02 de junho de 2020 | 04h49
É natural que muitos pais se preocupem em conseguir que seus filhos leiam durante as férias, mas as apostas podem parecer especialmente altas este ano, depois de meses de “ensino a distância”. Quando se trata de adolescentes e leitura, as definições contam.
Sim, pesquisas mostram que os adolescentes estão lendo menos, uma queda que começa no ensino fundamental II. Mas muitos especialistas acham que os critérios usados por pesquisadores são muito limitados e refletem a maneira como muitas vezes definimos instintivamente “ler” como leitura de ficção em geral, e ficção literária em particular. E livros físicos, sem incluir os digitais.
Os adolescentes de hoje estão lendo, tanto material impresso quanto online, de acordo com especialistas em educação, bibliotecários e professores. Mas o que eles estão lendo - livros de terror e distópicos, perfis de revistas esportivas, artigos de notícias online etc, - frequentemente não é considerado nas pesquisas como “leitura”.
Embora ler uma notícia não seja o mesmo que ler um romance ou um livro de não ficção, especialistas dizem que não ajuda em nada adultos desmerecerem a leitura que muitos adolescentes estão fazendo.
Em seu livro Reading Unbound: Why Kids Need to Read What They Want - and Why We Should Let Them (Leitura livre: Por que as crianças precisam ler o que querem - e por que devemos deixar que façam isso, em tradução livre), os especialistas em educação de adolescentes Michael W. Smith e Jeffrey D. Wilhelm destacam o fato de que as crianças que foram observadas apresentaram um “envolvimento surpreendentemente rico com textos que não valorizamos muito”. Segundo Smith, professor da Temple University, “muitos eram leitores ávidos de textos marginalizados”.
Isso é particularmente verdade com adolescentes do sexo masculino. Conforme relatado em seu livro anterior, Reading Don’t Fix No Chevys (Ler não conserta nenhum Chevrolet, em tradução livre), os estudos de Smith e Wilhelm descobriram que muitos adolescentes estão interessados em ler livros e outros materiais por meio dos quais aprendam algo, como a história de um esporte favorito ou mesmo manuais de carro. Eles sentem prazer em se tornar um especialista em alguma coisa. (Claro, isso também é verdade para muitas garotas).
“Mas esse é exatamente o tipo de leitura que pais e professores querem que as crianças ‘deixem para trás’”, disse Wilhelm, professor da Universidade Estadual de Boise (Idaho, EUA). Como os adultos com quem convivem subestimam o que gostam de ler, muitos adolescentes - especialmente os garotos - não se consideram leitores, uma percepção de si mesmo que começa no ensino fundamental II e piora com a idade.
“Ensino literatura infantil em uma faculdade de educação, para que meus alunos sejam professores”, disse Laura Jimenez, professora da Faculdade de Educação e Desenvolvimento Humano Wheelock da Universidade de Boston. “Raramente há um homem na sala de aula e, quando há, diz: “Eu não sou um leitor de verdade’. Mas eles não estão considerando o que leem de fato.”
Como verdadeiros nativos digitais, os adolescentes estão lendo cada vez mais textos online, especialmente notícias, artigos de esportes e de entretenimento, além das mídias sociais. Um adolescente, que é um leitor apaixonado, me disse recentemente que “é preciso muito mais esforço para ler um livro do que olhar a tela”. Embora a leitura na tela também carregue a tentação de “começar a jogar ou verificar suas redes sociais”, disse ele. “É quase impossível evitar.”
Então, qual é o papel dos pais quando se trata de adolescentes e leitura? Aqui estão algumas dicas e estratégias de especialistas:
Como adulto, você pode ver alguns títulos como lixo e artigos online sobre artistas populares como uma perda de tempo. Mas tente evitar criticar o tipo de leitura que seu filho está fazendo. É crucial permitir que os adolescentes, que geralmente têm muita lição por fazer, escolham o que ler no seu tempo livre. Laura, por exemplo, tem um filho que gosta de ler notícias, então sua família tem assinaturas de vários veículos de comunicação.
Uma maneira pela qual os pais podem incentivar seus filhos a diversificar é explorar diferentes tipos de leitura sobre os tópicos que lhes interessam. E não deixe de fora os textos online. Smith cita sua própria experiência como fã de futebol que lê tudo o que pode: estatísticas, breves perfis de jogadores, artigos longos sobre jogadores e livros. “Acho que cometemos um erro quando traçamos linhas duras entre os livros e outros tipos de leitura”, disse. “Leio mais online e me considero um leitor."
Wilhelm oferece outra perspectiva nessa ideia de “focar nos tópicos” que pais e professores podem usar. Digamos que seu filho tenha que ler Romeu e Julieta para a escola e relute em fazê-lo. Por que não abordar a peça de Shakespeare como uma história sobre “o que faz relacionamentos acabarem? Qual aluno do nono ano não está interessado nisso?”, Wilhelm perguntou.
Sim, seu filho sabe ler. Mas há um prazer distinto em ter alguém lendo em voz alta para você. Isso também cria uma “experiência em comum”, disse Abigail Foss, professora de inglês avançado da Northwood High School, em Silver Spring, Maryland, que diz que seus alunos “adoram que leiam para eles”.
Outra possibilidade para essa ideia é ouvir audiolivros juntos, algo ideal para viagens de carro, mas também pode ser feito em um piquenique em casa ou mesmo durante um "jantar de leitura". Para pais e adolescentes, ouvir audiolivros e ler um livro em voz alta são ótimas atividades para fazer em família, mesmo que por um curto período todos os dias. Isso também ajudar a ter um tema em comum para conversas em família.
Os adultos nem sempre dão o melhor exemplo para os leitores adolescentes que desejam formar. Portanto, tente diminuir o tempo gasto no telefone com e-mail ou mídia social e dedique 20 minutos por dia para ler um livro ou artigo de revista, enquanto os demais integrantes da sua família também leem algo que cada um escolheu. Mesmo se seu filho adolescente não topar a ideia, você ainda poderá desfrutar de um pedaço de seu dia para ler algo por prazer. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA