23 de junho de 2020 | 09h07
A estreia do filme Tubarão nos Estados Unidos completa 45 anos neste mês de junho. Naquela época, em 1975, no início do verão do hemisfério Norte, o filme provocou o que o próprio Steven Spielberg, em sua biografia – escrita por Joseph McBride, pela University Press of Mississippi -, define como 'febre de tubarão'. O sucesso foi instantâneo, logo seguido, em 1977, por outro estouro de bilheteria – Encontros Imediatos do Terceiro Grau. Spierlberg, aos 28 anos, tornou-se o jovem Midas de Hollywood.
Rememorando – a tranquilidade da praia de Amity é subvertida pelo grande tubarão branco. A primeira vítima é uma bela mulher que mexe, voluptuosamente, as pernas dentro d' água. O efeito erótico é intencional. Três homens caçam a fera dos mares, os personagens de Richard Dreyfuss, Robert Shaw e Roy Scheider.
Como Dreyfuss explica ao prefeito, “Estamos lidando com a máquina de matar perfeita. É um milagre da evolução. Tudo o que essa máquina faz é nadar e comer com seus dentes afiados tudo o que cruza seu caminho.” A McBride, Spielberg contou que, desde o início, o cinema lhe permitiu exorcizar seus medos. “O medo foi sempre muito real para mim. Então, o que fiz foi me livrar de meus medos, transferindo-os para os outros – o público.”
Ao ler o livro de Peter Blenchly, ele imediatamente percebeu seu potencial. “Filmei movido pela hostilidade. Tive medo e quis revidar.”
Mas ele admite que o tempo todo tinha dúvidas. Joe Alves, que trabalhou na produção, expressou o sentimento comum. Ao ver uma versão não finalizada, achou o tubarão, propriamente dito, ridículo. “Fazia uns barulhos esquisitos, a cor deixava a desejar e dava para perceber quando era (um tubarão) mecânico.” O medo de Spielberg era que o público risse. O teste de público ocorreu em Dallas, em 26 de março. As pessoas gritavam de medo - nas horas certas. Riam, quando era para rir. Spielberg relaxou.
Desde o começo, ele sabia o filme que queria fazer. Assustador. Mas não conseguiu convencer o diretor de fotografia Vilmos Szigsmond, que o advertiu sobre a dificuldade de filmar no mar. Spielberg imaginava um filme realista, quase documentário. Szigsmond caiu fora, foi substituído por Bill Butler.
Spielberg havia se iniciado com o curta Amblin, em 1969. Seguiu carreira na TV. Em 1971, Encurralado, o duelo entre um homem na direção de seu carro e um caminhão, foi considerado tão bom que teve lançamento nos cinemas. Em 1974, o primeiro longa para cinema de Spielberg, outra história de perseguição – com Goldie Hawn – passou em Cannes, Louca Escapada. E veio Tubarão. Spielberg queria que o tubarão fosse, no mar, o que o caminhão de Encurralado foi na estrada. Com Louca Escapada, ele iniciou a parceria com o compositor John Williams. Por pouco não romperam no segundo filme juntos.
Williams teve de convencer Spielberg de que o tubarão era um assunto muito sério - Spielberg, seguindo uma lição de Alfred Hitchcock, que dizia que filmava as cenas de assassinatos como se fossem de amor, e vice-versa, encarava o terror com humor, mesmo com risco de ser ridículo. Quando o compositor lhe apresentou sua proposta, um motivo musical de quatro notas, primitivo em sua força e simplicidade, Spielberg teria rido. “Não dá!”, teria dito. Queria algo mais melódico para o tubarão. Williams retrucou que não havia jeito. O filme não era um romance. Convenceu o diretor dizendo que um popcorn movie aterrotizante não poderia ter uma trilha melódica. Estava certo.
A trilha foi essencial no sucesso. John Williams ganhou o Oscar da categoria, depois vieram mais três – dois por filmes de Spielberg, E.T, o Extraterrestre e A Lista de Schindler, mais o de Star Wars, de 1978. Mas, antes de tudo isso, ele já era um compositor premiado – recebeu seu primeiro Oscar, em 1972, pela canção original e trilha adaptada de O Violinista no Telhado. A parceria com Spielberg continua até hoje. Tubarão estreou nos EUA em 20 de junho de 1975. No Brasil, seis meses mais tarde, em 25 de dezembro.