemia, e retirar no local. “Vimos que esse modelo de livraria de rua dá muito certo. Elas são um ponto de encontro acolhedor, com um café gostoso e curadoria. Isso ajuda a criar uma clientela fiel e recorrente”, explica Roberta.
Mais ou menos na mesma época que a Mandarina era aberta na Ferreira de Araújo, Monica Carvalho Pereira entrava no ramo e inaugurava a Livraria da Tarde, na Cônego Eugênio Leite. A crise já tinha se instalado para a Cultura e para a Saraiva, mas as independentes começavam a renascer nos Estados Unidos – hoje há um movimento importante também na Inglaterra em defesa delas e contra a Amazon. “A pandemia assustou, mas sobrevivemos e aprendemos. Algumas editoras têm feito movimentos de apoio às livrarias independentes porque reconhecem o valor delas, que são a principal vitrine para expor e divulgar seus livros. Além disso, ganhamos novos clientes e afeto”, diz. Esse cuidado com o pequeno livreiro pode ser um dos legados da crise das varejistas e da pandemia, quando ficou evidente a necessidade de um ponto de venda físico para um novo livro ser descoberto.
“A chegada de novos empreendedores e de novas gerações tem fortalecido o mercado. Vemos várias livrarias de rua em São Paulo ocupando seu espaço e se fortalecendo apesar das dificuldades atuais”, comenta Bernardo Gurbanov, presidente da Associação Nacional de Livrarias, que estima haver 90 livrarias na cidade.
Em vídeo, Britney Spears diz a fãs que está 'ótima' e nunca esteve 'mais feliz'
04 de novembro de 2020 | 08h39
A estrela pop Britney Spears procurou tranquilizar os fãs preocupados com sua saúde mental, dizendo que “nunca estive mais feliz”.
Spears, cujos assuntos profissionais e pessoais são controlados pelo pai desde 2008, publicou um vídeo no Instagram no qual tratou das reportagens persistentes segundo as quais não está bem.
Como a polêmica música 'Wap', de Cardi B, se tornou um para-raios político
“Sei que tem havido muitos comentários e muitas pessoas dizendo muitas coisas diferentes a meu respeito, mas só quero que vocês saibam que estou ótima”, disse a cantora de 38 anos no vídeo na segunda-feira.
“Nunca estive mais feliz na minha vida”, acrescentou.
Um grupo de fãs pequeno, mas barulhento, lançou a campanha #FreeBritney, que almeja encerrar uma curadoria ordenada por um tribunal que entrou em vigor quando Britney sofre um colapso mental cerca de 12 anos atrás.
O grupo acredita que a intérprete de Womanizer está sendo mantida como prisioneira em sua casa na área de Los Angeles e que está enviando sinais cifrados nos quais implora para ser libertada através de suas redes sociais, que normalmente consistem em selfies ou dança.
Britney retomou a carreira depois do colapso, mas se internou brevemente em uma clínica de saúde mental no ano passado e não se apresenta em público desde outubro de 2018.
02 de novembro de 2020 | 11h45
O astro de Hollywood Johnny Depp perdeu nesta segunda-feira, 2, sua batalha alegando difamação contra um tabloide britânico que o rotulou de “espancador de esposa”, depois que um juiz da Suprema Corte de Londres decidiu que ele havia agredido repetidamente sua ex-parceira, colocando-a numa posição de temer por sua vida.
Em uma decisão que poderá prejudicar seriamente a reputação e a carreira de Johnny Depp, o juiz Andrew Nicol afirmou ter aceitado as alegações da ex-mulher do ator, a atriz Amber Heard, de que ele a havia agredido violentamente durante seu tempestuoso relacionamento de cinco anos.
Johnny Depp acusa ex-mulher de mentir em ação por difamação contra tabloide
“Eu descobri que a grande maioria dos alegados ataques à Sra. Heard pelo Sr. Depp foram comprovados de acordo com o padrão civil”, disse Nicol. “O reclamante não obteve sucesso na ação por difamação.”
Os advogados de Depp descreveram a decisão como “perversa e desconcertante” e disseram que seria ridículo ele não apelar.
Depp, 57, estrela de filmes como Piratas do Caribe e Edward Mãos de Tesoura, processou o News Group Newspapers, os editores do Sun e um de seus jornalistas, Dan Wootton, por causa de um artigo de 2018 que afirmava que ele tinha sido violento com Heard, 34.
O jornal também questionou o fato de ele ter sido escalado na franquia de filmes Animais Fantásticos e Onde Habitam.
Nicol decidiu que as alegações do jornal eram “substancialmente verdadeiras”.
Ao longo de três semanas na Suprema Corte de Londres em julho, o juiz ouviu evidências de Depp e Heard sobre seu casamento, supostos casos amorosos, seu estilo de vida hedonista, a batalha contra bebidas e drogas, e suas brigas furiosas.
Cada um acusava o outro de explosões violentas.
Heard disse que Depp se transformava em um alter ego ciumento, “o monstro”, depois de consumir drogas e álcool. Ele ameaçou matá-la com frequência, ela afirmou. Heard detalhou 14 ocasiões de violência extrema quando disse que o ator a estrangulou, esmurrou, estapeou, deu uma cabeçada e chutou.
Nicol disse que aceitava 12 desses relatos como verdadeiros, incluindo a agressão a Heard após sua festa de 30 anos e um outro incidente que a deixou com os olhos roxos. Ele também apoiou a descrição de Heard de um período de três dias de “ataques contínuos e múltiplos” enquanto eles estavam na Austrália.
01 de novembro de 2020 | 18h05
O ator Tom Veiga, o intérprete do papagaio Louro José, do programa Mais Você, foi encontrado morto em sua casa na Barra da Tijuca, no Rio, neste domingo, 1º, segundo informou a TV Globo. "Estamos de coração partido. Nossos sentimentos aos familiares e amigos", informou a emissora no Instagram.
Junto com a apresentadora Ana Maria Braga, o ator somou mais de 20 anos de trabalho no 'Mais Você'.
Ana Maria Braga lamenta a morte do ator Tom Veiga, o Louro José, do 'Mais Você'
Em janeiro deste ano, o ator se casou com Cybelle Hermínio Costa, no Rio de Janeiro. Na época, Ana Maria Braga não pode comparecer na cerimônica pois estava em fase de tratamento de um câncer.
No entanto, a união com Cybelle teve fim em outubro deste ano. Ele deixa uma filha do primeiro casamento com Alessandra Veiga.
Rodrigo Fonseca
01 de novembro de 2020 | 08h31
Rodrigo Fonseca
Responsável por redefinir as bases do cinema de ação, ao lado de “Duro de Matar” (1988), no apogeu do gênero, “Máquina Mortífera” (“Lethal Weapon”, 1987), o “Cidadão Kane” de seu filão, vai voltar a prateleira que popularizou ainda mais sua grife no Brasil: a grade da TV aberta. Lançada na televisão nacional na “Tela Quente”, em 1993, a produção de US$ 15 milhões, que faturou US$ 120 milhões, vai ser transmitida pela Globo, às 2h deste feriado de Finados, no “Corujão”, com sua estonteante dublagem original, feita nos estúdios da Herbert Richers. Rodado na Califórnia, o longa-metragem nasceu de um roteiro do então jovem Shane Black, realizador de “Homem de Ferro 3” (2013), vendido por US$ 250 mil. Nele encontramos uma fórmula que recaracterizou a representação da violência na telona: o buddy movie, um biprotagonismo de heróis de temperamentos diferentes. De um lado, na trama, temos o experiente sargento Roger Murtaugh, confiado a Danny Glover, dublado aqui por Márcio Simões: trata-se de um homem da lei centrado, ocupado com sua família. Do outro lado vem o destemperado Martin Riggs, que catapultou Mel Gibson (na voz de Júlio Chaves) ao status de astro rei: trata-se de um ex-combatente do Vietnã, hábil em lutas marciais e bom de bala, que está em ideação suicida por conta da morte de sua mulher. Murtaugh é obrigado a unir forças a Riggs durante a investigação do suicídio de uma jovem, que pode estar articulada a uma rede de tráfico ligada ao ex-militar Peter McAllister (Mitchell Ryan) e seu braço direito, o assassino Joshua (Gary Busey). Essa conexão, que coloca os dois em risco, inicia uma amizade seminal, que rendeu, na indústria do audiovisual, uma franquia milionária, que rendeu US$ 953 milhões e inspirou uma série homônima.
A direção do longa que a Globo exibe esta madrugada é de Richard Donner, que vinha do cult “O Feitiço de Áquila” (1985). Chegaram a cotar Leonard Nimoy (1931-2015), o Sr. Spock, para a direção, mas ele preferiu investir em “Três Solteirões e Um Bebê” (1987). Todos ganhamos com isso, pois Donner, que já havia brilhado em “A Profecia” (1976) e “Superman: O Filme” (1988). A Warner chegou a considerar a escalação de Bruce Willis para ser Riggs, mas o interesse de Gibson em trabalhar com RD mobilizou o cineasta, estabelecendo uma parceria seminal, que rendeu ainda “Maverick” (1994) e “Teoria da Conspiração” (1997). Vale destacar que Rorion Gracie trainou Gibson e outros atores nas artes de jiu-jitsu, para emprestar mais realismo à narrativa.
Indicado ao Oscar de melhor som, “Máquina Mortífera” vai estar disponível também via Globoplay, em paralelo à transmissão da TV.
p.s.: Alexandre Marconato, um dos mais prolíficos e talentosos dubladores do Brasil, foi incumbido de dublar o (quase) galã Ed Skrein na versão brasileira de “Carga Explosiva: O Legado” (2015), que a TV Globo exibe esta noite, com a promessa de acelerar corações às 22h50, no “Domingo Maior”, seu canteiro semanal de adrenalina. É um filme com atestado de diversão garantida para um início de semana. Celebrizado na carcaça musculosa de Jason Statham entre 2002 e 2008, Frank Martin, o ás do volante da série “Carga Explosiva” (“The Transporter”), voltou a queimar os pneus do sucesso em sua volta às telas na pele de Skrein, o Daario Naharis do seriado “Game of Thrones”.
p.s.2: Falando de TV aberta e de Globo: a “Tela Quente” desta segunda exibe um dos filmes mais importantes da década: “Corra!”, de Jordan Peele, um fenômeno de bilheteria em 2017.
p.s.3: É um atestado de excelência o desempenho da dupla Manolo Rey e Wendel Bezerra a dublar John David Washington e Robert Pattinson em “Tenet”, o melhor filme de 2020.
31 de outubro de 2020 | 09h36
Atualizado 31 de outubro de 2020 | 10h18
O ator escocês Sean Connery, conhecido pelo papel do agente James Bond, morreu aos 90 anos. O anúncio foi feito na manhã deste sábado, 31, pela família do ator à BBC. Ele morreu enquanto dormia, durante uma estadia nas Bahamas. De acordo com a BBC, o ator enfrentava problemas de saúde há algum tempo. Ele celebrou o último aniversário em agosto.
Connery foi o primeiro a interpretar o icônico agente 007 nos cinemas e fez parte de sete filmes da franquia. Ele foi vencedor de um Oscar de melhor ator coadjuvante em 1988 pelo filme Os Intocáveis. O ator também venceu dois Baftas e três Globos de Ouro.
Sean Connery foi criado em uma região pobre de Edimburgo e trabalhou como polidor de caixões, leiteiro e salva-vidas antes de a prática de musculação, um de seus hobbies, ajudá-lo a iniciar a carreira na atuação que o transformou em uma das maiores estrelas do mundo. Ele será lembrado como o primerio agente 007, criado pelo escritor Ian Fleming e imortalizado por Connery em uma série de filmes que teve início em 1962, com 007 contra o Satânico Dr. No.
Na pele do agente secreto, seu jeito cortez e humor irônico ao despistar vilões e conquistar bonitas mulheres formavam uma espécie de máscara que escondia um lado mais escuro e violento. Sua interpretação estabeleceu um alto padrão para os atores que o sucederam no papel.
Apesar de se apresentar nos filmes com a clássica frase "Bond, James Bond", Connery não era feliz por ser definido por esse papel e chegou a dizer que "odiava aquele maldito James Bond". Alto e bonito, com uma voz rouca que combinava com uma personalidade às vezes difícil, Connery interpretou uma série de papéis famosos.
Connery era um grande apoiador da independência da Escócia e tatuou as palavras "Escócia para sempre" no braço quando serviu à Marinha britânica. Em 2000, aos 69 anos, foi condecorado pela rainha Elizabeth II e recebeu o título da ordem da cavalaria vestindo trajes típicos do país. Com esse reconhecimendo da rainha, ganhou o título de sir. /Com informações da REUTERS
30 de outubro de 2020 | 05h00
Nos últimos meses, Paulinho da Viola anda mais apegado ao violão e afastado de seu cavaquinho. Compõe, mas também tem recuperado canções do baú, algumas inacabadas, outras esquecidas. E há tempos não pisa na pequena marcenaria que mantém no quintal de sua casa, no Rio, onde gosta de reparar instrumentos e outros objetos de madeira. Como se, neste período de pandemia, o processo de criação – e de literalmente colocar a casa em ordem – se mostrasse mais urgente. “Estou fazendo muita coisa aqui em casa, agora mesmo eu estava mostrando para meu filho algumas composições para violão. Estava tentando também me lembrar de um samba. A gente vai mexendo com música e outras coisas da casa. Então, não tenho ficado aflito, não, só preocupado como todo mundo”, comenta o músico, assim que começa a conversar com a reportagem, por telefone. “Aproveitei para arrumar meus discos também, separar aquilo que não quero mais.”
Mesmo sem nunca parar de compor – a seu modo, sem pressa, geralmente estimulado por algum momento ou alguma ideia –, o músico de 77 anos ainda não tem data para lançar seu aguardado disco de inéditas – o último foi o clássico Bebadosamba, de 1996. Mas, em tempos também de resgates, a gravação ao vivo de shows que ele apresentou durante quase um mês no Teatro Fecap, em São Paulo, em 2006, deu origem ao disco Sempre Se Pode Sonhar, que chega nesta sexta-feira, 30, às plataformas digitais. A capa leva a assinatura de Elifas Andreato, que ilustrou 14 álbuns ao longo da carreira de Paulinho, como o icônico Nervos de Aço, de 1973. O compositor e cantor conta que esse registro estava guardado com ele havia 14 anos. Como precisava fazer mais um projeto com a Sony, ele apresentou o material à gravadora, que quis lançá-lo.
Segundo o músico, ele demorou para ouvir as gravações, porque elas estavam em um tipo de arquivo que não era fácil acessar. Assim, só após a conversão para outro suporte é que ele pôde ouvi-las – e diz ter se surpreendido com a qualidade dessas gravações. Nesse processo, João Rabello, seu filho, o ajudou a selecionar a melhor versão de cada uma delas para o novo álbum.
De fato, o teatro foi projetado com uma acústica digna de um estúdio. E a longa temporada realizada por Paulinho inaugurou o espaço, a convite do diretor artístico do Fecap, Homero Ferreira. Foi uma sequência de shows impecáveis – ele faria uma segunda temporada anos depois no mesmo local, com apresentações também devidamente registradas.
Logo na estreia, Paulinho mostrou um repertório que pouco mudaria ao longo dos demais shows, mesclando clássicos, como Nervos de Aço, Timoneiro, Coração Leviano e Dança da Solidão; músicas que não cantava ao vivo havia tempos, como Não Quero Você Assim; e novas canções em sua interpretação, como Para Mais Ninguém (que já tinha sido gravada por Marisa Monte em Universo Ao Meu Redor, de 2006), Sempre Se Pode Sonhar (parceria com Eduardo Gudin, que foi lançada originalmente no disco do músico paulistano, Um Jeito de Fazer Samba, em 2006) e Ela Sabe Quem Eu Sou, inédita até agora e que, no novo disco ao vivo de Paulinho, ganha sua primeira gravação.
Ainda nessa safra de novidades estava o samba Talismã (gravada depois, em 2007, no álbum Acústico MTV de Paulinho), que foi fruto da parceria com Marisa Monte e Arnaldo Antunes – e de um desafio lançado por Paulinho aos dois ao deixar a melodia desse samba tradicional com Marisa. “E eles fizeram aquilo rapidamente”, conta, divertindo-se com a lembrança. “Foi uma fita cassete que achei em casa, que eu tinha gravado há muitos anos, mas nunca tinha feito nada.”
Um momento especial e emocionante no show é o dedicado ao bloco do choro, e à música instrumental, em que Paulinho recebia como convidados Izaías Bueno (bandolim) e o irmão Israel Bueno (violão). Juntos, em plena sintonia, tocando Vibrações, de Jacob do Bandolim, Cochichando, de Pixinguinha, entre outras. “O repertório é o mesmo do show, não mudamos, não tiramos nada.” São 22 músicas que, se ouvidas em sequência e não aleatoriamente, seguem a mesma ordem com que foram apresentadas ao vivo. O show está lá na íntegra, com todos os detalhes vocais, instrumentais, as pausas, os aplausos. Mas sem as histórias e os causos que Paulinho gosta de relembrar no palco – e conta tão bem – durante seus shows.
Em meio à pandemia, Paulinho não cogita fazer shows antes que saia a vacina, mesmo com a recente flexibilização e a reabertura de casas de shows seguindo protocolos de segurança. “Não há a menor possibilidade disso agora”, diz. O mesmo ele enfatiza ao comentar sobre o adiamento do carnaval em 2021 por conta do novo coronavírus. “Acho que, enquanto não tiver uma vacina, uma segurança mesmo, acho que isso não volta. Como você vai fazer carnaval, que é uma coisa que reúne milhares, milhões de pessoas, num determinado bloco, como tem hoje no carnaval de rua de São Paulo?”
Um dos grandes nomes da música brasileira que ainda não aderiu às lives, o músico conta que tem pensado sobre o assunto e recebido convites para fazer apresentação nesse formato.
Por ora, Paulinho prefere manter sua rotina em casa, dedicando atenção especial à música. E diz que, sim, tem canções para fazer um novo álbum de inéditas. “Tenho guardadas muitas letras, tenho até melodias de amigos e parceiros que não consegui ainda colocar letra”, afirma. “Por exemplo, este período agora que estou em casa, peguei mais o violão, mas, em vez de fazer sambas, vinha música de violão, choros, uma valsa para violão. Não sei explicar como isso acontece. Mas tenho muitas letras também de parceiros, e tem até letras minhas que eu não consegui musicar. Se for fuçar mesmo, eu poderia fazer um disco. Tenho um samba que eu fiz para o Elton (Medeiros) que não gravei”, referindo-se a um de seus grandes parceiros, que morreu em 2019. E existe alguma previsão de lançamento de um disco de inéditas? “Não tem, não, mas pode ter a qualquer momento (risos)”, graceja Paulinho, já acostumado com a “cobrança”.
Sobre a pandemia e se acha que as pessoas podem sair melhores dela, Paulinho acredita que “não necessariamente”. “Talvez saiamos diferentes. A gente não sabe o que vai acontecer. Você vê agora, por exemplo, na Europa, onde muita coisa estava liberada, foram obrigados a fechar muita coisa de novo. Então, a gente não sabe o que vai acontecer depois. Imagino que, como temos visto no mundo, esperamos que haja consciência em relação a isso, que é uma coisa que depende da gente, da ciência. Como as pessoas vão se comportar em relação a isso, como nossos dirigentes vão se comportar em relação a isso? Ninguém sabe. Não há certeza de nada.”
29 de outubro de 2020 | 07h44
Músicos tocando em volta de uma mesa, cercados por uma multidão espremida que compartilha abraços e cerveja ao som de um ritmo contagiante: poucas coisas são mais tradicionais no Rio de Janeiro do que uma roda de samba.
Porém, em tempos de pandemia, aqueles que mantêm vivo esse ritual histórico tiveram que se adaptar para conseguir se reconectar com o público de forma segura e poder recuperar sua fonte de renda.
"Não é mais uma roda. As pessoas não ficam em torno da gente. O palco fica aqui e a plateia fica em frente", explica à AFP Moacyr Luz, de 62 anos, fundador do tradicional Samba do Trabalhador, evento que há 15 anos anima nas tardes das segunda-feiras um público de até 1.500 pessoas.
Para este compositor, um dos pesos pesados do gênero no País e cujo último álbum foi indicado ao Grammy Latino 2020, fazer samba sem multidão é como marcar um gol e não poder comemorar.
"Não tem aquela naturalidade da roda. Mas o samba está rolando! Estamos vivendo uma transformação, tem que se adaptar", ressalta Luz, com sua marcante barba grisalha.
Depois de mais de sete meses sem tocar para um público de carne e osso - neste período, o grupo fez exclusivamente lives na internet - eles retomaram neste mês as apresentações presenciais no clube Renascença, tradicional reduto cultural da Zona Norte carioca.
Cuíca, pandeiro, tamborim e cavaquinho, instrumentos do samba, são tocados pelos músicos com exímia qualidade.
No entanto, as novas regras fazem tudo parecer diferente: onde antes havia uma multidão caótica em pé, agora tem pequenos grupos espalhados em mesas de plástico nos cerca de 300 lugares comprados virtualmente com antecedência, que se esgotam rapidamente.
Para circular pelas dependências do clube é obrigatório o uso de máscara e, para entrar no local, há verificação de temperatura.
"Antes, as pessoas se concentravam em volta deles. Você chegava e sentava, não tinha isso de comprar mesa. (Com o novo formato) você perde aquele contato, o calor da roda, isso que parece que você está junto com eles tocando", observa Dália Melo, de 42 anos, que compareceu ao show na companhia do marido.
"O importante é que voltou", comemora.
Depois de vários meses restringindo atividades não essenciais para conter a contaminação, as autoridades do Rio iniciaram um processo de reabertura gradual em junho.
A música ao vivo foi uma das últimas atividades retomadas, com a obrigação de reduzir o público a 50% e não ter pista de dança.
Apesar da falta de calor humano, o público canta com energia os versos de Moacyr Luz, intercalando o samba com cerveja gelada e petiscos. Para os cariocas, esse ambiente tem um efeito terapêutico.
"O samba faz parte da cultura brasileira. Ele remete a tanta coisa boa, é a união de um povo, é a defesa de uma tradição. Traz uma alegria imensurável", opina Cristina Barreto, outra assídua frequentadora do Samba do Trabalhador.
"Estar aqui é uma questão de saúde mental. Alimenta a alma e dá força pra gente continuar enfrentando isso tudo, com segurança", acrescenta.
O estado do Rio de Janeiro (que tem cerca de 17 milhões de habitantes) registra mais de 20.000 mortes pela covid-19, das 157.000 registradas no País desde o início da pandemia.
A capital contabilizou, em média, 37 mortes e 435 casos novos por dia nas últimas duas semanas, e acumula 11.900 óbitos até o momento, segundo dados oficiais.
Para Moacyr Luz, a pandemia tem sido sinônimo de perda, principalmente após a morte do compositor Aldir Blanc, aos 73 anos, vítima da covid-19 em maio.
"Aprendi a perder. Perdemos o público grande, lançamentos, turnês, perdi meu principal parceiro, Aldir Blanc, com quem tenho mais de 100 músicas compostas", lamenta Luz ao falar do amigo, que foi seu vizinho de prédio por mais de 20 anos.
O sambista defende o retorno das atividades para que os músicos possam trabalhar, mas insiste em que as pessoas respeitem as regras de distanciamento para evitar uma segunda onda de casos e um novo confinamento.
"Meu desejo é poder abraçar as pessoas, não ter medo de fazer carinho", afirma.
A pandemia não diminuiu seu espírito criativo. Ao contrário, inspirou algumas das mais de trinta novas canções que ele compôs nos últimos meses.
"Tanto verde, tanto mar/ Não posso tocar/Tanta mesa, tanto bar/ Não posso sentar/ Tanta boca, tanto amor/ Nada adiantou, não posso beijar", diz um de seus versos.
Mas o músico faz uma previsão: "Toda essa confusão / sei que vai passar".
28 de outubro de 2020 | 10h00
A cantora Anitta está confirmada na programação do Tudum, o festival de séries da Netflix, que será realizado entre os dias 3 e 5 de novembro em versão virtual, no YouTube, Tik Tok e no site da plataforma no Brasil.
Além da estrela do funk, também estão confirmados no festival os atores Ashley Park e Lucas Bravo, de Emily em Paris, Joel Courtney, de A Barraca do Beijo, Ana Valeria Becerril e Yankel Stevan, de Control Z, Felipe Castanhari da série educativa Mundo Mistério e o cantor Emicida, que deve estrear documentário AmarElo, em dezembro.
O festival pretende unir as produções nacionais e internacionais que mais dialogam com o público brasileiro. A primeira edição foi realizada em janeiro e a plataforma vai repetir a dose agora virtual, em novembro.
Entre as séries de sucesso para o público brasileiro estão Stranger Things, Sex Education, Modo Avião, Dark e The Umbrella Academy. A produção nacional Sintonia também está de volta à programação, com o elenco Jottapê, Bruna Mascarenhas e Christian Malheiros. A produção idealizada por Kondzilla retrata a vida de três adolescentes criados na mesma periferia.
27 de outubro de 2020 | 09h00
O Rio Montreux Jazz Festival parecia fadado a algum arranjo de última hora quando a pandemia veio dilacerar sonhos e projetos, no início de março. Depois de uma bela estreia no ano passado, com a aprovação dos diretores da marca que vieram pessoalmente da França para conferir o que o produtor Marco Mazzola faria com a marca que Claude Nobs, morto em 2013, tanto prezava desde sua criação, dar sequência à saga no País parecia uma questão de honra.
TUDO SOBRE: MILTON NASCIMENTO
O que se passou no último final de semana pode ser usado de protótipo para que outros festivais não joguem a toalha mesmo em meio a um mundo de incertezas coletivas projetadas para 2021. Mais do que um amontoado de lives, algo em que alguns festivais estão se tornando, o evento ganhou vida com uma resolução híbrida entre o físico – o fato de estar acontecendo tudo aquilo em um palco no Rio, um em Los Angeles e outro em Nova York faz toda diferença – e o digital, com uma transmissão chegando a 200 mil pessoas no mundo. Um número interessante quando comparado aos 28 mil que viram a primeira edição, apenas física, no Pier Mauá, no Rio. De um estúdio no mesmo Hotel Fairmont, em Copacabana, onde o “palco principal” foi montado para a maioria das apresentações, Zeca Camargo segurava muito bem a onda de ser espirituoso até com as provações de Wagner Tiso duvidando no início da entrevista que ele conhecesse o grupo cinquentenário Som Imaginário.
Em um comunicado enviado pela assessoria de imprensa do evento, Mazzola diz que o hibridismo parece um caminho sem volta: “O brasileiro tem esta capacidade de se reinventar, mesmo com todas as adversidades. E o melhor de tudo é que nos comprometemos e entregamos da melhor forma possível. Sempre surpreendemos positivamente e isso é maravilhoso. Uma reinvenção que entra para a história e que estamos avaliando se permanecerá. Entregamos uma qualidade tamanha que fica difícil imaginar uma edição apenas presencial do Rio Montreux Jazz Festival.”
O line up, muito forte em 2019, esteve quente e equilibrado entre nomes mais ou menos pop, mesmo dentro do jazz. E eis um ponto a se prestar atenção. É no elenco que um festival ganha identidade e faz as pessoas o procurarem depois da terceira ou quarta edição não mais pelos nomes que ele traz, mas pela ideia que conseguiu sedimentar, pela famosa “marca”. Assim, a filosofia de Mazzola, que consiste em convidar artistas para que eles criem shows particulares e exclusivos para o RMJF, algo que o Palco Sunset do Rock in Rio começou a fazer nas últimas quatro edições dentro de um conceito mais pop, se torna essencial como artifício de line up atraente mesmo lidando com uma fonte natural pouco renovável.
Se o ineditismo de artistas de massa para um festival de rock bienal se esgota hoje na quinta edição, um festival anual de jazz e música instrumental brasileira pode se tornar um desafio ainda maior. Mas ali estavam Toquinho com Yamandú Costa ensaiados para a ocasião, Bianca Gismonti e Claudia Castelo Branco com a percussionista Lahn Lahn num raro momento em que uma percussionista lidera e conduz dois pianos com uma energia arrebatadora, o bandolinista Hamilton de Holanda e o pianista Amaro Freitas coltrenizando (de John Coltrane) temas do choro e desfazendo e remontando Zé Keti, a clarinetista Anat Cohen com o violonista Marcello Gonçalves saindo dos cerebrismos para atacar uma deliciosa Andar com Fé, de Gilberto Gil e Jaques Morelenbaum, o músico brasileiro que mais deve ter pisado no palco de um Montreux Jazz Festival, com seu CelloSambaTrio, agraciado pela bateria de volume e tudo preciso de Márcio Bahia e o violão de harmonia tinhosa de um craque chamado Lula Galvão.
Nem tudo deu certo – e eis a delícia de um hibridismo real, sem malandragens. Cada vez mais há casos de ‘fake lives’, lives falsas que, na verdade, são gravações vendidas como se fossem shows ao vivo (mas isso é tema para uma outra matéria). O guitarrista norte-americano Stanley Jordan e o brasileiro Diego Figueiredo são grandiosos e exuberantes, e talvez juntá-los confiando apenas em seus talentos não seja tão simples. Diego foi de violão e Jordan de guitarra. Independentemente de sua linguagem erguida sobre a técnica do tapping, que consiste em fazer melodia com harmonia pressionando o braço do instrumento com as duas mãos ao mesmo tempo, Jordan transborda com uma sonoridade espaçosa e brilhante que faz qualquer acompanhamento se tornar desnecessário, mesmo o de um fera como Figueiredo. O resultado é que mesmo uma melodia forte como a de Caravan, de Duke Ellington, se perde dentre tantas volúpias.
O homenageado da edição foi Milton Nascimento na noite de domingo (25). Sua presença foi precedida pelo coral gospel Sing Harlem, formado por garotos e garotas do bairro de histórico tão humilde em estrato social quanto próspero em cultura, berço do canto gospel por todas suas igrejas batistas construídas quase que lado a lado em suas avenidas principais. Depois veio o próprio Milton e, na sequência, as participações de Maria Gadú e Samuel Rosa. E então o gráfico começou no alto, com uma força incrível desta que certamente foi a atração mais poderosa trazida por Mazzola. O Sing Harlem tem um poder indescritível com seus cantores jovens que a todo momento deixam de ser vozes de naipes para assumirem a frente. E chegam cantando um mais do que o outro como se estivessem em uma celebração do Harlem. Cantam, batem palmas, pulam e choram ao sentir o espírito daquilo que evocam fazendo-se presente.
Alguns ainda dizem que as cantoras do gospel “gritam demais”. É preciso então contemporizar um detalhe: a força do canto negro nos Estados Unidos herdou o clamor a Deus dos pastores protestantes (de onde saíram Little Richard e Etta James) e a revolta contra a dominação branca da época dos escravos, o que abriu espaços inspirados tanto para o lamento e as lágrimas do blues quanto à euforia e a estridência do gospel. Ou seja, mesmo quando isso foi parar em Whitney Houston e, depois, em Beyoncé, não era grito, era sobrevivência. A história no Brasil foi outra. Sobretudo depois de ter seus decibéis filtrados pela bossa nova branca, o canto brasileiro não foi pelo mesmo caminho assim como a coloração das cantoras. Ao contrário dos Estados Unidos, dominado pelas cantoras negras do jazz, as vozes pretas na MPB são inacreditavelmente raras a ponto de fazer de Alaíde Costa uma estranha no ninho, chamada às costas e pejorativamente de “ameixa”. Por mais um motivo, é preciso respeitar os gritos de Elza Soares.
Mas Milton estava lá, com seu canto gospel não de quem clama, mas de quem parece atender a um clamor. É o que parece ser seu silvo, aquela região em que Elis dizia morar a “voz de Deus” e que mesmo o Sing Harlem reverenciou com muito respeito. Depois de uma apresentação esfuziante dos garotos e garotas do Harlem com Walk in the Light, Amazing Grace, Riverside, Freedom Medley, Purple Rain, Go Down Moses, Work it out e This Little Light of Mine, eles entraram com uma versão em inglês de Nada Será Como Antes, de Milton e Ronaldo Bastos. A harmonização do pianista simplificou demais o que, quando se toca Milton, não pode ser simplificado, mas as vozes entregaram um show nas alturas que Milton nem sempre manteria, sobretudo depois de chamar Maria Gadu (que faria com ele Um Girassol da Cor do Teu Cabelo, Canoa Canoa e Cravo e Canela) e Samuel Rosa (para Viola Violar, Para Lennon e McCartney, Clube da Esquina 2 e Paula e Bebeto, também com a volta de Gadu). Não importa. Bons e maus momentos fazem parte dos melhores festivais de música e, mesmo à distância, era como se estivéssemos lá.
Eliana Silva de Souza
26 de outubro de 2020 | 09h31
Um dos maiores nomes da comédia nacional, Mazzaropi, terá 12 de seus filmes disponíveis nos canais de streaming Looke, Now, Vivo Play e Amazon Prime Video, a partir de 4 de novembro. Ator e produtor, ele foi responsável por colocar na tela personagens de um Brasil caipira e seus costumes.
Entre os longas selecionados estão Chofer de Praça, Jeca Tatu, O Vendedor de Linguiça, O Jeca e a Freira, No Paraíso das Solteironas, A Banda das Velhas Virgens, estes tendo sempre a companhia da atriz Geny Prado. Em alguns filmes, surgem em cena atores conhecidos, e ainda novos, como Tarcísio Meira, Zilda Cardoso, Maria Helena Dias, Roberto Pirillo, Yara Lins. Interessante ver esses nomes ainda novinhos, mas em algumas produções podemos ver ainda Agnaldo Rayol e Lana Bittencourt, que cantam ao lado de Mazzaropi, além de Elza Soares, Peri Ribeiro e os irmãos Tony e Cely Campello.
Amácio Mazzaropi nasceu em 9 de abril de 1912 e morreu em 13 de junho de 1981. Morou na capital paulista e no interior. Sua veia artística o fez fugir de casa aos 16 anos e seguir uma trupe de circo. Mais tarde, montou sua própria companhia. Passou ainda pelo rádio, televisão, e partiu para o cinema, que o conquistou para sempre.
Confira a lista dos filmes:
O humilde Zacarias vai para a cidade grande com sua mulher para arrumar emprego e ajudar seu filho a pagar os estudos. Seu maior sonho é ver o filho se formando e, para isto, está disposto a fazer o possível e o impossível. Eis que surge um trabalho como Chofer de Praça. Pronto, era tudo o que ele precisava para fazer o público se borrar de tanto rir com as viagens cheias de trapalhadas deste chofer do barulho. Próxima parada: diversão e gargalhadas!
Elenco: Amácio Mazzaropi, Ana Maria Nabuco, Geny Prado, Maria Helena Dias
Direção: Milton Amaral
Jeca é um roceiro preguiçoso de dar dó, mas esta preguiça está com os dias contados, pois seu ranchinho está ameaçado pela ganância de latifundiários sem coração. Agora ele vai usar todo seu jeito matreiro para conseguir seu cantinho de terra. Um clássico da filmografia de Mazzaropi. Às vezes engraçado, em outros momentos, de uma beleza tocante, ele trata com muita singeleza a figura do homem do campo e a questão da reforma agrária neste filme que é uma declarada homenagem do Mazza ao conterrâneo Monteiro Lobato
Elenco: Amácio Mazzaropi, Ana Maria Nabuco, Geny Prado, Maria Helena Dias
Direção: Milton Amaral
Mazzaropi é um vendedor de linguiça que, para conquistar sua freguesia, tem de ralar muito. Em meio a problemas com a família, vizinhos, e cachorros que adoram roubar suas linguiças, ele nos presenteia com mais um banquete de situações engraçadas que vão fazer você chorar de tanto rir.
Elenco: Amácio Mazzaropi, Geny Prado, Roberto Duval
Direção: Glauco Mirko Laurelli
Este filme, que é considerado a obra-prima da Mazzaropi, traz um elenco de estrelas e marca a estreia de Tarcísio Meira no cinema. É uma tocante história sobre a luta contra os poderes corruptos dos coronéis e um épico que tem como pano de fundo, a libertação dos escravos no Brasil do século XIX. Interpretações soberbas e imagens belíssimas em um clássico do cinema nacional, campeão de bilheteria!
Elenco: Amácio Mazzaropi, Tarcísio Meira
Direção: Glauco Mirko Laurelli
Em uma comunidade rural nipo-brasileira, Mazzaropi é um agricultor chamado Fofuca que enfrenta a exploração descarada do “seu” Leão, responsável por intermediar os negócios entre os produtores e o comércio na cidade.
Elenco: Adriano Stuart, Amácio Mazzaropi, Zilda Cardoso
Direção: Glauco Mirko Laurelli
Em uma fazenda no interior do Brasil, no século XIX, um senhor de terras responsabiliza-se pela educação da filha de um dos seus colonos, a ela afeiçoando-se como se fosse sua própria filha. Anos mais tarde, quando a jovem regressa do colégio em companhia de uma freira, o fazendeiro faz de tudo para que ela não reconheça seus verdadeiros pais. Um singelo filme com Mazzaropi que vai agradar toda a família.”
Elenco: Amácio Mazzaropi, Geny Prado, Mauricio do Valle, Roberto Pirillo
Direção: Amácio Mazzaropi
Aquele caboclo acostumado com a vida do interior não poderia imaginar que ao tentar a sorte na cidade grande seria alvo dos olhares de desejo de uma turma de solteironas loucas por um “tipão” assim como ele. Na bagunça, ele ainda tem tempo para se envolver em confusões com a dona do hotel e é colocada às voltas com uma quadrilha e um grupo de ciganos
Elenco: Amácio Mazzaropi, Atila Iorio, Geny Prado, Renato Mastera
Direção: Amácio Mazzaropi
Mazzaropi é Gumercindo, um homem pobre e honesto que tem sua filha seduzida pelo filho do fazendeiro. A garota fica grávida, mas a criança e´ motivo de chacotas por não ter pai. O patrão acaba o expulsando de suas terras e Gumercindo se une a fazendeiros vizinhos para o ajuste de contas. Agora a justiça deverá ser feita, só será preciso que algum louco dê Uma Pistola para Djeca.
