Almanaque Raimundo Floriano
Fundado em 24.09.2016
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, dois genros e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 05 de setembro de 2021

ATRAÇÃO DO PRONOME ÁTONO
 

Atração do pronome átono

“No segundo semestre de 2016, foi constatada a existência de R$ 827 milhões, dinheiro que, em última análise, destina-se ao pagamento das aposentadorias”, escrevemos na pág. 3. Viu? Ignoramos a atração do pronome que. Ele funciona como ímã. Puxa o pronome pra frente do verbo. Assim: No segundo semestre de 2016, foi constatada a existência de R$ 827 milhões, dinheiro que, em última análise, se destina ao pagamento das aposentadorias.

Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 04 de setembro de 2021

PLEONASMOS: PEQUENO DETALHE E PLANO PARA O FUTURO
 

Pleonasmos: pequeno detalhe e plano para o futuro

Pequeno detalhe? Ops! Todo detalhe é pequeno. Basta detalhe.

Plano para o futuro? Ganha a MegaSena quem fizer plano para o passado. Todo plano é para o futuro. Basta plano.


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 03 de setembro de 2021

QUE OU QUÊ?
 

Que ou quê?

Acento e pronúncia formam par inseparável. Agudo e circunflexo só caem sobre a sílaba tônica. Em dissílabos, trissílabos e polissílabos, descobrir a fortona é fácil como passar criança pra trás na fila. Com os monossílabos, porém, a história muda de enredo. Os pequeninos obedecem a um caso das oxítonas. Acentuam-se os terminados em ae e oseguidos ou não de s. Veja: está (dá), estás (dás), pajé (dê), pajés (dês), vovó (dó), vovós (dós).

A questão…

Nada de especial. Por que, então, o quê dá nó nos miolos? Porque é vira-casaca. Muda de time a torto e a direito. Ora é conjunção. Ora pronome. Ora substantivo. A primeira equipe não dá problemas. Apresenta-se sempre com a mesma cara. As duas outras provocam enxaqueca. Às vezes pedem chapéu. Outras vezes dispensam o acessório. Você sabe lidar com as estripulias delas?

1º time 

A equipe da conjunção se apresenta com a mesma cara – sem acento: Disse que acabará o estágio em dezembro. Saia mais cedo, que o metrô não circula hoje.

2º time

As outras provocam dor de cabeça. Por duas razões. De um lado, a criatura tem o poder da mobilidade. Salta daqui para ali como macaco salta de galho. De outro, varia de classe gramatical. Passa de pronome a substantivo com a facilidade com que andamos pra frente. Elas fazem as artes. Nós pagamos o pato. O preço dessas mudanças é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:

  1. Quando o quê for substantivo. Aí será antecedido de pronome, artigo ou numeral. Como todo nome, tem plural:

Modelos na passarela têm um quê de sedutor.

Qual o mistério dos quês?

Este quê não me confunde mais.

Corte os quês da redação.

Belo quê você introduziu no discurso. Quem mandou?

  1. Quando o quê for a última palavra da frase – a última mesmo, coladinha no ponto:

Trabalhar pra quê?

Riu, mas não disse por quê.

Você se atrasou por quê?

Ele se ofendeu com quê?

Quero saber a razão do emprego desse quê.

Moral da opereta

 Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à própria insignificância. Redatores que arrancam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: não há por que temer o quê. Ele é mais manso que o gatinho lá de casa.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 02 de setembro de 2021

IMPLICAR: REGÊNCIA
 

Implicar: regência

 

 O verbo implicar tem três empregos. Em dois, ninguém tem dúvida:

1. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com: O diretor implicou com ele.

2. Na de comprometerenvolver, é a vez do em: A secretária implicou o chefe no escândalo.

   A dúvida surge no significado de produzir como consequência. Aí, implicar implica e complica. O verbo parece, mas não é. No sentido de acarretar consequências, o malandro é transitivo direto. Não suporta a preposição emAutonomia também implica responsabilidade. Deflação implica recessão. Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público.

 


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 01 de setembro de 2021

CADA E TODO: DIFERENÇA
 

Cada e todo: diferença

Cada indica diversidade de ação, particulariza:

Usa cada dia um vestido (não repete o traje).

Cada filho tem um comportamento.

Cada macaco no seu galho. Dava brinquedos a cada criança.

Todo generaliza. Significa qualquer:

Todo dia é dia.

Dava brinquedos a toda criança.

Todo homem é mortal.


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 31 de agosto de 2021

EM VEZ DE? AO INVÉS DE?
 

Em vez de? Ao invés de?

Ao invés de significa ao contrário de. É contrário mesmo, oposição: Saiu ao invés de ficar em casa. Comeu ao invés de jejuar. Há religiões que pregam a morte ao invés de pregar a vida.

Nas demais acepções,  não duvide. Use em vez de. As três letrinhas querem dizer em lugar de, em substituição aComeu frango em vez de peixe. Em vez de ir ao teatro, foi ao cinema. Convidou Paula em vez de Célia.

Dica pra lá de útil:: deixe o ao invés de pra lá. A locuçãozinha em vez de o substitui com galhardia. Ela vale por dois: Comeu em vez de jejuar. Em vez da carta, o carteiro entregou o pacote. Bobeou. 


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 30 de agosto de 2021

A ALFACE? O ALFACE?

 

 

A alface? O alface?

Alface é feminina: a alface, alface americana, alface crespa.

Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 29 de agosto de 2021

CRASE: MACETE COM PRONOMES POSSESSIVOS
 

Crase: macete com pronomes possessivos

 

— Crase antes de pronome possessivo?

Os precipitados têm a resposta na ponta da língua:

— É facultativa.

Os atentos pensam duas vezes:

— Depende da frase.

E daí?

O pronome possessivo goza de privilégios. Ora vem acompanhado de artigo. Ora não. Por isso, a gente pode dizer:

Minha cidade tem duas faculdades.

A minha cidade tem duas faculdades.

A crase é a fusão da preposição a com outro a. Quando o artigo é facultativo, a crase também é. Logo, está certinho da silva escrever:

Vou a minha cidade.

Vou à minha cidade.

