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10 de agosto de 2019 | 03h00
Em junho, o presidente Jair Bolsonaro manifestou incompreensão a respeito do papel das agências reguladoras, ao vetar trechos importantes do marco regulatório das agências aprovado pelo Congresso. Em vez de fortalecer sua autonomia, Bolsonaro optou por torná-las mais dependentes do poder político. Recentemente, voltou a manifestar sua obtusa visão sobre o Estado. Na inauguração de uma indústria farmacêutica em Itapira, criticou o papel das agências reguladoras e fez menção à sua atuação como parlamentar, quando fez resistência à modernização do Estado.
Com seu caráter técnico, independente do poder político, as agências reguladoras têm papel fundamental na garantia da qualidade dos serviços públicos prestados pelas concessionárias privadas, além de transmitir segurança jurídica a setores sujeitos a pressões políticas e econômicas. Muito do que se pôde avançar, por exemplo, na qualidade dos serviços de telefonia só foi possível graças ao processo de reforma do Estado brasileiro iniciado na década de 90 do século passado. Com a privatização de muitas empresas estatais e a concessão de serviços públicos a grupos privados, era necessário prover o Estado de uma nova capacidade regulatória que, livre de pressões político-partidárias, protegesse o interesse público nessas áreas. Cada vez que a ele se refere, Jair Bolsonaro reitera que nada entendeu deste processo.
Com suas palavras e atos, Jair Bolsonaro revela uma fantástica incapacidade de compreender as regras mínimas de funcionamento de toda organização, seja ela pública ou privada, lucrativa ou beneficente. Segundo seu modo peculiar de tratar os assuntos, não deve haver procedimentos, critérios decisórios ou esferas de competência. Tudo deve estar sujeito ao seu arbítrio. Nesse sentido, afirmar que o presidente Jair Bolsonaro tem uma visão específica do Estado é não captar o abismo de incompreensão que se encontra atualmente instalado no Palácio do Planalto. O problema não é que ele tenha uma visão anacrônica do Estado. Por sua atuação e por suas palavras, ele torna evidente a ausência de qualquer visão sobre a estrutura e o funcionamento de uma organização. O que dizer, então, do seu entendimento sobre a complexa organização do Estado, com seus Poderes, suas esferas, suas regras, seus limites e seus controles?
Para Jair Bolsonaro, ser presidente da República é ter o arbítrio – sem necessidade de nenhuma justificativa que não seja seu capricho – de interferir na propaganda do Banco do Brasil ou no preço que a Petrobrás cobra pela gasolina. É poder indicar o filho para a embaixada em Washington, porque assim o deseja. É desrespeitar a memória do pai do presidente da OAB, porque ficou incomodado com a atuação da entidade. Como é imperioso, não se dá nem mesmo ao trabalho de conhecer a realidade. Em vez de se informar por fontes fidedignas, busca aquele cordão que a cada dia aumenta mais.
Deve-se recordar, no entanto, que há uma Constituição, a qual o presidente Jair Bolsonaro jurou respeitar e defender no dia 1.º de janeiro de 2019. Ainda que atue como se não existisse organização do Estado, não pode ignorar a Carta Magna. Há regras, limites, esferas e controles. Jair Bolsonaro não tem mandato para desconstruir o Estado brasileiro. Sobre o que pretenderia – se é que pretende – construir no lugar, ainda não se ouviu nenhuma palavra. O que disso se pode inferir é simplesmente terrível.
08 de agosto de 2019 | 03h00
O presidente Jair Bolsonaro não poderia ter sido mais claro ao revelar o sentimento que o animou a assinar a Medida Provisória (MP) 892/2019, publicada no Diário Oficial da União no dia 5 passado. A medida, que dispensa as empresas de capital aberto de publicarem suas demonstrações financeiras em jornais de grande circulação – bastando a publicação dos balanços no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) –, foi a “retribuição” do presidente ao tratamento supostamente hostil que ele diz receber da imprensa desde a campanha eleitoral.
É importante que se diga de pronto que nada há de errado na propositura de uma alteração do dispositivo da Lei 4.404/1976 – a Lei das Sociedades Anônimas – que determina que a publicação dos balanços das empresas de capital aberto seja feita “no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar onde esteja situada a sede da companhia, e em outro jornal de grande circulação”. Evidente que cabe discutir a pertinência desta exigência legal quase no fim da segunda década do século 21. Há alguns anos, aliás, as próprias empresas de comunicação têm pensado em soluções tecnológicas para continuar levando informação ao público por meios outros que não a impressão em papel.
Movido por um misto de ignorância do papel do jornalismo nas sociedades democráticas, inaptidão para o cargo e rancor pela legítima fiscalização do exercício do poder pela imprensa – tomada como um gesto de hostilidade pessoal –, Jair Bolsonaro mira nos grandes veículos de comunicação, como se pôde ver no regozijo irônico com que anunciou a medida, mas acabará por fechar jornais regionais que têm na receita advinda da publicação dos balanços empresariais uma de suas mais importantes fontes de financiamento.
Exatamente por esta razão, o Congresso Nacional teve o cuidado de prever na Lei 13.818/2019, aprovada em abril, um período de transição para o novo modelo de publicação das demonstrações financeiras por meio eletrônico. De acordo com o referido diploma legal, os jornais teriam até o dia 1.° de janeiro de 2022 para se preparar para a mudança. O tempo seria suficiente para que as empresas jornalísticas buscassem fontes alternativas de receita no mercado.
Ao editar a MP 892 apenas três meses após a aprovação de uma lei sancionada por ele, Jair Bolsonaro avilta a Constituição e o Congresso, posto que a medida provisória em questão não preenche os requisitos essenciais de urgência e relevância. O Congresso dará um exemplo de correção e de respeito às liberdades se devolver a MP 892 ao Planalto, impondo a seus signatários um período de reflexão sobre os alicerces e os limites do poder.
O presidente Jair Bolsonaro não tolera a imprensa independente porque não é capaz de controlá-la. Em sua história de 144 anos, não foram poucas as tentativas de calar O Estado de S. Paulo com ações semelhantes às dele. Porém, ao contrário do que pode pensar o presidente da República, os grandes veículos de comunicação não dependem da chamada publicidade oficial. Não irão falir pela ação da caneta presidencial e continuarão a publicar o que for de interesse público. As vítimas da retaliação ignóbil serão pequenos e médios jornais e as populações de suas cidades, que deixarão de ter poderosas fontes de informação e de fortalecimento dos laços comunitários.
07 de agosto de 2019 | 03h00
O Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014) determina, em seu artigo 2.º, que “a disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão”. Ou seja, a lei “que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil”, conforme se lê em seu artigo 1.º, coloca a liberdade de expressão como sua principal baliza.
Nesse aspecto, o Brasil se alinha às democracias maduras, já que seu marco legal para a internet, um dos mais modernos do mundo, não deixa dúvidas sobre a prevalência da liberdade de expressão na web. Entretanto, frequentemente esse compromisso democrático é testado por liberticidas de diversas extrações.
O caso mais recente ocorreu em El Paso, no Estado norte-americano do Texas, onde no dia 3 passado um supremacista branco matou a tiros 22 pessoas num supermercado. Segundo os relatos conhecidos até aqui, o atirador foi motivado por mensagens de ódio aos imigrantes veiculadas livremente numa rede social chamada “8chan”.
Esse fórum foi criado em 2013 pelo norte-americano Frederik Brennan com a intenção, segundo o jornal The New York Times, de oferecer na internet um lugar onde qualquer mensagem seria bem-vinda, independentemente de sua virulência. Brennan pretendia assim reagir às restrições impostas aos usuários de outro fórum que ele frequentava, o “4chan”.
Em pouco tempo, graças a essa sua natureza irrestrita, o “8chan” tornou-se uma espécie de santuário para os extremistas expulsos de outras comunidades virtuais por violarem as regras de boa convivência. Brennan deixou de comandar o fórum em 2015, quando o radicalismo já havia se tornado sua principal marca, e hoje o site é administrado por Jim Watkins, veterano do Exército norte-americano que vive nas Filipinas. Watkins, assim como Brennan antes dele, não exerce nenhuma forma de moderação sobre os comentários ali postados. Foi graças a essa liberdade que o assassino de El Paso pôde anunciar tranquilamente seu intento no “8chan”, momentos antes de cometer o crime, acrescentando a recomendação de que sua mensagem homicida fosse propagada pelos demais frequentadores.
O “8chan” já havia sido usado como veículo dos criminosos para anunciar outros massacres, como o ataque de um supremacista branco contra muçulmanos em Christchurch (Nova Zelândia), que deixou 51 mortos em março passado, e o ataque de um antissemita a uma sinagoga na Califórnia, que matou uma pessoa, em abril.
É evidente que, nesses casos, a liberdade de expressão serve apenas como instrumento para disfarçar de mensagem política o que não passa de crime de ódio. Até pouco tempo atrás, redes sociais importantes como o Twitter e o Facebook recusavam-se a impor filtros a esse tipo de discurso, e não foram poucas as vezes em que ambas serviram para amplificar o que estava restrito a redes obscuras como o “8chan”.
Diante da constatação óbvia de que era preciso impor limites para as mensagens de ódio – e do fato de que poderiam ser de alguma maneira responsabilizadas pelos crimes brutais cometidos a partir delas –, Facebook, Twitter e outras redes recentemente baniram de seu ambiente diversos extremistas, especialmente nos Estados Unidos. A esses fanáticos restou então o submundo da internet, onde cinicamente reivindicam o direito fundamental à liberdade de expressão com o objetivo de destruir a essência da democracia.
05 de agosto de 2019 | 03h00
Governar é difícil. Governar o Brasil, por sua vastidão territorial, multiplicidade étnica e cultural, histórica desigualdade e deficiência crônica em áreas básicas para o progresso humano, é tarefa para quem, antes de tudo, enxergue essas questões como estímulo e, de forma empática, saiba liderar a Nação na busca por soluções para nossas mazelas.
Os cidadãos serão mais uma vez convocados às urnas no ano que vem para escolher os prefeitos e vereadores dos 5.570 municípios do País. É uma escolha muito importante porque é o município a base do sistema político brasileiro. É no município que acontecem os fatos que mais afetam a vida de milhões de homens e mulheres no País. Trata-se, pois, de mais uma excelente oportunidade para os eleitores buscarem informação confiável, sopesarem seus interesses e necessidades e identificarem no rol de candidatos aqueles que julgam estar preparados para melhorar suas vidas.
Em Do institutions matter? (As instituições importam?, em tradução livre), publicado em 1993, R. Kent Weaver e Bert A. Rockman enumeraram as dez capacidades que seriam indispensáveis a todos os governantes, seja qual for o sistema político-eleitoral de um país. É um bom decálogo para orientar o processo decisório dos eleitores.
A primeira é a capacidade de definir prioridades diante da miríade de interesses coletivos em jogo, muitos deles contraditórios. Uma vez definidas as prioridades, é fundamental que um governante saiba empregar os recursos humanos e financeiros para atingir tais objetivos eficazmente.
A terceira capacidade é a de inovar quando os modelos até então tentados se mostram ineficazes para o atingimento daqueles objetivos. A quarta é a capacidade de construir um “todo coerente” a partir da coordenação de projetos conflitantes. A quinta capacidade indispensável a um governante é a de impor perdas a grupos poderosos. Não raro os interesses desses grupos se contrapõem ao interesse nacional. A um governante cabe fazer a justa distinção.
A sexta capacidade que os eleitores devem enxergar em seus escolhidos é a de saber representar “interesses difusos e desorganizados” ao lado de “interesses concentrados e mais bem organizados”. Definido um programa de governo, cabe ao governante, por óbvio, cuidar de sua execução, avaliando eventuais mudanças que possam se interpor no caminho. Este é o sétimo atributo básico enumerado pelos autores.
Os governantes também devem assumir compromisso com a estabilidade política, de modo a criar as condições para que as ações do poder público possam surtir os efeitos delas esperados. O mesmo vale para os compromissos assumidos no plano internacional, área em que devem estar divididos claramente os interesses de governo e de Estado.
Por fim, mas não menos importante, um governante deve ser o primeiro a se mostrar aberto à conciliação das divisões políticas a fim de garantir que a sociedade “não degenere numa guerra civil”. Ou seja, é papel de um governante pacificar a sociedade, não estimular rupturas.
Tanto melhor seremos uma nação quanto os eleitores estiverem dispostos a observar a presença de tais atributos nos que lhes suplicam o voto. É um processo que não levará mais ou menos tempo a depender do grau de amadurecimento da sociedade entre um pleito e outro.
03 de agosto de 2019 | 03h00
Condenada a mais um ano de estagnação, a indústria brasileira paga um preço muito alto por duas crises. No mercado interno, milhões de famílias cortam o consumo, o comércio fraqueja e as dificuldades do varejo desembocam nas fábricas. Do lado externo, a recessão na Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil, limita severamente as importações e contamina o setor industrial no Brasil. As exportações totais do Brasil ficaram em US$ 129,9 bilhões entre janeiro e julho, com recuo de 4,7% em relação a um ano antes. Na mesma comparação, as vendas externas de manufaturados diminuíram 6,5% e ficaram em US$ 45 bilhões. O valor vendido ao mercado argentino despencou a enormidade de 39,9% e chegou a modestíssimos US$ 6 bilhões. Mais de 80% dessas vendas são de produtos elaborados.
Mas a indústria brasileira continua pouco aberta – para exportações e importações – e, embora venda a muitos países, é muito dependente de poucos mercados. Os Estados Unidos são um dos mais importantes.
Além de ser, em condições normais, o terceiro maior mercado para exportações brasileiras, a Argentina tem uma posição muito especial na composição do comércio. Em nove anos, no período de 2008 a 2018, 90% ou mais do valor faturado com as vendas à Argentina resultaram das exportações de manufaturados. No mesmo período, manufaturados garantiram mais de 50% da receita em dez anos, no comércio com os Estados Unidos. Em seis anos a parcela foi superior a 55%. No caso da Alemanha, outro grande mercado, essa participação tem ficado na faixa de 30% a 40%.
O quadro é muito diferente quando se trata do maior parceiro comercial do Brasil, a China. Em nove anos, no período de 2008 a 2018, o Brasil obteve mais de 80% da receita com as vendas de produtos básicos – minérios e matérias-primas agrícolas. Raramente os manufaturados proporcionam mais de 2% do valor faturado. A pequena parcela restante corresponde às vendas de semimanufaturados.
Os grandes mercados para a indústria brasileira, portanto, são alguns emergentes, como a Argentina e outros latino-americanos, e algumas potências capitalistas avançadas, com destaque para Estados Unidos e Alemanha. A relação com a China, eleita pelos governos petistas como parceiro preferencial, típico da relação Sul-Sul, é quase colonial.
Não há problema em vender produtos primários ao mercado chinês ou a qualquer outro. Mas uma diplomacia comercial minimamente ambiciosa teria buscado abrir espaço para a indústria manufatureira em todos os mercados. Isso deveria envolver uma política de maior abertura, maior integração nas cadeias de valor e de maior competitividade.
Mas essa política foi negligenciado no longo período petista. Prevaleceu o protecionismo e perdeu-se muito dinheiro com campeões nacionais e setores privilegiados. A maior parte da indústria, é preciso reconhecer, acomodou-se. Pior que isso, entrou em declínio. Houve exceções. Algumas empresas industriais nunca deixaram de batalhar no mercado internacional. Mas só o agronegócio está plenamente integrado no comércio global. Não está claro se o governo atual será capaz de mudar esse quadro. Integração competitiva requer muito mais que ideologia, alinhamento e privatização.
01 de agosto de 2019 | 03h00
A derrocada dos governos populistas de esquerda nos principais países da América Latina foi duramente sentida pelo Foro de São Paulo, entidade que reúne partidos latino-americanos alinhados a este espectro político. É o que se pôde constatar ao final do XXV Foro de São Paulo, ocorrido entre os dias 25 e 28 de julho em Caracas, na Venezuela.
O pouco-caso não se restringiu aos brasileiros. Das principais lideranças da esquerda latino-americana, compareceram ao Foro de São Paulo somente o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e – ¿como no? – o anfitrião dessa edição, o ditador Nicolás Maduro. Evo Morales, presidente da Bolívia, e Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, também optaram por não comparecer à reunião em Caracas.
Diante dessas barbaridades, em meio a tantas mentiras e mistificações, até uma liderança proeminente da esquerda latino-americana como o uruguaio José “Pepe” Mujica se viu compelido a admitir o que só a paixão ideológica é capaz de manter em estado de ignorância deliberada. “(O governo Maduro) é uma ditadura, sim”, disse o ex-presidente uruguaio (2010-2015) em entrevista a uma rádio de seu país no fim de semana.
Ao reconhecer publicamente que Nicolás Maduro comanda um regime de exceção, José Mujica abriu um racha na esquerda uruguaia, que até então via na qualificação do governo da Venezuela como uma ditadura um impeditivo para o avanço de negociações para pôr fim à crise política, econômica e humanitária naquele país. Evidente que José Mujica também não passou incólume pelo “tribunal” do Foro de São Paulo.
Sustentado hoje por duas mistificações – a “democracia” venezuelana e a “inocência” de Lula da Silva –, é evidente que o Foro de São Paulo não tem condições de vislumbrar para si um futuro alvissareiro como entidade séria e relevante para o debate político na América Latina.
No início de julho, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos divulgou o incisivo relatório da alta comissária, Michelle Bachelet, após sua visita à Venezuela. O documento não deixa qualquer dúvida quanto ao caráter de exceção do regime de Nicolás Maduro. O relatório enumerou seguidas “violações de direitos econômicos, sociais, civis e políticos” na Venezuela. Apontou diversos casos de “violência e abusos da polícia”, que apenas no ano passado levaram à morte 5.287 pessoas por “resistência à autoridade”. Para a agência da ONU, tratou-se de “numerosas execuções extrajudiciais” praticadas por forças leais ao regime, entre as quais as temidas milícias.
Igualmente, no caso de Lula da Silva sobram evidências de sua culpabilidade. A ponto de o ex-presidente brasileiro ter sido condenado, até agora, por nada menos do que oito diferentes juízes, em três instâncias.
E assim o Foro de São Paulo escancara cada vez mais a sua natureza: um convescote para gente que vive no mundo da lua.
31 de julho de 2019 | 03h00
O destampatório de Jair Bolsonaro nos últimos dias – especialmente virulento mesmo para os padrões do presidente – contribui para ampliar o seu isolamento político. Afinal, grande parte do eleitorado que sufragou o nome de Bolsonaro nas urnas no ano passado não o fez para que ele, uma vez na Presidência, passasse seus dias a alimentar violentos antagonismos com diversos setores da sociedade, dificultando consideravelmente a governabilidade. Mesmo entre os políticos que se elegeram na onda do bolsonarismo já há os que procuram manter uma distância prudente do presidente, pois temem ser identificados com a irresponsabilidade que tem caracterizado o comportamento de Bolsonaro.
Não à toa, as forças políticas no Congresso há algum tempo parecem se organizar para fazer avançar as reformas das quais o Brasil depende para evitar o colapso fiscal e ter alguma chance de retomar o crescimento econômico. Para o setor produtivo, o mais importante no momento é que o País reencontre o caminho da recuperação, colocando em segundo plano o destempero do presidente Bolsonaro, por mais infame que seja em algumas ocasiões.
Em mais de uma ocasião, Bolsonaro agiu como se sua vontade pessoal fosse superior à Constituição, assinando decretos e medidas provisórias eivadas de ilegalidades. O presidente parece considerar que sua eleição transformou automaticamente em lei suas promessas de campanha e seus arroubos retóricos, bastando somente traduzi-los em linguagem jurídica.
Os bolsonaristas mais radicais, contudo, acreditam que Bolsonaro foi eleito justamente para questionar os pilares do sistema democrático, que para eles está inteiramente corrompido. Nessa campanha de saneamento nacional vale tudo, inclusive fraudar o passado, como fez recentemente o presidente ao atribuir a morte de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, um dissidente do regime militar, ao grupo de esquerda do qual ele fazia parte, embora o próprio Estado brasileiro admita, em documentos oficiais, que esse dissidente desapareceu depois de ter sido preso pela polícia política.
Para Bolsonaro, contudo, esses documentos são, simplesmente, “balela”. O presidente segue assim o padrão de duvidar de tudo o que contraria sua visão de mundo, mesmo que tenha sido produzido por autoridades de dentro de seu próprio governo ou por especialistas sem qualquer vinculação partidária.
Assim, o presidente Bolsonaro tenta usar sua autoridade de chefe de Estado para transformar em letra morta a base factual da história brasileira, o que tornaria legítima qualquer opinião acerca do passado, mesmo as mais estapafúrdias e aquelas que se prestam a alimentar laivos liberticidas. Esse lamentável episódio não foi apenas um ataque isolado à memória de um dissidente político, mas uma demonstração cabal de que Bolsonaro não se sente constrangido por nenhuma das normas de convivência democrática. Um governo com esse espírito, que não respeita o passado, não anuncia um bom futuro.
29 de julho de 2019 | 03h00
Sob estatísticas que mostram a persistência e a intensidade da crise da economia brasileira, por si mesmas assustadoras, acumulam-se dramas pessoais e familiares que compõem uma tragédia social. Estado mais desenvolvido do País e que responde pela maior fatia da produção industrial brasileira - mais de um terço do total -, São Paulo registra, neste ano, o maior número de indústrias fechadas em uma década. As consequências não poderiam ser diferentes das que reportagem do Estado mostrou há pouco.
Sem baixa na carteira profissional, trabalhadores experientes não conseguem nova ocupação porque, formalmente, ainda estão empregados. Brasileiros que vieram para São Paulo de outras regiões em busca de empregos melhores e, sobretudo, salários mais altos veem sua situação tão ruim quanto a que deixaram na terra natal. Mas lá, lembra um deles, o aluguel é mais barato.
O aumento do número de indústrias pode ser explicado pelo fato de que muitos demitidos de indústrias médias e grandes abriram sua própria empresa, com capacidade produtiva e número de empregados muito menores. É a explicação dada por Caetano Bianco Neto, presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Jaú, um importante centro produtor: quando fecha uma fábrica grande, surgem três ou quatro menores, algumas abertas por ex-funcionários, mas com pouca mão de obra e produzindo bem menos.
A crise da indústria antecede a que, provocada pelos desmandos econômico-financeiros do governo Dilma Rousseff, afetou toda a economia brasileira. Esta se tornou clara a partir do segundo semestre de 2014 e se estendeu até o fim de 2016. A da indústria começou nos primeiros meses de 2013, parecia ter arrefecido em 2017, mas se intensificou no ano passado. Além de mais longa, a crise da indústria é mais aguda do que a da economia em geral. Entre 2014 e 2018, por exemplo, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu 4,2%, a produção da indústria de transformação diminuiu 14,4%.
A série histórica da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) realizada mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o pico da produção da indústria de transformação do País foi atingido em março de 2011. Desse mês até fevereiro de 2016, quando a produção atingiu seu ponto mais baixo até então, a queda tinha sido de 23,2%. O pior índice da produção da indústria de transformação em cerca de duas décadas foi registrado em junho do ano passado, como consequência da greve dos caminhoneiros no mês anterior. Essa queda acentuada contribuiu para interromper o que parecia ser uma tendência firme de recuperação, pois, desde então, a produção industrial brasileira vem caindo. Em maio deste ano, estava 18,5% abaixo do índice de março de 2011.
Ainda não há sinais claros de melhora da atividade industrial em São Paulo. Dados recentes da atividade econômica no Estado de São Paulo aferidos pela Fundação Seade mostram que a produção da indústria paulista aumentou 0,9% em abril, na comparação com março, mas registrou queda de 2,0% na comparação com a de um ano antes. No acumulado de 12 meses até abril, a redução foi de 1,2%. O drama social inevitavelmente acompanha a estagnação econômica.
27 de julho de 2019 | 03h00
A regra de ouro das finanças públicas – que impede o governo de se endividar para pagar gastos correntes, como salários de servidores e manutenção da máquina administrativa – impôs maior severidade à administração dos recursos públicos e, por isso, precisa ser preservada. Inscrita na Constituição (art. 167, III), a regra de ouro estabelece que o volume das operações de crédito do governo (com emissão de títulos públicos) não pode exceder as despesas de capital (investimentos e amortização da dívida). Por entender, no entanto, que, da forma como está definida, a regra não impõe aos gestores de recursos públicos a obrigatoriedade de adoção de medidas prudenciais e corretivas que evitem o rompimento do limite estabelecido, o deputado Pedro Paulo (DEM-RJ) apresentou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 428/2018 que cria os chamados “gatilhos”, providências que precisam ser adotadas sucessivamente depois que as operações de crédito superarem determinada parcela das despesas de capital.
Pela regra atual, em casos excepcionais, e com autorização da maioria absoluta de cada Casa do Congresso Nacional, o Poder Executivo pode exceder o limite por meio de operações de créditos suplementares ou especiais para finalidades específicas. Em maio último, pela primeira vez desde que a regra de ouro foi instituída, o Executivo obteve autorização especial do Congresso para contratar crédito suplementar de R$ 248,9 bilhões para custear despesas essenciais, entre as quais as referentes a programas sociais e até ao Plano Safra. Isso evitará que o governo do presidente Jair Bolsonaro descumpra a regra de ouro neste exercício fiscal.
O desequilíbrio das finanças públicas decorre do fato de que as despesas crescem continuamente acima da receita, por causa da rigidez dos gastos públicos. Estima-se que 90% das despesas sejam de natureza obrigatória, isto é, não dependem de decisão do governo. E elas têm regras próprias de correção ao longo do tempo. Já as receitas dependem da atividade da economia e da eficácia da Receita Federal.
Para evitar novos estouros do limite estabelecido pela regra de ouro, a proposta do deputado Pedro Paulo cria um estágio de alerta, quando as operações de crédito estiverem acima de 95% das despesas de capital. Nesse estágio, devem ser aplicadas imediatamente as medidas previstas na Constituição para os casos do rompimento do teto de gastos, como a limitação para a criação e expansão de despesas. Além disso, o chefe do Executivo é obrigado a apresentar um plano de revisão de despesas e de melhoria da arrecadação.
Obviamente, medidas mais rigorosas terão de ser tomadas quando a expansão dos gastos levar ao rompimento do limite fixado pela regra de ouro. Entre as medidas estão a redução temporária da jornada de trabalho com a correspondente redução de vencimentos; corte de pelo menos 20% das despesas com cargos em comissão e funções de confiança; exoneração de servidores não estáveis; suspensão do pagamento do abono salarial no exercício seguinte; e redução de pelo menos 10% dos incentivos e benefícios fiscais.
25 de julho de 2019 | 03h00
O Brasil poderá desencalhar e crescer 2,4% no próximo ano, se tudo correr bem, uma boa reforma da Previdência estiver aprovada e houver confiança no futuro do País. Ainda emperrada, a economia deverá avançar apenas 0,8% em 2019, muito abaixo de seu potencial, estimado em 2,2% ao ano. O caminho para dias melhores está numa cartilha de políticas para arrumar as contas oficiais, controlar a dívida pública, racionalizar o gasto oficial e ganhar eficiência produtiva e poder de competição. O diagnóstico e o resumo da cartilha estão no recém-divulgado relatório de avaliação da economia brasileira elaborado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Para produzir relatórios desse tipo, uma equipe da instituição coleta informações oficiais, conversa com representantes oficiais e consulta outras fontes consideradas de alta qualidade.
Este mesmo objetivo, o potencial de 3%, foi definido no governo do presidente Michel Temer pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Acossado politicamente, esse governo pouco pôde fazer além de tirar o País da recessão, impor algum controle às contas públicas e promover um par de inovações importantes – a reforma trabalhista e a criação de um teto para o gasto federal. Ao mesmo tempo, a inflação foi contida e o Banco Central (BC), depois de um aperto inevitável, baixou os juros básicos para 6,50% ao ano, taxa mantida a partir de março de 2018.
Esses penduricalhos tampouco se encontram no trabalho dos técnicos e nas sugestões endossadas pela diretoria executiva do FMI. O potencial de crescimento do Brasil é há alguns anos um dos mais baixos encontrados entre os grandes emergentes, assinala o relatório. A elevação desse potencial sintetiza, de certa forma, as metas propostas para os próximos anos pelos economistas do Fundo Monetário Internacional e de outras instituições sérias.
Mas a meta, apesar de aparentemente modesta, impõe desafios enormes. Para elevar o potencial de crescimento a 3%, será preciso conduzir as taxas de produtividade e de investimento a níveis bem superiores aos dos últimos 20 anos. Nesse período a produtividade cresceu em média apenas 0,5% ao ano. Será preciso no mínimo dobrar essa taxa e levar o investimento de volta a 18% do PIB e depois para cima disso. O investimento fixo (máquinas, equipamentos e obras) deve ficar abaixo de 16% do PIB neste ano e passar ligeiramente de 18% em 2023, segundo as projeções.
A maior parte do capital será investida pelo setor privado, mas o governo terá enorme importância na criação de condições propícias, contendo a dívida pública, facilitando a redução de juros, criando um ambiente pró-negócios, promovendo a eficiência da intermediação financeira, abrindo a economia, estimulando a concorrência e favorecendo a formação de capital humano.
Em mais de uma passagem o relatório menciona os juros “indevidamente altos” como entraves ao consumo familiar e ao investimento. Medidas para tornar mais eficiente o mercado financeiro são indicadas.
A agenda é enorme e complexa. Com algumas variações, será quase certamente esse o roteiro de qualquer política vitoriosa. Haverá trabalho para dois mandatos, no mínimo, e será essencial manter os padrões conquistados. Os ajustes, insistem os autores do relatório, devem ser executados sem abandono da proteção social, incluído o Bolsa Família. Não se prega capitalismo selvagem nem darwinismo social.
24 de julho de 2019 | 03h00
Cerca de R$ 30 bilhões já haviam sido bloqueados no primeiro bimestre. A palavra usada no jargão oficial é contingenciamento. Isso sempre ocorre, nos primeiros meses, por segurança. Pode haver até liberação de dinheiro, nos meses seguintes, se aparecer espaço nas contas. Desta vez isso parece muito improvável.
As expectativas econômicas têm piorado sensivelmente desde o começo do ano. Nos primeiros dias o governo projetava uma expansão de 2,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2019. A estimativa caiu para 1,6% no meio do semestre. Há poucos dias foi cortada para 0,8%, um número tão ruim quanto a mediana das projeções do mercado.
Com a economia emperrada, a arrecadação no segundo semestre deve ficar abaixo das previsões iniciais, comentou em Brasília o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias. No ano, o total da arrecadação administrada pela Receita Federal deve ser entre 1% e 1,5% maior que o de 2018, segundo o coordenador de previsão e análise do Fisco, Marcelo Gomide. No primeiro semestre, o aumento real, isto é, descontada a inflação, ficou em 1,17% para essa classe de receitas.
O desempenho da arrecadação total, incluída a parcela gerida por outros órgãos, foi pouco melhor, superando por 1,80% o valor coletado nos primeiros seis meses do ano passado. O resultado fica menos promissor quando se consideram alguns detalhes, como o recolhimento atípico de R$ 700 milhões de receita previdenciária (efeito de um processo judicial) e a baixa arrecadação de junho do ano passado (reflexo da crise do transporte em maio de 2018). O confronto entre os meses de junho dos dois anos mostra um aumento real de 4,68%, explicável principalmente pelo baixo nível da base de comparação.
Diante da perspectiva de um segundo semestre ainda muito ruim, o governo reagiu de duas formas. A resposta mais direta é o contingenciamento de R$ 2,27 bilhões confirmado nesta segunda-feira. O bloqueio efetivo, no entanto, será de apenas R$ 1,44 bilhão. O bloqueio dos demais R$ 809 milhões vai resultar simplesmente no fim de uma reserva embutida no Orçamento sem destinação específica. Agora a reserva desaparece e, com ela, mais uma fonte possível de recursos.
Só no fim do mês, quando for anunciada nova atualização das contas, o governo deverá explicar como será executado o bloqueio da verba de R$ 1,44 bilhão. Não se informou, de início, se a medida atingirá só um ou mais de um Ministério. Se apenas um for atingido, ficará, como se comentou em Brasília, praticamente impedido de qualquer nova ação.
A outra reação do governo à indisfarçável piora das condições econômicas foi a decisão de liberar recursos de duas fontes para estimular o consumo e reanimar os negócios. O dinheiro deve sair do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep. A apresentação dos detalhes foi adiada da quinta-feira passada para esta semana. Não há como avaliar o efeito dessa iniciativa antes da divulgação oficial das condições de saque e dos limites permitidos.
Durante um semestre o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe trataram o drama de 13 milhões de desempregados como problema sem urgência ou, pior, como estímulo adicional para a aprovação da reforma da Previdência. Quando reconheceram o desastre, seus efeitos já haviam arrasado as contas do Tesouro Nacional.
22 de julho de 2019 | 03h00
A esta altura, está mais do que evidente que o presidente Jair Bolsonaro não sabe agir com a impessoalidade que há de caracterizar o exercício da Presidência da República. Em apenas 200 dias de governo, houve exemplos em excesso do peso que os afetos e as hostilidades particulares do presidente têm sobre decisões de Estado, que, a rigor, não deveriam ser pautadas pela emoção.
Desde que anunciou sua intenção de indicar um filho para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos – o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) –, não houve um só dia em que o presidente não tenha defendido, de alguma forma, o nome do “03” para um dos postos mais críticos de nossa diplomacia. Tivesse o olhar de um estadista, seria mais fácil para o presidente compreender o quão estapafúrdia é a escolha, por qualquer ângulo que se a analise. Porém, Jair Bolsonaro não vê sua escolha com olhos de estadista, mas com olhos de pai. E é como pai que reage às críticas.
Na quinta-feira, abrindo mão do pudor, Jair Bolsonaro voltou a defender o filho em termos ainda mais claros. “Pretendo beneficiar filho meu, sim. Se eu puder dar um filé mignon para o meu filho, eu dou, mas não tem nada a ver com filé mignon essa história (da embaixada nos Estados Unidos). É aprofundar relacionamento com a maior potência do mundo”, disse. Noves fora o pitoresco da declaração, saliente-se que ela revela duplamente o peso dos afetos nas decisões de Jair Bolsonaro. Em especial no que concerne às relações entre países, que devem ser pautadas por interesses, e não por supostas relações de amizade, como a que Bolsonaro supõe haver entre sua família e a do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Dos mais relevantes temas para o País, como a indicação de um embaixador, às troças com autoridades, tudo parece ser tratado pelo presidente da República fora da dimensão da impessoalidade do cargo. Não se quer dizer com isso que o comportamento de Bolsonaro deva ser marcado pela frieza e pela sisudez. Roga-se apenas que ao tratar de assuntos de Estado o presidente faça um esforço para contrabalançar suas emoções com o interesse nacional. Ora coincidem, ora não. De Jair Bolsonaro, dado o cargo que ocupa, é esperado discernimento.
Nada parece escapar do crivo afetivo do presidente. Jair Bolsonaro é capaz de atacar ao mesmo tempo tanto prosaicas mudanças no funcionamento de aplicativos como o Instagram como o conteúdo dos filmes produzidos com recursos da Ancine. No primeiro caso, é tema do qual o presidente nem sequer deveria se ocupar. No segundo, sim, mas por razões de outra natureza, objetiva. Afinal, trata-se do emprego de recursos públicos, e não de seu gosto por esta ou aquela produção.
A preponderância dos afetos sobre a razão obnubila a visão que o presidente deve ter do papel das instituições.
Há cerca de três meses, Jair Bolsonaro afirmou que “não nasceu para ser presidente”. Se não nasceu para o cargo, é verdade que optou por exercê-lo. E foi vitorioso no intento. É justo que os brasileiros, então, esperem que a investidura na Presidência sirva de aprendizado diário, caso Jair Bolsonaro tenha a humildade de tomar as críticas pelo que elas são – críticas objetivas, e não ofensas à sua honra, à sua dignidade.
20 de julho de 2019 | 03h00
Qualquer dia, quando ninguém atrapalhar e o governo souber como executar a medida, será anunciada a prometida injeção de recursos para ativar o consumo e reanimar a economia – se a ideia ainda estiver valendo. Será na próxima semana, segundo o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, mas qualquer previsão é arriscada, depois do fiasco da quinta-feira. O lançamento oficial do plano estava previsto para aquela data, na celebração dos 200 dias de mandato do presidente Jair Bolsonaro. Para explicar a mudança, fontes do Executivo deram destaque a dois obstáculos inesperados: pressões de empresários da construção civil e despreparo da Caixa para cuidar da liberação do dinheiro. Esses dois fatos bastariam para caracterizar improvisação e amadorismo. Mas houve mais que isso. Ainda faltavam cálculos sobre as condições de saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
A tendência, segundo se informou em Santa Fé, na Argentina, onde participavam de reunião do Mercosul, era apresentar a novidade na quinta-feira, em cerimônia em Brasília.
A discussão pode parecer muito interessante, mas cada novo detalhe divulgado confirma a improvisação e o despreparo do governo para lançar as ações de estímulo. Não só a Caixa precisava de tempo para organizar sua atividade. Também no Ministério da Economia faltava completar detalhes essenciais do planejamento.
Quanto ao presidente, recebeu em audiência, na quinta-feira, representantes da construção civil empenhados em frear ou limitar a liberação de recursos do FGTS. Segundo se informou em Brasília, o encontro ocorreu fora da agenda. Com agenda ou sem agenda, em qualquer caso a conversa foi outra demonstração do despreparo do governo. Não há hipótese benigna. A equipe econômica pode ter simplesmente negligenciado o exame das consequências para o setor imobiliário. Pode, ao contrário, haver cuidado desse detalhe, mas, nesse caso, o presidente da República terá decidido, de repente, dar uma oportunidade ao lobby do setor.
Não há como negar. Faltou gestão. Falharam a equipe econômica e o presidente da República. Todos comprovaram, de novo, despreparo para a administração pública, mas o diagnóstico mais preciso pode ser menos benevolente. Nenhuma empresa irá muito longe se os seus dirigentes negligenciarem, como têm feito os atuais governantes do País, detalhes necessários à materialização dos objetivos. Que dizer de um país? A reforma da Previdência tem avançado graças à ação de parlamentares. Também nessa questão o Executivo falhou. A tarefa de mobilizar e articular apoio ao projeto dependeu basicamente de figuras da Câmara dos Deputados.
O governo levou seis meses para dar atenção a uma economia quase paralisada e com 25 milhões de desempregados, subempregados e desalentados. Só agora, com o País muito perto de nova recessão, a equipe econômica deu sinal de perceber a emergência. Se o presidente percebeu é difícil dizer. Enfim, ele declarou apoio a medidas de estímulo, mas suas prioridades são obviamente outras. Nenhum incentivo foi lançado na quinta-feira, mas ele achou tempo para fazer críticas ao filme Bruna Surfistinha.
18 de julho de 2019 | 03h00
O governo decidiu, enfim, dar alguma atenção aos 25 milhões de desempregados, subempregados e desalentados e à multidão de empresários, principalmente pequenos e médios, atolados na mais longa crise da história republicana. O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a intenção de liberar dinheiro para estimular o consumo, reativar os negócios e criar alguma esperança de tempos menos duros. Poderão chegar às famílias R$ 42 bilhões do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e até R$ 21 bilhões do PIS/Pasep. “Agora, com o avanço na tramitação da Previdência, podemos levar essas medidas adiante”, afirmou. O ministro demorou muito, no entanto, para tomar essa decisão. Até há pouco tempo, a intenção proclamada pelas autoridades era outra: cuidar da reativação econômica só depois de aprovada a reforma do sistema de aposentadorias e pensões. Aparentemente, nem o governo aguentou a deterioração da economia e das condições de sobrevivência dos brasileiros.