Elenco: Amácio Mazzaropi, Elizabeth Hartmann, Patricia Mayo, Paulo Bonelli
Diretor Ary Fernandes
Mazzaropi é Inácio Poróroca, chefe do correio local. Viúvo e pai de Mariazinha, ele é o morador mais antigo de Vila do Céu onde vive cuidando da vida dos outros. Um dia, o bandido João Bigode chega à cidade disfarçado de padre. O maldoso mata o xerife e põe Poróroca em seu lugar. A confusão está armada.
Elenco: Amácio Mazzaropi, Patricia Mayo, Paulo Bonelli
Direção: Pio Zamuner
Polidoro, um fazendeiro ingênuo cai na conversa do genro e vende suas terras para um vigarista que engana a todos, inclusive sua própria esposa, uma argentina honesta e desiludida com o amor. Por pura armação, os dois acabam indo parar em Bariloche e lá na neve, em meio a confusões e gargalhadas, o caipira começa a juntar os fatos e retorna para desmascarar os vilões. Prepare- se para muitas risadas e momentos de beleza, intriga e suspense, nesta fita que foi uma das maiores bilheterias de toda a carreira do Mazzaropi.
Elenco: Amácio Mazzaropi, Elza Soares, Ivan Mesquita
Direção: Amácio Mazzaropi e Pio Zamuner
Em plenos anos 70, Mazza, com seu jeito simples, falou às multidões sobre assuntos importantes como o preconceito racial. Neste filme, ele é Zé, o pai de um rapaz (misteriosamente) negro, fato que nunca pareceu lhe incomodar, mas que incomoda os outros quando seu filho se enamora de uma moça branca, filha de um rico fazendeiro.
Elenco: Amácio Mazzaropi, Elisabeth Hartmann, Geny Prado, Yara Lins
Direção: Pio Zamuner, Berilo Faccio
Mazza é um “matuto” com o sugestivo nome de… Gostoso. Ele é o maestro de uma bandinha hilariante, formada por senhoras idosas e beatas, que é expulso das terras onde vive e acaba indo morar em um depósito de ferro-velho na cidade. Ao encontrar um saco de joias, ele é acusado de roubo e tem que fazer de tudo para provar sua inocência. Como o nosso querido caipira vai se safar dessa vez?
Elenco: André Luiz de Toledo, Amácio Mazzaropi, Geny Prado, Renato Restier
Direção: Amácio Mazzaropi e Pio Zamuner
Rodrigo Fonseca
25 de outubro de 2020 | 07h20
Rodrigo Fonseca
Sintonizado com os protocolos de segurança contra a covid-19, Jia Zhangke troca com seus fãs as inquietações acerca da pandemia, num hibridismo entre fato e consternação poética, em “A VISITA” (“Visit”), curta-metragem já em exibição na 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, cujo cartaz estampa uma imagem produzida por este artesão das esculturas do Real. Este poema de perplexidades, mas também de resiliências, já no Mostra Play, retrata uma reunião entre dois parceiros de trabalho na qual vemos os rígidos protocolos de cuidados impostos pelo novo coronavírus: mascarados, as pessoas só se encontram após a temperatura do visitante ser medida, do aperto de mão ser recusado e da oferta de álcool em gel no lugar do café. É uma narrativa que se engata no projeto Spaces #2, produzido pelo Festival de Tessalônica, na Grécia, inspirado no livro “Espèces d’Espaces”, do escritor francês Georges Perec. Fã do realizador chinês, cujo nome é sinônimo de excelência, a maratona cinéfila paulistana convidou ainda “Swimming Out Till the Sea Turns Blue” (“Yi zhi you dao hai shui bian lan”). Por aí, a tradução ficou “NADANDO ATÉ O MAR SE TORNAR AZUL” e já é possível vê-lo online, sendo que há projeção presencial dele armada para o dia 29/10, no Belas Artes Drive-In. Lançado mundialmente via Berlinale, em fevereiro, fora de concurso, o novo longa-metragem do diretor de “Um Toque de Pecado” (prêmio de melhor roteiro em Cannes, em 2013) aborda a disseminação da literatura em áreas rurais da China, num contraste entre a arte da palavra e a arte de viver no campo. O nome de Jia – ganhador do Leão de Ouro de Veneza em 2006 por “Em busca da vida” – abre muitas portas, sobretudo falando sobre a dimensão milenar da leitura como analgésico.
“Não acredito na inércia dos afetos nas cidades, pois os espaços sociais estão sempre a viver alguma forma de movimento, mesmo que essa fricção pareça muito gradual, quase estanque ao nosso faro. Eu atravessei a China na década de 1990, com uma camerazinha na mão, e vi ali uma juventude expressar sua voz e afirmar sua existência como não havia percebido antes. E essa geração hoje é adulta, vive outras expressões de sentimento, de trabalho. Mas o que ficou das aspirações delas? O quanto a ebulição do momento passa e o quanto ela se torna um tipo de tradição?”, perguntou Jia em entrevista no Festival de Berlim, onde reviu sua obra em relação à geopolítica de seu país. “Revendo as imagens que fiz, à época, descobri muita coisa, sobre a China e sobre mim, entre elas a sensação de que o Tempo está passando, pro país, pra mim, pro mundo, para as nossas convicções”.
Em 2014, Jia teve sua vida documentada pelo diretor carioca Walter Salles em “Um homem de Fenyang”, lançado comercialmente no ano seguinte. Era um filme que faz uma reflexão sobre a natureza híbrida, entre feitos e fábulas, de suas narrativas. E esse hibridismo parece ser o fio condutor de sua cartografia dos afetos em “Nadando Até o Mar Se Tornar Azul”, ao trafegar pela província de Shanxi a partir da criação de uma feira literária que une autores como Jia Pingwa, Yu Hua e Liang Hong. Em maio de 2019, importantes escritores e acadêmicos chineses se reuniram em ali, num vilarejo — que, não por acaso, é a província natal do diretor – para uma celebração dos verbos de ação e de ligação da prosa. As imagens desse evento literário iniciam uma narrativa fílmica em 18 capítulos que abrange a história da sociedade chinesa desde 1949. Essa história é contada por Jia por meio das memórias do falecido escritor e ativista Ma Feng. O que vemos e ouvimos é um painel das décadas de 1950, 1960 e 1970, além de um passeio pela China de hoje. “Registrar, fotografar, filmar… isso é uma forma política de reação. Reage-se pela curiosidade”.
p.s.: Exibido em Veneza, na disputa pelo Leão de Ouro de 2019, e em Toronto, o estonteante “A Herdade”, de Tiago Guedes, chega enfim ao Brasil a partir desta segunda-feira, online, pela Mostra retratando a saga de uma família de latifundiários do Tejo dos anos 1940 aos dias de hoje, entre traições, disputas de poder e uma luta contra o governo, da perspectiva de quem se considera dono da terra. O desempenho de Albano Jerónimo como um fazendeiro arrogante é antológico.
p.s.2: Priorize ainda, entre as boas desta Mostra, “MISS MARX”, de Susanna Nicchiarelli. Responsável pela biografia da cantora alemã Christa Päffgen em “Nico, 1988” (2017), a cineasta romana de maior prestígio na atualidade escala a inglesa Romola Garai para viver a caçula de Karl Marx: Eleanor, tradutora e feminista essencial para o debate do sufragismo.
23 de outubro de 2020 | 09h00
Quando Chewing Gum estreou em 2015 na Netflix, muita gente torceu o nariz pela estranheza da personagem Tracy Gordon, com suas longas tranças e caretas estranhas. Papel da atriz, diretor e roteirista Michaela Coel, a personagem criada em uma família religiosa tentava perder a virgindade aos 24, sem qualquer dica de como começar.
Vinda dos palcos, a história ganhou o streaming provocando certo desconforto ao tratar assuntos caros a Michaela, como o comportamento das mulheres frente ao machismo e racismo. Em 2020, essa trajetória parece se coroar com a I May Destroy You, série da HBO.
Na nova produção criada, dirigida e atuada por Michaela, o assunto é sério. A personagem, a jovem escritora Arabella vive uma saga ao perseguir as pistas de uma violência brutal. No primeiro episódio, ela chega de viagem e está decide sair com os amigos para matar a saudade.
No dia seguinte, pela manhã, Arabella desperta com um machucado na testa e sem se lembrar da noite anterio. O que ela tem são apenas fragmentos de memória sobre um homem desconhecido e um ato violento no banheiro.
Em 12 episódios de 30 minutos, o espectador se torna testemunha junto à personagem, na reconstituição da ocorrido e da dor que jovem vai enfrentar ao descobrir os fatos.
Arabella é cercada de amigos que a acompanham durante a denúncia na delegacia até os reencontros com pessoas que estiveram na festa. Mas o caminho também é bastante solitário e a jornada dessa mulher parece ser bastante comum, no sofrimento compartilhado e também no silêncio, que torna a sociedade cúmplice do crime.
Aliás, a trama da série é inspirada em um caso real, vivido por Michaela. Em entrevistas, a atriz já contou detalhes sobre o ato criminoso. Enquanto escrevia a série Chewing Gum, a artista fez uma pausa para encontrar amigos, e quando voltou tinha apenas flashs sobre um homem desconhecido.
Essa franqueza está no espírito de I May Destroy You, o que pode ter assustado um pouco a Netflix, que negou certas liberdades criativas quando a autora apresentou o projeto para a plataforma. A solução de Michaela foi levar a série para a BBC, e mais tarde, a produção entrou no catálogo da HBO.
Com o mesmo talento, a artista britânica se multiplica na criação de outras séries. Conheça outras produções estreladas por Michaela Coel.
Nessa história de espionagem ao estilo britânico, Michaela interpreta uma jovem que foi resgatada durante o genocídio de Ruanda, quando criança, e é adotada por uma promotora famosa. No futuro, a personagem passa a trabalhar como investigadora quando enfrenta um caso da milícia africana que pode ajudá-la a entender seu passado. A série se passa em Paris, Londres e Ruanda.
Desde que pousaram na Irlanda, os alienígenas vivem na Terra há 40 anos. Embora se pareçam com humanos, estes seres vivem em segregação, em um gueto chamado Tróia. Na série de comédia, Michaela interpreta Lilyhot, uma alienígena que se envolve em uma gangue de drogas e é sequestrada. Seu irmão, o guarda de fronteira Lewis, entra em crise ao descobrir que é meio alienígena.
Lançada na Netflix, a série protagonizada por Michaela conta a vida de Tracy Gordon, uma jovem criada em uma família religiosa. Aos 24 anos, ela decide perder a virgindade mas não faz ideia de como fazer isso, já que seu noivo pretende manter a castidade até a data do casamento.
23 de outubro de 2020 | 05h00
O jornalista e escritor Nelson Motta resolveu voltar às suas memórias para investir em um novo livro de histórias. Diferentemente de Noites Tropicais, lançado em 2009, em que escrevia em primeira pessoa, seu exercício aqui foi de redigir um texto na terceira pessoa do singular. Ou seja, ele se faz de narrador do próprio personagem, uma espécie de jovem predestinado que está, por muita sorte, nos lugares e nas horas certas.
Motta constrói uma longa coleção de histórias, indo a momentos já visitados e outros inéditos de sua carreira. De um tempo em que jornalistas e artistas tinham uma proximidade irrestrita e sem pudores dos limites éticos que marcariam a profissão a partir do final dos anos 1980, eles muitas vezes se tornavam parceiros de letra e música, amigos e confidentes. “Eu acabei fazendo muitos amigos a partir da coluna diária que escrevi para o jornal O Globo por dez anos.” Motta criou seu próprio mandamento, e talvez tenha sido um caso único de crítico a conseguir manter relevância no jornalismo ao mesmo tempo que alimentou amizades entre cantores, cantoras e compositores. Em geral, críticos mais mordazes não terminam a vida com muitas amizades. “Eu sempre achei que deveria tratar bem de minhas fontes. Jamais vou perder um amigo por causa de uma notícia. Dava espaço a tudo o que eu gostava e desprezo ao que não gostava.” Caetano Veloso reconheceu o balé de Motta: “Foi o único crítico que se estabeleceu sem esculhambar ninguém”.
A ideia de De Cu Pra Lua, o nome do livro com a expressão que Nelsinho ouviu tantas vezes em sua carreira, veio depois de suas pesquisas sobre a origem da sorte das pessoas. Afinal, o que diriam os espiritualistas diante de um lavrador atingido por um raio duas vezes e que sobrevive nas duas? “É algo totalmente aleatório, incontrolável e que passa por crenças. Seria sorte ou milagre?” Ele mesmo se considera um desses sortudos, e foi por aí que o livro seguiu. A narrativa em terceira pessoa, diz, o fez refletir mais sobre si mesmo, com liberdade e algum distanciamento maior.
Ainda que não desça aos detalhes, Nelsinho narra casos íntimos. Em alguns, trocou nomes para não ter problemas com a Justiça. Em outros, manteve os personagens com seus nomes verdadeiros para que as histórias não deixassem de ter brilho às custas de um anonimato. Com Zélia Cardoso de Mello, ministra da Economia do governo Fernando Collor de Mello, uma das responsáveis pelo traumático confisco da poupança do Plano Collor, de 1990, Nelsinho teve um romance, ou quase isso. A forma como eles se aproximam é narrada em uma das partes que deve fazer o livro ganhar repercussão.
Ao ser convidado pelo diretor de cinema Walter Salles para participar como roteirista e consultor de um especial que reuniria João Gilberto e Tom Jobim em um show no Teatro Municipal do Rio, a ser gravado pela Globo e dirigido por Boninho, Nelson entrou em uma enrascada sem saber. Animado, Nelson propôs, além de usar as imagens do espetáculo, colocar também depoimentos gravados com artistas como Arnaldo Antunes, Herbert Vianna e Marina Lima, todos falando de João.
Ao voltar para casa, em Nova York, o produtor começou a receber de Waltinho faxes nervosos. O problema é que João Gilberto não queria mais participar de um especial com depoimentos, dizendo que as pessoas só queriam se aproveitar dele. Depois de falar “cobras e lagartos” de Nelsinho para Walter, pediu que seu nome fosse retirado dos créditos e desligou o telefone. Por sua vez, Nelson também ficou furioso com João e resolveu escrever um fax dizendo ao baiano que o dom que ele tinha não lhe pertencia, mas que havia sido emprestado por Deus, e que era “intolerável tal comportamento com amigos que só queriam ajudá-lo”. Uma briga feia que tempos depois seria desfeita, com João e Motta viajando juntos. “No fundo e na verdade”, escreve no livro, “o que poderia haver de mais interessante para dizer ou mostrar do que um concerto de Tom Jobim e João Gilberto?”
A história do dia em que Nelsinho lida com assaltantes em sua casa também fica impagável, quando um dos encapuzados pergunta se Nelson não tem em meios aos seus discos um CD do Phil Collins.
22 de outubro de 2020 | 05h00
Em Berlim, em fevereiro, havia 19 filmes brasileiros distribuídos pelas várias seções do festival. Havia também duas séries da Globo no mercado de TV. Fizeram o maior sucesso – Onde Está Meu Coração?, sobre dependência química, roteiro de George Moura e Sergio Goldenberg, direção de Luísa Lima e supervisão de José Luiz Villamarim, e Desalma, de Ana Paula Maia, direção de Carlos Manga Jr. Especialmente a segunda causou o maior impacto. “Não é o tipo de produto brasileiro que o público europeu esteja acostumado a ver. É zero tropical”, observa Maria Ribeiro, uma das três protagonistas, com Cláudia Abreu e Cássia Kiss.
A trama envolve bruxaria numa comunidade ucraniana no Sul do Brasil. Cássia é impressionante – mas quando ela não é? – como a bruxa-mor. É raro que as antigas tradições do Leste europeu impulsionem a produção dramatúrgica da televisão brasileira, e menos ainda numa produção de gênero. Desalma foi feita para o streaming do Globoplay. Chega à plataforma nesta quinta, 22. O mérito é conjunto da premiada escritora Ana Paula Maia, duas vezes vencedora do prêmio de literatura do governo de São Paulo, e do diretor Manga Jr. Filho do lendário diretor – Carlos Manga – de algumas das melhores chanchadas da Atlântida, o Jr. rapidamente mostrou ter brilho próprio. Estreou aos 24 anos com Vamp. O mais jovem diretor de novela, e a de Antônio Calmon, foi um grande sucesso.
Maria Ribeiro confidencia para o repórter – “Ele é russo, no sentido de que é muito ligado no cinema de (Andrei) Tarkovski. Sabe aquela coisa lenta, mas não chata, de construir o tempo? Os planos longos, a valorização da paisagem, dos atores? O Manga é desse time”. A autora Ana Paula admite que está realizando um sonho – “Sempre quis escrever para TV”. Nascida num bairro da periferia de Nova Iguaçu, no Estado do Rio, filha de uma professora de literatura, o irmão e ela adoravam ver os filmes de terror que passavam no fim da noite. A família vivia numa bolha. No bairro, campeava a violência, na telinha, sangue e sustos, Ana e o irmão protegidos.
Manga Jr. ficou atraído pelo material. Maria Ribeiro é estrangeira na comunidade. Descobre um mundo de mistério e sobrenatural. Na noite mais escura do ano, as almas dos mortos têm o poder de caminhar entre os vivos. Para Ana Paula, é uma história de vingança. Manga Jr. acrescenta. “De vingança, e de perda.” Como diretor, segue três mandamentos – sua bula. “Limpeza, estranheza e rigor.” Não cita Tarkovski como referência. “(Theo) Angelopoulos e ele são inspirações.”
21 de outubro de 2020 | 05h00
Em 2008, o sample de Deixa Eu Dizer, música de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza que a cantora Claudya gravou em seu LP de 1973, caiu como uma luva no rap Desabafo, de Marcelo D2, do disco A Arte do Barulho. A sacada de D2 fez com que a voz da cantora ecoasse por toda a parte: estava nas rádios, nas pistas e foi parar até na trilha sonora de Velozes e Furiosos 5: Operação Rio. De repente, uma nova geração descobria a cantora e passou a ir atrás de seus discos, de sua história. Aquele episódio tornava-se um novo e importante capítulo na carreira de Claudya, que, apesar do reconhecido talento, encontrou percalços que fizeram com que sua trajetória fosse marcada por altos e baixos.
É o que ela rememora em depoimento aos autores Daniel Saraiva e Ricardo Santhiago no livro Claudya – O Que Não Me Canso de Lembrar, o primeiro do projeto A Música de: História Pública da Música do Brasil. Lançado recentemente, está à venda no site www.amusicade.com/nossaloja. “Os livros surgiram de uma percepção que poucos artistas da música brasileira tiveram suas trajetórias narradas no mercado editorial”, diz Daniel Saraiva, editor e pesquisador, sobre a criação do braço editorial do A Música de.
O trompetista Waldir de Barros, que Claudya considera o grande apoiador da sua carreira, trabalhava na orquestra da TV Record, lhe falou sobre o programa e sugeriu que fizesse um teste. A jovem cantora fez e foi contratada. Foi escalada para a segunda parte da atração, juntamente com Elis Regina, Jair Rodrigues, Baden Powell, entre outros. Mas ali o público não a conheceu como Maria das Graças, seu nome de batismo, mas, sim, como Cláudia, nome artístico sugerido pela própria cantora, inspirada na ascendência italiana por parte do pai. “Eles queriam um nome marcante”, lembra ela, em entrevista ao Estadão. Ficou apenas Cláudia – na década de 1990, virou Claudya, por sugestão da numerologia.
Ali, ela iniciou uma jornada promissora, mas foi também o período em que sofreu um dos grandes baques da carreira. Por causa das aparições nos programas de TV, ela gravou o primeiro disco, um compacto, em 1965. No ano seguinte, o jornalista e produtor Ronaldo Bôscoli a chamou para fazer uma temporada de shows no Rio. No entanto, Claudya conta, Bôscoli propôs que o show se chamasse Quem Tem Medo de Elis Regina?. A cantora não entendeu a proposta – como diz não entender até hoje – e não concordou. O título ficou definido em Cláudia: Não Se Aprende na Escola.
Mas a história se espalhou. E Claudya foi alvo do que hoje chamamos de fake news: foi tachada de oportunista, aquela que queria tomar o espaço de Elis. Ela conta que as portas se fecharam e nada foi feito para reverter o mal-entendido. “A intenção deles era botar mais lenha na fogueira, porque O Fino da Bossa estava perdendo audiência para o programa Jovem Guarda, do Roberto Carlos. Eles queriam aumentar a audiência do programa e, para isso, só fazendo o que eles fizeram: fomentar uma rivalidade, uma briga e eu não queria nada disso. O que eu queria era cantar, ganhar meu dinheiro, trabalhar.” Ela lamenta nunca ter conseguido conversar sobre o assunto com Elis, que morreu em 1982. “Eu precisava e sentia necessidade de falar com ela, mas infelizmente não foi possível.”
Claudya deixou o programa, apesar de a direção insistir para que ficasse, e foi para a TV Excelsior participar do programa Ensaio Geral, ao lado de Gil, Caetano, Bethânia, entre outros. Mas, segundo ela, o conflito em O Fino da Bossa fez com que as oportunidades no Brasil diminuíssem. Decidiu ir para o Japão, onde ficou por seis meses fazendo shows, gravou dois compactos e um disco. Já de volta ao País, a era dos festivais surgiu como um novo sopro em sua carreira. A cantora participou de festivais como da TV Record e da TV Excelsior, e também no exterior, defendendo canções dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, de Baden Powell, Paulo César Pinheiro, entre outros.
Mas queria se descolar do rótulo de ‘cantora dos festivais’. “Na verdade, eu não gostava de ser marcada com nada: a cantora romântica, a cantora de samba, a cantora de festival... Nunca gostei disso. Eu era crooner de orquestra, de grupos musicais lá em Juiz de Fora, e eu era acostumada a cantar de tudo”, diz.
Na Odeon, no início da década de 1970, gravou alguns de seus melhores discos, mas também viu outro sonho interrompido. Na gravadora, fez grande sucesso com o primeiro álbum, Jesus Cristo, de 1971, e com a regravação da canção-título, de Roberto e Erasmo Carlos. Depois vieram os álbuns Você, Cláudia, Você e Deixa Eu Dizer. Ela estava no auge. Mas a chegada de Clara Nunes ao cast da Odeon, segundo Claudya conta, fez com que a gravadora decidisse concentrar as atenções apenas na então nova cantora. Vale um parênteses aqui: àquela altura, Claudya também já era compositora, numa época em que, como a cantora diz no livro, “não se confiava muito nas mulheres compositoras”.
Anos mais tarde, em 1983, no entanto, a artista vivenciou um momento especial na carreira, ao ser escolhida para protagonizar o espetáculo Evita, sobre a história de Eva Perón, em que cantaria, dançaria e também atuaria, ao lado de atores como Mauro Mendonça e Carlos Augusto Strazzer. Foram nove meses em cartaz só no Rio. Um período exaustivo, mas de sucesso. “Titubeei muito para fazer o espetáculo, porque eu não era atriz, e ia ser comparada com as grandes atrizes brasileiras, como Bibi Ferreira e Marília Pêra, que faziam musicais também”, lembra. “A trilha sonora dificílima de cantar.” Seu trabalho rendeu elogios, capas em jornais e revistas, e indicação para o prêmio Molière.
Hoje aos 72 anos e com 55 anos de carreira, Claudya, que é mãe da cantora Graziela Medori, segue, teimosa, como ela diz, no que ama fazer, que é cantar. Antes da pandemia, ela estava fazendo uma série de shows em comemoração à sua trajetória.
“Claudya é uma cantora extraordinária, com timbre, técnica e percepção musical absolutamente únicos”, diz Ricardo Santhiago, também editor e pesquisador do livro. “Na realidade, os efeitos desses percalços individuais são intensificados em um circuito de produção musical que se transformou enormemente desde os fervilhantes anos 1960, se comprometendo cada vez mais com os modismos de um certo mercado. Por isso, é importante historicizar, sem vitimismo.”
19 de outubro de 2020 | 05h00
Para festejar os 80 anos do Rei do Futebol, o Canal Brasil programou três filmes. Dois são documentários sobre sua carreira – Isto é Pelé (Luiz Carlos Barreto e Eduardo Escorel) e Pelé Eterno (Aníbal Massaini). O outro, Os Trombadinhas, de Anselmo Duarte, é uma ficção estrelada pelo ator Edson Arantes do Nascimento.
O primeiro dos documentários, o de Barreto e Escorel, é de 1974, ano em que o Rei, em tese, pendura as chuteiras. Em tese, porque depois ele voltou a jogar pelo Cosmos de Nova York, aposentando-se em definitivo em 1977. O filme é feito então na data da despedida brasileira e traz essa emoção da perda. Aliás, uma das cenas mais emocionantes do filme é o adeus à seleção brasileira, com a torcida gritando “Fica, fica…” enquanto o Rei dava a volta olímpica no estádio.
O filme de Barreto segue a carreira de Pelé não apenas no Santos, mas, em especial, na seleção brasileira, lembrando sua participação em quatro Copas. Na de 1958, quando é revelado ao mundo, campeão aos 17 anos; em 1962, quando se contunde e fica fora da maior parte dos jogos, tendo Garrincha então assumido o protagonismo; em 1966, quando é vítima da violência, sendo o Brasil desclassificado por Portugal; e, por fim, na Copa de 1970, seu último Mundial e uma despedida de gênio, com jogadas de antologia e gols decisivos. Algum jogador atingiu nível semelhante ou parecido? Pelé também é visto tentando ensinar a técnica do futebol a meninos. Como se chuta, a importância do pé de apoio, o cabeceio com os olhos abertos, etc. Futebol se ensina?
Pontos polêmicos do grande jogador não são poupados. Pelé, com sua habilidade infernal, era vítima da violência desde cedo (quase não vai à Copa de 1958, pois um zagueiro do Corinthians acertou seu joelho num jogo-treino). Aprendeu a defender-se. E o fazia muito bem e longe dos olhos dos juízes. Sabia ser truculento. Quebrou a perna de um jogador alemão e acertou uma famosa cotovelada num uruguaio na Copa de 1970. Como proteger o talento do craque? Hoje, com as novas tecnologias, árbitros auxiliares, VAR e etc, os jogadores habilidosos estão mais a salvo que na época do Rei?
Outro ponto de destaque são os gols que Pelé não fez e ficaram mais famosos do que muitos gols marcados. Ambos na Copa de 1970: o chute de meio de campo quase surpreende o goleiro Viktor da Checoslováquia, que estava adiantado; o drible de corpo em Mazurkiewicz, deixando estonteado o goleiro do Uruguai. Destaca o lado “inventor” de Pelé, também criador da “paradinha” na cobrança de pênaltis, o que obrigou a Fifa a mudar a regra para discipliná-la.
Com Pelé Eterno, de 2004, temos o mais completo documentário já feito sobre o Rei do Futebol. O filme de Massaini conta com narração e depoimentos do Rei, mostra mais de 400 gols (dos 1281 que Pelé marcou na carreira) e traça uma linha do tempo que vai do nascimento em Três Corações, em 23 de outubro de 1940, até a aposentadoria, em 1977.
A partir deste filme, é possível visualizar a carreira incomparável de um gênio, com suas conquistas e repertório inesgotável de jogadas. Foi o jogador perfeito, tanto técnica como atleticamente. Longevo, atuou durante 18 anos em um único clube, o Santos Futebol Clube. Depois de aposentado, voltou atrás e jogou mais três pelo Cosmos de Nova York.
Os números são astronômicos: 1371 jogos, 1281 gols (1091 pelo Santos, 95 pela seleção), três títulos mundiais pelo Brasil, dois pelo Santos, 10 Campeonatos Paulistas, cinco Taças Brasil (o antigo campeonato brasileiro) e etc. Alguém se atreve a disputar com esse cartel? Que tal compará-lo com Maradona, como gostam de fazer os argentinos? Ou com Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar…?
Nessa antologia de gols de craque, há alguns fatos curiosos. Por exemplo, usa-se o recurso da montagem para mostrar vários gols de pé direito, outros tantos de pé esquerdo, de cabeça, de bicicleta, de pênalti, etc. Aliás, as cenas são acompanhadas de uma música de Jorge Benjor que fala justamente dessa versatilidade. Pelé jogava até no gol, se necessário.
Há outras curiosidade. Não existem imagens de dois desses gols de antologia: 1) o chamado “gol de placa” sobre o Fluminense no Maracanã (5/3/1961); 2) o gol contra o Juventus, na Rua Javari (em 2/8/1959. Coutinho, eterno parceiro de Pelé, considerava este o gol mais bonito da carreira do craque. No primeiro, Pelé pega a bola na sua intermediária e sai driblando vários adversários até chegar ao gol. No segundo, aplica vários chapéus consecutivos (o último no próprio goleiro) e completa de cabeça para a rede. No filme, o primeiro gol é reencenado e montado com algumas imagens verdadeiras de outros jogos. O segundo é refeito com técnica de computação gráfica.
Outro aspecto do filme de Massaini é a ênfase na vida familiar de Pelé, seus casamentos e separações, e até mesmo quando assume filhos antes não reconhecidos.
Outro ponto que talvez mereça destaque é a questão da negritude. No filme, Pelé se diz orgulhoso de ser negro, mas eram comuns ao longo de sua carreira vitoriosa as queixas de movimentos negros sobre sua atuação em prol da igualdade racial, considerada “insuficiente”. Neste tempo de afirmação maior e mais explícita da igualdade racial, como reavaliar o legado de Pelé nesse aspecto?
De qualquer forma, dos filmes sobre o Rei, Pelé Eterno é o mais completo, embora banhado por esses momentos familiares e um certo sentimentalismo - o próprio Pelé admite que é um chorão. É também um filme de emoções, e se beneficia disto. Em todo caso, constrói a mais ampla antologia da carreira desse artista da bola.
Pelé foi completo e único. Mas Edson Arantes do Nascimento queria mais. Aventurou-se pelo cinema e pela música. Em Os Trombadinhas, Anselmo Duarte, Palma de Ouro em Cannes por O Pagador de Promessas, dirige um argumento escrito pelo próprio Rei. O samba de encerramento - Moleque Danado - também é de Pelé. O roteiro e diálogos são de Carlos Heitor Cony e, no elenco, há atores como Paulo Goulart, Paulo Villaça, Ana Maria Nascimento e Silva, Raul Cortez e Neusa Amaral.
Mas o protagonista é mesmo Pelé, interpretando ele mesmo. Ele é visto ensinando sua arte a garotos das divisões de base do Santos, porém é levado a se interessar pelos meninos de rua que praticam pequenos furtos em São Paulo. Ele e um empresário de bom coração (Paulo Goulart) tentam desvendar uma rede de exploração de menores e chegar aos verdadeiros mandantes dos crimes.
De craque e professor de futebol, Pelé transforma-se em policial e faz dupla com Bira (Paulo Villaça, de O Bandido da Luz Vermelha). Saem no encalço dos garotos e depois buscam os chefões que comandam a rede de roubos.
Há um pouco de tudo neste filme concebido como um policial urbano: roubos, perseguições a pé ou de carro, lutas, explosões, tiroteios. E até um lado de drama social, quando um dos garotos que Pelé esperava salvar perde a vida. Tem aquele figurino do cinema comercial da época da Embrafilme, um desejo de chegar ao público porém mantendo certa qualidade e com atenção aos temas nacionais. Ensaia até a interpretação sociológica de que iniciativas individuais são incapazes de resolver problemas sociais.
Atuação não é lá muito o ramo de Pelé. As falas parecem muito recitadas, mas ele vai melhor nas cenas de esforço físico, o que era de se esperar. A direção é meio convencional, porém o filme reserva boas sequências ao espectador. Numa delas, montada em paralelo, Pelé ensina aos jovens jogadores como se postarem em campo, enquanto o chefe dos trombinhas (Sérgio Hingst) lhes dá explicações de como se conduzir durante os assaltos. Basicamente, as orientações são as mesmas, num caso como em outro, o que empresta comicidade à montagem paralela.
Pelé pode não ser nenhum Laurence Olivier, mas dá conta do recado nesse trabalho em suma modesto. Escolher esse tema social referente à infância não surpreende quando lembramos que, ao marcar seu milésimo gol, em 1969, o Rei havia dedicado o feito às criancinhas do Brasil, para que fossem lembradas. Elas permanecem nas ruas, abandonadas como sempre.
15 de outubro de 2020 | 07h51
A notícia de que a atriz israelense Gal Gadot fará o papel de Cleópatra gerou a mais recente controvérsia de "whitewashing" - termo que se refere ao embranquecimento de personagens de outras etnias - de Hollywood e renovou um debate histórico sobre a ancestralidade da antiga rainha do Egito.
Gadot, mais conhecida por encarnar no cinema a Mulher Maravilha (2017), está confirmada como produtora e estrela do novo épico cinematográfico da Paramount. Ela assumirá o papel que ficou famoso com Elizabeth Taylor no clássico de 1963, Cleópatra.
A diretora de Mulher Maravilha, Patty Jenkins, também fará parte da produção, assim como a roteirista de Ilha do Medo (2010), Laeta Kalogridis.
O anúncio, no entanto, imediatamente gerou críticas nas redes sociais sobre a escolha da atriz branca nascida em Israel para interpretar uma rainha africana.
"Hollywood sempre escala atrizes americanas brancas como a Rainha do Nilo. Pelo menos uma vez, eles não conseguem encontrar uma atriz africana?", tuitou o autor James Hall.
O furor traz à tona críticas mais amplas ao hábito de Hollywood de selecionar atores brancos para papéis não brancos, aparentemente com base na suposição de maior apelo de bilheteria, uma prática que costuma ser chamada de "whitewashing".
Porém, outros usuários das redes sociais rapidamente notaram que a própria Cleópatra - uma governante do século 1 a.C. descendente de Ptolomeu, general de Alexandre, o Grande - era de ascendência grega e pode ter sido branca.
"Incrivelmente animada para ter a chance de contar a história de Cleópatra, minha faraó ptolemaica favorita e indiscutivelmente a mulher greco-macedônia mais famosa da história", tuitou Kalogridis, que também será produtora executiva da obra e tem origem grega. A postagem foi retuitada por Gadot, que não fez comentários sobre o tema.
Outros acusaram a reação contra a escala de Gadot de se apoiar em noções anti-semitas. Vários usuários das redes chamaram atenção para o serviço obrigatório cumprido por Gadot nas forças armadas de Israel.
Essa não é a primeira vez que a atriz é alvo de críticas online. Em março, ela enfrentou uma chacota generalizada por estar à frente de uma montagem em vídeo de celebridades cantando Imagine, de John Lennon, em suas casas.
O vídeo, destinado a dar esperança aos afetados pelo confinamento devido à covid-19, foi considerado desconectado com a vida das pessoas comuns.
Mulher Maravilha 1984, o próximo filme de Gadot, deve chegar aos cinemas em dezembro, embora alguns analistas prevejam que sua data de lançamento possa ser alterada para o próximo ano, como aconteceu com diversos outros blockbusters.
15 de outubro de 2020 | 15h01
Algumas coisas na vida nos remetem a momentos marcantes em outras fases de nossas vidas - pode ser um perfume, uma música, uma comida. Essa viagem no tempo é o que Diogo Nogueira se permite ao colocar em prática suas habilidades na cozinha. E o rapaz leva tanto jeito que lançou um livro com suas receitas preferidas. Não bastasse isso, Diogo na Cozinha foi indicado ao prêmio Gourmand World Cookbook Awards, a maior premiação internacional de editoração de gastronomia e vinhos do mundo, com sede em Madri.
A indicação na categoria Celebrity Chef – World pegou o sambista de 39 anos de surpresa, afinal a ideia do livro surgiu em um rompante, como uma alternativa para o momento de quarentena. Tudo no momento era novo, as perspectivas para o setor não eram animadoras, o mercado estava estagnado. Era preciso encontrar alternativas para continuar em atividade. “Eu estava em reunião com Anita Carvalho, minha diretora de marketing, para discutir caminhos que a gente poderia seguir durante esse processo de pandemia, quando ela lembrou que eu fiz uma moqueca para ela em uma reunião”, conta Diogo. E foi nesse momento que eles levantaram a possibilidade de fazer um livro com receitas que o cantor gosta, que costuma fazer. Daí em diante, foi só selecionar as mais de 20 receitas, que passaram a integrar a obra, lançada em junho de forma online. “Nossa, quando chegou a notícia do prêmio, que tem grandes artistas competindo e estar ali como um artista chef, foi maravilhoso, surpreendente”, vibra o músico cozinheiro.
Acostumado a preparar pratos para a família e amigos em casa ou demonstrar sua habilidade enquanto canta em suas lives, Diogo Nogueira conta que começou a lidar com temperos e elaborar receitas desde muito novo. “Às vezes, não tinha funcionário lá em casa e quem tinha de fazer a comida era eu, porque meu pai e minha mãe estavam na rua, ou viajando, então a gente tinha que se virar”, recorda Diogo, que guarda momentos afetivos dessa época, principalmente por recordar que, ainda pequeno, ficava observando os pais na cozinha. Puxando pela lembrança, cantor revela as recordações desses momentos em família e do aprendizado vindo dos pais. “Lembro da minha infância na cozinha cortando quiabo pro meu pai fazer caruru ou então ajudando-o a cortar pimentão, tomate, cebola, para fazer uma bacalhoada no forno, que ele gostava.”