Na incerteza, banque o São Tomé. Recorra ao tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se no troca-troca aparecer ao, sinal de crase. Caso contrário, xô, grampinho:

Vou a (ao) meu país.

 

Olho vivo

Nem tudo o que reluz é ouro. Há uma construção enganadora. O a que antecede o possessivo tem cara de artigo. Mas artigo não é. Trata-se do ardiloso pronome demonstrativo:

Não fui a (à) minha cidade, mas à sua.

Desmembrada a segunda oração, temos:

Não fui a (à) minha cidade, mas à que (àquela que) é sua.

O raciocínio é um só: o artigo é facultativo. O pronome não. Exige o sinal de crase. Aplique o tira-teima:

Não fui a (ao) meu país, mas ao seu.


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 28 de agosto de 2021

MERITÍSSIMO: COM I - E OUTRAS DICAS

 

 

Meritíssimo: com i

Há um juiz por perto? Não dá outra. É meritíssimo pra lá, meritíssimo pra cá, meritíssimo pracolá. Olho vivo. Meritíssimo se escreve assim — com i. A razão é simples. A palavra vem de mérito. Como diz o outro, filho de peixe peixinho é.
 

Sentença e parecer: quem faz o quê

Cuidado com a Justiça. Com a ceguinha não se brinca. Ela exige propriedade vocabular. Nunca diga que o juiz dá parecer, atribuição do Ministério Público. O meritíssimo sentencia, decide, ordena, determina, absolve e condena. Em bom português: ele profere sentença. Parecer é coisa dos outros mortais.
 

Erramos: pleonasmo

“Além da corrupção, também serão debatidos assuntos ligados à segurança pública”, escrevemos na pág. 13. Reparou no pleonasmo? Além de indica adição. Também transmite a mesma ideia. Melhor ficar com um ou outro: Além da corrupção, serão debatidos assuntos ligados à segurança pública. Serão debatidos assuntos ligados à corrupção e, também, à segurança pública.
 

Justiça: maiúscula ou minúscula

Escreva Justiça quando se tratar do Poder Judiciário. E justiça nos demais casos: A Justiça ordenou o pagamento dos atrasados. Não houve justiça na divisão dos bens. Fazer justiça com as próprias mãos.  

Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 27 de agosto de 2021

SIGLAS: COMO ESCREVÊ-LAS

 

 

Siglas: como escrevê-las

As siglas não dão folga. Você abre o jornal, lá estão elas. Liga a tevê, não dá outra. Conversa com os amigos, as danadinhas aparecem. É ONU pra cá, PT pra lá, PM, UTI, Embratur pracolá. O Programa de Aceleração do Crescimento perdeu o tamanhão original. Virou PAC.

Até as pessoas se transformam em siglas. É o caso de FHC. Fernando Henrique Cardoso governou o Brasil de 1994 a 2002. Em oito anos, fez e aconteceu. ACM também virou sigla. Antônio Carlos Magalhães, o rei da Bahia, era temido no estado e fora dele.

Se as siglas fazem parte da vida, não adianta bancar o cego. O jeito é aprender a lidar com elas. Como escrevê-las? Todas as letras maiúsculas? Com ponto ou sem ponto entre as letras? Com o s de plural ou não? Gramáticas não se preocupam com o assunto. O problema caiu no colo de jornais e revistas. Eles ditam normas.

Use todas as letras maiúsculas:

1. se a sigla tiver até três letras: Organização das Nações Unidas (ONU), Caixa Econômica Federal (CEF), Ministério da Educação (MEC), unidade de terapia intensiva (UTI), Polícia Militar (PM), Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa).

2. se todas as letras forem pronunciadas: Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS),  Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Nos demais casos, só a inicial é grandona: Departamento de Trânsito (Detran), Organização dos Produtores Exportadores de Petróleo (Opep), Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Departamento Nacional do Trânsito (Denatran).

Atenção, gente fina. Escreva os serezinhos sem ponto. Se estiverem no plural, o s  minúsculo pede passagem: PMs, Detrans, UTIs.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 26 de agosto de 2021

SEU E SUA: QUANDO É PROIBIDO USAR

 

 

Seu e sua: quando é proibido usar

 

Certas palavras rejeitam o possessivo. Aproximá-los é briga certa. Evite confusões. Não o use com:

  1. as partes do corpo: Na batida, quebrou a perna (nunca sua perna). Arranhou o rosto. Fraturou os dedos.
  2. os objetos de uso pessoal: Calçou os sapatos (não seus sapatos). Pôs os óculos. Vestiu a saia.
  3. as qualidades do espírito: Perdeu a consciência (não sua consciência). Mudou a mentalidade. Alterou o comportamento.

Dica: em 90% dos casos, o possessivo é desnecessário. Se é desnecessário, sobra: Paulo fez a (sua) redação. Pegou o (seu) jornal. Perdeu as (suas) chaves.

É isso. Escrever é cortar. Ou trocar.


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 25 de agosto de 2021

CRIANÇA MEIO DOENTE? MEIA DOENTE?

 

 

Criança meio doente? Meia doente?

Meio-dia e meia? Meio-dia e meio? Criança meio adoentada? Criança meia adoentada? A dúvida tem diagnóstico. É a confusão entre adjetivo e advérbio. Adjetivo é variável. Advérbio, invariável. Como identificar um e outro? A tarefa é fácil como andar pra frente.

O adjetivo é mutável. Tem feminino, masculino, singular e plural. Subordinado ao substantivo, concorda com o chefão em gênero e número: menino alto, meninos altos; menina alta, meninas altas; meio quilo, meios quilos; meia verdade, meias verdades; meio melão, meios melões.

O advérbio joga em outro time. Para ele não existe gênero nem número. No caso, meio acompanha o adjetivo. Quando aparece, quer dizer um tanto, mais ou menos: Maria anda meio (um tanto) chateada. O ministro anda meio (um tanto) desaparecido da mídia. Deixe as portas meio (mais ou menos) abertas.

Macete

Pintou a dúvida? Pare e pense. Na frase, meio joga em que time — quer dizermetade ou um tanto? Se metade, é adjetivo. Dança conforme a música do substantivo. Se um tanto, é advérbio. Mantém-se imutável, indiferente ao feminino, masculino, singular ou plural: A senadora saiu ao meio-dia e meia (hora) meio (um tanto) aborrecida.