O anúncio praticamente coincidiu com a divulgação de uma rara informação positiva. Em maio, o PIB foi 0,5% maior que em abril, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Mas a melhora, por enquanto, pode ter sido apenas um repique. No trimestre iniciado em abril e terminado em maio a produção foi 0,8% menor que no trimestre móvel encerrado em fevereiro. A economia continuou, portanto, rodando em marcha mais lenta que no final de 2018 e na virada do ano. Todos os novos levantamentos têm confirmado o diagnóstico recente do Banco Central (BC): a recuperação iniciada em 2017, depois de dois anos de recessão, foi interrompida.
As péssimas condições do mercado de trabalho compõem o lado mais dramático da crise econômica. Os desempregados eram 13 milhões, no trimestre móvel encerrado em abril. Juntando-se a esse número os subempregados e os desalentados, chega-se a um total de 25 milhões de trabalhadores sem salário, empregados em condições muito ruins ou simplesmente sem ânimo para continuar, por enquanto, procurando uma vaga.
Na maior parte das famílias, uma única pessoa sem rendimento ou em condições precárias de trabalho já representa uma considerável piora das condições de vida, mesmo quando outras estão ocupadas. Se dois familiares forem somados a cada um dos 25 milhões em situação precária, o resultado será um conjunto de 75 milhões em graves dificuldades. Isso é bem mais que um terço da população brasileira, estimada em cerca de 210,2 milhões de pessoas.
Por um semestre o governo pareceu menosprezar o drama dessas dezenas de milhões. Mas algo deve ter mudado e talvez a equipe econômica tenha notado um fato simples e óbvio. Sem estímulo inicial, nem a economia se mexerá nem o desemprego será reduzido, mesmo lentamente. Nesse caso, nem um voo de galinha será realizado. Mas, se um voo começar, poderá prolongar-se com outras medidas, especialmente estruturais, se ordenadas de forma competente.
17 de julho de 2019 | 03h00
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, determinou a suspensão da tramitação de todos os processos judiciais em andamento no território nacional que versem sobre o compartilhamento, sem autorização judicial e para fins penais, de dados fiscais e bancários de contribuintes. Trata-se de uma medida elementar de respeito ao Direito. Protegidos sob sigilo, os dados bancários e fiscais não podem ser compartilhados com o Ministério Público sem autorização judicial.
A decisão foi proferida num Recurso Extraordinário, com repercussão geral reconhecida, que avalia a constitucionalidade do compartilhamento de dados da Receita, do Coaf e do Banco Central com o Ministério Público. No caso, o Tribunal Regional Federal da 3.ª Região declarou nula uma ação penal sob o fundamento de que a prova apresentada pelo Ministério Público baseava-se exclusivamente em informações sigilosas da Receita Federal, compartilhadas com o Ministério Público sem a devida autorização da Justiça.
A relativização do sigilo promovida pelo Ministério Público remete a um caso já julgado pelo STF. Em 2016, o Supremo entendeu, por maioria de votos, que era constitucional a permissão, dada pela Lei Complementar 105/2001, para que a Receita Federal recebesse, sem prévia autorização judicial, dados bancários de contribuintes fornecidos diretamente pelos bancos. O entendimento majoritário foi de que essa autorização legal não representava quebra de sigilo. Seria tão somente uma transferência do sigilo da órbita bancária para a fiscal, e os dados permaneceriam protegidos contra o acesso de terceiros. Uma vez que a Receita continuaria com o dever de preservar o sigilo, não haveria ofensa às garantias constitucionais de proteção da privacidade.
Ainda que seja questionável, a interpretação do Supremo Tribunal Federal de modo algum permitiu o acesso direto do Ministério Público a dados sigilosos para fins penais. Vale lembrar que o Supremo, ao fixar as garantias dessa comunicação de dados com o Fisco, indicou a necessidade de “prévia notificação do contribuinte quanto a instauração do processo e a todos os demais atos”.
Além disso, a própria Lei Complementar 105/2001 estabeleceu que eventuais informações dos bancos ao Fisco “restringir-se-ão a informes relacionados com a identificação dos titulares das operações e os montantes globais mensalmente movimentados, vedada a inserção de qualquer elemento que permita identificar a sua origem ou a natureza dos gastos a partir deles efetuados”. Não poderia ser diferente, pois a lei veio regulamentar – e não abolir – o sigilo das operações financeiras.
É grave que o Ministério Público, instituição responsável pela defesa da ordem jurídica, opte por percorrer caminhos que violam o sigilo bancário e fiscal. As investigações devem ser feitas dentro da lei, que prevê modos de acessar dados financeiros e fiscais, sempre mediante autorização judicial. O sigilo bancário e fiscal é uma garantia constitucional, que deve valer para todos, sem exceções.
15 de julho de 2019 | 03h00
Desde 1979, com a criação do Ministério da Desburocratização, institucionalizou-se no governo federal a pretensão de reduzir os entraves burocráticos na economia e na vida social do Brasil. No atual governo, essa função está a cargo da Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, parte do Ministério da Economia. A julgar pelos resultados reunidos pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em recente estudo sobre esse tema, os esforços até aqui não tiveram os efeitos desejados. O País continua a ser um intrincado labirinto de leis, exigências e padrões dentro do qual têm de perambular todos os brasileiros que decidem empreender, o que compromete decisivamente sua produtividade e sua competitividade.
No entanto, o TCU constatou vários obstáculos para o pleno cumprimento dessa legislação. A Receita Federal, por exemplo, “não sabe informar a quantidade de normativos vigentes por ela expedidos” anualmente. Esse problema é especialmente grave quando se sabe, conforme lembra o tribunal, que “existem 57 tributos instituídos no Brasil (com exceção das taxas), e que foram editadas mais de 377 mil normas tributárias desde a Constituição de 1988, sendo mais de 3 mil atos editados apenas pela Receita Federal”.
A Constituição, em seu artigo 37, inciso XXII, estabelece que as administrações tributárias da União, dos Estados e dos municípios “atuarão de forma integrada, inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na forma da lei ou convênio”. No entanto, o TCU mostrou vários exemplos em que essa determinação é ignorada. Um deles é o da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que “não possui sistema de peticionamento eletrônico para o registro da maioria dos tipos de medicamento, além de produtos cosméticos e perfumes”, o que obriga as empresas interessadas a encaminhar “toda a documentação em papel, muitas vezes por meio da contratação de despachantes”. Já a Anvisa precisa “digitalizar a documentação novamente para uso interno”, tudo porque a agência usa “sistemas obsoletos”.
Casos como esse se multiplicam por toda a administração federal – e, presume-se, também nas esferas estaduais e municipais. Como resultado, o TCU relata, com base em dados do Banco Mundial e da Fiesp, que desde 1988 foram emitidos mais de 5 milhões de normas no País, o que dá 764 por dia. Não à toa, o Brasil aparece em 109.º lugar entre 190 países no ranking do Banco Mundial sobre facilidade para a abertura de um negócio. Quando se trata de burocracia para emissão de alvará para construção, o Brasil aparece em 171.º lugar. Quanto à facilidade para pagamento de impostos, o País está em 184.º lugar. No geral, o Brasil é apenas o 80.º em competitividade, apesar de ser uma das maiores economias do mundo.
O custo da burocracia excessiva, portanto, está mais do que demonstrado. Os gargalos também estão perfeitamente identificados. Espera-se que as recomendações do TCU ajudem a desatar os nós que prendem o País a um número infinito de normas que se sobrepõem umas às outras e que transformam o ato de empreender num pesadelo.
13 de julho de 2019 | 03h00
A pesquisa XP/Ipespe de julho mostra que a disposição da população em relação ao governo de Jair Bolsonaro segue em linha de continuidade. Para 35% da população, o governo é ruim ou péssimo, o mesmo porcentual do mês anterior. O governo é bom ou ótimo para 34% dos entrevistados e são 28% os que consideram regular a atual administração federal – esses porcentuais também ficaram estáveis em relação à pesquisa de junho.
Tal realidade inviabiliza o discurso populista de que o Executivo poderia impor sua agenda e suas posições com base no apoio que tem das ruas. Ele não conta mais com um apoio majoritário. Basta ver que, entre os três grupos, o mais numeroso (35%) é o que considera o governo ruim ou péssimo.
Na verdade, as avaliações sobre o governo ao longo do primeiro semestre revelam mais do que o esvaziamento da adesão majoritária às propostas do presidente Jair Bolsonaro. Elas indicam que o apoio minguou precisamente porque o governo tentou impor sua agenda. Ou seja, não é apenas que o governo já não tem apoio popular suficiente, por exemplo, para ampliar sozinho a posse e o porte de armas. Suas investidas contra o Congresso – e por que não dizer? – contra o bom senso enfraquecem sua popularidade.
Nesse sentido, as pesquisas de opinião manifestam a fragilidade do argumento de quem tenta colocar uma nota de oposição entre o povo e as instituições. Não encontra respaldo nos fatos, por exemplo, a ideia de que a população, estando completamente fechada com o governo de Jair Bolsonaro, faria frontal oposição à atuação do Legislativo e do Judiciário. A realidade parece ser precisamente o inverso. A pesquisa da XP/Ipespe registrou melhora da imagem do Congresso em relação ao ano passado.
Não há, portanto, sinais de desalinhamento entre a opinião pública e as instituições, como às vezes equivocadamente se propala. Os números são claros. A população não comprou a ideia, por exemplo, de que o presidente Jair Bolsonaro não tem conseguido destravar a economia e o desenvolvimento social em razão de um sistema político corrupto, que inviabilizaria suas propostas para o País.
A pesquisa XP/Ipespe revela que não existe essa desconfiança a respeito do sistema político, como se ele fosse capaz de bloquear as boas disposições do governante. Tanto é assim que 47% dos entrevistados acreditam que o restante do mandato de Bolsonaro será bom ou ótimo. Apenas 29% julgam que os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro serão ruins ou péssimos.
Em termos institucionais, o quadro que se revela é muito positivo. Não há razão para o governo se indispor com as ruas. Tampouco há razão para o Executivo se indispor com o Legislativo ou com o Judiciário. Para ser leal ao seu “patrão”, o povo, o presidente Jair Bolsonaro não precisa fazer nada que afronte a separação dos Poderes ou qualquer outro princípio do Estado Democrático de Direito.
A rigor, o que as pesquisas de opinião revelam é um anseio para que o governo trabalhe de fato, isto é, que enfrente seriamente os problemas nacionais, numa atuação coordenada com as outras esferas do Estado. O discurso populista de enfrentamento só interessa mesmo aos populistas. A população quer emprego, inflação controlada, economia crescendo, educação para os filhos, serviço de saúde adequado – ela deseja que as instituições funcionem, não que se digladiem entre si.
10 de julho de 2019 | 16h46
A Câmara dos Deputados aprovou em primeiro turno nesta quarta-feira, 10, o projeto de reforma da Previdência. Depois da segunda votação na Casa, haverá mais mais duas votações no Senado.
Confira abaixo como as mudanças podem afetar sua aposentadoria.
- Trabalhadores privados (urbanos)
Idade mínima: 62 anos (mulheres) e 65 anos (homens)
Tempo de contribuição: 15 anos (mulheres) e 20 anos (homens)
- Servidores públicos da União
Idade mínima: 62 anos (mulheres) e 65 anos (homens)
Tempo mínimo de contribuição: 25 anos, com 10 anos no serviço público e cinco no cargo
- Trabalhadores rurais
Idade mínima: 55 anos (mulheres) e 60 anos (homens)
Tempo de contribuição: 15 anos (ambos os sexos)
- Professores
Idade mínima: 57 anos (mulheres) e 60 anos (homens)
Tempo de contribuição: 25 anos (ambos os sexos)
- Policiais federais, rodoviários federais e legislativos
Idade mínima: 55 anos (ambos os sexo)
Tempo de contribuição: 30 anos (para ambos os sexos, além de 25 anos no exercício da carreira
A proposta prevê 5 regras de transição para os trabalhadores da iniciativa privada que já estão no mercado. Uma dessas regras vale também para servidores, categoria que também conta com uma opção específica. Para todas as modalidades, vão vigorar por até 14 anos depois de aprovada a reforma. Pelo texto, o segurado poderá sempre optar pela forma mais vantajosa.
- Transição 1: sistema de pontos (para INSS)
A regra é semelhante à formula atual para pedir a aposentadoria integral, a fórmula 86/96. O trabalhador deverá alcançar uma pontuação que resulta da soma de sua idade mais o tempo de contribuição, que hoje é 86 para as mulheres e 96 para os homens, respeitando um mínimo de 35 anos de contribuição para eles, e 30 anos para elas. A transição prevê um aumento de 1 ponto a cada ano, chegando a 100 para mulheres e 105 para os homens.
Exemplo: um trabalhador de 54 anos e 32 de contribuição soma 86 pontos, longe ainda dos 96. E ele só terá direito a pedir aposentadoria em 2028 para receber 100% do benefício calculado.
- Transição 2: tempo de contribuição + idade mínima (para INSS)
Nessa regra, a idade mínima começa em 56 anos para mulheres e 61 para os homens, subindo meio ponto a cada ano. Em 12 anos acaba a transição para as mulheres e em 8 anos para os homens. Nesse modelo, é exigido um tempo mínimo de contribuição: 30 anos para mulheres e 35 para homens.
- Transição 3: pedágio de 50% - tempo de contribuição para quem está próximo de se aposentar (para INSS)
Quem está a dois anos de cumprir o tempo mínimo de contribuição que vale hoje (35 anos para homens e 30 anos para mulheres) ainda pode se aposentar sem a idade mínima, mas vai pagar um pedágio de 50% do tempo que falta. Por exemplo, quem estiver a um ano da aposentadoria deverá trabalhar mais seis meses, totalizando um ano e meio. O valor do benefício será reduzido pelo fator previdenciário, um cálculo que leva em conta a expectativa de sobrevida do segurado medida pelo IBGE, que vem aumentando ano a ano.
- Transição 4: por idade (para INSS)
É preciso preencher dois requisitos. Homens precisam de ter 65 anos de idade e 15 anos de contribuição. Mulheres precisam ter 60 anos de idade e 15 de contribuição. Mas, a partir de janeiro de 2020, a cada ano a idade mínima de aposentadoria da mulher será acrescida de seis meses, até chegar a 62 anos em 2023. Além disso, também a partir de janeiro de 2020, a cada ano o tempo de contribuição para aposentadoria dos homens será acrescido de seis meses, até chegar a 20 anos em 2029.
- Transição 5: pedágio de 100% (para INSS e servidores)
Para poder se aposentar por idade na transição, trabalhadores do setor privado e do setor público precisarão se enquadrar na seguinte regra: idade mínima de 57 anos para mulheres e de 60 anos para homens, além de pagar um "pedágio" equivalente ao mesmo número de anos que faltará para cumprir o tempo mínimo de contribuição (30 ou 35 anos) na data em que a PEC entrar em vigor.
Por exemplo, um trabalhador que já tiver a idade mínima mas tiver 32 anos de contribuição quando a PEC entrar em vigor terá que trabalhar os 3 anos que faltam para completar os 35 anos, mais 3 de pedágio.
- Transição específica para servidores
Para os servidores públicos, está prevista também uma transição por meio de uma pontuação que soma o tempo de contribuição mais uma idade mínima, começando em 86 pontos para as mulheres e 96 pontos para os homens.
A regra prevê um aumento de 1 ponto a cada ano, tendo duração de 14 anos para as mulheres e de 9 anos para os homens. O período de transição termina quando a pontuação alcançar 100 pontos para as mulheres, em 2033, e a 105 pontos para os homens, em 2028, permanecendo neste patamar.
O tempo mínimo de contribuição dos servidores será de 35 anos para os homens e de 30 anos para as mulheres. A idade mínima começa em 61 anos para os homens. Já para as mulheres, começa em 56 anos.
10 de julho de 2019 | 03h00
A reforma da Previdência percorreria um caminho bem menos sobressaltado se o governo do presidente Jair Bolsonaro tivesse aproveitado a proposta apresentada por seu antecessor, cuja tramitação na Câmara dos Deputados estava madura. Decerto, ao País interessa mais a aprovação da reforma de um sistema há muito insolvente e injusto do que a verificação de autoria do santo reformador.
Ainda está fresca na memória a aflitiva demora para a aprovação do projeto pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, muito em função dos vaivéns protagonizados por parlamentares do PSL. O que se viu ali foi um agrupamento de políticos erráticos sob uma mesma sigla, não um partido coeso em torno da agenda do governo, da qual, presume-se, a reforma da Previdência seja a grande estrela.
A preocupação do governo – e de todos os brasileiros interessados na aprovação da reforma – é que o “racha” da bancada do PSL na Câmara dos Deputados – a terceira maior, com 54 parlamentares – sirva de pretexto para que outros partidos se sintam confortáveis para ceder a pressões corporativas que podem levar a uma substancial redução da economia com a reforma do sistema previdenciário, estimada em R$ 934 bilhões em dez anos.
Quase a metade dos parlamentares do PSL foi eleita em 2018 sob a bandeira da segurança pública, um manto que por vezes serve para encobrir a defesa sindical dos interesses de policiais federais, rodoviários e legislativos. Há semanas, estas categorias estão praticamente acampadas nos corredores do Congresso Nacional a fim de pressionar os parlamentares por mudanças no texto-base da reforma da Previdência que os beneficiem, flexibilizando regras como idade mínima para aposentadoria e regime de transição, entre outras. Até aqui, graças ao esforço de lideranças políticas responsáveis no Parlamento, essa pressão não tem surtido efeito. Não se sabe, contudo, o que poderá ocorrer quando das discussões no plenário da Câmara dos Deputados. Todo cuidado é pouco.
Há parlamentares do PSL que admitem até mesmo votar com a oposição destaques que beneficiem as categorias profissionais que defendem. É o caso do deputado Felício Laterça (RJ). “Precisamos entender a diferença de certas categorias. Vou bater nessa tecla até morrer. Se o PSL decidir não apresentar o destaque (a favor dos policiais) e a oposição o fizer, voto com a oposição”, disse o parlamentar ao Estado. O mesmo caminho pode ser seguido por outros deputados.
O governo foi alertado pela equipe econômica que, se o PSL ceder às pressões do corporativismo policial, uma “nova onda de pressão” poderá comprometer o resultado fiscal esperado com a aprovação da reforma previdenciária. É um risco grande demais para ser ignorado.
Resta ver como o presidente Jair Bolsonaro receberá esse alerta. Não é exagero dizer que a tibieza do PSL na defesa da reforma da Previdência tal como deve ser aprovada, ou seja, gerando ao País uma economia de quase R$ 1 trilhão, em boa medida reflete a falta de convicção que o próprio presidente tem de sua necessidade. Basta dizer que há poucos dias Jair Bolsonaro esteve pessoalmente empenhado em negociar com o Legislativo as reivindicações dos policiais, que ele trata como “aliados nossos”. Agora é o momento de os parlamentares colocarem cera nos ouvidos a fim de não sucumbir ao canto que poderá levar o País à ruína.
08 de julho de 2019 | 03h00
Num país com 13 milhões de desempregados, incluídos cerca de 3,2 milhões sem ocupação há mais de dois anos, qualquer trégua da inflação é especialmente bem-vinda. A bênção é ainda maior quando o alívio é encontrado nos preços da comida, como vem ocorrendo há uns dois meses. Comer ainda é uma necessidade vital e corresponde, no jargão orçamentário do governo, às chamadas despesas não discricionárias. Quando o desemprego se prolonga e o dinheiro escasseia, até esse tipo de gasto se torna muito difícil para as famílias. A situação poderia melhorar se algum estímulo animasse os negócios a curto prazo e abrisse caminho para mais contratações. Mas qualquer estímulo, insiste o governo, dependerá do andamento do projeto de reforma da Previdência. Até surgir o sinal desejado, milhões de famílias terão de esperar. Como sobreviver é problema delas. Enquanto isso, há o consolo de uma inflação menos maligna.
O custo da alimentação, item de maior peso no orçamento dessas famílias, baixou 0,16%. Em maio havia caído 0,26%, ainda no início da acomodação, depois de alguns meses de alta incomum, resultante principalmente de perdas de produção causadas por más condições do tempo.
A inflação mais contida, com menor avanço e até recuo dos preços pagos pelas famílias, também tem aparecido nos indicadores oficiais, produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, publicada no dia 25, mostrou uma alta mensal de apenas 0,06%, a menor para o mês desde 2006, quando houve queda de 0,15%.
Apesar de baixas pelos padrões brasileiros, as taxas anuais de aumentos de preços – em torno de 4% – ainda superam as médias internacionais, especialmente dos países desenvolvidos. O recuo da inflação brasileira, nos últimos anos, apenas aproximou a evolução dos preços internos brasileiros daquela observada nas economias mais avançadas. Além disso, o recuo recente favorece condições de vida um pouco menos duras para famílias empobrecidas pela crise econômica e pelo desemprego.
No Brasil, tem crescido, entre os desempregados, a parcela dos desocupados de média e de longa durações – os primeiros sem emprego entre um e dois anos e os segundos há mais de dois anos nessa situação. A participação conjunta desses grupos passou de 33,8% para cerca de 39% a partir do primeiro trimestre e aí se manteve até os três meses iniciais deste ano. Mas a composição desse bloco se tem alterado com aumento dos desocupados de longa duração.
Esse segmento correspondeu, no trimestre de janeiro a março, a cerca de 25% – aproximadamente 3,2 milhões – do total dos desempregados.
Desocupados de longo prazo normalmente encontram maior dificuldade para se recolocar. Por isso, são mais propensos a aceitar salários menores, a concordar com contratos informais e a contentar-se com funções menos qualificadas que as anteriores. A equipe econômica deve ou deveria conhecer todos esses dados. O Banco Central os estudou recentemente. Mas nada, além de uma inflação menos corrosiva, facilitará sua vida, enquanto a equipe econômica preferir alongar a provação desses trabalhadores e de suas famílias.
06 de julho de 2019 | 03h00
A despeito das trapalhadas do governo, o texto-base da reforma da Previdência foi aprovado na quinta-feira por 36 votos a 13 na Comissão Especial da Câmara, passando com folga por seu primeiro grande teste político. A expectativa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é levar a matéria para o plenário já na semana que vem, manifestando confiança na aprovação.
Esse caminho não foi percorrido sem percalços, e não se pode imaginar que não haverá entraves nas próximas etapas do processo, com risco nada desprezível de desidratação do projeto. Convém lembrar que a reforma já poderia ter sido aprovada há mais de um mês, não fossem as confusões protagonizadas pelos governistas, que tiveram peso muito mais significativo no atraso do que as obstruções patrocinadas pela oposição.
O projeto prevê que os homens só poderão se aposentar aos 65 anos, e as mulheres, aos 62 anos, com um tempo mínimo de contribuição de 20 anos para homens e 15 anos para mulheres. Extingue-se a possibilidade de aposentadoria por tempo de contribuição. Haverá regras de transição para quem já está trabalhando e contribuindo para o INSS ou o setor público – em todos os casos, os trabalhadores terão de ficar um pouco mais na ativa para se aposentar. Já os trabalhadores rurais poderão continuar a se aposentar aos 55 anos, se mulheres, e aos 60 anos, se homens, com pelo menos 15 anos de contribuição.
Houve derrotas importantes para o governo. Defendido com vigor pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, o regime de capitalização, em que as contribuições do trabalhador vão para uma conta que banca a aposentadoria no futuro, foi retirado do texto. Além disso, Estados e municípios foram deixados de fora da reforma, o que a deixa pendente de aprovação das Assembleias estaduais e Câmaras municipais – tornando muito mais difícil sanear essa relevante fonte de desequilíbrio fiscal.
Mas o governo não tem do que se queixar. Os deputados responsáveis pela articulação do projeto na Câmara trataram de manter o mesmo nível de economia pretendido pelo ministro Paulo Guedes. Além disso, há genuíno interesse em liquidar a votação o mais rápido possível, para que outras reformas sejam apreciadas. O próximo projeto a ser examinado deverá ser o da reforma tributária.
Portanto, se o governo não atrapalhar – isto é, se nenhum ministro ou filho do presidente tuitar mais alguma ofensa contra o Congresso, se o presidente não voltar a agir como se fosse representante sindical de corporações e se os deputados do partido do presidente entenderem que sua missão não é sabotar as reformas encaminhadas pelo Executivo –, é provável que o projeto com as mudanças na Previdência atravesse sem sustos toda a longa tramitação que tem pela frente e seja finalmente implementado, para que o País possa afinal mudar de assunto.
04 de julho de 2019 | 03h00
Há batalhas que merecem ser travadas não apenas pelo objeto da disputa, mas também pela reafirmação de valores caros a seus contendores. Foi imbuído deste espírito que O Estado de S. Paulo decidiu prosseguir com a ação cível movida contra o jornal pelo empresário Fernando Sarney mesmo quando o autor optou pela desistência de seu pleito censório, em 18 de dezembro de 2009. Este jornal desde sempre quis ver a causa julgada em seu mérito, pois, além de lutar pelo direito de informar, o Estado luta pela liberdade e pelo direito da sociedade de ser informada. O esforço e a firmeza de propósito foram recompensados.
Desde então, o que se viu foi uma longa e tortuosa batalha jurídica até que, em outubro do ano passado, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), cassasse a decisão liminar do TJDFT e remetesse o processo de volta à primeira instância do Distrito Federal para que o mérito da causa fosse julgado.
Na sentença, o juiz Atalá Correia escreveu que “não houve (por parte do jornal) divulgação de conversas estritamente particulares do autor, relacionadas à sua vida íntima e desconexas do interesse público”. Tudo o que este jornal publicou e pretendia publicar era, portanto, de interesse público. O juiz Correia afirmou ainda não ver no caso qualquer “situação excepcional” que ensejasse restrições à liberdade de informação.
A decisão da 12.ª Vara Cível de Brasília está em linha com o entendimento firmado pelo STF em 2009, segundo o qual “a plena liberdade de imprensa é categoria jurídica proibitiva de qualquer tipo de censura prévia”.
Quase uma década para que a liberdade de informação que a Constituição protege fosse reconhecida pelo Judiciário é tempo longo demais. Se algo bom pode ser tirado do episódio é o fato de a decisão chegar num momento em que a imprensa livre está sob ataque, no Brasil e em outros países. A decisão, neste sentido, é um bálsamo para os amantes da liberdade.
Não têm sido raras as investidas para calar veículos de imprensa, como esta de que oEstado foi vítima. Por mais ou menos tempo, a sociedade tem deixado de ser informada a contento sobre questões de seu interesse por força da ação de pessoas ou organizações que preferem a falsa segurança das sombras para fazer valer os seus interesses, em geral contrários aos da Nação. Aqui e ali, vicejam tentativas de impor censura e desqualificar órgãos de imprensa sempre que estes publicam aquilo que se quer manter escondido.
O Estado irá se insurgir, por meio dos instrumentos que as leis e a Constituição oferecem, contra toda e qualquer agressão à liberdade de imprensa. Assim tem sido há 144 anos, sem jamais vergar diante dos arroubos dos liberticidas.
02 de julho de 2019 | 23h22
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A semifinal começou disputada, aguerrida e com muitas faltas. Inflamados pela cantoria das torcidas durante os hinos, os jogadores exageraram na força das divididas. Os times se estudaram nos primeiros minutos, em busca de um encaixe. Casemiro grudou em Messi, Coutinho era vigiado por De Paul e a partida era travada. Embora com menos posse de bola, a Argentina deu o primeiro susto, em um chute de Paredes.
O Brasil tocou a bola com paciência e saiu na frente após Daniel Alves desequilibrar. Foram dois lindos dribles até a bola chegar na ponta para Firmino cruzar para a área. Gabriel Jesus só tirou do goleiro Armani para abrir o placar, aos 18 minutos. A torcida cantou animada no Mineirão, confiante e livre do sufoco de ver a agonia de um 0 a 0 se arrastar por muito tempo.
Mas logo depois quem começou a dominar o jogo foi a Argentina. Messi passou a ditar o ritmo pelo lado direito, pois recebia a bola com liberdade e encontrava sempre com quem tabelar. Aos 29 minutos, o camisa 10 cobrou uma falta para Agüero acertar o travessão e deixar o Mineirão em apuros. O lance fez o time alviceleste crescer e ficar muito perto do empate. Acuados, os brasileiros ficaram à espera do fim do primeiro tempo.
No intervalo, o presidente Jair Bolsonaro desceu ao gramado para cumprimentar torcedores enquanto o técnico Tite mexia na equipe. Éverton saiu e deu lugar a Willian. A alteração foi para fazer o time ter mais chegada pelo lado esquerdo e não só na direita. Uma tentativa boa, porém insuficiente para solucionar o problema chamado Messi. O camisa continuava a incomodar bastante.
A cada participação dele no jogo, uma horda de brasileiros tentava recuperar a bola de forma desesperada. A Argentina encontrava espaços no segundo tempo, inclusive com uma liberdade absurda para Messi. O camisa 10 teve a comodidade de entrar na área aos 11 minutos e acertar a trave. A Argentina era melhor no jogo e ousou minutos depois, ao colocar Di María e ganhar mais um atacante.
O Brasil estava dominado pelo adversário, sem saída de jogo, como se fosse um boxeador nas cordas. Quando o empate parecia perto e o time aparentava cansaço novamente Gabriel Jesus resolveu. Aos 25 minutos, ele puxou sozinho um contra-ataque, enfrentou três argentinos e só rolou para Firmino completar. Os 2 a 0 premiaram a eficiência, mas não o domínio de quem estava melhor no jogo.
A partida ficou ainda mais faltosa no fim. O Brasil demonstrou cansaço, amenizado somente pelos gritos de "olé" e de "eliminado" vindos da torcida. Abatidos, os argentinos viram o quanto a seleção brasileira pode ser eficiente e fatal. Aliviada, a seleção brasileira passa por mais um jogo sem sofrer gol e se aproxima do título.
FICHA TÉCNICA
BRASIL 2X0 ARGENTINA
BRASIL: Alisson, Daniel Alves, Marquinhos (Miranda), Thiago Silva e Alex Sandro; Casemiro, Arthur e Philippe Coutinho; Gabriel Jesus (Allan), Roberto Firmino e Éverton (Willian). Técnico: Tite.
ARGENTINA: Armani; Foyth, Pezzella, Otamendi e Tagliafico (Dybala); Paredes, De Paul (Lo Celso), Acuña (Di María) e Messi; Agüero e Martinez. Técnico: Lionel Scaloni.
Gols: Gabriel Jesus, aos 18 minutos do primeiro tempo. Roberto Firmino, aos 25 do segundo tempo.
Árbitro: Roddy Zambrano (Equador)
Cartões amarelos: Tagliafico, Acuña, Daniel Alves, Foyth, Martinez, Allan, Agüero
Público: 52.235 pagantes
Renda: R$ 18.744.445,00.
Local: Mineirão, em Belo Horizonte.
01 de julho de 2019 | 03h00
Este jornal, como reiterado no editorial A serventia da imprensa, publicado ontem, não renunciará jamais a seu papel de crítico de governos que se desviam dos princípios da boa administração e desrespeitam as instituições democráticas. Para o Estado, não há argumento que justifique qualquer complacência com chefes de governo cujas decisões agridam o bom senso – sem falar das leis – e causem prejuízos ao País. Não se espere, portanto, que o Estado venha a contrariar seu histórico compromisso com os valores liberais, republicanos e democráticos e, em nome de sabe-se lá quais imperativos ideológicos e moralistas, condescenda com governos que afrontem tudo o que é mais caro a uma sociedade que se pretende civilizada.
Quando um governo comete agressões sistemáticas à Constituição, que o presidente da República jura respeitar quando toma posse, deve-se deixar claro que se trata de uma atitude inaceitável. A qualidade da democracia sofre considerável degradação quando um presidente, por exemplo, se julga no direito de editar medidas provisórias e decretos que desrespeitam de maneira cristalina diversos dispositivos constitucionais. Ademais, tal atitude inconsequente tende a causar natural reação dos demais Poderes, com vista a restabelecer a normalidade institucional ferida pelo voluntarismo presidencial, e isso consome precioso tempo e esforço de autoridades que deveriam estar totalmente dedicadas a resolver os gravíssimos problemas nacionais.
Também não se pode silenciar diante da tentativa sistemática de desmoralizar a política e o Congresso, pilares da democracia representativa, com o indisfarçável intuito de governar por decreto, dispensando-se a negociação democrática. É certo que os políticos colaboraram para a deterioração da imagem de sua atividade, depois que vários deles, muitos em posição de destaque, entregaram-se à mais desbragada corrupção nos últimos anos. Mas nada disso justifica a presunção de que basta estar do “lado certo” – isto é, o do Executivo, suposto campeão da pureza de propósitos contra os vilões corruptos – para que sua vontade seja convertida em lei.
Além disso, não se pode fechar os olhos quando a necessária impessoalidade no exercício do poder, demanda de qualquer democracia digna do nome, perde espaço para as relações familiares e de amizade, tornando as decisões emanadas desse núcleo tão imprevisíveis como desastradas. Esses obscuros critérios de governança acabam por permitir que o governo seja tomado por tipos exóticos e aduladores ansiosos para dar sentido a decisões destrambelhadas e desimportantes, tomadas ao sabor de conveniências inalcançáveis para os cidadãos.
Enquanto isso, a tramitação de reformas cruciais, como a da Previdência – que poderia estar mais adiantada se o governo tivesse aproveitado o projeto que estava em tramitação –, ressente-se da ausência de um norte político, em meio a questiúnculas ideológicas. Não fosse sua resistência a tudo o que lhe antecedeu, o atual governo também poderia ter aproveitado projetos deixados pela gestão anterior para estimular a retomada do crescimento. Não o fez porque está mais empenhado em fazer tábula rasa do passado – e assim fazer-se notar por suas virtudes messiânicas.
Isso resulta da percepção equivocada de que a maioria do eleitorado queria uma liderança que livrasse o País do “comunismo”, luta exótica em nome da qual parece valer tudo. Na verdade, os eleitores manifestaram nas urnas um sonoro protesto contra a politicagem que condenou muitos brasileiros à miséria e o País ao atraso crônico, de modo que resta ao governo trabalhar para reverter esse quadro, em vez de agravá-lo com bravatas, confusões e ilegalidades. Disso, afinal, depende a estabilidade do País.
O presidente Jair Bolsonaro precisa tomar decisões todos os dias, a todo instante. A mais importante – porque dela dependem não só o futuro de seu governo, mas, principalmente, o do País – é se deseja continuar governando como um presidente de nicho ou, como esperamos, assumir como o presidente de toda a Nação, adotando um tom conciliador.
Desde sua posse, as faturas dos desacertos do governo de Jair Bolsonaro não param de chegar. A mais recente foi apresentada pelo Ibope na quarta-feira passada. Uma nova pesquisa, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), revelou que a insatisfação da população com o governo federal subiu de 27% em abril para 32% em junho, o maior índice negativo do governo Bolsonaro nesses seis meses de mandato.
Quando questionados pelo Ibope “O (a) sr. (a) aprova ou desaprova a maneira como o presidente Jair Bolsonaro está governando o Brasil?”, 48% responderam que desaprovam. Em janeiro, este porcentual era de 21%. Os que aprovam o governo somam 46%, uma expressiva queda em relação aos 67% colhidos no início do ano.
No entanto, o que mais salta aos olhos no resultado da nova pesquisa Ibope/CNI é o índice de confiança no presidente Jair Bolsonaro. O porcentual de brasileiros que confiam no presidente vem caindo drasticamente entre janeiro e junho. No início do mandato, 62% dos pesquisados pelo Ibope disseram confiar no presidente. Em fevereiro, o número caiu para 55%. Em março, para 49%. Em abril, houve uma pequena melhora para 51%. Em junho, nova queda, atingindo 46%, o menor patamar de confiança pessoal no presidente até aqui. A curva dos que não confiam em Jair Bolsonaro percorreu a direção contrária, ou seja, só fez subir de janeiro até junho, de 30% para 51%. O resultado não é alvissareiro para um presidente que exerce liderança baseado primordialmente em seu apelo popular.
O chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, preferiu ironizar a pesquisa. “Pelos números do Ibope, o presidente jamais seria Bolsonaro.” A atitude do ministro era previsível dado o comportamento de membros do governo adotado após a apresentação dos resultados anteriores. Ainda assim, não se trata de uma análise precisa porque o Ibope não se furtou a registrar o avanço do então candidato Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto no decorrer da campanha.
Seria muito melhor para o governo e para o País que o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe recebessem os resultados dessa pesquisa, e de outras que lhes sobrevierem, com humildade e espírito público. A mesma sociedade que o elegeu, e que agora aponta seu desconforto, deseja que, ao fim e ao cabo, seu governo seja virtuoso para o País. Há, decerto, quem torça contra o sucesso do governo apenas por fazer parte do espectro político-ideológico diferente do que chegou ao poder. Mas não é a maioria da população que pensa assim. Há muitos eleitores e não eleitores de Jair Bolsonaro insatisfeitos com os rumos do governo. A pesquisa captura este sentimento. Que o presidente olhe para eles.
27 de junho de 2019 | 03h00
Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), calculam já ter o número suficiente de votos para aprovar a reforma da Previdência. “A Câmara já tem os 308 votos. No Senado, tem ampla maioria”, disse Alcolumbre na segunda-feira passada. É a primeira vez que os dirigentes do Congresso afirmam em público que a reforma já conta com o apoio necessário por parte dos parlamentares.
Consolida-se assim o cenário em que a maioria dos parlamentares parece realmente convencida da premência da reforma da Previdência, restando agora detalhar seu formato. Trata-se de um avanço notável, especialmente porque até pouco tempo atrás a reforma era um tema considerado tabu no Congresso. Aparentemente deixou de ser, o que denota maturidade.
Em sessão de debates na Câmara com o relator da reforma, deputado Sandro Moreira (PSDB-SP), a deputada voltou a dizer que o projeto de saneamento do sistema de aposentadorias vai prejudicar os brasileiros mais pobres; que a Previdência é tratada como a “vilã” das contas do Estado enquanto o verdadeiro problema fiscal do Brasil é o pagamento dos juros de sua dívida; que a expectativa de vida em regiões pobres é baixa e, por isso, a aposentadoria é inalcançável para muitos moradores dessas áreas; e, por fim, que a Previdência não é deficitária. “Essa reforma não é bem-vinda. Ela só prejudica o povo, os trabalhadores. Nós, da oposição, vamos trabalhar de fato para derrotar essa reforma”, disse a deputada Jandira.
Felizmente, a julgar pela contabilidade da liderança do Congresso, que atesta o apoio à reforma, essa série de falsidades e exageros sobre a reforma da Previdência já não tem o mesmo apelo entre os parlamentares. A esta altura, parece ter ficado claro que, ao contrário do que disse a líder da Minoria e do que sustentam os chefes das corporações de funcionários públicos e de sindicatos, a reforma não prejudicará os mais pobres, a maioria dos quais hoje precisa trabalhar até os 65 anos para se aposentar, enquanto os privilegiados do serviço público, estes sim os principais atingidos, podem se aposentar antes dos 60 anos. Também não é verdade que a Previdência é tratada como “vilã” das contas do Estado enquanto se beneficiam os credores da dívida brasileira; o vilão incontestável é o crescimento exponencial do rombo no pagamento de aposentadorias, que consome hoje a maior parte do Orçamento federal, ajudou a quebrar Estados e municípios e, salvo alguma mágica típica dos demagogos, só pode ser contido por meio da reforma.
Já a confusão deliberada entre expectativa de vida ao nascer e expectativa de vida depois dos 65 anos, indicadores muito diferentes, se presta somente a enganar os desinformados. Aqui também os pobres são usados como mero pretexto pelos inimigos da reforma para manter suas sinecuras. Por fim, a reiteração da empulhação segundo a qual não há déficit da Previdência só prova o caráter degenerado desse movimento que agride a aritmética para sustentar seus argumentos contra a reforma.
