26 de setembro de 2020 | 10h00
Dos três protagonistas do programa Jovem Guarda, que completa 55 anos em 2020, e que se tornaram ídolos de uma geração, apenas Wanderléa ainda não havia entrado para a era das lives. Roberto Carlos fez duas – uma em seu aniversário, em abril, e outra em comemoração ao Dia das Mães. O amigo Erasmo Carlos também já se apresentou online, sozinho ou com convidados. Agora será a vez da Ternurinha, como a cantora é conhecida, fazer sua estreia direto da sala de sua casa, em São Paulo, em uma apresentação para o projeto Sesc Ao Vivo hoje (27), às 19h.
É bem verdade que Wanderléa havia feito uma participação, pré-gravada, em uma das lives de Roberto Carlos, mas, o gosto de estrear para valer em um novo formato anima a cantora que, em um primeiro momento, viajou para um sítio em Gonçalves, em Minas Gerais, e ficou longe de tudo, em família.
“Recentemente eu fiz um musical (60! Década de Arromba) que ficou três anos em cartaz, e que também era algo novo para mim. Canto solta no palco e nele tinha muitas marcações. Agora vem a live. Vamos ver como será”, diz a cantora, que, mesmo depois de tantos anos de carreira, revela o nervosismo. “Estou nervosa agora, fechando o repertório. Não tem como não ficar. A gente é profissional e quer que saia tudo certo.”
Sobre as músicas que escolheu, Wanderléa diz que vai aproveitar a oportunidade e o formato – ela será acompanhada apenas pelo pianista Agenor de Lorenzi – para mostrar canções que não pode colocar nos shows que faz, já que o público sempre espera e quer ouvi-la cantar sucessos da Jovem Guarda, como Pare o Casamento, Prova de Fogo e Ternura. A produção será de Thiago Marques Luiz, que ajudou na seleção das músicas.
A ideia é abrir espaço para composições que estão em discos de uma fase que virou cult, como Maravilhosa (1972), Feito Gente (1975) e Vamos que Eu Já Vou (1977), além de canções que nunca gravou. Caso de Chovendo na Roseira, que Tom Jobim ensaiava no piano de cauda que ela tinha em sua casa em Pasadena, nos Estados Unidos, quando da gravação do disco Elis & Tom, em 1974. “Que boas recordações eu tenho dessa época. Tom lá em casa. Depois, ele foi até passar o Natal conosco naquele ano”, conta.
Dos tempos de crooner, Wanderléa começou a cantar aos 9 anos em rádio e aos 16 anos gravou um disco com o maestro Astor. Ela vai relembrar o clássico My Funny Valentine (Richard Rodgers/ Lorenz Hart). Outra música pouco habitual em suas apresentações, Facho de Luz (Irinéia Maria/ Raul Miranda) também está entre as selecionadas.
Sem pressa de lançar um novo álbum, a cantora diz que vem trabalhando em músicas autorais e poemas musicados em parceria com o marido, o músico Lalo Califórnia.
No ano passado, Wanderléa havia assinado um contrato com a gravadora carioca Deck para um álbum com músicas inéditas – nomes como Arnaldo Antunes, Guilherme Arantes e Nando Reis já haviam enviado composições – que teria produção de Marcus Preto. Porém, a cantora desistiu do projeto, o que, segundo ela, deixou muita gente perplexa.
“As músicas eram ótimas, mas não eram para mim. Eu já gravei tantos discos, não queria fazer mais um só por fazer. A música tem que me pegar de alguma forma e não foi isso que aconteceu”, explica, dizendo que deixou uma porta aberta com Preto, produtor dos dois últimos discos de Gal Costa e que, recentemente, anunciou que trabalha em um álbum de inéditas para a cantora Alaíde Costa.
Além disso, a cantora, que se diz caseira, aproveita o tempo sem shows para fazer uma pequena reforma na casa, ler e assistir a documentários e filmes. Recentemente, mergulhou na vida do músico norte-americano Ray Charles (1930-2004). O mesmo meio que agora usará para se apresentar pela primeira vez – a internet –, ela também usa para matar a saudade da neta Ayla, de 2 anos e 3 meses, que mora na Holanda.
A menina, inclusive, “estreou” nos palcos mais cedo que a vovó, aos 3 meses de idade, no musical 60! Década de Arromba. “Ela entrou no palco comigo e curtiu. Ficou se balançando. Se vai ser artista, não sei. Importante é se fazer o que gosta”, afirma.