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 24 de agosto de 2021

ASCENSÃO E ASSUNÇÃO: EMPREGO
 

Ascensão e assunção: emprego

Quarenta dias depois da Páscoa, Jesus voltou pra casa. Sozinho, sem ajuda. O ato milagroso se chama ascensão. O verbo, ascender. Maria seguiu o filho. Mas precisou ser levada. A subida dela às alturas se denomina assunção.

Páscoa: significado e história

A língua adora bater papo. E, no vai e vem de histórias, incorpora palavras de outros idiomas. Vale o exemplo de Páscoa. Hebraica, a dissílaba quer dizer passagem e é tão antiga quanto Adão e Eva. Bem antes de Moisés vir ao mundo, os pastores nômades comemoravam a Páscoa. Cantavam e dançavam pela despedida do inverno e a chegada da primavera, quando a neve se ia, os campos se cobriam de pastagens e os alimentos abundavam.

Mais tarde, os judeus começaram a festejar a Páscoa. Lembravam, com sacrifícios, a saída do povo de Israel do Egito. Era a passagem da escravidão para a liberdade. Em 325, os cristãos instituíram a Páscoa. Com ela, exaltam a ressurreição de Cristo – a passagem da morte para a vida.

O círio e o coelho: símbolos da Páscoa

A Páscoa tem símbolos. Um deles: o círio pascal. Trata-se de uma vela onde estão inscritas a primeira e a última letra do alfabeto grego – alfa e ômega. A mensagem: Cristo é o princípio e o fim. Ao mesmo tempo, luz.

O coelho

O outro é o coelho com o ovo. “Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim – um ovo, dois ovos, três ovos, assim”, canta a meninada lambuzada de chocolate. Cá entre nós: o que o ovo tem a ver com a Páscoa, e a Páscoa com o coelho? No duro, no duro, nada. A relação é simbólica. O ovo representa o nascimento e a ressurreição. O coelho, a fertilidade. Gera coelhinhos pra dar, vender e emprestar.

Será?

Dizem que Simão, que ajudou Jesus a carregar a cruz até o Calvário, era vendedor de ovos. Depois da crucificação, ops! Milagre! Os ovos se cobriram de cores. São os mesmos que as crianças buscam nos mais diferentes esconderijos.

Pascal, pascoal: significado do sufixo -al

O substantivo Páscoa sentiu-se solitário. Que tal uma família jeitosa? Oba! Pediu socorro ao sufixo -al. Com ele, formou os adjetivos pascal e pascoal. As duas letrinhas aparecem em montões de adjetivos. Em todos, têm o mesmo significado. Querem dizer relacionado com, pertinente a.

Pascal e pascoal são relacionados com a Páscoa (festa pascal, Monte Pascoal). Campal, com campo (batalha campal). Matrimonial, com matrimônio (festa matrimonial). E por aí vai.


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 23 de agosto de 2021

APÓS E DEPOIS - PRESENTEAR, CEAR E FREAR: CONJUGAÇÃO
 

Após e depois: questão de naturalidade

“Seja natural”, aconselham os manuais de estilo. Escreva do jeito que você fala. Frases curtas, perguntas diretas, palavras simples conquistam o leitor. Dão a impressão de um bate-papo de amigos que se encontram para tomar um cafezinho ou comer um sanduíche.

Mas nem todos estão atentos às manhas da língua. Um dos tropeços mais comuns é o uso do após. Por alguma razão que até Deus desconhece, falamos uma palavra, mas escrevemos outra. Que coisa!

Guarde isto: após é artificial. Use-o em expressões consagradas (ano após ano, dia após dia). No mais, dê preferência ao depois: Depois do sinal, deixe o recado. Depois de consultar o ministro, o presidente soltou a nota. Arrependeu-se depois de falar mal do chefe. Mas o mal estava feito.

Presentear, frear e cear: conjugação

Amanhã é Páscoa. A meninada espera ansiosa a visita do coelhinho. Ele vai conjugar o verbo presentear. Conjugá-lo como manda a gramática pega bem como dar bom-dia no elevador, usar cinto de segurança, pedir licença e dizer obrigado. Como frear e cearpresentear perde o no nós e vós dos dois presentes — do indicativo e do subjuntivo.

Veja: eu presenteio (freio,ceio), ele presenteia (freia, ceia), nós presenteamos (freamos, ceamos), vós presenteais (freais, ceais), eles presenteiam (freiam, ceiam); que eu presenteie (freie, ceie), ele presenteie (freie, ceie), nós presenteemos (freemos, ceemos), vós presenteeis (freeis, ceeis), eles presenteiem (freiem, ceiem).


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 22 de agosto de 2021

AMIGO PESSOAL? NÃOOOOOOO! - DEPOR: REGÊNCIA

 

 

Amigo pessoal? Nãooooooo!

A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Skala. Jornais, rádios, tevês, sites e blogues só falam no assunto. Ressaltam que a maior parte dos mandados de prisão temporária atinge amigos “pessoais” do presidente. Ops! Ganha um ovão de Páscoa quem tiver um amigo que não seja pessoal. Vale chutar? Talvez eles queiram dizer amigos íntimos do presidente. Ou amigos próximos.

Depor: regência

O verbo mais usado nos últimos anos? É depor. De ontem pra hoje, com a prisão dos amigos do presidente, a coisa explodiu. É depor pra lá, depor pra cá, depor pracolá.  Pinta, então, a dúvida. Qual a regência do dissílabo? Eis a resposta: ele exige a preposição em: Amigos íntimos de Michel Temer depõem na Polícia Federal. Alguns já depuseram em CPIs. Ontem Maria depôs na delegacia.

Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 21 de agosto de 2021

À: PRONÚNCIA - E OUTRAS DICAS
 

À: pronúncia

Roberto Neves vive com dor de ouvido. Compra que compra remédio pra otite. Mas os medicamentos estão pela hora da morte. E o dinheiro encurtou. “O problema”, diz ele, “não é da alçada do otorrino. Pertence ao universo da prosódia. Muita gente pronuncia o à como se fossem dois aa (vou a a praia). Pode estar certo. Mas maltrata os tímpanos”.