Ao mesmo tempo que a fragilidade dos argumentos da oposição fica mais evidente, diminui o tradicional receio dos parlamentares de enfrentar um tema que desde sempre é impopular – mas que hoje, conforme as pesquisas de opinião, parece sofrer resistência cada vez menor por parte do eleitorado. Cresce a percepção de que, por mais difícil que possa ser o adiamento da aposentadoria ou a redução de algum benefício, a reforma é necessária para começar a tirar o País do buraco. E é preciso preparar a opinião pública para o fato de que a reforma, com tudo isso, é apenas o começo.
26 de junho de 2019 | 03h00
O presidente Jair Bolsonaro vem reiteradas vezes criticando a parte do novo marco jurídico das agências reguladoras, recentemente aprovado pelo Congresso, que trata da indicação dos dirigentes daqueles órgãos. Em sua mais recente manifestação a respeito, Bolsonaro informou que vetará o trecho que estabelece que o nome do dirigente será escolhido a partir de uma lista tríplice, elaborada por uma comissão de seleção pública, que avaliará os candidatos. “A decisão até o momento para indicar o presidente das agências é minha. A partir desse projeto, (haverá) uma lista tríplice feita por eles (o Congresso). Então, essa parte será vetada”, explicou o presidente, revelando desconhecer o teor do que foi aprovado.
Ou seja, a palavra do presidente da República é decisiva em todas as etapas do processo de preenchimento de vagas de direção nas agências reguladoras. Não há nada parecido com usurpação de prerrogativas, como Bolsonaro dá a entender – o presidente chegou a dizer que o Congresso quer transformá-lo em uma “rainha da Inglaterra”, isto é, num chefe de Estado sem poder para governar. Mesmo depois de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ter esclarecido que “o presidente não perde prerrogativa alguma” – algo que poderia ter sido verificado por meio de uma simples leitura do projeto aprovado –, o Palácio do Planalto manteve a interpretação de que o presidente Bolsonaro estava sendo preterido.
Ora, a função das agências reguladoras, como órgãos de Estado, não é alinhar-se ao governo – o projeto aprovado prevê, justamente por isso, que os mandatos dos dirigentes não sejam coincidentes com o do presidente da República. Mas o atual presidente não concorda com isso. Nesse ponto, parece disposto a agir como o ex-presidente e hoje presidiário Lula da Silva, que, quando esteve no poder, tudo fez para minar a independência das agências reguladoras.
Durante a era lulopetista, as agências sofreram forte processo de desmoralização, exatamente sob o argumento, hoje usado por Bolsonaro, de que esses órgãos representavam uma usurpação de poderes do Executivo. Foi assim, sempre em nome do “interesse público” – expressão usada agora pelo porta-voz do presidente para justificar a atitude de Bolsonaro –, que algumas das agências deixaram de cumprir sua importante função, transformando-se em meros cabides de emprego.
N. da R. – Este editorial já estava na página quando foi anunciado o veto do presidente da República.
24 de junho de 2019 | 03h00
A constatação de que em quase um quarto dos domicílios não há nenhum morador com renda gerada pelo trabalho mostra uma nova dimensão da tragédia social que a persistência da crise econômica torna cada dia mais dramática. Com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constataram que a proporção de domicílios sem renda do trabalho, que já era alta, está crescendo. Passou de 19% do total no início de 2014 para 22,2% no último trimestre de 2018 e 22,7% no primeiro trimestre deste ano.
Para boa parte das pessoas que não têm ocupação adequada, o futuro próximo não é animador, pois as previsões mais otimistas são de que o mercado só começará a melhorar no ano que vem – se tudo caminhar bem.
“A crise bateu muito forte no mercado de trabalho e mais forte no trabalhador menos escolarizado, com emprego de pior qualidade, e é esse trabalhador que tem sofrido mais com a crise”, disse ao Estado a economista Maria Andreia Parente Lameiras, umas das responsáveis pelo estudo sobre mercado de trabalho publicado na mais recente edição da revista Carta de Conjuntura editada pelo Ipea. Os menos preparados são, de fato, os mais vulneráveis, mas a crise atinge todos os tipos de trabalhadores.
Outra constatação do Ipea é a de que o tempo em que se fica desempregado está aumentando. Desagregando os dados da Pnad Contínua aferida mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os economistas do Ipea constataram que é crescente o número de pessoas que estão desempregadas há mais de dois anos. No primeiro trimestre de 2015, 17,4% dos desempregados estavam nessa situação há mais de dois anos; neste ano, a proporção subiu para 24,8%, ou praticamente um quarto dos desempregados. Isso significa que 3,3 milhões de trabalhadores estão há pelo menos dois anos à procura de uma ocupação remunerada. Esse número é 42,4% maior do que o de dois anos antes.
Outros milhões de trabalhadores deixaram de procurar um emprego que tentaram encontrar durante muito tempo e passaram a integrar o grupo de desalentados. Esse grupo é formado por pessoas que não procuraram emprego no período de referência da pesquisa por se considerar muito jovem, muito idoso ou pouco experiente, ou por acreditar que não encontraria oportunidade de trabalho. No primeiro trimestre deste ano, segundo o IBGE, o contingente de desalentados era formado por 4,8 milhões de pessoas.
“O mercado de trabalho é o pior retrato da crise econômica pela qual o Brasil está passando”, segundo Andrea Lameiras. “Estamos saindo da crise, mas muito lentamente, e o mercado de trabalho reage depois da economia como um todo.” Ou seja, quando a produção, o consumo e os investimentos voltam a crescer, o mercado do trabalho ainda leva um tempo para melhorar.
Mas não há ainda sinais claros de que a economia esteja se recuperando nem de que a questão esteja entre as preocupações prioritárias do governo. A atividade econômica continua muito baixa, menos intensa do que a observada nos dois últimos anos – quando o crescimento foi pífio –, o que torna mais distante a retomada do emprego.
22 de junho de 2019 | 04h36
O favoritismo da França só não é maior diante do Brasil, pelas oitavas de final da Copa do Mundo feminina de futebol, por causa de um fator que pode fazer a diferença: Marta, artilheira isolada na história do torneio entre as mulheres – e também se colocar os homens na conta. A brasileira já marcou 17 gols em 19 partidas que disputou e pode ajudar a seleção a avançar.
A França, que teve um aproveitamento de pontos perfeito na fase de grupos, entende que a seleção brasileira tem uma fragilidade defensiva, mas sabe que será difícil parar a jogadora que já foi eleita seis vezes a melhor do mundo. “Ela é simplesmente uma lenda. Em todos os lugares que jogou, foi bem-sucedida, e ainda é. Pode ser decisiva a qualquer momento”, diz a atacante Eugénie Le Sommer.
Nesta Copa do Mundo, Marta não atuou na primeira partida, pois ainda estava se recuperando de lesão. Era o confronto mais fácil, contra a Jamaica. Depois, esteve 45 minutos em campo diante da forte Austrália e contra a Itália, na última rodada, jogou por 84 minutos. A tendência é que diante da França, em mata-mata, ela possa atuar a partida inteira, e bem, até por já estar melhor fisicamente.
Marta pode até ampliar seu recorde de gols em Le Havre, mas também está promovendo um debate muito importante no meio esportivo, lutando contra o preconceito. Ao comentar sua expressiva marca, aproveitou para mandar um recado a todos. “Estou representando todas as mulheres. É um gol pela igualdade, pelo ‘empoderamento’ e respeito”, pregou.
20 de junho de 2019 | 04h30
As dificuldades encontradas pela seleção brasileira nos compromissos diante de Bolívia e Venezuela deixam o técnico Tite e o elenco diante de uma dúvida de difícil resposta. O desafio da equipe é entender como o País que costuma liderar as Eliminatórias e se classificar para as Copas do Mundo com bom aproveitamento, e antecedência, vê o desempenho cair tanto quando se trata de enfrentar os mesmos adversários, mas em disputa em outro formato, como é a Copa América.
A última vez que a seleção ganhou a competição foi em 2007. Desde então, sofre com um rendimento medíocre na competição. De lá para cá, a equipe entrou em campo 13 vezes por quatro edições diferentes (incluindo a atual) do torneio e venceu apenas 54% dos pontos disputados. Foram seis empates, cinco vitórias e duas derrotas.
O rendimento se opõe ao retrospecto positivo quando se trata de Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa. Desde a conquista da última Copa América, o Brasil disputou duas vezes o classificatório para o Mundial, edição 2010 e 2018, sempre com supremacia sobre os adversários do continente. Não disputou para 2014 porque era o país anfitrião do Mundial.
Tanto para a Copa da África do Sul quanto para a da Rússia, o Brasil terminou na liderança da longa caminhada de 18 jogos e de dois compromissos contra cada um dos rivais. O retrospecto ficou acima dos medianos 54% conquistados em edições de Copa América, com 63% de aproveitamento na campanha para o Mundial de 2010 e 76% na caminhada rumo à edição de 2018. Com Tite, o time chegou a vencer nove jogos seguidos.
O capitão Daniel Alves vivenciou todas essas campanhas nos seus 13 anos de seleção e admitiu ser difícil entender a diferença de comportamento. “Na Copa América a gente oscila muito. Nas Eliminatórias a gente consegue ter boas campanhas. Mas nós somos uma grande seleção. Podemos melhorar. Até porque somos uma das grandes nações do continente, como as próprias Eliminatórias mostram”, afirmou.
A vitória por 3 a 0 sobre a Bolívia com gols no segundo tempo e o empate em branco com a Venezuela colocaram Tite na inédita situação de sofrer contra países sul-americanos. O treinador conseguiu nas últimas Eliminatórias um desempenho quase perfeito diante dos vizinhos, com 89% de aproveitamento e nove vitórias.
Curiosamente, os antigos fregueses viram adversários temidos e até ameaçam uma participação mais efetiva do Brasil na Copa América em casa. Para Tite, a equipe tem sofrido na atual competição por causa do nervosismo. “Ficamos apressados demais, ansiosos demais. Isso fica traduzido nas jogadas em que você força e erra. As finalizações ficam imprecisas e o time passa a arriscar pouco.”
Nas últimas edições da Copa América, o Brasil se tornou coadjuvante. São três torneios seguidos sem ao menos ser semifinalista, enquanto países bem menos badalados, como os rivais de grupo Peru e Venezuela, conseguiram chegar entre os quatro primeiros colocados. Os peruanos ficaram em terceiro em 2011 e 2015 e os venezuelanos em quarto em 2011.
Robson Morelli, editor de Esportes
Tite precisa repensar sua forma de comandar a seleção. Ele está perdido, confuso e sem convicção do que deve e não deve fazer. Ninguém entende mais a forma como ele pensa o futebol. É extremamente preocupado em perder os jogos, em marcar os rivais fracos. Joga pelo emprego e ele não precisa disso. Está envolvido demais com sua patota. Há jogadores fora de posição. O meio de campo não existe. Falta armador. Falta inteligência ao time. As vaias nos jogos da Copa América precisam ser entendidas como desaprovação.
Raphael Ramos, chefe de reportagem de Esportes
O Brasil faz campanha decepcionante até aqui e, claro, Tite está no paredão. Enquanto isso, Philippe Coutinho, Firmino, Daniel Alves, David Neres e companhia parecem se esconder atrás do escudo criado pelo próprio treinador. Sem Neymar, chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor, como diriam Os Novos (e bons) Baianos. Os jogadores precisam assumir o protagonismo na seleção. Que a coragem de Everton Cebolinha contagie as estrelas da seleção. Tite tem culpa, mas não é o único responsável.
Almir Leite, editor assistente de Esportes
Uma das marcas de Tite é o conservadorismo. Ele, por exemplo, não costuma utilizar no jogo algo que não treinou. Mesmo que o que foi treinado não funcione. Mas às vezes é preciso sair da caixinha, pensar rápido, improvisar. Há jogos que precisam de ousadia, de apostar no imprevisto. É hora de Tite acrescentar repertório às suas convicções. E os jogadores têm de se “coçar”. Não justifica Coutinho jogar mal só porque foi bem marcado. Nem Daniel Alves não perceber que seus cruzamentos não dão em nada. Trata-se de seleção brasileira, não de time de Série C.
18 de junho de 2019 | 18h05
Com um gol histórico para Marta, agora a maior artilheira das Copas, com 17, a seleção brasileira se classificou nesta terça-feira às oitavas de final do Mundial da França. Em Valenciennes, a equipe derrotou a Itália por 1 a 0, assegurando o terceiro lugar do Grupo C, com seis pontos.
Nesta terça-feira, a seleção conseguiu superar ausências importantes, de Formiga, que estava suspensa, e de Andressa Alves, que está machucada e não poderá mais atuar no restante da competição, para obter o seu segundo triunfo no Mundial.
Eleita seis vezes a melhor do mundo, Marta voltou a colocar o seu nome na história do futebol ao chegar aos 17 gols em Copas, superando o alemão Klose, que fez 16, como maior artilheira da história das competições. E esse importante gol de pênalti foi o segundo dela nesta edição do torneio, sendo que ambos foram de pênalti e ela ficou fora da estreia diante da Jamaica por estar lesionada.
O outro jogo do Grupo C do Mundial também teve seu peso histórico, com os quatro gols marcados por Kerr nos 4 a 1 da Austrália sobre a Jamaica. Com esses resultados, os três primeiros colocados ficaram com seis pontos, sendo que a Itália ficou na frente pelo saldo de gols, com 5, contra 3 de Austrália, a vice-líder, e Brasil, que marcou menos vezes - 8 a 6 - do que a equipe da Oceania.
O JOGO - A iniciativa de jogo do Brasil no começo do duelo foi infrutífero para a seleção, que cedeu contra-ataques para a Itália, que aproveitou os espaços na direita por Letícia Santos para quase abrir o placar aos quatro minutos, com Bonansea, que finalizou para a defesa de Bárbara.
O lance expôs a desorganização defensiva da seleção, mas a atuação no ataque não era tão ruim. E em jogadas quase seguidas, teve três chances após cruzamentos. No mais bonito, aos 16, Debinha quase marcou de letra, não fosse a defesa de Giuliani.
O problema era que o Brasil tinha dificuldades na criação, parando na forte marcação italiana e pouco acionando Cristiane. E ainda levava muitos sustos quando era atacada, com aos 23, em chute cruzado de Cernoia. E também aos 39, em contra-ataque que Bonansea parou na boa defesa de Bárbara.
O Brasil voltou bem melhor para o segundo tempo. Embora Marta tenha sido pouco participativa e a defesa tenha errado em algumas saídas de jogo, a seleção dominou a etapa final diante de um adversário que mal conseguia atacar. Assim, quase abriu o placar aos seis minutos, com Andressinha, que acertou o travessão em cobrança de falta. Logo depois, aos dez, em nova jogada de bola parada, Kathellen quase marcou em cabeceio.
A pressão, aos poucos, parecia arrefecer, embora o Brasil continuasse tendo uma atuação segura. A saída de Cristiane parecia diminuir o poder de fogo da seleção, mas o contrário aconteceu, tanto que a sua substituta, Bia Zaneratto quase marcou de calcanhar em sua primeira participação, aos 19 minutos.
E o gol sairia aos 28, após jogada individual de Debinha, que arrancou até a área, onde a arbitragem entendeu que ela foi derrubada por Linari. Pênalti que foi convertido por Marta. Assim, ela chegou aos 17 gols na história das Copas, se tornando a maior artilharia da história do torneio.
Só depois do gol de Marta que a Itália buscou o ataque na etapa final. Mas não chegou a ameaçar a meta defendida por Bárbara, a não ser por um chute prensado no lance final. Assim, a seleção brasileira conseguiu assegurar sua segunda vitória no Mundial e avançou às oitavas de final com uma marca histórica da sua craque.
17 de junho de 2019 | 03h00
A verdade, portanto, vem perdendo importância até para quem vive dela. Um exemplo é a imprensa, que não raro repercute de maneira irrefletida os debates produzidos a partir de informações distorcidas ou simplesmente falsas. É natural que, algumas vezes, as publicações, no afã de registrar tudo o que pareça ter caráter noticioso, acabem por dar guarida a versões dos fatos que, com o tempo, se provam mentirosas.
O que tem acontecido, porém, é que os fatos se tornaram quase irreconhecíveis ante as certezas ideológicas alimentadas pela acachapante onipresença das redes sociais na vida de quase todos os brasileiros. Num cenário desses, todo aquele que ousar questionar as convicções cristalizadas de parte a parte, mesmo munido de fatos incontestáveis e de argumentos racionais – ou até por causa disso –, será tratado como um ser exótico, uma espécie de rebelde deslocado no mundo dos que, orgulhosamente, se julgam do “lado certo”.
Assim, a influência das redes sociais, que é inegavelmente grande, tornou-se uma explicação mágica para tudo – e para muita gente supostamente bem pensante nada do que acontece fora delas parece ter valor. Baseando-se mais em palpite do que em elementos concretos, muitos atribuem, por exemplo, a surpreendente eleição do presidente Jair Bolsonaro ao seu domínio dessas redes, nas quais teria construído sua candidatura muito antes de a campanha começar. Também se creditam às redes sociais as mobilizações contra o governo da presidente Dilma Rousseff, que acabaram resultando em seu impeachment. Com toda essa suposta capacidade, quase sobrenatural, de entronizar e decapitar reis, as redes sociais tornaram-se uma espécie de fetiche dos formadores de opinião, que há algum tempo veem nelas a grande arena onde se disputa o poder de determinar o que é a verdade.
As redes sociais, até onde é possível concluir, são o lugar onde narrativas se chocam não em busca do esclarecimento, como acontece em sociedades maduras, mas para fazer triunfar a mistificação que favoreça este ou aquele ponto de vista, e onde o consenso só ocorre entre os que já estão de acordo entre si, por razões ideológicas.
É claro que nada do que deriva desse ambiente de franca hostilidade pode ser tomado como base para orientar políticas públicas e muito menos para consolidar as opiniões a partir das quais a sociedade se posiciona acerca dos grandes problemas nacionais. Ao contrário, o debate nacional naturalmente descamba para o terreno da ficção, quando não para o da mais vulgar briga de rua, na qual tem razão aquele que termina a refrega em pé.
No livro O Jornalismo como Gênero Literário, Alceu Amoroso Lima diz que o jornalismo, sempre que “envenena a opinião pública, fanatiza-a ou a informa mal, está falhando à sua finalidade”. O autor, que escreveu em 1958, decerto não imaginava a revolução da comunicação digital que ora se atravessa, mas o princípio ali exposto está mais atual do que nunca.
O jornalismo que se deixa submeter à balbúrdia irracional das redes sociais não cumpre sua função, que é a de dar aos cidadãos condições de refletir de maneira efetiva sobre o mundo que os cerca e sobre os problemas que os afetam. Ao contrário, os formadores de opinião que tomam como legítima e digna de consideração a gritaria dos fanáticos, conferindo-lhe ares de autenticidade, estimulam a consolidação do facciosismo que, no limite, inviabiliza os consensos, sem os quais a democracia simplesmente não se realiza.
15 de junho de 2019 | 03h00
De mal a pior, a economia brasileira continua perdendo vigor, segundo cada novo informe – de fontes oficiais ou do mercado. Diminui dia a dia a esperança de um segundo trimestre melhor que o primeiro, quando a produção encolheu 0,2% e o desemprego se manteve próximo de 13% da força de trabalho. A última notícia ruim é o recuo, o terceiro neste ano, do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Em abril, esse indicador caiu 0,47% em relação ao nível de março e 0,62% na comparação com o valor de um ano antes. Famílias com orçamento apertado e muito cautelosas continuam segurando os gastos. Empresários inseguros evitam formar estoques e contratar, à espera de alguma iniciativa animadora do governo.
Publicado mensalmente, o IBC-Br é valorizado como antecipação de tendência do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números normalmente divergem, porque o BC trabalha com menos informações que as utilizadas pelo IBGE. Mas, de modo geral, pode-se confiar na indicação de tendência, como fazem os analistas do setor financeiro e das principais consultorias. No caso do IBC-Br de abril, a mensagem é claramente negativa e compatível com a maior parte dos dados parciais, quase todos muito ruins, conhecidos até agora.
As medições de períodos mais longos são especialmente preocupantes, porque confirmam perda de impulso da economia depois da breve recuperação iniciada em 2017. O PIB cresceu 1,1% nesse ano e também no seguinte, mal começando a sair do atoleiro. Em 2015 e 2016 a perda acumulada havia sido de cerca de 7%.
Sem o vigor inicial da retomada, nem um crescimento igual ou pouco superior a 1% parece agora assegurado. No mercado, já se estimam números abaixo de 1% para a expansão econômica em 2019. Os últimos dados da produção industrial, do consumo das famílias e da prestação de serviços são apontados por analistas como fortes motivos para a continuada piora das expectativas.
O crescimento fica reduzido a 0,06%, uma taxa quase nula, quando se comparam os primeiros quatro meses deste ano com os de 2018, segundo as contas do BC. Quando se confrontam os números acumulados em 12 meses, a expansão da atividade fica em 0,72%, abaixo, portanto, do alarmante nível de 1%. Nesta altura, até um crescimento do PIB igual à modestíssima taxa de 1,1%, observada em cada um dos dois anos anteriores, já parece uma hipótese irrealista.
No mercado financeiro, os números muito ruins de abril motivaram novas conversas sobre um próximo corte dos juros básicos pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do BC. Esse tipo de conversa tem aparecido com frequência nos últimos meses, como reação à piora dos indicadores econômicos. Dirigentes do BC têm mostrado pouca disposição de mexer na taxa básica nos próximos meses. Além disso, juros mais baixos seriam provavelmente pouco eficientes, antes de sinais claros de reativação dos negócios. Essa reativação virá mais facilmente de recursos liberados para consumo ou de novos investimentos deflagrados pelo governo, por meio de parcerias com capital privado em obras de infraestrutura.
Para isso a equipe econômica terá de se mostrar mais preocupada com o desemprego e a estagnação. Quanto ao presidente Bolsonaro, parece, como sempre, bem pouco interessado nesse tipo de assunto.
13 de junho de 2019 | 03h00
Ressabiado, o brasileiro evita meter a mão no bolso e o consumo em queda é mais uma confirmação da piora da economia nos primeiros meses do novo governo. Depois de uma queda no primeiro trimestre, a atividade continua emperrada e já se fala, no mercado, em rever para baixo as estimativas para o período de abril a junho. As projeções de crescimento econômico em 2019 continuam caindo e já chegaram ao mísero nível de 1%. Essa é a mediana das previsões coletadas pelo Banco Central (BC) em sua última consulta a cerca de cem instituições financeiras e a consultorias. Os mais novos números do varejo combinam muito bem com esse quadro. Em abril, o volume de vendas de bens de consumo não duráveis e semiduráveis, como comida, remédios e roupas, foi 0,6% menor que em março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A média móvel trimestral ficou 0,2% abaixo do nível do ano anterior e, mais importante, a maior parte do comércio varejista continua em patamar próximo ao do fim do ano, quando o quadro já era ruim.
O conjunto parece ficar um pouco menos feio quando se acrescentam as vendas de veículos, partes e peças, com alta de 0,2% no mês, e também de material de construção, com aumento de 1,4% sobre março. Acrescidos esses dois itens, a variação mensal do chamado varejo ampliado em relação ao total de março fica nula. Zero pode ser melhor que -0,6%, mas só uma extraordinária boa disposição extrairia dessa diferença algum entusiasmo.
“O varejo recua após dois meses de estabilidade, e só essa observação já mostra a perda de ritmo em 2019”, comentou a gerente da Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, Isabella Nunes. Com a ampla capacidade ociosa das empresas, o desemprego muito alto e a geração de empregos quase restrita à informalidade, a massa de rendimentos permanece insuficiente para animar o consumo, observou a economista. A maior parte das famílias dificilmente se dispõe a comprar mais que o essencial.
O baixo movimento da maior parte do varejo se reflete na estagnação da indústria. Em abril, a produção de bens de consumo semiduráveis e não duráveis foi 2,6% maior que a de março, mas 0,7% menor que a de um ano antes. Em 12 meses, a produção desses itens diminuiu 1,4%, como já havia informado o IBGE.
Desemprego elevado, baixo consumo e estagnação industrial formam um círculo vicioso, com realimentação contínua de um dado negativo para outro. Dificilmente o investimento privado quebrará essa sequência, porque a ociosidade do parque produtivo é muito ampla. A ruptura virá mais provavelmente de um incentivo ao consumo das famílias, de um investimento maior ligado ao setor público ou de uma combinação dos dois.
Mas o governo do presidente Jair Bolsonaro tem condicionado qualquer novo estímulo à aprovação da reforma da Previdência. Até lá, a economia se arrastará e o desemprego assombrará as famílias. Tem sentido prolongar esse drama?
12 de junho de 2019 | 03h00
Quando – e se – deixarmos de ser uma sociedade carente de heróis e nos tornarmos uma sociedade devotada às leis, à Constituição e aos primados do Estado Democrático de Direito, o País terá dado um dos mais significativos saltos civilizatórios de sua história.
As reações à divulgação do conteúdo de conversas atribuídas a integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato e a Sergio Moro, havidas quando o atual ministro da Justiça era o juiz responsável pelos processos relativos à operação na primeira instância, revelam que ainda transcorrerá muito tempo até que aquele virtuoso salto seja dado. A dicotomia “heróis x vilões” vicia o debate público.
Nas sociedades civilizadas, o mínimo denominador comum em debates desse tipo são precisamente os fatos, as leis, a Constituição. Não se quer afirmar com isso que, no caso concreto envolvendo a troca de mensagens entre o ex-juiz e ministro da Justiça e um procurador da República, tenha havido ilegalidades. Por ora, pode-se dizer que as conversas foram, no mínimo, inapropriadas para as posições públicas que os interlocutores ocupavam.
Em geral, tal dissociação objetiva – a saber, entre pessoas e suas funções públicas, cuja atuação há de ser delimitada pela lei – não é feita porque viceja nesta porção de mundo um tipo de culto à personalidade. E, em alguns casos, personalidades pairam acima das leis ao sabor da paixão de seus seguidores. Isto pode funcionar muito bem no campo das artes e dos espetáculos, mas é desastroso para a vida política e institucional de um país.
Num país que se pretende sério, não há lugar para “super-heróis”, “salvadores da pátria”, “mitos”, “pais” e “mães da Pátria”. A vida política e institucional republicana, como aquela que todos os que não têm o pensamento aprisionado desejam para o Brasil, não há de ser construída por heróis, por salvadores da pátria. Ela é feita de homens e mulheres imbuídos de elevado espírito público que veem em seu serviço uma parcela de contribuição para o crescimento do País. O fato de haver parcela expressiva da sociedade que põe presidentes da República acima das leis ou classifique como “heróis” servidores que se sobressaem no cumprimento de suas obrigações institucionais diz sobre o nosso grau de amadurecimento político.
São claros os avanços trazidos pela Operação Lava Jato ao combate à corrupção e, principalmente, ao resgate da confiança dos brasileiros no primado democrático da igualdade de todos perante a lei. Os benfazejos resultados do trabalho de membros da força-tarefa, no entanto, não os colocam acima das mesmas leis que devem fazer cumprir.
Compreende-se que, diante de uma longa história de leniência no combate à corrupção e da impunidade crônica que marcou a resposta do Estado aos crimes cometidos por poderosos, políticos ou econômicos, a coragem dos que ousaram romper o status quo foi premiada com a admiração e o respeito da sociedade. Mas isto nem de longe autoriza quem quer que seja a se desviar das leis e da Constituição para dar andamento a seus desígnios, por mais virtuosos que sejam.
A primazia das regras que pautam um Estado Democrático de Direito não é um luxo, é um imperativo para que o País construa no presente o futuro que deseja viver.
Após marcar os três gols da vitória do Brasil sobre a Jamaica, na estreia no Mundial da França, a atacante Cristiane destacou a confiança que o triunfo traz para o restante da competição e disse que está feliz por ter sido eleita pelos torcedores como a melhor jogadora da partida.
Na coletiva pós-jogo, a atacante falou mais sobre sua atuação e como ela traz confiança para a seleção após a sequência de nove derrotas consecutivas antes do Mundial. "Sem dúvida, a confiança é muito grande, deixamos bem claro que o passado ficou atrás. Sabemos dos erros que cometemos, não somos bobas de esconder o que aconteceu", pontuou a jogadora do São Paulo. "Tem que ficar esperto, não dá para bobear. Na Copa do Mundo, é um jogo diferente do outro."
E Cristiane fez essa ótima estreia depois de ter passado por momentos difíceis em sua carreira -- ela chegou a enfrentar até uma depressão depois de se lesionar durante os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016.
"Era uma dúvida também se eu conseguiria me recuperar para a Copa do Mundo. Acho que é uma vitória pessoal muito grande, por tudo que passei. Estou explodindo de felicidade. Hoje foi o momento da volta por cima. Poder ajudar as meninas é o mais importante", comemorou a jogadora de 34 anos, que participa do seu sexto Mundial.
A atacante Andressa Alves destacou a declaração de Cristiane, ressaltando a importância da liderança da artilheira e agradecendo o apoio recebido após perder um pênalti no primeiro tempo. "(Ela disse) para eu não desanimar. Na jogada do outro gol dela, eu cruzei e ela acabou marcando. Fiquei muito chateada, sou a batedora oficial. Nos treinos estava dando tudo certo, mas acabei errando", afirmou a jogadora. "Ela falou: 'Vamos continuar, a gente precisa de você'. Acabou que deu tudo certo, ainda bem que ela fez os três gols e não precisamos do pênalti."
Andressa também ressaltou a importância de conseguir uma vitória boa antes de uma partida complicada, contra a forte seleção da Austrália. "Com certeza, depois da sequência ruim, ganhar jogando bem dá uma confiança muito importante. Contra a Austrália vai ser complicado, o jogo da classificação", completou a jogadora do Barcelona.
A goleira Bárbara foi outra que exaltou o peso do triunfo sobre as jamaicanas. "Essa vitória foi primordial para a gente, até mesmo para dar um ânimo, levantar a nossa confiança. Trabalhamos bastante nesse período de preparação para a Copa (do Mundo), e foi primordial para que a gente chegasse aqui e conseguisse executar tudo o que a gente treinou", disse a atleta.
O Brasil entra em campo novamente pelo Mundial na próxima quinta-feira, 13, às 13h, contra a Austrália, em jogo que pode garantir a classificação antecipada para a fase eliminatória.
07 de junho de 2019 | 22h55
O Vasco enfim desencantou sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. O clube carioca conquistou a primeira vitória no Campeonato Brasileiro ao derrotar o Internacional pelo placar de 2 a 1, em partida realizada na noite desta sexta-feira, no Estádio São Januário, na abertura da oitava rodada.
Apesar da vitória, o Vasco continua na zona de rebaixamento, com seis pontos, mas deixou provisoriamente a lanterna. O Inter, por outro lado, perdeu a oportunidade de entrar no G-4 e se aproximar do líder Palmeiras. O time gaúcho ficou estacionado com 13 pontos.
O Vasco fez um grande primeiro tempo. Com a exceção do gol perdido dentro da área por Uendel, logo no início de jogo, o time carioca dominou do início ao fim e criou as melhores oportunidades. Em um arremate de longe de Rossi, Marcelo Lomba fez grande defesa.
A equipe comandada por Vanderlei Luxemburgo ainda desperdiçou grande chance com Tiago Reis. O atacante recebeu livre de Rossi, mas cabeceou para fora. A bola foi entrar apenas aos 43 minutos. Andrey aproveitou a sobra na entrada da área e pegou de primeira para inaugurar o marcador.
O segundo saiu quatro minutos depois. Após cobrança de falta de Danilo Barcelos, a bola voltou na cabeça de Tiago Reis. Ele só teve o trabalho de empurrar para o gol, tirando qualquer possibilidade do Inter reagir ainda na etapa inicial.
Mas, no segundo tempo, a equipe gaúcha apertou o passo e precisou de apenas dez minutos para diminuir. Nico López fez grande jogada e cruzou para Victor Cuesta. O zagueiro não alcançou e viu a bola ficar com Emerson Santos. O defensor acertou belo chute cruzado para diminuir em São Januário.
Após o gol, o Inter saiu para o abafa em cima do Vasco. Jonatan Alvez chegou a marcar, mas o árbitro anulou, pegando impedimento do atleta. Nonato e Patrick também perderam boas oportunidades de empatar.
O final do jogo foi de ataque contra defesa. O Vasco se colocou com os 11 homens atrás do meio de campo e conseguiu segurar a equipe do Inter para conquistar sua primeira vitória no Brasileirão.
Antes da parada da Copa América, o Inter enfrenta o Bahia na quarta-feira, às 21h30, no Estádio Beira Rio, em Porto Alegre (RS). No dia seguinte, o Vasco recebe o Ceará, às 19h15, em São Januário, no Rio de Janeiro (RJ).
FICHA TÉCNICA:
VASCO 2 x 1 INTERNACIONAL
VASCO - Fernando Miguel; Yago Pikachu, Oswaldo Henríquez, Ricardo Graça e Danilo Barcelos; Andrey (Fellipe Bastos), Raul e Marcos Júnior; Tiago Reis (Jairinho), Marrony e Rossi (Bruno César). Técnico: Vanderlei Luxemburgo.
INTERNACIONAL - Marcelo Lomba; Zeca, Emerson Santos, Victor Cuesta e Uendel; Rodrigo Lindoso, Edenilson (Patrick) e Nonato; Nico López (Sarrafiore), Rafael Sobis e Guilherme Parede (Jonatan Álvez). Técnico: Odair Hellmann.
GOLS - Andrey, aos 43, e Tiago Reis, aos 47 minutos do primeiro tempo.
CARTÕES AMARELOS - Rafael Sóbis e Emerson Santos (Internacional).
ÁRBITRO - Heber Roberto Lopes (SC).
RENDA - R$ 222.185,00.
PÚBLICO - 10.652 pagantes.
LOCAL - Estádio São Januário, no Rio de Janeiro (RJ).
06 de junho de 2019 | 02h27
Atualizado 06 de junho de 2019 | 06h20
BRASÍLIA - A Confederação Brasileira de Futebol informou na madrugada desta quinta-feira, 6, que o atacante Neymar Jr. está fora da Copa América. Ele foi desconvocado por causa da lesão no jogo amistoso contra o Catar, vencido por 2 a 0 pelo Brasil. O substituto ainda será escolhido pela comissão técnica.
"Diante da gravidade da lesão, Neymar não terá condições físicas e tempo de recuperação suficiente para participar da Copa América Brasil 2019", diz a nota oficial da CBF.
A Confederação Brasileira de Futebol ainda não divulgou um boletim médico completo, com detalhes sobre a extensão da lesão e os exames realizados no hospital Home, credenciado pela Fifa.
Neymar foi levado à clínica em uma van preta da empresa que prestou serviços de transporte ao jogo, não em ambulância. A mesma van o transportou de volta ao B Hotel, onde a seleção se concentrou, com vista para o Estádio Nacional Mané Garrincha.
No hospital, Neymar recebeu uma visita do presidente da República, Jair Bolsonaro, a quem já declarou apoio. A comitiva presidencial foi ao encontro do jogador logo após o término da partida. Neymar posou para uma foto de pé e sorrindo, ao lado de Bolsonaro.
"Desejo uma boa e rápida recuperação", escreveu no Twitter o presidente, que havia declarado "acreditar" na versão do jogador sobre a acusação de estupro investigada pela polícia. Bolsonaro pretendia se encontrar com o atacante antes da partida, mas não conseguiu.
A seleção brasileira tem programação para deixar Brasília na tarde desta quinta-feira, com destino a Porto Alegre, onde enfrenta Honduras domingo, no Estádio Beira Rio.
05 de junho de 2019 | 03h00
O governo do presidente Jair Bolsonaro fez política e conseguiu aprovar no Senado a Medida Provisória (MP) 871, que determina uma auditoria nos benefícios pagos pelo INSS e modifica as regras de concessão de aposentadorias rurais, entre outras mudanças.
O esforço surtiu resultado. O placar da votação, 55 votos a favor e 12 contrários, surpreende por ser acima do quórum qualificado de 49 votos – 3/5 dos senadores – e por ter sido obtido numa segunda-feira, dia em que normalmente não há sessão plenária e tampouco este número de senadores na capital. O texto agora segue para sanção do presidente Jair Bolsonaro.
De fato, a MP convertida em lei introduz uma série de regras saneadoras no processo de concessão dos benefícios previdenciários. As três mais importantes são a suspensão preventiva de benefícios, que permite ao INSS interromper o pagamento de pensões e aposentadorias suspeitas de irregularidade até que o beneficiário apresente defesa; a auditoria nos benefícios concedidos por incapacidade que estão sem perícia há mais de seis meses e nos Benefícios de Prestação Continuada (BPC) sem avaliação há mais de dois anos; e a criação de um cadastro de segurados especiais por meio do qual será feito o registro do tempo de trabalho rural sem contribuição, dispensando-se a participação dos sindicatos neste processo.
A aprovação do cadastro especial de segurados rurais e pescadores foi possível graças à negociação entre a equipe econômica do governo e senadores da oposição. Para garantir o quórum necessário, este grupo pediu em troca que o governo inclua uma emenda no projeto de reforma da Previdência a fim de instituir um gatilho para renovar o prazo de cadastramento daqueles beneficiários de acordo com o novo modelo caso, ao fim de 2023, 50% desses profissionais ainda não estejam registrados.
Até agora, o registro do tempo de serviço dos profissionais do campo e pescadores era feito por meio de sindicatos, dando azo a grande descontrole e fraude. A partir da aprovação da MP, transfere-se a responsabilidade por essa contagem dos sindicatos para os técnicos do Ministério da Economia.
“O gatilho é bem-vindo e muito pertinente. É esse tipo de correção que nós (do governo) esperamos do Parlamento brasileiro”, disse, por sua vez, o secretário especial Rogério Marinho.
Embora tenha transcorrido sob desnecessária pressão sobre os senadores, dado o exíguo tempo que tiveram para deliberar sobre o texto antes que caducasse, a negociação política para a aprovação da MP 871 deve servir como exemplo para o presidente Jair Bolsonaro e tantos outros em seu entorno de que a boa política é mais do que possível – é imprescindível para que projetos de interesse do País sejam aprovados.
O Congresso Nacional não é um mero receptáculo dos projetos do Poder Executivo. É parte fundamental da teia de relações institucionais sadias que marcam uma democracia pujante. Desqualificar a política significa não ver na democracia a melhor forma de uma sociedade se organizar e definir seus rumos.
Não se tem notícia de trocas espúrias havidas entre os Poderes Executivo e Legislativo para que o texto da MP 871 fosse aprovado da forma como foi. Tudo se pautou por intensos diálogos e negociações, por convencimento. Em suma, por exercício da política. Da boa política. Assim deve ser numa democracia.
02 de junho de 2019 | 16h01
A atriz e roteirista Flora Diegues morreu na manhã deste domingo, 2, aos 34 anos. Ela lutava contra um câncer havia três anos.
Flora, filha do cineasta Cacá Diegues, atuou no filme mais recente de seu pai - O Grande Circo Místico, e em novelas como Questão de Família, Além do Tempo, que ela teve que deixar para operar um aneurisma de emergência, e Deus Salve o Rei.
01 de junho de 2019 | 03h00
Do mesmo modo como as manifestações da semana passada em favor da reforma da Previdência e de outras propostas do governo não podem ser confundidas com o golpismo explícito de uma minoria estridente, os protestos da quinta-feira passada contra os cortes na Educação não podem ser vistos como um movimento capitaneado pelos petistas que ali estiveram. Em ambos os casos, pessoas comuns, sem vinculação partidária ou sindical, exerceram seu legítimo direito de manifestação, sem incidentes e vandalismo, sintoma de uma democracia saudável.
Já o líder petista Rui Falcão celebrou a manifestação dos estudantes dizendo que “hoje é dia de Lula”, sem explicar exatamente o que os cortes na área de Educação têm a ver com o presidiário petista. Por fim, mas não menos significativo, o PT pegou carona nos protestos para lançar suas palavras de ordem contra a reforma da Previdência, numa descarada tentativa de sequestrar, para seus propósitos deletérios, o legítimo movimento dos estudantes e professores.
