Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão quarta, 03 de março de 2021

NOVO DÓLAR: NOVA NOTA DE VO DÓLARES DEVE TER A ABOLICIONISTA HARRIET TUBMAN EM SUA ESTAMPA

 

O novo dólar

Nota de US$ 20 deve ter a abolicionista Harriet Tubman em sua estampa

Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo

03 de março de 2021 | 03h00

Alguns devem pensar que o dinheiro dos Estados Unidos emergiu pronto da explosão do Big Bang. Todavia, os próximos anos devem testemunhar uma mudança no rosto da moeda dos EUA.

 

Harriet Tubman
Modelo da nota de 20 dólares com Harriet Tubman Foto: US Treasury
 

A Inglaterra já usava libras quando isso ocorreu. Por lei, entretanto, a velha Albion não permitia que sua própria moeda saísse das ilhas britânicas, nem mesmo para suas colônias. Por isso, no século 18, era muito difícil encontrar libras e shillings circulando. A moeda que surgia de forma mais comum nas colônias britânicas do Novo Mundo era... mexicana! Ah, a ironia da História!

O México, também desde o século 16, tinha sua própria casa da moeda e cunhava os valiosos “reales de a ocho”, um peso de prata que equivalia a 8 unidades de menor valor, chamada real. Esse “spanish dollar”, como era chamado nas 13 colônias, a “Grana espanhola”, era uma das poucas moedas circulantes por ali. No início do século 18, a crise da falta de moeda estimulou o jovem Benjamin Franklin a escrever um manifesto que reclamava como a situação impedia a economia local de se desenvolver. Além disso, ele passou a imprimir dinheiro, na forma de vales em papel. A Coroa proibiu essa prática também. O ressentimento dessa medida estava entre os fatores listados para a guerra de independência pouco tempo depois.

Guerras custam dinheiro e isso a colônia não tinha, já vimos. Solução: imprimir dinheiro. O “continental” (nome dado em homenagem ao Congresso Continental que declarara a independência), em sua intenção inicial, se baseava no valor de um “dólar espanhol”. As cédulas vinham com o valor estabelecido em um pequeno texto que dizia algo como: este pedaço de papel vale 1, 10 ou 20 dólares. Os mais velhos entre nós, leitores, se lembrarão da URV, a unidade que estabelecia quanto valia o real nos tempos que antecederam a implementação de nossa moeda, nos longínquos anos 1990, quando achávamos que vivíamos uma crise.

Imprimiu-se tanto dólar de papel para sustentar o esforço de guerra que eles se desvalorizaram muito rápido. No fim do conflito, já corria o ditado: “Isso vale tão pouco quanto um continental”. As cédulas foram abandonadas e, em 1792, estipulou-se a criação efetiva do dólar americano. Nome alemão e referências espanholas, a moeda estadunidense deveria ser feita apenas e tão somente em metal, não mais em papel. Foi uma das primeiras do mundo a se basear em um sistema centesimal, facilitando a compreensão de suas frações (lembram-se do real de oito?). As efígies das primeiras moedas recém-nascidas eram alegorias da liberdade, da vitória e outros valores. Jamais pessoas.

Por quase um século, os americanos tiveram apenas moedas e não mais cédulas circulando. Precisaram de outro conflito para voltar a imprimir dinheiro: a Guerra da Secessão (1861 a 1865), que rachou o país em dois, Sul e Norte, em torno de várias questões. Tanto um lado quanto o outro, precisando desesperadamente de recursos, voltaram a imprimir dinheiro. O do Norte, criado pelo secretário de Finanças de Lincoln, Salmon P. Chase, era verde e, na sua nota de um dólar, trazia a efígie nada modesta de... Chase! Como na guerra anterior, rapidamente a cédula se desvalorizou e, ao fim do conflito, valia um terço do seu valor de face. Isso porque a cédula verde era uma promessa, um bônus de guerra, que poderia ser resgatado quando os canhões silenciassem.

Pior ocorreu com a moeda sulista, os “dixies”, que se desvalorizaram muito mais e, ao fim das batalhas, se tornaram pedaços de papel colorido com o fim do país e a reintegração ao norte.

A decisão de quem deve ou não estampar a cédula de dólar é atribuição do secretário de Tesouro. Critério é que a pessoa deve ser alguém cujo valor de face (literalmente) seja conhecido da história americana como personagem confiável. Por isso, há ex-presidentes e personalidades como Benjamin Franklin. Mas muita gente já entrou e saiu dessa galeria. Ela não é nem nunca foi fixa: só não podem mostrar pessoas vivas.

Daí o anúncio em 2016 de que, em 2020, as notas de 20 dólares deixariam de estampar o presidente Andrew Jackson, um controverso governante que era escravista, por uma notória abolicionista, Harriet Tubman. A primeira mulher negra (moedas de um dólar mostram, desde 2000, Sacagewa; ainda no século 19, por curto período, a primeira-dama Martha Washington estampou a nota de um “dólar de prata”) em uma moeda norte-americana. Jackson não reclamaria: ele era um feroz opositor das cédulas e de bancos poderosos!

A administração Trump anunciou que o custo seria alto e que postergaria a decisão por, no mínimo, dez anos. Biden, decidido a desfazer a herança do antecessor, anunciou que iniciaria a substituição.

Viram? Não dói mudar uma efígie em uma nota. Especialmente, porque elas estampam valores de época. E nossos tempos podem e devem ser mais plurais. A esperança é associada ao verde, cor tradicional dos dólares. É preciso ter ambos, dólares e esperança. 

 


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