Para Diogo Nogueira, foram muitas histórias que influenciaram sua vida, não apenas na cozinha como no gosto pela música. Tornou-se esse sambista, preparado na mesma fôrma que seu pai, João Nogueira. “Tinha muita história, muita conversa que sempre acontecia na cozinha, histórias que meu pai contava, de como ele começou e como foi a vida dele com a música, os primeiros trabalhos”, relembra, enfatizando, com orgulho, que o pai fez de tudo, foi vitrinista, office boy, e que falava sobre isso enquanto cozinhava.
Além de preparar suas receitas, Diogo se diz um cara bom de prato também. “Eu gosto de fazer e gosto de comer, isso é um problema (risos)”, conta o sambista, se divertindo com ele mesmo. Que tipo de pratos ele gosta? Bem, o rapaz não se faz de rogado e escancara o sorriso para afirmar que gosta mesmo é de fazer pratos fortes, como rabada, moqueca. “Eu gosto de fazer pratos mais pesados. Claro, incluo uma saladinha também, mas gosto de comida de verdade, que dá aquele suadouro (risos)”, revela, acrescentando que os preferidos do caderno de receitas são os com frutos do mar, mas não dispensa as massas, arroz, caldo, moqueca, peixada, caldeirada.
Enquanto Diogo canta e prepara as receitas, nas lives ou em casa, suas recordações afloram. Seja no palco ou à beira do fogão, ele diz ter o pai sempre presente. “Guardo todas as coisas boas e ensinamentos que tive oportunidade de pegar do meu pai na minha infância e adolescência.” Quando João Nogueira morreu, em 5 de junho de 2000, Diogo tinha 19 anos e teve tempo para aproveitar a relação com o pai. “Carrego ele comigo sempre, principalmente nos shows, aprendi bastante vendo-o no palco cantando, interpretando. Ele está aqui no meu sangue”, diz o filho sambista, que não esquece, também, de destacar a importância de sua mãe, Ângela Maria Nogueira, na preservação da memória e da arte de João. “Uma grande guerreira.”
Como para Diogo sua história de vida, na profissão e com a família, é positiva, ele passa para o filho, Davi, o mesmo tipo de experiência pessoal e que formatou sua personalidade. “Meu filho adora cozinhar, adora música, arte, sempre que o levo ao show, ele gosta de ficar no palco junto comigo, e assim, as coisas vão passando de um para o outro, da mesma forma que aprendi tudo com meu pai.”
Morador do Recreio dos Bandeirantes, no Rio, Diogo se diverte falando sobre o espanto e incredulidade das pessoas com relação à sua versatilidade. “Muita gente duvida se é verdade que eu cozinho mesmo, e isso é uma coisa natural que acontece na minha família: minhas irmãs cozinham superbem, a gente é muito natural no que faz, não tem forçação de barra, por isso que as coisas dão certo”, afirma, reforçando que não tem “caô” não. “Quando falo que surfo e pego onda, você pode ir no meu Instagram que ver que eu estou surfando; quando falo que estou cozinhando é porque estou lá e faço de verdade, não tem porque contar mentira.”
Esse alto astral e positividade de Diogo Nogueira, que quase seguiu a carreira de jogador de futebol, se reflete em suas lives, que também servem para arrecadar donativos para instituições para tratamento de câncer. “A gente consegue alimentos e dinheiro também para ajudar o pessoal da graxa, que trabalha nos bastidores da música e do teatro, principalmente nesse momento tão complicado em que as pessoas estão passando.”
E Diogo retomou sua agenda de lives após se recuperar da covid-19, que teve no final de junho, forçando a interrupção das apresentações via internet. Para o músico, foi um momento bem esquisito, pois, felizmente, não teve sintomas graves, mas foi algo que aconteceu da noite para o dia. “Comecei a ter febre forte e uma desidratação fora do normal, e aí comecei a passar muito mal, tomei só um remédio para a febre, mas, quando acordei no dia seguinte, estava muito mal. Fui para um hospital, me reidrataram, melhorei e voltei pra casa para me manter em quarentena”, conta o rapaz, que disse ter ficado tranquilo, pois não precisou ser internado e melhorou bem, mas chegou a ficar sem olfato e paladar.
Animado com a novas perspectivas, o sambista avisa que marcou para o dia 24 o retorno aos palcos. Ele vai se apresentar no Vivo Rio com o show Pra todo Mundo Sambar. Entre as canções do repertório, sua mais nova gravação, Princípio, Meio e Fim (Claudemir da Silva/ Serginho Meriti). “É quase uma oração”, afirma Diogo sobre a nova música, que irá incluir no novo DVD a ser gravado e com previsão de lançamento no começo do ano que vem. “Será algo bem solar, alto astral, pra galera sambar bastante, em casa, nas piscina ou debaixo da mangueira, do chuveiro.”
Capa do livro de receitas de Diogo Nogueira Foto: Leandro Ribeiro
DIOGO NA COZINHA
Preço: 24,90
Onde comprar: diogonacozinha.com.br
Moqueca do Nogueira (50 minutos)
INGREDIENTES
• 8 postas (Robalo ou Badejo)
• 4 limões
• 500g de camarão cinza
• 4 tomates pequenos sem pele
e cortadosem rodelas
• 1 pimentão verde cortado em rodelas
• 1 pimentão vermelho cortado em rodelas
• 1 pimentão amarelo cortado em rodelas
• 2 cebolas grandes (1 cebola picadinha e 1 cebola cortada em rodelas)
• 5 dentes de alho picado ou amassado
• 4 a 5 doses de cachaça para flambar o camarão
• Azeite a gosto
• 500 ml de leite de coco
• 4 a 6 colheres de azeite de dendê (depende do seu gosto)
• 2 pimentas dedo de moça
• Salsa e coentro a gosto
• Pimenta do reino a gosto
• 1 folha de louro
MODO DE PREPARO
• Tempere o peixe com o caldo de limão, sal e pimenta do reino a gosto.
• Antes de começar o preparo da moqueca, flambe os camarões. Nada de panelas fundas: dê preferência à frigideira. Também é preciso escolher uma frigideira com tampa, para apagar as chamas rapidamente, caso necessário. Para flambar, aqueça
a frigideira e deixe o azeite bem quente. Coloque os camarões em seguida derramando com cuidado as doses de cachaça (de preferência em um copinho de vidro) no canto da frigideira, e flambe-os em pequenas quantidades. Se você não tiver experiência para usar o fogo do fogão para flambar, use o fósforo. Após as chamas subirem, desligue o fogo e reserve os camarões.
• Em uma panela de barro coloque o azeite e deixe esquentar bastante. Quando estiver bem quente, coloque os pimentões cortados em rodelas e deixe por mais ou menos 1 minuto (sinta o perfume dos pimentões). Retire da panela e reserve.
• Coloque as cebolas picadinhas e o alho e refogue.
• Quando o refogado estiver pronto, arrume a cebola e metade dos pimentões no fundo da panela.
• Coloque as postas de peixe, o restante dos pimentões e as rodelas de tomate e cebola por cima.
• Acrescente o leite de coco.
• Aguarde o cozimento do peixe.
• Por fim, acrescente os camarões, o azeite de dendê,desligue o fogo e tampe a panela.
• Deixe apurar o sabor por 5 minutos, depois é só servir.
15 de outubro de 2020 | 05h00
Assim como Lady Night, de Tatá Werneck, que, depois de fazer sucesso no Multishow, foi exibido também na TV aberta, Que História é Essa, Porchat?, apresentado por Fábio Porchat no GNT, trilha o mesmo caminho e estreia nesta quinta-feira, 15, na Globo, após o The Voice Brasil. Vão ao ar os melhores momentos da 1.ª temporada da atração, exibida no ano passado no canal pago. O grande trunfo do programa são as histórias reais – inusitadas ou deliciosamente nonsense –, contadas por famosos e anônimos, que, durante o relato, são conduzidos com a habilidade e o bom humor de Porchat.
Gravada antes da pandemia, com convidados no centro e plateia ao redor, essa temporada trouxe nomes como Regina Casé e Fernanda Torres. No primeiro programa que vai ao ar na Globo, estarão Claudia Raia, Ney Latorraca e Marcos Veras. Enquanto isso, a 2.ª temporada está no ar no GNT, em formato para tempos de distanciamento social, com episódios inéditos até 24 de novembro.
Ao Estadão, em entrevista por Zoom, Porchat fala dessa estreia na TV aberta e do novo especial de Natal do Porta dos Fundos. No final de 2019, o especial causou polêmica – e a sede da produtora, no Rio, chegou a ser alvo de ataque. Eduardo Fauzi, um dos acusados, foi preso na Rússia. “Já houve mandado de extradição, mas não sei em que pé está isso”, diz Porchat.
A 1ª temporada fez sucesso no GNT e vai agora para a TV aberta. Como é ver o programa alcançando um público maior?
É o máximo, porque o programa deu supercerto, foi um sucesso de audiência na TV fechada. A gente ganhou prêmio APCA de melhor programa no ano passado. Fiquei bem feliz de ver que escolhi o caminho certo, em investir nas histórias. Chegando à TV aberta, significa que temos um canhão agora. As histórias chegam aos rincões deste país, porque, afinal de contas, é um número muito pequeno de pessoas que têm TV a cabo, GNT. Acho que está faltando um programa leve, descontraído, sem polêmica, sem nenhum tipo de debate ou discussão. Num momento tão polarizado como este, em que está todo mundo lacrando, dando opinião o tempo todo, acho que o público também quer descansar um pouco, quer também assistir a um programa de histórias e depois ir dormir, leve, feliz. É a primeira temporada, que foi gravada antes da pandemia. Então, tem encontro, tem aglomeração, tem gente junto. Para o público da TV aberta, é um programa original, novo, inédito.
Você teve a ideia de extrair as histórias que normalmente fazem sucesso nos talk-shows e transformá-las num programa, certo?
Começou a haver uma série de talk-shows no Brasil e virou uma febre. Fiquei pensando: ‘O que mais gosto no talk-show?’. E o que mais gosto não são as opiniões polêmicas, ou reavivar um assunto que já estava enterrado, e, sim, aquele momento em que a pessoa conta alguma coisa que a gente nunca tinha ouvido ela contar. Quando a gente lembra do Programa do Jô, aquilo que ficava na nossa memória no dia seguinte era aquela história muito engraçada que alguém foi lá e contou. Então, eu quis fazer um programa só com o filé mignon, só com as histórias engraçadas.
No começo, quando você propôs o programa, houve receio?
Todo mundo receou. As pessoas falavam: ‘Vai ser um reality show de histórias?’, ‘Vai ter um game das melhores histórias?’ ‘Você vai interpretar as histórias?’. Eu dizia: ‘Não, gente, é só história, a pessoa contar a história dela’. ‘Mas esse programa é muito simples, só história?’. E eu falava: ‘Simples que é bom’. Mas o GNT comprou de cara. Eu mesmo falei: Vamos fazer um piloto, vamos gravar e ver o que acontece. De repente, só na minha cabeça dá certo e ao vivo não dá. A gente gravou um pré-piloto, que nem foi ao ar, só para entender se funcionava, e de cara deu certo. E, de cara, as histórias da plateia deram muito certo. E aí o pessoal já amou.
Você está também no ar com a 2ª temporada do programa no GNT e ali é o formato de quarentena: você no estúdio e as telas fazendo as vezes do público e dos convidados. Como foi adaptar o programa, que é tão da sua proximidade com os participantes?
Foi superdifícil. Fizemos dois pré-pilotos, que não foram ao ar, para entender funcionalidade, mecânica, delay, se daria certo, se não daria. Para fazer só porque tinha de fazer, era muito ruim. Eu queria fazer uma coisa que mantivesse a essência do programa ali. No fim das contas, o que a gente queria era ouvir as histórias. Mas essas histórias vão ser bem contadas a distância? Então, a gente fez uma série de testes. Sinto que o resultado foi muito positivo. Mantivemos a ideia original do programa, das pessoas contando histórias. Claro, nada é igual ao formato original que tem tanto frescor. Eu ficava muito mais cansado gravando essa temporada virtual, porque exige muito mais de mim, de atenção, tanto que, no antigo normal, eu gravava dois programas por dia, e neste novo normal gravo um só. Não dá para gravar muita coisa, porque tem que entrar toda a plateia virtual, entrar os convidados, aí falha áudio, falha a imagem, aí trava, aí cai, aí a pessoa começa de novo. Então, tem que segurar a energia o tempo todo lá em cima, porque não dá para travar, cair e parar, e começar de novo. Foi todo um trabalho de entendimento desse novo formato. Acho que o fato de eu ter feito tanta live durante a quarentena me ajudou muito a entender essa mecânica do distanciamento.
Vocês já trabalham com a 3.ª temporada?
Sim, haverá a 3.ª temporada. Agora, a gente só está esperando para entender como ela será. Supostamente seria em março, mas a gente já começa a conversa pensando se espera um pouco mais, para ter o programa no formato original, ou, se não tiver vacina, a gente vai ter os convidados presenciais e a plateia virtual. Enfim, a gente está esperando virar o ano para entender como vai ser.
Foi preciso adaptar também o Papo de Segunda, que você está fazendo a partir do estúdio, e com os outros integrantes do programa e convidados a distância. Como chegaram a esse formato?
O Papo foi mais tranquilo, porque é possível se realizar daquela forma. É um programa de opinião. A gente ficou com medo de perder a intimidade que se tem ali, um brincando com o outro, rindo, sacaneando. Acho que isso a gente conseguiu não perder. Não há tanta interferência, mesmo quando a gente está ali ao vivo, porque um dá a opinião dele, depois o outro dá opinião em cima do que ele falou. Acho que a gente se adaptou bem, acho menos drástico, porque a gente depende menos do contato físico.
O Porta dos Fundos é desse universo digital, mas a pandemia também interferiu no processo de vocês. Em quanto?
Mudou completamente. A gente não grava esquetes presenciais desde março, todo mundo gravando em casa. O Porta foi muito rápido nessa percepção do que estava acontecendo. Todo mundo trabalhando muito, mas conseguindo entregar conteúdos originais, diferentes. Mais conteúdos do que a gente costumava entregar. Voltou o Rafael Infante para o elenco, a gente trouxe o Joel (Vieira), com os personagens dele. E aconteceu essa coisa que foi muito louca: a pandemia se deu logo depois da confusão do especial de Natal do ano passado. Então, todo mundo tinha se unido muito, o time tinha se fortalecido muito, e, quando vem uma pandemia dessa, ter um time tão dedicado faz toda a diferença. E o próprio especial de Natal deste ano, a gente já gravou. É o Teocracia em Vertigem, foi uma ideia do Gabriel Esteves. Como a gente não podia contracenar, ele falou: por que a gente não faz um documentário? E a gente parodiou o Democracia em Vertigem (de Petra Costa) e fez o Teocracia em Vertigem, que é a verdadeira história por trás do golpe que levou à crucificação de Jesus, fazendo um paralelo entre a história desde o julgamento de Jesus até a Ressurreição, fazendo um contraponto com tudo o que tem acontecido no País, do impeachment para cá. Então, a gente tem personagens que são contra Jesus, personagens que são a favor, gente falando que foi golpe, que não foi, gente falando: ‘tchau, querido’, ‘temos que estancar a sangria’.
Estão preparados para os haters?
A gente faz isso desde 2013. Desde 2013 que a gente tem especial de Natal todo ano. A gente sempre fez esquetes com religião. Aliás, com todas as religiões. Não há sagrado para o Porta dos Fundos, nem mesmo o sagrado. Porque a gente acredita que, quanto mais a gente brinca, ri, e coloca o dedo nas feridas abertas de toda a sociedade, melhor é para sociedade, inclusive, melhor é para a democracia, porque, a partir do momento que algum assunto se torna sagrado, ou tabu, ele vira regra, ele vira lei, ele vira um monstro. E, quando ele vira um monstro, não dá mais para voltar. Então, acho que uma das funções da comédia é não deixar nada se transformar em monstro.
E por que parece que só no final do ano passado que ‘descobriram’ o especial?
É, porque o movimento não é religioso, é um movimento político. O Brasil está dividido, o mundo está dividido, e as pessoas politizaram o especial do Porta dos Fundos.
Pelo o que aconteceu no final do ano passado, então, vocês estão preparados para novas ações que queiram tirar vocês do ar, da Netflix, do planeta...
Estamos superpreparados. Este ano, o especial de Natal vai ser no YouTube, exatamente para ter mais acesso, para as pessoas terem mais possibilidade de assistir, porque muita gente falava: ‘não tenho Netflix’, ‘como faz para assistir?’. Então, a gente está lançando no YouTube este ano, para todo mundo poder assistir, vai estar disponível no canal do Porta dos Fundos. A gente lança na primeira semana de dezembro, e estamos preparados como a gente sempre está. A gente recebe críticas desde sempre. Então, isso não é problema. A gente ouve, recebe, aceita e entende, mas a verdade é que o especial de Natal deixou de ser um vídeo do Porta dos Fundos para ser uma luta pela liberdade de expressão. Hoje o especial de Natal do Porta ganhou um peso e um reforço muito grande, e é isso que essas pessoas não entendem: quanto mais pedem para não assistir, mais atiçam a curiosidade das pessoas e mais reforçam a necessidade de haver um conteúdo como esse.
14 de outubro de 2020 | 08h04
Stevie Wonder está de volta com duas músicas inéditas. Can't Put It in the Hands of Fate e Where Is Our Love Song marcam o retorno do artista desde o single All About the Love Again, de 2009.
Escritas pelo artista, ambas as canções tratam dos debates e desafios globais de hoje. Em Can't Put It In the Hands of Fate, ele traz quatro artistas do hip-hop: Rapsody, Cordae, Chika e Busta Rhymes.
Já a música Where Is Our Love Song tem a participação do guitarrista Gary Clark Jr., e fala sobre "onde estão nossas palavras de esperança, oração pela paz e nossa canção de amor tão desesperadamente necessária.
Segundo informações da gravadora, Stevie doou os royalties da faixa para Feeding America, uma ONG norte-americana que alimenta mais de 46 milhões de pessoas. “Nestes tempos, estamos ouvindo os mais pungentes gritos e precisamos despertar esta nação e o mundo. Por favor, atendam à nossa necessidade de amor, paz e unidade”, declarou o músico.
12 de outubro de 2020 | 05h00
Os bordões eternizados por Tancinha como “olha os melão!” e “não me enche os pacová” estão de volta à faixa das 7. Estreia nesta segunda, 12, na Globo, uma edição especial da novela Haja Coração, de Daniel Ortiz e com direção artística de Fred Mayrink, que foi exibida em 2016. E a Tancinha que retorna à TV é a de Mariana Ximenes, que se inspirou na personagem original, vivida por Claudia Raia, em Sassaricando, de 1987.
“Foi um personagem extremamente afetivo, e eu estava com medo de fazer, porque já tinha sido eleito ícone o personagem feito pela Claudia. Então, quando fui chamada, falei: ‘Uau, será que vou conseguir (risos)?’. Foi um papel muito marcante da Claudia, e somos diferentes fisicamente. Fiquei pensando muito, mas eu também queria criar a minha Tancinha, dar a minha assinatura também para o personagem, e porque a trama foi modificada um pouco, teve uma roupagem mais contemporânea”, conta Mariana, em entrevista ao Estadão, por telefone, de sua casa, em São Paulo, onde passa a quarentena com a mãe.
Para encarar esse desafio, ela lembra que recebeu o apoio de toda a equipe da novela e da própria Claudia, que a considera como uma espécie de filha, assim como outras atrizes de quem foi mãe na ficção, como Paolla Oliveira e Fernanda Souza. Foi na novela A Favorita, de 2008, que Mariana diz ter selado sua “maternidadecom a Claudia Raia”.
“Num primeiro momento, fui até revisitar um pouco (Sassaricando) para lembrar, porque ficou no meu imaginário, mas não assisti muito na época”, diz a atriz paulistana de 39 anos – e que tinha apenas 6 quando a novela de Silvio de Abreu foi ao ar. “Ao mesmo tempo, não vi tanto também para não me influenciar muito, porque é outra época e eu tinha de buscar fazer a minha Tancinha. A Claudia me falou uma coisa linda e que tomei para mim: ‘Mari, coloca seu coração’.”
Essa construção contou ainda com outros reforços, como o estudo da linguagem peculiar de Tancinha, cunhado sob a influência dos moradores italianos do bairro da Mooca. Mariana teve, inclusive, a mesma preparadora de Claudia Raia, Íris Gomes, para estudar prosódia. “Fiz uma coisa gostosa, e que foi muito valiosa para a construção do personagem, que foi ir para a Mooca. Fui para a feira da Mooca, e fiquei lá umas 4 horas, conversando com todo mundo, pegando informações e entendendo o dia a dia da feira”, diz.
“Perguntei para as meninas que trabalhavam na feira onde elas compravam suas roupas. Elas falaram que era no Brás. Aí fui no Brás, comprei uma mala de roupa, e aí a gente começou a formatar com a figurinista da novela, com o diretor, com o autor. A gente começou a pensar no figurino a partir dessa minha experiência na feira. E a própria experiência de estar na feira, de poder ver as meninas da minha idade lá, como elas abordam os clientes, o ambiente da feira, foi muito valioso ter feito essa imersão.”
O tom cômico e leve que conduz a trama rendeu cenas hilárias a Tancinha, algumas beirando o pastelão – como quando ela enfia a cara da mimada Fedora Abdala (Tatá Werneck) no bolo. Sinal de que, apesar de inocente, Tancinha não levava desaforo para casa. “Isso que era uma delícia. Ela subia em cima do caixote da feira e enfiava uma melancia na cabeça do cliente que fosse desrespeitoso. Era muito divertido, mas tudo com uma pureza. Ela tem uma coisa quase de criança. E com muita leveza.” Sem esquecer o triângulo amoroso com Apolo (Malvino Salvador) e Beto (João Baldasserini), pelos quais seu coração fica “divididinho” – e que rende outros momentos engraçados.
Haja Coração, aliás, foi um dos poucos trabalhos de humor na carreira de Mariana. “Se pudesse, faria mais humor. Sempre falei que sou fã de quem faz humor e dos comediantes, porque acho uma coisa dificílima de fazer. E quando fui fazer, confirmei. Mas eu amei, faria mais”, afirma. “Você pode falar tudo através do humor. Fiz uma peça chamada Os Altruístas, quem dirigiu foi o Guilherme Weber. Era uma tragicomédia, tinha um humor ácido.”
E como Tancinha, que adora estar na feira, no meio das pessoas, estaria nesta quarentena? Mariana se diverte com essa ideia. “Como é que seria Tancinha em quarentena, sem poder ir à feira? Não sei... Como é que seria, gente? Será que ela montaria uma barraquinha de máscaras? Iria bater de porta em porta para vender as coisas?”, arrisca ela.
Se para Tancinha a quarentena poderia ser um período de reinvenção, para Mariana Ximenes, esse é um tempo de muito pensamento, mas também muito criativo. “Tudo o que aconteceu me atravessou, e estou traduzindo esse atravessamento de uma forma criativa.” Um dos resultados disso foi a criação do coletivo Cara Palavra, juntamente com Andréia Horta, Bianca Comparato e Débora Falabella. No próximo dia 24, elas estreiam um espetáculo online, com dramaturgia e direção de Pedro Brício, no Teatro Porto Seguro, transmitido remotamente. Os ingressos custam a partir de R$ 20.
“Eu nem chamaria de peça, estamos chamando de sarau performático. Escolhemos fazer poesias, estamos fazendo uma curadoria de poetas contemporâneas”, explica Mariana, que, durante a quarentena, se aprofundou na obra da artista Lygia Clark (1920-1988), e vai levá-la para o espetáculo. Elas participarão das apresentações de suas respectivas casas: Mariana, a partir de São Paulo; Andréia, do Rio, e Bianca, dos EUA. Somente Débora estará no teatro.
Mariana participa ainda de outro projeto experimental: a microficção Amor de Quarentena, realizada via Whatsapp, até dia 5 de novembro, com ingressos a R$ 40. Com direção de Daniel Gaggini, traz ainda Reynaldo Gianecchini, Débora Nascimento e Jonathan Azevedo.
E o período de isolamento também é uma oportunidade para a atriz se rever em antigos trabalhos, tão distintos entre si: em Chocolate com Pimenta, no Viva; A Favorita, no Globoplay; e Haja Coração, agora na Globo. “Essa é uma novela que fala de um laço familiar tão importante. É uma família brasileira, que acorda cedo para batalhar na feira, ganha dinheiro honestamente. Então, acho que é uma novela que vem em boa hora”, diz a atriz. “E a Tancinha é esse personagem que é verdadeiro. É bom a gente ter verdade nessa vida. Neste momento então, fica mais evidente isso: a gente valorizar comportamentos como respeito, empatia, solidariedade, sinceridade. São valores que a gente precisa sempre ressaltar.”
11 de outubro de 2020 | 05h00
Na noite de 30 de agosto de 2018, Claudette Soares já estava pronta para subir ao palco do Teatro Itália, na região central de São Paulo, para fazer uma única apresentação de um show em homenagem à cantora e compositora Maysa (1936-1977) quando seu produtor Thiago Marques Luiz disse duas palavras que costumam colocar em pânico grandes artistas, mesmo depois de décadas de carreira: “vou gravar”. “Eu quase morri do coração”, diz hoje, aos risos, Claudette. Para quem não é músico ou cantor, parece difícil entender. Mas, para eles, show é show e gravação é gravação. O resultado desse “susto” chega agora às plataformas digitais e em CD, no álbum Claudette Soares Canta Maysa, pela gravadora Discobertas.
O medo acabou quando as cortinas abriram e ela, sentada em um banco bem alto ao lado do piano, deu de cara com uma plateia lotada. Quando o trio que acompanhava tocou os primeiros acordes de Demais (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), gravada por Maysa, Claudette já sabia muito bem o que fazer com as 15 canções do roteiro. Em vez de “morrer do coração”, fez renascer um repertório que ela sempre teve vontade de cantar.
“Eu estudo muito antes de fazer um trabalho. Uso a noite e a madrugada para decorar as letras. Esse frio na barriga que dá é a responsabilidade que tenho com o público de fazer sempre o melhor. Se é um disco ao vivo, tem que ser perfeito. Tem artista que faz um ao vivo de mentirinha, coloca voz em estúdio depois. Eu não gosto de fazer dessa maneira”, explica a cantora.
Quatro canções escritas por Maysa fazem parte do repertório: Meu Mundo Caiu, grande sucesso de 1958; Resposta, aquela em que a cantora afirma que só faz o que gosta e o que crê; Tema de Simone, de 1971; e Ouça, outro grande hit do segundo LP de Maysa – uma composição de amor próprio, um pensamento que poucas mulheres ousavam externar à época. A direção musical é do pianista Alexandre Vianna, que tem a companhia de Rafael Lourenço na bateria e João Benjamim no baixo acústico.
De outros compositores, há músicas como Eu Não Existo Sem Você, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes; Eu e a Brisa, de Johnny Alf; Chão de Estrelas, de Silvio Caldas e Orestes Barbosa; e o bolero La Barca, de Roberto Cantoral. “La Barca foi o único ponto de discordância entre mim e meu produtor. Mas resolvi encarar”, diz a Claudette, pelo fato de a letra ser em espanhol.
Claudette e Maysa foram amigas. Conheceram-se nas esfumaçadas boates cariocas que tocavam bossa nova entre o fim dos anos 1950 e o começo dos anos 1960. A amizade se estreitou quando Maysa começou a namorar o jornalista e compositor Ronaldo Bôscoli (1928-1994), o mesmo que sugeriu que Claudette trouxesse a bossa nova para São Paulo quando o círculo do banquinho e violão ficou restrito a poucos artistas no Rio. Maysa costumava ir ao Juão Sebastião Bar só para ver Claudette cantar Primavera, um de seus sucessos.
A despeito do que falam sobre a personalidade forte de Maysa, Claudette diz que a amiga era meiga e com olhos verdes que ela jamais viu. “Ela era linda, alta, com aqueles olhos enormes. Se eu fosse a Maysa, ficaria tão metida que não olhava na cara de ninguém”, brinca. Claudette tem pouco mais de 1,50m de altura; Maysa tinha 1,70m.
“Teve um dia que ela tirou as sandálias, colocou-a nos dedos da mão e disse: ‘baixinha, vamos entrar assim na boate. Amanhã vão escrever nos jornais que eu estava tão bêbada que tive que tirar os sapatos’. E não deu outra. Havia esse folclore em torno dela, mas eu nunca a vi bêbada no palco”, diz Claudette, que namorou o irmão de Maysa, Cibidinho Monjardim, por quase três anos.
Claudette diz que o tributo à amiga veio a seu tempo, assim como tudo o que ocorreu em sua carreira, que já soma mais de 60 anos. Começou cantando ainda menina em programas de rádio. Depois, ganhou o título de Princesinha do Baião, ajudou a inaugurar a bossa nova, caiu no balanço de temas escritos especialmente para ela por nomes como Toquinho e Jorge Ben Jor até chegar ao sucesso com a romântica De Tanto Amor, de 1971, que Roberto e Erasmo lhe confiaram para gravar. “Tudo o que fiz na vida foi cantar. Não fiz outra coisa.”
Quando a pandemia paralisou as atividades culturais em março, Claudette vinha de três anos de intensa atividade artística. Em 2017, lançou o elogiado álbum Canção de Amor, com repertório inspirado no livro A Noite do Meu Bem, do jornalista Ruy Castro. Em 2018, festejou 60 anos de bossa nova ao lado da amiga Alaíde Costa. No ano passado, lançou um disco com canções do compositor Silvio Cesar e, no começo do ano, ao lado de Eliana Pittman e Doris Monteiro, gravou As Divas do Sambalanço, que traz músicas cheias de suingue, como Baiãozinho e Samba Toff.
Além desses projetos, Claudette também apresentava o Baile da Claudette, que colocava o público para dançar ao som de sucessos como Que Maravilha, Lança Perfume e Baba, de Kelly Key. “Quando voltar, vou colocar Show das Poderosas, da Anitta. Aliás, eu já fui Anitta, né?”, diz, em referência ao figurino com minissaias que usava nos anos 1960.
A cantora diz que reagiu bem a esse período de férias forçadas. “Não dou lugar para a tristeza, para a depressão. Gosto da vida.” Para marcar sua volta – ainda longe dos palcos – Claudette fará sua primeira live em 31 de outubro, quando completa 85 anos. Na apresentação, que será patrocinada por um amigo, ela será acompanhada pelo pianista Alexandre Vianna e ganhará de presente as participações dos cantores e amigos Alaíde Costa e Ayrton Montarroyos, que participa do CD em homenagem à Maysa em Por Causa de Você (Antonio Carlos Jobim e Dolores Duran). No repertório, músicas do álbum dedicado à Maysa, canções de Silvio Cesar e outras bossas.
Claudette já está de olho no futuro. Entre seus desejos estão um disco dedicado às canções de Roberto Carlos e uma nova versão do álbum Gil, Chico e Veloso por Claudete, de 1968. “É como sempre digo: minha maior vingança é estar viva”, brinca.
10 de outubro de 2020 | 05h00
É melhor não subestimar a quarentena de Rick Wakeman. Aos 71 anos, o tecladista britânico usou parte do período em que esteve isolado para concluir um álbum relativamente bem recebido em junho pelos fãs chamado The Red Planet, com oito temas instrumentais inspirados na vida que ele tem a certeza de existir formas de vida no Planeta Marte. Ao Estado, Rick diz que se trata de um autêntico álbum de rock progressivo, como nos velhos tempos. “Eu gravei tudo durante os primeiros três meses deste ano e consegui completar antes do coronavírus provocar o bloqueio aqui no Reino Unido. Estou feliz de poder dizer que fui extremamente bem recebido em todas as partes do mundo.”
A empolgação de Wakeman, maior nome em atividade de uma geração que fez os anos 70 sobrevoar a Terra com timbres e sonoridades sem similares até então, se estende ao grupo que o acompanhou mesmo em situações de finalizações remotas. “Estou muito feliz com a forma como esse disco aconteceu. Trata-se de um verdadeiro álbum feito por um teclado de prog rock em todos os sentidos da palavra, com algumas tomadas bem importantes dos músicos que escolhi.” Eles são Lee omeroy no baixo, Dave Colquhoun nas guitarras e Ash Soan na bateria. A coprodução ficou com Erik Jordan.
Mas Wakeman fala com um jornalista brasileiro por um outro motivo. Ele é uma das atrações do 6º. Festival BB Seguros de Blues e Jazz. Mais uma experiência infelizmente à distância, mas com um arsenal diversificado e potente que pode render mesmo sob as friezas das lives. Rick Wakeman se apresenta às 22h deste sábado (10), com a possibilidade de ser visto tanto pelos canais do YouTube e do Facebook do BB Seguros (business.facebook.com/festivalbbseguros/ e youtube.com/festivalbbsegurosdebluesejazz) quanto por um telão de acesso gratuito montado no drive in do Memorial da América Latina (Rua Tagipuru, 418). Antes dele, a partir das 17h, haverá shows de uma em uma hora de Marco Lobo, Jazz Rock Trio, Cristina Braga, Nômade Orquestra e da excepcional cantora de blues Mary Lane. Depois, o festival será encerrado pelo guitarrista de blues Nuno Mindelis, a partir das 23h.
Rick Wakeman parece o garoto do que chegou ao Yes com 25 anos quando segue falando de The Red Planet. “A verdade é que eu não poderia ser mais feliz. Aconteceu mesmo melhor do que eu poderia ter desejado. Não há um elemento no álbum que eu possa mudar.” Sobre o tema do disco, ele diz que a humanidade, finalmente, está pronta para dar razão ao que David Bowie disse nos anos 1970. “Estamos aprendendo muito sobre o Planeta Marte, ele está lentamente abandonando seus segredos e revelando o quanto tem de água em rios e oceanos. Meu bom amigo David Bowie estava completamente certo quando dizia que ‘há vida em Marte!’”
Ao contrário da opinião de parte dos roqueiros de que o rock progressivo seja um animal extinto desde os anos 80, o tecladista diz: “Absolutamente não, ele não está extinto. É claro que nunca alcançará as alturas dos primeiros anos e da metade da década de 1970, mas com tantos músicos jovens abraçando o prog rock, a música está em constante evolução. Acho que o futuro do gênero é brilhante.” Em sua opinião, o que teria levado seu público a adorá-lo como a uma entidade? As capas douradas e os visuais elaborados teriam ajudado uma idolatria por vezes desmedida? “Sim, eu entendo totalmente o que você está dizendo, mas não é verdade. Alguns de nós acreditamos nessa idolatria, mas somos todos diferentes. O único culto que temos é pela música.”
Se Rick Wakeman conhece bandas de rock brasileiras? “Sua pergunta me encoraja a pesquisar para saber mais do que está acontecendo musicalmente no Brasil e quem são os artistas atuais que estão causando as boas impressões. Vocês sempre tiveram um padrão muito alto de música. Espero logo poder voltar aí. Nunca me esqueço da primeira visita que fiz para tocar em seu país em 1975.”
08 de outubro de 2020 | 08h02
Atualizado 08 de outubro de 2020 | 11h42
A poeta americana Louise Glück é a Prêmio Nobel de Literatura 2020. Sua obra é inédita em livro no Brasil. A cerimônia desta quinta-feira, 8, foi transmitida por streaming da Suécia, onde a Academia — composta atualmente por sete membros — escolhe o laureado.
A escritora foi escolhida "por sua voz poética inconfundível que, com beleza austera, faz universal a existência individual". O presidente do comitê do Nobel, Anders Olsson, disse que falou com a poeta por telefone. "A mensagem chegou como uma surpresa bem-vinda, pelo que posso dizer, tão cedo na manhã." O prêmio deste ano é de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6 milhões).
Em uma ligação gravada e divulgada pelo comitê do Nobel, feita minutos após o anúncio, Glück disse que não fazia ideia o que o prêmio significava para ela, e foi bem humorada. "Meu primeiro pensamento foi que não teria mais amigos, porque todos eles são escritores", disse. "O prêmio ainda é muito novo, eu não sei o que significa. É uma grande honra. Há, claro, outros laureados que eu não admiro, mas então penso nos que admiro, inclusive alguns muito recentes. De maneira prática, eu queria comprar uma nova casa em Vermont, e agora talvez seja possível. Estou mais preocupada com a preservação da vida cotidiana das pessoas que eu amo. O telefone está tocando o tempo todo."
Quando o representante da Academia pergunta se ela gostaria de indicar um caminho para quem não conhece sua obra ("são muitos", ri a poeta), ela diz que não há. "Os livros são muito diferentes uns dos outros. Eu diria para não ler o primeiro, mas sigo interessada no trabalho seguinte. Averno (2006) talvez seja um lugar para começar, e meu livro mais recente, Faithful and Virtuous Night (2014)." Em seguida, ela pede para desligar e diz que onde está ainda não é nem sete da manhã. "Preciso de um café."
Glück nasceu em 1943 em Nova York, e atualmente vive em Cambridge, Massachusetts. Além de escritora, ela é professora na Yale University, em Connecticut, e mesmo antes do Nobel era reconhecida como uma das poetas mais importantes dos Estados Unidos.
Ela estreou na poesia em 1968 com o livro Firstborn, e entre outros prêmios importantes também levou o Pulitzer, pelo livro The Wild Iris, em 1993, e o National Book Award, em 2014. Dois anos depois, ela recebeu a National Humanities Medal do então presidente dos EUA, Barack Obama.
Louise Glück publicou doze coleções de poesia e alguns volumes de ensaios sobre o assunto. De acordo com a Academia Sueca, seu trabalho é caracterizado por uma busca pela clareza. Entre seus temas, estão a infância, a vida em família, e os sonhos e ilusões são alguns de seus processos na escrita.
