Dammi un Chianti, per favore. Sob o sol da Toscana, tudo o que você precisa para conhecer um dos tintos mais célebres da Itália. Por Daniella Romano
Durante muitos anos, ao entrar em uma cantina italiana, era comum ver todas aquelas garrafas penduradas no teto. Uma particularidade sempre me chamava a atenção: as embalagens, bojudas, eram envoltas em uma cestinha de palha. Elas também ocupavam as mesas de imigrantes italianos mundo afora, representando um pedacinho da pátria Itália onde quer que eles estivessem vivendo.
As antigas fiascos (como são chamadas as garrafas bojudas envoltas em palha) foram criadas para diferenciar os vinhos Chianti. Há muitas teorias sobre seu nome, mas opto pela versão mais simples – fiasco significa garrafa ou frasco (do latim medieval flascum).
No coração da Toscana, entre estradinhas cercadas por ciprestes e castelos de pedra da era medieval, encontra-se a zona do Chianti. Ela fica entre as cidades de Florença, Siena, Arezzo e Pisa. A região produz uvas desde a época dos etruscos, passando pelos romanos, até os dias de hoje. É uma das áreas mais nobres de produção de vinho na Itália. Foi no ano de 1716 que o grão-duque Cosimo III de Medici demarcou a zona do Chianti Classico. Depois, o crescimento fez o governo italiano criar, em 1967, a Denominazione di Origine Controllata (DOC) e incluir as sub-regiões do Chianti Clássico. Só que, com o passar do tempo e o aumento da demanda, muitos produtores começaram a empregar uvas de qualidade inferior e aumentar a produção de um jeito desordenado e confuso, criando vinhos ruins.
A má fama do Chianti durou tempo demais até que viticultores desgostosos resolveram plantar “uvas proibidas” na região e deram início à produção de vinhos espetaculares, mas que ficaram de fora da classificação da DOC. Começava ali a era dos supertoscanos. Foi em 1984 que, com algumas modernizações e mudanças nas regras, os Chianti ganharam a máxima classificação do vinho italiano e passaram a ostentar DOCG (Denominazione di Origine Controllata e Garantita).
Um pouco mais adiante, o Chianti Classico também recebeu sua própria DOCG, e descolou-se do Chianti DOCG. A uva principal do Chianti é a Sangiovese. Autóctone da Toscana, ela tem entre suas características marcantes acidez típica, cor granada, taninos médios, toques de chá-preto, ervas, groselhas, violetas e especiarias. É a mesma uva do Brunello di Montalcino.
Os vinhos italianos são protegidos pela legislação, e muitas vezes são tantas as regras que ficamos confusos. A seguir, relaciono as classificações do Chianti e do Chianti Classico, suas características e destaques. Depois de entender as diferenças, que tal chamar os amigos, provar e descobrir qual dos dois estilos é o seu preferido? Salute!
O VINHO E A COMIDA ESTÃO NA MESA
A acidez elevada do Chianti é ideal para cortar gorduras e equilibrar molhos à base de tomate. Se pensou em pizza, massa ao sugo e ragu, a tendência é dar certo. Os taninos se equilibram em contato com o azeite de oliva – e eles também realçam o sabor de carnes grelhadas.
CHIANTI jovem, de taninos firmes e um pouco mais rústicos
• Carnes: uma das harmonizações mais indicadas é com bistecca alla Fiorentina, típica da Toscana, grelhada e servida com o osso (T-bone)
• Massas: ao molho de tomate e ao molho pesto (à base de manjericão, azeite extravirgem, queijo grana padano ou parmesão e pinole, nozes ou algum outro tipo de castanha) •Salames: principalmente os que têm erva doce
• Queijos: pecorino
CHIANTI CLASSICO maduro, como os Riserva e Gran Selezione
• Queijos: grana padano e parmigiano reggiano
• Carnes: cordeiro grelhado ao molho de hortelã e carne assada mais batatas gratinadas
• Cogumelos: grelhados ou ao molho de manteiga ou vinho
• Sanduíches: cheeseburguer
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AS CLASSIFICAÇÕES DO CHIANTI DOCG
Para ser Chianti DOCG, o vinho deve ser obtido de uva Sangiovese (no mínimo 70%). Ele pode ter, ainda, uvas brancas Malvasia e Trebbiano (no máximo 19%). Também são permitidas Canaiolo Nero, Colorino, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah (responsáveis por mais frutas e taninos macios).
Ao todo, há na Itália sete sub-regiões produtoras de vinhos Chianti DOCG (Rufina, Montalbano, Colli Arentini, Colli Senesi, Fiorentini, Montespertoli e Pisani). As melhores são a Rufina e a Colli Senesi. Os vinhedos estão em terrenos elevados, onde os dias são mais quentes e as noites mais frias. Isso contribui para o melhor amadurecimento da Sangiovese. A Colli Senesi também merece atenção. Fica ao sul de Siena e perto dos Brunello di Montalcino.
AS CLASSIFICAÇÕES DO CHIANTI CLASSICO
Para ser Chianti Classico DOCG, um produto de qualidade superior, o vinho deve ter pelo menos 80% de Sangiovese e os outros 20% podem incluir Canaiolo Nero, Colorino, Cabernet Sauvignon e Merlot. Uvas brancas não são autorizadas. São nove as sub-regiões produtoras do Chianti Classico (Barberino Val D’Elsa, Castellina in Chianti, Castelnuovo Berardenga, Gaiole in Chianti, Greve in Chianti, Poggibonsi, Radda in Chianti, San Casciano Val Di Pesa e Tavernelle Val di Pesa).
O jeito mais simples e fácil de saber se o vinho é um Chianti Classico é procurar na garrafa o gallo nero (galo negro) – trata-se de um símbolo desse estilo de tinto elegante, com notas de violeta, especiarias e frutas. O galo tem a ver com uma antiga lenda sobre animais usados para resolver conflitos nas divisas entre as regiões.
DANIELLA ROMANO é sommeliére. Criou o Guia de Vinhos Selo 7 Sommeliers e a empresa Aromas do Vinho. É proprietária da Casa da Travessa (www.casadatravessa.net), um espaço dedicado à gastronomia, ao conhecimento e ao estudo do mundo do vinho