Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão terça, 26 de maio de 2020

SÉRIE A AMIGA GENIAL

 

'A Amiga Genial' reflete dualidade entre norte e sul da Itália

Série da HBO inspirada na tetralogia napolitana de Elena Ferrante chega à segunda temporada

Luiz Zanin Oricchio, O Estado de S.Paulo

26 de maio de 2020 | 05h00

 A Amiga Genial

Margherita Mazzucco, Gaia Girace e Federica Sollazzo na segunda temporada de 'A Amiga Genial' Foto: HBO
 

Lila se afunda num casamento medíocre e vive num ambiente machista, abaixo da sua inteligência. Lenu, apelido de Elena, segue com brilho sua carreira escolar e ganha uma bolsa para estudar em Pisa, no norte da Itália.

A dualidade norte-sul é importante no contexto histórico italiano. O norte, desenvolvido, sente-se superior ao sul subdesenvolvido (pelo menos na época da história). Há toda uma questão histórica e econômica nessa dualidade, implicando preconceitos e ressentimentos regionais.

A autora da tetralogia, a napolitana Elena Ferrante, ambienta essa ficção, talvez baseada em parte significativa de experiência pessoal, em boa parte num bairro pobre (o “rione”) de Nápoles. Pode-se dizer que é uma narrativa que adota o ponto de vista meridional. 

Será todo um desafio para a estudiosa Lenu superar suas deficiências (inclusive o sotaque advindo do dialeto napolitano) para vencer na parte desenvolvida do país. Ao passo que Lila resolve permanecer no ambiente onde nasceu. Mas a relação é conflitiva. Com o marido, com os amigos, com os membros da Camorra local, que mandam e desmandam no bairro. Mas ela não se dobra a eles. Não se curva a ninguém. É um espírito rebelde, belicoso.

Inclusive com relação a Elena, pois, como costuma dizer a autora do livro (que se esconde atrás do pseudônimo), toda amizade é feita de uma estranha e sólida mistura de amor e ódio. Lina e Lenu não passam uma sem a outra. Mas às vezes ficam longos períodos sem se ver. E, quando se reencontram, alegram-se e brigam, além de disputar um namorado numas férias de verão na ilha de Ischia.

Para situar o leitor em relação à obra literária: a chamada “tetralogia napolitana” de Elena Ferrante é composta pelos livros Volume 1: A Amiga Genial, Volume 2: História do Novo Sobrenome, Volume 3: História de quem Vai e de quem Fica e Volume 4: História da Menina Perdida. O conjunto da obra acabou ficando com o título do primeiro tomo, A Amiga Genial. Quanto à autora, pouca gente sabe de fato quem é Elena Ferrante. Alguns familiares e por certo seu editor. Comunica-se e dá entrevistas por e-mail. Há diversas especulações sobre sua identidade. Nenhuma conclusiva. Sabe-se apenas (e já é o suficiente) que sua obra é encantadora, uma voz feminina poderosa e com milhões de leitores mundo afora.

Elena Ferrante comparece nos créditos da minissérie, ao lado de outros roteiristas, o que garante autenticidade em relação à obra original. A série é dirigida pelo cineasta Saverio Costanzo e, tanto quanto possível, acompanha a obra literária. É uma banalidade dizer, mas vá lá: são duas linguagens diferentes e nunca serão a mesma coisa, e nem a mesma experiência de quem lê os livros e quem assiste ao produto audiovisual.

Mas se pode dizer, por depoimentos, e por experiência de quem escreve estas linhas, que a obra audiovisual não decepciona aqueles que se apaixonaram pelos livros. Apenas apresenta as coisas de maneira diferente. Passagens longas são comprimidas e divagações (extensas e interessantíssimas) sobre questões literárias, são compactadas em poucas palavras da narrativa em off, voz da ótima atriz Alba Rohrwacher. A “voz” é de Elena, a autora, aquela que, no primeiro volume, ao saber do desaparecimento da amiga, decide contar a história das duas. 

Na fase juvenil desta segunda temporada, Elena é interpretada por Margherita Mazzuco e Lila, por Gaia Girace. São boas atrizes, jovens, cheias de frescor. A loirinha Elena, com sua determinação, seu olhar frontal, sua disciplina, suas dúvidas. A morena Lila, com seus gestos inesperados, sua inteligência mordaz, sua raiva e seus olhos penetrantes, como os de uma Capitu meridional, olhos de ressaca e de mistérios.

A terceira temporada, confirmada, mas ainda sem data de estreia, será baseada no volume 3 da tetralogia: História de quem Vai e de quem Fica. A série é relato das duas personagens, da infância à velhice, mas também uma espécie de afresco da Itália, do pós-guerra aos dias de hoje, pelo ponto de vista feminino. Elas vivem num ambiente machista e opressor. Suas armas são as da inteligência, cultura e astúcia contra a força bruta, associada ao mundo masculino. Impossível não torcer por elas.


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