São manhas da escola antiga. No ditado, os professores pronunciavam dois aa para os alunos se darem conta da crase. Era um truque. Virou vício. Corra dele.

Letra maiúscula: acentua-se?

A Laura é secretária de uma escola. Ela se preocupa com a grafia do nome das crianças. Observa acentos, esses e zês. “As certidões, diz ela, trazem o nome em letra maiúscula. Nem sempre devidamente acentuados. O que devo fazer?”

Em português, as maiúsculas não gozam de privilégios. Têm o mesmo tratamento das minúsculas. Devem ser acentuadas quando necessário (Ásia, Índia). Pressupõe-se que os cartórios saibam disso. Mas, se na certidão não aparecer o acento, respeite o registro. É lei.

Ele sobressai ou se sobressai?

Sobressair não é pronominal. Altivo, dispensa objeto. Reina sozinho, absoluto: O Ceará sobressai na educação. Bolssonaro sobressai nas pesquisas. Os povos da Mesopotâmia sobressaíram na escultura. O relator sobressaiu na discussão ao defender  prisão dos suspeitos.

Extorquir alguém? Nãoooooooooo!

Que susto! Deu na TV: “Fiscais extorquiram delegada”. É difícil. Extorquir não é lá coisa boa. Significa obter por violência, ameaças ou ardis. O verbo tem uma manha. Seu objeto direto tem de ser coisa. Nunca pessoa. Extorque-se alguma coisa. Não alguém: Fiscais extorquiram dinheiro de delegada. A polícia tentou extorquir o segredo. Extorquiram a fórmula ao cientista. 

Metade das laranjas apodreceu? Apodreceram?

Existem as expressões partitivas: parte de, uma porção de, o resto de, a metade de, a maioria de. Quando elas são seguidas de substantivo ou pronome no plural – e só assim – o verbo se esbalda. Pode ir para o singular. Ou plural:

• A maioria das faltas não existiu (o verbo concorda com maioria).

• A maioria das faltas não existiram (concorda com faltas).

. Metade das laranjas apodreceu (concorda com metade).

. Metade das laranjas apodreceram (concorda com laranjas).

. A maior parte da população reagiu bem. (Parte é singular. População é singular. Só o singular tem vez.)

Pode-se citar exemplos? Podem-se citar exemplos?

Eta construção que incomoda! Parece um calo no pé. É a passiva com se. Outro dia, o Correio Braziliense publicou esta frase: “Não se combate verdades com inverdades”. Combate ou combatem? A dúvida paira no ar.

Nas orações em que aparece o pronome apassivador se, facilmente se cometem erros. Para não entrar em fria, há um macete: construa a frase com o verbo ser. Se ele for para o plural, o verbo da frase com se também irá. Caso contrário, nada feito. A regra vale para as locuções verbais. No caso, o auxiliar é que se flexiona ou não:

Não se combatem verdades com inverdades. (Verdades não são combatidas com inverdades.)

Procuram-se datilógrafos. (Datilógrafos são procurados.)

Vende-se esta casa. (Esta casa é vendida.)

Podem-se citar  exemplos. (Exemplos podem ser citados.)

Pode-se citar um caso. (Um caso pode ser citado.)

Devem-se mencionar três episódios. (Três episódios devem ser mencionados.)

Deve-se mencionar o episódio principal. (O episódio principal deve ser mencionado.)

Rir: conjugação

Rir é gozador. Ri de nós. Em razão do ‘eu rio’, as pessoas pensam que ele é aleijão. Que teria falta de pessoas, tempos ou modos. Nada disso. O boa-vida é completinho da silva. Mas é irregular. Foge ao modelo da conjugação dele: eu rio, tu ris, ele ri, nós rimos, vós rides, eles riem; eu ri, ele riu, nós rimos, eles riram; que eu ria, você ria, nós riamos, eles riam; se eu rir, nós rirmos, eles rirem. E por aí vai. 

Maluf reouve a liberdade? Reaviu a liberdade?

Quem vê cara não vê formação. Reaver que o diga. À primeira vista, o verbinho tem pinta de derivado de ver. Mas é só à primeira vista. Porque os dois nunca se viram nem de longe.

Reaver é filhote de haver. Significa haver de novo, recobrar, recuperar: Maluf foi preso. Passados alguns meses, reouve a liberdade. A casa de Gilberto foi assaltada. Os ladrões levaram joias e dinheiro. A polícia os prendeu. Mas não conseguiu reaver os bens.

O verbo, de origem tão nobre, padece de grave enfermidade. É preguiçoso pra chuchu. Não se conjuga em todos os tempos e modos. Só dá as caras nas formas em que aparece o v de haver. No presente do indicativo, por exemplo, apenas o nós e o vós têm vez: reavemos, reaveis.

O indolente não tem presente do subjuntivo. Em compensação, exibe todas as formas do passado e futuro: reouve, reouvemos, reouveram; reavia, reavias, reavíamos; reaverei, reaverás; reaveria, reaveriam; reouver, reouveres, reouvermos; reouvesse, reouvéssemos. E por aí vai.

Não caia na tentação. Reavê, reaviu, reaveja não existem (seriam derivados de ver). Nem fazem falta. Recuperar ou recobrar estão aí pra quebrar o galho. Lembre-se: o inferno está pululando de insubstituíveis.


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 20 de agosto de 2021

NÓS OU ELE REDIGIRÁ O TEXTO? OU REDIGIREMOS? – É PROIBIDO ENTRADA? É PROIBIDA ENTRADA?

 

 

Nós ou ele redigirá o texto? Ou redigiremos?

A conjunção ou adora pregar peças em falantes desatentos. A pegadinha: o verbo vai para o singular ou o plural? A resposta: depende da ideia:

1. Se for de exclusão, o verbo fica no singularOu João ou Rafael será presidente do clube (só há uma vaga de presidente). Carla ou Maria se casará com Marcelo. Há apenas uma vaga na empresa. Tereza ou Marlene a preencherá.