É óbvio que tal atitude provocará novas manifestações — tão óbvio que é natural presumir que seja exatamente isso o que o ministro Weintraub pretende.
Nesse ponto, portanto, os extremos se tocam e se alimentam reciprocamente. Para o PT, quanto mais o governo chamar para a briga, melhor, pois recoloca o partido em evidência depois das sovas eleitorais que sofreu em razão do profundo descrédito em que caiu, por ter sido o grande protagonista da crise política, econômica e moral que abalou o País; para o governo, ao que parece, quanto mais os petistas se assanharem, melhor, pois isso mantém vivo o inimigo criado para eleger o presidente Jair Bolsonaro, um político inexpressivo cuja única promessa concreta na campanha era encarnar com todas as suas forças o ódio contra o PT; ao mesmo tempo, e talvez isso seja o mais importante, o entrevero com os petistas ajuda a desviar a atenção da espantosa falta de talento de Bolsonaro para governar.
É evidente que ninguém ganha com isso, exceto os extremistas. O momento crítico que o Brasil vive demanda sobretudo serenidade e disposição para o diálogo. O País não pode se perder em disputas estéreis, estimuladas com o único propósito de causar confusão — hábitat natural dos demagogos em geral. É perda de tempo esperar que o PT se emende, pois esta é sua natureza; já do presidente da República e de seus ministros, se realmente estiverem interessados em um “pacto” republicano, espera-se que deixem de fomentar atritos inúteis, pois estes só se prestam a alimentar a polarização que tanto mal está fazendo ao País.
Cantor havia sofrido princípio de AVC e passado por exame de cateterismo
Agnaldo Timóteo, em junho de 2012, na Câmara Municipal de São Paulo. Foto: JF Diorio/AE
O cantor Agnaldo Timóteo, de 82 anos, apresentou piora em seu estado de saúde nesta segunda-feira, 28. Ele havia sofrido um princípio de acidente vascular cerebral (AVC) e passado por exame de cateterismo.
Segundo o boletim médico emitido pelo Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador, onde ele está internado, o cantor respira com ajuda de aparelhos e encontra-se instável.
"Familiares solicitam que todos os fãs mantenham vibrações positivas", diz a nota.
O centro médico informa que Timóteo já foi admitido na unidade com perfil naturalmente de alto risco, tendo em vista a idade dele e as doenças associadas.
O cantor deu entrada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Barreiras, interior da Bahia, no último dia 20 por volta das 16h. Na ocasião, ele estava com pressão alta, vômito e glicemia baixa.
O filho do artista, Márcio Timóteo, disse ao E+ que o músico havia sido diagnosticado com AVC. O problema de saúde fez com que Agnaldo Timóteo precisasse cancelar o show marcado para as 23h daquele dia, na cidade baiana Santa Rita de Cássia.
Dois dias depois, já no Hospital Geral Roberto Santos, o cantor passou por exame de cateterismo, que mediu sua pressão intracardíaca e o nível de saturação de oxigênio.
26 de maio de 2019 | 19h34
Milhares de manifestantes foram ontem às ruas de cidades brasileiras em apoio ao presidente Jair Bolsonaro e em defesa de temas como a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. As mobilizações mais significativas foram registradas em São Paulo e no Rio. A pauta dos atos foi marcada também por ataques ao Congresso, personificados no presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ao Supremo Tribunal Federal (STF). O atos foram classificados por Bolsonaro como espontâneos e como um “recado àqueles que teimam, com velhas práticas, não deixar que este povo se liberte”.
O Estado contabilizou registros de manifestações em pelo menos 154 cidades nos 26 Estados, além do Distrito Federal (foram convocados atos em cerca de 300 m.unicípios do País)
Na interpretação do Palácio do Planalto, o saldo foi positivo. Interlocutores do presidente avaliaram que, embora não tenham sido grandiosos, os eventos nas ruas não podem ser desconsiderados e mostraram que parte da população apoia a maneira como Bolsonaro tem conduzido sua relação com o Congresso.
Representantes do Parlamento, porém, reagiram às cenas nas quais Maia e o Centrão – grupo que tem em seu núcleo duro DEM, PP, PL (ex-PR), PRB e Solidariedade e reúne aproximadamente 200 deputados – aparecem como alvo. Parlamentares avaliaram que a hostilidade nas ruas acirra e isola ainda mais o governo no Congresso. Um dos principais nomes do Centrão, o líder do DEM, deputado Elmar Nascimento (BA), divulgou nota na qual condena o “radicalismo e a beligerância” e diz que “ninguém governa sozinho”.
Ao mesmo tempo, o Twitter do presidente divulgou três vídeos das manifestações: Em Juiz de Fora (MG), onde se ouve “o choro é livre, o Lula não”; em São Luís (MA), onde o locutor pede a CPI da Lava Toga; e no Rio, onde um grupo canta “a bandeira jamais será vermelha”.
Em Brasília, o ato começou por volta das 10h e, de acordo com estimativa da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), 20 mil pessoas estiveram na Esplanada dos Ministérios, que parecia vazia vista de cima. A maior concentração se deu no gramado em frente ao Congresso.
Membros do Legislativo, os parlamentares do chamado Centrão foram alvo de críticas na manifestação, que defendeu a aprovação de pautas encampadas pelo Executivo, como a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. "Centrão, fica aqui o aviso, se não tiver a nova Previdência, o negócio vai feder", disse um dos manifestantes ao microfone.
Dos trios, o nome do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, foi citado diversas vezes de forma negativa. Uma das faixas pedia #foraMaia e #foraSTF, Corte que também foi alvo de insatisfação durante o ato. Um grupo de pessoas em um dos trios elétricos se fantasiou de lagosta, em forma de protesto ao edital do STF que prevê refeições com lagosta e vinhos com premiação internacional.
Outro assunto bastante recorrente entre os manifestantes foi o pedido para que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) fique nas mãos de Moro. O ministério que irá coordenar as atividades do conselho será definido pelo Congresso, que vota a reforma administrativa do governo Bolsonaro. A Câmara já votou para que o Coaf fique com Ministério da Economia.
No Rio de Janeiro, o público que participou do ato em apoio ao governo de Jair Bolsonaro se distribui ao longo de 800 metros da avenida Atlântica, em Copacabana, zona sul da cidade, entre as ruas Sousa Lima e Constante Ramos. Embora as duas pistas tenham sido interditadas para o trânsito de carros, só foi ocupada a pista mais perto da praia. A Polícia Militar não divulga estimativa de público, e, como não há uma liderança única do ato, ninguém emitiu essa estimativa.
As bandeiras defendidas pelas manifestantes foram diversas e foram além do mote oficial dos atos de hoje, que eram a defesa da reforma da Previdência e do pacote anticrime do ministro Sérgio Moro. O bacharel Márcio Ávila, de 38 anos, exigiu o fim do exame nacional promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Já o militar Marcelo Forte, de 51 anos, levou faixas a Copacabana cobrando a renovação da frota de ônibus municipais de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense.
Também houve, no Rio, a presença de cartazes contrários a Rodrigo Maia e ao Supremo. Outros chegaram a sair em defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, que é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Uma faixa pedia ainda uma “intervenção militar agora” no País.
Em meio a críticas ao Congresso e ao STF, a imprensa também foi alvo de discursos em carros de som no ato de Belo Horizonte. Uma equipe da Rede Globo de Televisão chegou a ser expulsa por manifestantes da Praça da Liberdade, no centro da capital mineira.
Um repórter e um cinegrafista faziam cobertura do ato quando começaram a ser perseguidos e hostilizados com palavrões. Os dois andaram cerca de 400 metros até entrarem em um carro sem logomarca da rede de televisão.
Também houve, porém, quem saiu em defesa das bandeiras principais da manifestação. O analista de importação Natalino Nunes, de 48 anos, afirma que o pacote anticrime de Moro é a saída para o fim da criminalidade no País. "Como está fica difícil o governo proteger a sociedade. A gente está nas mãos dos bandidos. É preciso reduzir a criminalidade. Eu tenho uma moto. Quando a estaciono, fico preocupado, achando que vai ser roubada", diz.
Em Belém do Pará, os manifestantes começaram a se reunir por volta das 9 horas, na Escadinha do Cais do Porto, área turística da capital paraense. Sob sol forte, caminharam pelas duas principais avenidas da cidade, Presidente Vargas e Nazaré. No alto do trio elétrico, um cartaz exibia foto do ministro da Justiça, Sérgio Moro, com apoio ao pacote anticrime.
Vestidos de verde e amarelo, a maioria dos manifestantes optou por levar bandeiras para o ato. Nos poucos cartazes encontrados, havia mensagens de apoio à reforma da Previdência e críticas à imprensa. No trio elétrico, um locutor mandava recados para os políticos. “Coalizão quem faz somos nós. Bolsonaro está rompendo com o sistema e implantando nova forma de governar.”
No meio da passeata, um grupo de motoqueiros pedia que os manifestantes não falassem com a imprensa. Segundo ele, os jornalistas eram petistas infiltrados que estavam querendo que os apoiadores do presidente respondessem a questionários.
O ato foi encerrado, por volta de 12h, na avenida Doca de Souza Franco, área nobre da capital paraense. Antes da dispersão, os manifestantes cantaram o Hino Nacional e rezaram um Pai Nosso. Ao microfone, o locutor ainda fez uma última crítica à imprensa — que, segundo ele, tentaria esconder a “grandeza dos atos”. A saída, disse, era inundar as redes sociais com fotos e vídeos dos atos. “Você que trouxe seu celular, que fez vídeo, poste nas redes para mostrar a verdade”. A Polícia Militar do Pará informou que a manifestação reuniu cerca de 3 mil pessoas.
A manifestação em Salvador, capital baiana, ocupou a orla da Barra e pregou a importância dos atos como forma de fazer o Congresso “ouvir a voz do povo”. "Se Deus quiser, depois dessas manifestações eles entenderão o recado", disse a presidente do PSL na Bahia, Professora Dayane Pimentel, em cima do trio elétrico.
Não faltaram gritos de "Eu vim de graça", "Essa manifestação é espontânea" e críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao Partido dos trabalhadores e ao governador da Bahia, Rui Costa, que é do PT. A concentração começou por volta das 9h e às 10h30 os manifestantes saíram em caminhada até o Morro do Cristo, percorrendo cerca de 1 quilômetro. Eles levavam bandeiras do Brasil, faixas e cartazes com frases do tipo "Centrão, Parlamentarismo branco, não" ; "Reformas Já", "O Brasil está com Bolsonaro".
Durante o trajeto, por duas vezes eles pararam e entoaram o Hino Nacional. Esbanjando animação, a aposentada Ana Cristina Silva, de 68 anos, disse que participava do evento por amor ao Brasil.
Já o motorista Marivaldo Nascimento Melo, 59, que levou toda a família para a rua, afirmou que a sua presença era uma forma de mostrar ao Centrão (grupo de partidos políticos que tem se oposto ao governo) "que existem homens dignos e honestos no país, que estão em defesa do governo e do Brasil". O filho dele, Miquéias Melo, de 18 anos, tinha como objetivo mandar um recado ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia: "O país está de olho em você. Queremos a aprovação das reformas importantes ao país".
O ato na capital baiana chegou ao fim por volta de 12h. Na Bahia, houve manifestações também nas cidades de Feira de Santana, Itabuna, Juazeiro e Vitória da Conquista.
Manifestantes pró-Bolsonaro arrancaram uma faixa em defesa da educação pública que estava afixada à fachada do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, neste domingo, 26. O edifício fica na praça Santos Andrade, local que costuma ser ponto de início de manifestações na capital paranaense.
A faixa, na qual se lia "Em defesa da educação #OrgulhoDeSerUFPR #UniversidadePública #EuDefendo", foi retirada sob aplausos de manifestantes. Um deles afirma, em vídeo que circula nas redes sociais, que "prédio público não pode ser utilizado de forma ideológica".
O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, classificou a ação como "inacreditável" em sua conta no Twitter.
Em Porto Alegre, manifestantes se concentraram no Parque Moinhos de Vento, conhecido como Parcão, para demonstrar apoio às pautas do governo. Apesar de não haver contagem oficial do número de pessoas, a concentração foi menor do que no ato pró-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.
Protestos também foram pacíficos em Passo Fundo, Santa Maria, Novo Hamburgo e São Leopoldo. Caxias do Sul reuniu 2,5 mil manifestantes.
Além das capitais, municípios do interior também foram às ruas, em pequeno número, para defender o governo. Em Campinas, São Paulo, o ato dos bolsonaristas em defesa da reforma da Previdência e do pacote anticrime reuniu 3 mil pessoas, conforme estimativa da Polícia Militar. Os manifestantes se reuniram no Largo do Rosário, região central da cidade. Até o encerramento, por volta das 13 horas, a PM não registrou incidentes.
Já em Ribeirão Preto, a Polícia Militar calculou em 6 mil pessoas o público que compareceu à manifestação. Com faixas e bandeiras do Brasil, o público se concentrou no cruzamento das avenidas 9 de Julho e Presidente Vargas e saiu em marcha pelo centro. Agentes de trânsito interditaram as vias principais. Não houve incidentes.
Em Sorocaba, os dois atos marcados reuniram, juntos, 480 pessoas, segundo a Polícia Militar. Foram 400 no que foi realizado no Jardim do Paço, em frente à Prefeitura, e 80 na manifestação da Praça da Bandeira, região central da cidade. O protesto de estudantes e professores contra o corte de verbas da educação, no dia 15 último, em Sorocaba, reuniu mais gente: 2,5 mil pessoas, segundo a estimativa da PM na ocasião.
*FÁBIO GRELLET, AMANDA PUPO, LEONARDO AUGUSTO, HELIANA FRAZÃO, JOSÉ MARIA TOMAZELA, DANIELA AMORIM, RITA SOARES, CAIO SARTORI, PAULO BERALDO, LUIZA POLLO, PEDRO VENCESLAU, FABIO LEITE E CARLA BRIDI
Pode parecer estranho, mas um problema que afeta a população suína lá do outro lado do mundo pode impactar as suas finanças
No vídeo a seguir eu te conto como os porcos criados lá do outro lado do mundo podem mexer com o seu dinheiro:
Segundo uma lenda urbana, se todos os chineses pulassem ao mesmo tempo, a Terra poderia sair de órbita. Exageros à parte, é fato que o tamanho da população da China faz com que qualquer coisa que aconteça no gigante asiático tenha reflexos significativos no resto do mundo.
Como a China é o principal parceiro comercial do Brasil, os padrões de consumo do maior mercado do planeta têm impacto direto no nosso bolso, de maneiras que às vezes nem conseguimos imaginar. O mais recente abalo vindo do extremo Oriente é uma doença que vem afetando os porcos chineses e que pode ter pelo menos três consequências importantes por aqui. Peste suína na China: e eu com isso?
É que a China é o país que mais produz e consome carne de porco no planeta. O consumo per capita desse tipo de proteína no gigante asiático equivale ao nosso consumo per capita de frango. Um baque dessas proporções na produção chinesa abre caminho para diversos países aumentarem as exportações de todo tipo de carne para a China, entre eles o Brasil.
Essa mudança de dinâmica pode afetar o bolso do brasileiro de três formas. A primeira e mais óbvia é no desempenho das ações das empresas de alimentos que vendem produtos de proteína animal. É o caso do frigorífico Marfrig; da BRF - dona das marcas Sadia e Perdigão; e da JBS - dona das marcas Seara e Friboi. As ações dessas três companhias, aliás, foram as que mais subiram em abril entre as ações do Ibovespa.
O segundo impacto, menos evidente, se dá na inflação. Com o aumento da demanda global por proteína animal, os preços desses produtos tendem a subir. Ou seja, de cara, o seu churrasco ou mesmo o seu franguinho grelhado podem ficar mais caros. Além disso, nos países onde o consumo de carnes tem peso relevante no cálculo dos índices de preços, como é o caso do Brasil, a inflação pode ficar pressionada. Muitos economistas e instituições financeiras revisaram para cima as suas expectativas para a inflação brasileira.
Isso leva à terceira consequência: a falta de espaço para a taxa básica de juros, a Selic, cair mais. Como a Selic está no seu menor patamar histórico, ela em tese poderia sofrer novos cortes, já que a nossa economia não está engrenando de jeito nenhum. Mas com o aumento da pressão inflacionária, o mais provável é que ela fique onde está.
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24 de maio de 2019 | 14h26
Atualizado 24 de maio de 2019 | 17h21
BRASÍLIA - O mercado de trabalho brasileiro criou 129.601 empregos com carteira assinada em abril, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta sexta-feira, 24, pelo Ministério da Economia.
"O Caged de abril tradicionalmente é positivo e esse mês não decepcionou. Todas as regiões do País registraram melhora no emprego em abril. E foram 23 unidades da federação com abertura de vagas e penas quatro Estados com perda de empregos", afirmou o secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo.
O resultado de abril ficou dentro do intervalo das estimativas de analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast. As projeções eram de fechamento de 23.000 a abertura de 160.100 vagas, com mediana positiva de 78.000 postos de trabalho.
No acumulado de janeiro a abril, o saldo do Caged é positivo em 313.835 vagas. Em 12 meses até o mês passado, o saldo é positivo em 477.896 postos de trabalho.
O Caged registrou a criação líquida de 5.422 empregos com contrato intermitente em abril. Essa modalidade teve admissão total de 9.972 trabalhadores e 4.550 demissões no mês.
Houve ainda a abertura de outras 2.827 vagas pelo sistema de jornada parcial. As duas novas modalidades foram criadas pela reforma trabalhista.
O Caged informou ainda que houve 17.513 desligamentos por acordo no mês de abril.
O resultado do mês foi puxado pelo setor de serviços, que gerou 66.290 postos formais, seguido pela indústria de transformação, que abriu 20.479 vagas de trabalho.
No setor serviços, os segmentos de serviços médicos, odontológicos e veterinários lideraram a criação de empregos, com 20.589 vagas. Os segmentos de comércio e administração de imóveis criaram 13.023 postos de trabalho. “O aumento relacionado a aluguéis e serviços de engenharia mostra que a construção civil tem mostrado recuperação”, avaliou o coordenador de estatísticas da Secretaria de Previdência e Trabalho, Mário Magalhães, explicou Magalhães.
Também tiveram saldo positivo no mês a construção civil (14.067 postos), agropecuária (13.907 postos), comércio (12.291 postos), administração pública (1.241 postos), serviços industriais de utilidade pública (867 postos) e a extração mineral(454 postos).
Magalhães também destacou a abertura de 13.907 vagas na agropecuária em abril. “A partir de abril veremos novos saltos na criação de vagas do setor. O resultado dos empregos na agropecuária em 2019 deve ser superior ao do ano passado”, completou.
Ele citou ainda que o comércio varejista continuou sustentando o ritmo de crescimento que vem apresentando ao longo do ano. Dos 12.291 postos abertos em abril, 11.300 vagas foram criadas no varejo.
O salário médio de admissão nos empregos com carteira assinada teve queda real de 1,32% em abril deste ano ante o mesmo mês de 2018, para R$ 1.584,51, segundo o Caged. Na comparação com março, houve aumento de 0,45%.
O maior salário médio de admissão em abril ocorreu na atividade extrativa mineral, com R$ 2.432,65, puxado pelos salários da Petrobrás. O menor salário médio de admissão foi registrado na agropecuária, com R$ 1.327,02.
23 de maio de 2019 | 18h31
Morreu aos 71 anos, o cenógrafo e figurinista José de Anchieta Costa, na tarde desta quinta, 23, em decorrência de complicações de diabetes.
Nascido em Caruaru, no tempo em que lambuzavam os recém nascidos em tachos de leite, o cenógrafo e figurinista de 71 anos foi batizado com o mesmo nome do patrono do teatro.
A inspiração do nome, entretanto, não veio do padre jesuíta conhecido por realizar as primeiras peças de teatro no Brasil do descobrimento.
De formação religiosa, Anchieta chegou a fazer seminário na adolescência pela determinação do avô holandês, mas decidiu seu futuro nos palcos.
Se o trabalho religioso durou pouco, tão longa é parceria de Anchieta com Rosset. Ele foi responsável pelo cenário de O Doente Imaginário, de 1989, apresentado no The Public, de Nova York. Em uma cena, Rosset deixava um olho falso cair e ficava procurando o objeto no meio da plateia. “Ele abria algumas bolsas e de lá saía tudo. Desde revólveres, lingeries e brinquedos sexuais.", disse o artista em entrevista ao Estado, em 2018.
O sucesso da peça de Molière rendeu um convite do produtor Joseph Papp, o então diretor do The Public. A estreia de Sonho de Uma Noite de Verão no Central Park já gerava escândalos antes da temporada começar. Tudo porque o figurino das fadas se resumia a roupas de banho, biquinis, que escandalizou a plateia. Depois vieram, com Rosset, A Comédia de Erros e o mais recente Nem Escravas, Nem Princesas, de Humberto Robles.
Em suas redes, o diretor Cacá Rosset lamentou: "Um cenógrafo genial! Desde 1989 criou todos os cenários do Teatro do Ornitorrinco. O teatro brasileiro perdeu um de seus maiores artistas. Você fará muita falta, querido amigo!"
Rosset acrescenta que a dupla ainda planejava um novo trabalho. "No momento estávamos trabalhando no novo espetáculo "Frida Kahlo - Viva la Vida" de Humberto Robles."
Em suas criações, Anchieta colecionava vários cadernos com os registros de rascunhos e ideias para figurinos e cenários. Além de um precioso registro, os cadernos serviam como pontes entre suas ideias e o entendimento dos demais colegas artistas.
Mesmo assim, o método de desenhar para comunicar não funcionou com o diretor Ademar Guerra (1933-1993), com quem Anchieta estreou Lulu, Frank Wedekind. Na época, Guerra não compreendeu a grandiosidade das pontes levadiças que tomariam o palco do teatro. Quando o cenário proposto chegou, não havia espaço para nada, o que fez com que o encenador mudasse todo o espetáculo nas vésperas da estreia.
Crítico da crise de se produzir teatro no País, que na prática significa o improviso ou simplificação nos cenários e figurinos, Anchieta acrediva que uma montagem teatral não é vista de forma tão fragmentada como se costuma imaginar da plateia. Se você sai de uma peça elogiando o desempenho daquela atriz, ou os lindos figurinos, ou o cenário grandioso, o espetáculo não vai durar nada e logo sairá de cartaz”, continuo, na mesma entrevista, em novembro. “Mas tudo muda quando o público sai e consegue dizer: ‘Que espetáculo!'"
Anchieta deixa a mulher, Chake Ekizian, três filhos e quatro netos.
Aprenda a receita de pudim que é a preferida do 'Paladar': ela não gera furinhos e leva leite condensado
Pudim de leite é uma unanimidade. Há quem não adore comer pudim? Mas, basta perguntar como cada um prefere o seu que começa a confusão. "Com furinho e doce de leite", diz um. "Com gemas e leite condensado", fala outro. Pudim é menos consenso do que se pensa.
A seguir, o Paladar apresenta o que considera a receita de pudim ideal. Já avisamos: ele não tem furinhos, é feito em banho-maria no forno e leva leite e leite condensado. É simples de fazer e fica delicioso. A receita foi feita pela chef Talitha Barros, depois de uma série de testes.
+ Sete receitas diferentes de pudim
Fausto Macedo e Luiz Vassallo
21 de maio de 2019 | 20h26
O ex-ministro José Dirceu (Casa Civil/Governo Lula) e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), dividem a mesma cela em uma ala nova no Complexo Médico Penal de Pinhais, nos arredores de Curitiba, a prisão da Lava Jato.
Zé Dirceu chegou a Pinhais no sábado, 18, transferido da Superintendência da Polícia Federal, onde se havia apresentado na noite de sexta, 17, para cumprir pena de 8 anos e dez meses de reclusão em processo por corrupção passiva e lavagem de dinheiro de contratos da Petrobrás.
Ele acumula, por enquanto, duas condenações. Uma de 15 anos e quatro meses imposta pelo ex-juiz Sérgio Moro por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas no âmbito de contrato da estatal petrolífera para exploração do campo de Benin, na África, em 2011 – reduzida para 14 anos e seis meses pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).
Em outro processo, o ex-deputado pegou 24 anos, sentença aplicada pelo juiz Vallisney de Oliveira Souza, de Brasília, por desvios na Caixa.
Outros quatro prisioneiros ocupam a mesma cela de Zé Dirceu e Cunha.
Ao todo, na ‘ala nova’ estão cerca de 40 prisioneiros da Lava Jato, entre eles o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-senador Gim Argello e o ex-diretor da Dersa paulista Paulo Vieira de Souza, apontado como operador do PSDB.
Zé Dirceu já passou uma temporada em Pinhais. Foi solto enquanto aguardava o julgamento de todos os recursos a que tinha direito, no âmbito do TRF-4, o Tribunal da Lava Jato.
Na semana passada, o Tribunal negou embargos do ex-ministro e ordenou sua prisão. Na quinta, 16, o juiz Luiz Antonio Bonat, da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, deu prazo até às 16 horas da sexta, 17, para Zé Dirceu se entregar na PF em Curitiba.
O ex-ministro viajou de carro, de Brasília a Curitiba. Chegou à PF com um atraso de cinco horas e meia. Eram 21h30 da sexta quando se apresentou. No sábado foi transferido para Pinhais, a prisão da Lava Jato.
Antes de se entregar, em mensagem à militância petista gravada na quinta, 16, à noite, ele avisou. “O vulcão já entrou em erupção.”
“Eu me preparei para isso. Vou ler mais, manter a saúde, manter o contato.”
21 de maio de 2019 | 03h00
Depois de ter distribuído pelo WhatsApp um texto segundo o qual o País é “ingovernável” sem os “conchavos” políticos e de dizer que conta “com a sociedade” para “juntos revertermos essa situação”, o presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer apelos diretos ao “povo” contra o Congresso – em relação ao qual nutre indisfarçável desprezo, embora tenha sido obscuro parlamentar durante 28 anos.
Ao cabo de cinco meses de governo, em que todos os indicadores sociais e econômicos apresentaram sensível deterioração, fruto de sua inação administrativa e da descrença generalizada e cada vez maior na sua capacidade de governar, Bolsonaro começa a flertar com a “ruptura institucional”, expressão que apareceu no texto que o presidente chancelou ao distribuí-lo na sexta-feira passada.
Ao comentar o texto de teor golpista que passou adiante pelo WhatsApp, Bolsonaro disse que “esse pessoal que divulga isso faz parte do povo e nós temos que ser fiéis a ele”. E completou: “Quem tem que ser forte, dar o norte, é o povo”. Ora, o mesmo povo que o elegeu para se ver livre das proezas lulopetistas elegeu 81 senadores e 513 deputados, além de legisladores e governantes estaduais.
Depois, divulgou em seu perfil no Facebook o vídeo de um pastor congolês que diz que Bolsonaro “foi escolhido por Deus” para comandar o Brasil. “Pastor francês (sic) expõe sua visão sobre o futuro do Brasil”, explicou o presidente, que completou: “Não existe teoria da conspiração, existe uma mudança de paradigma na política. Quem deve ditar os rumos do país é o povo! Assim são as democracias”. O ilustre salvador talvez conheça a história do Congo, porque a do Brasil ele definitivamente ignora.
No vídeo que Bolsonaro endossou, o tal pastor, um certo Steve Kunda, diz que, “na história da Bíblia, houve políticos que foram estabelecidos por Deus”, como “o imperador persa Ciro”, e que “o senhor Jair Bolsonaro é o Ciro do Brasil, você querendo ou não”. E o pastor lança um apelo aos brasileiros: “Não passe seu tempo criticando. Juntem as forças e sustentem esse homem. Orem por ele, encorajem-no, não façam oposição”.
Em condições normais, tal exegese de botequim seria tratada como blague, mas não vivemos tempos normais – pois é o próprio presidente que, ao levar tais cretinices a sério, parece de fato considerar sua eleição como parte de uma “profecia”. O resumo dessa mixórdia mística é que Bolsonaro acredita ser um instrumento de Deus e o porta-voz do “povo” – nada menos. Portanto, quem quer que se oponha a Bolsonaro – puxa! – não passa de um sacrílego.
Com 13 milhões de desempregados, estagnação econômica e perspectivas pouco animadoras em relação às reformas, tudo o que o País não precisa é de um presidente que devaneia sobre seu papel institucional e político e que, em razão disso, estimula seu entorno e a militância bolsonarista – a que Bolsonaro dá o nome de “povo” – a alimentar expectativas sobre soluções antidemocráticas, como um atalho para a realização de “profecias”.
O reiterado apelo de Bolsonaro ao “povo” para fazer valer uma suposta “vontade de Deus” envenena a democracia e colabora para a ampliação da cisão social entre os brasileiros e destes com a política. A esta altura, parece cada vez mais claro que Bolsonaro não estava para brincadeira quando disse, em março, que não chegou ao governo para “construir coisas para nosso povo”, e sim para “desconstruir muita coisa”. Espera-se que a democracia brasileira e suas instituições resistam a essa razia.
20 de maio de 2019 | 03h00
Na campanha eleitoral, Jair Bolsonaro prometeu adotar uma nova atitude contra a corrupção e a criminalidade na vida pública. Ao tomar posse, o presidente reiterou, perante o Congresso Nacional, o compromisso de “restaurar e reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica”.
“Estão fazendo esculacho em cima do meu filho”, disse o Jair Bolsonaro, em tom exaltado. Não soube apontar, no entanto, nenhum elemento que pudesse desabonar o trabalho investigativo feito até agora. Além do mais, caso Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz entendam que houve algum excesso por parte das autoridades investigativas, eles têm, como todo cidadão num Estado Democrático de Direito, caminhos legais para fazer valer seus direitos e, se estiverem dispostos, apresentar suas versões do que teria ocorrido.
Foram precisamente essas suspeitas de lavagem de dinheiro que embasaram a quebra de sigilo bancário e fiscal de 95 pessoas e empresas deferida, no fim de abril, pela Justiça do Rio. Entre as pessoas investigadas, oito trabalharam no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro.
As explicações até agora foram pouco convincentes. Na defesa técnica apresentada ao MP, Fabrício Queiroz alegou que recolhia os salários dos colegas e os distribuía a um número maior de assessores, para ampliar a rede de colaboradores de Flávio Bolsonaro. Esse esquema informal contraria a própria natureza do salário, que é remuneração personalíssima. Não é da competência de assessor remanejar destino de salário dos outros funcionários de gabinete.
Além disso, desde 2011, a Alerj dispunha de procedimento específico para ampliar a rede de colaboradores de um parlamentar, sendo possível destinar formalmente a verba referente a funcionários de gabinete a até 63 pessoas. Assim, a própria defesa de Queiroz afirmou que, no gabinete de Flávio Bolsonaro, não se seguia o procedimento previsto pela Alerj – e isso é de responsabilidade direta do parlamentar.
Não foi o PT quem disse isso, e muito menos a imprensa. Foi o próprio Fabrício Queiroz, cuja proximidade com a família do presidente é admitida amplamente. Questionado se Queiroz tinha confiança do seu pai, Flávio Bolsonaro disse: “Com certeza, ou não teria vindo trabalhar comigo. Ele convivia mais comigo. Mais de dez anos trabalhando comigo quase todo dia. Eu estava mais junto com o Queiroz algumas vezes do que com a minha família”.
Só os outros – só os “inimigos” – é que podem ser investigados? Aqueles que são próximos da corte presidencial estariam imunes a tais inconvenientes? O ministro da Justiça, Sergio Moro, poderia ajudar a esclarecer ao presidente Bolsonaro como a lei deve funcionar. Igualmente, para todos.
19 de maio de 2019 | 03h00
Confusão, frustração, cenário desanimador, incerteza e País estressado são palavras do pesquisador Claudio Considera, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), usadas para descrever e explicar o fiasco econômico do primeiro trimestre – primeiro do ano e também do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Nesse período a economia brasileira, estagnada, produziu 0,1% menos que nos três meses finais de 2018, segundo o Monitor do PIB-FGV.
A bolsa paulista, no começo da manhã, havia ensaiado uma reação, depois de haver caído para menos de 90 mil pontos, no dia anterior, e atingido um dos patamares mais baixos desde a época das eleições.
O desastre econômico sofrido pelo País no período de janeiro a março será conhecido com dados oficiais em 30 de maio. Nesse dia o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deverá apresentar o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre.
O Monitor elaborado pela FGV, publicado todo mês, tem antecipado com notável aproximação – e até precisão – as contas nacionais do IBGE. Se houver, desta vez, alguma divergência, será por certo muito pequena, a julgar pelo histórico desse trabalho. Dificilmente o balanço oficial mostrará um quadro menos assustador que o apresentado nessa sexta-feira. Se a queda trimestral for confirmada pelo IBGE, terá sido a primeira depois de oito trimestres consecutivos de crescimento. Esse “cenário desanimador”, segundo o responsável pelo relatório, Claudio Considera, reflete “a incerteza política e econômica” com seu impacto negativo no investimento, na atividade, na retomada do emprego e no consumo das famílias.
Outra piora significativa indicada pelo Monitor é a expansão de apenas 0,9% acumulada nos 12 meses até março. Se também confirmada, essa terá sido a primeira variação inferior a 1% em 12 meses, desde novembro de 2017, como lembrou Considera na apresentação do novo relatório.
Em todo o ano de 2018 o PIB cresceu 1,1% em relação ao ano anterior. Essa foi a mesma taxa contabilizada em 2017, primeiro ano depois da recessão de 2015 e 2016. O crescimento em 2018, decepcionante, foi em boa parte explicável pela desastrosa paralisação do transporte rodoviário, em maio, e pela insegurança econômica associada a tensões políticas e à sucessão.
Sondagens apontaram, depois da eleição, expectativas de melhora, mas os primeiros meses do novo governo foram frustrantes na política e na economia. No ano passado houve uma modesta elevação do investimento produtivo, mas também esse indicador piorou. No trimestre findo em agosto de 2018, o investimento, medido pela formação bruta de capital fixo, foi 8,5% maior que o de um ano antes. No trimestre inicial deste ano a alta em relação aos primeiros três meses do ano passado ficou em apenas 0,4%.
“A equipe econômica é ótima, qualificada, todas as expectativas eram positivas, e isso se inverteu em três meses”, disse Claudio Considera. “O comportamento político do governo causou confusão. O País está estressado. Todo dia tem confusão”, resumiu o economista, indo além dos comentários normalmente formulados na divulgação do Monitor-FGV.
No mesmo dia, o presidente postou um tuíte desastrado sobre sua dificuldade de governar com o Congresso, isto é, de acordo com a Constituição. Confirmou, de novo, qualquer afirmação sobre a capacidade do governo, especialmente de seu chefe, de causar confusão e prejudicar o País.
18 de maio de 2019 | 05h00
O presidente Jair Bolsonaro considera impossível governar o Brasil respeitando as instituições democráticas, especialmente o Congresso. Em sua visão, essas instituições estão tomadas por corporações – que ele não tem brio para nomear – que inviabilizam a administração pública, situação que abre caminho para uma “ruptura institucional irreversível” – conforme afirma em texto que fez circular por WhatsApp ontem, corroborando-o integralmente, como se ele próprio o tivesse escrito.
Não é de hoje que o presidente se mostra inclinado a soluções autoritárias. Depois da posse, Bolsonaro mais de uma vez manifestou desconforto com a necessidade de lançar-se a negociações políticas para fazer avançar a agenda governista no Congresso. Confundindo deliberadamente o diálogo com deputados e senadores com corrupção, o presidente na verdade preparava terreno para desqualificar os políticos e a própria política – atitude nada surpreendente para quem passou quase três décadas como parlamentar medíocre a ofender adversários e a louvar a ditadura militar. Não por acaso, o próprio Congresso parece ter desistido de esperar que Bolsonaro se esforce para dialogar e resolveu tocar por conta própria a agenda de reformas.
O texto que Bolsonaro divulgou – recomendando que fosse passado adiante – diz que “bastaram cinco meses de um governo atípico, ‘sem jeito’ com o Congresso e de comunicação amadora para nos mostrar que o Brasil nunca foi, e talvez nunca será, governado de acordo com o interesse dos eleitores”. Segundo o texto, o presidente “não aprovou nada, só tentou e fracassou” porque “a agenda de Bolsonaro não é do interesse de praticamente nenhuma corporação”. Nas atuais circunstâncias, “a continuar tudo como está, as corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra” – e, “na hipótese mais provável”, diz o texto, “o governo será desidratado até morrer de inanição, com vitória para as corporações”. Mas diz também que é “claramente possível” que o País fique “ingovernável”, igualando-se à Venezuela. Aí entraria a tal “ruptura institucional” de que fala o texto chancelado por Bolsonaro – que o usou para ilustrar o risco que diz correr de ser assassinado pelo “sistema”.
Isso é claramente uma ameaça à Nação. Conforme se considere o estado psicológico de Bolsonaro e de seus filhos, a ameaça pode ser o tsunami de uma renúncia ou o tsunami de um golpe de Estado em preparação. Pois o presidente não apenas distribuiu o texto, como mandou seu porta-voz dizer que, embora esteja “colocando todo o meu esforço para governar o Brasil”, a “mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas”. Em seguida, fez um apelo às ruas: “Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação” – e já no próximo dia 26 está prevista a realização de uma manifestação bolsonarista, contra ministros do Supremo Tribunal Federal e a favor do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro.
Ao “contar com a sociedade” para enfrentar o “sistema”, Bolsonaro repete o roteiro de outros governantes que, despreparados para a vida democrática – em que a vontade do presidente é limitada por freios e contrapesos institucionais –, flertaram com golpes em nome da “salvação” nacional. Se tudo isso não passar de mais um devaneio, já será bastante ruim para um país que mergulha cada vez mais na crise, que tem seu fulcro não nas misteriosas “corporações” – as suas “forças ocultas” –, mas na incapacidade do presidente de governar.
17 de maio de 2019 | 03h00
Jair Bolsonaro tem agido cada vez mais como líder de facção, e não como presidente da República. Invocando sempre a necessidade de satisfazer seus eleitores, malgrado o fato de que foi eleito para governar para todos, Bolsonaro tem contribuído para transformar debates importantes em briga de rua. É a reedição do ominoso “nós” contra “eles” que tanto mal fez ao País durante os desastrosos anos do lulopetismo.
Com isso, Bolsonaro isola-se, num momento em que o País precisa de liderança e inteligência política para construir as soluções para a gravíssima crise ora em curso. São cada vez mais preocupantes os sinais de que o presidente não tem os votos necessários para aprovar no Congresso nem mesmo projetos de lei banais. As derrotas na Câmara se sucedem em quantidade inusitada para um presidente que teve 57,8 milhões de votos, elegeu-se como a grande estrela de uma formidável onda de renovação da política e deveria estar gozando a tradicional lua de mel com o Congresso e com os eleitores, reservada a todo governante em início de mandato.
“São uns idiotas úteis”, disse o presidente ao se referir aos manifestantes que foram às ruas na quarta-feira para protestar contra o contingenciamento de verbas na área de educação. No mesmo dia, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, destratou deputados que o haviam convocado para uma sabatina na Câmara, preferindo a pesporrência ao diálogo. Tudo isso pode ter feito a alegria da seita bolsonarista no Twitter, mas o fato é que o governo começa a encarar nas ruas, precocemente, as mesmas dificuldades que já enfrenta há algum tempo no Congresso – situação que, como mostra a história recente do País, ninguém sabe como começa, mas todos sabem como termina.
A prudência recomenda, portanto, que Bolsonaro reveja urgentemente seu método de governo. O problema é que o presidente não tem demonstrado a necessária sensatez para a difícil missão que as urnas lhe conferiram. Ao contrário: sempre que pode, Bolsonaro acentua sua antipatia pelos parlamentares, tratando as adversidades da vida política – que ele agrava ao invés de amenizar – como sabotagem a seu governo. E ontem ele dobrou a aposta: disse que não vai ceder “a pressão nenhuma” em nome da “tal governabilidade”, mesmo que isso lhe custe o cargo. “É isso que querem? Um presidente vaselina para agradar todo mundo? Não vai (sic) ser eu. O que vai acontecer comigo? O povo que decida, pô, o Parlamento decida, eu vou fazer minha parte. Eu não vou sucumbir”, desafiou.
