20 de junho de 2019 | 04h30
As dificuldades encontradas pela seleção brasileira nos compromissos diante de Bolívia e Venezuela deixam o técnico Tite e o elenco diante de uma dúvida de difícil resposta. O desafio da equipe é entender como o País que costuma liderar as Eliminatórias e se classificar para as Copas do Mundo com bom aproveitamento, e antecedência, vê o desempenho cair tanto quando se trata de enfrentar os mesmos adversários, mas em disputa em outro formato, como é a Copa América.
A última vez que a seleção ganhou a competição foi em 2007. Desde então, sofre com um rendimento medíocre na competição. De lá para cá, a equipe entrou em campo 13 vezes por quatro edições diferentes (incluindo a atual) do torneio e venceu apenas 54% dos pontos disputados. Foram seis empates, cinco vitórias e duas derrotas.
O rendimento se opõe ao retrospecto positivo quando se trata de Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa. Desde a conquista da última Copa América, o Brasil disputou duas vezes o classificatório para o Mundial, edição 2010 e 2018, sempre com supremacia sobre os adversários do continente. Não disputou para 2014 porque era o país anfitrião do Mundial.
Tanto para a Copa da África do Sul quanto para a da Rússia, o Brasil terminou na liderança da longa caminhada de 18 jogos e de dois compromissos contra cada um dos rivais. O retrospecto ficou acima dos medianos 54% conquistados em edições de Copa América, com 63% de aproveitamento na campanha para o Mundial de 2010 e 76% na caminhada rumo à edição de 2018. Com Tite, o time chegou a vencer nove jogos seguidos.
O capitão Daniel Alves vivenciou todas essas campanhas nos seus 13 anos de seleção e admitiu ser difícil entender a diferença de comportamento. “Na Copa América a gente oscila muito. Nas Eliminatórias a gente consegue ter boas campanhas. Mas nós somos uma grande seleção. Podemos melhorar. Até porque somos uma das grandes nações do continente, como as próprias Eliminatórias mostram”, afirmou.
A vitória por 3 a 0 sobre a Bolívia com gols no segundo tempo e o empate em branco com a Venezuela colocaram Tite na inédita situação de sofrer contra países sul-americanos. O treinador conseguiu nas últimas Eliminatórias um desempenho quase perfeito diante dos vizinhos, com 89% de aproveitamento e nove vitórias.
Curiosamente, os antigos fregueses viram adversários temidos e até ameaçam uma participação mais efetiva do Brasil na Copa América em casa. Para Tite, a equipe tem sofrido na atual competição por causa do nervosismo. “Ficamos apressados demais, ansiosos demais. Isso fica traduzido nas jogadas em que você força e erra. As finalizações ficam imprecisas e o time passa a arriscar pouco.”
Nas últimas edições da Copa América, o Brasil se tornou coadjuvante. São três torneios seguidos sem ao menos ser semifinalista, enquanto países bem menos badalados, como os rivais de grupo Peru e Venezuela, conseguiram chegar entre os quatro primeiros colocados. Os peruanos ficaram em terceiro em 2011 e 2015 e os venezuelanos em quarto em 2011.
Robson Morelli, editor de Esportes
Tite precisa repensar sua forma de comandar a seleção. Ele está perdido, confuso e sem convicção do que deve e não deve fazer. Ninguém entende mais a forma como ele pensa o futebol. É extremamente preocupado em perder os jogos, em marcar os rivais fracos. Joga pelo emprego e ele não precisa disso. Está envolvido demais com sua patota. Há jogadores fora de posição. O meio de campo não existe. Falta armador. Falta inteligência ao time. As vaias nos jogos da Copa América precisam ser entendidas como desaprovação.
Raphael Ramos, chefe de reportagem de Esportes
O Brasil faz campanha decepcionante até aqui e, claro, Tite está no paredão. Enquanto isso, Philippe Coutinho, Firmino, Daniel Alves, David Neres e companhia parecem se esconder atrás do escudo criado pelo próprio treinador. Sem Neymar, chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor, como diriam Os Novos (e bons) Baianos. Os jogadores precisam assumir o protagonismo na seleção. Que a coragem de Everton Cebolinha contagie as estrelas da seleção. Tite tem culpa, mas não é o único responsável.
Almir Leite, editor assistente de Esportes
Uma das marcas de Tite é o conservadorismo. Ele, por exemplo, não costuma utilizar no jogo algo que não treinou. Mesmo que o que foi treinado não funcione. Mas às vezes é preciso sair da caixinha, pensar rápido, improvisar. Há jogos que precisam de ousadia, de apostar no imprevisto. É hora de Tite acrescentar repertório às suas convicções. E os jogadores têm de se “coçar”. Não justifica Coutinho jogar mal só porque foi bem marcado. Nem Daniel Alves não perceber que seus cruzamentos não dão em nada. Trata-se de seleção brasileira, não de time de Série C.