20 de dezembro de 2020 | 13h42
Atualizado 20 de dezembro de 2020 | 18h43
A atriz Nicette Bruno morreu aos 87 anos no final da manhã deste domingo, 20, devido a complicações decorrentes do novo coronavírus. Ela estava internada desde o dia 26 de novembro na Casa de Saúde São José, no Rio, que confirmou a morte da artista.
Nicette Bruno nasceu em Niterói, no Estado do Rio, filha única de Sinésio Campos Xavier e da atriz Eleonor Bruno, em 1933. Seguir a carreira artística foi quase uma imposição familiar. Estudou balé, piano. Aos 11 anos, entrou para o grupo de teatro da Associação Cristã de Moços, depois foi para o Teatro do Estudante do lendário Paschoal Carlos Magno. Aos 14 anos, já era profissional na Cia. de Dulcina de Morais. Estreou numa montagem de Romeu e Julieta, o clássico de Shakespeare. Em 1947, foi premiada por sua atuação na peça A Filha de Iório, de Gabriel D'Annunzio. Seguiram-se participações em montagens de Nelson Rodrigues (Anjo Negro) e Oscar Wilde (O Fantasma de Canterville).
Aos 17 anos, fundou em São Paulo o Teatro de Alumínio. Novo sucesso como Antônia em Pedro Mico, de Antonio Callado. A primeira novela foi Os Fantoches, de Ivani Ribeiro, em 1967. No cinemas, atuou em Querida Susana, de Alberto Pieralisi, Canto da Saudade, de Alberto Cavalcanti, e A Guerra dos Rocha, de José Fernando.
Nos anos 1970, a atriz estrelou nos sucessos Meu Pé de Laranja Lima, Éramos Seis, e Como Salvar Meu Casamento. Esta última não foi encerrada porque marcou a extinção da TV Tupi.
A ida de Nicette para a Rede Globo foi a convite do diretor e ator Fabio Sabag, para interpretar a freira Júlia na novela Obrigado, Doutor, em 1981. Já na emissora, a atriz interpretou Sara Mendes, mãe da personagem paranormal de Regina Duarte, em 1982, na novela Sétimo Sentido, de Janete Clair.
Nos anos seguintes, esteve em Louco Amor, folhetim de Gilberto Braga, Selva de Pedra (1986), Rainha da Sucata (1990) e Mulheres de Areia (1993). Úrsula foi a primeira vilã de Nicette, na novela O Amor Está no Ar, em 1997.
A temporada de retorno a O Sítio do PicaPau Amarelo levou à atriz para as novelas Alma Gêmea (2005), como a Ofélia, e Sete Pecados (2007), ambas de autoria de Walcyr Carrasco. Em 2010, estreou em Tititi, em seguida A Vida da Gente (2011), passou por Salve Jorge (2012), Joia Rara (2013), I Love Paraisópolis (2015), e Pega Pega (2017).
O teatro permaneceu em sua vida – Perdas e Ganhos, O Que Terá Acontecido a Baby Jane? O monólogo de Lya Luft foi dirigido por Beth Goulart, uma dos três filhos que Nicette teve com Paulo Goulart, com quem foi casada por 60 anos, até a morte dele em 2014. Todos – Barbara Bruno, Paulo Goulart Filho e Beth – seguiram a carreira artística, uma tradição da família.
Nas redes sociais, a filha de Nicette Bruno, Beth Goulart, prestou uma homenagem à mãe. "Minha mãe, minha vida, meu amor", escreveu ela em uma publicação no Instagram. A atriz vinha comunicando o estado de saúde de Nicette, pedindo orações diárias sempre às 18h.
Nos comentários da publicação, artistas se solidarizaram com Beth. "Beth querida, receba meu abraço forte e em toda sua família. Que honra ter tido a chance de trabalhar com ela, que energia linda, que grande atriz, que olhinhos únicos que brilhavam tanto! Guardarei na memória nosso último encontro no aniversário da Natalia Thimberg. Amo vocês", disse Selton Mello.
