06 de abril de 2019 | 03h00
As reuniões de Jair Bolsonaro com líderes de seis partidos, anteontem, sinalizam importante mudança de comportamento do presidente em relação ao Congresso, o que pode afinal melhorar o clima com vista a aprovar a reforma da Previdência e outros projetos de interesse do País. Após três meses de gestão repletos de conflitos inúteis entre o governo e os parlamentares, Bolsonaro enfim aceitou o fato de que é preciso dialogar com os partidos. Até então, sustentava o discurso de campanha segundo o qual qualquer forma de negociação com as legendas seria retornar aos maus hábitos da “velha política” – codinome para corrupção e fisiologismo –, amplamente rejeitados nas urnas.
Ademais, e talvez o mais importante, Bolsonaro deu sinais de desdém pela articulação política, indicando políticos neófitos e claramente despreparados para representar os interesses do governo no Congresso. Não raro, esses líderes do governo são ridicularizados pelos parlamentares.
Aparentemente foi esse o motivo que o convenceu a abrir as portas do governo para conversar com os líderes de diversos partidos (DEM, PSDB, PSD, PP, PRB e MDB). Nos encontros, pediu apoio à reforma da Previdência e anunciou a criação de um “conselho político” para manter um diálogo permanente. Pediu desculpas pelas suas críticas aos políticos – que ele chamou de “caneladas” – e se comprometeu a não falar mais em “velha política”, ainda que, depois, nas redes sociais, tenha jurado a seus eleitores que não negociou cargos com ninguém, como se qualquer reunião com líderes políticos fosse suspeita por definição.
O gesto de distensão não teve efeito imediato. Apenas o DEM, por meio de seu presidente, ACM Neto, sinalizou a possibilidade concreta de apoio, embora o partido esteja hoje dividido – especialmente depois que Bolsonaro se desentendeu publicamente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os demais líderes não se dispuseram a declarar adesão à base do governo. Ou seja, o presidente terá que gastar mais seu verbo para garantir um patamar mínimo de votos no Congresso.
O primeiro passo, no entanto, está dado. Espera-se, daqui para a frente, que não haja mais tropeços, pois o governo precisa ter mais do que o PSL, o partido do presidente, como sustentação no Congresso – e isso ficou claríssimo na sabatina do ministro da Economia, Paulo Guedes, quarta-feira passada na Câmara, quando os deputados do PSL, inclusive os líderes do governo, mal deram o ar da graça, permitindo que a oposição ficasse à vontade para atacar o ministro.
Outra providência que Bolsonaro precisa adotar para construir pontes sólidas com o Congresso é ordenar que seus filhos parem de lhe causar constrangimentos. Depois que o pai se reuniu com líderes partidários para convencê-los a apoiar o governo, o vereador carioca Carlos Bolsonaro foi ao Twitter para dizer que esses políticos só não pediram cargos ao presidente porque Bolsonaro tem “a população a seu lado”, e acrescentou: “Por isso o sistema corrupto insiste tanto em desgastá-lo e transformá-lo em mais um boneco de ventríloquo”. Nunca um pito paterno foi tão necessário e urgente para o País.