É nesse clima de antagonismo que o governo pretende encaminhar a reforma da Previdência e outras mudanças importantes para o País – e a desculpa bolsonarista para um eventual fracasso em qualquer dessas etapas cairá na conta daquilo que o presidente e seus seguidores chamam de “velha política”.
Diante disso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse ontem que o Congresso vai “fazer a reforma da Previdência, com o governo ajudando ou atrapalhando”. Seria melhor se, pelo menos, não atrapalhasse.
16 de maio de 2019 | 05h00
O País está no fundo do poço, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, pedindo ao Congresso ajuda para resgatar o Brasil. Depois de um mau começo de ano, o governo baixou de 2,2% para algo em torno de 1,5% sua projeção de crescimento em 2019. No mercado, a mediana das estimativas já havia chegado a esse nível, e as más notícias continuaram a se acumular. Com uma queda de 0,28% em março, os negócios acumularam no primeiro trimestre uma baixa de 0,68% em relação aos três meses finais de 2018, informou o Banco Central (BC) ontem, um dia depois da fala do ministro no Congresso. O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), calculado mensalmente, é usado como sinalizador de tendência do Produto Interno Bruto (PIB), atualizado a cada trimestre pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O cenário abaixo de medíocre é antecipado, embora de maneira aproximada, pelo IBC-Br, com crescimento de apenas 1,21% nos 12 meses até março. Os dados oficiais do PIB poderão ser um pouco diferentes, mas causarão enorme surpresa se mostrarem uma economia mais vigorosa, ou menos frágil, que a do ano anterior, quando o PIB cresceu apenas 1,1%. Pelos números conhecidos até agora, há razões muito mais fortes para esperar o contrário – sinais de interrupção do moderado crescimento observado em 2017 e em 2018. Essa avaliação foi antecipada na ata da última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do BC, divulgada na terça-feira.
Isso depende do Congresso, afirmou, mas essa declaração corresponde apenas a uma parte dos fatos. A aprovação do projeto depende também da mobilização de apoio, mas o Executivo tem falhado, até por omissão, nessa tarefa. Além disso, a reforma, embora indispensável, é apenas uma das condições para a retomada do crescimento. A expansão sustentável por longo período dependerá de outras mudanças, como a do sistema tributário.
Mas também é preciso pensar no curto prazo. A economia continua estagnada, com mais de 13 milhões de desempregados e nenhuma perspectiva de aceleração. A reforma da Previdência, a mais urgente, poderá limpar o horizonte, mas será suficiente para mover os negócios? Nenhuma iniciativa de efeito mais pronto foi esboçada até agora. Ações de simplificação e desburocratização, já anunciadas, serão muito úteis mais tarde, mas há desafios mais urgentes.
Com o governo quebrado, é difícil pensar em estímulos por meio do gasto público. Mas pelo menos uma ideia desponta. Um novo programa habitacional, em parte baseado no aproveitamento de imóveis da União, poderá, se bem desenhado e conduzido, movimentar atividade com alto potencial de geração de empregos.
Além de empregar diretamente, a construção imobiliária requer uma variedade ampla de insumos, como cimento, aço, outros metais, plásticos, vidros, tintas e cerâmicas. Enfim, novas moradias criam demandas para móveis e eletrodomésticos, para citar só alguns itens. Ainda é preciso, no entanto, esperar detalhes do programa e de sua implementação. Que seja rápida e eficiente para criar alguma animação.
15 de maio de 2019 | 03h00
Um grande fiasco pode marcar o primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro: a recuperação econômica foi interrompida, a produção de bens e serviços pode ter encolhido no primeiro trimestre e o futuro continua ameaçado pelas incertezas. Economistas de esquerda, especuladores, consumidores mal humorados e inimigos da civilização cristã não causaram essa situação. A mais sombria descrição do quadro econômico brasileiro, neste momento, é assinada por diretores do Banco Central (BC), membros do Comitê de Política Monetária (Copom). Na semana passada o comitê manteve em 6,50% a taxa básica de juros, a Selic, e indicou a intenção de continuar agindo com a máxima cautela enquanto o cenário permanecer enevoado.
Se houve de fato uma redução do PIB os brasileiros saberão em breve, quando o novo balanço das contas nacionais for publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A mensagem do BC parece clara. A ata foi liberada um dia antes do Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) com os números fechados do período de janeiro a março. Analistas do mercado usam esse indicador como uma prévia do PIB oficial.
Se o PIB de fato tiver caído no primeiro trimestre, o País terá chegado muito perto de uma nova recessão medida de forma oficial. Uma recessão é caracterizada tecnicamente por dois trimestres consecutivos de redução do PIB. Nos três meses finais de 2018 o crescimento econômico ficou em apenas 0,1%, segundo o balanço divulgado em fevereiro e ainda sujeito à revisão.
De toda forma, o enfraquecimento da economia é inegável e as perspectivas, hoje, são de atividade muito baixa nos próximos meses, como se lembra na ata. As estimativas de crescimento em 2019 têm diminuído seguidamente, segundo a pesquisa Focus, consulta semanal do BC a cerca de cem instituições financeiras e consultorias. No fim da semana passada a mediana das projeções chegou 1,50%. Pelo menos um dos maiores bancos já baixou sua estimativa para 1%.
O desempenho econômico muito fraco nos primeiros meses de 2019 é explicável, em parte, como reflexo de problemas do ano passado. Mas a esses choques foram acrescentados, neste ano, “incertezas sobre aspectos fundamentais do ambiente econômico futuro”, como é indicado na ata. Um desses aspectos é a sustentabilidade das contas públicas. A insegurança quanto à reforma da Previdência, ainda em início de tramitação no Congresso, dificulta qualquer previsão sobre o estado da economia nos próximos meses e anos. Se quisessem detalhar as incertezas, os autores da ata poderiam ter citado, entre outros pontos, a persistência do alto desemprego e as dificuldades de recuperação do consumo.
Ajustes nas contas públicas podem ter efeito contracionista na economia, admitem os autores da ata. Mas a segurança trazida por ajustes e reformas, acrescentam, tem um potencial expansionista suficiente para contrabalançar, com vantagem, os efeitos da austeridade. Esta é uma resposta dirigida implicitamente a quem defende maiores gastos, desde já, para animar a economia. Não há saída, a curto ou a longo prazo, sem a arrumação fiscal. Este é o resumo da mensagem.
14 de maio de 2019 | 03h00
Desde que assumiu a Presidência da República, Jair Bolsonaro comentou mais de uma vez sua inadequação para o cargo que ocupa. No mês passado, por exemplo, ele disse: “Não nasci para ser presidente, nasci para ser militar”. Diante dessa sua percepção, seria muito oportuno que, ao menos, o presidente Bolsonaro se esforçasse para não criar novas dificuldades para o País e para o governo – e, por que não dizer, para si mesmo. No entanto, ele parece indiferente a essa preocupação, fazendo afirmações que geram problemas adicionais e, consequentemente, mais desgastes, novas perdas de energia e necessidade de contínuos esclarecimentos.
É absolutamente extemporânea a discussão sobre quem será o próximo indicado ao STF. A princípio, a próxima vaga estará disponível apenas em novembro de 2020, com a aposentadoria compulsória do ministro Celso de Mello, em razão da idade.
No dia seguinte à entrevista do presidente Bolsonaro, durante palestra em Curitiba, Sergio Moro falou sobre o convite para o Ministério da Justiça. “Ele (Jair Bolsonaro) foi eleito, fez o convite, fui até a casa dele no Rio de Janeiro. Nós conversamos e nós, mais uma vez publicamente, eu não estabeleci nenhuma condição. Não vou receber convite para ser ministro e estabelecer condições sobre circunstâncias do futuro que não se pode controlar”, disse o ministro da Justiça. E assim, para o bem da República, esperamos que tenha sido.
Sergio Moro ainda declarou: “Quando surgir a vaga (para o STF), isso vai ser discutido, antes não”. Seria muito conveniente para o País que o presidente Bolsonaro tivesse essa mesma disposição de respeitar os tempos de cada decisão, sem adiantar problemas. Como se fosse um assunto a ser debatido na semana que vem, Jair Bolsonaro disse na entrevista de domingo: “Eu vou honrar esse compromisso com ele (Sergio Moro) e, caso ele queira ir para lá, será um grande aliado, não do governo, mas dos interesses do nosso Brasil dentro do STF”.
Quando age assim, o presidente Bolsonaro não prestigia o ministro Sergio Moro e tampouco o fortalece no cargo. A rigor, ele desgasta um importante integrante do primeiro escalão do seu governo, dando a entender que, com o convite, havia também a promessa de um benefício futuro. Há menos de um mês, o ministro Sergio Moro declarou que “ir para o STF seria como ganhar na loteria”.
Além de desgastar o ministro Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro deteriora sua própria imagem como governante. Com urgentes problemas a serem enfrentados – a reforma da Previdência, sendo o mais importante e decisivo agora, é apenas um destes desafios –, o presidente Jair Bolsonaro revela ter frágil percepção das prioridades do País. Quem tem visão clara das metas da administração pública e sabe das dificuldades que terá de enfrentar para realizá-las não inventa extemporaneamente problemas que consumirão suas já escassas energias.
A fala de Jair Bolsonaro ainda alimenta inquietações no restante de sua equipe, que certamente subtrairão muito da já pequena eficácia de seu governo: se o presidente Bolsonaro trata assim, gratuitamente, o seu “superministro” Sergio Moro, o que será capaz de fazer com os outros?
13 de maio de 2019 | 03h00
Muito se tem falado da velha e da nova política. Esta seria a grande solução dos problemas nacionais, enquanto aquela é apontada como o grande conluio que atrasa o País. No entanto, mais do que uma questão de novidade ou ineditismo, o que o Brasil precisa urgentemente é da boa política, seja ela nova ou velha, capaz de construir consensos e articular apoios sempre em favor do interesse público, numa atuação que supere questões meramente eleitoreiras ou ideológicas.
Na entrevista, ela mostrou as contradições de uma atuação política baseada em estereótipos. “Eu não consigo entender. Quem é progressista, quem tem a luta social como algo do sangue mesmo, como que essas pessoas não se posicionam contra a desigualdade que é perpetuada pela Previdência?”, indagou a parlamentar. Os partidos de esquerda no Brasil têm sido sistematicamente contrários à reforma da Previdência. Batalham, assim, pela manutenção dos privilégios e o agravamento das desigualdades sociais.
Dias antes, o deputado Paulinho da Força (SD-SP) havia sugerido que os partidos do centrão não deveriam apoiar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) relativa à Previdência, já que uma reforma consistente contribuiria para a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Reconhecia que a aprovação da reforma era boa para a economia do País, mas, como isso favoreceria o governo, era preferível votar contra a PEC. De acordo com o deputado, os partidos deveriam pensar apenas nas eleições, mesmo que isso significasse atuar contra o País. Questionada a respeito, Tabata Amaral lembrou o papel da política: “Acho lamentável que a gente coloque uma reeleição ou um cenário eleitoral como uma variável para definir o futuro de pessoas”.
Tabata Amaral não concorda inteiramente com a Proposta de Emenda Constitucional apresentada pelo governo Bolsonaro. Avalia que a discussão sobre a idade mínima, as alíquotas progressivas – que aumentam de acordo com a renda do trabalhador – e o combate a privilégios nas aposentadorias de servidores estão na direção certa. Mas criticou, por exemplo, a ideia de um regime de capitalização sem contribuição dos empregadores. “Não se explicou exatamente como vai ser o sistema de capitalização”, disse.
O desejo de fazer política pensando no interesse público não é um caso isolado. “Tem gente dos dois lados querendo um debate sério, profundo”, afirmou Tabata Amaral. Reconheceu, no entanto, que essa postura não é a que predomina no Congresso. “Muita gente faz um debate raso, nos holofotes da polarização, dizendo o que é mais atraente para sua base”, disse.
A jovem deputada lembrava, assim, de uma realidade fundamental da atuação parlamentar. É preciso enxergar além do interesse imediato da própria base eleitoral. O compromisso dos deputados e senadores deve ser com o interesse público. Daí a importância de estudar os assuntos sem preconceitos, avaliar as propostas e decidir com coragem, sem medo de retaliações. Não é impossível fazer boa política. Quem quer faz.
11 de maio de 2019 | 02h00
Com os preços da comida subindo mais devagar, a inflação atormentou as famílias um pouco menos em abril e a tendência parece confirmar-se em maio. Esta é uma das poucas notícias positivas do noticiário econômico, ainda carregado de informações muito ruins sobre o emprego, o consumo e a produção industrial. Os primeiros quatro meses do novo governo foram muito difíceis em quase todas as frentes da economia. No lado interno, os negócios permaneceram emperrados. No externo, as exportações têm perdido impulso e o superávit comercial tem diminuído. Mas pelo menos o orçamento familiar ficará menos pressionado, se a inflação continuar a acomodar-se e convergir de novo para a meta anual de 4,25%. Entre março e abril a chamada inflação oficial passou de 0,75% para 0,57%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Impactos maiores tiveram os itens transportes (0,17 ponto) e saúde e cuidados pessoais (0,18 ponto). Este último componente refletiu o reajuste anual de remédios, em vigor desde 31 de março. Itens de higiene pessoal e planos de saúde também foram reajustados. A partir de maio, esse fator, obviamente sazonal, deixa de impulsionar o IPCA. Medicamentos mais caros já estarão incorporados no orçamento das famílias e naturalmente afetarão o bem-estar dos consumidores, mas deixarão de impulsionar o conjunto dos preços.
A partir do mês passado, também os consumidores dessa faixa de renda foram beneficiados pela acomodação, ou início de acomodação, do custo dos alimentos. Em março, o item alimentação e bebidas havia encarecido 1,50%. Em abril, o aumento ficou em 0,64%, menos de metade da taxa do mês anterior. Principalmente graças a esse fator, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), baseado nos gastos da faixa mais modesta, subiu 0,60% em abril, ou 0,17 ponto menos que no mês anterior.
O arrefecimento da inflação foi mostrado também pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em seu Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI). Esse indicador é formado por três componentes: preços por atacado, preços ao consumidor e custo da construção, com pesos de 60%, 30% e 10%. A alta do IGP-DI passou de 1,07% em março para 0,90% em abril. No mês passado, os preços por atacado subiram 1,09%, bem menos que no mês anterior (1,35%). No caso dos preços ao consumidor, a taxa de variação recuou muito limitadamente, de 0,65% para 0,63%. Já o custo da construção ganhou impulso, passando de 0,31% para 0,38%.
A melhor notícia apareceu nos preços por atacado, no subgrupo alimentos in natura, com aumento de 0,50% em abril. Em março, a alta havia sido de 8,13%. A ampla acomodação no atacado indica menor pressão sobre os preços de consumo nos meses seguintes.
Diante dos sinais de inflação mais suave, o BC pode manter os juros básicos em 6,50% por mais um bom tempo. Essa taxa foi mantida pela nona vez na reunião de política monetária encerrada na quarta-feira. Juros contidos facilitam, em princípio, a tarefa do governo de motivar os empresários a ativar negócios e contratações. Falta a resposta do governo.
09 de maio de 2019 | 03h00
Muito fraco, o desempenho da indústria nos primeiros três meses do novo governo foi mais que decepcionante. Se algum otimismo surgiu com a eleição, logo murchou. O presidente escolhido por mais de 57 milhões de eleitores foi incapaz de sustentar qualquer entusiasmo dos empresários. Mas o desastre foi além desse fiasco. Na maior parte das áreas pesquisadas, o volume produzido despencou em relação a duas bases de comparação. Foi menor que nos três meses finais de 2018 e inferior ao do trimestre inicial do ano passado. O balanço já seria ruim com números mais baixos que os de um fim de ano já pouco animado. Além disso, no entanto, houve um recuo para uma situação pior que a de um ano antes.
No confronto com março do ano anterior, o desempenho da indústria paulista, com recuo de 7,3%, foi pior que a média nacional. Alguns Estados e regiões apresentaram números piores que os de São Paulo, nas várias comparações entre períodos, mas as fábricas paulistas fornecem 34% do produto industrial do País. O Estado de São Paulo tem, portanto, um peso bem diferenciado na composição estatística.
Se o presente é cheio de dificuldades e o futuro continua opaco, é prudente consumir com muita moderação, concentrando os gastos em bens essenciais e controlando severamente o consumo de serviços. Diante de um mercado interno contido, a indústria funciona em ritmo lento e tão cauteloso quanto o dos consumidores, com escassa formação de estoques de produtos acabados e, é claro, de matérias-primas e bens intermediários.
O freio se estende, portanto, da ponta do consumo a toda a teia da produção industrial, desde o bem totalmente elaborado até as mais simples matérias-primas. Enfim, se esse é o quadro e se as fábricas operam com ampla capacidade ociosa, falta estímulo para investir em máquinas e instalações. Em alguns casos, a substituição será inevitável por causa do desgaste. Em outros, a modernização poderá ser inevitável.
A indústria paulista foi a única a fechar o trimestre com produção maior que a dos três meses finais de 2018. O avanço, muito modesto, foi de 0,6%. A média nacional foi uma queda de 0,7%. Esta média é em parte explicável pelo desastre da barragem da Vale em Brumadinho. Em São Paulo a atividade extrativa é muito menos importante que em vários outros Estados.
Com ou sem rompimento de barragens, o resultado geral do trimestre foi muito ruim. Com a queda de março, a produção industrial paulista ficou 21,6% abaixo do pico alcançado em março de 2011. Na média nacional, a indústria ficou 17,6% abaixo do pico registrado em maio de 2011. A partir de 2012, segundo ano de governo da presidente Dilma Rousseff, o declínio geral da indústria se tornou evidente – bem antes da recessão registrada oficialmente em 2015 e 2016.
Enquanto se alonga a crise da indústria, persiste a escassez de vagas num setor caracterizado pela maior presença do emprego formal e com mais benefícios complementares para o trabalhador. Avoluma-se, portanto, o custo social da incerteza política e econômica sob um governo instalado há quase cinco meses.
08 de maio de 2019 | 03h00
Uma reportagem publicada no domingo passado pelo Estado mostrou que, nos últimos anos, cinco dos dez maiores partidos do Congresso já mudaram ou estudam mudar de nome. Em alguns casos, trata-se de tentar fazer o eleitor esquecer os escândalos de corrupção nos quais algumas dessas legendas se envolveram; em outros, é uma forma de buscar se reconectar com os cidadãos, em meio ao descrédito generalizado de que padece a política.
Já há até mesmo quem diga que os partidos – entendidos como entidades que representam ideias políticas abrangentes – estão com os dias contados. “O mundo exige outra forma de organização. Os partidos vão deixar de existir”, disse o ex-deputado Roberto Freire, fundador e líder do Cidadania, ex-Partido Popular Socialista, que um dia já foi Partido Comunista Brasileiro. “A comunicação direta com o eleitor é uma nova realidade. Hoje é só pelas redes. Ninguém espera mais uma articulação partidária por células em sindicatos de base”, disse o experiente político – cujo partido tirou o “socialista” do nome para conseguir atrair movimentos de renovação política, como o Agora, o Livres e o Acredito, todos de viés liberal.
Parece óbvio que nem todas as legendas que trocaram de nome o fizeram em razão dessa suposta revolução na representação política. Algumas delas tinham problemas bem menos teóricos para resolver, como, por exemplo, o desgaste de imagem causado por desmandos, corrupção ou completo descaso pelo eleitor. Em todos os casos, porém, os partidos trocaram ou trocarão de nome na esperança de reduzir a rejeição a seus antigos rótulos – mas é improvável que o eleitor “compre” esse velho produto que tenta se fazer passar por novo, pois, por trás da aparência de rejuvenescimento, seus antigos defeitos continuam evidentes.
Quando o MDB estuda trocar de nome pela segunda vez em menos de dois anos (era PMDB até 2017 e agora pode se tornar apenas “Movimento”), o partido serve de exemplo eloquente de que um nome, por melhor que seja, não mudará a natureza de uma legenda que há muito tempo deixou de ter princípios e ideias discerníveis – a tal ponto que já se perdeu na memória o passado do MDB como representante da oposição durante o regime militar e como vanguarda da luta pela redemocratização.
O mesmo se pode dizer do PSDB, partido que há anos não é mais nem sombra da agremiação cuja plataforma social-democrata conquistou uma parte considerável da classe média. Ao discutir uma troca de nome e de identidade partidária para superar a sequência de fiascos eleitorais e dar novo rumo à legenda, os tucanos podem perder o pouco que resta de seu patrimônio político, sem ter nenhuma garantia de que conquistarão novos eleitores.
Mesmo dentro do PT cogitou-se uma mudança de nome. Embora prontamente descartada, a mera hipótese indica que até o partido mais sólido do ponto de vista programático sofreu a tentação de troca de identidade como paliativo para sua crise.
De tudo isso fica a certeza de que o sistema partidário do País está sendo triturado – resultado de décadas de alheamento da elite política em relação às verdadeiras necessidades dos eleitores.
06 de maio de 2019 | 03h00
Até agora, a atividade de costureira, mesmo desenvolvida em casa, seria considerada ilegal se não dispusesse de alvará prévio. A autorização prévia de autoridade pública não será mais exigida. Esta é uma das medidas de desburocratização incluídas na Medida Provisória (MP) n.º 881, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro na terça-feira passada. A MP 881 institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, com normas que buscam proteger e estimular a iniciativa privada e o livre exercício de atividade econômica, por meio da redução da atuação do Estado, reduzindo ou eliminando exigências prévias para o início de um negócio, controle sobre as atividades e punição em caso de irregularidades apontadas pela fiscalização, entre outros atos que inibem a atividade econômica privada.
A equipe do Ministério da Economia citou, entre as pesquisas internacionais nas quais o Brasil é mal classificado, os relatórios de liberdade econômica da Heritage Foundation (150.º lugar), da facilidade de realização de negócios aferida pelo Doing Business do Banco Mundial (109.º lugar) e o relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial (72.º).
Estão isentas de licenças, alvarás e outras exigências prévias as atividades consideradas de baixo risco, de acordo com a definição legal para essas atividades a ser feita pelos Estados ou pelas prefeituras, conforme o caso. Essas atividades não serão, porém, dispensadas de registros e cadastros tributários e previdenciários.
Outras exigências para atividade econômica são eliminadas ou fortemente reduzidas pela MP 881, como o horário de trabalho, desde que não haja danos ao meio ambiente ou desrespeito a normas de direito de vizinhança.
A MP procura impor maior eficiência e presteza ao setor público, sempre que sua ação for necessária no que se refere à atividade empresarial. A administração federal, por exemplo, terá prazos para responder a pedidos de autorização; se não se manifestar no prazo, o pedido será considerado aprovado. A interpretação de fiscais e de outros agentes públicos em casos de autorização de atividade econômica será padronizada, de modo que a decisão em determinada situação se estenderá a outras similares. Como diz a nota do Ministério de Economia, a medida “impede que fiscais tratem dois cidadãos em situações similares de forma diferente, estabelecendo efeito vinculante e isonômico”.
Nos casos em que a norma permitir interpretação dúbia ou não seja clara, o agente público deve “sempre recorrer à interpretação que mais respeita a autonomia do cidadão”. Assim, segundo o Ministério da Economia, haverá “maior segurança e previsibilidade”.
A MP assegura a liberdade de fixar e flutuar preços de acordo com a oferta e a demanda, o que já está previsto em outras normas legais e mesmo na Constituição. Curiosamente, o governo que reafirma o respeito à liberdade de preços é o mesmo que defende o tabelamento do frete rodoviário – para tentar agradar aos caminhoneiros que tanto o assustam –, que nada mais é do que um preço.
04 de maio de 2019 | 03h00
A Advocacia-Geral da União (AGU) expediu, em fevereiro, uma orientação normativa a respeito da não necessidade da intervenção do Poder Judiciário para coibir a invasão e a ocupação irregular de prédios públicos. A medida não tem nenhum pendor autoritário. Trata-se da prudente aplicação do Direito na proteção do patrimônio e da continuidade dos serviços públicos. O Estado e a população não podem ficar reféns de quem, afrontando a lei, usa a violência para fazer pressão política, difundir suas bandeiras ou apropriar-se de bens públicos para fins particulares.
No caso da administração pública federal, antes da nova orientação, a praxe era que os administradores de prédios públicos deviam recorrer à AGU para que ela tentasse junto ao Poder Judiciário obter medida liminar de reintegração de posse. Evidentemente, não era um modo muito eficiente de proteção do patrimônio público.
Aprovada pelo advogado-geral da União, André Mendonça, a orientação normativa deve ser observada por toda a administração pública federal. Está claro, portanto, que a autoridade pública tem o direito e o dever de atuar para proteger o patrimônio público e a continuidade dos serviços.
“Impedir a invasão ou ocupação dos imóveis públicos é dever do gestor, para fins de garantir sua utilização adequada, sua preservação, a manutenção de sua finalidade legal ou contratual”, diz o documento da AGU. Cabe, portanto, ao administrador do prédio público acionar as forças policiais a fim de prevenir e repelir atos de invasão e ocupação ou de utilização diversa da destinação prevista pela autoridade competente.
Seria incongruente que o particular, na defesa do seu patrimônio pessoal, pudesse realizar atos de autodefesa, enquanto o poder público tivesse de assistir passivamente a agressões ao patrimônio público. O Direito assegura meios de proteção tanto do patrimônio particular como do público. Nos dois casos, como é lógico, os atos de proteção devem ser moderados e proporcionais à agressão sofrida. Eventuais abusos no exercício desse direito de autodefesa devem ser investigados e punidos. O que não faz sentido é que esse direito – que, no caso da administração pública, é um dever – de repelir a violência seja tolhido a priori por receio a um possível abuso. É essa estranha lógica que a AGU veio corrigir.
O dever por parte da administração pública de prevenir e repelir atos ilegais contra prédios públicos, sem precisar recorrer à Justiça, não é uma opção pela eficiência em detrimento do bom Direito. É antes o cabal cumprimento de dois importantes princípios do Direito – o da indisponibilidade dos bens públicos e o da continuidade dos serviços públicos. O interesse público agradece esse cuidado.
02 de maio de 2019 | 03h00
O presidente Jair Bolsonaro insiste em discursar como se estivesse numa descontraída troca de comentários ligeiros, dando palpites de ocasião e falando de assuntos fora de seu conhecimento. De forma desastrada, já interferiu na Petrobrás e no Banco do Brasil (BB) e polemizou com técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas parece ter dificuldade para entender seu papel e suas limitações. Voltou a criticar os juros na terça-feira passada, num evento no Palácio do Planalto, um dia depois de ter pedido a redução da taxa ao presidente do BB, Rubem Novaes, numa cerimônia em Ribeirão Preto. No evento em Brasília, o comentário sobre o custo do dinheiro envolveu também o presidente da Caixa, Pedro Guimarães. Dessa vez, o presidente Bolsonaro fez uma ressalva. Negou a intenção de interferir nos bancos e qualificou seus palpites como “sugestões”: como conselhos, cada um cumpre se quiser. Fez a ressalva, obviamente, depois da reação negativa no mercado de capitais e das críticas na imprensa, mas terá mesmo reconhecido seu limite?
Além de esquecer esses detalhes da formulação e da execução de políticas, o presidente Bolsonaro manifestou, mais uma vez, sua visão muito particular dos atributos de um bom gestor. Afinal, por que apelar ao espírito “conservador e cristão” de um presidente do BB? Conservadorismo e cristianismo são qualificações necessárias ao cargo? Constam da descrição de função? Presidentes do BB sem algum desses atributos terão sido incompetentes e, além disso, insensíveis às demandas de seus clientes? Nem todos são cristãos no primeiro escalão do Executivo, mas o presidente, quando se manifesta de forma espontânea, revela curiosas limitações de sua visão do mundo e das pessoas.
Mas o presidente da República insiste em criticar, como se pudesse discutir com especialistas. O menos importante, nesse episódio, foi sua confusão com números. Ele mencionou 12 milhões de desempregados. Mas a última pesquisa, divulgada na terça-feira de manhã, aponta uma taxa de 12,7% de desemprego e cita 13,4 milhões de desocupados. A mesma pesquisa, como vem ocorrendo há tempos, indica também a subutilização de 28,3 milhões de pessoas, 25% da força de trabalho. O levantamento quantifica pessoas desocupadas, pessoas ocupadas por tempo insuficiente, trabalhadores desalentados e a força de trabalho potencial. Seus padrões são internacionais. Mas o relatório talvez seja longo para a paciência do presidente.
Se o presidente da República tem dúvidas, peça esclarecimentos a algum auxiliar competente. Não caia no ridículo de contestar uma instituição respeitada internacionalmente e mantida livre de intervenção por diferentes governos e regimes. Ele tomaria esses cuidados se atentasse à sua função. Governar é muito diferente de mandar, de se meter em todos os assuntos e de dar palpites e opiniões como numa conversa de madrugada, num botequim. Palavra de presidente é como a moeda. Emitida sem critério, perde valor.
01 de maio de 2019 | 03h00
Com dinheiro curto, orçamento engessado, investimentos comprimidos e gastos sem freio na Previdência, o setor governo continua preso no atoleiro das contas públicas, com déficit total de R$ 81,14 bilhões no primeiro trimestre, soma equivalente a 4,64% do Produto Interno Bruto (PIB). Com o rombo previdenciário funcionando como um buraco negro, têm sobrado cada vez menos verbas para investimentos em obras e até para a operação da máquina pública no dia a dia. O saldo negativo total inclui os juros vencidos.
Enquanto a economia derrapa e a arrecadação fraqueja, o governo central arranja-se como pode, com R$ 30 bilhões de gastos congelados e cortes nas chamadas despesas discricionárias. Mas esse nome é enganoso, porque o grupo das discricionárias inclui despesas essenciais, como o pagamento de bolsas de estudo, as subvenções ao programa Minha Casa, Minha Vida e investimentos em educação e saúde.
Mas nem todo o resultado primário do governo central tem ficado no vermelho. Apesar dos gastos crescentes e da receita em recuperação muito lenta, o Tesouro tem sido superavitário, chegando a acumular um saldo positivo de R$ 84,28 bilhões em 12 meses.
Esse resultado foi engolido, como vem ocorrendo há anos, pelo buraco do INSS, um déficit de R$ 197,37 bilhões. Governos de Estados e municípios e empresas estatais tiveram em conjunto resultado positivo. Tudo somado, o setor público chegou ao fim de 12 meses com déficit primário de R$ 99,31 bilhões. Adicionados os juros, chega-se ao resultado geral do setor público, também conhecido como nominal: um déficit de R$ 483,77 bilhões, equivalente a 6,98% do PIB. Esta é uma das piores proporções do mundo.
Os gastos com juros poderiam ser menores se fosse possível cortar a taxa básica, de forma sustentável, para menos de 6,50%, o nível atual. Não se resolve esse tipo de problema, no entanto, com voluntarismo, especialmente porque a decisão de continuar financiando o governo brasileiro depende, afinal, do mercado.
A confiança do mercado será maior quando o setor público for capaz de operar com menor desequilíbrio financeiro. A aprovação de uma boa reforma da Previdência, com economia significativa nos próximos dez anos, é condição essencial para isso. Ainda faltarão outras providências. O País precisa de um orçamento mais flexível e de uma reforma tributária, mas a mudança das aposentadorias é a tarefa mais urgente.
Enquanto se discutem medidas para a recuperação das finanças governamentais, a dívida pública se torna mais pesada. Em março, a dívida bruta do governo geral – da União, dos Estados e dos municípios – atingiu o valor de R$ 5,41 trilhões, soma correspondente a 78,4% do PIB, com aumento de 0,9 ponto porcentual em relação ao nível de fevereiro.
Essa dívida é calculada pelo critério de Brasília, sem inclusão de papéis do Tesouro sob controle do BC. Pelo critério do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida bruta do governo geral brasileiro já passa dos 80% do PIB e avança rapidamente para os 90%.
Esses números, muito ruins por qualquer dos critérios, são acompanhados por investidores e analistas no País e no exterior e podem afetar o movimento de capitais para dentro ou para fora do Brasil. Um surto de pessimismo pode ser desastroso.
29 de abril de 2019 | 03h00
Apesar de ser a oitava economia do mundo, o Brasil ocupa a 106.ª posição quando o assunto é saneamento. Os indicadores de água e esgoto do País são rigorosamente desproporcionais da realidade econômica e social, atrás de Chile, México e Peru, relata o estudo Panorama da Participação Privada no Saneamento 2019. Até a Bolívia, por exemplo, trata melhor a água de sua população do que o Brasil.
São conhecidas as consequências dessa infraestrutura insuficiente de saneamento. Por exemplo, em 2017, 35% dos municípios (1.933) registraram epidemias ou endemias provocadas pela falta de saneamento básico, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A doença mais relatada foi a dengue, transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em água parada. No período, 1.501 municípios (26,9%) registraram a ocorrência de dengue. Em seguida, as doenças mais comuns relacionadas à falta de saneamento são a disenteria (23,1%) e as verminoses (17,2%).
Tudo indica, no entanto, que essas metas não serão cumpridas. A estimativa é de que seriam necessários investimentos da ordem de R$ 20 bilhões por ano para alcançar esse novo patamar de saneamento. Nunca se alcançou tal montante. Em 2016, por exemplo, foram investidos R$ 11,3 bilhões. Além de ser insuficiente para alcançar a universalização, o baixo investimento é incapaz de suprir carências estruturais básicas, que geram prejuízos ao País. Por ano, estima-se que o Brasil perde cerca de R$ 10 bilhões com o tratamento inadequado da água.
Um dos possíveis caminhos para reverter esse quadro é o aumento dos investimentos privados. No entanto, a participação da iniciativa privada continua sendo muito pequena. Nos últimos dez anos, passou de 3,89% para 5,83% o porcentual de municípios que contam com algum atendimento privado no saneamento, indica o estudo Panorama da Participação Privada no Saneamento 2019.
Uma das causas para essa pequena participação privada são as muitas barreiras regulatórias. Há casos de empresas com dinheiro disponível para investir em saneamento, mas não conseguem firmar contratos com os municípios.
Em 2017 e 2018, apenas três licitações foram feitas no setor de saneamento, aponta estudo da GO Associados. O atual marco regulatório não incentiva a busca por novos contratos. A legislação vigente permite, por exemplo, que os contratos em vigor sejam automaticamente renovados, sem licitação.
É urgente universalizar a infraestrutura de saneamento no País. Em 2015, a ONU reconheceu o saneamento básico como um direito humano. Cabe ao poder público o dever de viabilizar os investimentos no setor. A manutenção da atual infraestrutura, clamorosamente insuficiente, é uma vergonha nacional.
27 de abril de 2019 | 03h00
A equipe econômica refez as contas e chegou à conclusão de que a reforma da Previdência pode gerar uma economia de R$ 1,236 trilhão nos próximos dez anos, um aumento de R$ 164 bilhões em relação à estimativa original. A perspectiva mudou porque a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deixou de prever reajuste real para o salário mínimo, base para dois terços dos benefícios do INSS. É uma ótima notícia, pois dá ao governo uma margem melhor para negociar com o Congresso as mudanças que provavelmente reduzirão esse ganho.
É evidente que uma reforma dessa magnitude enfrentará resistência no Congresso e que o governo terá de aceitar mudanças para preservar uma economia que não somente recoloque as contas em ordem, mas também evite que uma nova reforma se torne necessária em breve. Já se tem como certo que sairão do texto as mudanças na aposentadoria rural, que renderiam uma economia de R$ 94,2 bilhões em uma década, e no benefício assistencial para idosos de baixa renda, o chamado BPC, cuja expectativa de ganho é de algo em torno de R$ 34,8 bilhões. Também se espera oposição à proposta de restringir o pagamento do abono salarial a quem ganha até um salário mínimo – hoje se paga para quem ganha até dois mínimos –, proposta que geraria uma economia de R$ 169,4 bilhões em dez anos.
Não tem sido o caso, infelizmente, do governo de Jair Bolsonaro. Quando é o próprio presidente que oferece de saída um desconto tão generoso em relação às pretensões de sua equipe, manda um sinal claríssimo para sua já frágil base aliada no Congresso: não está convencido de que a reforma é necessária ou, pelo menos, bem sustentada sobre números e conceitos.
“O presidente, cada vez que fala, desidrata um pouco a reforma. Se ele não falar até o final da votação, vai ajudar um bocado”, disse o deputado Marcelo Ramos (PR-AM), que vai presidir a Comissão Especial da Reforma da Previdência. A essa conclusão certamente também já chegaram outros deputados que se veem na ingrata tarefa de defender a reforma enquanto o presidente, quando pode, a desvaloriza.
De nada adianta Bolsonaro vir a público dizer que o Brasil enfrentará o “caos” caso a reforma da Previdência não seja aprovada se ele mesmo não demonstra firmeza em relação ao projeto que patrocina. Isso obriga a equipe econômica a correr para desdizer o presidente, tal como fez o secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, segundo o qual o governo “continua a defender a íntegra da reforma” mesmo depois de Bolsonaro informar que topa deixar por R$ 800 bilhões uma reforma de R$ 1,2 trilhão. Segundo Marinho, o presidente quis apenas demonstrar “respeito pelo Parlamento brasileiro”. E pelo contribuinte, o presidente demonstrou o quê?
Depois da repercussão negativa de sua fala, o presidente tentou voltar atrás a respeito do valor mínimo que o governo aceitaria na negociação da reforma. “Eu falei que a bola está com o Poder Legislativo. Eu gostaria que a nossa proposta saísse na ponta da linha de como entrou (sic). Mas nós sabemos, até pela minha experiência de sete legislaturas, que haverá mudança. Agora, não existe um dado mínimo. O Paulo Guedes (ministro da Economia) fala em torno de R$ 1 trilhão. A gente espera, em havendo qualquer desidratação, que não seja um número que comprometa uma reforma”, declarou Bolsonaro.
Se o presidente realmente deseja vender sua reforma pelo melhor preço possível no Congresso, o primeiro passo é parar de tratá-la como mercadoria encalhada.
25 de abril de 2019 | 03h00
Desconfiança e cautela continuam sendo palavras de ordem nos mercados, enquanto se esperam os próximos lances da reforma da Previdência. O dólar, um dos melhores sinalizadores do humor dos investidores, disparou e foi negociado ontem a pouco mais de R$ 3,98. Fundamental para o futuro da economia brasileira, a reforma das aposentadorias havia completado com muita dificuldade só a primeira etapa na Câmara dos Deputados. Vencida a fase mais simples, a aprovação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça, investidores, empresários e até economistas do Executivo tinham pouco ou nenhum motivo para maior otimismo. A inépcia política do governo havia sido o grande espetáculo da noite anterior. Na manhã de ontem, novos números de várias fontes confirmaram a fraqueza dos negócios, a escassez de empregos e a precária condição das contas públicas. Como elevar as apostas, se nem o presidente da República mostrava disposição para batalhar pelos ajustes mais importantes?
Vagas fechadas e consumo estagnado combinam com inadimplência. O número de consumidores inadimplentes chegou em março a 63 milhões, o maior contingente da série iniciada em 2016, segundo a Serasa Experian. Por esse balanço, 40,3% das pessoas adultas estão com dívidas atrasadas e negativadas. Houve um aumento de 2 milhões em um ano.
O repique inflacionário, puxado principalmente pelos preços da comida, pode ser passageiro, como estimam muitos economistas, mas os aumentos afetaram as expectativas dos consumidores. A mediana da inflação esperada para os próximos 12 meses subiu de 5,1% em março para 5,3% em abril, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Houve piora das projeções em todas as faixas de renda.