A apresentadora Sabrina Sato também deixou uma mensagem de carinho. "Beth, sua mãezinha foi recebida com todo amor. O sorriso puro e alegre de Nicette vai ficar pra sempre na nossa memória."
A atriz Vanessa Goulart falou do "privilégio" de ser neta de Nicette. "Sim, ela partiu, nossa luz, nosso amor maior... Mas agora ela está em todos os lugares, em todos os corações, em toda partícula de fé e amor emanadas por todos e por cada um. Que privilégio viver a experiência de ser sua neta nesta vida. Sou neta e sou meta, seguindo seu exemplo em todos os momentos. O momento é de dor, mas a sua vibração sempre será a da alegria, do sorriso, do amor", escreveu ao publicar uma foto em homenagem à avó.
Ela se solidarizou com as famílias que estão com parentes internados devido à covid-19. "Saibam que a vontade de Deus é soberana, entreguem em suas mãos." "Nós, que continuamos, seguimos com a missão de levar luz a esta Terra em transformação", completou.
Em entrevista à GloboNews, o ator Ary Fontoura disse que conhecia Nicette Bruno havia 60 anos e que a atriz fará "uma falta extraordinária" para a dramaturgia, do teatro à televisão, bem como para os amigos e familiares. "Estou bastante abalado, estava acompanhando esse trajeto todo, torcendo demais por ela, torcendo para que ela se reestabelecesse", afirmou.
Ele a descreveu como "uma figura extremamente humana, dificílima de encontrar, e que colocava sempre o perdão em primeiríssimo lugar". Segundo isso, era isso que fazia a admiração das pessoas por ela aumentar cada vez mais.
"É natural que nós estejamos nesse impacto, um tanto constrangidos até para falar, mas isso é porque que, apesar de tudo isso, de termos a certeza de que a vida continua e que essas memórias serão cultuadas com certeza, é sempre uma notícia que a gente não gostaria de ouvir", disse Fontoura. No Instagram, ele também prestou uma homenagem à amiga. "Uma das grandes amizades se foi, estou extremamente triste", escreveu.
Tony Ramos, que trabalhou com Nicette em A Próxima Vítima e Bebê a Bordo, também tinha uma relação muito próxima com a atriz e o marido dela. Os três conviveram por muito tempo na extinta TV Tupi e estiveram juntos em jantares e visitas no Rio e em São Paulo.
"O que eu quero me lembrar é da capacidade produtiva de Nicette, essa mulher absolutamente batalhadora, sonhadora, que completando uma novela e dois meses antes pensando no próximo projeto. Já trocamos ideias de como seria o próximo espetáculo, o levantamento do cenário, do elenco, enfim, uma atriz que não estava nunca acomodada, nunca esteve. Nunca é nunca", relatou o ator. "A gente pode afirmar: a gente perde um dos grandes pilares do teatro, do cinema e da televisão brasileiros. A gente perde mesmo. Saudade para todo o sempre."
À emissora, o jornalista e escritor Artur Xexéo falou do legado da atriz de 87 anos. "A Nicette é um dos pilares de uma geração que é muito importante para o teatro brasileiro, é a geração que modernizou o teatro brasileirro (...) que trouxe uma modernidade à interpretação", afirmou. Ele comentou sobre os filhos e netos da atriz que também seguiram uma carreira artística. "Já tem uma geração posterior, uma dinastia que ajudou a contar a história do teatro no Brasil."
Em nota a Rede Globo relembrou da trajetória da atriz em Órfãos da Terra e Éramos Seis. "Seus últimos trabalhos na TV foram em Órfãos da Terra – obra vencedora do Emmy de Melhor Telenovela, do Grand Prize no Seoul Drama Awards, e do Rose D’Or Awards na categoria Serial Drama – como Ester Blum, e uma participação em Éramos Seis (2020), como Madre Joana. Foi uma merecida homenagem à atriz, que havia interpretado a protagonista Lola na versão da trama exibida pela TV Tupi."