10 de outubro de 2020 | 05h00
É melhor não subestimar a quarentena de Rick Wakeman. Aos 71 anos, o tecladista britânico usou parte do período em que esteve isolado para concluir um álbum relativamente bem recebido em junho pelos fãs chamado The Red Planet, com oito temas instrumentais inspirados na vida que ele tem a certeza de existir formas de vida no Planeta Marte. Ao Estado, Rick diz que se trata de um autêntico álbum de rock progressivo, como nos velhos tempos. “Eu gravei tudo durante os primeiros três meses deste ano e consegui completar antes do coronavírus provocar o bloqueio aqui no Reino Unido. Estou feliz de poder dizer que fui extremamente bem recebido em todas as partes do mundo.”
A empolgação de Wakeman, maior nome em atividade de uma geração que fez os anos 70 sobrevoar a Terra com timbres e sonoridades sem similares até então, se estende ao grupo que o acompanhou mesmo em situações de finalizações remotas. “Estou muito feliz com a forma como esse disco aconteceu. Trata-se de um verdadeiro álbum feito por um teclado de prog rock em todos os sentidos da palavra, com algumas tomadas bem importantes dos músicos que escolhi.” Eles são Lee omeroy no baixo, Dave Colquhoun nas guitarras e Ash Soan na bateria. A coprodução ficou com Erik Jordan.
Mas Wakeman fala com um jornalista brasileiro por um outro motivo. Ele é uma das atrações do 6º. Festival BB Seguros de Blues e Jazz. Mais uma experiência infelizmente à distância, mas com um arsenal diversificado e potente que pode render mesmo sob as friezas das lives. Rick Wakeman se apresenta às 22h deste sábado (10), com a possibilidade de ser visto tanto pelos canais do YouTube e do Facebook do BB Seguros (business.facebook.com/festivalbbseguros/ e youtube.com/festivalbbsegurosdebluesejazz) quanto por um telão de acesso gratuito montado no drive in do Memorial da América Latina (Rua Tagipuru, 418). Antes dele, a partir das 17h, haverá shows de uma em uma hora de Marco Lobo, Jazz Rock Trio, Cristina Braga, Nômade Orquestra e da excepcional cantora de blues Mary Lane. Depois, o festival será encerrado pelo guitarrista de blues Nuno Mindelis, a partir das 23h.
Rick Wakeman parece o garoto do que chegou ao Yes com 25 anos quando segue falando de The Red Planet. “A verdade é que eu não poderia ser mais feliz. Aconteceu mesmo melhor do que eu poderia ter desejado. Não há um elemento no álbum que eu possa mudar.” Sobre o tema do disco, ele diz que a humanidade, finalmente, está pronta para dar razão ao que David Bowie disse nos anos 1970. “Estamos aprendendo muito sobre o Planeta Marte, ele está lentamente abandonando seus segredos e revelando o quanto tem de água em rios e oceanos. Meu bom amigo David Bowie estava completamente certo quando dizia que ‘há vida em Marte!’”
Ao contrário da opinião de parte dos roqueiros de que o rock progressivo seja um animal extinto desde os anos 80, o tecladista diz: “Absolutamente não, ele não está extinto. É claro que nunca alcançará as alturas dos primeiros anos e da metade da década de 1970, mas com tantos músicos jovens abraçando o prog rock, a música está em constante evolução. Acho que o futuro do gênero é brilhante.” Em sua opinião, o que teria levado seu público a adorá-lo como a uma entidade? As capas douradas e os visuais elaborados teriam ajudado uma idolatria por vezes desmedida? “Sim, eu entendo totalmente o que você está dizendo, mas não é verdade. Alguns de nós acreditamos nessa idolatria, mas somos todos diferentes. O único culto que temos é pela música.”
Se Rick Wakeman conhece bandas de rock brasileiras? “Sua pergunta me encoraja a pesquisar para saber mais do que está acontecendo musicalmente no Brasil e quem são os artistas atuais que estão causando as boas impressões. Vocês sempre tiveram um padrão muito alto de música. Espero logo poder voltar aí. Nunca me esqueço da primeira visita que fiz para tocar em seu país em 1975.”