"Mesmo se Glück nunca negasse a importância do contexto autobiográfico, ela não deveria ser encarada como uma poeta confessional", diz a Academia Sueca. "Glück busca o universal, e nisso ela se inspira em mitos e motifs clássicos, presentes na maior parte do seu trabalho. As vozes de Dido, Perséfone e Eurídice — a abandonada, a punida, a traída — são máscaras para um eu lírico em transformação, tão pessoal quanto válido de maneira universal."
Em uma entrevista em 2012, ela disse: "Eu aprendi a ler muito cedo, muito jovem, e meu pai gostava de escrever versos burlescos. Então eu e minha irmã começamos a escrever livros muito cedo. Ele os imprimia e nós ilustrávamos, e muitas vezes os textos eram em versos". Ela começou a escrever por si mesma ainda adolescente, e passou a enviar os poemas para revistas, muitas vezes rejeitados. "Mas eu persisti."
Ela mesma se descreveu como uma "adolescente não muito bem sucedida", e que as suas colegas a consideravam estranha. "Tornei-me bastante alheia, e depois passei por uma severa anorexia", mas estava, ao mesmo tempo, determinada a ser artista e professora.
Ao compará-la com outras autoras, a Academia Sueca disse que Glück lembra a poeta do século 19 Emily Dickinson na sua "severidade e falta de vontade de aceitar princípios simples de fé".
O caráter às vezes bem humorado e mordaz dos poemas também foi destacado pelo comitê. O livro Vita Nova (1999) termina com os versos: "I thought my life was over and my heart was broken. / Then I moved to Cambridge" ("Eu pensei que minha vida estava acabada e meu coração partido / Então eu me mudei para Cambridge"). O título do livro remete ao clássico de Dante, que celebra a nova vida ao lado de sua musa, Beatrice.
"O leitor é atingido pela presença da voz e Glück se aproxima do motif da morte com graça e leveza irreparáveis", diz o comunicado da Academia. "Ela escreve poesia narrativa e onírica, relembrando viagens e memórias, apenas para hesitar e pausar para novas intuições. O mundo é emancipado, apenas para magicamente se tornar presente mais uma vez."
A professora associada da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Erica McAlpine, disse que Glück "conseguiu se tornar urgentemente contemporânea mas simultaneamente atemporal". "A ocasional desolação da sua voz fala especialmente bem ao nosso momento presente, mas sua poesia sempre foi intimamente conectada com a grande tradição lírica por trás dela", disse.
O presidente da editora americana Farrar, Straus & Giroux, que publica as obras de Glück, disse nesta quinta-feira estar certo de que o Nobel traria sua poesia a muitos novos leitores. "Ela é uma das raras poetas contemporâneas cujo trabalho tem o dom de falar diretamente com os leitores através de sua arte sutil e especial", afirmou.
O poeta, tradutor, músico e professor Pedro Gonzaga publicou em 2017 e 2018, no blog Estado da Arte, algumas traduções de seus poemas (veja abaixo).
"Filha de uma família de imigrantes húngaros de origem judaica, Glück é conhecida por uma obra marcada pela precisão e pela economia a fazer contraste com seu tom confessional, criando um estranho distanciamento subjetivo", escreveu Gonzaga. "Outro aspecto importante é um retorno aos temas clássicos, seja pelo culto ao mundo natural, assunto dominante em seu premiado Wild Iris (1992), seja pela retomada criativa de figuras que povoam a mente de poetas e leitores filiados à tradição ocidental."
Sobre a sua obra crítica, outra parcela fundamental do trabalho de Glück, Gonzaga também é elogioso. "A economia e a clareza de suas avaliações, seja na análise de suas memórias, seja sobre os desafios da lírica, em muito lembram essas mesmas qualidades admiráveis em seus poemas. Numa era de politização total dos temas e de guetificação da experiência humana, numa arte que mais parece propaganda de meia dúzia de lemas gastos, suas palavras são água cristalina e fresca no mais desolador dos verões."
Glück se une agora a Toni Morrison e Pearl S. Buck entre as escritoras americanas laureadas com o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2016, o também estadunidense Bob Dylan foi o escolhido, numa escolha um tanto surpreendente mas não por isso desmerecida. Glück é a primeira poeta mulher a vencer o Nobel desde Wislawa Szymborska, em 1996.
08 de outubro de 2020 | 10h00
A cantora Jane Duboc encerra a temporada de Ilustre Criança - Desenhando A Canção, no Teatro Porto Seguro online, em 12 de outubro, em homenagem ao Dia das Crianças.
Acompanhada virtualmente pelo músico Junior Lobbo e pelo ilustrador Alexandre De Nadal, o trio apresenta Ele Infante, a história de um elefante de circo que nasceu grande demais.
Jane Duboc faz live infantil hoje, na programação digital do Teatro Porto Seguro
Com direção de Fernando Cardoso, a obra tem a proposta de interagir com toda a família por meio de contos infantis escritos e interpretados pela cantora, permeadas por canções e conversas. Durante a apresentação, as crianças podem pintar e desenhar seguindo as orientações do ilustrador Alexandre De Nadal.
A peça Ele Infante, no Teatro Porto Seguro online, é apresentada via streaming pela plataforma Zoom. Os ingressos, a partir de R$20, terão parte do valor destinado para campanhas que estão auxiliando os diversos profissionais das artes cênicas, afetados pela pandemia do novo coronavírus.
Serviço:
Ele Infante, da série Ilustre Criança - Desenhando A Canção, no Teatro Porto Seguro
Quando: Segunda-feira, 12 de outubro, às 16h
Com Jane Duboc, Alexandre De Nadal e Junior Lobbo.
Direção: Fernando Cardoso.
Ingressos: A partir de R$20.
Classificação: Recomendado para crianças acima de 2 anos.
Duração: 40 minutos.
Vendas exclusivamente on-line no site.
07 de outubro de 2020 | 07h52
Brad Pitt e Angelina Jolie se separaram em 2016, mas ainda brigam pela guarda de cinco de seus seis filhos. Em mais um episódio dessa batalha, o galã entrou na Justiça para pedir uma divisão igual da custódia dos herdeiros, que hoje passam mais tempo com a mãe.
Segundo uma fonte citada pelo site Entertainment Tonight, Pitt pretende conseguir que a guarda compartilhada dos filhos "seja determinada e mantida".
O ex-casal luta pela guarda de Pax (16 anos), Zahara (15), Shiloh (14), Vivienne e Knox (12). Já Maddox, que tem 19 anos, é maior de idade e não está incluído na decisão.
O casal começou o relacionamento em 2003, nos bastidores das filmagens de Sr. & Sra. Smith, em que são protagonistas. Eles se casaram em 2014 e o pedido de divórcio foi feito em setembro de 2016.
Atualmente, de acordo com o site TMZ, o ator de 56 anos, que também é ex-marido de Jennifer Aniston, está namorando a modelo alemã Nicole Poturaski, de 27.
06 de outubro de 2020 | 05h00
Em meio a percalços provocados pela pandemia do novo coronavírus e por problemas internos, a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, anuncia nesta terça, 6, sua 18.ª edição, que será mais enxuta e em formato virtual. O Estadão apurou que houve um enxugamento nos números – a começar pelo período da festa, que agora ocupará quatro e não cinco dias: de 3 a 6 de dezembro. Com isso, a tradicional palestra de abertura, que sempre ocorre em uma quarta-feira, será incorporada à programação, que agora vai de quinta a domingo.
A lista dos autores será divulgada no início de novembro, mas deverá ficar por volta de 15 – o Estadão adianta que estão confirmados a britânica Bernardine Evaristo (vencedora do Booker Prize de 2019 e que participará da mesa de abertura), a colombiana Pilar Quintana (cujo romance A Cachorra será lançado pela Intrínseca) e o brasileiro Itamar Vieira Junior (autor de Torto Arado).
Com isso, a previsão é que a programação tenha de duas a três mesas por dia (o habitual é entre quatro e cinco) e cada encontro poderá contar com até três escritores, além do mediador. A boa notícia para os fãs da festa literária é que a Flip Virtual será gratuita, sem venda de ingresso e com participação ilimitada de público na transmissão que será ao vivo em plataforma própria e nas redes sociais da Festa. Também haverá vídeos gravados, eventos paralelos e programações de parceiros.
“Este é um ano atípico, por isso optamos por este formato”, explica Mauro Munhoz, diretor artístico do evento. “A Flip Virtual contará com uma linguagem própria que respeita o sentido original e o espírito da Festa: ser mais do que um mero evento, estabelecendo uma relação duradoura e permeável com Paraty.”
A edição será atípica também por não contar com a presença de um curador nem de um autor homenageado. A jornalista e editora Fernanda Diamant deixou a função da curadoria em agosto – em nota, ela anunciou o desejo de abrir mão do “espaço de privilégio de forma pública”, em favor de uma curadora negra. “Mais que uma programação com autoras e autores negros, a Flip agora precisa de uma curadora negra para reinventá-la nesse mundo pós-pandemia”, escreveu Diamant.
Depois de sua saída, não houve ainda substituição. Já a questão da homenagem, o nome anunciado em novembro do ano passado foi da escritora americana Elizabeth Bishop (1911-1979), mas sua simpatia, declarada à época, ao golpe militar de 1964 despertou diversas críticas, transformando o que seria uma homenagem em um dilema.
“Entendemos que este ano a pandemia causou a morte de artistas imprescindíveis à nossa cultura, como o escritor Sergio Sant’Anna, o compositor e letrista Aldir Blanc, o artista plástico Abraham Palatnik e a regente Naomi Munakata, entre muitos outros. Portanto, este não é um momento de celebração. Assim, não teremos um autor específico em destaque, iremos homenagear coletivamente os que partiram”, comenta Munhoz.
Como houve uma queda significativa de receita, a Flip lançou, no mês passado, uma campanha de financiamento coletivo visando a manutenção do projeto educativo (como atividades da Flipinha e FlipZona) até março de 2021.
Entre os autores já confirmados, a britânica de origem nigeriana Bernardine Evaristo é autora de Garota, Mulher, Outras, que será lançado pela Companhia das Letras no dia 13 e que, ao ganhar o Booker Prize do ano passado, a alçou à condição de ser a primeira autora negra a receber a premiação.
Já Itamar Vieira Junior é autor de Torto Arado (Todavia), livro vencedor do Prêmio Leya de 2018. E Pilar Quintana é autora de A Cachorra, que a Intrínseca lança em novembro. Trata-se da história de Damaris que, aos 40 anos, adota uma cachorra e a batiza com o nome que gostaria de ter dado à filha que nunca conseguiu ter. “Quando comecei a escrever, eu me perguntava: ‘é incondicional o amor das mães?’”, comenta Pilar, em entrevista ao Estadão. “Se seguimos pelo livro, a resposta seria ‘não’, pois as mães também desejam amor e têm seus problemas com seus filhos.”
O ponto central da história é a maternidade, mas grande parte de sua força vem do cenário em que ela se passa: a pobre e selvagem costa do oceano Pacífico colombiano, onde a própria escritora viveu durante nove anos. “É um dos lugares com maior biodiversidade do planeta e, portanto, muito rico. Mas, ao mesmo tempo, é uma das regiões mais pobres do país. A maioria dos seus habitantes é formada por negros, abandonados pelo governo. Vivem da pesca e do turismo, não têm serviço público, educação, e o acesso à saúde é precário e, às vezes, nenhum.”
A experiência vivida em Juanchaco (Pilar contraiu leishmaniose e malária) foi difícil, mas ajudou a moldar sua literatura, que logo a tornou uma das principais escritoras colombianas de sua geração.
Pilar teve seu primeiro filho aos 40 anos, como a protagonista de A Cachorra, e conta que escreveu o romance inteiro no celular, enquanto amamentava seu filho. A maternidade teve forte influência na narrativa, especialmente quando a personagem Damaris passa do instinto maternal para o assassino.
“O que me interessa é a complexidade das pessoas. Um assassino nunca é só uma pessoa má. Geralmente são vítimas das suas circunstâncias, foi criado em um ambiente violento e sofreu maus-tratos na infância”, disse. “Busquei explorar como uma boa pessoa pode chegar a cometer algo que ela mesma considera impensável.”
05 de outubro de 2020 | 09h00
Ella Fitzgerald dificilmente cantava o blues, e sua voz raramente transbordava emoção ou fúria. Ao escutá-la cantando com perfeição uma balada, você pode não se sentir convidado a pular em seu próprio mundo e sentir sua dor, como faria com Billie Holiday ou Little Jimmy Scott.
Você poderia dizer que Ella estava para cantar como Yo-Yo Ma está para o violoncelo: perfeição absoluta, personificada. Ella pensa na nota, ela acerta a nota. Ela aprende a canção, ela se torna a canção. Ainda assim, há uma troca sagrada acontecendo. Ao invés de trazer você para a canção, Ella traz a canção para você. E o efeito é inegável - você fica desarmado.
Faz sentido, então, que as gravações ao vivo de Ella sempre tenham tido um poder especial que suas gravações de estúdio poderiam apenas sugerir. Como disse seu biógrafo Stuart Nicholson, as melhores “revelam a verdadeira Ella, proporcionando prazer aos outros ao proporcionar prazer a si mesma”.
Desses álbuns ao vivo, poucos deixaram uma impressão mais duradoura do que Mack the Knife: Ella in Berlin, de 1960, amplamente considerada uma de suas maiores capturas. E o prazer aumenta com o recém-lançado, pela Verve Label Group, Ella: The Lost Berlin Tapes, documentando um show que ela realizou lá dois anos após sua famosa primeira aparição.
Juntamente com Ella Fitzgerald: Just One of That Things, um documentário informativo lançado em plataformas digitais no início deste mês, é um convite válido para se envolver novamente com uma cantora cujas constantes improvisações - partes iguais de precisão e profusão - são muito facilmente subestimadas.
No álbum, Ella está na casa dos 40 anos e bem estabelecida como realeza da música popular. Ouça a amplitude e a profundidade de seu vibrato, a maneira como ela usa a respiração forte para dar um soco nas passagens rítmicas, como ela reinventa a melodia de Ray Charles Aleluia! I Love Her So como se sua voz fosse um saxofone com palavras.
A vocalista vencedora do Grammy Cécile McLorin Salvant, 31 anos, disse que quando era estudante, viu os famosos álbuns de estúdio de Ella dedicados ao Great American Songbook como um exemplo de cantar jazz de modo impecável. “Inicialmente, ela era um modelo de perfeição e uma espécie de modelo ao aprender um padrão”, disse Cécile em uma entrevista por telefone.
“Meu apreço por ela está mudando agora, pois vejo como ela é divertida, o quanto ela se arrisca, quanto humor ela traz para suas performances”, acrescentou Cécile, que criou as animações para um videoclipe que acompanha Taking a Chance on Love do novo álbum. “Para mim, uma apresentação ao vivo é a melhor maneira de ouvi-la.”
No original Ella in Berlin, de 1960, ouve-se Ella se jogando com confiança em Mack the Knife, uma música da era Weimar de The Threepenny Opera que recentemente tinha se tornado um sucesso nas vozes de Louis Armstrong e Bobby Darin. No meio do segundo refrão, ela se dá conta do quão pouco da música se lembra.
Mas é sua primeira apresentação em Berlim e o público de 12 mil pessoas na enorme arena de Deutschlandhalle está se deliciando e nas suas mãos. Ela segue em frente destemida, improvisando no ritmo, revertendo um erro em uma virada de bravura.
“Oh, Bobby Darin e Louis Armstrong / Eles fizeram uma gravação - oh, mas eles fizeram”, ela improvisa, agarrando-se à melodia alegre da música enquanto seu quarteto balança imperturbável. “E agora Ella, Ella e seus amigos / Estamos fazendo uma gravação - uma destruição - de Mack the Knife!”
Que tipo de “perfeição” era essa - um documento de uma performance confusa, com a música ruindo ao seu redor? Bem, algo funcionou: Norman Granz, empresário de Ella e fundador da gravadora Verve, gravou a apresentação e lançou-a como um álbum e, sentindo a magia daquele momento, ele fez de Mack a faixa-título. O LP se tornou uma sensação e ganhou dois troféus no Grammy daquele ano.
O baterista e produtor musical Gregg Field, que esteve na banda de Ella durante os últimos anos de sua carreira, disse em uma entrevista que para sua chefe nenhum material ou forma de música tinha prioridade sobre a energia que ela recebia da multidão.
“Ela cantava de forma diferente todas as noites”, disse Field a respeito das canções, explicando que quando ela se apresentava com uma banda de jazz, era provável que mudasse o set list dependendo da energia na sala. “Na terceira ou quarta música, ela conseguiu ler o público muito bem”, acrescentou.
Granz, um empresário poderoso que buscou trazer o jazz para o reino da alta sociedade americana, sabiamente capturou o máximo possível dos shows de Ella - ciente de que um raio caía frequentemente quando ela estava no palco. Ele tinha fundado a Verve em meados da década de 1950 principalmente como um meio para gravá-la e, na época do show em Berlim, era uma das principais instituições da indústria do jazz.
No início deste ano, Field e Ken Druker, um vice-presidente da Verve - que sobrevive hoje sob os auspícios do Universal Music Group -, estavam vasculhando um tesouro redescoberto de gravações ao vivo que Granz havia escondido décadas atrás. Eles encontraram um rolo de gravação aparentemente intacto, com uma fita adesiva amarelada ainda segurando a caixa fechada com a identificação do show que Ella realizara em Berlim dois anos depois daquela primeira famosa apresentação.
Após a verificação, eles descobriram que as gravações foram feitas em mono e estéreo - um raro golpe de sorte. Eles a ouviram e a qualidade era excelente. Usando um novo software de engenharia que lhe permitiu isolar com mais precisão os instrumentos e a voz de Ella, Field preencheu os graves e deixou o a voz de Ella mais audível.
A gravação de 1962 completa uma tríade de performances estelares em Berlim, realizadas ao longo de três anos e cada uma lançada com aproximadamente 30 anos de diferença. Em 1990, a Verve lançou um LP de arquivo de Ella tocando em Berlim em 1961 sob o nome Ella Returns to Berlin. Foi um ótimo álbum, mas a gravação mais recente tem uma série de vantagens.
Ella está reunida com o pianista Paul Smith, um de seus acompanhantes favoritos, que não tinha estado na turnê de 1961. E na versão obrigatória de Mack, há outro momento de perfeição imperfeita que é quase bom demais para ser verdade. Na coda da música, brincando com a multidão, ela esquece o nome da cidade em que está - sinceramente, ao que parece. Explodindo em aplausos de apoio, a multidão dificilmente tem tempo para se ofender.
Sua facilidade com o público contrastava com sua vida relativamente solitária nos bastidores. É parte da razão pela qual ela preferiu viver sua vida na estrada, desde o início de sua carreira no Harlem dos anos 1930 até quando se aposentou no início dos anos 1990, ela normalmente fazia centenas de shows por ano e raramente ficava em casa por mais de uma semana a cada vez.
Ella nasceu em Newport News, Virginia, em 1917, e mudou-se ainda criança para Yonkers, ao norte da cidade de Nova York. Depois de perder os pais antes de se tornar adolescente, ela se virou pelo Harlem, às vezes trabalhando para fugitivos avisando quando apareciam policiais e como vigia em um bordel. Ela foi mandada para um reformatório, onde sofreu abusos dos quais mais tarde se recusaria a falar publicamente.
Aos 17 anos, basicamente sem-teto, ela participou de um concurso para artistas amadores no Teatro Apollo. Ela havia planejado tentar se apresentar como dançarina, mas ficou intimidada quando uma dupla de dançarinos muito mais talentosos se apresentou antes dela. Em vez disso, ela cantou duas canções, emulando o estilo da popular trupe de jazz Boswell Sisters. Seu talento sobrenatural e gregário neutralizaram os julgamentos da multidão, que tinha sido cética em relação à jovem malvestida que parecia não conseguir descobrir que forma de arte era a dela. Ela ganhou o concurso e logo era sensação do Harlem como vocalista da Orquestra Chick Webb.
Com esse grupo, ela cantou canções pesadas e números românticos para dançarinos e ouvintes de rádio, na era em que o jazz era música pop. Ao final de seus 79 anos, ela ajudou a consagrar o Great American Songbook como um pilar da cultura americana, tocando para plateias massivamente brancas e sentadas, mas levando todos aos seus pés no mundo inteiro. Durante todo o tempo, ela permaneceu sempre a serviço da música. E ainda assim a música era apenas o espaço entre a cantora e sua multidão. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
04 de outubro de 2020 | 09h43
Zuza Homem de Mello se foi. O mais importante pesquisador de música do país, escritor, jornalista, contrabaixista e técnico de som, estava com 87 anos e morreu enquanto dormia em seu apartamento, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. A causa da morte revelada pela família foi infarto agudo do miocárdio. Zuza havia finalizado na última terça-feira (29) uma biografia sobre João Gilberto, um projeto que o emocionava só de contar. Já havia feito um perfil sobre o violonista baiano, mas decidiu refazer os escritos, ir mais fundo na pesquisa, entrevistar mais pessoas e expandir a história. Ao falar sobre suas audições do álbum Amoroso, que João lançou em 1977, dizia que não conseguia ouvi-lo sem ir às lágrimas. E só de contar, chorava mais uma vez.
Zuza Homem de Mello, a quem Elis Regina gostava de chamar apenas José Eduardo, seus primeiros nomes, deixou o Brasil nos anos 1950 para estudar música na Juilliard School, em Nova York, assim que os pais entenderam que não valia a pena insistir para que ele seguisse outro caminho. A música já havia tomado o garoto. “Ok, percebemos que você tem trabalhado com música”, disseram depois que ele chegou em casa às 2h15 da manhã pela décima quinta vez com o instrumento. “Se é assim, prepare-se. Você vai estudar.”
Sua temporada em Nova York nos anos 50 o havia colocado no lugar certo e no tempo ideal. Duke Ellington, Thelonious Monk, John Coltrane, Ella Fitzgerald, Billie Holliday, ele pode ver todos atuarem ao vivo, em clubes de Nova York. Ao voltar ao Brasil, seguiu na música, mas não mais como instrumentista tocando contrabaixo pelos bares da noite. Agora, lançava-se como técnico de som, mas com um pensamento de captar também a alma dos programas e das plateias em um momento único da TV Record, em produções como O Fino da Bossa, Jovem Guarda e Bossaudade. Dentre seus livros referencias, estão A Era dos Festivais – Uma Parábola, de 2003; Eis Aqui os Bossa Nova, de 2008; Copacabana, de 2017; e, em dois volumes, A Canção no Tempo, com Jairo Severiano.
Um filme fica como registro do quanto o respeito a Zuza era poderoso, dentro e fora do país. Concebido por Ercília Lobo, com direção de Janaína Dalri, coordenação de conteúdo do próprio Zuza e realização do Canal Curta!, o documentário Zuza Homem de Jazz, de 90 minutos, o mostra em ação e como ‘coadjuvante principal’ de uma vida de serviços à música. Busca seu passado nos Estados Unidos e encontra velhos amigos do jazz, como Bob Dorough, Gary Giddins, Steve Ross, Eric Comstock, Wynton Marsalis e Maria Schneider.
Em 2018, uma matéria do Estadão feita para anunciar o documentário dava espaço a artistas que o conheciam e que diziam sobre ele essas frases: “Zuza é das grandes figuras do meu Brasil. Eu o visitava em Sampa pra conversar e ouvir música e ele me mostrava tudo. É um conhecedor da música, apaixonado por jazz e íntimo da MPB. E que homem elegante, educado, civilizado!", Caetano Veloso. “É estaca guardiã, solitária e feliz diante da preservação e respeito a nossa música, nossos músicos, nossos cantores e cantoras, compositores, arranhadores, cantadores de repentes, tocadores de pife, de sanfona, de tarol, de prato e faca raspada”, Egberto Gismonti. “Zuza, sempre atento aos movimentos musicais antes mesmo que eles tivessem reconhecimento do público e da mídia. É um farejador craque”, Roberto Menescal. “Um dos maiores gentlemen que conheci, das testemunhas mais presentes e atentas na história. Zuza é zuzu de bom!”, Nelson Motta. “Invejo no Zuza a quantidade de grandes músicos e cantores, brasileiros e internacionais, que ele viu em cena e com quem se relacionou. Por sorte para nós, ele a transforma suas histórias em livros e assim podemos, vicariamente, vivê-las também”, Ruy Castro. “Um país cujo canto é respeitado até no exterior, precisa de homens munidos de melos, porque sem uma crítica rigorosa e Zuzalina, a panaceia se instala em desmelodias na estrutura do homem”, Tom Zé.
02 de outubro de 2020 | 05h00
A cantora Alaíde Costa, que completa nesta sexta (2) 85 anos, vai se apresentar em uma live a convite da casa de jazz Blue Note. O show será hoje, às 20h, e ela deve fazer um repertório centrado em canções da bossa nova para lembrar do gênero que mais a seduziu desde o início de sua carreira.
Alaíde vive um momento curioso e de produção intensa. Além de receber um prêmio no Festival de Gramado de melhor atriz coadjuvante por sua participação no filme Todos os Mortos, dos diretores Caetano Gotardo e Marco Dutra, ela tem um álbum a ser gravado com composições de José Miguel Wisnik e um segundo, só com músicas inéditas, a ser produzido por Marcus Preto e pelo rapper Emicida. “Já recebi músicas da Joyce, do Ivan Lins, de Guinga, de Marcos Valle e do Francis Hime”, conta, orgulhosa, mesmo ainda não fazendo ideia de qual o caminho que a sonoridade deve seguir. “Isso fica tão nas mãos dos produtores que não consigo prever, mas eles me conhecem bem”.
Sobre o prêmio de Gramado pro sua atuação no filme, Alaíde acha graça. “Eu só cantei e fiz alguns gestos, e me escolheram mesmo assim, mesmo sem eu falar uma palavra.”
Seu show no Blue Note será todo virtual, transmitido pelas plataformas da casa. Ela vai se reunir com o pianista Giba Estebez e terá como convidados os também pianistas Gilson Peranzzetta e João Donato. O repertório terá Retrato em Branco e Preto (Chico Buarque e Tom Jobim), Dindi (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira), Estrada Branca (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), Insensatez (Tom Jobim e Vinícius de Moraes), Eu e a Brisa (Johnny Alf), entre outras. “Vamos nos concentrar na bossa nova.”
Alaíde diz que ainda há que se olhar para o gênero com mais cuidado. Ela é contra ao pensamento do “banquinho e violão” e acredita que o clichê seja redutor. “Tom Jobim morreu fazendo bossa nova e coisas como a música Ana Luíza não têm a chamada batida do banquinho e violão.” E lembra de Johnny Alf, o precursor por quem foi apaixonada desde a primeira vez em que o viu em ação e a quem homenageou em uma live recente.
Alaíde viu o pianista pela primeira vez em um programa de auditório. Ela tinha 16 anos e também se apresentava em programas de calouro. Ao começar a cantar com todas as influências que já havia absorvido, ouviu muitas vezes dizerem que era uma cantora “que cantava sozinha.” Hoje, aos chegar aos 85 anos, olha para os caminho que escolheu, compara com os outros que seriam possíveis e analisa. “Acabei não me tornando uma cantora popular. Onde Está Você até que fez algum sucesso maior, mas sempre escolhi os caminhos mais difíceis desde que era criança e até hoje eu estou nele.”
Seu início de vida musical se deu no programa A Raia Miúda de Renato Murce. Quando fala de suas escolhas difíceis, Alaíde se refere também a um estilo de canto que se tornou sua marca, suave, às vezes aos sussurros e de linhas que o levam dos agudos aos graves em generosas curvas melódicas. Onde Está Você veio em 1964, que funcionaria como sua porta de entrada nos meios musicais da época e a fez ganhar matérias nas principais revistas de celebridades. Na década seguinte, faria de sua participação no Clube da Esquina, com Milton Nascimento e Lô Borges, em 1972, com uma gravação sublime de Me Deixa em Paz.
Ao chegar aos apartamentos da bossa nova no pós 1959 de Chega de Saudade, Alaíde teve logo a indicação de João Gilberto. Para o baiano, o produtor Aloysio de Oliveira não sabia o que estava perdendo por não ouvir a voz daquela menina de Água Santa. A bossa nova branca da zona sul a recebeu com carinho, mas só em um dos livros de Ruy Castro que ela descobriu ter um apelido dado a ela pela cor de sua pele: ameixa. “Eles me aceitaram em termos. Não sei se era tão carinhoso não”, desconfia.
Ao falar de seu período de quarentena, Alaíde diz que é “rebelde”. “Eu acabo indo ao mercado, ao sacolão, à farmácia. Mas sempre de máscara.” Seus dois álbuns em preparação e a live de hoje a faz pensar em um movimento inverso em sua vida: “Engraçado, antes eu não fazia nada. Foi preciso chegar essa quarentena pra aparecer tanto trabalho.”
02 de outubro de 2020 | 05h00
A nova série do criador de Sex and The City, Darren Star, estreia hoje na Netflix. Emily em Paris conta a história de uma jovem executiva de marketing que de repente se vê diante da chance de ter o emprego dos sonhos. Para isso, ela precisa se mudar para a França e, sem dominar a língua local, deve se adaptar a uma nova cidade e conquistar a confiança dos novos colegas, que veem com descrença as ideias dela.
Interpretada pela atriz Lily Collins, conhecida por filmes como Espelho, Espelho Meu e Simplesmente Acontece, Emily descobre que não está perdida apenas na língua francesa, mas também em si mesma e no que acredita. A série de dez episódios mostra a sua jornada de autodescoberta em meio a vários romances na Cidade do Amor.
Confira a entrevista completa e assista ao trailer da série:
Como você se sente ao entregar ao mundo uma série leve e divertida em tempos tão difíceis?
É louco parar para pensar que estávamos gravando essa série em Paris exatamente um ano atrás e agora os americanos nem conseguem entrar na França direito. Poder ser parte de algo que vai dar motivos para as pessoas sorrirem em um momento tão pesado, é a melhor coisa sobre o timing da estreia. O fato de ser possível viajar, de alguma forma, através da série é muito especial.
A Emily é muito diferente das suas últimas personagens em 'Tolkien', 'Ted Bundy' e 'Os Miseráveis'. O que te atraiu para esse projeto?
Eu amo comédias românticas e é difícil encontrar um projeto que seja o equilíbrio perfeito entre ser engraçado e fofo e ao mesmo tempo tenha substância e profundidade que as pessoas possam se identificar, que tenha uma personagem que seja ambiciosa, ousada, divertida e iluminada. Quando li o roteiro do piloto, já sabendo que era uma série do Darren Star e que seria gravada em Paris, vários elementos me levaram a decidir fazer parte da série. Eu adoro personagens mais sérios, fiz vários projetos assim, mas as comédias românticas são minhas favoritas e eu sempre quis encontrar a certa para me aventurar no humor, algo que ainda não fiz muito.
Hollywood passou um bom tempo sem produzir comédias românticas…
Sim! E eu acho que essa série é como os filmes de comédia romântica que costumavam ser feitos nos anos 90 e 2000 e deixaram de ser produzidos. Também é muito especial contar essa história em 10 episódios e não em um filme de 90 minutos.
Como foi trabalhar com Darren Star? Você era fã de Sex and the City?
Eu era fã da série e amava Grosse Point, outra série dele lançada há um tempo e só teve uma temporada. Eu amo o mundo que Darren cria e acho que existe uma mágica na estética das séries dele e em como ele transforma em personagens as cidades que são o cenário desses programas, seja Paris ou Nova York. A parceria entre ele e Patrícia (Field, figurinista de Sex and the City e O Diabo Veste Prada) é icônica, e como alguém que ama moda, foi um prazer trabalhar com eles.
Você tem uma relação próxima com a indústria da moda, como foi unir essas duas paixões, moda e atuação?
Eu amo moda e acho que é uma extensão da nossa personalidade, principalmente para os personagens. Eu adoro que as roupas tornam possível mostrar diferentes aspectos de alguém e que você pode brincar e descobrir novos lados de si mesma. A Patrícia me incentivou a misturar estampas e combinar diferentes cores, formas e texturas e foi muito divertido sair da minha zona de conforto para tentar coisas novas.
Emily está em uma jornada de autodescoberta, aprendendo a colocar a si mesma em primeiro lugar e se abrindo para novas experiências. O quão importante é passar uma mensagem como essa para mulheres de todo o mundo?
Eu acho que é muito importante porque Emily é ela mesma e não sente remorso algum por isso. Ela ama trabalhar, é movida pelo trabalho e não tem medo de assumir isso, mas também é romântica, inteligente e ousada, atributos que eu me inspiram bastante e que eu gostaria de ver em uma personagem. É essencial saber que você não precisa ser apenas uma coisa, você pode ser romântica e ao mesmo tempo ser alguém que ama o trabalho e até achar romance nesse ambiente. Tudo que ela ama e representa deve ser encorajado não só para jovens mulheres, mas para homens também. Você pode ser vulnerável e forte ao mesmo tempo, não precisa ser colocada em uma caixa. Emily é várias coisas ao mesmo tempo e adoro incentivar os jovens a serem assim também.
No primeiro episódio, um colega de trabalho de Emily fala sobre ser impossível amar o trabalho. O que você mais ama no seu?
Eu amo ter a possibilidade de explorar diferentes personagens e facetas de mim mesma através do meu trabalho. Ser atriz pode ser uma cura, tanto para mim quanto para os espectadores. Dependendo do personagem, podemos aprender muito. Fazer parte do processo de cura e autodescobrimento de alguém é uma verdadeira honra.
Você falou sobre aprendizado. O que Emily Cooper te ensinou?
Nossa, ela me ensinou muito sobre superar obstáculos. Interpretar a Emily meses antes da quarentena começar foi interessante porque ela é alguém que se vê diante de várias dificuldades e precisa encontrar formas de passar por elas para conseguir fazer seu trabalho e se manter sã e criativa. A atitude positiva e o otimismo dela são coisas que eu definitivamente tenho, mas ao mesmo tempo é sempre bom ser inspirada a continuar tendo. Ela me ensinou a achar o lado positivo e trabalhar com o negativo para seguir em frente, sem deixar coisas ou pessoas te derrubarem.
Além de gravar em Paris, o que você mais gostou no processo de produção da série?
Eu conheci pessoas incríveis durante essa experiência e fiz amigos para a vida toda. Também tive a oportunidade de receber a visita do meu noivo algumas vezes para explorar a cidade e foi especial para mim tanto quanto pessoa como atriz. Eu trabalhei bastante, mas também tive liberdade para descobrir a cidade para criar memórias para uma vida toda. A gente não fazia ideia de que logo depois seria impossível viajar e acho que foi um sonho que se tornou realidade. Espero que possamos voltar para uma segunda temporada.
30 de setembro de 2020 | 17h37
O cartunista argentino Quino deixará um legado imenso, para além de suas muitas outras criações: a Mafalda, com suas frases inesquecíveis e marcantes.
Morto nesta quarta-feira aos 88 anos, Quino parou com sua criação há mais de 50 anos, mas suas tiras continuam vivas e mordazes. A Mafalda nasceu em 1962, quando uma agência de publicidade na Argentina encomendou a Joaquín Salvador Lavado, o Quino, a criação de personagem para uma campanha – o nome deveria conter obrigatoriamente a sílaba Ma, pois o patrocinador era a firma Mansfield.
A campanha publicitária nunca foi levada a cabo, mas um diretor da agência, ao se mudar para um trabalho na imprensa, solicitou a utilização da personagem para a revista Primeira Plana, em 1964. Foi um sucesso imediato. Conquistou a Europa e América Latina.
A morte do cartunista Quino, criador da Mafalda, comoveu fãs do humor e dos quadrinhos ao redor do mundo. Suas tirinhas e frases, carregadas de bom humor e sempre aguçadas para o cenário político argentino, transcendem a localidade e se tornam material para toda a humanidade.
Já que amar uns aos outros não resolve, por que não tentamos amar os outros aos uns?
Joaquín Salvador Lavado nasceu na região de Mendoza, na Argentina, em 1932. Era chamado de Quino desde a infância porque tinha o mesmo nome do tio desenhista, que o influenciou. Seu primeiro trabalho foi publicado em 1954 no semanário Esto Es. Seu primeiro livro, Mondo Quino, é de 1963. A fama veio com Mafalda, em 1964, e seu nome foi projetado internacionalmente. Quino morreu nesta quarta-feira, 30, aos 88 anos.
30 de setembro de 2020 | 05h00
MADRI — Mario Vargas Llosa vê a América Latina “resignada à democracia” e distante, salvo exceções de ditaduras que qualificou como “ideológicas”, da barbárie dos regimes ditatoriais de caráter militar.
Apesar das tentativas do Nobel de Literatura de 2010 de evitar comentários a respeito da política, a apresentação de seu romance mais recente a jornalistas em Madri, em outubro passado, serviu para isso. Porque Tempos Ásperos (lançado agora no Brasil, pelo selo Alfaguara) se inspira em um golpe militar apoiado pelos Estados Unidos contra o presidente guatemalteco Jacobo Árbenz, episódio que, segundo Vargas Llosa, mudou o destino da região.
“Um país, exceto em casos excepcionais, não chega a essa situação em um dia”, disse o escritor peruano, aludindo à famosa questão de Conversa no Catedral: “Em que momento o Peru ficou assim?”. Ele destacou que a América Latina “viveu um longo processo em que perdeu oportunidades”, começando com uma independência “malfeita” em que a sede de poder frustrou o sonho libertador de Simón Bolívar e deu origem a ditaduras militares por toda parte.