2. Se for de inclusão (=e), o verbo vai para o pluralUm ou outro convidado saíram mais cedo da festa. Casamento ou divórcio são regulamentados por lei. Quem sairá mais tarde? O professor ou o secretário sairão depois do horário.

3. Se for retificação, o verbo concorda com o núcleo mais próximoOs autores ou o autor da melhor reportagem receberá o prêmio. O autor ou os autores da melhor reportagem receberão o prêmio. Ele ou nós redigiremos o requerimento. Nós ou ele redigirá o requerimento.

 

É proibido entrada? É proibida entrada?

“Há mais mistérios entre o céu e a Terra do que imagina nossa vã filosofia”, disse Shakespeare. Ele devia estar pensando na concordância do é bom, é proibido, é feio, énecessário, é preciso & cia. A danada tem manhas. O adjetivo pode ficar invariável ou flexionar-se. Depende do recado.

O imutável tem vez quando se deseja fazer referência de modo vago e geral. No caso, o sujeito não vem acompanhado de artigo: É necessário paciência. É proibido entrada. É perigoso mudanças. Água é bom. Não é necessário inspetoras na escola.

Quando o sujeito recebe determinação, cessa tudo que a musa antiga canta. A concordância entra na vala comum. Esta cerveja não é boa para a saúde. Aquelas pimentas são boas para a circulação. É necessária a paciência de Jó. É proibida a entrada.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 19 de agosto de 2021

CILADAS DA PRONÚNCIA: SUBSÍDIO E GRATUITO

 

 

Ciladas da pronúncia: subsídio e gratuito

 

Carla é linda. Morena, olhos azuis, peso de manequim, pernas longas e andar ondulante como as ondas do mar. Ela tem um sonho. Fazer televisão. Qualidades não lhe faltam. Submeteu-se a teste. Fotogênica, ultrapassou o primeiro obstáculo. Depois, veio a prova de locução. O texto era simples. Mas cheio de ciladas. Em duas ela caiu como sereia: A entrada é gratuita. O governo vai cortar o subsídio.

A bela pôs um baita acento no i de gratuito. E disse “subzídio”. Esqueceu-se de duas dicas pra lá de preciosas. Uma: gratuito pronuncia-se como circuito e fortuito. A outra: o s de subsídio soa igualzinho ao de subsolo.

Moral da opereta: Beleza nem sempre põe mesa.


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 20 de julho de 2021

SEM REDUNDÂNCIAS - COMEÇAR A PARTIR?

 

Sem redundâncias - Começar a partir?

Publicado em Geral

 

    “O prazo começa a contar a partir de 1º de janeiro”, diz a cláusula do contrato. Ao lê-la, Fernanda estranhou. Ela aprendeu na escola que “a partir” significa “a começar”. Os dois juntos são redundância. Formam um baita pleonasmo. Pertencem à indesejada equipe do elo de ligação, entrar pra dentro, manter a mesma. Manda o senso estético usar um ou outro: O prazo começa a contar em 1º de janeiro. O prazo conta a partir de 1º de janeiro.


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 19 de julho de 2021

SENÕES - SENÃO OU SE NÃO?

 

Os senões (resposta do teste) - Senão ou se não?

Publicado em Geral

    Senão ou se não? O som é o mesmo. Mas a grafia varia. Ora aparece em uma só palavra. Ora, em duas. Escolher entre uma e outra é uma baita dor de cabeça. Basta um cochilo pra que as bolas sejam trocadas.   Você tem dúvidas no emprego da duplinha? Antes de responder, faça o teste. Leia as frases com atenção plena. Assinale com V, de verdadeiro, as que estiverem certinhas da silva. E com F, de falso, as que não estiverem com nada. Depois, marque a seqüência nota mil:

( ) Se não chover, vamos viajar de carro.

( ) Senão chover, vamos viajar de carro.

( ) A empresa vai demitir quatro empregados, se não cinco.

( ) A empresa vai demitir quatro empregados, senão cinco.

( ) Há beleza sem senões, senão não haveria perfeição.  

a. V, F, V, F, F b. F, V, F, V, F c. V, F, V, F, V d. F, V, F, V, V e. V, V, V, V, F   E daí?   Marcou a letra a? Pra lá de certo. Você sabe se safar da confusão dos senões. Não é pouco. Parabéns. Preferiu outra letra? Acenda a luz amarela. Deixe a preguiça pra lá, arregace as mangas e ponha a mão na massa. Dê uma estudadinha no assunto. No fim, você terá uma certeza. O tema não é tão difícil quanto parece. Vamos lá.   Se não   Use o separadinho quando:   a. puder substituí-lo por caso nãoSe não chover (caso não), vamos viajar de carro. Levará falta se não (caso não) for à aula. A declaração deve dizer tudo. Se não (caso não), precisa ser revista.   b. equivaler a quando nãoPareciam amigos, se não (quando não) bons companheiros. O desafio é, se não (quando não) de solução impossível, pelo menos muito difíci. Se lhe convém, leva o trabalho a sério, se não (quando não), leva-o na brincadeira. A empresa vai demitir quatro empregados, se não (quando não) cinco.   c. for conjunção integrante. Aí, é moleza. Ninguém erra: O pai quer saber se não é melhor o filho estudar de manhã. O governador perguntou se não era possível adiar a votação do projeto. Ele se questionou se não era preferível viajar de carro.   Senão   Use o coladinho nos demais casos: Nada lhe restava senão (a não ser) a aposentadoria. O deputado não é senão (mais do que) um representante do povo. Não fazia nada senão (a não ser) chorar. Isto não compete à Câmara Legislativa, senão (mas) ao governador. Não há beleza sem senão (defeito).     Teste   Qual das duas frases está pra lá de certa?   Talvez tenha tirado cinco, se não quatro.       b. Talvez tenha tirado cinco, senão quatro.   A resposta? É a letra b.


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 18 de julho de 2021

MAU CARÁTER - PLURAL

 

Mau caráter - Plural

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  Se contassem, ninguém acreditaria. Mas as imagens falam alto. Diante delas, não há desmentidos. Soldados do Exército e voluntários do estado furtavam donativos destinados às vítimas de Santa Catarina. Cruz-credo! São maus caracteres e tanto, não? 