As contas do governo federal também continuam fracas. No mês passado, o poder central arrecadou R$ 109,8 bilhões, 5,2% menos que em fevereiro, descontada a inflação. Em relação a março do ano passado a queda foi de 0,58%, de acordo com a Receita Federal.
Até março, o valor arrecadado superou por 1,09% o dos três meses iniciais de 2018. O resultado mensal veio no piso das estimativas de 23 instituições consultadas pela Agência Estado, com valores entre R$ 109 bilhões e R$ 122 bilhões. A soma recolhida ficou, no entanto, dentro das expectativas da Receita, segundo o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros do órgão, Claudemir Malaquias. Mas as projeções, esclareceu, haviam sido rebaixadas em fevereiro.
O baixo nível da atividade econômica tem prejudicado a arrecadação desde 2015, lembrou o coordenador-geral de Política Fiscal da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, Bernardo Schettini. Segundo ele, uma sondagem realizada pela secretaria mostrou um setor privado em compasso de espera. A mudança do quadro, observou, depende de um “cenário mais claro para as contas públicas”. A aprovação integral da reforma da Previdência, resumiu, traria fôlego maior para o crescimento da economia.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, defende opinião semelhante e assinala uma condição política: a reforma será aprovada mais seguramente se o presidente Jair Bolsonaro se convencer de sua importância. Não houve, ainda, sinal disso.
23 de abril de 2019 | 23h56
BRASÍLIA – Depois de 62 dias do envio da reforma da Previdência, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara deu o sinal verde para a proposta do governo, que segue agora para análise de mérito na comissão especial. A admissibilidade foi aprovada por 48 votos a 18. A aprovação foi sucedida de comemoração dos governistas e vaias da oposição.
A tramitação na CCJ, que analisa a constitucionalidade do texto, durou mais tempo do que o governo esperava, o que obrigou a equipe econômica a ceder pontos já na largada.
texto que foi enviado ao Congresso no dia 20 de fevereiO governo Michel Temer levou apenas 10 dias para passar a sua proposta de reforma na CCJ. A reforma do presidente Jair Bolsonaro chega agora na comissão especial sob pressão dos partidos do Centrão para novas mudanças. Foram as lideranças do Centrão que conseguiram negociar as quatro alterações no texto, ameaçando barrar a votação.
A batalha da votação durou mais de oito horas com uma sequência de pedidos de requerimento dos deputados da oposição para protelar a discussão. A líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), chegou a apresentar requerimento ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com assinaturas para suspender por 20 dias a tramitação alegando a necessidade de o governo enviar os números do impacto da proposta.
CAMINHO DA REFORMA NO CONGRESSO
- Discussão e aval na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que verifica se o texto respeita princípios constitucionais (cumprida)
- Discussão por no mínimo 11 sessões em comissão especial, que analisa o teor do texto e pode fazer alterações
- Votação na comissão especial
- Discussão e votação no plenário na Câmara: são necessários 308 votos (dos 513 deputados) em dois turnos
- Discussão e aval na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado
- Discussão e votação no plenário Senado: são necessários 49 votos (dos 81 senadores) em dois turnos
- Promulgação
Com o resultado, a oposição disse que buscará anular a votação, classificada de “fraudulenta” pelo líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente (SP). Mesmo com a derrota, a líder da minoria na Casa, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), disse que essa foi apenas a primeira batalha. "Ri melhor quem ri por último", disse Jandira. "O povo vai para a rua, essa proposta está sendo votada ao arrepio da Constituição", afirmou a líder.
A estratégia dos oposicionistas foi a mesma usada nas outras sessões, marcadas por tumulto e gritarias. Dessa vez, porém, o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), foi bem mais duro na condução dos trabalhos e impediu que a votação fosse suspensa. Apesar dos apelos da oposição, Francischini continuou a votação sem levar em conta o pedido.
“Não apontem o dedo para mim que não sou moleque!”, reagiu Francischini, no momento mais tenso, à ação das deputadas Maria do Rosário (PT-RS), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Erika Kokay (PT-DF) e Taliria Petrone (PSOL-RJ), que o cercaram o na mesa da CCJ. Um novo tumulto se formou, mas Francischini conseguiu segurar a pressão com uma posição combativa.
No plenário, governistas gritavam: “Não se deixe intimidar, senhor presidente. Reaja com o regimento”. A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), aos gritos, dizia para o presidente da CCJ: “Chame a polícia”.
Joice quase provocou a retirada do DEM da votação depois de um discurso inflamado. “Mais uma fala do governo e o DEM se retira da votação”, avisou o deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA). Ele e outros parlamentares da base ficaram irritados porque não é primeira vez que Joice quebra acordo da base para que os deputados não usassem tempo de fala na sessão, com o objetivo de agilizar os trabalhos. A líder do governo acusou os oposicionistas de fazer conversa fiada e de serem “paladinos da calculadora previdenciária”.
O líder da maioria na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), avisou que os parlamentares se articularão para retirar, na comissão especial, as regras de aposentadoria rural e mexer na proposta do BPC, benefício assistencial para baixa renda.
Para garantir a aprovação da reforma, alguns titulares contrários ao texto do governo Jair Bolsonaro foram substituídos por outros correligionários a favor da proposta. Um deles foi o deputado Reinhold Stephanes (PSD-PR) que estava como suplente e foi colocado como titular.
Num ato falho, o vice-líder do governo na Câmara Darcísio Perondi (MDB-RS) disse que a maior parte do impacto de R$ 1,1 trilhão afetaria os mais pobres - contrariando o discurso do governo que a maior contribuição virá dos mais ricos e privilegiados. A reação da oposição foi imediata, que se levantou para aplaudir o deputado governista. Eles também bradaram “Perondi, Perondi!” em coro.
Em meio à votação na CCJ, o presidente Jair Bolsonaro foi cobrado a renunciar à aposentadoria especial da Câmara a que tem direito. Bolsonaro, que foi deputado por 28 anos, tem direito à aposentadoria, mas ainda não fez o pedido. Ele poderia acumular o benefício com o salário de presidente da República. A cobrança foi feita pela deputada Clarissa Garotinho (PROS-RJ).
O QUE SAIU DO PROJETO INICIAL
- FGTS DE APOSENTADOS. A proposta retirava a obrigatoriedade de recolhimento de FGTS do trabalhador que já for aposentado e do pagamento da multa de 40% na rescisão contratual em caso de demissão desses trabalhadores.
- IDADE PARA APOSENTADROIA COMPULSÓRIA. A retirada da definição de aposentadoria compulsória da Constituição, transferindo mudanças para lei complementar. O dispositivo permitiria definir a idade máxima para aposentadoria compulsória dos servidores públicos por meio de lei complementar, que exige quórum mais baixo do que uma proposta de emenda constitucional. Recentemente, a idade máxima foi elevada de 70 para 75 anos, o que permitiu que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e de outros tribunais ficassem mais tempo no cargo. A brecha facilitaria uma mudança na composição dos tribunais superiores pretendida por aliados do governo para aumentar a influência sobre o Judiciário.
- JUSTIÇA CONTRA A REFORMA. Pela proposta, as ações contra a reforma da Previdência poderiam ser feitas apenas nas seções judiciárias em que o autor tivesse domicílio ou que houvesse ocorrido "ato ou fato" que tivesse dado origem à tal demanda. Com a retirada desse item, as ações contra a União continuam podendo ser feitas na Justiça Federal.
- EXCLUSIVIDADE DO EXECUTIVO. Dispositivo que deixaria apenas nas mãos do Executivo federal a possibilidade de apresentar projeto de lei complementar para alterar as regras da Previdência. Com isso, o Legislativo também fazer proposições.
22 de abril de 2019 | 03h00
A Constituição de 1988 consagrou a livre-iniciativa e assegurou “a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”, diz o art. 170, § único da Carta Magna. A regra é, portanto, a liberdade, e a necessidade de autorização, a exceção. No Brasil, no entanto, parece ocorrer o oposto. Há tantas regulações, que antes de iniciar uma atividade econômica, quase sempre o cidadão precisar ir atrás de um sem-número de autorizações e licenças do poder público.
Diante desse panorama, um grupo de juristas, sob a coordenação do professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Ari Sundfeld, formulou proposta acadêmica de projeto de uma Lei Nacional da Liberdade Econômica, com a finalidade de definir parâmetros para a regulação realizada pela União, Estados e municípios. Apresentado em evento acadêmico na Faculdade de Direito da USP, o anteprojeto oferece um marco jurídico para a atividade reguladora do Estado, tanto para proteger a liberdade econômica como para assegurar critérios mínimos de racionalidade na regulação.
O resultado é um ambiente de insegurança jurídica e de elevada discricionariedade. “Hoje ninguém sabe quais são exatamente os limites da regulação estatal. Não há conteúdos mínimos parametrizados sobre o que é a liberdade econômica”, afirmou o professor da UERJ Gustavo Binenbojm, que defendeu a necessidade de diminuir a discricionariedade legislativa, administrativa e judicial. Regulamentando o que dispõe a Constituição, o anteprojeto prevê que a liberdade econômica só pode ser limitada por lei ou por “regulamento expressamente autorizado pela lei”.
A proposta da Lei Nacional da Liberdade Econômica envolve também uma mudança de perspectiva sobre os atos reguladores. “Toda regulação deve ser experimental e provisória”, disse a professora da FGV Vera Monteiro. Não é porque foi editada que a regulação deve seguir vigente indefinidamente – é preciso avaliar periodicamente seus efeitos. Entre outros deveres, o anteprojeto estabelece que as autoridades deverão revisar constantemente as normas de ordenação pública a fim de reduzir sua quantidade e os custos para os agentes econômicos e para a sociedade, além de avaliar ao menos a cada cinco anos a eficácia e o impacto dessas normas.
Atualmente, um grande problema é a confusão na distribuição de competências, lembrou o professor Marçal Justen Filho. Há uma superposição de atribuições entre os vários entes federativos. Aproveitando a competência constitucional da União para legislar sobre Direito Econômico, o anteprojeto tem a finalidade de oferecer uma norma geral sobre a matéria, que vincule todos os entes federativos. Existem hoje, por exemplo, muitas regulações locais, absolutamente heterogêneas, que interferem em âmbito regional e nacional.
A proposta trata também dos tempos de atuação do poder público, fixando prazo, por exemplo, para a concessão de uma licença. Transcorrido o prazo, o silêncio da autoridade pública tem efeitos de autorização. A experiência indica que não impor limites temporais ao poder público é porta para a ineficiência, afirmou o diretor da Faculdade de Direito da USP, Floriano de Azevedo Marques.
É urgente uma profunda reforma da burocracia brasileira. O Estado deve ser estímulo, e não entrave, à atividade econômica. Nesse sentido, a proposta de Lei Nacional da Liberdade Econômica é uma importante contribuição para o País. Que o Congresso lhe dê a devida atenção.
20 de abril de 2019 | 03h00
SÃO PAULO - Em menos de um ano, os patinetes elétricos chegaram a pelo menos 13 cidades brasileiras – 10 delas, capitais –, e hoje apenas a Região Norte não conta com o serviço. As prefeituras, no entanto, não acompanharam a velocidade com que as empresas entraram nos municípios e, enquanto as operadoras atuam sem pagar pelo uso das vias, as gestões discutem regras do equipamento no espaço público.
Os patinetes elétricos já estão nas capitais São Paulo, Rio, Florianópolis, Goiânia, Curitiba, Recife, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte e Vitória, além dos municípios paulistas de Santos, Campinas e São José dos Campos. São Paulo foi a primeira cidade brasileira a ter as ruas invadidas pelos patinetes compartilhados, em agosto, mas a expansão País afora ganhou força mesmo no início do ano.
Em São Paulo, a gestão vem conversando com outras prefeituras, como as de Nova Yorke Paris, para analisar as experiências. Após discussões com as empresas de compartilhamento, a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes criou, em janeiro, um grupo para conduzir a regulamentação.
O que se sabe por enquanto é que “os equipamentos precisarão ser seguros, confiáveis e de qualidade e não poderão ser estacionados de modo que impeçam ou atrapalhem o caminho e a circulação dos pedestres”, disse a Prefeitura. Como o Estado informou, a gestão Bruno Covas (PSDB) já manifestou intenção de vetar os patinetes nas calçadas. Para Ejzenberg, a proibição de uso nas calçadas e a restrição às ruas e ciclovias faz sentido. “O patinete na calçada vai ser uma fonte de acidente.”
Na Avenida Paulista, embora a maioria opte por andar na ciclovia, não é raro que patinetes circulem na calçada, em meio a pedestres e bancas de ambulantes. “Como alternativa de mobilidade é ótimo, mas precisa ter alguma regra. Não devia permitir na calçada – tem gente que extrapola e anda muito rápido. Já vi pessoas caindo”, disse a cabeleireira Vilma Souza, de 47 anos. Já o artesão Dionísio Silva, de 29 anos, não vê problemas. “Só facilita. Às vezes a gente precisa fazer uma caminhada e com o patinete é rápido. Não acho que o Estado precisa impor uma regra: as pessoas vão se entendendo.”
Em Santos, a prefeitura alertou para a possibilidade de multa de R$ 195,23 para quem deixar o equipamento na rua – é infração grave uso da via pública como depósito, diz a gestão. A retirada e a devolução devem ocorrer em áreas privadas, conveniadas com a empresa do serviço.
Vitória (ES) foi uma das primeiras cidades a criar regras. Os dados de uso terão de ser compartilhados pela empresa com a prefeitura, e as companhias só poderão ampliar o número mediante autorização. Além disso, os equipamentos “devem ser colocados em locais que não prejudiquem a livre circulação de pedestres”, diz o secretário de Desenvolvimento Márcio Passos. Valem as velocidades do Contran, e os moradores podem denunciar infrações às empresas, pelo 156 e pelo app Vitória Online.
No Rio, um decreto em caráter experimental disciplinou o uso dos patinetes em dezembro, e um definitivo está em elaboração. Por enquanto, quem usa o equipamento deve seguir a determinação do Contran. Em nota, a prefeitura do Rio informou que os órgãos responsáveis farão a fiscalização das regras e que até a semana passada não havia registro oficial de acidentes com patinete compartilhado.
No Centro do Rio de Janeiro, os patinetes elétricos podem ser encontrados ao longo da movimentada Avenida Rio Branco, via ladeada por grandes edifícios comerciais. Também estão espalhados por ruas próximas e na Praça Mauá, ponto turístico que abriga o Museu do Amanhã, no início da Rio Branco. A circulação de patinetes é grande pela praça ao longo de todo o dia.
“É um serviço legal, carrega rapidinho. Funciona tanto para passeio como meio de transporte para trabalho. É eficiente e rápido”, diz entusiasmada a estudante de pedagogia Iara de Oliveira. Brasiliense, ela foi ao Rio a passeio e testou os patinetes. “É até melhor que a bicicleta, faz menos esforço. É só ficar em cima e se equilibrar.”
Manter-se em pé no equipamento é fácil, segundo os usuários ouvidos pelo Estado - mesmo para aqueles que usaram o patinete pela primeira vez.
“Nos primeiros dois, três minutos, deu uma insegurança, mas depois foi ao natural”, conta a militar Jaqueline Macedo, que acabou repetindo o passeio no mesmo dia. Ela alerta, porém, para a velocidade que o patinete elétrico pode alcançar. “Achei um pouco alta. Se não me engano o visor chegou a registrar 30 km/h. Dá para controlar, mas depende de você. Eu fiquei na média de 12 km/h”, diz.
A estudante de Letras Samira Ferder foi da Ilha do Governador, onde mora e os patinetes não são oferecidos, até a Praça Mauá para testar o equipamento. Ela gostou do serviço, apesar de achar que ele acaba sendo mais caro do que o aluguel de bicicletas. “Para quem mora perto do trabalho, acho que vale a pena até mesmo como meio de transporte. Mas, se for longe, não, pelo custo”, afirma.
O advogado Emmanuel Biar já incorporou o equipamento na rotina. Ele faz diariamente de patinete o percurso entre o escritório na Rio Branco e a sede da Justiça Federal.
- Califórnia (EUA)
Berço dos patinetes, a Califórnia lançou novas regras em 2019. Maiores de 18 anos podem conduzi-los sem capacete, independentemente da velocidade. Em ciclovias e ruas, a velocidade máxima é de 15 km/h. De modo geral, o uso é permitido em avenidas em que se pode dirigir até 35 km/h.
- Portugal
Na capital, dirigir patinete embriagado pode resultar em multa de ¤ 250, pois ele é equiparado ao veículo. Lisboa discute a possibilidade de restrição do número de equipamentos na cidade. Também está em debate a ideia de converter vagas de estacionamento de carro para patinetes.
- França
Nas ciclovias, o limite de velocidade é 25 km/h. Quem anda na calçada e estaciona obstruindo o tráfego está sujeito a multas que podem chegar a ¤ 135. O uso do capacete ainda não é obrigatório.
- Alemanha
O país discute a regulamentação, cuja aprovação pode ocorrer em maio. Em calçadas e ciclovias, os patinetes poderiam ter velocidade máxima de 12 km/h e ser conduzidos por maiores de 12 anos. Se não houver alternativa, os equipamentos podem ser usados nas ruas, ao lado dos carros. / COLABORARAM MÁRCIO DOLZAN E FELIPE RESK
18 de abril de 2019 | 00h25
SOROCABA – Milhares de romeiros estavam na estrada, na manhã desta quarta-feira, 17, em direção ao santuário de Pirapora do Bom Jesus, na região metropolitana de São Paulo. A cidade de 16 mil habitantes deve receber mais de 100 mil fiéis durante esta Semana Santa, segundo a prefeitura. Os romeiros vão depositar no santuário do Bom Jesus cerca de mil cruzes de todos os tamanhos. A tradição das romarias começou no século 18 e pode ter mais de 250 anos.
O grupo do autônomo Reinaldo do Amaral está na estrada desde as 12 horas de segunda-feira, 15, quando saiu de Tatuí, região de Sorocaba. Nesta quarta, os 60 caminhantes percorriam a Estrada dos Romeiros, entre Itu e Cabreúva. “Esperamos chegar ao santuário às 8 da manhã de sexta, para assistir a missa, após andar 105 quilômetros”, disse Amaral. O grupo se revezava para carregar uma cruz de madeira de 7 metros, pesando cerca de 80 quilos. Essa é a nona romaria do grupo, mas Amaral faz o percurso há 41 anos. “É agradecimento, penitência e para pedir saúde”, disse.
No caminho, eles encontraram o marceneiro Denilson Giacomazi, arrastando um cruzeiro de 18 metros com seis amigos de Tietê. O aposentado João Correia, de 65 anos, que acompanhava o grupo, disse que o tamanho da cruz não era o mais importante. “Não é uma competição, o que importa é a fé.” Outros romeiros preferiram se deslocar de bicicleta ou a cavalo.
A nona romaria 'Os Inovadores' saiu à meia noite de segunda-feira de Piracicaba com 17 cavaleiros. De acordo com o organizador Dirceu Alves da Silva, que vai a Pirapora há 58 anos consecutivos, a chegada do grupo estava prevista para a manhã desta quinta, após um pouso em Cabreuva. “Também levamos a nossa cruz”, disse. Após a entrega no santuário, as cruzes são doadas a famílias de baixa renda que aproveitam a madeira. As mais expressivas são colocadas no Morro da Cruz do Século e permanecem em exposição.
A cidade se preparou para receber as romarias. De quinta para sexta-feira, o santuário permanece aberto 24 horas. Na Sexta-Feira Santa, serão celebradas missas de hora em hora, a partir das 5 horas. Na Casa da Cultura, uma exposição fotográfica aberta até o dia 21 mostra as manifestações de fé dos romeiros.
A tradição teve início em 1725, quando o morador José de Almeida Naves encontrou uma imagem do Bom Jesus numa corredeira e pediu licença à Igreja para construir uma capela. A primeira festa em louvor ao padroeiro foi realizada em 1730, dando origem às primeiras romarias. A igreja atual foi concluída em 1887 e abriga no altar principal a imagem original de Cristo, com cabelos naturais.
17 de abril de 2019 | 03h00
Uma coisa é a instauração de um inquérito criminal para investigar ameaças veiculadas na internet envolvendo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Outra coisa bem diferente é um ministro do STF determinar, no âmbito desse inquérito, o que pode e o que não pode ser publicado por um veículo de comunicação a respeito do presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli. Isto é censura e, no Brasil, a Constituição de 1988 veda explicitamente a censura.
Num Estado Democrático de Direito, a informação é livre. Não cabe à Justiça determinar o que é e o que não é verdadeiro, ordenando retirar – ordenando censurar, repita-se – o que considera que não corresponde aos fatos. Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes alega que o conteúdo publicado pelos dois veículos de comunicação foi desmentido pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e, portanto, não caberia sua publicação – raciocínio que ofende a liberdade de expressão e de imprensa.
Não cabe à Justiça determinar o que é e o que não é fake news. Numa sociedade livre, o Estado não tem autoridade para arbitrar o que é verdadeiro e o que é falso. Além disso, por mais que se possa qualificar com segurança que uma notícia não corresponde inteiramente aos fatos, isso não significa autorização para que a Justiça a censure. A ideia de que uma fake news “exige a intervenção do Poder Judiciário”, como disse Alexandre de Moraes, não tem respaldo na Constituição.
Vale lembrar que, no período eleitoral, vigem regras específicas sobre propaganda eleitoral, cabendo à Justiça Eleitoral averiguar se o material produzido por um candidato guarda correspondência com os fatos. Dependendo do caso, um conteúdo considerado ofensivo pode ter sua veiculação proibida e dar direito à resposta do candidato ofendido. Essa atuação da Justiça Eleitoral, específica do período eleitoral, não guarda nenhuma correspondência, no entanto, com a iniciativa do Judiciário de assumir a função de árbitro da veracidade das informações que circulam na sociedade.
Todo cidadão tem o direito de recorrer à Justiça para a proteção de sua honra para postular direito de resposta, bem como exigir as correspondentes consequências cíveis e penais. No entanto, isso não significa entender que uma notícia supostamente equivocada sobre o presidente do STF é uma agressão às instituições nacionais e mereça ser censurada.
A Justiça deve atuar com rigor contra as ameaças proferidas contra ministros do Supremo e seus familiares. Essas agressões representam uma grave violação das garantias do Estado Democrático de Direito, na medida em que tentam subjugar a independência do STF. A difusão de notícias mentirosas também pode representar uma forma de ameaça contra o Poder Judiciário. Nada disso, no entanto, é justificativa para esquecer a Constituição e decretar a censura de meios de comunicação.
Nesses tempos revoltos, é de especial importância o respeito às garantias e às liberdades fundamentais. A resposta do Estado a quem deseja subverter a ordem deve ser a mais plena fidelidade à lei e ao Direito. Não há outro caminho de liberdade.
14 de abril de 2019 | 20h56
BRASÍLIA – Nos primeiros cem dias de governo do presidente Jair Bolsonaro, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) registrou só uma ocupação de terra no País. Situação bem diferente da registrada no mesmo período de 2018, quando ocorreram 43 invasões de propriedades. O discurso de Bolsonaro pela “criminalização” de movimentos tem solapado as iniciativas de ocupação de terra. Mas não é só isso.
Marcado para começar a partir de quarta-feira, o Dia Nacional da Luta pela Reforma Agrária terá atos limitados a marchas, comercialização de produtos agrícolas e plenárias de debates. O abrandamento é uma decisão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cuja direção nacional quer evitar conflitos com forças de segurança nos Estados e com a ala mais radical dos bolsonaristas. “Temos de esperar diminuir o tensionamento das eleições”, disse João Paulo Rodrigues, integrante da coordenação nacional do MST. “Temos de ser cautelosos.”
A facilitação da posse de armas, uma das primeiras medidas de Bolsonaro, e a atuação de milícias armadas no campo preocupam os militantes. “A criminalização dos movimentos fez com que recuassem”, explica a coordenadora executiva nacional da CPT, Isolete Wichinieski. “Para ter uma luta mais efetiva, você precisa ter um número maior de pessoas num local e dar segurança para elas. Há em muitos lugares milícias formadas e consórcios de fazendeiros que estão se juntando contra as comunidades.”
Ela observa que a Justiça também tem sido mais rigorosa com os movimentos: “Você não pode ocupar uma terra e ficar porque ela não vai ser desapropriada, há outros mecanismos e leis”. Políticos de oposição com acesso ao MST também avaliam que a inflexão dos movimentos sociais deve-se ao atual contexto repressivo, somado à poda de recursos públicos.
A única invasão de terra registrada pelo Incra nem foi promovida pelo Movimento Sem-Terra. Em janeiro, cerca de 70 integrantes da União Nacional Camponesa (UNC) permaneceram três dias na Fazenda Novo Mundo, em Itupiranga, no sudeste paraense. No governo Bolsonaro, um grupo de mulheres ligadas ao MST chegou a entrar numa fazenda do médium João de Deus, em março, na cidade goiana de Anápolis, Goiás. A invasão não entrou nas estatísticas oficiais e foi classificado pelo movimento como um ato político em protesto ao abuso sexual, crime pelo qual o líder espiritual é acusado. Numa ação anterior, em janeiro, mulheres do movimento bloquearam uma estrada de ferro da Vale próxima a Brumadinho, Minas Gerais, onde uma barragem rompeu, matando mais de 200 pessoas.
“O discurso do presidente na campanha não foi de repressão, mas de cumprir a lei”, afirma o secretário especial de Assuntos Fundiários, Luiz Antonio Nabhan Garcia. Ele diz que o governo está determinado a não fazer vistorias de terras para reforma agrária que forem invadidas dois anos depois da desocupação, como estabeleceu uma Medida Provisória do governo Fernando Henrique Cardoso, em 2000. “Não faremos reforma agrária na base do grito e da pressão.”
O secretário afirma que o governo está “atento” a atividades do Abril Vermelho e a Justiça será logo acionada em casos de invasões de prédios públicos ou destruição de bens do Estado. “Esse governo fechou as torneiras. Não tem dinheiro para ONGs e invasores de propriedades. Não tem mais dinheiro para ser jogado na lata do lixo”, diz. “Só vai ter dinheiro para quem quer trabalhar e produzir.”
O governo prepara um vistoria em assentamentos do Incra para identificar lotes vazios e ocupações irregulares para alojar famílias que estão em acampamentos improvisados nas margens das rodovias. “Não dá para deixar as pessoas de baixo de lona nas margens das estradas em condições sub-humanas”, diz Luiz Antonio Nabhan Garcia.
O secretário especial de Assuntos Fundiários estima que há um “número elevado” de lotes que estão ocupados irregularmente por pessoas que compraram o imóvel de assentados. “Esses que estão lá nos assentamentos têm que provar que estão produzindo. Aí vai receber o título.” Ele diz que a reforma agrária não foi paralisada e afirma que o modelo “ideológico” de distribuição de terras do passado criou um passivo de R$ 1,2 bilhão com processos judiciais.
Sem acesso ao Incra, o MST quer abrir canais com o governo Bolsonaro por meio de dois ministros de confiança do presidente: o general Santos Cruz, da Secretaria de Governo, e Tereza Cristina, da Agricultura. O MST entende que o Incra teve as portas fechadas sob influência de Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR), principal organização opositora do MST.
Para o líder do MST João Paulo Rodrigues, essas alternativas podem ser viáveis para destravar as relações do movimento social com o governo. “Não somos inimigos dos militares.” Segundo ele, o movimento tem mais de 380 mil filiados e 110 mil acampados. Ele diz que o MST vive da ação das cooperativas produtoras e reclama que desde o governo Michel Temer não recebe repasses de verbas para programas de assistência técnica nem de educação na reforma agrária. “As compras de produtos das cooperativas pela Companhia Nacional de Abastecimento também foram suspensas.”
Outro tema é o combate à proposta de reforma da Previdência. Parte das ações foi combinada com outras organizações, em março, no congresso da Frente Brasil Popular. “O foco é a reforma da Previdência, que tem impacto grande na vida do trabalhador rural”, disse o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que esteve no encontro.
Wilson Baldini Jr.
12 de abril de 2019 | 18h30
Adilson Maguila Rodrigues e Walter Daniel Falconi se reecontraram depois de 33 anos, nesta sexta-feira à tarde, no Hotel Jaraguá, no centro de São Paulo, em clima de muita brincadeira e amizade. “Pô, mas você está careca”, brincou Maguila, logo no primeiro momento do encontro, que reuniu grandes figuras do boxe nacional.
Maguila e Falconi se conhecem desde 1981, quando o argentino veio a São Paulo para a disputa de um sul-americano amador e foi treinar na academia do BCN, onde o brasileiro treinava todos os dias.
“Eu e Maguila temos muitas coisa em comum. Temos três filhos, tivemos três cachorros e hoje temos dois gatos”, voltou a brincar Falconi. Além disso, atualmente, os dois encabeçam projetos sociais, cujo tema principal é o boxe.
Falconi também participou de filmagens para o documentário que está sendo feito sobre a história de um dos pugilistas mais carismáticos da nobre arte nacional.
Aos 61 anos, Falconi mora na Itália. Maguila, de 60 anos, sofre de encefalopatia traumática crônica (ETC), uma doença crônica.
09 de abril de 2019 | 10h29
Por José Eduardo Carrilho, consultor do Sebrae-SP
O pequeno mercado tem mais agilidade e capacidade de adaptação que as grandes redes, pois tem maior poder de decisão sobre seus rumos. Além disso, ao estar mais próximo, tem mais facilidade para entender a real necessidade do seu cliente e atendê-la. Por meio dessa proximidade, consegue oferecer soluções mais customizadas. Um ponto que não pode ser esquecido é o atendimento, que deve ser empático e atento. Capacitar a equipe é investimento, não gasto.
Buscar parcerias locais é outra ferramenta importante no aumento da competitividade. Comprar coletivamente alguns itens aumenta o poder de barganha e permite oferecer preços mais competitivos a seus clientes, inclusive aumentando sua margem.
A comunicação visual das grandes redes é padronizada, muitas vezes sem identidade com o local onde se encontra; o pequeno varejo pode se permitir inovar. A seção destinada a frutas, legumes e verduras deve receber atenção especial, pois gera fluxo diário e fomenta o consumo dos demais produtos. Cada visita que o cliente faz à loja é uma experiência única de consumo.
Para os pequenos mercados interessados em se modernizar para enfrentar a concorrência, primeiramente é preciso diferenciar modernização de tecnologia. Tecnologia sem evolução de comportamento pouco acrescenta. Pequeno varejo moderno é aquele que consegue satisfazer seus clientes nas necessidades básicas de consumo e surpreendê-lo entregando algo mais.
Esse algo mais não é necessariamente alguma mercadoria concreta, pode estar numa simples preocupação sincera de bem atender. Procure conhecer seu cliente com maior profundidade para propor inovação mais assertiva. Fique atento às novas tecnologias que visam dar agilidade e segurança ao processo de finalização da compra, pois a última impressão é tão importante quanto a primeira.
É muito importante a valorização de sua equipe, pois quando você coloca seus funcionários em primeiro lugar, eles colocam os clientes em primeiro lugar
Devemos entender o varejo como algo mais que a atividade comercial propriamente dita, é uma prestação de serviços personalizada. Atender pessoas é uma arte, e isso pode ser aprendido e aperfeiçoado. Pesquisas recentes apontam o atendimento diferenciado como o principal fator de fidelização. Busque conhecer as preferências de consumo e mostrar ao cliente que ele é importante para você e para o seu negócio.
Simpatia, profissionalismo, eficiência, agilidade, atenção e empatia são indispensáveis, além de um enorme diferencial competitivo. Uma referência mundial do atendimento diferenciado, a americana Stew Leonard’s leva tão a sério a qualidade do atendimento que utiliza como ícone, na entrada de suas lojas, a “Pedra do Compromisso”, que contém apenas duas regras:
Regra 1: “O cliente tem sempre razão”
Regra 2: “Se o cliente estiver errado, releia a regra um”
Não esqueça que é muito importante a valorização de sua equipe, pois quando você coloca seus funcionários em primeiro lugar, eles colocam os clientes em primeiro lugar. É fundamental que o cliente saia da loja com a sensação de que a visita foi agradável e sinta prazer em voltar.
09 de abril de 2019 | 16h23
Atualizado 10 de abril de 2019 | 00h46
JERUSALÉM - O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, ficou nesta terça-feira mais perto de ser reeleito para um quinto mandato em Israel. Nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (início da madrugada no Brasil), com 99% das urnas apuradas, o Likud, partido do premiê, e o Azul e Branco, do general Benny Gantz, estavam empatados, com 35 cadeiras cada um. Bibi, no entanto, aparece em vantagem quando somada a coalizão de pequenos partidos, que lhe dariam entre 65 e 67 deputados dos 120 do Parlamento.
Apesar do dia de sol na maior parte do país e do clima de feriado, que tirou muita gente de casa, a eleição foi marcada pelo baixo comparecimento dos árabes-israelenses, que reúnem cerca de um quinto da população. Um pouco mais de 46% deles votaram nesta terça-feira, bem abaixo dos 63,5% registrados nas últimas eleições, em 2015. A participação eleitoral geral foi de 67,9%.
“Os árabes-israelenses não acreditam que os partidos árabes divididos tenham alguma efetividade no Parlamento”, afirmou o analista Mohamed al-Kassim. Em 2015, a Lista Árabe Unida elegeu 16 deputados. Agora, serão 10.
A sensação de desânimo, segundo árabes-israelenses consultados pelo Estado, também tem relação com a chamada Lei do Estado-Nação, aprovada em julho do ano passado. O texto determina que Israel é um Estado exclusivamente judeu, que tem como sua única capital “Jerusalém unificada” e apenas o hebraico é a língua oficial.
Muitos árabes-israelenses, especialmente os jovens, passaram a se sentir “cidadãos de segunda classe”. Alguns criticaram especialmente o general Gantz, que nunca se refere à minoria como “árabes”, mas sim como “o setor não judeu” da sociedade.
Logo após a divulgação dos primeiros resultados, Bibi se dirigiu a seus eleitores e se mostrou confiante de que formará o novo governo.
Nesta terça-feira, o partido de Netanyahu foi acusado de suprimir ainda mais o voto árabe. O Likud colocou 1.300 câmeras ocultas em centros de votação de árabes-israelenses – algumas entraram escondidas no corpo dos correligionários do premiê.
A iniciativa foi criticada por opositores, que acusam Netanyahu de tentar intimidar a população. O primeiro-ministro israelense defendeu a filmagem das seções eleitorais e afirmou que deveria haver câmeras para “garantir um voto justo”.
As seções eleitorais fecharam às 21 horas (18 horas em Brasília). Uma hora depois, as três principais TVs de Israel divulgaram pesquisas de boca de urna. Os números eram parecidos: Gantz e Netanyahu disputavam a liderança voto a voto, mas o grupo político do premiê, a chamada “direita religiosa”, faria mais deputados.
A decisão sobre quem terá a prerrogativa de formar um governo primeiro cabe ao presidente israelense, Reuven Rivlin. Ele pedirá que os partidos que elegeram deputados indiquem quem apoiam para o cargo de primeiro-ministro. Quando obtiver uma resposta, o presidente escolhe o líder do partido para tentar formar uma coalizão de governo.
Sem um vencedor claro, as legendas nanicas ganharam ontem um protagonismo inesperado e seus líderes se tornaram fiéis da balança. Dois partidos da coalizão de Bibi, o Shas e o Yahadut Hatorah (UTJ), ambos religiosos ultraortodoxos, disseram que receberam ligações de representantes do Azul e Branco, partido de Gantz. No entanto, seus líderes, Aryeh Deri (Shas) e Yaakov Litzman (UTJ) juraram fidelidade a Netanyahu.
O ministro das Finanças, Moshe Kahlon, líder do Kulanu, partido de centro, e o ex-ministro da Defesa Avigdor Liberman, do partido Yisrael Beytenu, disseram que esperarão a conclusão da apuração para anunciar apoio – embora seja quase consensual que eles também ficarão com Netanyahu.
Depende.
Em tese, pratos de bacalhau em que a preparação é mais simples pedem vinho branco.
Por Guilherme Velloso, para o Paladar
Depende. Em tese, pratos de bacalhau em que a preparação é mais simples, ou que levam molhos leves (à base de natas, por exemplo), como uma brandade, pedem vinho branco. Se a composição envolver muitos ingredientes e/ou temperos fortes (alho, tomates, pimentões ou ainda carnes como presunto/chouriço), os tintos ganham pontos.
Esta mesma regra deverá orientar a escolha do estilo do vinho, especialmente no caso de brancos. Aqui, importa saber se ele deverá ou não ter estagiado em barricas de carvalho. Para uma simples posta de bacalhau cozida e acompanhada de batatas ou verduras, um branco sem madeira, como um vinho verde, será suficiente.
Caso a preparação inclua manteiga, leite ou natas, como nas receitas tradicionais à lagareiro e à Zé do Pipo, melhor apostar num branco com estágio não muito longo em barricas. No caso, um Chardonnay pode ser o caminho mais fácil. Se preferir os portugueses, vinhos à base da uva Encruzado, que reina no Dão, são boa pedida.
A meu ver, as receitas de bacalhau (em sua maioria) favorecem os brancos, mas nada impede escolher um tinto. Para essas ocasiões, é preferível optar pelos leves, sem muita madeira. Do contrário, o vinho provavelmente dominará o prato. Alentejo, Dão e Douro oferecem inúmeras opções. Um chileno à base de Pinot Noir, de taninos sedosos, também pode ser incluído na lista.
A tempo: bolinho de bacalhau fica ainda melhor se harmonizado com um espumante, a acidez e o frescor fazem belo contraponto ao sal e à gordura da fritura. E mesmo os rosés funcionam bem com muitas preparações de bacalhau.
06 de abril de 2019 | 03h00
As reuniões de Jair Bolsonaro com líderes de seis partidos, anteontem, sinalizam importante mudança de comportamento do presidente em relação ao Congresso, o que pode afinal melhorar o clima com vista a aprovar a reforma da Previdência e outros projetos de interesse do País. Após três meses de gestão repletos de conflitos inúteis entre o governo e os parlamentares, Bolsonaro enfim aceitou o fato de que é preciso dialogar com os partidos. Até então, sustentava o discurso de campanha segundo o qual qualquer forma de negociação com as legendas seria retornar aos maus hábitos da “velha política” – codinome para corrupção e fisiologismo –, amplamente rejeitados nas urnas.
Ademais, e talvez o mais importante, Bolsonaro deu sinais de desdém pela articulação política, indicando políticos neófitos e claramente despreparados para representar os interesses do governo no Congresso. Não raro, esses líderes do governo são ridicularizados pelos parlamentares.
Aparentemente foi esse o motivo que o convenceu a abrir as portas do governo para conversar com os líderes de diversos partidos (DEM, PSDB, PSD, PP, PRB e MDB). Nos encontros, pediu apoio à reforma da Previdência e anunciou a criação de um “conselho político” para manter um diálogo permanente. Pediu desculpas pelas suas críticas aos políticos – que ele chamou de “caneladas” – e se comprometeu a não falar mais em “velha política”, ainda que, depois, nas redes sociais, tenha jurado a seus eleitores que não negociou cargos com ninguém, como se qualquer reunião com líderes políticos fosse suspeita por definição.
O gesto de distensão não teve efeito imediato. Apenas o DEM, por meio de seu presidente, ACM Neto, sinalizou a possibilidade concreta de apoio, embora o partido esteja hoje dividido – especialmente depois que Bolsonaro se desentendeu publicamente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os demais líderes não se dispuseram a declarar adesão à base do governo. Ou seja, o presidente terá que gastar mais seu verbo para garantir um patamar mínimo de votos no Congresso.
O primeiro passo, no entanto, está dado. Espera-se, daqui para a frente, que não haja mais tropeços, pois o governo precisa ter mais do que o PSL, o partido do presidente, como sustentação no Congresso – e isso ficou claríssimo na sabatina do ministro da Economia, Paulo Guedes, quarta-feira passada na Câmara, quando os deputados do PSL, inclusive os líderes do governo, mal deram o ar da graça, permitindo que a oposição ficasse à vontade para atacar o ministro.