“Felizmente, hoje em dia essa América Latina se resignou à democracia, ela entendeu que a democracia é o caminho para lutar efetivamente contra o subdesenvolvimento e o fracasso”, afirmou. “Já não existem ditaduras militares desse tipo, hoje temos outras ditaduras que são ideológicas, como Cuba ou a Venezuela. E temos, sobretudo, democracias muito imperfeitas, porque são muito corruptas, porque há muita demagogia e porque o populismo também causa estragos.”
Em seu novo romance, Vargas Llosa desvenda conflitos e conspirações que devastaram a política regional entre 1940 e 1959. O ano-chave é 1954, quando Washington, por meio de sua agência de inteligência, apoia o líder do golpe, coronel Carlos Castillo Armas, e derruba o governo democrático da Guatemala.
Obcecado pela Guerra Fria, o governo dos Estados Unidos havia acusado o presidente Jacobo Árbenz Guzmán de ser um fantoche soviético ao empreender uma reforma agrária contrária aos interesses de um grande conglomerado de frutas. O autor vê nesses acontecimentos a razão da virada de Fidel Castro para o comunismo: “Minha impressão é a de que, se os Estados Unidos tivessem apoiado as reformas em vez de derrubar Árbenz, provavelmente a história da América Latina teria sido outra”.
O autor de Pantaleão e as Visitadoras e A Festa do Bode disse que, como em muitas outras de suas obras, o germe de seu último romance foi uma história que ouviu durante um jantar e depois se dedicou a pesquisar, alimentando a imaginação para preencher “as lacunas”.
“Começo a investigar para mentir com conhecimento de causa, para poder criar ficção a partir de uma matéria real”, contou. “O romance e a história sempre tiveram relações muito próximas. Os fatos históricos são respeitados, mas, nos detalhes, a liberdade de um romancista é e deve ser total.”
Aos 84 anos e com mais de uma dezena de romances, peças de teatro e centenas de artigos de opinião e palestras, o premiado escritor disse que se sente mais inseguro em lidar com a máquina de escrever hoje do que quando começou.
“Não sei se é a pressão de não decepcionar seu público ou se enclausurar com seus fantasmas que fazem com que nunca se esteja seguro”, afirmou Vargas Llosa.
Mas escrever “é a hora do pânico, e também um momento extraordinário de satisfação, quando se descobre uma porta que abre a história em uma direção que não se suspeitava”. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
Autor: Mario Vargas Llosa
Trad.: Paulina Wacht e Ari Roitman
Ed.: Alfaguara (280 págs., R$ 59,90)
29 de setembro de 2020 | 10h00
O primeiro livro da série infantojuvenil Fazendo Meu Filme, da escritora mineira Paula Pimenta, será adaptado para o cinema em 2021. O best-seller, que já vendeu mais de 250 mil cópias e foi publicado em toda a América Latina, conta a história de Fani, uma adolescente cinéfila que descobre a paixão pelo melhor amigo, Léo, pouco antes de partir para um intercâmbio cultural na Europa.
Cheio de referências a filmes e músicas pop, o livro se passa em Belo Horizonte - cidade que deve ser cenário da adaptação para as telonas. Em entrevista ao Estadão, Paula Pimenta falou sobre seu papel como co-roteirista e os desafios de transformar um livro em uma versão cinematográfica o mais fiel possível à história original.
“Quero que a gente veja na tela o que a gente lê no livro. Eu estou muito ansiosa, vai ser a realização de um sonho”, disse ela. Este será o segundo filme baseado em livros da autora. Cinderela Pop, lançado em 2019, foi protagonizado pela atriz e apresentadora Maísa Silva e agora está disponível na Netflix em mais de 100 países. Em julho, quando entrou no catálogo da plataforma, foi parar no ranking dos mais assistidos em países como França, Holanda e Suíça.
“É muito legal levar a literatura nacional para as telas, algo que a gente vê desde sempre no cinema internacional. São os nossos hábitos ali, os personagens são muito ‘gente como a gente’. No Brasil, as adaptações não são tantas assim.” A produção estava prevista para este ano, mas precisou ser adiada por conta da pandemia do novo coronavírus.
Confira a entrevista completa:
Nossa, foi muito bom ter tido outro filme antes desse porque eu até falo que se Fazendo Meu Filme fosse o primeiro eu iria surtar (risos). É meu queridinho. Eu vi que no cinema o livro tem que passar por mudanças e com certeza não estaria preparada para isso se FMF tivesse sido o primeiro. Por exemplo, os meus livros são em primeira pessoa, então como é que você conta o pensamento da personagem no cinema? Não dá pra ter voz em off o filme inteiro, tem que transformar esses pensamentos em ação. Tem o tempo do filme também, que não dá para colocar tudo, tem que cortar algumas coisas.
Pelo menos o primeiro tratamento do roteiro que eu já tive contato acho que os leitores vão amar, não vão reclamar de nada porque realmente está bem fiel. Eu vou tomar conta desse filme da mesma forma que tomo conta dos meus livros, quero que todo mundo saia satisfeito. Os meus livros são muito musicais, coloco uma trilha sonora em cada um deles. Infelizmente, no filme não dá para ter a maioria das músicas por conta de direitos autorais, é tudo muito caro e tem um orçamento que temos que seguir. Essa é uma parte que talvez a gente tenha que adaptar, talvez não dê para entrar todas as músicas do CD do Léo e da Fani.
Acho que as partes externas vão, sim. As internas eu não sei, porque a maior parte do elenco e da equipe técnica é do Rio e São Paulo. Mas as externas com certeza vão ser aqui (em Belo Horizonte), é uma exigência que eu fiz porque o livro é passado aqui.
Nós chegamos a fazer alguns testes de elenco no ano passado para o Léo e para a Fani, mas com a pandemia não teve jeito de fechar com ninguém por conta da agenda, não dá para saber quando exatamente vai ser filmado. Realmente atrasou tudo. O que eu sei é que vai ser no ano que vem.
É uma coisa que eu gostaria muito, é até um pedido meu para a produtora, que Fazendo Meu Filme não tenha, pelo menos como os protagonistas, rostos muito carimbados, gente que já foi muito marcada por outros papéis. Eu gostaria que eles ficassem marcados pelo Léo e pela Fani. Os atores que eu gostei já fizeram trabalhos, mas não foram protagonistas ainda.
Na verdade, não sonhava nem em publicar. Eu escrevi o livro pra mim, mas depois minha mãe e minhas primas leram e falaram que mais gente tinha que conhecer, que eu tinha que publicar. Quando eu publiquei, achando que ninguém ia ler, só meus amigos mesmo, comecei a receber muitos recados pedindo o filme e pensei ‘nossa, ia ser demais’. Quando escrevo, vejo a cena, sonho com os personagens, tenho eles bem nítidos na minha mente mesmo.
Eu acho muito legal levar a literatura nacional para as telas, algo que a gente vê desde sempre no cinema internacional. No Brasil, as adaptações não são tantas assim. E saber que com o streaming o mundo inteiro provavelmente vai ter acesso a esse filme, chega até a ser emocionante, porque são os nossos hábitos ali, os personagens são muito gente como a gente. Nos filmes de high school americano, tem sempre o futebol, as líderes de torcida, o popular da escola, e aqui a coisa não é tão estereotipada assim.
Peguei muita coisa, até porque isso foi algo que o produtor me falou quando estávamos conversando sobre o roteiro. Ele disse que era a Fani em 100% das cenas e que a gente não poderia fazer assim. Eu já estava quase no final do Lado B, então foi muito legal porque eu pude pegar muitas cenas do Léo com o Rodrigo e com o irmão dele.
Estou escrevendo Minha Vida Fora de Série 5, até falo que o livro está encantado porque não consigo terminar (risos). É complicado, o meu estilo de escrever de antes da pandemia mudou, está mais lento, mas estou escrevendo. Quero muito terminar ainda esse ano.
Do que eu já vi até agora no roteiro, acredito que vão achar bem fiel. Quero que a gente veja na tela o que a gente lê no livro. Eu estou muito ansiosa também, vai ser a realização de um sonho. De todos os meus livros que estão em produção, esse é com certeza o que eu mais espero e acho que vou ficar mais emocionada de assistir.
26 de setembro de 2020 | 10h00
Dos três protagonistas do programa Jovem Guarda, que completa 55 anos em 2020, e que se tornaram ídolos de uma geração, apenas Wanderléa ainda não havia entrado para a era das lives. Roberto Carlos fez duas – uma em seu aniversário, em abril, e outra em comemoração ao Dia das Mães. O amigo Erasmo Carlos também já se apresentou online, sozinho ou com convidados. Agora será a vez da Ternurinha, como a cantora é conhecida, fazer sua estreia direto da sala de sua casa, em São Paulo, em uma apresentação para o projeto Sesc Ao Vivo hoje (27), às 19h.
É bem verdade que Wanderléa havia feito uma participação, pré-gravada, em uma das lives de Roberto Carlos, mas, o gosto de estrear para valer em um novo formato anima a cantora que, em um primeiro momento, viajou para um sítio em Gonçalves, em Minas Gerais, e ficou longe de tudo, em família.
“Recentemente eu fiz um musical (60! Década de Arromba) que ficou três anos em cartaz, e que também era algo novo para mim. Canto solta no palco e nele tinha muitas marcações. Agora vem a live. Vamos ver como será”, diz a cantora, que, mesmo depois de tantos anos de carreira, revela o nervosismo. “Estou nervosa agora, fechando o repertório. Não tem como não ficar. A gente é profissional e quer que saia tudo certo.”
Sobre as músicas que escolheu, Wanderléa diz que vai aproveitar a oportunidade e o formato – ela será acompanhada apenas pelo pianista Agenor de Lorenzi – para mostrar canções que não pode colocar nos shows que faz, já que o público sempre espera e quer ouvi-la cantar sucessos da Jovem Guarda, como Pare o Casamento, Prova de Fogo e Ternura. A produção será de Thiago Marques Luiz, que ajudou na seleção das músicas.
A ideia é abrir espaço para composições que estão em discos de uma fase que virou cult, como Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975) e Vamos que Eu Já Vou (1977), além de canções que nunca gravou. Caso de Chovendo na Roseira, que Tom Jobim ensaiava no piano de cauda que ela tinha em sua casa em Pasadena, nos Estados Unidos, quando da gravação do disco Elis & Tom, em 1974. “Que boas recordações eu tenho dessa época. Tom lá em casa. Depois, ele foi até passar o Natal conosco naquele ano”, conta.
Dos tempos de crooner, Wanderléa começou a cantar aos 9 anos em rádio e aos 16 anos gravou um disco com o maestro Astor. Ela vai relembrar o clássico My Funny Valentine (Richard Rodgers/ Lorenz Hart). Outra música pouco habitual em suas apresentações, Facho de Luz (Irinéia Maria/ Raul Miranda) também está entre as selecionadas.
Sem pressa de lançar um novo álbum, a cantora diz que vem trabalhando em músicas autorais e poemas musicados em parceria com o marido, o músico Lalo Califórnia.
No ano passado, Wanderléa havia assinado um contrato com a gravadora carioca Deck para um álbum com músicas inéditas – nomes como Arnaldo Antunes, Guilherme Arantes e Nando Reis já haviam enviado composições – que teria produção de Marcus Preto. Porém, a cantora desistiu do projeto, o que, segundo ela, deixou muita gente perplexa.
“As músicas eram ótimas, mas não eram para mim. Eu já gravei tantos discos, não queria fazer mais um só por fazer. A música tem que me pegar de alguma forma e não foi isso que aconteceu”, explica, dizendo que deixou uma porta aberta com Preto, produtor dos dois últimos discos de Gal Costa e que, recentemente, anunciou que trabalha em um álbum de inéditas para a cantora Alaíde Costa.
Além disso, a cantora, que se diz caseira, aproveita o tempo sem shows para fazer uma pequena reforma na casa, ler e assistir a documentários e filmes. Recentemente, mergulhou na vida do músico norte-americano Ray Charles (1930-2004). O mesmo meio que agora usará para se apresentar pela primeira vez – a internet –, ela também usa para matar a saudade da neta Ayla, de 2 anos e 3 meses, que mora na Holanda.
A menina, inclusive, “estreou” nos palcos mais cedo que a vovó, aos 3 meses de idade, no musical 60! Década de Arromba. “Ela entrou no palco comigo e curtiu. Ficou se balançando. Se vai ser artista, não sei. Importante é se fazer o que gosta”, afirma.
27 de setembro de 2020 | 05h00
Esse período a fez refletir também sobre o que queria na carreira. Com a encomenda de uma nova atração, Angélica, que já tinha feito programa de entrevistas, comandado games, interpretado personagens na TV e no cinema, entre outras frentes, buscava um formato diferente. O que seria seu novo programa na Globo ganhou corpo, agregando, de certa forma, habilidades que a apresentadora desenvolveu ao longo de sua trajetória. Unindo jogos, entrevistas e esquetes de humor, Simples Assim estreia no dia 10 de outubro, e vai ao ar aos sábados, antes do Caldeirão do Huck, apresentado pelo marido. A atração terá convidados anônimos e famosos, como Paulo Gustavo, Marcos Caruso, entre outros.
Com direção-geral de Geninho Simonetti, o programa estava previsto para ir ao ar a partir de abril, mas, por causa da pandemia, tudo foi interrompido e a estreia, adiada. Na semana passada, as gravações foram retomadas, seguindo protocolos de segurança.
Como está o ritmo de gravação do programa neste momento?
Gravamos antes da pandemia. Tínhamos gravado dois programas. É uma temporada que vai até dezembro, e claro que a gente teve de adaptar o programa. Coisas que fizemos antes da pandemia não vamos poder fazer agora, como algumas matérias que eu fiz na rua. Agora o programa é todo em estúdio, essa foi a grande adaptação. Ele já não tinha plateia. É um programa que fala do comportamento humano, é mais um olhar para dentro. Então, ele comporta estar dentro do estúdio. Continua com os convidados, todo mundo testado, menos gente comigo ali. Os convidados, a gente divide entre palco e telão, porque não pode ter muita gente. Há dois meses, a gente começou a readaptá-lo e, na semana passada, a gente começou a gravar mesmo.
E vocês fazem testagem, que está dentro dos protocolos...
Testo toda semana, os convidados testam. E se um convidado anônimo testa positivo na semana – porque a gente tem que testar um dia antes –, cai aquele convidado.
Aconteceu isso?
Aconteceu com dois, e aí a gente tem de ter stand-by. A história que a gente queria era aquela outra, mas tem de adaptar.
Como é a dinâmica do programa? Você volta a interpretar depois de muito tempo e você já disse que gosta de fazer isso.
É, gosto de brincar de atuar, sei que tenho jeito, então me sinto segura fazendo. Faço isso há bastante tempo também. Comecei, na verdade, pequenininha atuando, fazia comercial, novela, seriado. O programa vai trabalhar com temas: fé, vaidade, amor, dinheiro, família, felicidade. Não é baseado na minha vida, é baseado em pesquisa, no que as pessoas mais buscam hoje. Essa busca pela felicidade passa por onde? A gente abre o programa mostrando o tema, aí temos dois quadros. Os esquetes intercalam esses quadros, são muito curtos. Na sequência dos esquetes, tem microentrevista com o convidado famoso dando opinião naquele tema. É rápida essa entrevista, não é um programa de entrevistas, e ela segue no podcast. O final é um experimento social que aprofunda mais no que a gente brincou e conversou durante o programa, que é a nossa reflexão final. É uma delícia divertir, fazer rir, mas falei: quero alguma coisa a mais, quero provocar uma reflexão nas pessoas, quero fazer companhia mesmo na situação em que elas vivem, me colocando também numa situação de aprendiz, partilhando a minha história em algum momento. Não é falando da minha vida, mas, sim, dividindo com elas alguns momentos da minha vida. No fundo, as questões de família, a busca da felicidade que a gente tanto fala são muito parecidas. Os dilemas são bem parecidos.
Após Estrelas, ficou um longo período afastada da TV. Isso nunca tinha acontecido, não?
Foi muito doido. Da porta para dentro, que era o que eu estava vivendo, foi a época mais rica, pessoalmente falando, da minha vida. Comecei a trabalhar com 4 anos de idade, não lembro de outro período em que tive esse tempo. Então, vivi uma fase muito rica, muito diferente. Não só de ter tempo, mas de ter tempo para me olhar, entender o que eu gostava. Um exemplo bobo: emenda um trabalho no outro, sempre há um figurinista, um produtor de moda, e, aí, de repente, nesses dois anos, não tinha, eu podia dizer o que eu queria vestir, o que eu gostava. Esses dois anos foram um presente da vida para mim. Foi fundamental para meu crescimento, para minha sanidade mental, para minha família, porque, por mais que eu fosse uma mãe presente, e sempre fui, o dia a dia simples, da mãe que vai buscar na escola, volta, vai fazer o dever de casa, assiste à Sessão da Tarde com a criança, isso era bem difícil. E para o meu casamento também, porque era um em cada lado. Agora pude me dedicar um pouco mais a isso também. Da porta para dentro, estava tão quentinho, tão acolhedor, eu estava vivendo coisas que nunca imaginei e as pessoas especulando, falando coisas. É a imagem que as pessoas criam, que idealizam de você e que, às vezes, é muito longe da realidade.
Depois da entrevista que você deu para o Fantástico sobre o programa, houve críticas, porque você falou em encontrar felicidade nas pequenas coisas neste momento em que há muita gente passando por dificuldades financeiras e não pode pensar nisso. O que você acha dessas críticas?
Acho que no lugar em que estou, que é um lugar de privilégio, sim... Não importa se eu trabalhei muito, se eu abri mão de coisas, estou num lugar privilegiado. No Brasil, então, que é esse país totalmente desigual. Eu sou branca, ganho bem, tenho uma família saudável, que pode ter um homeschooling, coisa que muita criança não tem. É óbvio que a gente não é cego e não é leviano de ficar achando que está vivendo no mundo da fantasia. Ninguém vive aqui no mundo da fantasia. Mas acredito que, no lugar em que estou, com meus privilégios, posso olhar em volta. A gente pode tentar enxergar o outro através das minhas atitudes no dia a dia – e, por que não, através do programa? A gente aprende um com o outro, eu aprendo muito. Na verdade, não estou ali ditando regras: ‘Faz assim que vai te fazer feliz’. Não, estou lá aprendendo também, dividindo. O programa não é em cima da minha vida. Acho que através do programa a gente pode tentar ajudar as pessoas também a fazer isso: a olhar para o lado e enxergar o outro. Acho que esse tipo de julgamento ou esse tipo de comentário é justamente o que o programa não quer na vida das pessoas. Essa cultura do ódio que foi criada não precisa existir, você não precisa olhar o outro com julgamento. Quando eu vi, falei: caramba, a gente está com um programa muito atual mesmo, porque esse tipo de comentário é justamente o que a gente não precisa hoje, com esse monte de problema que a gente está vivendo, com essa desigualdade bizarra, com as pessoas num sofrimento sem fim, com medo. Então, é isso. Essa comparação não existe.
Um dos momentos difíceis da sua vida foi o acidente de avião que vocês sofreram, em 2015. Que medos aquele episódio quase trágico desencadeou? Esses anos de pausa ajudaram nesse processo de alguma forma?
Acho que sim. Na verdade, o acidente foi um divisor de águas. Me colocou muitos questionamentos: Minha vida é isso? Para que mais estou aqui? Uma sensação de gratidão extrema, mas o que mais existe? A gente viveu uma coisa muito forte junto, de uma conexão com uma espiritualidade – não é de religião que estou falando. A gente viveu um momento em que a gente silenciou muito forte, a família toda, a gente sentiu coisas parecidas, e um ano depois comecei a desenvolver uma pequena síndrome do pânico. Digo pequena, porque eu resolvi logo, mas desenvolvi, sim, umas crises. Cada um aqui em casa resolveu de um jeito, as crianças do jeito delas, fizeram análise, o Luciano do jeito dele. Faço análise há 20 anos. Eu não queria tomar remédio, aí fui procurar a ioga, que eu já tinha feito um tempo atrás, a meditação transcendental, e ela me tirou do estado de pânico mesmo. Essas foram as ferramentas que usei na época para isso, mas, dali para frente, acho que as outras ferramentas foram minha postura diante da vida. Vieram as reflexões todas que culminaram nesses dois anos em que tive tempo para entender a quantidade de questões que estavam guardadas ali e eu não conseguia responder.
Fala-se de uma possível candidatura do Luciano Huck à Presidência. Como é a ideia de, quem sabe, ser primeira-dama?
Realmente, acho que a gente pode fazer pelo outro, eu acredito nisso. Acho que uma forma maior disso, que é você ser um presidente da República, ter um cargo público, também é incrível, é um altruísmo gigantesco, porque você abre mão de muita coisa. No caso do Luciano, ele não precisa disso a não ser por uma questão de querer ver as coisas melhores no País. Não precisa trabalhar o ego dele, ele é uma pessoa pública bem-sucedida. Isso é meio destino, se tiver que acontecer, não vou impedir, não vou ser essa pessoa. Se eu tiver que estar do lado dele nessa situação, vou estar também. E feliz, e fazendo o que puder, como cidadã e como uma pessoa que quer ver um mundo melhor para os próprios filhos. (Nessa hora, Luciano entra no local onde ela está dando entrevista.) O presidente chegou (risos).
26 de setembro de 2020 | 05h00
O jovem repórter Robert Lipsyte, do New York Times, foi destacado para ir ao Miami Beach Convention Hall, em 25 de fevereiro de 1964, para cobrir a luta entre o campeão dos pesos pesados, Sonny Liston, e o desafiante Cassius Marcellus Clay. Logo que chegou a Miami, o jornalista recebeu um telefonema de seu editor, que o aconselhou a decorar o trajeto do ginásio até o hospital mais próximo, pois a vitória de Liston deveria ser rápida e massacrante. A bolsa de apostas confirmava a previsão da imprensa: o campeão era o favorito na proporção de 7 por 1.
O fortíssimo Liston era o sucessor do lendário Joe Louis, campeão de 1937 a 1949. Um verdadeiro peso pesado. Sanguinário, violento e dono de golpes avassaladores de todos os tipos. E ele sabia usar o medo que passava para as pessoas: "Minha mão esquerda vai descer tão fundo na garganta dele (Clay) que precisarei de uma semana para tirá-la de volta."
O médico Ferdie Pacheco, que esteve ao lado de Clay em suas lutas com Joe Frazier e George Foreman, admitiu que nunca havia visto Clay tão nervoso para uma luta. Para combater esta ansiedade, o falastrão lutador de Louisville resolveu tentar mexer com os brios do adversário.
Clay chegou a fazer um poema para o "urso feio" e foi até o aeroporto esperar seu adversário para xingá-lo de idiota, bobo e prever um nocaute no oitavo assalto. Os jornalistas consideravam apenas bravatas, mas apreciavam Clay por ser bonito, inteligente e capaz de fornecer uma bela matéria todos os dias.
Na pesagem, Ali desafiou tanto Liston que a Comissão Atlética da Flórida chegou a cogitar que o desafiante estaria sofrendo um surto psicótico. Sua pressão foi a 20 por 10 e os batimentos cardíacos atingiram 120 por minuto.
Dias antes da luta, os organizadores promoveram a visita dos Beatles em uma das sessões de treinos de Clay, em Miami. O início do encontro foi tenso. "Acho que poderíamos fazer uma turnê e ficarmos ricos. Você não é tão estúpido", disse o boxeador para John Lennon, que deu o contragolpe. "Mas você é." No final, fotos foram registradas com os cantores recebendo "socos" e aplicando "golpes" no pugilista em clima amistoso.
A certeza do público na vitória de Liston, a tempestade que caiu em Miami naquele dia e a ameaça de atentado ao ativista Malcom X, amigo de Ali e presente ao Miami Beach Convention Hall, fez com que pouco mais de 10% dos 15 mil ingressos fossem vendidos. Liston tinha bolsa de US$ 1,3 milhão, enquanto Clay ficaria com US$ 630 mil.
Desde o início, Clay surpreendeu a todos, ao "bailar como uma borboleta e picar como uma abelha", característica que iria marcar sua brilhante carreira. "Acho que tivemos uns dos melhores rounds iniciais da história", disse Joe Louis, sentado nas primeiras fileiras e comentando para a transmissão em circuito fechado.
Desnorteado, Liston teria usado, com a ajuda de seus técnicos, um produto em suas luvas que prejudicou a visão de Clay do terceiro ao quinto assalto, algo semelhante com que ele fora acusado nos duelos com Eddie Machen e Cleveland Williams. Recuperado do problema momentâneo, o desafiante aplicou uma verdadeira surra no campeão, que desistiu de voltar para o sétimo assalto. "Mas que diabo é isso?", esbravejou Rocky Marciano, campeão dos pesos pesados de 1952 a 1955, único a abandonar os ringues invicto após 49 lutas, revoltado, a poucos metros do ringue, com o fato de o campeão abandonar a disputa.
Clay dançou, pulou, gritou. "Eu choquei o mundo. Sou o melhor de todos", disse ainda em cima do ringue. Na entrevista coletiva, mais calmo afirmou que lutaria só até ganhar um bom dinheiro e que seu irmão mais novo, Rudy,, não precisaria mais calçar as luvas. Dois dias depois, Clay anunciou sua conversão ao islamismo e a adoção do nome Muhammad Ali. Lutou até 1981 e mesmo diagnosticado com a doença de Parkinson seguiu como ativista das causas contra o racismo e igualdade social até sua morte em 2016, às 74 anos.
23 de setembro de 2020 | 19h43
LOS ANGELES - A Walt Disney Co adiou a estreia do filme da super-heroína da Marvel Viúva Negra em seis meses e o lançará em maio de 2021, informou a empresa nesta quarta-feira.
O estúdio também prorrogou a data de lançamento da nova versão cinematográfica de Amor, Sublime Amor de dezembro deste ano para dezembro de 2021.
Os cinemas voltaram a funcionar, mas o público não apareceu. E agora?
As decisões são decorrentes dos esforços decepcionantes para atrair os norte-americanos de volta aos cinemas depois que a pandemia de coronavírus fechou salas de todo o mundo em março.
No início deste mês, a Warner Bros. mudou a estreia do filme Mulher Maravilha 1984 de 2 de outubro para dezembro.
Ainda nesta quarta-feira, a Disney também adiou as datas de Morte no Nilo de outubro para dezembro de 2020 e de Os Eternos de fevereiro para novembro de 2021.
24 de setembro de 2020 | 05h00
Assim, o monólogo Cauby, Uma Paixão será apresentado online às 20h30 desta quinta, 24. Trata-se da abertura da segunda temporada do programa Palco Instituto Unimed-BH em Casa, iniciado em junho com transmissão de espetáculos pela internet e pela TV. Assim, Vilela vai se apresentar diretamente do Teatro Claro Rio, em um palco especialmente preparado com sistemas especiais de vídeo, iluminação e sonorização.
Em cena, Diogo Vilela vai cantar 15 canções que se tornaram clássicas na voz de Cauby Peixoto (1931-2016), um pocket show com duração exata de 48 minutos. “Eu e Flávio Marinho fizemos uma síntese do espetáculo inicial”, conta o ator, referindo-se ao autor do texto. “Na seleção, acrescentamos novas canções que foram gravadas por Cauby e que habitam o imaginário coletivo até hoje – como Dindi, no lugar de Felicidade, quando mostramos a fase bossa nova do cantor.”
Marinho adaptou seu texto original para que Vilela, na pele de Cauby, relembre os principais momentos de carreira, pontuados por músicas como Conceição, A Pérola e o Rubi, Molambo, Samba do Avião e Eu e a Brisa, entre outros sucessos. Segundo o escritor, “o espetáculo parte da seguinte premissa: se vivo estivesse, como Cauby reagiria ao fazer um espetáculo nos dias de hoje, em condições tão especiais?”.
Durante a apresentação, Vilela estará acompanhado pela diretora musical Liliane Secco no piano e pelo saxofonista Fernando Trocado. “Com isso, o tom intimista fica garantido”, observa o ator que, sem plateia, vai se apresentar diretamente para a câmera. “Vou também usar roupas do próprio Cauby, que me doou vários de seus ternos.”
A proximidade entre ator e cantor começou em um momento delicado – em 2003, depois de encerrada uma bem sucedida temporada da peça Tio Vânia, de Chekhov, que trata do fracasso do homem contemporâneo, Vilela descobriu-se em meio a um inesperado processo depressivo. E a recuperação começou de forma curiosa: Vilela assistia a um programa de TV quando se concentrou em uma entrevista de Cauby. “A câmera foi fechando no rosto dele e eu fui ficando tocado com sua sensibilidade, sua fala baixa e discreta, seu carisma”, disse o ator, na época.
O reforço psicológico veio por meio da arte: com texto de Flávio Marinho, Cauby, Cauby foi preparado durante três anos até estrear no Rio, em 2005, e, em seguida, em São Paulo. Era um deslumbre: dez atores em cena, cinco músicos e mais de 120 figurinos. O momento de maior emoção aconteceu durante a estreia paulistana, em 2006, acompanhada pelo próprio Cauby, que não escondeu as lágrimas.
Tanto no musical, que ainda foi apresentado em 2018, como no pocket show, Vilela procura não imitar Cauby, ainda que o figurino e a peruca características remetam imediatamente ao cantor. Segundo o ator, sua busca é por uma síntese do artista, que sempre atraiu muitos fãs no Brasil.” Para chegar a isso, ele passou três anos em estudos, leitura de livros, entrevistas e alguns encontros com o próprio Cauby, que passou a confiar no projeto do ator depois de ter a certeza de que não se tratava de um projeto depreciativo.
O show pocket busca os pontos principais do texto narrado pelo musical que, em dois atos, contava a história do menino pobre de Niterói, que sonhava em ser príncipe e acabou se transformando em “uma das figuras mais especiais do show business brasileiro, dono de estilo e voz inconfundíveis”, como já definiu Marinho.
A voz – em um encontro promovido pelo Estadão, em 2006, antes da estreia paulistana, Vilela e Cauby descobriram que, além de um registro de voz semelhante, enfrentavam a mesma dificuldade ao cantar certas músicas. “Em algumas canções, eu só consigo começar nos agudos”, comentou Cauby, que recebeu apoio de Vilela, cuja voz é de barítono. “Eu sinto também essa obrigação, que se torna ainda mais difícil quando a canção tem de ser representada”, observou, à época, o ator.
Vilela lembrou que, do repertório consagrado por Cauby, a canção mais difícil de interpretar é New York, New York, por ser uma melodia com diversas modulações. “É com essa música que encerro o pocket show”, revela Vilela que, para a apresentação desta quinta, fez diversos ensaios. “Gosto muito de passar várias vezes as canções para entrar em cena com segurança”, afirma. “Ensaio é uma adequação – gosto de brincar dizendo que minha voz é como um Fusca: quanto mais é usada, melhor ela funciona.”
Uma das lições apresentadas pelo cantor foi sua determinaçãos, desde a escolha das roupas até o relacionamento com as fãs. Cauby chamou a atenção em 1949, quando apareceu na Revista do Rádio. Dois anos depois, gravou o primeiro LP. Em 1952, mudou-se para São Paulo e logo virou ídolo. O pocket show poderá ser visto pelos canais no YouTube do Sesc em Minas (SescemMinasGerais), do Teatro Claro Rio (TeatroClaroRio), do Teatro Claro SP (TeatroClaroSP) e pelo Canal 500 da Claro TV.
23 de setembro de 2020 | 10h00
O cineasta norte-americano Matt Dillon surpreendeu nesta terça (22) durante o Festival de San Sebastián com seu novo documentário sobre Francisco Fellove, um grande nome da música cubana que fez carreira no México e caiu em esquecimento até um músico californiano estar com ele há 21 anos.
Rodeado de música latina durante su infância em Nova York, Dillon planejou inicialmente um filme sobre os talentosos músicos cubanos emigrados ao México nos anos de 1950. Mas, ao falar com os especialistas na história de era dourada do son, bolero e cha cha cha, terminou focando em Francisco Fellove, o mais exuberante de todos.
Fellove (1923-2013), nascido em Havana, em uma família de rumbeiros, se destacou muito jovem por seu virtuosismo sobretudo com o scat, uma técnica de improvisação surgida no jazz e consistente em inventar melodias a base de sílabas sem palavras.
Magnético, carismático e autor de clássicos da música cubana como Mango Mangüé, o showman Fellove emigrou ao México em 1955 incentivado por outro reputado músico cubano, José Antonio Méndez, e pela sensível razão de que, em Havana, era impossível ganhar a vida cantando.
No México, Fellove encontrou o sucesso e foi elevado à categoria de grande pelo produtor musical Mariano Rivera Conde. Brilhou até partir dos anos 60, o rock e logo as variedades arrasaram com o panorama da música latina. Décadas más tarde, en 1999, o “Gran Fellove” era um gênio esquecido quando o músico e compositor californiano Joey Altruda resolveu gravar o último disco de sua vida.
Uma aventura á qual seguiu seu amigo Matt Dillon para filmar o processo, sem ter de todo claro qual seria o resultado final. “O documentário nasceu e essa amizade que temos e de nossas vontades pelo mesmo tipo de música”, disse Dillon.
Francisco Fellove não lançava álbum havia 20 anos, e como o próprio diretor do documentário lembra, às vezes havia tensão, porque ele estava um tanto enferrujado com as exigências de estúdio. No entanto, na tela, Fellove aparece de bom humor aos 77 anos porque, segundo o próprio Dillon, “ele tinha o espírito de uma criança”. Assim, não para de rir, cantar, improvisar e brincar com seu velho amigo, o trompetista Alfredo 'Chocolate' Armenteros, outro veterano da música cubana que veio especialmente de Nova York para gravar o álbum, que será lançado em 2021.
O filme é apoiado por uma rica gama de depoimentos, entre eles o do pianista Chucho Valdés. O conhecimento de Matt Dillon sobre aquela geração de músicos cubanos chegou a tal ponto que ele falou deles “como se estivesse abrindo um álbum de fotos de família”, segundo a produtora mexicana Cristina Velasco.
Das conversas que teve com Fellove, Dillon lembrou especialmente aquelas sobre a discriminação racial que os músicos negros cubanos sofreram em Havana nas décadas de 1940 e 1950. “Houve discriminação e ele disse: “Sou 100% negro, minha origem é africana”. Falava muito sobre como às vezes era difícil, porque havia um certo racismo”. Então todos aqueles músicos "foram para o México, porque era um trampolim, porque lá não havia discriminação" e porque naquele país “foram aceitos com muita graça”.
Matt Dillon estreou na direção em 2002 com City of Ghosts e, em 2006, recebeu o Prêmio Donostia em reconhecimento à sua carreira em San Sebastián. Nesta terça-feira apresentou seu filme na Seção Oficial, embora fora de competição.
22 de setembro de 2020 | 05h00
Com a proximidade da reabertura dos cinemas - prevista para outubro, na cidade -, a grande pergunta é se o público correrá às salas ou vai esperar a vacina? O público que se acostumou a ver filmes no streaming vai desistir do conforto? Há muitas novidades nas diversas plataformas. A seguir, algumas atrações:
Salão Kitty
Atores que interpretaram personagens reais
Tinto Brass realizou um dos melhores spaghetti westerns - O Yankee. No começo dos anos 1970, iniciou a vertente que Jean Tulard, no Dicionário de Cinema, define como “mulheres nuas + uniformes nazistas”. No cabaré da bergmaniana Ingrid Thulin, os soldados de Hitler entregam-se a perversões. Mas estão sendo filmados para ser chantageados. Mubi.
No momento em que os olhos do mundo estão voltados para o Brasil - incêndios florestais, desmatamento -, Luiz Bolognesi apresenta esse documentário que investiga uma etnia que até há pouco vivia isolada na Amazônia, os paiter suruí. Depois que missões evangelizadoras determinaram que os cultos indígenas são demoníacos, o ex-pajé abriu mão das tradições, mas permanece solitário, um pária, entre dois mundos. Belas Artes à La Carte.
Chega ao streaming o longa uruguaio de Carlos Ameglio sobre cineasta forçado a fazer versão pornográfica do clássico A Noiva de Frankenstein. Para complicar, ele está de casamento marcado e se apaixona pela estrela pornô. Um filme de gênero diferente, e muito bem-humorado. Belas Artes à La Carte.
Harrison Ford faz o típico marido e pai de família que não tem tempo para a família. Só pensa na carreira. Ele é assaltado, recebe um tiro e fica imobilizado. Sua vida muda e ele tem a segunda chance do título. Dirigido por Mike Nichols o filme teve lançamento no Festival de Veneza, nos anos 1990. Também com Annette Bening. JustWatch.
A história da ex-escrava que virou escritora e ativista do abolicionismo no Sul dos EUA, no século 19. A atriz Cynthia Erivo, que faz o papel, foi indicada para o Oscar. Ela também canta a canção Stand-Up, que concorreu ao prêmio da categoria. Com toda a movimentação do Black Lives Matter, esse filme se tornou mais que nunca necessário. No catálogo do Telecine e também, para compra e aluguel, na Play Store, iTunes e Looke.
21 de setembro de 2020 | 05h00
Em 1958, a nouvelle vague estava no ar e Nas Garras do Vício, de Claude Chabrol, e Ascensor para o Cadafalso, de Louis Malle, tiveram exibições, fora de concurso, no Festival de Cannes. O júri presidido pelo escritor Marcel Achard outorgou a Palma de Ouro ao soviético Quando Voam as Cegonhas, de Mikhail Kalatozov, e seu prêmio especial a Meu Tio, de Jacques Tati, que, no ano seguinte, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro.
O primeiro filme em cores de Jacques Tati é uma obra-prima, escreve Leonard Maltin em seu Classic Movie Guide. É o que o cinéfilo poderá confirmar, mais uma vez, às 14h45 desta segunda, 21, no Telecine Cult. Tati talvez tenha sido o Michelangelo Antonioni do humor. Um cômico da observação, cujos temas são a solidão e a incomunicabilidade. O indivíduo perante a multidão.
