Paula Bonelli
07 de fevereiro de 2021 | 00h50
Chegou a vez de Elza Soares. Aos 90 anos, a cantora recebeu a primeira dose da vacina contra o coronavírus nesta sexta-feira, 5, no Rio, em casa, com o início da imunização de idosos. “Posso voltar para o meu mundo, sair de dentro de casa”. A conquista não significa que pretende baixar a guarda. Com a folia em fevereiro desmarcada, ponderou: “Estamos atravessando uma fase muito difícil. É preciso ter consciência. Acho que o carnaval tem que ocorrer no próximo ano”.
Neste período de pandemia, ela compôs samba para a disputa do hino da Mocidade Independente de Padre Miguel, do próximo carnaval, sobre Oxóssi e o enredo “Batuque ao Caçador”. A canção de Elza, feita em grupo, homenageia também os ritmistas da escola e está muito bem cotada no concurso concorrendo com criações de Carlinhos Brown, D2, e Sandra de Sá entre outros.
A artista está cheia de planos e os exames de saúde mostram que Elza está em formas mas sente um pouco de dor por causa de um dos pinos que tem na coluna desde que sofreu um acidente na casa de shows Metropolitan, no Rio, em 1999 quando caiu do palco. Ela passou por cirurgias e a fazer show sentada. A seguir, os principais trechos da entrevista com Elza.
Eu me sinto segura, lógico. Sou pela ciência e é nisso que acredito. O resto é falatório sem comprovação. A ciência é tudo. Fico feliz por chegar minha vez, mas também fico muito preocupada com tanta gente que ainda não se vacinou, com tanta gente morrendo. Temos que correr e vacinar todo mundo para salvar a vida dessas pessoas.
Quais são seus planos agora que está vacinada?
Voltar para o meu mundo, sair de dentro de casa, viva a vacina, viva.
O Carnaval está suspenso, quando acha que a festa deve ocorrer?
Acho que as autoridades devem responder por mim. Estamos atravessando uma fase muito difícil. É preciso ter consciência. Acho que o carnaval tem que ocorrer no próximo ano.
Vamos nos garantir, já que sabemos que a coisa é tão terrível.
Como encara a pandemia?
Gente, tem pessoas que não levaram a sério a pandemia. É só pensar, raciocinar e ver que tem que levar a sério. O que os órgãos da saúde mandam tem que seguir. Foi o que eu fiz. Graças a Deus, eu não peguei covid, quem está do meu lado também não.
Pretende cantar e escrever sobre a pandemia?
Não é preciso cantar, a gente fala, grita, briga. Sei que o nosso povo é guerreiro e vai conseguir passar por isso. Mas temos que lutar, gente do céu, lutar outra vez, mais uma vez.
Existe preconceito contra os orixás e as religiões africanas?
Existe preconceito em tudo, mas continuo acreditando e está aí a composição que fiz para a Mocidade com amor e fala da religião em que acredito.
Há quem defenda que o País é miscigenado e que não tensão racial no Brasil. O que pensa sobre isso?
Ah, bonitinho, quem pensa isso é horrível, existe sim, por favor. Inclusive a carne mais barata do mercado é a carne negra, cantada por mim.
O que te inspira a cantar e compor?
O amor que eu tenho à minha vida me inspira a cantar e compor.
Como você lida com o envelhecimento?
É querer viver, deixa o tempo passar, graças a Deus estou tendo esta oportunidade de ver o tempo passar.
E seus próximos projetos?
Estou preparando um DVD, um disco de jazz que é o meu sonho, participo de documentários, filmes muita coisa pra viver gente.
/PAULA BONELLI