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 17 de julho de 2021

FLUIDO E FLUÍDO

 

Fluido e fluído

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O Bom-dia, Brasil de hoje prestava belo serviço aos motoristas. Mostrava a necessidade de revisão do carro antes de pegar a estrada. Pneus, freios, combustível, tudo mereceu alertas. A certa altura, o repórter disse:

— Atenção para alguns tipos de fluídos.

Assim mesmo. Pôs um baita acento no i. Viu? Trocou as bolas. Flu-í-do, com acento, é particípio do verbo fluir. Flui-do, sem lenço nem documento, é líquido ou gás. Pode ser substantivo ou adjetivo: A água e os gases são fluidos. Comprei fluido para  freios. Tem o estilo fluido.


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 16 de julho de 2021

MESÓCLISE

 

Mesóclise - Maitê embarcou na canoa do Tancredo

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“Se os rapazes empreendessem a caça, faria-lhes bem ao instinto”, escreveu Maitê Proença em O Globo de quinta-feira. Ops! Leitores se assustaram. Depois, lembraram-se de Tancredo Neves. “Não confio em ninguém que saiba usar a mesóclise”, repetia ele. A frase oculta as manhas e artimanhas do político mineiro. Com ela, o quase-presidente deu o recado: não é mole colocar o pronome no meio do verbo. Maitê serve de prova.

Manuais de redação de jornais consideram a forma rebuscada. Aconselham os repórteres a deixá-la pra lá. Os professores de cursinho concordam. Na ânsia de garantir pontinhos nos testes, sugerem aos alunos: “Não a usem. Fugindo dela, vocês correm menos riscos”. A meninada nem questiona. Resultado: a mesóclise virou praga. Não se ensina como empregá-la, mas como evitá-la.

Volta e meia, porém, pintam situações em que ela se impõe. Aí, o castigo vem a galope. A indesejada vira fantasma. Uhhhhhhhh! O que fazer? Só há uma saída. Não bancar o avestruz. Correr atrás dos mistérios do bicho-papão. A descoberta: o diabo não é tão feio quanto o apresentam.

Pra dar e vender

O português é generoso. Tem três jeitos de colocar o pronome átono. Um: antes do verbo (próclise). Outro: depois do verbo (ênclise). O último: no meio do verbo (mesóclise). As gramáticas ditam regras e regras sobre o emprego de cada um. É um deus-nos-acuda. Todas combinam com a pronúncia lusitana. A língua falada e a linguagem informal tupiniquins se rebelaram diante da opressão. Mandaram as normas pras cucuias.

Oswald de Andrade explica: “Dê-me um cigarro / Diz a gramática / Do professor e do aluno / E do mulato sabido / Mas o bom negro e o bom branco / Da Nação Brasileira / Diz em todos os dias / Deixa disso, camarada, / Me dá um cigarro”.

O brado de liberdade não vale para a norma culta. Em memorandos, ofícios, relatórios, redações de concursos, editoriais de jornais, a ordem é uma só: obedecer aos ditames sem tugir nem mugir. Os rebeldes pagam caro. Uns levam bronca do chefe. Outros perdem pontos em provas. Outros, ainda, dão a promoção de mão beijada pro outro. Aí, adeus, dinheirinho a mais.

O fantasma

Voltemos à mesóclise. O pronome átono (o, a, lhe, se, nos, vos) só tem vez no meio do verbo em dois tempos. Um: o futuro do presente (cantarei). O outro: o futuro do pretérito (cantaria). Nos demais, nem pensar! A forma é pra lá de simples. Quer ver?

Comunicarei ao presidente a decisão dos servidores.

O objetivo é substituir o objeto indireto (ao presidente) pelo pronome átono (lhe). Há três passos a seguir:

1. pôr o verbo no infinitivo: comunicar
2. acrescentar o pronome: comunicar-lhe
3. juntar o pedacinho cortado (desinência): comunicar-lhe-ei

Mais um exemplo:

Obedeceríamos ao regulamento se o conhecêssemos.

A fórmula: verbo no infinitivo + pronome + desinência = obedecer-lhe-íamos.

A mesóclise não admite discriminações. Como ocorre na ênclise, os verbos terminados em r, s e z perdem a letrinha final quando seguidos do pronome o ou a, que viram lo ou la: Convenceremos o presidente a receber os servidores (convencê-lo-emos) .

Os diferentes

Atenção, distraídos. Os verbos dizer, fazer e trazer gostam de ser diferentes. Fazem os futuros assim — direi, diria; farei, faria, trarei, traria. A mesóclise, com eles, exige dupla atenção. A trapaceira não se forma do infinitivo. Mas do radical dir, far e trar:

Darão o recado ao professor. Dá-lo-ão ao professor. Dar-lhe-ão o recado.

Fará o pedido ao ministro. Fá-lo-á ao ministro. Far-lhe-á o pedido.

Traremos em mão o documento ao diretor. Trá-lo-emos em mão ao diretor.

Trar-lhe-emos o documento em mão.

Tudo bem

Você chegou até aqui. Desvendou os mistérios da mesóclise. Mas não se convenceu. Concorda com Tancredo, os manuais de redação e os professores de cursinho? Tem todo o direito. Você pode muito bem viver sem tantos hifens. Basta anteceder o futuro de uma palavra que atraia o pronome: Entregá-lo-emos em mão. Nós o entregaremos em mão.

Cuiiiiiiiiidado. É proibido — proibido mesmo — colocar o pronome depois do futuro como fez Maitê Proença. “Faria-lhes bem?” Cruz-credo! Nem com autorização do Senhor! “Far-lhes-ia bem” é a forma abençoada pela norma culta.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 15 de julho de 2021

NATAL É NASCIMENTO

 

Natal é nascimento

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    A palavra natal nasceu do latim. E formou uma família muito grande. Todos os membros do clã, próximos ou distantes, têm a ver com o significado original: nascimento.

    Eis exemplos: terra natal, cidade natal (onde ocorreu o nascimento); taxa de natalidade (percentagem de nascimento de uma comunidade em determinado período); aniversário natalício (o dia do nascimento); natividade (nascimento, em especial o de Cristo e dos santos).


