17 de setembro de 2020 | 05h00
Aos 70 anos, que completa nesta sexta, 18, a TV brasileira está em um ponto de renovação, tanto pela multiplicidade de mídias quanto por fatores econômicos e até mesmo sociais, como a pandemia.
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No meio de smartphones, lives, plataformas de streaming e segundas telas, parece difícil dimensionar qual foi o impacto da chegada da televisão ao Brasil. Enquanto qualquer pessoa pode transmitir de casa o próprio canal nos dias de hoje e até criar uma programação, uma geração de diretores, técnicos e atores precisou aprender a fazer televisão e inventar uma linguagem, iniciando uma aventura que mudaria os rumos e a cultura do País.
Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, inaugurava há exatos 70 anos a TV Tupi de São Paulo. Naquele 18 de setembro de 1950, 22 aparelhos de televisão foram instalados em pontos de São Paulo e no saguão dos Diários Associados. À noite, o ator Walter Forster fez o anúncio definitivo: “Está no ar a PRF-3, TV Tupi de São Paulo, a primeira estação de televisão da América Latina”. Como narra o jornalista Fernando Morais na biografia Chatô: O Rei do Brasil, a transmissão inaugural foi feita de modo improvisado, apesar dos vários ensaios. A cerimônia seria exibida com três câmeras fixas, mas uma não funcionou.
Ao tentar colocar a TV Tupi de São Paulo no ar com apenas duas câmeras, os técnicos descobriram que as três só funcionavam em conjunto, o que deixou Chateaubriand irritado. Ao se dar conta disso, o norte-americano Walther Ober Müller, supervisor do projeto e diretor da NBC, um dos três canais que existiam nos EUA na época, desesperou-se e foi para o hotel “tomar um porre”. Além disso, como disse o próprio Müller, havia mais gente trabalhando atrás das câmeras do que assistindo à TV.
Cassiano Gabus Mendes (futuro autor de novelas da TV Globo, como Anjo Mau) e Dermival Costa Lima tomaram à frente a transmissão e, com uma hora e meia de atraso, a inauguração foi ao ar e os envolvidos descobriram que o improviso em televisão não funcionava.
O programa de estreia, Show na Taba, era de variedades e protagonizado por artistas como Wilma Bentivegna, Walter Foster, Lia de Aguiar, Lima Duarte, Romeu Feres, Lolita Rodrigues, entre outros. Com uma das três câmeras pifada, tudo teve de ser reformulado às pressas. Também entrou para a história da TV a ausência de Hebe Camargo na cerimônia. Ela iria cantar o Hino da Televisão Brasileira, com letra de Guilherme de Almeida, mas não compareceu e Lolita Rodrigues assumiu seu lugar – anos depois, Hebe contou, entre sorrisos, que teve um encontro amoroso.
A noite de estreia da programação foi assistida apenas por uma seleta plateia que jantava no Jockey Clube de São Paulo, por alguns dos proprietários dos aparelhos distribuídos pelo próprio Chateaubriand e por curiosos que se aproximaram dos receptores distribuídos em vitrines de 17 lojas no centro de São Paulo.
O alcance da transmissão era de cerca de cem quilômetros, abrangendo cidades como Campinas e Santos. Um ano e alguns meses depois, no final de 1951, estimava-se que existiam no Brasil cerca de sete mil aparelhos de televisão, a maioria em São Paulo e o restante no Rio de Janeiro.
A primeira década da televisão no Brasil foi feita ao vivo, por pessoas que vieram do rádio, e por isso não há registros do período. Nos anos 1960, veio a revolução do videotape, tornando possível a gravação de novelas, programas de auditório e teleteatros. Como não havia capacidade técnica para implantar o conceito de rede, um programa que era exibido em São Paulo poderia ser visto no Rio de Janeiro só depois que a fita chegasse à capital fluminense.
Padrão Globo. O padrão de programação uniforme para todas as afiliadas foi criado pela TV Globo, na gestão de Boni e Walter Clark. A estreia do Jornal Nacional, em 1969, foi um passo importante nesse sentido, com o Brasil todo assistindo ao mesmo programa. Algo que foi possível porque a Embratel inaugurara um sistema de micro-ondas que possibilitava a exibição simultânea. A emissora de Roberto Marinho alcançou a liderança em audiência a partir daí, com uma linha sólida de jornalismo, teledramaturgia e programas de auditório.
Nestes últimos anos, devido à crise econômica, agravada pela pandemia da covid-19, a TV Globo, que garantia contratos vantajosos de longo prazo a astros e estrelas, optou por cancelar o vínculo com nomes fundamentais da história da televisão, entre eles Tarcísio Meira e Glória Menezes, o ‘casal 20’ das novelas. Resta saber se os próximos capítulos terão final feliz. /COLABOROU UBIRATAN BRASIL
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