A irmã e o cunhado habitam uma casa ultramoderna. Seu personagem, M. Hulot, entra em cena para desorganizar o organizado. A cena do chafariz é antológica. M. Hulot quase não fala. Passeia por Paris de bicicleta. Carrega o sobrinho. “Qu’il est bon le temps des vagabondages.” Tati veio do cabaré e do music hall, desde os anos 1930. No fim dos 1950, já era um veterano. Foi sempre um (grande) solitário no cinema francês.
20 de setembro de 2020 | 05h00
A major Jeiza está de volta. Ao lado de Bibi (Juliana Paes) e Ritinha (Isis Valverde), a personagem vivida por Paolla Oliveira forma a trinca de protagonistas da novela A Força do Querer, que será reprisada na Globo a partir da segunda, 21, e ocupará novamente a faixa das 21h, no lugar de Fina Estampa. É que, apesar de as gravações das novas produções da casa terem sido retomadas, seguindo os protocolos de segurança, elas só vão ao ar no ano que vem.
“A novela passou há 3 anos só, provavelmente ainda vai mexer muito com a cabeça do público e, quem poderia imaginar, sendo reprisada no horário nobre. Se me perguntassem se isso era possível antes disso tudo acontecer, eu ia falar que não”, comenta Paolla, em entrevista, por telefone, ao Estadão. “Ela continua muito atual, muito moderna, muito forte.”
Heroína das 9, Paolla Oliveira fala de sua preparação para o papel na novela
Policial militar e, nas horas de folga, lutadora de MMA, Jeiza é uma heroína real na trama cheia de reviravoltas escrita por Gloria Perez. E como toda mocinha de folhetim, ela tem uma antagonista, Bibi Perigosa, a dona do morro e mulher do traficante Rubinho (Emílio Dantas). A atriz lembra que a personagem exigiu la uma preparação física intensa.
“Encontrar um personagem é uma arte. A arte não é só executar, mas encontrar por onde a gente começa a trabalhar. Eu, por acaso, gosto muito de trabalhar com o corpo, com o físico, e comecei a encontrar a Jeiza a partir da luta dela, da profissão dela, que é policial militar”, conta. “Então, a partir dessas movimentações em torno disso é que fui encontrando a Jeiza, que é generosa, boa filha, bom caráter, ao mesmo tempo, com essa força física. A minha lembrança dela é muito das pessoas falando – por causa dos papéis que eu já tinha feito – que eu não ia conseguir fazer, que não me viam nesse lugar. Muita gente falava: ‘Policial militar? Lutadora? Não. Vai ter dublê, né?’. Aquilo foi entrando como um desafio.”
Além de passar pelo crivo do público em geral, ela estava sob observação de um espectador em particular: o pai, policial militar aposentado. “Talvez, de cara, eu não tinha me atentado para a importância que era essa profissão para uma mulher, para a novidade que poderia trazer tendo isso no horário nobre, e quanto isso poderia ser gratificante para meu pai. Porque, dos filhos, talvez eu seja a única que nunca pensou em seguir os passos dele e, no final das contas, eu homenageei para o Brasil inteiro ver”, diz.
“Acho que, mais do que tudo, meu pai ficou muito feliz de eu ser uma policial militar, mas bom caráter e boa profissional. Ele falava muito isso: ‘Ela é boa, ela não se rende’. Os elogios dele sempre foram em relação à atuação, mas também ele ficou muito encantado com a possibilidade de representá-lo nessa vida. Foram quase 40 anos na polícia militar e sendo um bom profissional.”
Para a atriz, que recentemente interpretou a digital influencer Vivi Guedes em A Dona do Pedaço, associar mocinhos a figuras ingênuas, bobas é uma “inversão de valores”. “Sempre fiz mocinhas e sempre falo que ninguém vai me convencer que o bom caráter é errado, que as pessoas dóceis e gentis estão erradas. Isso não pode acontecer e, para mim, a Jeiza foi uma mocinha com sua força, com seus impulsos.”
E essa personagem colecionou cenas marcantes: fez o parto do bebê de Ritinha em meio a um tiroteio, subiu o morro atrás dos bandidos e, numa operação policial, resgatou de duas crianças numa van escolar sequestrada e levada para a comunidade. Esse episódio do resgate, aliás, foi inspirado em um fato real que ocorreu no Rio. Foi uma sequência tensa e emocionante. “Teve uma cena em que caminhei com as duas (crianças no colo)”, referindo-se ao desfecho, em que as salva. “Saí destruída de lá, porque eu estava emocionalmente mexida e por causa da força física que tive de fazer para carregá-las. E foram 15 vezes, num sol escaldante...”
Paolla também dividia cenas com o cão policial Iron, fiel parceiro de Jeiza. O que foi um bônus para a atriz, que é apaixonada por animais e engajada nessa causa no seu dia a dia. Além de colaborar com locais como o abrigo Au Family, que cuida de mais de 900 animais no Pará, e de ser madrinha da ONG Paraíso dos Focinhos, no Rio, ela faz parte de uma rede da qual também integram as atrizes Paula Burlamaqui, Betty Gofman, Heloísa Périssé, entre outras pessoas ligadas à causa animal. “A gente vai se dividindo. Acho que tenho uns dez cachorros espalhados em hotéis, em casas temporárias, esperando adoção. Então, meu trabalho se estende para ONGs e tem o trabalho particular que fazemos nesse pequeno grupo que formamos.”
19 de setembro de 2020 | 05h00
Por pouco, Xuxa não ganharia como nome de batismo Morgana Sayonara – caçula de uma família gaúcha com cinco filhos, ela ostentaria uma homenagem à fada Morgana não fosse uma promessa feita pelo pai que, ao perceber que a menina não sobreviveria ao parto, garantiu que ela se chamaria Maria da Graça caso escapasse. “Por um milagre, sobrevivi”, conta Xuxa em Memórias, livro em que narra sua história de vida e de carreira, que será lançado na segunda, 21, de forma espetacular: são 100 mil exemplares só na primeira edição.
Na verdade, tudo que rodeia Xuxa parece ser superlativo. Nos anos 1980, por exemplo, conseguiu vender 3,6 milhões de cópias com o disco Xou da Xuxa 4. Suas marias-chiquinhas e sua eterna disposição encantavam as crianças do Brasil e de outros países. Assim, aos 57 anos, ela detém o domínio para, com um estilo simples e comunicativo na escrita, estabelecer um contato com o leitor e traçar um panorama de sua trajetória, em que as vidas pessoal e profissional sempre se cruzaram.
“Não tenho terapeuta, então quem sabe essas próximas linhas não sirvam também como uma terapia?”, diz ela, logo no início do livro, preparando o leitor para temas delicados (como os abusos sexuais que sofreu quando criança) e também amorosos (os namoros com Pelé e Ayrton Senna), sem se esquecer do imenso sucesso na TV e no cinema entre as crianças, que lhe valeu o título de Rainha dos Baixinhos.
Pelé fez parte da minha história, mas não faz parte da minha vida. Ele tem a vida dele, só fiz parte da sua história
Xuxa não se furta de lembrar momentos incômodos, como o de ser abusada sexualmente quando criança. “Tocavam em mim, colocavam o dedo em mim, doía, não sabia distinguir o que sentia, por isso não chorava nem reclamava com ninguém sobre o acontecido”, conta ela, resumindo os casos e confessando seu medo.
Bela e esguia, Xuxa logo se tornou modelo e, se sofria bullying, também conheceu personalidades como Pelé (o namoro não vingou porque o ex-jogador era muito mulherengo) e Senna, a quem dedica muito carinho nas páginas de Memórias. E, mesmo com a carreira encaminhada, aceitou o convite do diretor Mauricio Sherman para, em 1983, comandar o Clube da Criança, programa da extinta TV Manchete. Seu sucesso (apesar do entrevero com os pequenos, motivado pela inexperiência) chamou atenção da Globo, para onde se transferiu em 1986 pelo triplo do salário e conquistou o sucesso pleno: durante mais de seis anos, o Xou da Xuxa liderou a audiência das manhãs.
(Na TV Manchete), eu ainda não tinha as Paquitas como ajudantes. Só depois de quase um ano. Nunca fui preparada para a televisão
Curiosamente, uma das profissionais que mais colaboraram com esse êxito, a empresária Marlene Mattos, quase não é citada nas memórias. “Uai... O livro é meu. Por isso”, respondeu Xuxa ao Estadão. Em uma entrevista à revista Caras argentina, em 2018, a apresentadora se queixou de que não tinha ciência de quanto exatamente ganhava com todos seus investimentos, além afirmar que Marlene controlava sua vida amorosa. Sobre suas memórias, Xuxa respondeu por e-mail às seguintes questões.
Você e Rita Lee se admiram e têm ainda uma infeliz coincidência: o fato de terem sido molestadas quando crianças. Como foi revelar isso?
Rita é um ícone e uma artista completa. Eu tenho muitas coisas ainda pra melhorar pra chegar perto das conquistas dela. O fato de sermos da mesma tribo é que nos fez dividir essas experiências com os outros. Acredite, é muito mais comum do que você imagina. Meninos e meninas passam por isso todos os dias e falar sobre esse assunto alerta os responsáveis. Além de fazer com que essas pessoas não se sintam sozinhas ou mesmo culpadas.
Quando você cita Pelé no livro, parece haver um misto balanceado de gratidão e desencanto. Como você avalia hoje os seis anos de namoro?
Falei no livro o que deveria falar para não precisar mais falar sobre isso. Ele fez parte da minha história, mas não faz parte da minha vida. Claro que, se ele me ligar, falarei com ele, que seria o normal, mas não é uma pessoa do meu dia a dia, mesmo porque ele tem a vida dele, eu só fiz parte da sua história.
Você disse que aprendeu muitas coisas com Ayrton Senna. Quais seriam as mais importantes? Você acredita que, se tivesse mais tempo, o relacionamento de vocês poderia vingar?
Escrevi no livro o que eu achava que devia. Não quero falar demais de uma história que não é só minha. Não sei se teria dado certo, meu relacionamento com ele ficou baseado no “SE”: se eu tivesse falado, se tivesse aproveitado mais, se ele não tivesse ido embora cedo... “SE” não é bom pra ninguém, não é certo, saudável, nem mesmo verdadeiro. O que posso te dizer é que Deus me ama muito, pois tenho o Ju (Junno Andrade, seu marido), que respeita minha história com o Beco (apelido de família de Senna) e que me enche de música, poesia. Vivemos, hoje, uma linda história de amor.
Você procura resguardar sua imagem, mas sua privacidade sempre pareceu ser quase inexistente. Como faz para traçar o limite entre vida privada e pública?
Liberdade é uma palavra que eu pouco uso, já que escolhi para mim a vida que tenho. E quer saber? Amo tudo que vem com ela. É um preço alto às vezes, mas nada que não compense mais à frente.
Mauricio Sherman viu em você o sorriso de Doris Day, a sensualidade de Marilyn Monroe e uma pitada de Peter Pan, para então te convidar para comandar um programa com crianças. Mas, na época, você já era uma modelo de prestígio, com a carreira internacional decolando, e com pouca (ou nenhuma) experiência com crianças. O que te fez aceitar um convite que parecia arriscado?
Como disse no livro, fiz contrato de um mês, três meses, seis meses... Até fazer de um ano. Isso porque não sabia o que me esperava. Você usou a palavra “arriscado”, mas vejo como o maior desafio na minha vida e amo desafios. Ele me deu a maior oportunidade e depois veio o Mário Lúcio (Vaz, diretor da Globo), que acreditou no meu potencial, me levando para a Globo. Tenho certeza de que isso tem dedo de Deus.
Seu início na Manchete parece que não foi fácil – ainda há imagens em que você revela uma certa impaciência com a molecada. Como foi o aprendizado?
Eu ainda não tinha as Paquitas como ajudantes de palco. Só depois de quase um ano fui ter. Nunca fui preparada para a televisão. Havia antes Balão Mágico, Sítio, Vila Sésamo... Mas ninguém para me espelhar nesse novo estilo. Fiz um formato que, depois, foi copiado. E, quando se copia, erra-se menos. Me aventurei, criei, inventei, dei minha cara a tapa, tive erros e acertos e todo mundo viu e acompanhou. Hoje, sou meme por isso, mas, na verdade, eu não tinha noção do que estava fazendo e onde estava me metendo.
Chacrinha chegou a dizer que te colocaria no lugar dele no programa quando se fosse. Quem você colocaria no seu lugar?
Ninguém pode substituir o Chacrinha. Tampouco a Hebe. No meu caso, tem muita gente que faz trabalhos parecidos no mundo todo. Não acho que seja difícil encontrar alguém que possa seguir o formato “Xou da Xuxa”, mas ser eu, ser Xuxa, bem, acho que só se Deus permitir. Afinal, foi Ele que me fez, mesmo com muita gente acreditando que quem me “fez” foi uma pessoa ou outra.
De que forma a maternidade te ajudou a lidar com as crianças?
Acho que melhorou meu relacionamento com as mães. Entendi melhor suas reações que, muitas vezes, me incomodavam. Mãe faz tudo por um filho. Pagar mico por um filho, então, era uma coisa normal, que eu sempre via e eu não entendia muito. Hoje, entendo e concordo: é o papel de quem ama.
E de que forma a convivência de tantos anos com crianças te ajudou na criação da Sasha?
Respeito muito seu espaço, suas vontades, a vejo como um ser especial, um anjo que Deus me deu. Assim eu era com os baixinhos e não foi diferente com ela. Apenas exagerei com ela o que já sentia e fazia com eles.
Como seria fazer hoje um programa para crianças?
Não tem mais espaço na televisão para isso, mas eu adoraria me aventurar em programas pequenos, como pílulas que pudessem entrar nesse mundo infantil. Nunca poderia ser comparado com o que já fiz e conquistei. Infelizmente, penso que as pessoas iriam comparar SEMPRE o que já fiz com que estaria fazendo e isso não seria justo.
18 de setembro de 2020 | 05h00
Pela polêmica que o filme francês Lindinhas, disponível na Netflix, vem causando, a gente espera ver cenas muito fortes. Mas, que nada, o longa da francesa, de origem senegalesa, Maïmouna Doucouré, jamais é apelativo ou irresponsável no tratamento de seu tema principal – a erotização precoce das crianças. Não há nele qualquer intenção pedófila ou cena de nudez explícita. Estas são apenas sugeridas, quando uma das personagens joga na rede um nude para “causar” entre seguidores.
A história tem por foco a garota Amy (Fathia Youssouf), de 11 anos, que chega com a mãe a um bairro da banlieue parisiense e tenta se enturmar com outras meninas da vizinhança. Encanta-se com um grupo de garotas de sua idade que se preparam para um concurso de dança. Enquanto isso, enfrenta um ambiente tóxico em casa, com a mãe desesperada ao saber que o marido arrumou nova mulher e com ela vai se casar. Em sua cultura, a poligamia é aceita, mas não deixa de ser uma experiência dolorosa.
Amy não se enquadra nesse conflito entre culturas, pois, com a flexibilidade da idade, parece perfeitamente assimilada ao seu país. Faz parte desse grupo multiétnico da França atual e sua melhor amiga é Alice, de origem hispânica.
De shortinho e top, elas se inspiram em vídeos de dançarinas adultas na internet. É um processo imitativo, próprio dos nossos tempos, em que crianças têm acesso a qualquer conteúdo, desde que disponham de um smartphone conectado à rede. O que fazer então? Decretar uma censura universal a pretexto de barrar o acesso a conteúdos indesejáveis? Esse é o desafio dos moralistas, e como não se vislumbra solução à vista, de vez em quando elegem algum filme ou obra de arte como bode expiatório para mostrar que ainda estão vivos.
Como filme, Lindinhas (do original francês Mignonnes, ou Cuties, em inglês), adota uma linguagem francamente realista, com câmera bastante móvel no acompanhamento das personagens. É muito ágil e trabalha com roteiro bem articulado. Flagra problemas do crescimento e vulnerabilidade infantil em uma área carente (embora bairros carentes de países com a França pareçam paraísos ao lado dos nossos). De qualquer forma, há no ar uma falta de perspectiva sentida pelos adultos, um ranço de futuro incerto, e isso não deixa de se refletir sobre a vida das crianças.
Elas também desejam – e de maneira precoce – ganhar seu lugar ao sol na sociedade de consumo e do espetáculo, e usam seus recursos para chegar lá. Os concursos de dança infantis, explicitamente erotizados, buscam carne fresca e oferecem em troca os holofotes da fama. Mesmo que essa fama se contabilize apenas em número de likes e seguidores nas redes sociais, o que já parece bastante coisa hoje em dia. O desfecho (que não cito para não dar spoiler) pode até ser considerado meio conservador.
A diretora parece se recusar a dar lições de moral e procura apenas entender as motivações e os desejos daquelas garotas. Concentra-se na vida familiar e nas relações de amizade e não visa a um espectro mais amplo de análise, talvez para não parecer didática ou maniqueísta. Mas, se alguma coisa falta ao filme, talvez seja uma contextualização maior, um entendimento do tipo de organização social em que coisas desse tipo acontecem. O tom é francamente crítico em relação a esse estado de coisas, e é preciso um senhor déficit cognitivo para enxergar no filme apologia a seja lá o que for.
17 de setembro de 2020 | 05h00
Aos 70 anos, que completa nesta sexta, 18, a TV brasileira está em um ponto de renovação, tanto pela multiplicidade de mídias quanto por fatores econômicos e até mesmo sociais, como a pandemia.
TV Tupi saía do ar há 40 anos; relembre último dia da emissora
No meio de smartphones, lives, plataformas de streaming e segundas telas, parece difícil dimensionar qual foi o impacto da chegada da televisão ao Brasil. Enquanto qualquer pessoa pode transmitir de casa o próprio canal nos dias de hoje e até criar uma programação, uma geração de diretores, técnicos e atores precisou aprender a fazer televisão e inventar uma linguagem, iniciando uma aventura que mudaria os rumos e a cultura do País.
Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, inaugurava há exatos 70 anos a TV Tupi de São Paulo. Naquele 18 de setembro de 1950, 22 aparelhos de televisão foram instalados em pontos de São Paulo e no saguão dos Diários Associados. À noite, o ator Walter Forster fez o anúncio definitivo: “Está no ar a PRF-3, TV Tupi de São Paulo, a primeira estação de televisão da América Latina”. Como narra o jornalista Fernando Morais na biografia Chatô: O Rei do Brasil, a transmissão inaugural foi feita de modo improvisado, apesar dos vários ensaios. A cerimônia seria exibida com três câmeras fixas, mas uma não funcionou.
Ao tentar colocar a TV Tupi de São Paulo no ar com apenas duas câmeras, os técnicos descobriram que as três só funcionavam em conjunto, o que deixou Chateaubriand irritado. Ao se dar conta disso, o norte-americano Walther Ober Müller, supervisor do projeto e diretor da NBC, um dos três canais que existiam nos EUA na época, desesperou-se e foi para o hotel “tomar um porre”. Além disso, como disse o próprio Müller, havia mais gente trabalhando atrás das câmeras do que assistindo à TV.
Cassiano Gabus Mendes (futuro autor de novelas da TV Globo, como Anjo Mau) e Dermival Costa Lima tomaram à frente a transmissão e, com uma hora e meia de atraso, a inauguração foi ao ar e os envolvidos descobriram que o improviso em televisão não funcionava.
O programa de estreia, Show na Taba, era de variedades e protagonizado por artistas como Wilma Bentivegna, Walter Foster, Lia de Aguiar, Lima Duarte, Romeu Feres, Lolita Rodrigues, entre outros. Com uma das três câmeras pifada, tudo teve de ser reformulado às pressas. Também entrou para a história da TV a ausência de Hebe Camargo na cerimônia. Ela iria cantar o Hino da Televisão Brasileira, com letra de Guilherme de Almeida, mas não compareceu e Lolita Rodrigues assumiu seu lugar – anos depois, Hebe contou, entre sorrisos, que teve um encontro amoroso.
A noite de estreia da programação foi assistida apenas por uma seleta plateia que jantava no Jockey Clube de São Paulo, por alguns dos proprietários dos aparelhos distribuídos pelo próprio Chateaubriand e por curiosos que se aproximaram dos receptores distribuídos em vitrines de 17 lojas no centro de São Paulo.
O alcance da transmissão era de cerca de cem quilômetros, abrangendo cidades como Campinas e Santos. Um ano e alguns meses depois, no final de 1951, estimava-se que existiam no Brasil cerca de sete mil aparelhos de televisão, a maioria em São Paulo e o restante no Rio de Janeiro.
A primeira década da televisão no Brasil foi feita ao vivo, por pessoas que vieram do rádio, e por isso não há registros do período. Nos anos 1960, veio a revolução do videotape, tornando possível a gravação de novelas, programas de auditório e teleteatros. Como não havia capacidade técnica para implantar o conceito de rede, um programa que era exibido em São Paulo poderia ser visto no Rio de Janeiro só depois que a fita chegasse à capital fluminense.
Padrão Globo. O padrão de programação uniforme para todas as afiliadas foi criado pela TV Globo, na gestão de Boni e Walter Clark. A estreia do Jornal Nacional, em 1969, foi um passo importante nesse sentido, com o Brasil todo assistindo ao mesmo programa. Algo que foi possível porque a Embratel inaugurara um sistema de micro-ondas que possibilitava a exibição simultânea. A emissora de Roberto Marinho alcançou a liderança em audiência a partir daí, com uma linha sólida de jornalismo, teledramaturgia e programas de auditório.
Nestes últimos anos, devido à crise econômica, agravada pela pandemia da covid-19, a TV Globo, que garantia contratos vantajosos de longo prazo a astros e estrelas, optou por cancelar o vínculo com nomes fundamentais da história da televisão, entre eles Tarcísio Meira e Glória Menezes, o ‘casal 20’ das novelas. Resta saber se os próximos capítulos terão final feliz. /COLABOROU UBIRATAN BRASIL
Grandes transmissões da TV brasileira
As principais emissoras nacionais
16 de setembro de 2020 | 08h00
A cantora Madonna deu detalhes de como será sua cinebiografia, encorajada depois do sucesso de filmes como os que contam as histórias do Queen e de Elton John. A produção caberá à Universal Pictures.
Segundo o site da artista, ela participa do roteiro ao lado de Diablo Cody, a mesma de Juno. Apesar de ser atriz, Madonna não deve atuar no longa, que vai mostrar como a cantora se tornou um ícone. A artista escreveu o seguinte na tarde desta terça (15): “Quero transmitir a incrível jornada que vivi como artista, cantora, dançarina - um ser humano tentando abrir seu caminho neste mundo. O foco desse filme sempre será a música. A música me manteve indo e a arte me manteve vivo. Existem tantas histórias inspiradoras e não contadas e quem melhor para contá-las do que eu. É essencial compartilhar a montanha-russa da minha vida com minha voz e visão”.
A artista nasceu e foi batizada como Madonna Louise Ciccone em Bay City, Michigan, a 16 de agosto de 1958. A mãe tinha o mesmo nome, Madonna Louise Fortin, e era descendente de franco-canadenses. O pai, Silvio Anthony Ciccone, é ítalo-americano que foi para os Estados Unidos trabalhar como engenheiro de design na Chrysler e General Motors.
Madonna entendeu rapidamente o uma carreira de sucesso não fazia apenas com talento vocal. Era preciso também estar nas páginas dos jornais por outros motivos. Poucos artistas adotaram a mesma postura explicitamente, fazendo cruzar feitos artísticos e sociais.
Quando ainda se falava pouco em homoafeto na TV, Madonna chegou à festa do Video Music Awards de 2003 pronta para chocar. Durante uma performance com Britney Spears e Christina Aguilera, trocou beijos na boca com as duas cantoras ao vivo. E conseguiu uma das maiores repercussões do evento.
Madonna elegeu a Igreja Católica como o centro catalisador de atenções de seus atos midiáticos. As desavenças com a instituição religiosa tiveram início com o clipe de Like a Prayer, em que a artista aparece beijando a boca da estátua de um santo negro e em imagens com cruzes incendiadas. O clipe se tornou um hit controverso. Mas o preço não foi pago apenas pelas desavenças com o Vaticano. Um comercial que ela faria para uma grande marca de refrigerantes foi cancelado.
Sua atuação no cinema lhe rendeu um Globo de Ouro em 1997 pela atuação no filme Evita. E, no mesmo ano, sua canção You Must Love Me a levou a ganhar um Oscar de melhor canção original. Outro Globo de Ouro saiu em 2012, de melhor canção original por Masterpiece.
Foi no Brasil que Madonna teve seu maior público: 120 mil pessoas no Maracanã reunidas para vê-la no dia 6 de novembro de 1993. Em 2012, a história seria diferente. Madonna não estava mais no topoe os ingressos para seus shows no Brasil ficaram prestes a encalhar.
Sexo dava Ibope e Madonna fez bom uso dele em suas performances. Na coreografia de Like a Virgin, feita sobre uma cama com lençóis vermelhos, ela simulava uma masturbação sem pudores. Alguns países chegaram a proibir o clipe.
Lady Gaga chegou carregando o peso das comparações. De tanto dizerem que ela queria ser Madonna, parece que a própria Madonna acreditou e um clima não muito leve se criou entre as duas. A crise só pareceu passar diante das câmeras, quando deram um selinho.
Como um Roger Waters popstar, Madonna levou as críticas políticas às últimas consequências quando resolveu se embrenhar por esse caminho. O show de estreia da turnê exibiu no telão a imagem de Marine Le Pen, da extrema-direita francesa, com uma suástica sobre seu rosto. Houve uma séria ameaça de processo e ela deixou de usar o símbolo nazista.
O vídeo de What It Feels Like for a Girl foi proibido por emissoras de TVs dos Estados Unidos. Seu conteúdo seria muito violento. Ela aparece roubando carros, assaltando pessoas e explodindo um posto de gasolina.
O modelo brasileiro Jesus Luz namorou Madonna depois de se conhecerem em 2008, durante uma sessão de fotos.
15 de setembro de 2020 | 05h00
Criador de uma das linguagens mais particulares da música brasileira, Tom Zé acaba de ter a produção menos visível de um importante período de sua vida, compreendido entre 1969 e 1976, organizado pelo pesquisador e jornalista do Estadão, Renato Vieira. O álbum Raridades traz 14 faixas de gravações que poucos ouviram recuperadas dos arquivos das companhias RGE e Warner, que hoje detém os registros da Continental.
Tom gravou alguns compactos simples e canções para projetos especiais que não tiveram vida longa ou se tornaram apenas versões para colecionadores. Dispostas cronologicamente, é possível entender o desenvolvimento de seu pensamento musical desde o momento posterior à sua vitória no IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, até o ano em que lança Estudando o Samba, o álbum que levaria 14 anos para ser valorizado, a partir de um lançamento feito pelo roqueiro David Byrne. João Araújo, que viria a ser um dos criadores da Som Livre, havia acabado de levar Tom do selo AU, Artistas Unidos, para a RGE. Sua estreia, recuperada por Renato Vieira, foi justamente com um compacto simples que trazia Você Gosta, uma parceria com Hermes de Aquino, no lado A, e Feitiço no B, as duas com arranjos do maestro Severino Filho.
“O mercado exigia esse formato, o compacto. Era uma forma de vender as músicas que iam para os festivais. Só depois, eram lançadas em LPs”, diz o jornalista. Outra passagem por um festival viria logo depois, com duas músicas inscritas agora no V Festival de MPB da TV Record. Tom competia com Jeitinho Dela e Bola Pra Frente, que seriam gravadas às pressas também em compacto. Jeitinho Dela tem um sabor ainda mais especial: registrada ao vivo no festival, Tom Zé, em versão raríssima, canta ao lado dos Novos Baianos, grupo que devia uma porção de sua existência a ele. Foi Tom quem apresentou Moraes Moreira, o motor intelectual da formação, ao poeta Luiz Galvão.
“Pensei em montar em ordem cronológica para o ouvinte acompanhar como se desenvolve a linguagem do artista. Com o passar do tempo, lá por 1970, 1971, ele se aproxima mais do bolero e do samba”, diz Renato. Além da percepção estética, os movimentos são regidos também pelo contexto social, colocados sempre em crítica contundente e indireta.
Competições de Hebe. Foi de mais uma participação em um concurso, desta vez o Movimento de Incentivo à MPB, feito pela apresentadora Hebe Camargo, na TV Record, de onde saiu mais um single. Silêncio de Nós Dois, vencedora da competição, entrou como a faixa principal. E Senhor Cidadão ficou no lado B antes de ser lançada em LP. “Eu queria falar sobre a segregação que o homem das classes A e B exercia sobre os outros. E também do castigo que sofria por isso”, lembra o cantor. “Senhor cidadão / Na briga eterna do teu mundo / Senhor cidadão / Tem que ferir ou ser ferido / Senhor cidadão / O cidadão, que vida amarga / Que vida amarga.” Havia inquietude de Tom também em A Babá, expondo à sua maneira os confrontos dos tempos: “Quem é que agora está / Botando tanto grilo na cabeça do século? / Ô de marré, de-marré-de-ci / E quem é que tá / Botando piolho na cabeça do século?”
Assim como A Babá, Augusta, Angélica e Consolação também foi gravada antes, em outra versão, colocada em um compacto simples.
O álbum de raridades traz ainda Quem Não Pode Se Tchaikovski, que havia sido lançada apenas no lado B do compacto com Augusta, Angélica e Consolação, com uma construção singular que une trechos do Concerto para Violino e Orquestra em Ré Maior, op. 35, de Tchaikovski a sonoridades nordestinas. Contos de Fraldas veio de um compacto de 1974, A Dama de Vermelho foi pedida para a novela Xeque-Mate, de 1976, e O Anfitrião, que como Dói aparece na voz de Betina, foi um desafio feito pela primeira vez por Lupicínio Rodrigues: “Por que você não faz uma música de dor de cotovelo?” Betina, que gravou as duas canções que aparecem como bônus, era uma cantora descoberta pela empresária Mônica Lisboa, sucessora de Guilherme Araújo, que pediu a Tom para fazer algo que a projetasse, algo que não aconteceu.
Estadão
13 de setembro de 2020 | 12h26
A Netflix abriu o acesso a dez produções gratuitamente, entre filmes e episódios-piloto de séries, para quem deseja conhecer o serviço da plataforma. Estão incluídas no portfólio títulos de sucesso como Stranger Things, Elite, Grace and Frankie e O Chefinho de Volta aos Negócios. De acordo com a empresa, os conteúdos podem ser alterados ao longo do tempo e ainda não há previsão para que a ação promocional saia do ar. Mas o que muita gente não sabe é que, além da Netflix, outros streamings disponibilizam filmes de graça (e dentro da lei). Selecionamos dez longas que podem ser acessados sem pagar.
Produção original da Netflix, Bird Box é ambientado em um futuro pós-apocalíptico, em que o planeta é invadido por aliens. A trama é centrada em Malorie, uma mãe que tenta salvar seus filhos da ameaça extraterrestre. A personagem, interpretada por Sandra Bullock (Gravidade), inicia então uma empreitada em busca de segurança, mas o caminho não é fácil e ela deve fazer isso de olhos vendados. O longa fez tanto sucesso, que a Netflix teve de lançar uma nota pedindo para que as pessoas parassem de publicar vídeos nas redes sociais fazendo atividades cotidianas com os olhos cobertos, como ocorre no filme. O longa tem o roteiro de Eric Heisserer (A Chegada) e a direção é de Susanne Bier, da série O Gerente da Noite.
Mistério no Mediterrâneo é uma daquelas divertidas comédias românticas, excelentes para um momento de descanso. O longa, sobre um casal que se vê envolvido em um assassinato de um velho magnata, é protagonizado por Adam Sandler (Zerando a Vida) e Jennifer Aniston (Cake: Uma Razão para Viver).
Drama sobre a passagem do comando do Vaticano de Bento XVI para Francisco, Dois Papas é outra produção original da plataforma. Dirigido pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus), o longa foi indicado a três categorias do Oscar. O roteiro é baseado nos acontecimentos públicos e declarações oficiais da época da transição do papado. As conversas íntimas entre Bergoglio (Francisco) e Ratzinger (Bento XVI) foram criadas a partir de especulações. As cenas que se passam no Vaticano não foram rodadas no país, porque os produtores não conseguiram autorização. O impressionante é que a maioria dos cenários foi recriada em estúdio, como a obra de Michelangelo da Capela Sistina, que foi levantada pela equipe de cenografia em apenas dez semanas. Quem dá vida aos papas são Jonathan Pryce (O Homem que Matou Dom Quixote) e Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes).
Filmes de graça no Looke (Spcine Play)
Adaptação do livro Estação Carandiru, de Drauzio Varella, Carandiru, longa de Hector Babenco (O Beijo da Mulher-Aranha), está disponível gratuitamente no catálogo da Spcine Play, no Looke. O filme é um dos mais importantes da filmografia brasileira, tendo sido sucesso de crítica e público. Em 2003, concorreu à Palma de Ouro, no Festival de Cannes, e ainda foi o quarto filme mais assistido no Brasil. Segundo dados do Filme B, o longa teve 4,6 milhões espectadores e ficou atrás apenas de Todo Poderoso, Matrix Reloaded e Procurando Nemo. O elenco é peso e traz nomes como o de Milton Gonçalves (Orfeu) e Wagner Moura (Sergio). Vale a pena assistir!
Outra produção assinada por Babenco disponível no Looke é Pixote: A Lei do Mais Fraco, certamente o filme mais importante da carreira do diretor. Indicado ao Globo de Ouro e vencedor do Leopardo de Prata, no Festival de Locarno, o filme é um retrato da violência no Brasil. A história acompanha a vida de Pixote (Fernando Ramos da Silva), um jovem que vive nas ruas e que se viu obrigado a se envolver com a criminalidade. O elenco conta com Marília Pêra (Central do Brasil), Jardel Filho (Terra em Transe) e Elke Maravilha (A Força de Xangô).
Também no Looke, A Hora da Estrela é uma adaptação do livro homônimo de Clarice Lispector. Outro clássico do cinema nacional, o longa, de Suzana Amaral (Hotel Atlântico), concorreu ao Urso de Ouro, no Festival de Berlim de 1986, e foi agraciado com o prêmio de melhor atriz para Marcélia Cartaxo (Pacarrete), que interpretou a protagonista Macabéa. O elenco ainda conta com a participação de Fernanda Montenegro (Central do Brasil), que fez a cartomante Madame Carlota.
Sobre o nascimento do Comando Vermelho, Quase Dois Irmãos se desenrola em torno do reencontro de dois amigos de infância na prisão nos anos 1970, apesar da situação semelhante a realidade entre eles é distinta. Enquanto um é branco e preso político, o outro é negro e traficante de drogas. A direção é assinada por Lucia Murat (Praça Paris) e o elenco é composto por Flávio Bauraqui (Madame Satã), Caco Ciocler (Desmundo), Marieta Severo (Carlota Joaquina, Princesa do Brasil), Maria Flor (Proibido Proibir), Fernando Alves Pinto (Dois Coelhos) e Babu Santana (Tim Maia). No ano de seu lançamento, 2004, o filme conquistou três prêmios no Festival do Rio: Melhor Filme Latino-Americano, melhor ator (para Flávio Bauraqui) e melhor direção.
O Bandido da Luz Vermelha é um filme histórico do cinema marginal, dirigido por Rogério Sganzerla (A Mulher de Todos) e protagonizado por Paulo Villaça (O Homem da Capa Preta), o elenco ainda traz Helena Ignez (Antes do Fim), a eterna diva do Cinema Novo. A trama é inspirada nos crimes de um assaltante de casas de luxo, que ficou conhecido na imprensa durante os anos 1960 como o “bandido da luz vermelha”. À época, o filme foi consagrado com quatro prêmios do Festival de Brasília, incluindo melhor filme.
Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver
Para quem gosta de terror, a Spcine Play oferece diversos títulos de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, entre eles Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver. O longa narra a história de um homem que decide ir em busca de uma mulher ideal para ter um filho “perfeito”. As cenas de horror acontecem após o rapto de seis jovens pelo protagonista, que passa a ser perseguido pela população revoltada com seus atos de crueldade.
Filmes grátis na VIX Cine e TV
Sobre um triângulo amoroso, Estamos Juntos está disponível na VIX, uma plataforma recém-chegada ao Brasil. A direção é de Toni Venturi (A Comédia Divina) e o elenco é encabeçado por Leandra Leal (Bingo – O Rei das Manhãs) e Cauã Reymond (Uma Quase Dupla).Lançado em 2011, o filme concorreu em quatro categorias do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2012 e ganhou na categoria de melhor filme no Cine PE.
Mais filmes online e de graça
Para os fluentes em inglês, uma alternativa é o Tubi, plataforma que oferece filmes gratuitos, mas não existe a ferramenta de legenda em português.
12 de setembro de 2020 | 05h00
Gal Costa conta, em entrevista por telefone ao Estadão, de sua casa, em São Paulo, que fãs que mantêm perfis no Instagram em homenagem a ela começaram a postar pedindo live no dia de seu aniversário. Certamente, inspirados em Gil e Caetano, concorda a cantora. “Aí a gente resolveu fazer essa live. Quando sugeriram, topei de cara”, diz.
Com 55 anos de carreira, a cantora gosta da ideia desse novo formato. “Muita gente tem feito (live). Eu vi a do Gil, do Caetano, da Fafá de Belém, vi algumas, e acho que é bem legal fazer. Então, para mim, não é difícil. Não tenho que estar no palco para cantar”, afirma ela. “Sei que também é uma oportunidade que você tem de levar às pessoas um pouco de música. Na verdade, é um grande alento para elas. Música é um bálsamo para a alma: não só para quem faz, como eu, como também é para as pessoas que ouvem, que gostam. Para mim, é mais do que importante fazer essa live. E é uma nova maneira de se comunicar com o público num momento difícil como este.”