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 14 de julho de 2021

LETRA H - CALADINHA

 

Caladinha - Letra H

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O h é letra muda. Não fala. Mas confunde. É o caso de hora e ora. Hora
tem relação com relógio e horário: São duas horas. Não tenho hora de almoço.

No sentido de agora, até o momento, o ora pede vez: Por ora, nada posso fazer. O futuro de Marta Suplicy, por ora, está incerto. Maria, que ora faz quimioterapia, está otimista.


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 13 de julho de 2021

JERUSALÉM - GENTÍLICO PRA LÁ DE ESPECIAL

 

Pra lá de especial - Gentílico ce Jerusalém

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Quem nasce na Palestina é palestino. Quem nasce em Israel, israelense. E quem nasce em Jerusalém? A cidade é sagrada para três religiões monoteístas. O catolicismo tem ali o Santo Sepulcro. O judaísmo, o Muro das Lamentações. O islamismo, a Mesquita Al-Aqsa. Ops! E o adjetivo gentílico de quem veio ao mundo em lugar tão especial? Há três. Um deles: hierosolimita. Outro: hierosolimitano. O último: jerosolimita. Ufa!


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 12 de julho de 2021

AUTODEFESA? AUTO-DEFESA?

 

O ovo e a galinha

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“Ele começou primeiro”, diz Israel. “Nós começamos porque Israel não cumpriu o trato de acabar com bloqueio que nos deixa sem comida, bebida, remédios”, diz o Hamas. No diz-que-diz-que,  uma palavra ganhou destaque no discurso israelense. É autodefesa. Ao escrevê-la, pintou a dúvida. Com hífen? Sem hífen? O tracinho, vale repetir, é castigo de Deus. Empregá-lo dá nó até nos miolos do Senhor.

A reforma ortográfica deixou montões de dúvidas na cabeça dos brasileiros. Mas o auto- tem regras claras. Ele joga no time da atração e rejeição. Letras diferentes se atraem. Escrevem-se coladinhas. Letras iguais se rejeitam. Grafam-se com hífen: auto-obrigação, auto-ofensa, auto-ônibus, auto-oscilação, autodefesa, autoinflamamção, autorrevista, autossacada.

 


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 11 de julho de 2021

CARTAZES ASSASSINANDO O VERBO

 

Unanimidade nacional

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Não é Antarctica. Mas virou unanimidade nacional. Aparece de norte a

sul desta alegre Pindorama. Faixas, cartazes, classificados anunciam sem

cerimônia. É “vende-se apartamentos” pra cá, “conserta-se roupas” pra lá, “aluga-se carros”, “conserta-se sapatos”, “prega-se botões” pra todos os lados.

De tanto ver as pérolas, o olhar se acostuma. A crítica relaxa. Todos têm a

impressão de que a forma merece nota dez. Mas é pura ilusão. Ocorre, no caso, o contrário do que ocorria com a mulher de César. Não bastava a poderosa ser honesta. Ela tinha que parecer honesta. Aos anúncios não basta parecerem corretos. Têm que ser corretos. 

Mãos dadas

Na frase como na vida, manda quem pode. Obedece quem tem juízo. O verbo faz as vezes de vassalo. Concorda em pessoa e número com o sujeito. Por isso, flexiona-se segundo o mandachuva: eu trabalho, ele trabalha, nós trabalhamos, eles trabalham. 

Há sujeitos e sujeitos. Uns, trabalhadores, praticam a ação expressa

pelo verbo. Assumem. São agentes da ação:

Paulo escreveu a carta.

Quem escreveu? Paulo. O sujeito pratica a ação. O verbo está na voz ativa. 

Ah preguiiiiiiiiiiiiiiiiiça

Há sujeitos preguiçosos. Não querem nada com nada. Só moleza. Passivos,

sofrem a ação:

A carta foi escrita por Paulo.

Que é que foi escrita? A carta. O sujeito não pratica a ação. Mas mantém a

majestade. Continua sujeito. O verbo está na voz passiva. 

Caminhos

Existem dois jeitos de formar a voz passiva. Uma, com o verbo ser:

Os bebês foram trocados.

Quem é que foi trocado? Os bebês, sujeito. Essa concordância ninguém erra. 

Outra, com o pronome se. Aí, Deus nos acuda. E nos livre. “Os bebês foram trocados” é o mesmo que “trocaram-se os bebês”. Numa e noutra, o sujeito é bebês. O verbo tem de concordar com ele. 

Mais exemplos

Vendem-se apartamentos. (Que é que é vendido? Apartamentos, sujeito.)

Compram-se joias. (Que é que é comprado? Joias, sujeito.)

Alugam-se carros. (Que é que é alugado? Carros, sujeito.)

Troca-se esta casa. (Que é que é trocado? Esta casa, sujeito.) 

Desatentos

Os descuidados tropeçam a toda hora na concordância da passiva com se. Sabe por quê? Acham que o sujeito tem que ser ativo. Esquecem-se de que as aparências enganam. 

Dica:singular ou plural? Na dúvida, construa a frase com o verbo ser. Vende-se ou vendem-se apartamentos? Apartamentos são vendidos. Numa e noutra,

apartamentos é o sujeito. A regra não muda. Sujeito no plural, verbo no plural. Logo, vendem-se apartamentos. 

Mais troca-trocas

Alugam-se carros. Carros são alugados.

Forram-se botões. Botões são forrados.

Cometem-se erros. Erros são cometidos.

Lê-se o jornal. O jornal é lido. 

Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Substituir o se pelo ser também não. Encha-se de malícia. Não entre no time dos ingênuos. Com a passiva, o sujeito é aquele mesmo. Embora não pareça. 

Desafio

Topa fazer um teste? O desafio: assinalar a frase nota dez. A recompensa: se acertar, presenteie-se com um bombom. Se não, releia a lição. Depois, saboreie dois bombons:

a. Na feira, vendem-se frutas baratas. b. Na feira, vende-se frutas baratas.

Recorreu à dica infalível? No troca-troca, você ficou com “na feira, frutas baratas são vendidas”. Então, marcou a letra a. Bom proveito. 