Outra providência que Bolsonaro precisa adotar para construir pontes sólidas com o Congresso é ordenar que seus filhos parem de lhe causar constrangimentos. Depois que o pai se reuniu com líderes partidários para convencê-los a apoiar o governo, o vereador carioca Carlos Bolsonaro foi ao Twitter para dizer que esses políticos só não pediram cargos ao presidente porque Bolsonaro tem “a população a seu lado”, e acrescentou: “Por isso o sistema corrupto insiste tanto em desgastá-lo e transformá-lo em mais um boneco de ventríloquo”. Nunca um pito paterno foi tão necessário e urgente para o País.
03 de abril de 2019 | 21h17
BRASÍLIA - Acabou em briga e troca de palavrões o primeiro teste do ministro da Economia, Paulo Guedes, na audiência pública na Comissão de Constituição de Constituição e Justiça (CCJ) sobre a reforma da Previdência.
Zeca começou as críticas perguntando a razão pela qual Guedes começou as reformas com a da Previdência e não alterações que afetassem os banqueiros.
A partir daí, o clima ficou insustentável e o presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), teve que acabar com a audiência. Sem experiência e com apenas 27 anos, ele não conseguiu conduzir com firmeza a audiência. Por pelo menos outras vezes, a alta tensão e a gritaria dominaram a audiência.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reagiu depois da sessão. “Chamar um ministro de ‘tchutchuca’ é um absurdo”, afirmou ao Estado. “É péssimo para a Câmara. Paulo Guedes tem dialogado com respeito com o Parlamento”.
Acusado de mentiroso, rentista do mercado financeiro e cruel por querer formar uma "legião de pobres" com a capitalização da Previdência, Guedes partiu para um embate direto com os oposicionistas, com ironias e ataques aos dois governos do PT.
Um dos momentos mais tensos foi quando os deputados se intrometeram na sua resposta à pergunta do deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) sobre a idade que as empregadas domésticas se aposentam.
Com fúria, o ministro questionou os parlamentares da oposição: "por que vocês não botaram imposto sobre dividendos, porque deram dinheiro para a JBS?". Se voltando para os parlamentares, Guedes rebateu: "nós estamos há três meses e vocês tiveram 18 anos (de poder) e não tiveram coragem de mudar".
Houve reação dos deputados atacados por Guedes. Diante da gritaria, Guedes reagiu: "A Casa não está me respeitando. A Casa não me dá o direito de falar".
Guedes foi em frente com as críticas e disse que eram fake news a informação de que no Chile havia muitos suicídios por conta da Previdência.
O bate-boca recomeçou quando Guedes falou que era caso de internação de que quem não via a necessidade de reforma. O que se seguiu foi nova explosão dos deputados.
No primeiro embate, que levou à queda da Bolsa e alta do dólar, teve como estopim o sistema de capitalização. Guedes disse aos deputados: "Se quiserem, embarquem seus filhos no avião em que vocês estão e vão acabar como Rio de Janeiro, Minas Gerais".
A fala do ministro foi recebida com aplausos dos parlamentares governistas, enquanto representantes da oposição gritavam "Chile", em alusão aos problemas previdenciários pelos quais passam o país, citado como exemplo de sucesso por Paulo Guedes. "O Chile tem quase o dobro da renda per capita do que o Brasil, acho que a Venezuela está melhor", ironizou.
O ministro então começou um bate-boca com deputados oposicionistas, principalmente com Henrique Fontana (PT-RS), a quem Guedes respondeu: "Deputado, fale mais alto do que eu".
Com a confusão generalizada - que incluiu deputados homens mandando colegas mulheres "calarem a boca" e outras mulheres saindo em defesa das deputadas atingidas -, Guedes acalmou os ânimos e pediu desculpas.
"Me aconselharam a não reagir, mas tentei ser atencioso. Sou muito respeitoso. Cometi o erro de interagir. Assim que eu interagi, vocês transformaram em outra coisa", afirmou. "Meu papel é relativamente simples, quem vai julgar são os senhores. Com a maior franqueza, não cabe a mim entrar no debate político. Tenho que dar explicações e não preciso me exaltar, me desculpe".
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acompanhou a sessão em vários momentos num gesto de apoio a Guedes, mas não se intrometeu. O líder do governo, Major Vitor Hugo (PFL-GO) teve uma participação tímida sem defesa contundente.
Com a forte pressão dos deputados, o ministro acabou fazendo um desabafo ao afirmar que pode estar "errando de várias maneiras", mas que procura fazer o melhor.
Em audiência na Comissão de Constituição (CCJ) da Câmara, Guedes refutou o título de "rentista" dado pelos parlamentares. Ele disse que ao entrar para o governo "sem dúvida" está perdendo financeiramente.
"Eu posso estar errando em várias maneiras. Eu posso estar errado. A única garantia que eu dou é que estou tentando fazer o meu melhor", desabafou.
O ministro cutucou os políticos. Disse que não gostaria de ser chamado de rentista da mesma maneira que não apontava para um deputado dizendo que ele é praticante da velha política. "Eu não classifico ninguém", disse.
Na defesa do fim dos privilégios, ele aproveitou para cutucar o Legislativo afirmando que os parlamentares têm aposentadorias 20 vezes superior em média a do INSS. Ele destacou que a aposentadoria média dos parlamentares é de R$ 28 mil, enquanto a dos trabalhadores da iniciativa do INSS que recebem pelo INSS é de R$ 1,4 mil.
Um dia após a confusão, o secretário especial adjunto de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, participa nesta quinta-feira, 4, às 9h30 de audiência no mesmo colegiado. A CCJ vai promover um debate com juristas sobre a constitucionalidade da reforma da Previdência. Bianco é procurador federal da AGU.
Sucessora da Fiat Strada já está em testes no Brasil para ser lançada no início do ano que vem
A Fiat Strada como conhecemos hoje vai morrer. Sua sucessora já roda em testes no Brasil como mostra o flagra do parceiro @vitor.spereira. Conhecida pelo código X1P, ela continuará tendo foco no trabalho. E, para cortar custos, ela será meio Frankenstein. Terá base de Argo, frente de Mobi e traseira de Fiorino.
Quando se fala em traseira de Fiorino, isso quer dizer que a picape manterá o eixo rígido que já acompanha a Strada. Ele é muito confiável, qualquer mecânico sabe mexer e funciona muito bem para o trabalho pesado. No uso urbano, ele deixa a picape mais molenga, mas isso é assunto para outro post.
Strada terá câmbio CVT
Outra novidade que a Strada vai trazer, dada em primeira mão pelo site Autos Segredos, é o câmbio CVT aliado ao motor 1.3 FireFly. Causa estranheza o uso deste tipo de transmissão com motor de baixa litragem em um carro pequeno. Mas segundo uma fonte da Fiat, o CVT está sendo trabalhado para o conforto e economia de combustível máximo, para que quem usa a Strada na “lida” tenha a vida um pouco mais mansa.
O interior da picape, segundo esta mesma fonte, será quase todo do Mobi. Mas alguns detalhes do exterior, na versão Adventure, vão emular os enfeites do Argo Trekking, versão aventureira do hatch que será lançada agora em abril.
Apesar de ser um projeto antigo, derivado do Palio, que já saiu de linha, a Strada continua um sucesso de vendas, brigando sempre com a Toro, também da Fiat, pelo espaço de picape mais emplacada do Brasil. Portanto, é um risco tirar um sucesso absoluto assim do mercado. Mas quem não arrisca, não petisca.
Usados bons para comprar com até R$ 40 mil
Dammi un Chianti, per favore. Sob o sol da Toscana, tudo o que você precisa para conhecer um dos tintos mais célebres da Itália. Por Daniella Romano
Durante muitos anos, ao entrar em uma cantina italiana, era comum ver todas aquelas garrafas penduradas no teto. Uma particularidade sempre me chamava a atenção: as embalagens, bojudas, eram envoltas em uma cestinha de palha. Elas também ocupavam as mesas de imigrantes italianos mundo afora, representando um pedacinho da pátria Itália onde quer que eles estivessem vivendo.
As antigas fiascos (como são chamadas as garrafas bojudas envoltas em palha) foram criadas para diferenciar os vinhos Chianti. Há muitas teorias sobre seu nome, mas opto pela versão mais simples – fiasco significa garrafa ou frasco (do latim medieval flascum).
No coração da Toscana, entre estradinhas cercadas por ciprestes e castelos de pedra da era medieval, encontra-se a zona do Chianti. Ela fica entre as cidades de Florença, Siena, Arezzo e Pisa. A região produz uvas desde a época dos etruscos, passando pelos romanos, até os dias de hoje. É uma das áreas mais nobres de produção de vinho na Itália. Foi no ano de 1716 que o grão-duque Cosimo III de Medici demarcou a zona do Chianti Classico. Depois, o crescimento fez o governo italiano criar, em 1967, a Denominazione di Origine Controllata (DOC) e incluir as sub-regiões do Chianti Clássico. Só que, com o passar do tempo e o aumento da demanda, muitos produtores começaram a empregar uvas de qualidade inferior e aumentar a produção de um jeito desordenado e confuso, criando vinhos ruins.
A má fama do Chianti durou tempo demais até que viticultores desgostosos resolveram plantar “uvas proibidas” na região e deram início à produção de vinhos espetaculares, mas que ficaram de fora da classificação da DOC. Começava ali a era dos supertoscanos. Foi em 1984 que, com algumas modernizações e mudanças nas regras, os Chianti ganharam a máxima classificação do vinho italiano e passaram a ostentar DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita).
Um pouco mais adiante, o Chianti Classico também recebeu sua própria DOCG, e descolou-se do Chianti DOCG. A uva principal do Chianti é a Sangiovese. Autóctone da Toscana, ela tem entre suas características marcantes acidez típica, cor granada, taninos médios, toques de chá-preto, ervas, groselhas, violetas e especiarias. É a mesma uva do Brunello di Montalcino.
Os vinhos italianos são protegidos pela legislação, e muitas vezes são tantas as regras que ficamos confusos. A seguir, relaciono as classificações do Chianti e do Chianti Classico, suas características e destaques. Depois de entender as diferenças, que tal chamar os amigos, provar e descobrir qual dos dois estilos é o seu preferido? Salute!
O VINHO E A COMIDA ESTÃO NA MESA
A acidez elevada do Chianti é ideal para cortar gorduras e equilibrar molhos à base de tomate. Se pensou em pizza, massa ao sugo e ragu, a tendência é dar certo. Os taninos se equilibram em contato com o azeite de oliva – e eles também realçam o sabor de carnes grelhadas.
CHIANTI jovem, de taninos firmes e um pouco mais rústicos
• Carnes: uma das harmonizações mais indicadas é com bistecca alla Fiorentina, típica da Toscana, grelhada e servida com o osso (T-bone)
• Massas: ao molho de tomate e ao molho pesto (à base de manjericão, azeite extravirgem, queijo grana padano ou parmesão e pinole, nozes ou algum outro tipo de castanha) •Salames: principalmente os que têm erva doce
• Queijos: pecorino
CHIANTI CLASSICO maduro, como os Riserva e Gran Selezione
• Queijos: grana padano e parmigiano reggiano
• Carnes: cordeiro grelhado ao molho de hortelã e carne assada mais batatas gratinadas
• Cogumelos: grelhados ou ao molho de manteiga ou vinho
• Sanduíches: cheeseburguer
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AS CLASSIFICAÇÕES DO CHIANTI DOCG
Para ser Chianti DOCG, o vinho deve ser obtido de uva Sangiovese (no mínimo 70%). Ele pode ter, ainda, uvas brancas Malvasia e Trebbiano (no máximo 19%). Também são permitidas Canaiolo Nero, Colorino, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah (responsáveis por mais frutas e taninos macios).
Ao todo, há na Itália sete sub-regiões produtoras de vinhos Chianti DOCG (Rufina, Montalbano, Colli Arentini, Colli Senesi, Fiorentini, Montespertoli e Pisani). As melhores são a Rufina e a Colli Senesi. Os vinhedos estão em terrenos elevados, onde os dias são mais quentes e as noites mais frias. Isso contribui para o melhor amadurecimento da Sangiovese. A Colli Senesi também merece atenção. Fica ao sul de Siena e perto dos Brunello di Montalcino.
AS CLASSIFICAÇÕES DO CHIANTI CLASSICO
Para ser Chianti Classico DOCG, um produto de qualidade superior, o vinho deve ter pelo menos 80% de Sangiovese e os outros 20% podem incluir Canaiolo Nero, Colorino, Cabernet Sauvignon e Merlot. Uvas brancas não são autorizadas. São nove as sub-regiões produtoras do Chianti Classico (Barberino Val D’Elsa, Castellina in Chianti, Castelnuovo Berardenga, Gaiole in Chianti, Greve in Chianti, Poggibonsi, Radda in Chianti, San Casciano Val Di Pesa e Tavernelle Val di Pesa).
O jeito mais simples e fácil de saber se o vinho é um Chianti Classico é procurar na garrafa o gallo nero (galo negro) – trata-se de um símbolo desse estilo de tinto elegante, com notas de violeta, especiarias e frutas. O galo tem a ver com uma antiga lenda sobre animais usados para resolver conflitos nas divisas entre as regiões.
DANIELLA ROMANO é sommeliére. Criou o Guia de Vinhos Selo 7 Sommeliers e a empresa Aromas do Vinho. É proprietária da Casa da Travessa (www.casadatravessa.net), um espaço dedicado à gastronomia, ao conhecimento e ao estudo do mundo do vinho
30 de março de 2019 | 03h00
Causada pela disputa política entre os integrantes de sua cúpula, a crise interna do Ministério da Educação (MEC) está ameaçando a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, que tem mais de 5 milhões de estudantes inscritos e está marcado para novembro.
Um dos exonerados foi justamente o presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues, após desentendimentos com o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, sobre a suspensão da avaliação nacional da alfabetização das crianças, que é uma peça fundamental do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), criado em 1990.
Nos dois órgãos, há até quem tenha proposto como critério para as questões uma abordagem de ensino e aprendizagem que parte do “raciocínio sobre verdades bíblicas”, com o objetivo de “formar uma erudição baseada numa cosmovisão cristã e líderes servidores aptos a cumprir o propósito de Deus com suas vocações”.
Independentemente das divergências políticas entre os dirigentes do MEC e do Inep, o fato é que a criação dessa comissão deixou evidente a preocupação do governo em interferir política e religiosamente na formulação das perguntas do próximo Enem.
Quando a portaria com os nomes escolhidos para integrar essa comissão foi divulgada, dirigentes do MEC alegaram que ela não faria censura ideológica, mas somente uma “leitura transversal das questões”. Contudo, como levar essa justificativa a sério se um dos integrantes dessa comissão, escolhido como representante da “sociedade civil”, por critérios não suficientemente explicitados, é defensor da tese de que há “uma contaminação ideológica nas universidades, que vêm formando juristas e políticos com mentalidade esquerdizante”? Além disso, ao explicar que o trabalho da comissão é só “uma etapa técnica de revisão de itens”, os dirigentes do MEC afirmaram que, quando seus membros vetarem uma questão, a Diretoria de Avaliação do Inep poderá contra-argumentar, ficando a decisão final a cargo do novo presidente do órgão, que até ontem não havia sido escolhido.
Além de colocar em risco a realização do Enem, esse ambiente tumultuado e confuso numa das áreas estratégicas da máquina governamental está atrasando a publicação de editais e a formulação de políticas públicas destinadas a incrementar a qualidade da educação, fator decisivo para o desenvolvimento do País.
Na área da educação, o maior desafio é tornar eficiente um sistema de ensino anacrônico e mal orientado. Para formar o capital humano de que o País necessita e assegurar a emancipação socioeconômica das novas gerações, o sistema de ensino necessita de uma visão de futuro, de regras claras e de competência administrativa. Com iniciativas erráticas e desastradas, o MEC mostra que está longe de vencer esse desafio.
27 de março de 2019 | 21h56
Atualizado 27 de março de 2019 | 22h47
BRASÍLIA – Os deputados aprovaram ontem projeto de lei que permite às vítimas de violência doméstica pedirem a decretação imediata do divórcio ou o rompimento de união estável com o agressor. A medida, que altera a Lei Maria da Penha, precisa ainda ser aprovada pelo Senado.
O projeto original é do deputado Luiz Lima (PSL-RJ). “A nossa intenção é dar celeridade ao processo de divórcio, encerrando vínculos e preservando a vítima e seus filhos”, disse. A proposta entrou em pauta na semana passada, após todos os líderes dos blocos partidários assinarem requerimento de urgência para que fosse à votação sem precisar passar pelas comissões da Casa.
Para a advogada Vera Chemim, especialista em Direito Constitucional, a proposta é positiva pois abre a possibilidade de se agilizar alguns trâmites burocráticos da separação, como o pagamento de pensão quando a mulher tem filhos menores de idade ou está desempregada. Ela alerta, no entanto, que a medida teria pouco ou nenhum impacto na proteção da vítima.
“É uma medida boa pois se consegue o divórcio de imediato e ela está livre do agressor, isso é bom. Não significa que isso vá protegê-la”, diz Vera. Ela lembra que a decretação do divórcio não resolver detalhes como a guarda de filhos menores de idade e partilha de bens que, a depender do perfil do agressor, pode se tornar motivo para novos abusos. “Sinceramente, o agressor é aquele que acha que a mulher é propriedade dele, o que significa que futuras agressões podem ocorrer.” /COLABOROU TULIO KRUSE
27 de março de 2019 | 03h00
O ministro da Economia, Paulo Guedes, desistiu de comparecer a uma audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara convocada para ouvi-lo sobre a proposta do governo de reforma da Previdência. Oficialmente, o ministro alegou que considerava “mais produtivo” esperar a escolha do relator do projeto. Na prática, o ministro declinou do convite porque a audiência certamente seria convertida num espetáculo dos adversários da reforma, estimulados pela franca desorganização da base governista – onde, aliás, se abrigam muitos dos que se opõem à proposta do governo.
O ministro Paulo Guedes foi designado pelo presidente Jair Bolsonaro como articulador da reforma da Previdência no Congresso, como se isso bastasse para aplacar os ânimos hostis à proposta e fosse suficiente para conferir à base do governo um mínimo de coesão em favor das mudanças propostas. Paulo Guedes pode até ser competente ministro, o que ainda está por ser provado, mas definitivamente não é mágico.
O problema de fundo é a qualidade das lideranças políticas destacadas pelo presidente Jair Bolsonaro para atuar em nome do governo. O caminho natural para uma discussão madura sobre a reforma da Previdência seria o engajamento dessas lideranças para isolar os sabotadores de sempre, mas o que se tem observado é que esses políticos têm sido incapazes de arregimentar apoio mesmo entre os correligionários do presidente da República.
O PSL, partido de Jair Bolsonaro, ainda não fechou questão em relação à reforma – isto é, não orientou a bancada a votar a favor da proposta do presidente. “Sobre o fechamento de questão, nem o PSL está convencido da reforma”, explicou, com clareza meridiana, o deputado Delegado Waldir (GO), líder do PSL na Câmara. “Quando chegou a reforma, fui o primeiro a questionar que veio um abacaxi aqui, e até agora a faca não chegou. Não vamos abrir esse abacaxi no dente”, disse o parlamentar, que cobrou do ministro Paulo Guedes um “facão” para cortar o “abacaxi” – em outras palavras, uma redução drástica na ambição da proposta do governo. Do contrário, disse o líder do PSL, “dificilmente” o presidente terá os votos dos deputados de seu próprio partido.
Não surpreende que assim seja. O líder do governo na Câmara é Major Vitor Hugo (PSL-GO) e a líder do governo no Congresso é Joice Hasselmann (PSL-SP), ambos parlamentares de primeira viagem. O primeiro não conquistou o respeito de seus pares e tem sido frequentemente boicotado em suas iniciativas; a segunda parece mais dedicada a bater boca publicamente com correligionários, nas redes sociais, em vez de trabalhar para arregimentar apoio à reforma.
Tudo isso é reflexo natural da notória incapacidade do governo, a começar pelo presidente Jair Bolsonaro, de definir suas prioridades e organizar-se para defendê-las no Congresso. Sem ter convicção sobre a reforma da Previdência, o presidente parece bem mais à vontade e seguro quando se dedica a ampliar os antagonismos que tantos votos lhe deram na eleição.
Nesse cenário, em que o presidente da República hostiliza até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que apoia a reforma, parece perda de tempo falar em negociação política. Sem apoio real de Jair Bolsonaro, nem um “superministro” como Paulo Guedes terá poder para mudar essa realidade.
25 de março de 2019 | 03h00
Para voltar aos trilhos do desenvolvimento econômico e social, o País tem claras e imediatas necessidades. É preciso realizar reformas estruturantes, a começar pela reforma da Previdência. É preciso restabelecer um ambiente de normalidade e estabilidade jurídico-institucional. Há ainda um longo caminho no combate à criminalidade e à impunidade, mas nem tudo é corrupção ou podridão, e tratar o cenário nacional como terra devastada, além de injusto, significa pôr a perder muitas coisas boas construídas ao longo do tempo. É preciso também amenizar a polarização político-ideológica. Compreensível numa campanha eleitoral, o clima de conflito, se estendido ao longo do tempo, esgarça as relações sociais e gera danos em todas as esferas da vida nacional.
“Há um intuito de todos de construir uma nova agenda e de aprovar a reforma da Previdência. Este encontro é um sinal importante, estamos construindo um pacto para governar o Brasil”, afirmou o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anfitrião do almoço.
Nesse reequilíbrio institucional em busca de maior funcionalidade, é também evidente a necessidade de o Ministério Público (MP) adequar-se às suas competências institucionais, sem que alguns de seus membros invadam outras searas ou agravem desnecessariamente as tensões.
A Suprema Corte tem sido alvo de ataques, nas redes sociais, de grupos que desmerecem, desautorizam e ridicularizam todos aqueles que ousam ter opiniões divergentes das suas. É surpreendente, no entanto, que alguns desses ataques venham de membros do MP, cuja função é defender a ordem jurídica e o Estado Democrático de Direito.
Para diminuir as tensões, é preciso também uma atitude de cooperação e de menos protagonismo dos ministros do STF. Não poucas vezes, são os próprios integrantes da Corte que alimentam divisões, promovem embates e, mais grave, ferem o caráter colegiado do Supremo. É urgente a promoção de uma nova cultura no STF, mais disposta a aceitar a posição majoritária, a conferir estabilidade à jurisprudência ao longo do tempo, a restringir as decisões monocráticas para os casos imprescindíveis, a defender e a aplicar a Constituição e as leis, sem imiscuir-se com tanta frequência em trajetórias alternativas.
O Congresso tem também papel especial na busca da funcionalidade institucional. É ele quem deve processar com diligência as reformas de que tanto o País precisa. A renovação ocorrida nas eleições passadas deve servir para banir velhos costumes que são absolutamente deletérios para o interesse nacional. No entanto, tanto os antigos parlamentares como os novos não podem se furtar de fazer política, na melhor acepção da palavra. A decisiva contribuição do Congresso para o País decorre precisamente dessa busca por encontrar os consensos e propostas possíveis para os problemas nacionais. Não é no grito, na intolerância e, muito menos, na violência, física ou verbal, que o Legislativo cumprirá o seu papel.
É essencial o diálogo entre Executivo, Judiciário e Legislativo. Mas o principal fruto que se espera desse diálogo é que cada um dos Poderes cumpra seu dever. Essa é a harmonia institucional de que o País precisa.
20 de março de 2019 | 19h17
Era 1992, e a vida seguia mais ou menos assim: em janeiro, Nevermind, do Nirvana, chegava ao número 1 da Billboard e deixava Dangerous, de Michael Jackson, alguns moonwalks para trás. Os Gipsy Kings reforçavam o lugar inédito aberto para a cigania franco-espanhola no então universo milionário da música pop com o disco Live. Madonna lançava Erótica, Bon Jovi tinha Keep the Faith, surgia a banda Blink 182 e ninguém parecia ligar muito para o cubano de 30 anos saído de Havana aos nove em direção a Miami, cantando em inglês e vestido como um latin lover.
Era 1992 quando Juan Francisco Secada Martinez começou a se tornar Jon Secada. Algum tempo antes, Gloria Maria Milagrosa Fajardo, que já era Gloria Estefan, havia se afeiçoado ao então instrutor de artes marciais pelas similaridades históricas. Assim como ele, ela vira sua família sofrer com a Revolução Cubana de 1959 e deixar o país. Assim como ele, ela vivia em uma pátria que não era sua, sem poder fazer planos de regressar. Gloria, já casada com o poderoso Emilio Estefan, colocou Jon para cantar em seu grupo e o apresentou ao mundo hispânico que existia no outro lado do oceano. “Contei muito com a ajuda deles”, lembra Secada. A partir daquele ano, até as rádios de Havana que proibiam a execução da música norte-americana imperialista iriam saber quem era Jon Secada.
O maior de todos ainda é o primeiro. Jon Secada, o disco lançado pela gravadora SBK, venderia mais de seis milhões de cópias e deixaria para sua carreira canções simples e eternas, como Angel, Just Another Day (Otro Dia Más Sin Verte, a primeira que ele fez), I’m Free e Do You Believe In Us?. Nenhuma delas, com exceção de I’m Free, podem ficar de fora dos shows. Suas vendagens gerais, impulsionadas por essas primeiras músicas, chegariam à casa dos 20 milhões de discos.
Mas, afinal, o que teria Jon Secada que o faria um dos primeiros artistas hispânicos a vencer nos Estados Unidos, um lugar que já tinha George Michael, Michael Jackson, Prince, Madonna e toda a tropa oriunda dos anos 80 pronta para arrecadar mais naquele começo de década? Há alguma tristeza insistente em Secada, algo que parece estar em seus olhos e em suas frases curtas que nunca lhe deixam entregar a alma ao interlocutor. Secada é um mistério que se desfaz quando sobe ao palco. Por mais vezes que tenha cantado Angel desde 1992, ela aparece rejuvenescida a cada apresentação. As notas alongadas, uma especialidade, são cortadas pelos acordes e trazem um brilho e uma cor capazes de mudar de natureza antes que o fôlego acabe. “Descansar e tomar água”, ele diz, sobre preservar a voz.
Seu passado pré Estados Unidos está trancado e ele não quer encontrar as chaves. “Não gosto de falar sobre Cuba. Minha família passou por muitas dificuldades para sair de lá. Hoje, já estão quase todos aqui nos Estados Unidos.” Seu presente poderia mudar de rumo se ele pegasse o bonde luminoso do reggaeton e desse as mãos para Luis Fonsi e J Balvin? Não seria um respiro divertido e indolor. “Gosto de misturas, de experimentar sons, respeito a todos eles, mas não seria verdadeiro da minha parte.” E que tal um encontro com cantores brasileiros durante suas passagem pelo País? Roberto Carlos é um de seus ídolos. “Eu tenho conversado com meus produtores para fazer algo assim.” Em 2017, Secada lançou um sensacional álbum para celebrar a obra do compositor cubano Beny Moré, Para Beny Moré With Love. Infelizmente, nada deste disco vai entrar no show, mas vale buscá-lo nos streamings e perceber a Cuba arrebatadora que nunca sairá de Jon Secada.
19 de março de 2019 | 22h57
A simulação foi repetida várias vezes na base da CCR Viaoeste, em Barueri, na Grande São Paulo, e reuniu também socorristas da CCR Rodoanel. Também foi utilizada uma de tecnologia de realidade aumentada produzida pela Microsoft.
“Apesar dessa situação ser rara, o socorrista deve saber uma série de manobras específicas que podem ser executadas de imediato durante o nascimento para garantir a segurança do bebê e da mãe”, disse Marcelo Okamura, coordenador médico das concessionárias, que ministrou o treinamento.
A robô grávida simula um parto completo, além de responder aos estímulos com realismo total. “Ela tem pulsação, pupilas que dilatam, movimentos respiratórios, além de seu corpo apresentar as mesmas reações médicas de um ser humano em cada situação simulada, inclusive sangramentos. Além disso, ela chora, reclama e pede ajuda, o que serve para criar ainda mais imersão”, explicou o médico. Segundo ele, este realismo permite que as técnicas empregadas pelos socorristas sejam avaliadas em tempo real por meio de monitores gráficos com todas as estatísticas do atendimento.
A robô grávida é integrada com a tecnologia das HoloLens, dispositivos de realidade virtual, que trabalham com hologramas projetados em óculos especiais, permitindo a visualização interna do procedimento médico. O equipamento foi emprestado para as duas concessionárias pela CAE Healthcare, fabricante mundial de simuladores e robôs na área da saúde. Conforme o médico, o treinamento faz parte da preparação dos socorristas para as situações de emergência que acontecem nas rodovias.
No trecho Oeste do Rodoanel, administrado pela CCR, não houve nenhum parto desde o início da concessão. Já no Sistema Castelo-Raposo, administrado pela CCR Viaoeste, aconteceram seis partos ao longo dos últimos 20 anos de concessão. Segundo Okamura, em nenhum deles a manobra prevista para os casos de distocia foi necessária. “No entanto, pode acontecer e muitas vezes não há como esperar a chegada do paciente até o hospital, por isso a utilização correta das técnicas como as que foram treinadas pode salvar vidas”, disse.
18 de março de 2019 | 05h00
BRASÍLIA - Cassada há quase três anos, a ex-presidente Dilma Rousseff apresentou uma fatura de mais de meio milhão de reais em 2018 ao Palácio do Planalto. O dinheiro pagou viagens de assessores mantidos à sua disposição pelo governo. A petista gastou mais do que a soma de despesas dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva – que também têm direito ao benefício.
As despesas com os servidores que acompanham Dilma consumiram, no ano passado, R$ 632,2 mil, sem contar os salários. Deste total, R$ 586,8 mil foram utilizados no pagamento de diárias e passagens. Houve desembolso de outros R$ 45,4 mil com manutenção, seguro e combustível para veículos utilizados pela ex-presidente. Boa parte desses deslocamentos ocorreu em Minas Gerais, durante a campanha de Dilma a uma cadeira no Senado, nas eleições do ano passado. Apesar dos gastos, ela amargou o quarto lugar na disputa e não se elegeu para o cargo.
Os dados foram obtidos pelo Estado por meio da Lei de Acesso à Informação. A Secretaria-Geral da Presidência informou à reportagem que o dinheiro é destinado ao custeio dos assessores, e não dos ex-presidentes diretamente. Dilma foi procurada para comentar as despesas, mas não quis se pronunciar.
Estrutura. A União põe à disposição dos cinco ex-presidentes um total de 40 funcionários, oito para cada um, além de dez veículos oficiais. A estrutura, que tem um custo total de R$ 5,5 milhões, pode ser reduzida pelo Congresso – há projetos já protocolados com essa finalidade.
A proposta do senador Lasier Martins (Podemos-RS), por exemplo, cria um limitador temporal de 20 anos para concessão dos benefícios, que ainda seriam diminuídos para dois servidores de apoio pessoal, dois motoristas e apenas um veículo oficial. O texto ainda impede que ex-presidentes que praticaram ilícitos penais e crimes de responsabilidade tenham acesso aos serviços.
A ex-presidente tem direito a usar assessores em qualquer evento de que participa, mesmo em campanha eleitoral. Os gastos dela, porém, ficaram bem acima dos registrados por seus antecessores.
O senador Fernando Collor (PROS-AL), que em 1992 sofreu impeachment como Dilma, apresentou uma despesa de R$ 306,9 mil. José Sarney gastou R$ 158,5 mil e Lula, R$ 119, 8 mil – valor computado até 7 de abril do ano passado, quando foi preso pela Polícia Federal depois de condenado no âmbito da Lava Jato. A partir daí, a equipe de assessores dele não registrou gastos. Fernando Henrique Cardoso, por sua vez, consumiu R$ 41,3 mil em 2018.
Os gastos de Dilma irritaram o núcleo militar do Planalto, com cargos no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e na Secretaria-Geral da Presidência. Além de queixas ao tratamento que teria sido dispensado pela então presidente a seguranças e ajudantes de ordem das Forças Armadas no exercício do mandato, eles alegam que Dilma percorreu Minas em eventos nos quais fez ataques ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL).
Levantamento com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em setembro, já mostrava que a campanha de Dilma era a mais cara entre os candidatos ao Senado, superando até mesmo a de presidenciáveis como Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
Histórico. Em maio de 1986, Sarney assinou a Lei 7.474, que estabeleceu o direito de um ex-presidente contar com uma equipe de cinco seguranças e dois carros oficiais para seus deslocamentos. Depois de sofrer impeachment em 1992, Collor só conseguiu o benefício em 2006. Isso ocorreu porque a Justiça Federal, em Brasília, aceitou em 1993, em caráter de liminar, uma ação popular para suspender o direito dele. O ex-presidente venceu a disputa judicial 13 anos depois.
Em 2008, o decreto 6.381 do então presidente Lula, mudou a regulamentação da lei assinada por Sarney e aumentou para oito o número de servidores à disposição de um ex-presidente. Pela norma, o grupo pode ser formado por quatro servidores para atividades de segurança e apoio pessoal, dois motoristas e dois assessores com cargos de comissão. O governo ainda manteve os dois veículos oficias para deslocamentos.
Os servidores são escolhidos pelo ex-presidente e nomeados pela Casa Civil. A nomeação se dá para cargos do grupo Direção e Assessoramento Superiores, os conhecidos DAS. São quatro categorias, cujos salários são de R$ 2,7 mil, R$ 3,4 mil, R$ 10,3 mil e R$ 13,6 mil. / COLABOROU FABIO SERAPIÃO
16 de março de 2019 | 04h31
Zinedine Zidane retoma neste sábado um trabalho que interrompeu há pouco menos de um ano, e que, se não recomeçará do zero, vai exigir um grande esforço para reconstrução. Ele reestreia no comando técnico do Real Madrid na partida contra o Celta, no estádio Santiago Bernabéu, pela 28.ª rodada do Campeonato Espanhol. Seu objetivo imediato é estancar a crise e levar a equipe ao menos a um encerramento digno de temporada, com a conquista da vaga na próxima Liga dos Campeões.
O francês está empolgado. Disse contar com o lateral-esquerdo brasileiro Marcelo e o meia Isco, que vinham sendo preteridos pelo antecessor Santiago Solari, mas não revelou se os dois serão titulares. O meia tem mais chance de começar jogando.
“Os jogadores que jogaram menos estão treinando também. É verdade que um jogo não é igual aos treinamentos, mas aqui todos são bons jogadores e o importante é que estejam todos prontos. Eu vou contar com todos, Isco é um deles”, afirmou Zidane em entrevista coletiva após o último treino antes de enfrentar o Celta. “Vou contar com Isco e com os demais no auge. Vamos ver a escalação de amanhã (sábado), mas isso é o de menos para mim. O importante é que vi todos os jogadores muito envolvidos”, acrescentou.
Sobre Marcelo, Zidane comentou que vê o brasileiro em boa forma física. “Eu o vejo bem. Não o tinha visto há algum tempo, mas, nos últimos três dias, eu o vi bem. Não vinha jogando muito, mas é um profissional que treinou bem. Está empolgado, motivado, e estou contente por voltar a ver Marcelo e os demais. Ele está bem para jogar”, comentou.
Nos últimos 30 dias, o lateral-esquerdo só entrou em campo em dois jogos. Atuou o tempo inteiro na derrota para o Girona, no dia 17 de fevereiro, e entrou aos 44 minutos do segundo tempo na goleada sobre o Valladolid, no domingo passado.
Zidane admitiu que a proximidade da reestreia o deixa ansioso. “Estou excitado como no primeiro dia”, disse. “Ainda que não seja algo novo, será diferente. Tenho a oportunidade de voltar ao Real nove meses depois e o faço com intenção de começar algo novo no clube.”
O treinador já elaborou uma lista com jogadores de primeira linha que gostaria que o presidente Florentino Perez contratasse para o Real – entre eles Mbappé, do Paris Saint-Germain; Hazard, do Chelsea; e Pogba, do Manchester United –, mas na sexta-feira fugiu das perguntas sobre reforços para a próxima temporada. Zidane está visivelmente preocupado em preservar o grupo atual.
“Não penso nisso, pensamos em terminar bem a temporada. Não se tem de fixar na cabeça quem fica ou quem sai. Todos têm contrato e depois vamos ver o que acontece”, afirmou o treinador. “Não estou aqui para colocar obstáculos e sim para terminar a temporada com todos juntos.”
13 de março de 2019 | 20h26
Atualizado 13 de março de 2019 | 22h39
SUZANO - A Polícia Militar informou ao Estado na noite desta quarta-feira, 13, que chegou a conclusão de que um dos atiradores da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, matou o comparsa e depois se matou. A corporação, no entanto, não detalhou quem teria atirado contra quem.
Imagens de câmera de segurança mostram que o adolescente G.T.M., de 17 anos, estava com a arma de fogo a todo tempo e é mais provável que ele tenha atacado o amigo Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, e depois se matado. Os dois foram encontrados mortos após serem cercados por policiais no interior da escola. Cinco alunos e duas funcionárias foram mortos no atentado.
Eram 9h42 quando o jovem G.T.M., de 17 anos, entrou armado com um revólver calibre 38 na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, onde havia estudado até o ano passado, e abriu fogo contra um grupo de alunos e funcionários que estava na recepção. Três pessoas caíram no chão e ele seguiu para o interior da escola. Cerca de 30 segundos depois, seu amigo Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, também ex-aluno, entrou munido com uma bésta, um arco e flecha e uma machadinha. Ele golpeou as pessoas já caídas e se atracou com estudantes que fugiram correndo do interior da escola. O massacre resultou em duas funcionárias e cinco alunos mortos. Antes, a dupla havia matado um parente em uma loja fora da escola. Os dois atiradores também morreram.Toda a operação durou cerca de 15 minutos.
As investigações apuram que os jovens faziam parte de um grupo que joga em rede o game Call of Duty, de guerra, e neste fórum teriam planejado o crime. Os investigadores suspeitam que pode ter ligação com o massacre. Vizinhos e conhecidos da dupla relatam que de fato os dois gastavam uma boa parte do tempo em uma lan house jogando games com teor violento. A polícia ainda não sabe como ou onde as armas foram compradas.
Na manhã desta quarta, os dois foram até a loja de carros seminovos de um tio de G.T.M., Jorge Antônio Moraes, localizada a cerca de 450 metros da escola.
De acordo com testemunhas, por volta de 9h15, G.T.M. entrou sozinho no local, onde também funciona um estacionamento e um lava-rápido e disparou três vezes. Ele acertou o celular que Moraes segurava na mão - e o levantou na tentativa de se proteger -, a clavícula e as costas da vítima. Depois, saiu e embarcou no carro que o esperava. Moraes morreu algumas horas depois no hospital.
O gerente Rodrigo Cardi, de 34 anos, trabalhou com Moraes nos últimos 15 anos e disse nunca ter visto G.T.M. no local. “Parece que o Jorge tentou dar uns conselhos depois que o sobrinho foi mal na escola, mas ele não gostou. No momento do ataque, nada foi falado nem houve chance de defesa”, disse.
A polícia foi acionada para procurar um Ônix branco, encontrado um tempo depois na frente dessa escola, já com a chamado do tiroteio em curso.
O fato de os dois serem ex-alunos da instituição pode ter facilitado a entrada pelo portão da frente, que estava aberto. Imagens de uma câmera de segurança mostram que G.T.M., que abandonou os estudos em 2018, entrou na escola pegou a arma que estava na cintura e disparou contra um grupo. Uma das primeiras pessoas atingidas foi a coordenadora Marilena Ferreira Vieira Umezo, de 59 anos. Ela foi baleada com outros alunos e atingida, após já estar no chão, por machadadas.
