13 de novembro de 2020 | 17h54
LOS ANGELES - Edoardo Ponti viajou para o sul da Itália com o objetivo de trazer sua mãe, Sophia Loren, de volta para as telas, com o filme A Vida Pela Frente, drama sobre uma sobrevivente do Holocausto que cuida de crianças abandonas e que marca a volta da lendária atriz italiana às telas depois de mais de uma década.
“Com minha mãe posso repetir a mesma cena dez, doze, quinze vezes. Nunca, jamais, em três filmes que realizamos juntos, ela me disse, “Edoardo, chega, não posso mais”. Ela nunca desiste, sempre quer o melhor. Com 30 anos é normal, mas ter esse desejo com 86 é uma grande lição”, afirmou o cineasta em uma entrevista à EFE.
É a terceira vez que Edoardo dirige sua mãe diante das câmeras. Mas desta vez isto parece ainda mais especial pois é o primeiro longa de Sophia Loren depois de mais de dez anos, rodado em sua terra natal, no sul da Itália, em que ela interpreta uma rígida e generosa madrasta.
“É assim que vejo minha mãe. Sempre desejo mostrar Sophia não como diva, mas como atriz, a mãe e a artista que conheço”, disse ele. Durante a entrevista, Edoardo, que é filho de Sofia com o produtor Carlo Ponti, não poupou elogios à mãe, à disciplina que inculcou nele e a um estilo artesanal de fazer filmes afastado dos “egos” e das “superficialidades”.
Sophia Loren, 86 anos, e cuja última aparição no cinema até agora foi em Nine, de Rob Marshall (2009) volta em Rosa e Momo (título no Brasil) uma nova adaptação do romance A Vida Pela Frente, escrito por Romain Gary e publicado em 1975, que já foi adaptado para o cinema em 1978, no filme Madame Rosa - A Vida Pela Frente, dirigido pelo israelense Moshe Mizrahi e que recebeu um Oscar.
Nesta nova versão para a Netflix, Sophia Loren retoma a personagem de Madame Rosa, uma anciã que inicia uma amizade singular com um menino imigrante senegalês (Ibrahima Gueye) que ficou órfão.
Diferente da obra original, a história não se passa em Paris, mas em Bari, cidade do sul da Itália onde a beleza das ruas barrocas e a luz do Mediterrâneo contrastam com as tensões envolvendo a imigração e a pobreza.
“Para ela era importante se reencontrar com sua língua (o napolitano) porque quando você fala o idioma que aprendeu quando nasceu tudo muda, as expressões do rosto, o olhar”, disse Edoardo. O diretor dedicou grande parte do trabalho em Rosa e Momo procurando fazer com que Ibrahima Gueye, um ator mirim de 13 anos que divide as cenas com Loren, interpretando Momo, não se sentisse bloqueado diante do resplendor que cerca uma estrela da magnitude da italiana.
“Quando você junta duas pessoas que têm um grande coração e uma alma sensível é fácil”, afirmou o diretor.
Sophia e Edoardo passaram mais de um mês em Bari com o jovem ator e sua família para criar um vínculo cotidiano que se traduzisse para a tela. “Queria que Ibrahima conhecesse Sophia como a “mamma”, tanto no início como no final da jornada, que tomasse o café da manhã e assistisse TV junto com ela”.
Assim, a emblemática atriz e o jovem ator construíram sua química na tela sob o olhar atento de Edoardo Ponti, que continua aprendendo com sua mãe. “Nunca desiste”.
Indagado se é obcecado pela perfeição depois de crescer e viver no meio de gênios da sétima arte, Edoardo deixou claro que uma das lições mais importantes, influenciada pelo neorrealismo, é a verdade.
“Não é a busca da perfeição, mas chegar a um momento autêntico. Ao mais real possível, a esse momento de verdade”, disse.
Num ano estranho para o cinema, Rosa e Momo já surge como um filme forte candidato ao Oscar, pois Hollywood tem muita expectativa com essa nova obra italiana que conta também com Laura Pausini, que responde pela trilha sonora.
Uma nova indicação para Sophia Loren quebraria vários recordes e restituiria a atenção da premiação para o cinema italiano.
“Sem dúvida seria belo, mas o nosso Oscar já está no coração e na lembrança de uma experiência inesquecível”, disse Edoardo.
O diretor lembra que sua família sempre se manteve longe do showbiz e por isso ele vê o cinema como algo artesanal, como “estar a serviço de uma obra e não do ego ou da superficialidade”, valores que procura realçar neste filme que fala de “inclusão e tolerância”.