Longe dos palcos desde o início da pandemia – que a obrigou também a adiar a turnê de A Pele do Futuro pela Europa –, a cantora fará nessa data sua primeira live, um show para comemorar seus 75 anos, com transmissão da TNT, na TV e no YouTube.
Acompanhada pelos músicos Pedro Sá (violão e guitarra) e Chicão (teclado), Gal revisitará sua obra, trazendo antigos sucessos como Baby e Vaca Profana, além de músicas de discos mais recentes. O repertório, no entanto, será definido de fato, por Gal e Marcus Preto, diretor artístico dos projetos da cantora, durante os ensaios realizados às vésperas da live. “Vou cantar os grandes sucessos da minha carreira, canções que estão no imaginário das pessoas, que elas conhecem, para cantarem junto”, diz Gal ao Estadão.
“Você vai fazer uma live e levar música para as pessoas, então tem que levar o que elas querem ouvir, o que elas gostam. Por que pensar em inovar num momento deste? O fato de fazer uma live já é um dado novo. Que artista imaginou um dia fazer uma live? A gente trabalha com aglomeração, com público, com calor, com emoção. Vamos ter que aprender a levar tudo isso para as pessoas através de uma live.”
Ainda sobre o repertório do show ao vivo, fugindo um pouco dos hits, Gal cantará Creio, composição de Lulu Santos que ela gravou no disco Lua de Mel Como o Diabo Gosta, de 1987 – e que ela não canta há muito tempo. Será uma apresentação intimista para plateias virtuais, como exigem os protocolos de segurança em tempos de coronavírus. Gal diz estar tranquila. “Temos infectologista, vamos fazer (o show) cercados de todo o cuidado. Antes de nos encontrarmos, todos nós faremos o teste para ficarmos tranquilos.
Vamos usar máscara, manter a distância necessária um do outro”, explica ela. “Não só tem que ter cuidado, como tem que dar exemplo quando você tem uma posição, seja um artista, seja o presidente da República, seja uma pessoa que tenha influência. Tem que mostrar, tem que ensinar, tem que dizer: ‘olha, desse jeito é o correto, daquele é errado’. Acho que é uma postura correta você se precaver, tomar cuidado e mostrar que o correto é isso.”
Antes da quarentena, os planos de Gal também envolviam uma turnê em comemoração aos 55 anos de carreira. O cenário, entretanto, mudou com a pandemia. E a live agora inaugura essa celebração. “Acabamos tornando esse projeto dela com os meninos, que tem clima de retrospectiva, uma espécie de primeiro passo para essas comemorações. A gente quer vai fazer o tour dos 75 com esse repertório, sim”, comenta Marcus Preto. Assim que seja possível, claro. O próximo passo, segundo ele, é um álbum de regravações com convidados de gerações mais novas da música, inspirado nos discos Os Meus Amigos São Um Barato, de Nara Leão, e Erasmo Carlos Convida.
Sobre esse álbum de regravações, Gal conta que já vinha pensando nesse projeto, mas que ele ganhou força na pandemia. Por uma combinação de fatores. No final de julho, foi lançada a regravação de Baby, com o dueto de Gal e Rubel (cantor e compositor de 29 anos), nas plataformas de streaming, além do clipe da canção. O registro foi feito no dia 1.º de fevereiro deste ano, na Fundição Progresso, no Rio, onde os dois fizeram seus respectivos shows. Baby foi gravada e filmada no show de Gal, que teve participação especial de Rubel.
Somada a essa repercussão do encontro dos dois está a percepção da cantora de que gerações mais novas têm se interessado mais pela obra de artistas de sua geração durante a pandemia. “O que tem acontecido é que as pessoas estão se voltando mais para as músicas que estão relacionadas com o inconsciente coletivo delas, com a lembrança afetiva. Então, acho que a música da minha geração hoje está ‘batendo’ muito mais nas pessoas de uma maneira geral do que os artistas mais novos”, acredita.
Segundo Marcus, a ideia é primeiro fazer um disco com convidados homens, com a participação de nomes como Silva, Seu Jorge, Criolo e António Zambujo. “Esse é um projeto quarentena”, diz ele. “No meio do ano que vem, a gente já começa a gravar o disco de carreira dela.” E, numa etapa posterior, eles devem se dedicar a um outro disco de regravações, com artistas mulheres.
Isolamento. Confinada há meses com o filho de 15 anos, em sua casa em São Paulo, Gal diz que segue à risca as recomendações de isolamento. “Estou desde o começo aqui, evitando contato com as pessoas. Quando saí, e foram pouquíssimas vezes, saí com máscara, com distanciamento, ou seja, estou em casa, esperando as coisas melhorarem para voltar à rotina.”
E como ela reage quando vê imagens de praias cheias em plena pandemia? “Fico chocada de ver as pessoas sem a menor responsabilidade, nas praias como se nada tivesse acontecido, sem se preocupar com o próximo. A gente vive um momento como este, acho que isso impõe as pessoas a terem uma certa visão da vida diferente do que tinham, menos egoísta, com mais solidariedade. Enfim, fico chocada, porque a gente tem que respeitar a ciência acima de qualquer coisa”, pondera.
Mas acha que as pessoas vão sair mudadas? “Alguma coisa vai mudar. A gente vive um momento que não é nem mais sobre a questão do bem e do mal, mas de lutar contra a ignorância, e a favor da ciência e da sabedoria.”
Ela conta que, como é caseira, ficar em casa não é tão difícil. “Não sou uma pessoa que sai muito. Mas essa pandemia exige da gente um esforço muito grande, de ficar isolada, sem ter contato com o mundo lá fora.” Para passar o tempo, Gal diz que fica inventando coisas para fazer dentro de casa. Tem assistido à TV, a filmes, lê notícias na internet. Ela ainda não conseguiu assistir ao documentário Narciso em Férias, sobre o período que o amigo Caetano ficou preso durante a ditadura. Que lembrança ela tem desse episódio? “Nossa, foi apavorante. Eu estava aqui em São Paulo, quando ele e Gil foram presos. Lembro que eu vivia muito angustiada, foi um momento tenebroso.
12 de setembro de 2020 | 05h00
Novos Baianos é um cara que está nascendo a todo minuto”. Assim resumiu Baby do Brasil, na época, ainda Consuelo, no documentário Novos Baianos FC, de 1973, dirigido por Solano Ribeiro. E o grupo, surgido no final dos anos 1960, que, depois de seu término, em 1979, reuniu-se algumas vezes, teve de renascer mais uma vez após a morte de Moraes Moreira, em abril deste ano, vítima de um enfarte. Primeiro, para uma live e, agora, como uma das atrações da sétima edição do Coala Festival, que ocorre hoje (12), a partir das 14h, de forma virtual.
Além dos Novos Baianos, o festival vai apresentar um encontro de Gilberto Gil com o trio Gilsons (formado pelo filho de Gil, José, e pelos netos, Francisco e João), Nego Bala, MC Tha e Rico Dalasam e Mariana Aydar com Mestrinho (assista aqui ou no canal TNT). O local é mantido em segredo pela produção. Sabe-se que será em São Paulo, provavelmente no interior, conforme entrega Baby. “É festa na floresta! Estaremos lá ao vivo e em cores, com todos os cuidados necessários. Num clima de fazenda, como no nosso sítio em Jacarepaguá. Delícia!”, diz, em referência à comunidade onde viveu, nos anos 1970, com Moraes, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, entre outros.
Em entrevista – primeiramente combinada para ser realizada por telefone, mas, depois, a pedido de Baby, feita por e-mail – “Com as perguntas na minha frente, reflito melhor”, disse –, a cantora falou da sua relação com Moraes, da influência de João Gilberto no grupo, sobre o álbum que prepara com músicas inéditas e das lives que planeja fazer – uma delas, bem “Matrix”, segundo ela. “Para todo mundo ficar pelo menos avisado e bem esperto com o que pode acontecer em breve”, diz.
Os Novos Baianos se reuniram recentemente em uma live. Como foi para o grupo voltar a se apresentar sem o Moraes?
Ficamos muito abalados. Foi difícil demais acreditar que ele se foi, que não estaríamos de novo juntos. Por mais ou menos três meses ficamos pasmos, chocados, com tudo o que aconteceu. Se não tivéssemos uma experiência como grupo quando Moraes saiu da banda (em 1974) e feito quatro discos sem ele, sob a direção e com as composições de Pepeu Gomes e Galvão, teria sido muito mais difícil para nós voltarmos a tocar juntos. Essa experiência no passado foi a que nos deu a base, a confiança, e nos sustentou para voltarmos à cena agora.
Como você reagiu à morte do Moraes?
Alguém da imprensa ligou e pediu pra confirmar se Moraes Moreira havia falecido, e eu disse: “Claro que não, imagina!” Mas, logo depois, vi uma chamada de Paulinho (Boca de Cantor) no meu celular às 7h da manhã e tremi! Pensei, ai meu Deus, não é possível! Fiquei ‘suspensa’ em Deus todo o tempo para me segurar. Coloquei em prática tudo o que aprendi sobre vida eterna. Orei, orei ao Espírito Santo, o Consolador, para nos consolar e, principalmente, poderosamente, a Davi, Ciça e Ari, os seus filhos, e a Marília, sua ex-esposa e grande amiga.
Sem Moraes, foi Pedro Baby, seu filho e de Pepeu, que fez o violão, não?
Sim, pela grande influência do Moraes no violão do Pedro, que aprendeu com ele as batidas, o convidamos para fazer a participação especial no violão. Tanto ele, quanto Davi, filho de Moraes, são da escola de Moraes e Pepeu, e os mais legítimos representantes. Foi emocionante demais, pois Pedro é Gomes, assim como seu pai, Pepeu, seu Tio Jorginho (bateria), seu outro tio Didi (baixo). Todos são dos Novos Baianos.
Em uma entrevista nos anos 1970, Moraes disse que os Novos Baianos eram uma chama que não vai se apagar. É isso mesmo?
Pelo que já estamos vivendo, depois de tantos anos, pela nossa história ser tão bonita, pela nossa música ser tão importante para a música brasileira, com certeza os Novos Baianos “é uma chama que não vai se apagar”. Jamais!
Como será o show no Coala?
Estamos colocando algumas músicas que não tocamos na primeira live. Queremos estar muito unidos e honrando esse público e esse super-festival maravilhoso, que corajosamente não recuou nesse momento tão crítico. Vai ser inesquecível!
Os Novos Baianos conviveram muito juntos, não apenas no palco, mas na vida. E, em grupos, sempre há personalidade diferentes:um mais racional, outro mais sonhador, outro mais agitador. Quem era o Moraes Moreira nesse grupo?
Moraes era o manso, o tranquilo. Estava sempre concentrado em tocar e, durante muitos anos, foi assim. Ele e Pepeu faziam música 24 horas por dia. Eu e Paulinho cantávamos com eles o tempo todo. Galvão observava e escrevia as letras.
Em uma entrevista no começo deste ano, Moraes rebateu sua opinião de que o musical Novos Baianos (apresentado no ano passado) não retratava a realidade. Disse que você queria que a peça fosse um espetáculo evangélico, sem mencionar o consumo de drogas por parte da banda. Você ficou chateada com ele?
(Risos) Não fiquei chateada com ele, graças a Deus! Eu compreendi que ele não estava entendendo a minha forma de ver o musical como uma ficção. Afinal, eu nunca fui para a Bahia pra fazer um filme de faroeste. Eu não estava preocupada com religião ou drogas – até porque isso nunca foi importante para nós. Nosso foco era a música e a vida. Novos Baianos sempre foi uma família, uma tribo: “era uma vez uma tribo, brincando de paz e amor, enquanto o homem mandava à Lua o seu disco voador ” (cita trecho da canção 'Anos 70'). Como ele era mais velho do que eu – e meu irmão querido – me comportei como a irmã mais nova que respeita os mais velhos (risos). Evitei que qualquer coisa que eu fizesse ou falasse pudesse ofendê-lo e manchar o meu amor por ele e pela nossa história. Jamais faria isso, principalmente por respeito ao que vivemos nos dez anos em que moramos juntos, dividindo tudo pra multiplicar. O musical é muito bom, com um elenco lindo, novos e excelentes jovens atores. A parte musical é incrível, tem a direção de Pedro (Baby) e Davi (Moraes). Todos estão perfeitos! Não tem nada demais dizer que (o musical) também é uma ficção, que isso é muito normal nas histórias biográficas. Mas pode ter mudanças pra próxima temporada, pois Lucinho Mauro (o ator Lucio Mauro Filho, que assina o texto) já me propôs fazermos algumas alterações para trazermos mais ainda realidade daquele tempo. Vou amar!
Muito se fala da convivência dos Novos Baianos com o João Gilberto. E tudo que envolve João, vira lenda. Como era, de fato, esse contato?
João trouxe a força da brasilidade mais profunda. Os acordes que ele apresentou, as harmonias, e tudo o mais, revolucionou a cada um de nós tremendamente. Passávamos noites adentro ouvindo João, sem piscar os olhos. Queríamos absorver ao máximo tudo daquela escola tão bela, tão chique, tão forte, tão única e de nível musical altíssimo. Estávamos apaixonados pela possibilidade de crescermos muito mais musicalmente e de podermos um dia passar para a juventude os ensinamentos de João Gilberto, que misturados com a nossa vivência musical e a nossa vida, fez nascer o álbum Acabou Chorare.
No Altas Horas, você cantou trecho de uma música nova. Ela fala sobre como ficar livre das drogas. Seu novo disco vem com músicas nesse sentido?
Essa música se chama Decorei a Onda. Meu novo disco vem com muitos assuntos diferentes, mas que fazem parte da minha vida e das coisas que vivi nos últimos anos. Sempre que componho tenho esse compromisso de ser muito fiel à minha inspiração e a tudo que for uma verdade para mim.
Essa música teve como inspiração sua convivência com o Casagrande (os dois são amigos de longa data e foram namorados entre 2016 e 2017)? Você declarou que quebrou a maldição dele com as drogas...
Com certeza, a convivência com o Casão me trouxe mais inspiração para escrever essa letra. Essa música vem para dizer que podemos vencer as seduções de um vício, se decorarmos a onda que ele nos traz. Que se fizermos isso de uma forma inteligente, sem emocional, por meio de uma análise profunda, para que possamos abandonar o vício que mata, e assumirmos a divina euforia e a alegria positiva, que cura, vamos ter a garra, pela decisão de crescermos com a mudança de atitude que gera o milagre, e conquistarmos a maturidade emocional para viver uma nova vida. Existem alguns ensinamentos bíblicos de Jesus Cristo muito preciosos e eficazes que, na minha caminhada Matrix de “popstora”, eu aprendi a aplicá-los. Tive o privilégio de poder quebrar com Casão algumas maldições que estavam ativas em sua vida.
Você já declarou que irá fazer suas lives. Como elas serão?
Estou esperando cumprir com essa fase como nova baiana, para, em breve, botar em prática o que decidi fazer. Estou planejando pelo menos duas lives. Uma secular e pauleira, com minha superbanda, com algumas das músicas novas no meio dos sucessos e das regravações. A outra, bem Matrix, para trazer tudo sobre o Apocalipse para todo mundo ficar pelo menos avisado e bem esperto com o que pode acontecer em breve. E com muito louvor da Baby, é claro!
10 de setembro de 2020 | 05h00
Em 1962, quando já era reconhecido como um poeta e crítico de artes plásticas de importância, Ferreira Gullar foi admitido como redator da sucursal do Rio de Janeiro do Estadão. “Sou copidesque, isto é, reescrevo o que os outros escrevem”, explicou ele essa função para Clarice Lispector, que o entrevistou em 1977, logo depois de seu retorno do exílio. Seu vínculo com o jornal fora mantido no período em que foi obrigado a viver fora e, na redação, entre uma matéria e outra, Gullar praticava sua poesia em laudas, como era conhecida a folha de papel na qual os jornalistas datilografavam seus textos, em máquinas de escrever.
Em uma dessas laudas, Gullar escreveu O Sentido da Vida, poema inédito (veja abaixo), escrito entre os anos 1960 e 70, e que sua filha, Luciana Aragão Ferreira, descobriu no arquivo deixado pelo escritor, em seu apartamento no Rio, e que deverá figurar em uma publicação, uma das diversas iniciativas já elaboradas para festejar a obra do poeta, cujos 90 anos de nascimento são lembrados nesta quinta-feira, 10 – ele morreu em dezembro de 2016, em decorrência de uma pneumonia.
Gullar (pseudônimo adotado depois de mudar a grafia do sobrenome da mãe, Goulart) transitou com regularidade e eficiência na ficção, na crônica, na pintura e na crítica (especialmente das artes plásticas), mas encontrou na poesia sua mais expressiva forma artística. Era no verso que o maranhense José Ribamar Ferreira se sentia realmente um homem livre. Basta observar sua obra mais conhecida e divulgada, Poema Sujo. Considerada por muitos como uma das principais realizações poéticas do século passado, foi escrita em 1975, quando o poeta ainda vivia forçosamente exilado em Buenos Aires. Uma rápida leitura e a constatação de que o poema é um doloroso canto em favor da liberdade.
Escrito entre maio e outubro daquele ano, durante o período em que o poeta viveu exilado (e isolado) em Buenos Aires, o Poema Sujo foi gravado por Gullar na época, a pedido de Vinicius de Moraes, que o encontrou na Argentina. Trazida clandestinamente para o Rio, a fita cassete foi ouvida em audições entre amigos e, logo, trechos foram transcritos e distribuídos pela cidade, tornando-se um clássico instantâneo.
Tal história figura no livro Rabo de Foguete, memórias sobre o período exilado, que Gullar publicou em 1998, e deverá constar também na biografia que o jornalista Miguel Conde prepara sobre o escritor, a ser publicada pela Companhia das Letras no ano que vem.
Já a organização da obra de Gullar, especialmente o material inédito, vem sendo feita pela editora Maria Amélia Mello, que manteve um contato muito próximo do poeta ao longo de sua vida, e por Celeste Aragão Ferreira, neta do escritor que acompanhou a rotina de trabalho do avô em seus últimos quatro anos. As duas vão cuidar especialmente dos diários que o poeta iniciou em 1950. “São muitos cadernos e vamos iniciar o trabalho logo após a pandemia amenizar – Celeste, no momento, está lendo todo o material”, informa Maria Amélia.
A programação é promissora: Gullar deixou organizado, por exemplo, um livro de ensaios sobre arte, publicados ao longo dos anos, material inédito em livro, que Maria Amélia vem organizando. Ela e Celeste preveem ainda um volume com ensaios variados sobre arte, filosofia, literatura, crônicas, além de um livro reunindo cartas, em especial a correspondência trocada com Tereza Aragão, sua primeira mulher. “É também um material inédito e muito rico em comentários”, observa a editora.
Mais adiantado está o livro As Muitas Maneiras de Dizer ‘Eu Te Amo’, com 31 ilustrações feitas por Gullar, entre elas, um retrato de Claudia Ahimsa, poeta que foi sua segunda mulher e que organizou o volume – a obra pode ser encomendada pelo site www.urucum.com. É preciso lembrar que Ferreira Gullar era um profundo conhecedor das artes plásticas.
Outro trabalho já disponível é a reedição de Dr. Urubu e Outras Fábulas (Autêntica), obra infantil escrita durante as viagens de carro que o poeta fazia entre Rio e São Paulo, onde gravava um programa de TV para o Sesc. “Para não ficar apenas olhando a paisagem, resolveu escrever os poemas”, conta Maria Amélia. “Ele me disse que foi o único livro que escreveu pensando nas crianças. E os poemas trazem a marca Gullar, em especial a preocupação social. E também têm humor.”
Para festejar o aniversário do poeta, o cineasta Silvio Tendler comanda uma live nesta quinta, às 19h, com Luciana Aragão, Juliana Aragão (neta do poeta), Miguel Conde e o diretor Zelito Viana. Será na página da produtora Caliban Cinema no Facebook.
Já no blog da Companhia das Letras, o também poeta Antonio Cícero vai discutir a importância do Poema Sujo. Haverá ainda sorteio de livros de Gullar. Debates que ajudam a elucidar a forma criativa do poeta, para quem o poema nascia não de inspiração, mas de algo fora de controle. “A poesia nasce do espanto, quando a vida me revela algo que eu desconhecia”, dizia ele.
“Pode acontecer que
enquanto ris
com os amigos no bar
cheio de confiança, de certeza,
a vida te prepare uma surpresa
silenciosamente, lentamente
como as nuvens que rolam pelo ar
*
Poderás dar com ela numa esquina
talvez quem sabe dentro de um cinema
talvez quem sabe num telefonema
*
E de repente nada tem sentido:
é amargo o chope, o papo aborrecido,
a alegria dos outros uma injúria.
A vida em suma
é apenas som e fúria
não significando coisa alguma.
*
Pra que viver então? tu te perguntas,
se a vida é sem sentido e sem razão?
E eu te respondo: é certo,
a vida não tem sentido mesmo não,
O sentido da vida a gente inventa
misturando a mentira com a verdade
do mesmo modo como a nuvem inventa
a sua dança branca, branca e lenta,
sobre a nossa cidade”
09 de setembro de 2020 | 08h36
Vanusa foi internada em um hospital na região de Santos, no litoral paulista, por causa de problemas respiratórios. O filho dela, Rafael Vanucci, confirmou o estado de saúde da mãe e fez uma publicação nas redes sociais. “Minha mãe, Vanusa, foi hospitalizada com problemas respiratórios e retenção de líquidos por conta de não conseguir ir ao banheiro. O estado de saúde dela é estável e tranquilo, porém, ela continuará hospitalizada por conta de ter que tomar antibióticos por via subcutânea (acho que o termo é esse) e não conseguir tomar por via oral”, escreveu, aproveitando para agradecer as mensagens de carinho do público.
A cantora sofre há alguns anos com um quadro de saúde degenerativo em decorrência do mal de Alzheimer. Em 2018, ela foi internada em uma clínica de reabilitação para tratar contra depressão.
No início de agosto, Aretha Marcos, filha dos cantores Vanusa e Antonio Marcos, falou mais sobre como a doença de Alzheimer afetou a saúde da mãe. "Não quero que minha mãe fique numa clínica para sempre. O Alzheimer é uma doença muito difícil. Como eu vivo hoje, não tenho como trazê-la de lá. A condição dela exige um cuidado maior e eu vivo só", ressaltou.
Em agosto de 2017, Vanusa foi internada para combater uma depressão severa e vício em calmantes, segundo Rafael.
07 de setembro de 2020 | 10h15
Em reportagem no Fantástico, a TV Globo confirmou ontem, 6, que fará um remake da novela Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, exibida há 30 anos, entre março e dezembro de 1990, na Rede Manchete.
Segundo a reportagem, Pantanal está programada para 2021. A nova versão séra escrita por Bruno Luperi, neto de Benedito. Sobre o elenco, ainda não há nome confirmado para a atriz que interpretará Juma, papel que revelou o talento de Cristiana Oliveira na novela original. "Eu fico vendo a televisão o tempo todo procurando quem eu vou chamar para ser a Juma", disse Benedito ao Fantástico.
A trama narra a história de José Leôncio, rico fazendeiro que engravida uma jovem no Rio de Janeiro e acaba de casando com ela. No entanto, a moça não gosta da vida rural e decide voltar para sua casa.
O homem tenta recuperar o filho, mas não consegue e passa a viver com sua empregada, Filó, com quem tem um filho.
Juma Marruá (Cristiana Oliveira)
A atriz foi revelada em 'Pantanal' no papel da moça criada como selvagem, que tinha o poder de se transformar em onça-pintada. Sua mãe foi assassinada em uma trama de vingança.
Tadeu (Marcus Palmeira)
Rival de Jove (Marcos Winter), o personagem de Marcos Palmeira é filho de Filó, empregada de Zé Leoncio, o rico fazendeiro de Pantanal.
Jove (Marcos Winter)
Filho de Zé Leôncio, o personagem foi criado na cidade e vai até a fazendo conhecer parte da família. Se apaixona por Juma e a leva para a cidade.
07 de setembro de 2020 | 05h00
Outstanding Innovation in Interactive Media. O repórter estava no Estúdio Árvore, em Pinheiros, quando o diretor Ricardo Laganaro e o produtor Ricardo Justus, de A Linha, receberam o e-mail comunicando que o curta havia vencido uma importante categoria do Emmy Internacional, o Primetime Emmy Award. Brasil na cabeça. Mas, então, por que a dupla se manteve tão low profile? Nenhuma comemoração. “Já comemoramos com champanhe, remotamente, há uma semana, quando soubemos que havíamos ganhado. Só não podíamos anunciar, porque o comunicado teria de vir do Emmy”, conta Justus.
Essa é uma categoria especial e o anúncio do vencedor não é feito na grande festa do Emmy, o Oscar da TV, marcada para o dia 20. É como no Oscar – algumas categorias técnicas e premiações especiais ocorrem numa festa paralela. Excepcional inovação em mídia interativa. O repórter que o diga. Estava assistindo ao curta quando chegou o aguardado e-mail. Trata-se de uma narrativa em realidade virtual (VR) totalmente pensada e desenvolvida para ser contada neste formato. A obra inova ao permitir que o usuário interaja com a experiência usando o próprio corpo em vez de controles e é uma porta de entrada para o grande público experimentar a tecnologia de VR.
Uma maquete de São Paulo nos anos 1940. Miniaturas – um jovem casal, Pedro e Rosa. Lá atrás, quando tudo começou, os nomes eram outros, John e Mary. Pedro entrega jornais e ama Rosa. Todo dia experimenta o desejo de se declarar, entregando-lhe uma rosa amarela. Como bonecos, cada um anda no seu trilho. A moral da história é que, às vezes, é preciso sair dos trilhos para ser feliz. A vitória da ousadia sobre a conformidade.
Cerca de 15 minutos. Justamente por ser interativo, o curta tem a duração aproximada. Depende de quem participa da narrativa imersiva, fazendo avançar os personagens face às dificuldades que a trama impõe a Pedro, a Rosa – e a quem está com os óculos. “A ideia era abordar um tema universal como o amor, mas agregando camadas como rotina e medo da mudança. Essa questão da mudança é fundamental, porque estamos trabalhando com algo novo. Nossa narrativa foi formatada para o Oculus Quest, que ainda nem está à venda no Brasil e permite o rastreamento de mãos”, diz Justus. O que significa isso, hand tracking? “É a ferramenta que amplia a imersão do usuário e seu senso de direção ao participar da trama.”
O mais bacana nessa história é que o Estúdio Árvore vem agregando uma moçada de artistas gráficos que, inicialmente, conhecia pouco ou nada dessas inovações, mas foi enfrentando o desafio e dominando as ferramentas. Veneza iniciou esta semana mais uma edição de sua tradicional mostra de arte cinematográfica – a mais antiga do mundo.
No ano passado, numa seção dedicada à VR, A Linha também já havia sido premiado como Melhor Experiência em Virtual Reality, concorrendo com obras de todo o mundo – e, teoricamente, vindas de países onde essa pesquisa poderia estar mais avançada. Cannes, sempre na vanguarda, já abrigou em 2017 uma experiência imersiva de Alejandro González-Iñárritu, Carne y Arena/Flesh and Sand. “O que esses grandes festivais têm feito é abrir espaço para a VR, mas sempre com o atrativo de um grande nome”, conta Laganaro. “Nossa história tem um narrador. Pensamos em conseguir um nome conhecido de Hollywood. Fizemos contato com o Christopher Plummer, mas a coisa não andou”, explica Justus – ele é o CEO do Árvore.
Foi quando a dupla Laganaro/Terra pensou num nome brasileiro com circulação internacional. Bingo! “Entramos em contato com o assessor de Rodrigo Santoro, que se entusiasmou; o próprio Rodrigo abraçou a ideia e eu fui encontrá-lo nos EUA, onde ele estava gravando”, lembra o diretor. Além de ser o ator talentoso que é, Santoro tem experiência como dublador e até forneceu a voz original para a série Rio, de Carlos Saldanha. Ele faz a gravação em inglês de A Linha – à qual o repórter assistiu (e interagiu). Simone Kliass faz a narrativa em português. Algum espectador já terá participado do experimento. Após a vitoriosa passagem por Veneza, em 2019, A Linha teve sua estreia nacional na Mostra de São Paulo do ano passado. O mais belo dessa história toda é que, por mais inovadora que seja a técnica, a trama é sob medida para mexer com as emoções do espectador.
Pedro, o herói da história, repete todo dia o mesmo percurso entregando jornais, mas, a cada ciclo, se permite uma pequena escapada para colher uma rosa amarela que deixa, anonimamente, na porta da casa de Rosa. Quando as rosas terminam, Pedro enfrenta o desafio de vencer seu medo e ter de buscar caminhos alternativos, com novas rosas.
Uma história regional, passada numa São Paulo ainda provinciana, há quase 80 anos – que Laganaro encontrou num álbum de família – torna-se universal. Para isso, o diretor fez questão de utilizar referências próprias da cultura brasileira. A música – um chorinho – embala a história. A trilha é assinada por Gilson Fukushima e Rubem Feffer. Você sabe quem é – Feffer compôs com Gustavo Kurlat a trilha da animação O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, que foi indicada para o Oscar em 2016.
Laganaro iniciou-se na O2, trabalhando com animação de stop motion. Foi um aprendizado importante para ele, mas também havia uma limitação. A O2, como empresa produtora, tem outras prioridades e não investe pesado nessa linha que ele pretendia seguir. Foi quando Laganaro conheceu Terra. Ambos jovens, descobriram suas afinidades – e a vontade de trabalhar nessa área. O resto é história.
O estúdio não para de crescer – embora agora pareça um escritório fantasma. Todos aqueles computadores parados. Onde estão as pessoas? “Está todo mundo em casa, trabalhando remotamente. Só viemos para que você pudesse ver o Linha com os óculos”, explica Laganaro. Outstanding, rapazes. Só um problema – por conta da pandemia e das restrições à entrada de brasileiros nos EUA, o diretor e o produtor não poderão estar presencialmente na festa, que vai ocorrer com um rígido protocolo de segurança (e eles já gravaram o agradecimento).
05 de setembro de 2020 | 08h30
Na próxima segunda-feira, 7, é comemorada a Independência do Brasil. A famosa cena do então príncipe Dom Pedro I e seu famoso brado "Independência ou Morte" foram retratados em pinturas, na televisão, nos cinemas e nos livros. Para comemorar a ocasião e para recordar este período e seus personagens, o Estadão selecionou uma lista de atores que já deram vida ao imperador. Confira.
O filme, dirigido por Carlos Coimbra, foi lançado para comemorar os 150 anos da data e tinha o jovem Tarcísio Meira como Dom Pedro I. Sua mulher, Glória Menezes interpretou a amante do imperador, a Marquesa de Santos (Domitila de Castro).
Falando na Marquesa, a minissérie exibida na TV Manchete teve como protagonista a atriz Maitê Proença e Gracindo Jr. interpretou o imperador.
Com pitadas de humor e erotismo, o seriado da Globo explorou as farras vividas pela família real em terras brasileiras. Marcos Pasquim, no papel do português, contracenava com Luana Piovani.
O especial de fim de ano da TV Globo tinha Reynaldo Gianecchinni como um Dom Pedro I e Aracy Balabanian como Dona Mariana. A produção chegou a ser indicada ao Emmy daquele ano.
A novela das seis, da Globo, que acabou de ser reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, resgatou esse conturbado período da história brasileira e colocou o ator Caio Castro no papel do então príncipe. Leopoldina, sua mulher, foi interpretada por Letícia Colin.
Em entrevista ao Estado, o ator contou que vai interpretar Dom Pedro I no filme com direção de Laís Bodanzky, ainda em fase de produção. O longa deve virar também uma microssérie.
Entrevista com
Maria Rita, cantora
04 de setembro de 2020 | 05h00
Mãe, dona de casa, cantora, produtora, empresária. Maria Rita, prestes a completar 43 anos, assume – como a maioria das mulheres – múltiplos papéis. Por isso, sabe que precisa se manter forte. Por ela, pelos filhos (Antonio, 16 anos, e Alice, 7) e também pelos músicos e equipe técnica. Por todos eles – e pelo amor à profissão –, ela aceitou os convites para se apresentar fora de casa em tempos em que a pandemia do novo coronavírus ainda é uma ameaça. Nesta sexta-feira, 4, ela mostra o show Samba da Maria no Arena Sessions do Allianz Parque, em esquema de drive-in.
Você começou fazendo lives na sua casa. Depois, se apresentou em drive-in e em estúdio. Como foi a decisão de dar esse passo a mais, de aceitar convites para se apresentar fora de casa?
O principal fator, não vou mentir, foi a consideração para com aqueles que precisam trabalhar, inclusive eu. Não só por uma questão afetiva, emocional ou psicológica, mas também financeira. A vida não está ganha. Meu cachê nunca foi R$ 200 mil ou R$ 300 mil. Nunca chegou a esse patamar. Então, sei que a minha equipe precisa trabalhar. Eu também preciso. Precisava sinalizar para as pessoas próximas – meus filhos e minha equipe – que estou trabalhando, que não estou acomodada. Conversei com os músicos e com a equipe técnica para ver até onde eles estavam confortáveis em trabalhar. Estamos respeitando as normas, mas, de fato, foi uma decisão bem difícil.
Sentiu-se segura nessa volta ao trabalho?
Não. Eu não me senti segura. E ainda não me sinto segura em avião, por exemplo. Nesse processo de ponderar o que vale e o que não vale, já neguei algumas apresentações fora do eixo Rio – São Paulo. Dependendo do lugar, a gente pega estradas perigosas, de noite, para evitar hotel. Tornou-se um quebra-cabeça não muito fácil. Isso abre uma margem para algumas exigências: não posso ficar doente, não posso parar em hospital por qualquer coisa. São cuidados exacerbados. Se antes eu tinha alguns, hoje tenho mais! Mas tenho encontrado pessoas muito compreensivas, muito profissionais, que respeitam minhas inseguranças e fazem com que haja um conforto pra que o trabalho seja feito, porque a gente ama o que faz.
Recentemente, você fez um show em um formato drive-in e, agora, fará outro, em um local maior. Como foi essa experiência de cantar para com o público dentro dos carros?
Foi uma experiência muito louca! Mas muito bacana, sabe por quê? Foi muito interessante ver a capacidade que a gente tem de se adaptar. No início, me senti como se estivesse no meu primeiro encontro (risos). Ninguém sabe muito o que falar, fica aquele silêncio constrangedor. Lá pela terceira ou quarta música, o público já tinha entendido a dinâmica e a gente começou a alimentar a energia um do outro. Lá pela quinta música, as pessoas estavam dançando dentro do carro. Ih, bicho! Lá pela décima música, a galera já estava com a janela aberta, braços para fora. Uns sentavam na janela e dançavam, batucavam no teto do carro. Foi muito maneiro! Lembro de uma família que estava com um bebezinho, que deveria ter três meses. Em uma situação normal, eles não teriam ido ao show por conta do barulho, né? Mas, nesse formato, conseguiram. Eles ficavam dançando com o neném. Fiquei super emocionada. São modelos novos que eu acho que vão acabar fazendo parte da cultura da gente. A gente se adapta, cara! A gente não deixa a peteca cair, não! (risos)
Do lado pessoal, como você se comportou nessa quarentena? Como organizou sua rotina longe dos palcos?
No começo, achei que ia voltar a ter aula de piano, que eu ia ler muito, sair dessa quarentena muito culta, praticamente com um PHD nos assuntos que eu gosto. Tenho uma filha de 7 anos de idade. E, sem o tempo gasto na escola, não só as aulas online, o dia a dia ficou tudo muito em cima de mim. Então, se resume a distração, aula online, almoço, jantar. Eu me voltei totalmente pra ela, assim que entendi que a quarentena não ia ser apenas quinze dias. Quando eu vi que a situação se prolongaria, falei: para! O bicho pegou.
Vou cuidar da minha saúde mental por ela (filha). Meu filho tem 16 anos, já entende muito melhor, mora com o pai em São Paulo. A gente ficou quatro meses sem se ver. Consegui ir a São Paulo de carro para buscá-lo. Ele ficou aqui comigo dez dias e o levei de volta assim que começaram as aulas. O que funcionou para mim foi lembrar que a minha frustração não iria me levar a nada. Por ser cantora, empresária, artista, a mãe, dona de casa e sei lá mais o que, tenho a tendência de trazer tudo pra mim. Tive que fazer um exercício rápido, muito rápido, de que tudo isso não era culpa minha. Se não está tendo show, não foi porque eu tomei alguma decisão equivocada na minha carreira. É porque realmente não tinha como ter show. Não posso pirar, não posso me dar esse luxo.
Você tem dois filhos em idade escolar e o estudo a distância está sendo um desafio para os estudantes e também para os pais ou responsáveis. Como lidou com essa questão?
Eu presto muita atenção aos sinais que a minha filha dá. Tem dia que ela está super animada e fica focadíssima na escola. Tem dias que dá uma hora de aula, ela vira pra mim com o olho cheio d’água e fala: mamãe, não quero. Aí, eu desligo (a aula). Conversei isso longamente com a coordenação. Eu respeito. A criança não tem ferramenta o suficiente pra entender o que está acontecendo. Já basta não poder estar em contato com os amigos, não poder sair para rua, não poder ir ao parque, passear. Considero isso, de certa forma, um trauma. Estamos vivendo um trauma coletivo, um luto - com mais de 120 mil famílias sofrendo um luto real. Se daqui há 10 anos ela olhar pra trás e lembrar dos dias que brincamos de Lego, que cozinhamos juntas, ficamos sem fazer nada vendo TV, sentada do lado dela ajudando a fazer a lição de casa, para mim, será uma vitória.