No início, a dupla não usava máscaras, mas depois cobriu os rostos - um deles com uma máscara de caveira -, e passou a realizar os outros disparos que vitimaram, no total, sete pessoas na escola. Uma aluna chegou a lutar com Luiz e conseguiu fugir, ao mesmo tempo que uma dezena de alunos passava correndo. Ele tentou atingi-los e um dos rapazes agredidos saiu com a ferramenta presa no corpo.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, um sargento e dois cabos da Força Tática entraram na escola quando a dupla tentava invadir uma sala de aula que estava trancada com dezenas de alunos em seu interior. Os policiais estavam com escudos, e os adolescentes se afastaram. Depois, o sargento relatou ter ouvido dois disparos e ter encontrado os corpos no interior da escola.
“Hoje é um dos dias mais tristes da minha vida. O fato entristece Suzano, os paulistas e os brasileiros”, disse o general João Camilo Pires de Campos, secretário da Segurança.
A tragédia poderia ter um número de vítimas se não fossem os esforços de alguns funcionários da escola. O coronel Marcelo Salles, comandante da PM, destacou a atuação de uma professora que estava no centro de idiomas. “(Os atiradores) se dirigiram ao local. Os alunos de lá se fecharam na sala junto com a professora.”
Uma das figuras mais lembradas é a de uma das merendeiras, que se trancou no refeitório com cerca de 60 alunos e chegou a colocar uma geladeira para impedir a entrada dos atiradores. “Senão, a desgraça seria maior”, conta o celeiro Wendel, pai de Maria Eduarda, de 15 anos, uma das alunas salvas pela funcionária. “A minha filha ligou desesperada de dentro do refeitório. Como moro a uma rua da escola, cheguei rápido. Vi uma cena que não queria ter visto na minha vida, muito menos que a minha filha tivesse visto uma coisa dessas”, diz.
A estudante Kelly Milene Guerra, de 16 anos, contou que escutou vários tiros, mas não ouviu os atiradores falarem nada durante o ataque. “Ficamos dentro da cantina até a polícia chegar, mas não sabíamos o que estava acontecendo e de quem se tratava, então o medo continuou. Eles abriram a porta e mandaram a gente correr o mais rápido possível. Vi uns corpos no caminho”, disse.
“A gente ficou ligando para a polícia, só tinha a visão da janela. Via as pessoas correndo, ouvindo os tiros e os gritos. A gente correu para onde dava, alguns para o centro bilíngue, outros, banheiro, para as salas que estavam perto, todo mundo tentando se proteger”, diz a aluna do segundo ano Quéren Cardoso, de 16 anos. “No primeiro tiro, a gente olhou o que estava acontecendo. No segundo, todo mundo saiu gritando ‘é tiro’. Todo mundo largou os pratos, o celular”, conta ela. / ANA PAULA NIEDERAUER, ISABELA PALHARES, JULIANA DIÓGENES, MARCELO GODOY, MARCO ANTONIO CARVALHO, PAULA FELIX e PRISCILA MENGUE
13 de março de 2019 | 03h00
A prisão de dois suspeitos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco é importante desdobramento numa investigação que já se arrasta há um ano e que, por todo seu simbolismo, acirra os já crispados ânimos políticos do País. A solução desse rumoroso caso, que chocou e ainda choca os brasileiros, é imperiosa não apenas para esclarecer o crime em si, mas pela necessidade de desarmar os oportunistas que dele se aproveitam para seu proselitismo ideológico.
Contudo, até que haja certeza sobre a autoria do crime – e sobre quem mandou executá-lo –, é provável que continuem a abundar teorias as mais diversas, alimentando toda sorte de denúncias destinadas a comprometer este ou aquele adversário político, considerando que a vítima era vereadora do PSOL e ativista de direitos humanos. É preciso que haja tranquilidade e firmeza, por parte das autoridades, para conduzir as investigações a salvo dessas pressões.
O próprio perfil dos suspeitos presos ontem certamente será suficiente para alimentar muitas especulações sobre suas reais motivações. Segundo a Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ligado ao Ministério Público, o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foi o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, de 48 anos. O outro detido é o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz, de 46 anos, que estaria dirigindo o carro usado para emboscar Marielle.
A participação de dois policiais, conforme a denúncia, sugere ligação com as chamadas milícias – organizações criminosas formadas por policiais que aterrorizam favelas cariocas e que vêm ganhando poder político no Rio de Janeiro.
As milícias tiveram súbita notoriedade nacional de uns tempos para cá não somente pela suspeita de ligação com o assassinato da vereadora Marielle, mas pela descoberta de que um de seus integrantes mais perigosos, Adriano Nogueira, foi empregado no gabinete de um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, quando este era deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Nogueira é um dos chefes da milícia Escritório do Crime, de onde se suspeita que tenha partido a ordem para matar a vereadora Marielle. O País ficou sabendo também que essas milícias haviam sido objeto de seguidas homenagens tanto de Flávio como de Jair Bolsonaro ao longo de suas carreiras como parlamentares.
Um dia antes da prisão dos dois suspeitos do assassinato da vereadora Marielle, o presidente Jair Bolsonaro foi às redes sociais para atacar ferozmente a imprensa em razão da cobertura do escândalo envolvendo as movimentações suspeitas na conta bancária de outro ex-funcionário de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz – que teria sido o responsável pela contratação do miliciano Adriano Nogueira. Para o presidente Jair Bolsonaro, os jornalistas – ele citou em particular a repórter do Estado Constança Rezende e também o pai da jornalista, o repórter de O Globo Chico Otávio, especializado na cobertura das milícias cariocas – querem derrubar seu governo.
Ao presidente da República recomenda-se um pouco mais de prudência, a mesma que é requerida das autoridades policiais que investigam o caso da vereadora Marielle Franco. É preciso ir a fundo antes de tirar quaisquer conclusões. É preciso, por exemplo, explicar como um policial reformado como Ronnie Lessa, um dos suspeitos da morte de Marielle, era dono de uma confortável casa num condomínio de classe média alta na Barra da Tijuca – o mesmo condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro também tem casa –, ganhando apenas R$ 8 mil mensais.
São muitas perguntas ainda por responder. Após um ano de investigação, que incluiu a análise de milhares de dados telefônicos e centenas de ligações, a polícia diz que o crime foi “muito complexo” e que tudo está apenas no começo – especialmente no que diz respeito aos possíveis mandantes do crime. “A segunda fase será mais difícil”, disse o delegado do caso. Ou seja, ainda não é possível afirmar nada, razão pela qual é preciso serenidade por parte de todos – a começar pelo presidente da República.
11 de março de 2019 | 05h00
O senador estreante Alessandro Vieira, PPS-SE, disse ao Estado que vai reapresentar à mesa do Senado, na retomada dos trabalhos, o pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os tribunais superiores de Justiça, no momento arquivado.
O pedido da CPI da Lava Toga, como ficou mais conhecida, foi protocolado na primeira semana de fevereiro, com as 27 assinaturas minimamente necessárias. Como dois senadores as retiraram, o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), determinou o arquivamento.
Aos 43 anos, casado, três filhos, o ex-delegado de polícia, por 18 anos, foi eleito, então na Rede, com 470 mil votos e despesa de R$ 70 mil, derrotando caciques da política sergipana. Ganhou, com a proposta de CPI, imediata visibilidade. Alinhado com o presidente Jair Bolsonaro, na segunda tentativa pela Lava Toga, Vieira vai incluir um voto-vista do ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal.
Proferido no Habeas Corpus 79.441, o voto diz que nem todos os atos do Poder Judiciário estão excluídos da investigação parlamentar. Leia trechos de sua entrevista
Por que o sr. vai reapresentar a proposta?
Porque a caixa-preta da cúpula do Poder Judiciário nunca foi aberta. Ela se blinda de forma severa. É o único dos poderes que continua intocável – e isso é ruim para a democracia.
O seu foco é a cúpula?
Sim. A base do Judiciário, hoje, por conta do Conselho Nacional de Justiça, é superfiscalizada, tem método, tem transparência. E a cúpula não.
Por exemplo...
Os ministros do Supremo não estão sequer submetidos a prazos, e, em vários pontos, nem mais à lei. Eles são intocáveis.
A Constituição garante o pedido de impeachment de ministros do Supremo ao Senado. Não é suficiente?
A única forma de tirar um ministro é o pedido de impeachment, processado e julgado pelo Senado. Só que não funciona. Tem 28 pedidos arquivados, sem terem sido apreciados.
E em que medida uma CPI resolveria isso?
Criando um clima para que a cúpula seja forçada a se abrir. É perfeitamente viável. Tem um voto-vista do ministro Celso de Mello dizendo que pode ter CPI para tratar do Judiciário. O que não pode é tratar de decisões de mérito – e não é a isso que a CPI se propõe.
A quê ela se propõe?
A produzir informação consistente sobre dados que nós não temos hoje.
Por exemplo.
Saber, com clareza, o que leva o Supremo a retardar um julgamento por uma década. É um problema estrutural?
Teríamos, então, por exemplo, que o ministro Dias Toffoli, atual presidente, seria chamado à CPI para explicar isso?
Ou ele ou aquele que tenha o estoque de processo mais aberrante. Porque o objetivo final da CPI é gerar um relatório que possa substanciar e subsidiar projetos de lei.
O ministro Marco Aurélio é o recordista em acumular habeas corpus. Ele também iria?
Certamente ele seria chamado a esclarecer. O objetivo é entender, levar transparência, buscar soluções.
Isso não vai atrapalhar a governabilidade? Ou é isso mesmo que o sr. quer?
Eu não consigo ver nenhum risco à governabilidade. O Brasil passou por impeachment, teve presidente com duas denúncias de corrupção nas costas, passou por uma eleição em que o principal candidato foi esfaqueado, tem ex-presidente condenado e preso – e a democracia continuou a funcionar.
O sr. vislumbra, caso seja aprovada, que algum desses ministros atenderia à convocação?
É uma situação que a gente vai ver na prática. O fato de estar ocupando cadeira, mesmo na mais alta corte, não garante imunidade. Essa CPI é uma demanda da sociedade, e o legislador está aqui para materializar as demandas da sociedade.
O sr. tem algum dado sobre a demanda da sociedade a esta questão específica?
Não. Mas qualquer filtro de análise vai colocar como ponto de resistência a transparência na cúpula do Judiciário.
O sr. não está generalizando?
Não. No caso do STF, você tem o descontrole do tribunal como um todo. São milhares de processos, pedidos de vista sem volta...
Mas em quê uma CPI iria resolver isto?
Ela traz os dados e busca uma solução concreta.
As mazelas do Supremo são fartamente conhecidas. Os dados são públicos, estão à disposição.
Não é tão transparente. Só a CPI faz uma produção de conhecimento mais qualificada. Pode servir para embasar projetos de lei e investigações que se tornem necessárias.
Podem surgir investigações?
Sim. Por exemplo: ainda não se tem um cruzamento sobre como funciona a correlação entre duração do processo e escritórios de advocacia.
Este ponto não entrou no seu primeiro pedido. Vai entrar no segundo?
Estamos trabalhando nisso. E também em atividades econômicas exercidas por ministros e não acobertadas pela Lei Orgânica da Magistratura.
Os advogados também seriam convocados à CPI?
É uma possibilidade.
O sr. imagina, por exemplo, que um Sérgio Bermudes possa comparecer?
Com certeza. É um grande advogado, de quem a esposa do ministro Gilmar Mendes é sócia. Talvez a referência (para a convocação) seja esta.
O que mais entraria, em relação aos ministros do Supremo?
A liminar do ministro Luiz Fux mantendo o auxílio moradia, por quatro anos, até ser negociada por um aumento salarial.
Mas aí já é entrar no mérito da decisão, não?
Não. Isso, na prática, é extorsão, ainda que seja uma palavra dura. A liminar que permanece no tempo é obstáculo para a prestação jurisdicional, porque impede o plenário de apreciar.
O ministro Luiz Fux dirá, até o fim dos dias, que tem o poder constitucional de dar a liminar.
Ele tem prazo regimental de duas sessões para devolver. Não devolvendo, precisa explicar porque não devolve.
O Supremo não cumpre esse prazo de duas semanas.
A CPI quer encontrar um parâmetro que seja sério, para ser efetivamente cumprido. A Justiça tem que ser certa, previsível, não pode ser loteria.
As CPIs tem seu lado circense e demagógico. O sr. imagina um ministro do STF sujeito a isso?
Eu comparo com a perspectiva histórica da prisão do Lula.
O que o sr. está dizendo é: se o Lula foi preso, nada impede que um ministro do STF seja preso?
Exatamente. Ninguém pode estar acima da lei.
Após não atender a quatro convites para prestar depoimento – o que é um direito do investigado –, Fabrício Queiroz apresentou defesa técnica ao Ministério Público Estadual (MPE). O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) detectou movimentações financeiras “atípicas” nas contas do ex-funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro (PSL) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O MPE suspeita que Queiroz recolheu o salário de outros funcionários do gabinete para si próprio ou para entregar a Flávio Bolsonaro, hoje senador pelo Estado do Rio de Janeiro. O ex-assessor negou peremptoriamente essa prática. “Fabrício Queiroz não praticou qualquer ilícito penal, uma vez que não houve desvio de finalidade dos recursos do gabinete do deputado”, disse a defesa. Ele fazia tão somente o “gerenciamento externo dos assessores” do gabinete.
Em nota, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro informou que, para atingir a finalidade alegada – ampliar a rede de colaboradores de um parlamentar –, existe desde 2011 um procedimento específico. Até janeiro, era possível destinar a verba referente a funcionários de gabinete a até 63 servidores, com a devida nomeação no Diário Oficial e o recebimento de benefícios trabalhistas. Atualmente, o desmembramento da verba pode ser feito a até 40 pessoas.
É grave o que a defesa de Queiroz afirmou: no gabinete de Flávio Bolsonaro, não se seguia o procedimento previsto pela Assembleia. Parte dos salários dos funcionários era distribuída a uma rede informal de colaboradores.
A primeira condição para o uso adequado dos recursos públicos é que a contabilidade oficial reflita a realidade. Como reconheceu a defesa de Fabrício Queiroz, isso não ocorreu. O que oficialmente era salário de alguns ia para o bolso de outros, por intermédio do ex-assessor.
O mais surpreendente nessa história é que, segundo Queiroz, o filho mais velho do presidente da República não sabia dessas contratações informais que ocorriam em seu gabinete. O ex-assessor “nunca reputou necessário expor a arquitetura interna do mecanismo que criou ao próprio deputado e ao chefe de gabinete”, segundo a defesa. Dentro do gabinete de Flávio Bolsonaro havia um esquema de remanejamento de salários para ampliar sua rede de colaboradores, mas ele não sabia de nada. Era Queiroz quem tomava conta de tudo, sem a ciência do deputado e do chefe de gabinete.
A alegada atuação independente contraria, obviamente, as normas parlamentares. Os deputados são responsáveis por fixar horários de trabalho, fiscalizar frequência e atestar as folhas de ponto. Não é matéria delegável a terceiros. São recursos públicos investidos na atividade parlamentar e não pode ser um assessor quem responda pelo seu uso. O responsável é o próprio parlamentar.
A história da movimentação financeira contada por Fabrício Queiroz contraria não apenas as regras da Assembleia do Rio. Ela contradiz o discurso da família Bolsonaro – do presidente e de seus três filhos – a respeito da moralização da política.
No discurso de posse, Jair Bolsonaro prometeu livrar o País do jugo da corrupção. Apresentado como uma das prioridades do governo, o pacote de medidas de endurecimento da legislação penal propõe a criminalização do caixa 2 eleitoral, que é precisamente a prática de a contabilidade oficial não expressar o que de fato ocorreu.
No entanto, apesar de todas essas juras de uma nova moralidade pública, o caso de Queiroz assemelha-se cada vez mais às práticas da velha política. Assim, não surpreende que os Bolsonaros façam de tudo – rigorosamente de tudo – nas redes sociais para desviar a atenção para outros assuntos.
07 de março de 2019 | 03h00
O rebaixamento da maior campeã do carnaval de São Paulo, a Vai-Vai (15 títulos), foi um duro golpe e tornou esta Quarta-Feira de Cinzas o pior do dias para moradores do Bexiga. Cantinas vazias, gente cabisbaixa e disposta a pouca conversa. “A Vai-Vai precisa voltar a se conectar com a comunidade. Precisa olhar para suas origens, seu bairro e povo”, diz o cantor e compositor Thobias da Vai-Vai, que está rompido com a agremiação há um ano.
Claro, o resultado dramático da agremiação abriu a tampa que segurava uma série de magoas e desavenças.
“O morador do Bexiga até torce pela escola, mas não frequenta mais a quadra. Cansei de ver gente humilhada por essa administração. As pessoas daqui são maltratadas pela turma que hoje manda na Vai-Vai”, comentou Marcos Guinho, de 29 anos, componente da bateria.
Os críticos do atual presidente da Vai-Vai, Darly Silva (Neguitão), afirmam que a escola abdicou da democracia interna e tem evitado eleições. Fala-se também em uma dívida de mais de R$ 3 milhões que a agremiação não estaria conseguindo honrar – e por isso o rebaixamento seria algo “esperado”. A assessoria da Vai-Vai foi procurada, mas afirmou que só se manifestará hoje, depois de conhecer as justificativas dos jurados.
Mas a política não se compara a dor de quem nem conseguiu dormir depois de saber do resultado. O presidente da velha-guarda, Paulinho da Vai-Vai, de 79 anos, diz ter sido a última terça-feira o pior dia da sua vida. “Não quero crucificar ninguém. Mas minha vida é o Bexiga. Me criei lá... Essas coisas ficam no coração da gente. Quem gosta de samba sabe o que eu estou sentindo”, disse. “Agora, cada um vai ter que doar um pouco mais de si para levantar a escola outra vez”, completou.
“O chão desapareceu debaixo dos meus pés. Tive uma sensação de impotência e perplexidade. É muito ruim para uma comunidade que precisa de muitas coisas – como a alegria de uma escola vencedora”, disse o diretor do Museu do Bexiga, Paulo Santiago Augustines.
Em sua casa, Walter Taverna, de 86 anos, figura mítica do bairro do Bexiga e presidente do Centro de Memória do Bexiga, conta que sentiu o chão tremer como se uma bomba atômica tivesse desabado. “Meu coração deve estar bom. Podia ter enfartado, mas estou aqui para torcer pela volta da nossa Vai-Vai.”
Ano que vem, justamente quando a agremiação completará 90 anos de existência, o desfile será no Grupo de Acesso, a série B do Carnaval. “Temos de fazer o que o compositor Paulo Vanzolini nos ensinou: ‘Levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima’”, diz Thobias da Vai-Vai.
05 de março de 2019 | 17h11
A Dragões da Real comemorou o vice-campeonato e a Rosas de Ouro, a terceira colocação. "A gente é gigante. A gente nunca mais vai sair do topo", diz Juliana Rosa Sarmento, diretora da Rosas.
O presidente da Mancha Verde, Paulinho Serdan, não estava no sambódromo, mas foi citado entre os diretores que acompanharam a apuração no Anhembi.
"A Mancha tem sambista, sim! Obrigada, Paulo Serdan! Obrigado, Jorge Freitas!", disse Paolo Bianchi, diretor de carnaval da Mancha. "A gente sempre batia na trave, mas a gente nunca cansou. A gente passou por cima de todo mundo, a gente se uniu, apontou nossos erros, olhou para dentro de casa e está aqui o resultado. É o resultado de muito amor, de muita dedicação", disse Bianchi.
"Vitória da comunidade", diz Marcos Gonçalves, diretor de harmonia da Mancha Verde. "Dinheiro ajuda, mas é o trabalho que faz a diferença".
A escola foi a terceira a desfilar na madrugada de sexta-feira, 1°, para sábado, 2, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo. O grupo entrou na avenida por volta de 1h30.
Nas cores verde, branco e vermelho, a escola cantou, sambou e desfilou em homenagem à saga de uma guerreira negra. O samba-enredo, "Óxala, Salve a Princesa! A Saga de uma Guerreira Negra!", é um canto às tradições de origem africana: citou maracatu, Iemanjá, África e Zumbi dos Palmares.
Uma ala do grupo fez referência ao Congo como local de escoamento de marfim e outros produtos da região. Logo no primeiro carro alegórico, os destaque eram os elefantes com dentes de marfim e imagens de mulheres negras.
A primeira ala invadiu a avenida com fantasias ricas em detalhes com lantejoulas, brilhos e fitas. O verde em diferentes tonalidades dominou o desfile, que reuniu três mil componentes ao todo.
No quesito "Comissão de Frente", a Vai-Vai caiu para a última colocação entre as 14 agremiações na disputa. O grupo do Bexiga não tirou uma nota 10 no quesito avaliado. As duas últimas escolas caem para o grupo de acesso do carnaval de 2020. A Vai-Vai desfila desde 1930. O ano passado, a escola ficou em 10º lugar.
Após apuração, o presidente da Vai-Vai, Neguitão, deixou o Sambódromo do Anhembi sem falar com os jornalistas.
Com a derrota e rebaixamento da Vai-Vai, o movimento de oposição à atual diretoria espera ganhar força e aumentar o apoio entre os membros.
Representante do Resistência Vai-Vai, Luiz Cabral explica que há quatro anos luta por maior transparência nas eleições para a diretoria.
"É claro que o rebaixamento é muito triste e inesperado, mas com isso o movimento deve crescer ainda mais", diz Cabral, que também é integrante da bateria da escola. Ele disse que os membros devem estudar estratégias de pressão durante a semana.
Nas ruas do Bexiga, apesar do rebaixamento da Vai-Vai, o clima era de festa. Num pequeno bar frequentado principalmente pelos membros da escola, torcedores se amontoavam para fugir da chuva, improvisando uma pista no centro do salão.
"A gente sabe ganhar e perder também. Faz parte da vida", disse Suely Santos. Apesar de alguns rostos desalentados, o sentimento geral era a alegria. "Eu amo o carnaval do fundo do meu coração. É uma época de alegria, não tristeza. A Vai-Vai é isso e nada nos atingiu", sintetizou Niva Pagliarini, que vestia uma camiseta da velha guarda da escola.
03 de março de 2019 | 22h36
RIO DE JANEIRO - O desfile de carnaval do Rio de Janeiro começou, neste domingo, com a escola Império Serrano, pelo Grupo Especial. Por conta da chuva, a apresentação começou com 45 minutos de atraso. Confira programação das duas noites de samba da Marquês de Sapucaí.
Sétima e última escola a se apresentar na primeira noite de desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, já no amanhecer desta segunda-feira, 4, a Unidos da Tijuca fez uma bela apresentação discorrendo sobre o pão. A agremiação deve brigar pelo título na próxima quarta-feira 6, quando irá ocorrer a apuração.
A Imperatriz Leopoldinense levou a história do dinheiro para a Marquês de Sapucaí. Jogou cerca 800 mil notas falsas de R$ 100 à plateia, coloriu a avenida de dourado, mas não foi agraciada pela sorte em seu desfile, o penúltimo do primeiro dia do grupo especial. Com pouco mais de dez minutos de apresentação, o carro abre-alas 'A lenda do rei Midas' parou ainda na concentração, comprometendo a harmonia.
Atual campeã, a Beija-Flor foi a quinta escola a desfilar na primeira noite de desfiles no Rio, na madrugada desta segunda-feira, 4. A escola de Nilópolis (Baixada Fluminense) comemorou seus 70 anos revisitando seus principais enredos, mas não empolgou. Algumas referências foram óbvias, outras, de difícil compreensão.
Quarta escola de samba a desfilar na primeira noite de exibições no sambódromo do Rio de Janeiro, o Salgueiro exaltou Xangô, divindade cultuada pelas religiões de matriz africana trazidas ao Brasil pelos escravos, como o candomblé. Foi o primeiro desfile da escola do Andaraí (zona norte do Rio) sob a atual direção – uma disputa judicial que se estendeu de maio a dezembro determinou a saída de Regina Celi e deu o comando do Salgueiro a André Vaz, candidato de oposição.
A Grande Rio, de Duque de Caxias, foi a terceira escola a desfilar na primeira noite de exibições no Rio de Janeiro, já na madrugada desta segunda-feira, 4. A agremiação apresentou o enredo “Quem nunca...? que atire a primeira pedra”, em que faz uma crítica “às gafes, deslizes, viradas de mesa e ao famoso jeitinho brasileiro”, segundo o próprio roteiro do desfile anuncia.
De volta à elite das escolas de samba do Rio após quatro anos na segunda divisão (da qual foi campeã em 2018), a Unidos do Viradouro foi a segunda escola a se apresentar no sambódromo do Rio neste domingo, 3, a primeira noite de desfiles na Sapucaí.
Primeira escola a se apresentar neste domingo no sambódromo do Rio de Janeiro, abrindo a primeira noite de desfiles do Grupo Especial, o Império Serrano apresentou o enredo "O que é, o que é?", sobre o sentido e os rumos da vida.
As apresentações começaram com 45 minutos de atraso em função da chuva, começando às 22h deste domingo, 3. Nessa hora não chovia sobre o sambódromo, mas o atraso foi decidido pelos organizadores do evento porque a chuva forte que atingiu outras regiões da cidade prejudicou o deslocamento dos foliões até a Marquês de Sapucaí.
Programação
Domingo, 3 de março
21h15 – Império Serrano. Enredo: "O que é, o que é?"
22h20 – Viradouro. Enredo: "Viraviradouro"
23h25 – Grande Rio. Enredo: "Quem nunca? Que atire a primeira pedra"
00h30 – Salgueiro. Enredo: "Xangô"
01h35 – Beija-flor. Enredo: "Quem não viu, vai ver as fábulas do beija-flor"
02h40 – Imperatriz Leopoldinense. Enredo: "Me dá um dinheiro aí"
03h45 – Unidos da Tijuca. Enredo: "Cada macaco no seu galho. Ó meu pai, me dê o pão que eu não morro de fome!"
Segunda, 4 de março
21h15 – São Clemente. Enredo: "E o samba, sambou"
22h20 – Vila Isabel. Enredo: "Em nome do pai, do filho e dos santos, a Vila canta a cidade de Pedro"
23h25 – Portela. Enredo: "Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir cantar um sabiá"
00h30 – União da Ilha. Enredo: "A peleja poética entre Rachel e Alencar no avarandado do céu"
01h35 – Paraíso do Tuiuti. Enredo: "O salvador da Pátria"
02h40 – Mangueira. Enredo: "História para ninar gente grande"
03h45 – Mocidade. Enredo: "Eu sou o Tempo. Tempo é vida"
02 de março de 2019 | 00h01
Neste caso, a brincadeira foi autorizada pelo governo de transição e logo recebeu o aval do presidente, conta Castro, mostrando, com orgulho, o áudio do presidente recebido pelo WhatsApp. “Parabéns pela sua criatividade, externando através de bonecos de personalidades. E você fez a minha também. Meu muito obrigado pelos seus votos de que dê tudo certo no nosso governo.”
Segundo Castro, Bolsonaro e Michelle estarão na Apoteose dos Bonecos Gigantes de Olinda – no Alto da Sé, na segunda-feira. Eles ainda participarão do desfile dos bonecos no Recife Antigo, marcado para a próxima terça-feira.
27 de fevereiro de 2019 | 21h43
BRASÍLIA - Anunciada na terça-feira, 26, como líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) negou ter como objetivo "fazer um show midiático". A parlamentar foi apontada como a mais influente nas redes sociais, conforme pesquisa da FSB Pesquisas antecipada pelo Estado.
Em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, a deputada disse que tem como meta prioritária agora aprovar a nova Previdência e que deve lutar por outras pautas econômicas que considera positivas, principalmente em relação à reestruturação dos Estados. Ela diz que não está pensando nas próximas eleições, mas que se for dada a ela, pelo PSL, a missão de concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2020, "não vai fugir da raia".
Como foi a negociação para que a senhora assumisse o posto de líder do governo no Congresso?
Durante toda a construção do bloco que levou o Rodrigo Maia (DEM-RJ) à Presidência da Câmara, eu participei, junto com meu partido, dessa construção. Deixei muito claro que para nossa agenda econômica, o melhor nome seria o de Maia. Eu trabalhei ativamente pela eleição dele e para trazer o PSL para esse bloco, isolando assim o PT. Uma estratégia importante. Alguns problemas foram aparecendo no meio do caminho e eu fui ali ajudando no desenrolar desses problemas. Também trabalhei ativamente na eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP). Entenderam que eu poderia ser esse nome de consenso, entre eles e o presidente Bolsonaro. O que eles queriam era alguém que pudesse conversar com Senado, Câmara e Presidência.
As críticas ao Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara, deram força para que a senhora fosse escolhida, já que não é uma prática comum o partido do presidente ter as duas lideranças?
Essa não é uma cota do PSL. Foi uma questão extrapartidária. Quem me escolheu foram dois presidentes de outro partido que me indicaram ao presidente da República, então, ele se sentiu completamente livre para fazer essa escolha.
Você pretende concorrer à prefeitura de São Paulo em 2020?
É muito cedo para falar sobre isso, mas logo que eu fui eleita, com expressiva votação, o presidente do PSL (Luciano Bivar-PE) falou tanto comigo como com a Janaina Paschoal (deputada estadual em SP) e chegou a citar publicamente nossos nomes como possibilidades do PSL para disputar a prefeitura de São Paulo em 2020. Agora, voltou essa especulação, com o João Doria (PSDB) no meio da história. Eu fiz campanha para ele, todo mundo sabe. Mas é cedo para falar e o Doria não tem nada a ver com isso. Se eu for escalada para disputar a prefeitura de São Paulo, eu não fujo da raia não, mas isso não é um plano que está sendo desenhado. Temos de esperar para ver como as coisas se encaminham. Temos de ver o que o povo quer.
Seu olhar está mais em 2020 ou em 2022?
Meu olhar está na aprovação da nova Previdência. Essa é a minha meta. Essa luta que estou travando, também movimentou esse caminho para liderança.
Sua atuação no Congresso está sendo um pouco diferente do que algumas pessoas esperavam, como uma atuação mais voltada para as pautas de costumes, por exemplo.
Acho que as pessoas esperavam mais um show do que uma articulação. E eu não vim aqui para fazer show midiático, vim aqui para ajudar no problema do Brasil. E o País começa a se resolver com a reforma da Previdência. Minha pauta sempre foi a econômica, só que a que mais reverbera é a de costumes. Eu sempre fui liberal e privatista, até mais do que nosso presidente. Mas vou carregar também a pauta de costumes.
A senhora mudou sua visão depois de assumir o mandato?
Já ficou muito claro, nas primeiras derrotas na Câmara, que na força não caminha nada aqui, precisamos construir um diálogo. Eu entendi isso. Não precisei de mais de 24 horas dentro para ver isso.
Agora, como líder do Congresso a senhora vai precisar dialogar com todos os partidos, como pretende fazer isso com a oposição?
Tem nomes da oposição que dá para dialogar sim e eu já abri o diálogo com alguns. Mas isso não significa que eu vá desvirtuar as minhas convicções. Não vou deixar a oposição de lado. Tenho conversado com nomes do PDT, do PSB, PCdoB e isso é importante. Há nomes responsáveis dentro desses partidos.
Quando a senhora pretende retomar a questão da pauta de costumes?
Vou esperar passar a previdência, pacto federativo, depois disso vem uma agenda importante positiva. Não posso falar ainda, mas na área econômica, especialmente nessa questão de reestruturação dos Estados vai ter um pacote muito importante.
Há muita reclamação por parte do parlamento de falta de aproximação com o governo e também na questão da indicação de cargos. Qual será seu papel?
Em relação à questão dos ministros já estou recebendo demandas. Vou tentar resolver isso da melhor maneira possível que é tentar colocar o parlamentar para conversar com o ministro. O parlamentar precisa ser recebido e ouvido. Vou atuar nessa aproximação. Sobre os cargos, o problema não é indicação, é corrupção. Se indicar gente honesta, decente que trabalhe bem, qual é o problema?
26 de fevereiro de 2019 | 21h27
Aberta ao público, a conferência estava lotada, com centenas de pessoas do lado de fora. A agressão aconteceu quando o ex-deputado falava sobre crimes de homofobia e criticava o atual governo brasileiro.
Os agressores foram imobilizados pelos seguranças do eventos e expulsos do local. “Eu gostaria de dizer para esses sujeitos - que no lugar de um ovo, poderiam ter mandado um tiro - que nós estamos atentos e fortes”, provocou Jean Wyllys, que foi protegido da “ovada” pelo segurança de sua escolta pessoal.
O PNR, partido nacionalista de direita, realiza manifestações contra Jean Wyllys desde que a presença do ex-deputado em Portugal foi divulgada. Por esse motivo, ativistas de partidos de esquerda, como o Bloco de Esquerda e o Movimento Alternativa Socialista (MAS) - além de alguns movimentos, como a Frente Unitária Antifascista (FUA) e a Frente de Imigrantes Brasileiros Antifascistas do Porto (Fibra) -, mobilizaram-se em defesa do ex-deputado.
A situação gerou confronto do lado de fora do evento, em frente à Universidade. As manifestações seguiram pacíficas na maior parte do tempo. A polícia precisou intervir após um manifestante do PNR ser atingido por uma lata de purpurina. Ninguém foi preso. Membros do PNR, que eram minoria, foram retirados do local pelos policiais.
A conferência em Coimbra foi a primeira atividade pública de Jean Wyllys em Portugal. O tema era "Discursos de ódio e fake news da extrema direita e seus impactos nos modos de vida de minorias sexuais, étnicas e religiosas – o caso do Brasi”. Jean Wyllys deixou o Brasil após abdicar de seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados e alegar que sofria ameaças de morte no País.
Receitas de bolos caseiros fáceis de fazer
Bolos simples, fofos e gostosos: aprenda receitas perfeitas para o dia a dia
Banana, chocolate, fubá, limão, mandioca, tapioca... Não importa o ingrediente principal, um bolo caseiro recém-saído do forno é sempre uma boa pedida para o lanche da tarde. Ou lanche da manhã, ou lanche da noite - aqui no Paladar somos todos partidários do "bolo a qualquer hora do dia".
Abaixo, separamos receitas de bolos simples e fáceis de fazer. Então, fica, vai ter bolo!
1. Bolo de fubá
Típico quitute rural, o bolo de fubá é um dos mais antigos da história brasileira. Segundo Caloca Fernandes no livro Viagem Gastronômica pelo Brasil (Senac), fubá era a palavra com que os africanos chamavam a farinha de milho seco e moído. Aprenda a fazer esse tradicional bolo da região Sudeste do Brasil com a receita da chef Heloísa Bacellar.
Bolo de fubá Foto: Tiago Queiroz|Estadão
2. Bolo-mármore
Eis aqui um exemplar de bolinho caseiro bem fácil de preparar. Mistura baunilha e chocolate: o melhor de dois mundos reunidos em uma só receita. Confira o passo a passo.
Bolo feito pela chef Heloisa Bacellar Foto: Tadeu Brunelli|Estadão
3. Bolo 'de nada'
Não quer decidir o sabor? Aposte neste bolo aqui, "de nada". Ele leva iogurte natural, essência de baunilha e canela em pó. é perfumado, docinho, delicioso. Confira a receita.
Bolo feito por Heloisa Bacellar Foto: Tadeu Brunelli|Estadão
4. Bolo de banana
Sabe aquelas bananas-nanicas que ficam dando sopa na fruteira? Pegue três, coloque no liquidificador com óleo e açúcar e bata até virar um creme. Em seguida, ponha farinha de rosca e misture novamente. Adicione o fermento, mexa, leve ao forno e aguarde o bolo assar. É fácil assim. Confira a receita completa. Os americanos também têm sua versão de bolo de banana, que leva buttermilk (que nada mais é do que leite talhado), nozes e baunilha. Fácil de fazer, fica mais úmido e mais denso, um clássico do café da manhã por lá. Veja como fazer o banana bread (ou bolo de banana gringo).
Bolo de banana. Foto: Alex Silva/Estadão
5. Bolo de chocolate
Macio, de textura esponjosa e sabor de chocolate intensificado pelo açúcar mascavo. Tem um pouco de pudim e um pouco de brownie. A foodie inglesa Nigella Lawson garante que o bolo fica melhor no dia seguinte, mas a receita perfuma de tal forma o ambiente que fica impossível guardá-lo para depois. Dica: a massa tem de ficar molhadinha mesmo no centro. Aprenda a preparar.
Receita de bolo de chocolate da Nigella Lawson Foto: Reprodução
6. Bolo de tapioca
Super fofinho, traz a combinação clássica – e deliciosa – de tapioca com leite de coco. Esta receita é da chef confeiteira Joyce Galvão, confira.
Bolo de tapioca. Foto: Roberto Seba/Estadão
7. Bolo de maçã, cravo e canela
A gente começa a aproveitar esse bolo bem antes de ele ficar pronto: o perfume que vai tomando conta da casa enquanto a massa está no forno é delicioso. Além disso, ele é macio e reconfortante. Veja a receita.
Foto: Patricia Ferraz|Estadão
8. Bolo de limão
Não é dos mais simples, mas também não é um bolo tão complicado de fazer. No equilíbrio certo entre doçura e acidez, fica fofo e bem úmido. Veja o passo a passo da receita de Jane Beedle, participante do reality show The Great British Bake Off, executada por Melissa Clark, repórter do New York Times.
Foto: Andrew Scrivani|The New York Times
9. Bolo de mandioca
A mandioca, também conhecida por aipim, castelinha, macaxeira e tantas outras formas, já era usada em preparos de origem indígena quando os portugueses enfim a conheceram. Muito presente na culinária brasileira, principalmente no Nordeste, foi acrescentada na receita dos bolos diante da falta de trigo na região. Sempre cremoso, o bolo de mandioca desmancha na boca. Veja como preparar. Se preferir uma versão mais úmida e mais densa (com claras em neve e leite de coco), aprenda a fazer o dedinho de Iaiá.
Bolo de mandioca Foto: Tiago Queiroz|Estadão
10. Bolo de cupuaçu
Herança da culinária indígena, o cupuaçu, originário da Amazônia, é parente do cacau e o ingrediente principal desse bolo fofinho, mas firme. A polpa do fruto vai na mesma proporção da farinha e é usada como massa, já que, no passado, o trigo era escasso na região Norte. Por fim, a compota de cupuaçu serve de cobertura. Confira a receita de Heloísa Bacellar.
Bolo de Cupuaçu Foto: Tiago Queiroz|Estadão
11. Cuca com goiabada
Foi na bagagem dos imigrantes alemães que a cuca desembarcou no Sul, um caso raro, já que boa parte dos bolos chegaram ao País com os portugueses. Descendente do streuselkuchen, a cuca em geral é feita com fermento de pão (biológico) – mas sempre é coberta por farofa doce. Confira o modo de preparo.
Cuca com goiabada Foto: Tiago Queiroz| Estadão
12. Bolo mané pelado
Mandioca, coco, queijo, leite, erva-doce, manteiga, açúcar, ovo e uma pitadinha de sal. Estes são os ingredientes que, juntos, dão vida ao bolo mané pelado. Leia a receita.
Bolo mané pelado. Foto: Felipe Rau/Estadão
13. Bolo de inhame
Neide Rigo, colunista do Paladar, é a dona dessa receita não tão comum, mas fácil de fazer e bastante saborosa. Veja o modo de preparo do bolo de inhame.
Receita de bolo de inhame Foto: Felipe Rau|Estadão
14. Bolo de capim-limão
Creme de leite, folhas de capim-limão, ovos, manteiga, açúcar e farinha de trigo se juntam nessa receita da chef confeiteira Joyce Galvão. Ótima opção para variar o sabor dos bolos caseiros - mas ainda mantendo a facilidade de preparo. Veja como fazer.
Bolo de capim-limão. Foto: Roberto Seba/Estadão
15. Bolo de fubá com goiabada
Fubá e goiabada nasceram um para o outro. Uma dica para os cubinhos não afundarem na massa é polvilhá-los com fubá antes de colocá-los na mistura. Esse bolo fica perfeito com um cafezinho passado na hora. Confira a receita.
Bolo feito pela chef Heloisa Bacellar Foto: Tadeu Brunelli|Estadão