13 de janeiro de 2021 | 11h00
No primeiro projeto da atriz, apresentadora e influencer Maisa Silva na Netflix – o filme Pai em Dobro – ela interpreta Vicenza, uma jovem de comunidade hippie que vai ao Rio de Janeiro tentar encontrar seu pai, figura ausente nos seus 18 anos de vida. Dirigido por Cris D’Amato (de Confissões de Adolescente, É Fada e outros) e com roteiro de Thalita Rebouças, o filme é uma aventura adolescente com amor, humor e carnaval, filmado antes da pandemia, mas também trata de uma questão bastante delicada, o abandono de crianças por parte dos pais, problema comum no Brasil. O longa chega à plataforma na sexta-feira, 15.
A ideia do filme surgiu em um papo da escritora e roteirista com o ator Edu Moscovis – que no filme interpreta Paco, um dos “candidatos” a pai de Vicenza. A escritora que já teve diversos livros adaptados para o cinema agora fez o caminho inverso: criou uma história original para a tela e depois escreveu o romance, lançado em novembro pela editora Rocco com o mesmo título.
“Foi muito rápido”, diz Rebouças ao Estadão. “Logo depois de uma conversa com o Du sobre fazermos um filme, me veio uma cena dele vestido de odalisca para o carnaval, e com uma filha de 18 anos chegando na vida dele. Nasceu assim. De brincadeira, mandei essa ceninha para ele, logo pensei na Maisa e começamos a escrever.” Ela assina o roteiro do longa ao lado de Renato Fagundes, Marcelo Andrade e João Paulo Horta.
Na história, Vicenza faz um desejo de aniversário para a mãe, Raion (Laila Zaid): conhecer seu pai. Com a resistência da mãe, a protagonista decide partir para o Rio de Janeiro com uma única pista, uma foto do carnaval de 2002 que mostra um endereço no bairro de Santa Teresa. Depois de encontrar Paco (um solteirão que até leva na boa a possibilidade de ter uma filha perdida, alguém bem diferente do personagem de Moscovis em Bom Dia, Verônica), ela também esbarra em outras fotos da mãe com Giovani (Marcelo Médici), na mesma época. Os dois novos relacionamentos entre possíveis pais e filha se misturam com a descoberta, por parte de Vicenza, do amor, com o jovem Cadu – vivido aqui por Pedro Ottoni, revelação da internet, aos 21 anos ele acumula centenas de milhares de seguidores no seu canal do Youtube ATORmentado.
O filme tem tudo para representar uma virada na carreira de Maisa, que começou no SBT ainda criança e hoje, aos 18 anos, é uma das principais vozes do Twitter brasileiro. “Como qualquer ator, com a idade tenho aprendido bastante nestes últimos tempos. O Pai em Dobro marca uma nova etapa na minha carreira, é o meu primeiro grande projeto depois que fiz 18 anos, o primeiro depois de sair da TV e o primeiro na Netflix”, diz. “A Vicenza é diferente de tudo que fiz até hoje, e sinto que ainda quero interpretar muitas pessoas diferentes.”
Ela conta que ainda não tem um “plano de carreira” estabelecido, mas como outras atrizes da sua geração (como Maisie Williams, a Arya de Game of Thrones) pretende manter canais abertos em diversas áreas: na atuação, apresentação, redes sociais e empreendedorismo – em dezembro, ela anunciou a criação da Mudah, uma agência para conectar marcas e artistas, ao lado do empresário e sócio Guilherme Oliveira. “Vejo em cada situação o que faz sentido nos projetos”, diz – ecoando aqui uma fala de Vicenza no filme.
As companheiras de Maisa na produção são só elogios. “É muito lindo acompanhar o crescimento dela como atriz”, diz Thalita. “Nesse filme, ela é um monstro, está perfeita, fala com os olhos.” A parceria é a terceira entre a escritora e a atriz, depois de Tudo Por Um Popstar (2018) e Ela Disse, Ele Disse (2019). “A Maisa é uma estrela”, certifica a diretora, Cris D’Amato. “Sou fã dela desde pequenininha.”
A diretora conta que recebeu uma ligação de sua amiga, produtora executiva do filme, Cecília Grosso, e topou a empreitada na hora. “A Thalita é um sucesso. Eu sentia vontade de fazer um filme dela mesmo depois de É Fada (baseado num livro da escritora e dirigido por Cris), e esse é o seu primeiro longa com ‘roteiro original’. Ela tem uma proximidade com essa garotada que não é uma coisa de autora que fica em casa. A gente sai com a Thalita e as crianças vêm em cima dela. Ela tem um vocabulário que atinge essas meninas sem ser piegas. É um dom para poucos.”
D’Amato conta que o trabalho foi feito muito em parceria com a roteirista. “Eu fazia as locações, mandava fotos para ela e a gente trocava ideias. Costumo dizer que num filme o diretor orquestra, mas os músicos estão ali para contribuir.”
Filmado em locações no Rio, o filme teve os sets montados entre janeiro e fevereiro de 2020 – logo antes da tragédia global lançar os braços com força sobre o Brasil. “Lembro que estávamos filmando numa casa, em um dia meio chovendo, e eu comentei com a equipe que aquele ‘negócio’ surgido na China ia chegar aqui, que era perigoso... Juro que fui sacaneada. As pessoas lembram dessa história, porque o negócio tomou uma proporção absurda”. Uma das cenas tem um bloco de carnaval descendo as ladeiras do bairro. “A gente podia se abraçar, se beijar, suar juntos… aquele bloco é um bloco de verdade, contratamos, a maioria são mulheres. Vamos abraçar a mulherada, temos que sair do discurso”, conclui a diretora.