20 de março de 2019 | 19h17
Era 1992, e a vida seguia mais ou menos assim: em janeiro, Nevermind, do Nirvana, chegava ao número 1 da Billboard e deixava Dangerous, de Michael Jackson, alguns moonwalks para trás. Os Gipsy Kings reforçavam o lugar inédito aberto para a cigania franco-espanhola no então universo milionário da música pop com o disco Live. Madonna lançava Erótica, Bon Jovi tinha Keep the Faith, surgia a banda Blink 182 e ninguém parecia ligar muito para o cubano de 30 anos saído de Havana aos nove em direção a Miami, cantando em inglês e vestido como um latin lover.
Era 1992 quando Juan Francisco Secada Martinez começou a se tornar Jon Secada. Algum tempo antes, Gloria Maria Milagrosa Fajardo, que já era Gloria Estefan, havia se afeiçoado ao então instrutor de artes marciais pelas similaridades históricas. Assim como ele, ela vira sua família sofrer com a Revolução Cubana de 1959 e deixar o país. Assim como ele, ela vivia em uma pátria que não era sua, sem poder fazer planos de regressar. Gloria, já casada com o poderoso Emilio Estefan, colocou Jon para cantar em seu grupo e o apresentou ao mundo hispânico que existia no outro lado do oceano. “Contei muito com a ajuda deles”, lembra Secada. A partir daquele ano, até as rádios de Havana que proibiam a execução da música norte-americana imperialista iriam saber quem era Jon Secada.
O maior de todos ainda é o primeiro. Jon Secada, o disco lançado pela gravadora SBK, venderia mais de seis milhões de cópias e deixaria para sua carreira canções simples e eternas, como Angel, Just Another Day (Otro Dia Más Sin Verte, a primeira que ele fez), I’m Free e Do You Believe In Us?. Nenhuma delas, com exceção de I’m Free, podem ficar de fora dos shows. Suas vendagens gerais, impulsionadas por essas primeiras músicas, chegariam à casa dos 20 milhões de discos.
Mas, afinal, o que teria Jon Secada que o faria um dos primeiros artistas hispânicos a vencer nos Estados Unidos, um lugar que já tinha George Michael, Michael Jackson, Prince, Madonna e toda a tropa oriunda dos anos 80 pronta para arrecadar mais naquele começo de década? Há alguma tristeza insistente em Secada, algo que parece estar em seus olhos e em suas frases curtas que nunca lhe deixam entregar a alma ao interlocutor. Secada é um mistério que se desfaz quando sobe ao palco. Por mais vezes que tenha cantado Angel desde 1992, ela aparece rejuvenescida a cada apresentação. As notas alongadas, uma especialidade, são cortadas pelos acordes e trazem um brilho e uma cor capazes de mudar de natureza antes que o fôlego acabe. “Descansar e tomar água”, ele diz, sobre preservar a voz.
Seu passado pré Estados Unidos está trancado e ele não quer encontrar as chaves. “Não gosto de falar sobre Cuba. Minha família passou por muitas dificuldades para sair de lá. Hoje, já estão quase todos aqui nos Estados Unidos.” Seu presente poderia mudar de rumo se ele pegasse o bonde luminoso do reggaeton e desse as mãos para Luis Fonsi e J Balvin? Não seria um respiro divertido e indolor. “Gosto de misturas, de experimentar sons, respeito a todos eles, mas não seria verdadeiro da minha parte.” E que tal um encontro com cantores brasileiros durante suas passagem pelo País? Roberto Carlos é um de seus ídolos. “Eu tenho conversado com meus produtores para fazer algo assim.” Em 2017, Secada lançou um sensacional álbum para celebrar a obra do compositor cubano Beny Moré, Para Beny Moré With Love. Infelizmente, nada deste disco vai entrar no show, mas vale buscá-lo nos streamings e perceber a Cuba arrebatadora que nunca sairá de Jon Secada.