Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão sábado, 26 de setembro de 2020

A NOITE EM QUE CLASSIUS CLAY SURPREENDEU O MUNDO DO BOXE

 

A noite em que Cassius Clay surpreendeu o mundo do boxe

Antes de se tornar Muhammad Ali, boxeador se sagrou campeão ao derrotar Sonny Liston em duelo histórico

Wilson Baldini Jr., O Estado de S.Paulo

26 de setembro de 2020 | 05h00

O jovem repórter Robert Lipsyte, do New York Times, foi destacado para ir ao Miami Beach Convention Hall, em 25 de fevereiro de 1964, para cobrir a luta entre o campeão dos pesos pesados, Sonny Liston, e o desafiante Cassius Marcellus Clay. Logo que chegou a Miami, o jornalista recebeu um telefonema de seu editor, que o aconselhou a decorar o trajeto do ginásio até o hospital mais próximo, pois a vitória de Liston deveria ser rápida e massacrante. A bolsa de apostas confirmava a previsão da imprensa: o campeão era o favorito na proporção de 7 por 1.

Clay Liston
Cassius Clay e Sonny Liston em duelo histórico em 25 de fevereiro de 1964 Foto: Reuters/Miami Herald/Miami History

O fortíssimo Liston era o sucessor do lendário Joe Louis, campeão de 1937 a 1949. Um verdadeiro peso pesado. Sanguinário, violento e dono de golpes avassaladores de todos os tipos. E ele sabia usar o medo que passava para as pessoas: "Minha mão esquerda vai descer tão fundo na garganta dele (Clay) que precisarei de uma semana para tirá-la de volta."

 A imprensa especializada apontava para uma vitória fácil do campeão, assim como havia ocorrido nas duas lutas anteriores com Floyd Patterson. Dois nocautes no primeiro assalto. A dúvida era saber apenas o tempo da queda de Clay, que só era bom para preencher um bloco de notas em 15 minutos por causa de sua forma de falar sem limites e que só poderia derrotar Liston em uma leitura de dicionário. 

O médico Ferdie Pacheco, que esteve ao lado de Clay em suas lutas com Joe Frazier e George Foreman, admitiu que nunca havia visto Clay tão nervoso para uma luta. Para combater esta ansiedade, o falastrão lutador de Louisville resolveu tentar mexer com os brios do adversário.

Clay chegou a fazer um poema para o "urso feio" e foi até o aeroporto esperar seu adversário para xingá-lo de idiota, bobo e prever um nocaute no oitavo assalto. Os jornalistas consideravam apenas bravatas, mas apreciavam Clay por ser bonito, inteligente e capaz de fornecer uma bela matéria todos os dias.

Na pesagem, Ali desafiou tanto Liston que a Comissão Atlética da Flórida chegou a cogitar que o desafiante estaria sofrendo um surto psicótico. Sua pressão foi a 20 por 10 e os batimentos cardíacos atingiram 120 por minuto.

Dias antes da luta, os organizadores promoveram a visita dos Beatles em uma das sessões de treinos de Clay, em Miami. O início do encontro foi tenso. "Acho que poderíamos fazer uma turnê e ficarmos ricos. Você não é tão estúpido", disse o boxeador para John Lennon, que deu o contragolpe. "Mas você é." No final, fotos foram registradas com os cantores recebendo "socos" e aplicando "golpes" no pugilista em clima amistoso.

A certeza do público na vitória de Liston, a tempestade que caiu em Miami naquele dia e a ameaça de atentado ao ativista Malcom X, amigo de Ali e presente ao Miami Beach Convention Hall, fez com que pouco mais de 10% dos 15 mil ingressos fossem vendidos. Liston tinha bolsa de US$ 1,3 milhão, enquanto Clay ficaria com US$ 630 mil.

Desde o início, Clay surpreendeu a todos, ao "bailar como uma borboleta e picar como uma abelha", característica que iria marcar sua brilhante carreira. "Acho que tivemos uns dos melhores rounds iniciais da história", disse Joe Louis, sentado nas primeiras fileiras e comentando para a transmissão em circuito fechado. 

Desnorteado, Liston teria usado, com a ajuda de seus técnicos, um produto em suas luvas que prejudicou a visão de Clay do terceiro ao quinto assalto, algo semelhante com que ele fora acusado nos duelos com Eddie Machen e Cleveland Williams. Recuperado do problema momentâneo, o desafiante aplicou uma verdadeira surra no campeão, que desistiu de voltar para o sétimo assalto. "Mas que diabo é isso?", esbravejou Rocky Marciano, campeão dos pesos pesados de 1952 a 1955, único a abandonar os ringues invicto após 49 lutas, revoltado, a poucos metros do ringue, com o fato de o campeão abandonar a disputa.

Clay dançou, pulou, gritou. "Eu choquei o mundo. Sou o melhor de todos", disse ainda em cima do ringue. Na entrevista coletiva, mais calmo afirmou que lutaria só até ganhar um bom dinheiro e que seu irmão mais novo, Rudy,, não precisaria mais calçar as luvas. Dois dias depois, Clay anunciou sua conversão ao islamismo e a adoção do nome Muhammad Ali. Lutou até 1981 e mesmo diagnosticado com a doença de Parkinson seguiu como ativista das causas contra o racismo e igualdade social até sua morte em 2016, às 74 anos.


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