23 de setembro de 2020 | 10h00
O cineasta norte-americano Matt Dillon surpreendeu nesta terça (22) durante o Festival de San Sebastián com seu novo documentário sobre Francisco Fellove, um grande nome da música cubana que fez carreira no México e caiu em esquecimento até um músico californiano estar com ele há 21 anos.
Rodeado de música latina durante su infância em Nova York, Dillon planejou inicialmente um filme sobre os talentosos músicos cubanos emigrados ao México nos anos de 1950. Mas, ao falar com os especialistas na história de era dourada do son, bolero e cha cha cha, terminou focando em Francisco Fellove, o mais exuberante de todos.
Fellove (1923-2013), nascido em Havana, em uma família de rumbeiros, se destacou muito jovem por seu virtuosismo sobretudo com o scat, uma técnica de improvisação surgida no jazz e consistente em inventar melodias a base de sílabas sem palavras.
Magnético, carismático e autor de clássicos da música cubana como Mango Mangüé, o showman Fellove emigrou ao México em 1955 incentivado por outro reputado músico cubano, José Antonio Méndez, e pela sensível razão de que, em Havana, era impossível ganhar a vida cantando.
No México, Fellove encontrou o sucesso e foi elevado à categoria de grande pelo produtor musical Mariano Rivera Conde. Brilhou até partir dos anos 60, o rock e logo as variedades arrasaram com o panorama da música latina. Décadas más tarde, en 1999, o “Gran Fellove” era um gênio esquecido quando o músico e compositor californiano Joey Altruda resolveu gravar o último disco de sua vida.
Uma aventura á qual seguiu seu amigo Matt Dillon para filmar o processo, sem ter de todo claro qual seria o resultado final. “O documentário nasceu e essa amizade que temos e de nossas vontades pelo mesmo tipo de música”, disse Dillon.
Francisco Fellove não lançava álbum havia 20 anos, e como o próprio diretor do documentário lembra, às vezes havia tensão, porque ele estava um tanto enferrujado com as exigências de estúdio. No entanto, na tela, Fellove aparece de bom humor aos 77 anos porque, segundo o próprio Dillon, “ele tinha o espírito de uma criança”. Assim, não para de rir, cantar, improvisar e brincar com seu velho amigo, o trompetista Alfredo 'Chocolate' Armenteros, outro veterano da música cubana que veio especialmente de Nova York para gravar o álbum, que será lançado em 2021.
O filme é apoiado por uma rica gama de depoimentos, entre eles o do pianista Chucho Valdés. O conhecimento de Matt Dillon sobre aquela geração de músicos cubanos chegou a tal ponto que ele falou deles “como se estivesse abrindo um álbum de fotos de família”, segundo a produtora mexicana Cristina Velasco.
Das conversas que teve com Fellove, Dillon lembrou especialmente aquelas sobre a discriminação racial que os músicos negros cubanos sofreram em Havana nas décadas de 1940 e 1950. “Houve discriminação e ele disse: “Sou 100% negro, minha origem é africana”. Falava muito sobre como às vezes era difícil, porque havia um certo racismo”. Então todos aqueles músicos "foram para o México, porque era um trampolim, porque lá não havia discriminação" e porque naquele país “foram aceitos com muita graça”.
Matt Dillon estreou na direção em 2002 com City of Ghosts e, em 2006, recebeu o Prêmio Donostia em reconhecimento à sua carreira em San Sebastián. Nesta terça-feira apresentou seu filme na Seção Oficial, embora fora de competição.