Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão domingo, 16 de agosto de 2020

ARAQUÉM ALCÂNTARA, O POETA DA NATUREZA, COMEMORA 50 ANOS DE CARREIRA

 

Araquém Alcântara comemora 50 anos de carreira com nova viagem pela Amazônia

O ‘poeta da natureza’, como se denomina o fotógrafo, fará novos registros da região que ama e defende

Eliana Silva de Souza, O Estado de S.Paulo

15 de agosto de 2020 | 14h00

Ser um fotógrafo de natureza é ter de lidar com sentimentos os mais variados. Se maravilhar com as belezas que estão a sua frente, mas também é preciso tirar de dentro de si força para encarar os estragos que o homem faz ao meio ambiente. Há 50 anos, quando deu início a sua trajetória profissional, Araquém Alcântara enfrenta esses dilemas. A partir do momento em que decidiu se dedicar a registrar esse mundo de florestas e parques, ele se transformou em um poeta do olhar. 

 

Tamanduá-mirim foto de Araquém Alcântara
Imagem que tem rodado o mundo e se tornou emblemática foi captada no ano passado. É a fotografia de um tamanduá-mirim cego fugindo de uma queimada na Amazônia. “Essa foto reflete meu sentimento de revolta pelo que vem acontecendo.”  Foto: Araquém Alcântara

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Fotos emblemáticas de Araquém Alcântara

Começando a arrumar as malas para outra viagem à Amazônia, que renderá imagens para compor um novo livro, Araquém falou com o Estadão, por telefone. Do alto de seus 69 anos de vida, o fotógrafo conta que está isolado há 150 dias por causa da pandemia, e se mostra radiante com a atual fase de sua carreira, com o reconhecimento internacional valorizando ainda mais seu trabalho. Mas, em meio a esse momento positivo, o fotógrafo também revela sua indignação com o que está acontecendo com a natureza. “Um amigo meu, (o artista plástico) Frans Krajcberg, falava: ‘Será que não estão percebendo, isso é um holocausto’. E agora, além do que ele constatava, temos ainda esse genocídio intencional contra povos indígenas, os quilombolas, pois estão querendo liberar todo o garimpo. É ganância, é intencional”, afirma de forma enfática o fotógrafo, mostrando o que sente sobre o que vem acontecendo com o meio ambiente. 

 

Araquém conta que ir à Amazônia é um hábito que costuma manter com viagens anuais para a região. A cada estada no local, a visão que se apresenta é cada vez mais assombrosa, mas ele não quer perder a esperança, acha que ainda podemos conseguir uma solução para isso. 


 

Só o engajamento da sociedade pode salvar a Amazônia, que hoje está em agonia, chegando a ponto de savanização. Isso não pode continuar, pois, se seguir assim, não vai mais produzir aquelas árvores generosas, nem a chuva será da mesma forma, o que afetará a agricultura, o clima da América do Sul. Sem flores não há futuro saudável.
Araquém Alcântara, fotógrafo

“O (antropólogo) Darcy Ribeiro já tinha dito isso, ou seja, só o engajamento da sociedade pode salvar a Amazônia, que hoje está em agonia, chegando a ponto de savanização. Isso não pode continuar, pois, se seguir assim, não vai mais produzir aquelas árvores generosas, nem a chuva será da mesma forma, o que afetará a agricultura, o clima da América do Sul. Sem flores não há futuro saudável”, sentencia. Mas também se mostra otimista, vendo que até os empresários, que não pensavam nisso, estão querendo a sustentabilidade em primeiro lugar. Assim, acredita que a situação ainda pode reverter, mas que é necessária uma mudança de pensamento das autoridades e de atitudes concretas para tornar isso possível. 

Um dos nomes mais emblemáticos da fotografia da natureza, Araquém Alcântara começou sua trajetória em 1970, quando “ecologia era uma palavra para letrados”, como ele diz. Nascido em Florianópolis, o fotógrafo passou um bom tempo morando em Santos, cidade do Litoral Sul de São Paulo, onde começou sua paixão pela fotografia e teve como seus primeiros modelos os urubus. No cais, também passou a registrar as prostitutas que trabalhavam por ali. Mas o seu caminho começaria a tomar outro rumo quando foi levado a registrar os fatos que se apresentavam. “Logo teve Cubatão, as crianças sem cérebro e o rico vale da morte, meu modelo de universo era esse inferno todo”, conta. 

Araquém diz que seu trabalho revela duas vertentes: “Um posicionamento político e uma visão poética”. Conta que sempre foi um cara invocado, que remava contra a maré. “Eu era o cara que saía andando com a câmera na mão e, até hoje, minha fotografia é feita andando”, revela. Para ele, a forma que escolheu para conseguir captar o espírito de um povo, o caráter de um povo, como diz, foi a de se transformar nesse fotógrafo viajante. 

“Eu tenho 500 mil imagens, mas acho que, dessas, 50 mil de alto nível”, conta Araquém, afirmando que o trabalho do fotógrafo da natureza é assim mesmo. “Você descarta 90% das suas fotos, mas com os 10% restantes corrige tudo”, adverte Araquém. Com tantos anos de profissão, entre muitas imagens captadas por todos os cantos do Brasil, destaca duas que são marcos em fases diferentes de sua carreira. 

A primeira, feita 50 anos atrás, é a que traz seu pai segurando uma foto com ossos humanos, que foi feita para simbolizar a luta contra a construção de usinas na região de Iguape. Para o fotógrafo, o sentido da imagem foi dizer: “Olha, somos pessoas humildes, mas sabemos o que querem fazer”, e funcionou. A segunda, uma fotografia que tem rodado o mundo, captada no ano passado, traz a imagem de um tamanduá-mirim cego fugindo de uma queimada na Amazônia. “Essa foto reflete meu sentimento de revolta pelo que vem acontecendo”, afirma Araquém. Ele conta que estava na BR Cuiabá-Santarém e de longe avistou o animal saindo da mata, que ainda queimava. “Eu pulei a cerca e vi um bicho saindo da queimada. Quando ele sentiu eu me aproximar, tentou se defender abrindo os braços, essa é uma atitude de defesa dos tamanduás. Trata-se de um crime inominável. Essas são imagens muito fortes na minha vida.”

 

Araquém Alcântara
Araquém Alcântara. ‘Meu trabalho tem uma paisagem poética e política’ Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

Dessa estada na Amazônia, entre tantas outras da sua longa trajetória, Araquém lembra que foi um momento terrível. “Minha viagem foi logo após aquela escuridão em São Paulo”, conta. “Em seguida fui para lá, fiquei dias voando em um Cessna com a porta tirada, a coluna virou um ‘S’, e fotografando com o vento batendo forte no meu rosto”, diz o fotógrafo, que mostra ter sido dessa forma que passou a conhecer em detalhes a região. “Eu já entendo todo o caminho do garimpo que, primeiro, abre um trechinho na mata até a beira do rio, depois expande até algum afluente”, revela. E ainda se comove quando fala sobre a cor verde que surge na água. “É a cor do garimpo, da morte. Como podemos permitir a entrada de garimpeiros na floresta?” 

Premiado internacionalmente, o fotógrafo brasileiro tem 55 livros lançados, sempre com a temática da natureza, enfatizando o Brasil e o sertão. As imagens que vão ser captadas nesta nova viagem à Amazônia serão expostas em uma feira em Frankfurt, na Alemanha, no ano que vem. 


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