Sonia Racy
08 de novembro de 2020 | 00h40
Em um ano marcado pela morte de George Floyd e manifestações pelas vidas negras nos Estados Unidos e no mundo, nasceu no Brasil o movimento Pretos na Moda. O que vem a ser? Trata-se de um coletivo formado por modelos, artistas e empreendedores negros e está por trás das mudanças implementadas na edição virtual da SPFW – que se encerra hoje.
O evento baixou regra este ano, obrigando o casting de modelos de todos os desfiles ser composto em 50% por negros, afrodescendentes ou indígenas. “A proposta, encampada por Paulo Borges, responsável pelo evento, ainda é uma ação de curto prazo”, ressalta Natasha Soares, modelo à frente do coletivo. “Mas estamos batalhando para torná-la permanente”. Confira trechos da conversa com a coluna:
Venceram uma batalha, quais foram as barreiras que enfrentaram no caminho?
O Paulo Borges foi muito receptivo, nós e o evento entendemos que é um momento de mudança. É necessário que a moda nacional represente o Brasil. Nossa ideia é trazer essa proporcionalidade racial para todos os criativos que exibem sua marca neste evento, e não exclusivamente para os modelos.
Além da discrepância salarial entre as modelos de diversas origens, quais são os outros obstáculos do mercado?
A oportunidade. Existe uma certa obsessão do mercado com as tops brasileiras que fizeram sucesso no começo dos anos 2000. E é este tipo de modelo, com beleza estabelecida, que acaba conseguindo mais trabalhos na moda. Existe a necessidade de quebrar esse padrão.
Quais os próximos passos do projeto Pretos na Moda?
Temos a intenção de ir para outras ramificações da moda. Queremos entrar na publicidade, na questão da grade de cachês. Queremos igualdade no pagamento. Queremos entrar nas revistas também. O mercado da moda brasileiro abrange muita coisa, ainda mais hoje em dia, com toda essa tecnologia. O Instagram virou a fonte de renda de muita gente nesse período de quarentena, então nós queremos, de alguma forma, padronizar isso e deixar mais justo para todos.
A SPFW foi a primeira semana de moda no mundo a adotar a proporcionalidade racial em seus desfiles. Acha que será uma tendência?
Acho que é um bom parâmetro a se seguir. É necessário entender a mudança que a sociedade tem demonstrado, e acredito que o mundo da moda tem essa sensibilidade.