Além de seus grandes sucessos, músicas como O bêbado e a equilibrista e O mestre-sala dos mares se tornaram importantes em suas apresentações. Ambas de João Bosco e Aldir Blanc, lançadas por sua mãe na década de 1970. Ao mesmo tempo que isso atesta a longevidade dessas composições, também mostra que nossos problemas ainda são os mesmos. Qual significado que elas têm para você?
Essas músicas ainda são reais, a gente vive isso. Acho que estávamos meio anestesiados ou disfarçados por algumas grandes conquistas da sociedade brasileira. Estamos falando de formas de pensar de cento e poucos anos atrás. Só que agora está escancarado porque, como num pêndulo, a história está indo para este lado de novo e encontra representantes dessa forma de pensar, não só no Brasil, como em outros lugares no mundo. A indignação é: como as pessoas ainda pensam dessa forma? Como a sociedade não andou pra frente? Como ainda tem gente que age desse jeito? Como ainda tem gente que usa palavras de sábios como Jesus para justificar um comportamento absolutamente retrógrado. Retrógrado é pouco. É absolutamente sombrio.
A música – e a arte em geral – foi um grande alento para as pessoas durante a quarentena. Isso traz mais responsabilidade para os artistas?
Para mim, essa responsabilidade existe desde sempre. De 2016 ou 2017 pra cá, prestigiar arte nacional virou um ato resistência, com mais intensidade de 2018 pra cá. Fora essa questão política, o simples fato de uma pessoa escolher sair do conforto da sua casa para prestigiar o artista, para ser um agente incentivador de cultura, mesmo que sem perceber, mesmo que inconsciente, é de uma força muito grande. Minha relação não é com a fama, é com arte. Como meu pai me ensinou: é entretenimento para o outro, mas é o nosso ganha-pão. É o meu ofício, missão. É uma relação que eu prezo muito. Temos o microfone na mão. Somos megafone das sensações e experiências humanas.
De que maneira todas essas questões sociais e políticas pelas quais o Brasil e o mundo estão passando podem refletir em um futuro trabalho seu?
Em 2007, no (álbum) Samba Meu gravei uma música chamada Corpitcho que poucas pessoas entenderam a mensagem. Quando entenderem falaram: “Caraca! Você já estava cantando isso em 2007?” Eu respondia: “eu não! Tinha um compositor pensando nisso e escreveu". Dá uma olhada nessa letra para ver o que eu estou falando.
Em uma das apresentações online, você disse que teve pelo menos três projetos paralisados por conta da pandemia. Entre eles, estava um novo disco?
Sim, um deles era o disco. Agora, eu tenho que esperar porque as dinâmicas mudaram. Era um trabalho que eu estava contando com apoios, parceria comercial. Puxaram o freio de mão em tudo. Como eu disse, estou focada na minha filha, no bem-estar dos meus dois filhos. Não tenho como parar e fazer pesquisa de repertório de nove, dez horas por dia, durante por sei lá quanto tempo. Para ir para o estúdio gravar, mesmo que seja um EP, com três músicas, não tenho esse tempo agora. Minha cabeça não está funcionando para essa frequência. Mas isso não significa que eu não esteja pensando em absolutamente nada, não estou bloqueada. Só quer dizer que a relação com o tempo está um pouco diferente.
03 de setembro de 2020 | 11h33
A atriz Sônia Braga diz ver com preocupação o futuro de uma sociedade que "perdeu a empatia", o que considera ser o principal problema durante a pandemia do novo coronavírus, sentida com mais intensidade nos países aos quais está diretamente ligada: Brasil, onde nasceu, e Estados Unidos, onde reside há anos.
Em entrevista por telefone à Agência Efe, a artista, de sua residência em Nova York, afirmou que "o mundo está louco atualmente" e que "a falta de empatia, essa carência, é o grande problema do mundo".
Na opinião da atriz, antes mesmo da pandemia e da atual polarização política no Brasil e nos EUA, os países já demonstravam sinais de piora.
"Sem a pandemia, antes de tudo isto, a humanidade estava perdendo a capacidade de cuidar dos outros, de sentir sua dor, sua felicidade", lamentou.
Sônia Braga está no elenco de Fátima, filme dirigido por Marco Pontecorvo e lançado no fim de semana passado nos Estados Unidos, por streaming. O longa-metragem conta a aparição de Nossa Senhora na Cova da Iria, em 1917, que transformou a cidade portuguesa de Fátima em um centro de peregrinação mundial.
"Quando gravamos este filme, contávamos o final da Primeira Guerra Mundial, e nunca pensávamos que veríamos circunstâncias tão difíceis como a da atual pandemia", confessou.
Coprodução entre Estados Unidos e Portugal, o filme, longe de se aprofundar em conotações religiosas, lembra as tensões políticas que Portugal vivia após a Revolução de 1910 e a Primeira Guerra Mundial, que afetaram um país que caminhava rumo à democracia e à modernidade.
"Eu não sabia o que significava historicamente, o momento que Portugal vivia e o debate que existia sobre a separação do Estado e da Igreja. Sabemos desses relatos de maneira muito simples", analisou a atriz.
Braga, que não se considera religiosa, interpreta no filme a irmã Lúcia, uma das crianças que informa sobre a aparição, na fase adulta.
O roteiro combina imagens de 1917 com um encontro que a religiosa teve, já adulta, com um professor cético a respeito dos milagres e que está trabalhando em um livro.
"Também houve tensões dentro da própria Igreja, foi um marco na história deste lugar", comentou Sônia Braga, ao opinar que estudar religiões traz "conhecimento, respeito e tolerância", sejam quais forem as suas crenças.
03 de setembro de 2020 | 05h00
Filho de um militante político condenado à morte, o palestino Bilal Gaber nasceu em um campo de refugiados no Líbano e chegou ao Brasil sozinho, com 17 anos. Drágica Stefanovic deixou para trás (e às pressas) a vida confortável que levava na antiga Iugoslávia após descobrir que ela e sua família constavam em uma lista de extermínio. O sírio Abdulbaset Jarour foi gravemente ferido durante um bombardeio e desembarcou em Guarulhos com a mobilidade ainda comprometida, por conta de um estilhaço alojado na perna.
A trajetória desses e outros estrangeiros que se viram obrigados a deixar seu país – e encontraram aqui um recomeço – é retratada no livro Valentes: Histórias de Pessoas Refugiadas no Brasil, escrito por Aryane Cararo e Duda Porto de Souza e lançado recentemente pela Seguinte. Nele, as jornalistas repetem a parceria iniciada em Extraordinárias: Mulheres que Revolucionaram o Brasil, que chegou às lojas em 2017, pela mesma editora, e já vendeu mais de 30 mil cópias.
“Valentes é parte de um arco narrativo de direitos humanos que começamos com o primeiro livro. Ambos trazem importantes temas transversais, como justiça social, orientação sexual, exploração do trabalho, preconceito, intolerância, pluralidade cultural. Temas sobre os quais não deveria haver vozes dissonantes”, observa Aryane em entrevista ao Estadão.
Ainda assim, o cuidado e a sensibilidade com que personagens e dados históricos são apresentados permitem que suas mais de 280 páginas possam envolver leitores de várias idades. Com casos fortes de sofrimento, resiliência e otimismo, a obra parte de exemplos particulares para refletir sobre dramas coletivos.
“O refúgio está muito atrelado à fuga e, de muitas formas, isso é injusto na hora de retratar uma história de vida; então, olhamos bastante para o processo de superação de cada indivíduo”, conta Duda. “Asilados, reassentados, apátridas, refugiados, migrantes – todas as formas de acolher estão contempladas no livro. Mas só a aproximação cotidiana pode quebrar essas barreiras, combater a xenofobia e os estereótipos associados a essa população.”
Nos capítulos iniciais, são pontuados marcos mundiais ligados a políticas de refúgio, como a Convenção de Genebra de 1951. Também são abordados o papel de entidades como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e a Lei de Refúgio brasileira, criada em 1997. Apesar de ela ser considerada até hoje “um instrumento jurídico dos mais modernos”, esse processo legal de acolhimento não é simples – para se ter uma ideia, até dezembro de 2018, o País reconheceu oficialmente como refugiadas apenas 11.231 pessoas.
Entre elas, está Bilal Gaber, cujo pai era militante da Frente Popular para a Libertação da Palestina, o que o obrigava a se mudar constantemente. No Brasil desde 1994, morou, primeiramente, em Pelotas (RS). Hoje em São Paulo, casado com uma brasileira e com um filho de 5 anos, é gerente do espaço cultural Al Janiah, onde trabalham vários imigrantes. “Os refugiados não gostariam de sair do país deles; é por causa da guerra, da miséria, da fome. Se tivéssemos a chance de viver com nossas famílias, nossos amigos, não mudaríamos”, diz Gaber ao Estadão, acrescentando que considera aqui “um paraíso”.
Foi por conta de uma novela brasileira que a moçambicana Lara Lopes, também retratada no livro, pensou que encontraria aqui uma sociedade mais respeitosa e aberta à diversidade. Ela, que sofria hostilidade por sua orientação sexual, teve uma amiga de infância brutalmente torturada por ser homossexual. Veio para cá em 2013, despedindo-se apenas da mãe. Sobre sua participação em Valentes, Lara se diz satisfeita em compartilhar sua história. “Quem sabe ajude quem pensa em se deslocar para outros países a não o fazer, mas, sim, a buscar seus direitos e a lutar por eles.” Hoje, ela vive com a companheira e o filho, nascido em maio deste ano, num apartamento em Artur Alvim, na zona leste de São Paulo.
Durante dois anos e meio de pesquisa, as autoras colheram depoimentos de 20 pessoas, vindas de locais como Vietnã, Afeganistão, Marrocos, Angola, Haiti, Bolívia e Venezuela. A esse rico material humano, somam-se dados históricos que contextualizam a vida dos personagens e as crises sociopolíticas que os expulsaram de seus países de origem, agrupados por região – Ásia, África, Europa e América Latina.
Assim, antes de conhecer a história de Vu Tien Dung, é possível relembrar fatos importantes sobre a Guerra do Vietnã e até a icônica e premiada imagem que mostra uma menina correndo nua após ter o corpo queimado por uma bomba de napalm.
O vietnamita veio para o Brasil em 1979, após fugir de seu país em um pequeno bote que ficou à deriva no mar e foi resgatado por um navio brasileiro, que o levou, primeiramente, a um campo de refugiados em Cingapura. Ao chegar aqui, com 19 anos, Dung pouco sabia sobre o País: “Na escola, aprendi que (...) a Argentina tem tango e no Brasil, café, samba e futebol”, conta ele no livro.
Nessas trajetórias de vida se entremeiam aspectos da realidade de cada nação, como é o caso das crianças-soldado, que ganha destaque na parte dedicada à República Democrática do Congo. “Sequestro, álcool, drogas, armas. Durante os anos de guerra e o conflito que se seguiu por minerais, poder e outras riquezas, essa foi a realidade de muitos meninos e meninas”, inicia-se o texto.
No mesmo país africano, outra questão apontada é o estupro sendo usado como arma de guerra, já que “ter uma menina ou mulher violentada é uma vergonha tão grande para a família que boa parte delas acaba expulsa de casa”. A congolesa Prudence Kalambay resolveu migrar por conta de rivalidades e da violência entre etnias locais. Cruzou a fronteira com Angola à noite, pelo mato, e, em 2008, chegou ao Brasil, país do qual só conhecia as novelas.
Outro exemplo de migração mais recente, a venezuelana Yennifer Zarate saiu de casa só com a roupa do corpo e cruzou a fronteira para viver aqui, em 2018, depois de perder um bebê (e quase morrer) por falta de equipamentos básicos em um hospital.
Ao longo do livro, também são indicados filmes que dialogam com os assuntos abordados, a exemplo de Era o Hotel Cambridge (2016), dirigido por Eliane Caffé, sobre a vida nas ocupações de São Paulo. O tema ganha espaço quando as autoras traçam um perfil da paraguaia Sonia Barreto, que vive no País desde 2012. Ela, que veio em busca de uma vida melhor para as filhas, enfrentou “condições de trabalho análogas às da escravidão e uma luta incessante por moradia”. É do mesmo filme, aliás, que Duda relembra, durante a entrevista, uma frase que nos faz pensar que a exclusão independe de nacionalidade: “Todos nós somos refugiados de nossos direitos”.
Até o momento de ir para a gráfica, Valentes passou por atualizações constantes, tanto no que diz respeito a detalhes sobre a vida dos entrevistados quanto no que se refere a acontecimentos mundiais, como a pandemia. “Começamos a olhar até o nosso vizinho como se fosse uma pessoa ameaçadora. O risco é, depois de tudo isso passar, que a sociedade tenha erguido muros internos ainda mais intransponíveis e a xenofobia tenha aumentado”, avalia Aryane.
Em meio à crise atual, o próprio livro alerta, em suas páginas iniciais: “Olhar para o outro é a única forma de sobrevivermos. Ou salvamos todos ou não restamos nenhum – e isso é mais do que sobrevivência da espécie, é a sobrevivência da nossa humanidade e do que entendemos por civilização”.
VALENTES: HISTÓRIAS DE PESSOAS REFUGIADAS NO BRASIL
Autoras: Aryane Cararo e Duda Porto de Souza.
Ed.: Seguinte (288 págs., R$ 79,90; e-book: R$ 39,90).
02 de setembro de 2020 | 05h00
Mais uma doméstica? Regina Casé não perde a cabeça e mantém o bom humor. Depois da Val de Que Horas Ela Volta? e da Lourdes na novela Amor de Mãe, ela volta ao cinema como a Madá de Três Verões. O longa de Sandra Kogut terá sessões no Drive-in Belas Artes do Memorial no sábado e no domingo. Dia 16, entra no streaming do Telecine e no Now, Vivo Play e Oi Play. “Me aguardem que eu vou fazer uma madame”, brinca. “Existem atrizes que passam a vida fazendo mulheres ricas e todo mundo acha natural. É mais uma discriminação contra as mulheres pobres. Tem gente que acha que são todas iguais, mas não. A Darlene de Eu Tu Eles, a Val, a Lourdes, a Madá, cada uma tem uma história. A Madá é uma empreendedora. E, na geografia da casa de Três Verões, se ela fica na cozinha, é numa posição muito particular. Madá é empregada dos patrões e patroa dos demais empregados da casa.”
Como atriz e apresentadora, Regina sempre colocou a cara do Brasil na tela. O repórter pergunta pelo marido, Estevão Ciavatta, que fez um documentário produzido por Walter Salles – Amazônia S.A. –, disponível na Globoplay. “O Estevão está aqui comigo, no carro. O documentário é um trabalho de cinco anos dele. Começou sobre desmatamento, grilagem e virou um filme sobre os guardiões da floresta. Os indígenas são os zeladores desse patrimônio da humanidade que é a Amazônia.”
Atriz, apresentadora. Não: “Quando me registro num hotel nunca ponho ‘apresentadora’. Minha profissão é atriz.” A volta ao cinema tem sido gratificante. Lá atrás, nos anos 1970, Regina participou de um clássico – Tudo Bem, de Arnaldo Jabor. Nos 80, foi uma das filhas de Lima Duarte em Os Sete Gatinhos, que Neville D’Almeida adaptou de Nelson Rodrigues. Já em 2000, criou a Darlene, com três maridos, em Eu Tu Eles, de Andrucha Waddington.
Tudo Bem, com toda aquela família trancada num apartamento em reforma, falava da ditadura, e agora pode ser visto como se fosse sobre o isolamento. O cinema voltou com força na vida dela, e junto veio a novela. “Nas redes sociais, recebi muitas mensagens de carinho do público que via Amor de Mãe e está ansioso pela volta da novela.” Conta que, no início, teve um estranhamento. “É muito texto que a gente tem de memorizar. Não estava mais acostumada. Voltei como principiante. Adriana (Esteves) e Taís (Araújo) me acolheram como veteranas que são. Me deram dicas, senti-me em casa.” O tema do amor de mãe mexeu com ela. “Já tinha a Benedita, que é adulta e me deu um neto. E tive o Roque. São as minhas crianças.” Nesse Brasil da pandemia, com números superlativos – de infectados e mortos –, a atriz entende o desespero de quem busca atendimento, o auxílio emergencial. “É muita desigualdade. A gente não pode é desanimar. Busco sempre uma luz.
Admite que anda numa disciplina insana, gravando das 13h às 21h. No fim da noite, revisa as falas do dia seguinte. Leitura, só de histórias infantis para os meninos. “Agora chega, vamos falar do filme, senão a Sandra me mata.” Há 25 anos – em 1995 –, Regina havia feito um curta com a diretora Sandra Kogut. Queriam trabalhar juntas de novo. E aí a Sandra veio com o roteiro de Três Verões. Uma casa num condomínio de luxo, no litoral do Rio. A mesma semana, entre o Natal e o Ano Novo, em três diferentes verões – 2015, 16 e 17. A casa espelha as mudanças do Brasil em tempos de Lava Jato, de impeachment. No primeiro verão, a casa está cheia – de gente e objetos que espelham o poder econômico. Nos verões seguintes, a casa vai-se desnudando. Num passeio de lancha, Madá observa que todas as casas estão assim, depenadas. Os donos estão sendo investigados. Fogem ou são presos.
Rogério Fróes, que faz o patriarca, está preso no quarto, doente. Suas cenas com Regina são gloriosas. “O Rogério é uma maravilha.” Madá é igual a Val, a Lourdes? “Não, todas são pobres mas têm a sua identidade. Viajando pelo Brasil, conheci todas essas mulheres. São nosso povo. A Madá é uma empreendedora. Tem consciência das transformações e quer abrir o próprio negócio.” O Brasil reflete-se na casa, que termina vazia, mas o processo – a transformação – quem documenta é a TV, que está sempre ligada no noticiário. A TV é personagem. “Foi ideia da Sandra. Tinha até mais coisas na TV, mas a Sandra cortou para deixar o filme mais enxuto.”
Pela Madá, Regina foi melhor atriz no Festival do Rio do ano passado. Subiu ao palco com o filho, que comemorou, como se fosse dele, a vitória da mãe. Regina segue as gravações da novela. Um novo programa está temporariamente adiado. Nesse momento, ela só quer interpretar – dar sua cara às mulheres guerreiras do Brasil.
31 de agosto de 2020 | 03h34
Onze anos depois de "sangrar" no palco do MTV Video Music Awards (VMA) e dez anos após o famoso vestido de carne, Lady Gaga foi mais uma vez protagonista da premiação, que aconteceu na noite deste domingo, 30. A cantora levou para casa cinco prêmios, incluindo a de artista do ano, e chamou atenção para as máscaras originais que usou em cada uma de suas aparições ao longo de uma noite que teve distanciamento social, e também contou com apresentação de Miley Cyrus e presença de Ariana Grande em duo com Gaga.
O VMA 2020 foi o primeiro grande evento a acontecer desde o surgimento da pandemia do novo coronavírus. A cerimônia realizada em Nova York teve discursos de aceitação e parte das performances pré-gravadas para diminuir os riscos de contaminação. O evento foi realizado em diferentes bairros de Nova York, como Manhattan, Brooklyn ou Bronx, para apresentações ao vivo ao ar livre, embora quase sem público presente.
Gaga foi eleita a artista do ano, e ganhou três prêmios por "Rain on Me", música que gravou com Ariana Grande para o seu mais recente álbum, Chromatica. O single levou para casa os prêmios de melhor colaboração, música do ano e melhor fotografia. Apesar de ter ganhado tantos prêmios, o maior da noite ficou com o rapper The Weeknd, que ganhou como melhor vídeo do ano, por "Blinding Lights", que também lhe rendeu o prêmio de melhor vídeo de R&B.
O canadense, porém, mostrou uma postura muito séria ao receber os prêmios, e refletiu a onda de protestos que está sendo vivida nos Estados Unidos por injustiça racial. “Mais uma vez, é difícil comemorar. Justiça para Jacob Blake e Breonna Taylor", disse ele nas duas vezes que saiu para receber o prêmio, referindo-se a duas das mortes de afro-americanos nas mãos de policiais que abalaram a sociedade americana neste ano.
Além de um medley de Lady Gaga, que cantou com Ariana Grande, a cerimônia teve apresentação de The Weeknd, o grupo de K-pop BTS e a boyband latina CNCO. A cantora Miley Cyrus reviveu o clipe de 'Wrecking Ball' dançando em cima de um globo de luz.
Confira a lista final dos premiados:
VÍDEO DO ANO
Billie Eilish – “everything i wanted”
Eminem ft. Juice WRLD – “Godzilla”
Future ft. Drake – “Life Is Good”
Lady Gaga with Ariana Grande – “Rain On Me”
Taylor Swift – “The Man”
The Weeknd – “Blinding Lights” (vencedor)
ARTISTA DO ANO
DaBaby
Justin Bieber
Lady Gaga – (vencedora)
Megan Thee Stallion
Post Malone
The Weeknd
MÚSICA DO ANO
Billie Eilish – “everything i wanted”
Doja Cat – “Say So”
Lady Gaga with Ariana Grande – “Rain On Me” – (vencedora)
Megan Thee Stallion – “Savage”
Post Malone – “Circles”Roddy Ricch – “The Box”
MELHOR COLABORAÇÃO
Ariana Grande & Justin Bieber – “Stuck with U”
Black Eyed Peas ft. J Balvin – “RITMO (Bad Boys For Life)”
Ed Sheeran ft. Khalid – “Beautiful People”
Future ft. Drake – “Life Is Good”
Karol G ft. Nicki Minaj – “Tusa”
Lady Gaga with Ariana Grande – “Rain On Me” (vencedor)
MELHOR CLIPE DE POP
BTS – “On” (vencedor)
Halsey – “You should be sad”
Jonas Brothers – “What a Man Gotta Do”
Justin Bieber ft. Quavo – “Intentions”
Lady Gaga with Ariana Grande – “Rain On Me”
Taylor Swift – “Lover”
MELHOR CLIPE DE HIP-HOP
DaBaby – “BOP”
Eminem ft. Juice WRLD – “Godzilla”
Future ft. Drake – “Life Is Good”
Megan Thee Stallion – “Savage” (vencedor)
Roddy Ricch – “The Box”
Travis Scott – “HIGHEST IN THE ROOM”
MELHOR CLIPE DE ROCK
blink-182 – “Happy Days”
Coldplay – “Orphans” (vencedor)
Fall Out Boy ft. Wyclef Jean – “Dear Future Self (Hands Up)”
Green Day – “Oh Yeah!”
The Killers – “Caution”
MELHOR CLIPE ALTERNATIVO
The 1975 – “If You’re Too Shy (Let Me Know)”
All Time Low – “Some Kind Of Disaster”
FINNEAS – “Let’s Fall in Love for the Night”
Lana Del Rey – “Doin’ Time”
Machine Gun Kelly – “Bloody Valentine” (vencedor)
twenty one pilots – “Level of Concern”
MELHOR CLIPE LATINO
Anuel AA ft. Daddy Yankee, Ozuna, Karol G & J Balvin – “China”
Bad Bunny – “Yo Perreo Sola”
Black Eyed Peas ft. Ozuna & J. Rey Soul – “MAMACITA”
J Balvin – “Amarillo”
Karol G ft. Nicki Minaj – “Tusa”
Maluma ft. J Balvin – “Qué Pena” (vencedor)
MELHOR CLIPE DE R&B
Alicia Keys – “Underdog”
Chloe x Halle – “Do It”
H.E.R. ft. YG – “Slide”
Khalid ft. Summer Walker – “Eleven”
Lizzo – “Cuz I Love You”
The Weeknd – “Blinding Lights” (vencedor)
MELHOR CLIPE DE K-POP
(G)I-DLE – “Oh My God”
BTS – “On” (vencedor)
EXO – “Obsession”
Monsta X – “SOMEONE’S SOMEONE”
Tomorrow X Together – “9 and Three Quarters (Run Away)”
Red Velvet – “Psycho”
MELHOR CLIPE POR UMA CAUSA
Anderson .Paak – “Lockdown”
Billie Eilish – “all the good girls go to hell”
Demi Lovato – “I Love Me”
H.E.R. – ”I Can’t Breathe” (vencedor)
EXO – “Obsession”
Lil Baby – “The Bigger Picture”
Taylor Swift – “The Man”
MELHOR CLIPE CASEIRO
5 Seconds of Summer – “Wildflower”
Ariana Grande & Justin Bieber – “Stuck with U” (vencedor)
blink-182 – “Happy Days”
Drake – “Toosie Slide”
John Legend – “Bigger Love”
twenty one pilots – “Level of Concern”
MELHOR PERFORMANCE DA QUARENTENA
Chloe & Halle – “Do It” from MTV’s Prom-athon
CNCO – Unplugged At Home (vencedor)
DJ D-Nice – Club MTV presents #DanceTogether
John Legend – #togetherathome Concert Series
Lady Gaga – “Smile” from One World: Together At Home
Post Malone – Nirvana Tribute
MELHOR ARTISTA PUSH
Doja Cat (vencedora)
Lewis Capaldi
Yungblud
MELHOR GRUPO
5 Seconds of Summer
The 1975
BLACKPINK
BTS (vencedor)
Chloe x Halle
CNCO
Little Mix
MONSTA X
Now Unitedtwenty one pilots
CATEGORIAS TÉCNICAS (sem escolha do público)
MELHOR DIREÇÃO
Billie Eilish – "xanny"
Doja Cat – "Say So"
Dua Lipa – "Don’t Start Now"
Harry Styles – "Adore You"
Taylor Swift – "The Man" (vencedor)
The Weeknd – "Blinding Lights"
MELHOR FOTOGRAFIA
5 Seconds of Summer – "Old Me"
Camila Cabello ft. DaBaby – “My Oh My”
Billie Eilish – “all the good girls go to hell”
Katy Perry – “Harleys In Hawaii”
Lady Gaga with Ariana Grande – “Rain On Me” (vencedor)
The Weeknd – “Blinding Lights”
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
A$AP Rocky – “Babushka Boi”
Dua Lipa – “Physical”
Harry Styles – “Adore You”
Miley Cyrus – “Mother’s Daughter” (vencedor)
Selena Gomez – “Boyfriend”
Taylor Swift – “Lover”
MEHOR EFEITOS VISUAIS
Billie Eilish – “all the good girls go to hell”
Demi Lovato – “I Love Me”
Dua Lipa – “Physical” (vencedor)
Harry Styles – “Adore You”
Lady Gaga with Ariana Grande – “Rain On Me”
Travis Scott – “HIGHEST IN THE ROOM”
MELHOR COREOGRAFIA
BTS – “On” (vencedor)
CNCO & Natti Natasha – “Honey Boo”
DaBaby – “BOP”
Dua Lipa – “Physical”
Lady Gaga with Ariana Grande – “Rain On Me”
Normani – “Motivation”
MELHOR EDIÇÃO
Halsey – “Graveyard”
James Blake – “Can’t Believe the Way We Flow”
Lizzo – “Good As Hell”
Miley Cyrus – “Mother’s Daughter” (vencedor)
ROSALÍA – “A Palé”
The Weeknd – “Blinding Lights”
Com informações da EFE
30 de agosto de 2020 | 05h00
Nesse momento de parada obrigatória no mundo das artes, quase nada está sendo produzido, por causa da pandemia e a solução encontrada por emissoras de TV é reprisar determinadas atrações. Por isso mesmo, algumas novelas ganharam a chance de chegar ao público novamente, caso que acontecerá, a partir desta segunda, 31, com a reestreia de Flor do Caribe (2013), de Walther Negrão, no horário das 6, na Globo, que irá substituir Novo Mundo.
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Responsável pela direção do folhetim, Jayme Monjardim analisa positivamente a volta de Flor do Caribe nesse momento, pois acredita ser importante exibir atrações mais leves, com trama que divirta o público. “É muito importante entrar na programação uma coisa mais leve, gostosa de ver, um romance, uma aventura. Então acho que foi muito bem escolhido reexibir Flor do Caribe, que tem essa leveza, é bonita e contém esse aspecto de Brasil que poucos conhecem, fora das grandes cidades”, diz, revelando que será o momento de assistir ao seu trabalho de uma forma crítica também.
Gravada no Rio Grande do Norte e na Guatemala, a história se passa na fictícia e litorânea Vila dos Ventos. A jovem guia turística Ester (Grazi Massafera) é apaixonada por Cassiano (Henri Castelli), piloto do esquadrão de caças da Aeronáutica. Esse amor será alvo de Alberto (Igor Rickli), um amigo do casal, que nutre o desejo de se casar com a garota.
Para Monjardim, a novela é uma daquelas que ficou na memória das pessoas por vários motivos, como o fato de conseguir passar um clima latino, com muita cor, sol, amor e mistério. Nunca antes, afirma o diretor, tinha sido usado elenco internacional “como a gente usou”, com atores do Uruguai, Argentina e Guatemala. “Acabou ficando uma novela muito latino-americano, usamos muita trilha internacional. É uma produção que ganhou leveza”, enfatiza, acrescentando que o autor Walter Negrão “acertou muito ao escrever uma linda história de amor em meio a uma aventura em praias e cenários paradisíacos”. Ele destaca ainda a importância da interação entre as várias gerações de atores.
No caso de Flor do Caribe, além de Grazi e Castelli, também estão na trama Bete Mendes, Débora Nascimento, Laura Cardoso, José Loreto, Juca de Oliveira, Sérgio Mamberti, entre outros. “Na verdade, essas grandes estrelas são um reflexo para essa juventude que está chegando, então é uma coisa muito prazerosa você trabalhar com esses grandes nomes, que são verdadeiros mestres”, observa.
Além dessa volta da novela que dirigiu, Jayme Monjardim está empenhado em uma nova série, que começou a ser gravada, mas teve de ser suspensa por causa da pandemia de coronavírus. Trata-se de O Anjo de Hamburgo, que vai contar a emocionante história de Aracy de Carvalho, na primeira coprodução da Globo com a Sony Pictures Television. “Esse trabalho será um marco para nós, pois é uma história importante para o País. Querendo ou não, é a nossa participação na Segunda Guerra”, conta ele ao explicar que essa produção mostra o empenho da brasileira Aracy de Carvalho, mulher do escritor Guimarães Rosa, que salvou centenas de famílias do Holocausto. “Ela era uma mulher valente, corajosa, e pouca gente sabia o que tinha feito.” Protagonizada por Sophie Charlotte, como Aracy, e Rodrigo Lombardi, como Guimarães Rosa, a série deve retomar as gravações no começo do ano que vem, segundo as projeções do diretor.
Novidades. Jayme Monjardim aguarda ainda a entrada no streaming de seu filme O Avental Rosa, a história de amor de Alice (Cyria Coentro), uma mulher solitária que vive de ajudar o próximo.
Além desses projetos, o diretor conta que vem por aí uma peça sobre sua mãe, a cantora Maysa, que será encenada pela atriz Claudia Netto. Ele cuida também do projeto que irá reunir vários cantores com letras inéditas de Maysa.
Na vida pessoal, mais novidades. Monjardim acaba de se tornar avô da pequena Flora, filha de Maria Fernanda. E logo chegará mais um neto, pois seu filho Jayminho também será pai.
28 de agosto de 2020 | 10h00
O fascínio provocado nos leitores pela sua prosa é semelhante à curiosidade sobre sua verdadeira persona: Elena Ferrante é notoriamente um pseudônimo, uma assinatura que esconde uma figura cuja opção sexual também se desconhece, mas que inspira muita especulação. Acredita-se que tenha mais ou menos 50 anos; que seja mulher e italiana de Nápoles, uma vez que livros como a série napolitana trazem uma descrição detalhada da cidade e de seus costumes. E que, ao contrário da busca pelo reconhecimento, prefere o anonimato. Já se disse ser um homem e também uma tradutora. Apenas seu editor italiano Sandro Ferri conhece sua real persona.
Por meio de suas obras, é possível notar que Elena Ferrante ostenta um sólido conhecimento de autores clássicos gregos e latinos – percebem-se também traços da escrita de Chekhov e Jane Austen, além da confessa admiração por Elsa Morante, nas raras entrevistas que concedeu (sempre por e-mail). Sua carreira literária começou nos anos 1990, com livros como Crônicas do Mal de Amor e o best-seller (na Itália) Um Amor Incômodo.
28 de agosto de 2020 | 05h00
Seria mais um verso a passar pelas dezenove canções do álbum como tantos passam o tempo todo, cantado e reproduzido sem que muita gente saiba bem do que se trata. Ogã de Ogum é o nome da canção. Ogãs, chefes ou dirigentes, em iorubá, são os homens permitidos a tocar a percussão nas cerimônias pelas entidades superiores da umbanda e do candomblé. Ogum é o orixá da justiça, da ação, dos caminhos, o guerreiro maior. Os versos ficam fortes dentro de uma divisão tremente, de se dançar cantando qualquer palavra. “Pega o cará e bota epô pra temperar / E pra reforçar o ori / Pede padê pra Bará.” Resumindo, a festa farta está prestes a começar.
Algumas faixas depois vem Doce Oxum saudar a rainha das cachoeiras e todas as águas doces com uma saída musical cheia de delicadezas, das mais fiéis à energia amorosa criada por Gisele de Santi, com os percussionistas Cauê Silva, Douglas Alonso e Simone Sou, além de Fi Maróstica no timple, um instrumento de cordas das Ilhas Canárias. E virão ainda Exu Elegbara, Ossain ou Ossanha, Xangô, Iemanjá, Oxalá e vários outros nomes elevados dos terreiros. O álbum de Fabiana Cozza, chamado Dos Santos, seu sobrenome real, poderia ir por muitos caminhos, e seriam todos legítimos num momento de encorajamento a ataques a crenças afrorreligiosas. Mas não foi.
Ao evitar se tornar um extrato puro e respeitoso das giras, ele não se fecha no folclore. E ao suprimir o violão como o irradiador de uma nova bênção aos terreiros, como já fizeram e jogaram a chave fora Baden Powell e Vinicius de Moraes ao compor o LP Afro-Sambas, em 1966, não se torna uma repetição. Por mais que diz se tratar de um trabalho coletivo, o que ele foi em sua composição, Fabi Cozza e Fi Maróstica são os centros de uma sonoridade delicada, de pausas e reflexões sem pressas nem temores. Convidado pela cantora, o baixista Fi pensou se era um território em que poderia entrar mas logo aceitou. Seus arranjos sustentando a voz levaram a música dos orixás para um canto de oração inspirador.
Fabi, que á praticante batizada no candomblé e na Jurema Sagrada, recebeu a missão da criação do álbum em uma obrigação dos orixás. Ela então passou a ligar para os compositores que o instinto pedia e a convidá-los a colaborar. Aos poucos, percebeu que muitos tinham alguma relação com o orixá em que pensava antes de ligar. “Eu descobria que cada um deles tinha uma relação com o pedido que eu fazia, e o disco foi nascendo.”
E eles foram chegando. Mãe Zezé de Oxum, ialorixá de 84 anos, 72 de candomblé, fez questão de cantar e tocar água de coco (sim, não é uma excentricidade, é seu instrumento) em Cânticos para Iemanjá, colhida do domínio público. A grande mãe, rainha mais cantada, senhoras dos mares, pede licença à Fabiana e faz sua entrega.
O detentor do poder, senhor dos caminhos, Exu, Elegbara teve sua saudação, bravum, usada para batizar um samba inédito também da parceria Moyseis Marques, música, e Luiz Simas, letra. Uma energia perfeita, desses encontros raros. A orientação de Fi faz, mais uma vez, a diferença de qualquer álbum já gravado sob a mesma temática. Além das percussões de Cauê Silva, Douglas Alonso e Xeina Barros, e do baixo de Fi, os violoncelos de Adriana Holtz e Vana Bock soam como a própria oração. A mais bela das melodias, e talvez seja onde a melodia se movimente mais, saiu da inspiração do casal Luciana Rabello e Paulo César Pinheiro. Ela se chama Kabecilê, uma saudação a Xangô, algo como “venha saudar o rei”.
É um afro-samba legítimo de Paulo, como se já soasse sua assinatura. “Me faltava uma música de Xangô, e eu sei que Paulinho tem muitos afazeres. Mas eu sabia que tinha de ser ele.” Ela ligou primeiro para Luciana, mulher de Paulo e instrumentista. “Foi no dia em que teve a reunião dos ministros. Luciana contou depois que saiu de frente da TV enojada e fez a música em 20 minutos. Passou a Paulo, que também fez a letra muito rápido. E ele estava desde fevereiro sem compor nada.”
O álbum tem ainda Oração a Ossain, de Pedro Luís e Carlos Rennó, com a guitarra de Jurandir Santana que, se nunca seria usada em um terreiro, leva o canto para a África; e Tempo Velho, de Douglas Germano, uma das poucas letras que não citam diretamente um orixá; e Dona do Mato, de Roque Ferreira, com uma aura cativante, de se grudar logo (“Dona do mato chegou de chapéu de couro e o gaio verde na mão / Foi pra gira juremada, rodou com seu boiadeiro / Pena branca e a marujada / Saiu consultando as matas se acabando na risada”).
O baiano Tiganá Santana volta, depois de assinar o texto de abertura, em Lemba Kakala, com Sami Bordokan evocando todas as ancestralidades do alaúde, Canto Pra Xangô é entoado pela autoridade Nega Duda, sambadeira do Recôncavo Baiano, e uma reaparição da canção-reza Senhora Negra, de Sérgio Pererê, um louvor à Nossa Senhora Aparecida cantada antes por Fabi em um projeto de 2017, mas com outros arranjos. Se soa a muitos como um disco político? “É também”, diz Fabi. “Uma mulher negra cantando tudo isso e chegando com quem eu chego? Só pode ser.” Assim seja.