01 de agosto de 2019 | 03h00
A derrocada dos governos populistas de esquerda nos principais países da América Latina foi duramente sentida pelo Foro de São Paulo, entidade que reúne partidos latino-americanos alinhados a este espectro político. É o que se pôde constatar ao final do XXV Foro de São Paulo, ocorrido entre os dias 25 e 28 de julho em Caracas, na Venezuela.
O pouco-caso não se restringiu aos brasileiros. Das principais lideranças da esquerda latino-americana, compareceram ao Foro de São Paulo somente o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e – ¿como no? – o anfitrião dessa edição, o ditador Nicolás Maduro. Evo Morales, presidente da Bolívia, e Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, também optaram por não comparecer à reunião em Caracas.
Diante dessas barbaridades, em meio a tantas mentiras e mistificações, até uma liderança proeminente da esquerda latino-americana como o uruguaio José “Pepe” Mujica se viu compelido a admitir o que só a paixão ideológica é capaz de manter em estado de ignorância deliberada. “(O governo Maduro) é uma ditadura, sim”, disse o ex-presidente uruguaio (2010-2015) em entrevista a uma rádio de seu país no fim de semana.
Ao reconhecer publicamente que Nicolás Maduro comanda um regime de exceção, José Mujica abriu um racha na esquerda uruguaia, que até então via na qualificação do governo da Venezuela como uma ditadura um impeditivo para o avanço de negociações para pôr fim à crise política, econômica e humanitária naquele país. Evidente que José Mujica também não passou incólume pelo “tribunal” do Foro de São Paulo.
Sustentado hoje por duas mistificações – a “democracia” venezuelana e a “inocência” de Lula da Silva –, é evidente que o Foro de São Paulo não tem condições de vislumbrar para si um futuro alvissareiro como entidade séria e relevante para o debate político na América Latina.
No início de julho, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos divulgou o incisivo relatório da alta comissária, Michelle Bachelet, após sua visita à Venezuela. O documento não deixa qualquer dúvida quanto ao caráter de exceção do regime de Nicolás Maduro. O relatório enumerou seguidas “violações de direitos econômicos, sociais, civis e políticos” na Venezuela. Apontou diversos casos de “violência e abusos da polícia”, que apenas no ano passado levaram à morte 5.287 pessoas por “resistência à autoridade”. Para a agência da ONU, tratou-se de “numerosas execuções extrajudiciais” praticadas por forças leais ao regime, entre as quais as temidas milícias.
Igualmente, no caso de Lula da Silva sobram evidências de sua culpabilidade. A ponto de o ex-presidente brasileiro ter sido condenado, até agora, por nada menos do que oito diferentes juízes, em três instâncias.
E assim o Foro de São Paulo escancara cada vez mais a sua natureza: um convescote para gente que vive no mundo da lua.