13 de março de 2019 | 20h26
Atualizado 13 de março de 2019 | 22h39
SUZANO - A Polícia Militar informou ao Estado na noite desta quarta-feira, 13, que chegou a conclusão de que um dos atiradores da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, matou o comparsa e depois se matou. A corporação, no entanto, não detalhou quem teria atirado contra quem.
Imagens de câmera de segurança mostram que o adolescente G.T.M., de 17 anos, estava com a arma de fogo a todo tempo e é mais provável que ele tenha atacado o amigo Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, e depois se matado. Os dois foram encontrados mortos após serem cercados por policiais no interior da escola. Cinco alunos e duas funcionárias foram mortos no atentado.
Eram 9h42 quando o jovem G.T.M., de 17 anos, entrou armado com um revólver calibre 38 na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, onde havia estudado até o ano passado, e abriu fogo contra um grupo de alunos e funcionários que estava na recepção. Três pessoas caíram no chão e ele seguiu para o interior da escola. Cerca de 30 segundos depois, seu amigo Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, também ex-aluno, entrou munido com uma bésta, um arco e flecha e uma machadinha. Ele golpeou as pessoas já caídas e se atracou com estudantes que fugiram correndo do interior da escola. O massacre resultou em duas funcionárias e cinco alunos mortos. Antes, a dupla havia matado um parente em uma loja fora da escola. Os dois atiradores também morreram.Toda a operação durou cerca de 15 minutos.
As investigações apuram que os jovens faziam parte de um grupo que joga em rede o game Call of Duty, de guerra, e neste fórum teriam planejado o crime. Os investigadores suspeitam que pode ter ligação com o massacre. Vizinhos e conhecidos da dupla relatam que de fato os dois gastavam uma boa parte do tempo em uma lan house jogando games com teor violento. A polícia ainda não sabe como ou onde as armas foram compradas.
Na manhã desta quarta, os dois foram até a loja de carros seminovos de um tio de G.T.M., Jorge Antônio Moraes, localizada a cerca de 450 metros da escola.
De acordo com testemunhas, por volta de 9h15, G.T.M. entrou sozinho no local, onde também funciona um estacionamento e um lava-rápido e disparou três vezes. Ele acertou o celular que Moraes segurava na mão - e o levantou na tentativa de se proteger -, a clavícula e as costas da vítima. Depois, saiu e embarcou no carro que o esperava. Moraes morreu algumas horas depois no hospital.
O gerente Rodrigo Cardi, de 34 anos, trabalhou com Moraes nos últimos 15 anos e disse nunca ter visto G.T.M. no local. “Parece que o Jorge tentou dar uns conselhos depois que o sobrinho foi mal na escola, mas ele não gostou. No momento do ataque, nada foi falado nem houve chance de defesa”, disse.
A polícia foi acionada para procurar um Ônix branco, encontrado um tempo depois na frente dessa escola, já com a chamado do tiroteio em curso.
O fato de os dois serem ex-alunos da instituição pode ter facilitado a entrada pelo portão da frente, que estava aberto. Imagens de uma câmera de segurança mostram que G.T.M., que abandonou os estudos em 2018, entrou na escola pegou a arma que estava na cintura e disparou contra um grupo. Uma das primeiras pessoas atingidas foi a coordenadora Marilena Ferreira Vieira Umezo, de 59 anos. Ela foi baleada com outros alunos e atingida, após já estar no chão, por machadadas.
No início, a dupla não usava máscaras, mas depois cobriu os rostos - um deles com uma máscara de caveira -, e passou a realizar os outros disparos que vitimaram, no total, sete pessoas na escola. Uma aluna chegou a lutar com Luiz e conseguiu fugir, ao mesmo tempo que uma dezena de alunos passava correndo. Ele tentou atingi-los e um dos rapazes agredidos saiu com a ferramenta presa no corpo.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, um sargento e dois cabos da Força Tática entraram na escola quando a dupla tentava invadir uma sala de aula que estava trancada com dezenas de alunos em seu interior. Os policiais estavam com escudos, e os adolescentes se afastaram. Depois, o sargento relatou ter ouvido dois disparos e ter encontrado os corpos no interior da escola.
“Hoje é um dos dias mais tristes da minha vida. O fato entristece Suzano, os paulistas e os brasileiros”, disse o general João Camilo Pires de Campos, secretário da Segurança.
A tragédia poderia ter um número de vítimas se não fossem os esforços de alguns funcionários da escola. O coronel Marcelo Salles, comandante da PM, destacou a atuação de uma professora que estava no centro de idiomas. “(Os atiradores) se dirigiram ao local. Os alunos de lá se fecharam na sala junto com a professora.”
Uma das figuras mais lembradas é a de uma das merendeiras, que se trancou no refeitório com cerca de 60 alunos e chegou a colocar uma geladeira para impedir a entrada dos atiradores. “Senão, a desgraça seria maior”, conta o celeiro Wendel, pai de Maria Eduarda, de 15 anos, uma das alunas salvas pela funcionária. “A minha filha ligou desesperada de dentro do refeitório. Como moro a uma rua da escola, cheguei rápido. Vi uma cena que não queria ter visto na minha vida, muito menos que a minha filha tivesse visto uma coisa dessas”, diz.
A estudante Kelly Milene Guerra, de 16 anos, contou que escutou vários tiros, mas não ouviu os atiradores falarem nada durante o ataque. “Ficamos dentro da cantina até a polícia chegar, mas não sabíamos o que estava acontecendo e de quem se tratava, então o medo continuou. Eles abriram a porta e mandaram a gente correr o mais rápido possível. Vi uns corpos no caminho”, disse.
“A gente ficou ligando para a polícia, só tinha a visão da janela. Via as pessoas correndo, ouvindo os tiros e os gritos. A gente correu para onde dava, alguns para o centro bilíngue, outros, banheiro, para as salas que estavam perto, todo mundo tentando se proteger”, diz a aluna do segundo ano Quéren Cardoso, de 16 anos. “No primeiro tiro, a gente olhou o que estava acontecendo. No segundo, todo mundo saiu gritando ‘é tiro’. Todo mundo largou os pratos, o celular”, conta ela. / ANA PAULA NIEDERAUER, ISABELA PALHARES, JULIANA DIÓGENES, MARCELO GODOY, MARCO ANTONIO CARVALHO, PAULA FELIX e PRISCILA MENGUE