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 10 de julho de 2021

PALAVRAS E EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM

 

Xô, confusão

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    Há palavras e expressões que confundem. Parecidas, parecem iguais. Mas não são. Valem os exemplos de caso e acaso ou de despender e dispender. Você sabe empregá-las conforme manda o figurino? Para responder com 100% de acerto, faça o teste. Leia as frases com atenção. Depois, assinale as que merecem nota mil:
   

    a. Se acaso você chegar a tempo, grave o capítulo de Maysa.
    b. Se caso você chegar a tempo, grave o capítulo de Maysa.
    c. Eu tinha despendido muito dinheiro nas compras de Natal quando chegou o convite para a viagem.
    d. Eu tinha dispendido muito dinheiro nas compras de Natal quando chegou o convite para a viagem.
    e. Caso despenda muito dinheiro nas férias, dificilmente você poderá fazer a viagem conosco.

   

   E daí?

   Marcou as letras a, c, e? Pra lá de certo. Você sabe distinguir alhos de bugalhos. Siga em frente. Preferiu outras letras? Nada feito. Respire fundo, arregace as mangas e ponha mãos à obra.

Caso e acaso
   

    Acaso e caso têm um ponto em comum. Indicam condição. E têm um ponto diferente. É o emprego. Acaso exige a conjunção se. Caso dispensa-a. Compare:    Se acaso você chegar a tempo, grave o programa da Maysa. Caso você chegue a tempo, grave o programa da Maysa. Se acaso você quiser fazer o vestibular da UnB, terá de se inscrever até o dia 24. Caso você queira fazer o vestibular da UnB, terá de se inscrever até o dia 24.

Despender e dispender
   

     Despender é fazer despesas. Daí o e. Dispender não existe. Nasceu de uma baita confusão. Por quê? Há palavras da família de despender que se escrevem com i. É o caso de dispêndio e dispendioso. Abra o olho! Com elas, todo o cuidado é pouco.

Teste


    Entendeu? Então escolha a frase certinha da silva:
    a. Se acaso você despender muita energia, estará cansado na festa de logo mais à noite.
    b. Se caso você dispender muita energia, estará cansado na festa de logo mais à noite.

A resposta? É a a, claro.


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 09 de julho de 2021

BEM-VINDO

 

Bem-vindo

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    O verbo vir é um calo no pé. Estudantes morrem de medo dele. Concursandos são fregueses certos do monossílabo malandro. Em todas as provas, ele aparece. Em todas elas, a moçada tropeça. As trombadas ocorrem em duas frentes. A primeira refere-se à conjugação do danadinho. A segunda, à grafia.
  Você joga no time dos calejados? Antes de responder, faça o teste. Se as frases abaixo estiverem do jeitinho que o professor ensina, assinale-as. Se tropeçarem no caminho, deixe-as pra lá.
  a. Vimos aqui, neste momento, para apresentar nossa solidariedade.
b. Eles vêm mais cedo para trabalhar melhor.
c. Maria fará as provas quando vir de São Paulo.
E daí?
Marcou as letras a e b? Nota mil. Tenha a certeza de que o verbo vir não pegará você pelo pé. Preferiu outra letra? Nada feito. Você faz a confusão que todos fazem. Mistura ver e vir. O resultado é um só. Perde preciosos pontinhos no vestibular e nos concursos. É hora de reagir. Conhecendo os mistérios do vir, ninguém segura você.

  Filho de peixe
  Os verbos têm pai e mãe. Vir não foge à regra. Para conjugá-lo conforme o figurino, é importante decorar o presente e o pretérito perfeito do indicativo. Os tempos e modos que metem você em enrascadas são filhotes dos dois. Vamos a eles:

presente: eu venho, ele vem, nós vimos, eles vêm
pretérito perfeito: eu vim, ele veio, nós viemos, eles vieram.
  Armadilhas
  Preste atenção sobretudo ao nós e ao eles. São essas pessoas que armam as maiores ciladas. Lembre-se:

Vimos é presente. Viemos, passado.
Vem é singular. Vêm, plural. 
 
Eis a questão
Quando eu vier de São Paulo? Quando eu vir de São Paulo? Eis a grande questão. Para respondê-la, só há uma saída. Lembre-se de que o futuro do subjuntivo é filhote do pretérito perfeito do indicativo. Sai da 3ª pessoa do plural menos o -am final:
Pretérito perfeito: eu vim, ele veio, nós viemos, eles vier(am)
Futuro do subjuntivo: quando eu vier, ele vier, nós viermos, eles vierem.
  Moleza, não? Quem conhece esse truque não tropeça em questões malandras.
 
Os concorrentes
  Muita gente confunde ver com vir. A razão é simples: na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo, os dois se parecem:
vir: eles vêm
ver: eles veem
Como não se atrapalhar com eles? Existe um macete. Na dúvida, dê uma espiadinha na 3ª pessoa do singular. Se ela terminar com e e tiver acento, não duvide. Na 3ª pessoa do plural, dobre o e:
ele vê — ­ eles veem
ele lê –­ eles leem
ele crê –­ eles creem
  Compare:
ele vem –­ eles vêm
ele tem –­ eles têm
  Irmãozinho
As 3ªs pessoas do verbo vir têm irmãozinhos. São as 3ªs pessoas do verbo ter. Compare:

ele tem –­ eles têm
ele vem ­– eles vêm
Teste
  Está pra lá de certa a frase:

a. Logo que eu vir da reunião, faço o trabalho.
b. Logo que eu vier da reunião, faço o trabalho.
  A resposta? A b, claro.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 08 de julho de 2021

BOM-DIA - JAMIR PERGUNTA

 

Bom-dia - Jamir pergunta

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Bom-dia perdeu o hífen? Com essa reforma, não sei mais nada. Tenha um bom dia.

 

Jamir, o cumprimento bom-dia continua bom-dia. A reforma não se meteu com ele.


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 07 de julho de 2021

PÁRA-QUEDAS OU PARAQUEDAS? -

 

Solange pergunta - Pára-quedas ou paraquedas?

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Socorro! É verdade que o velho e amigo pára-quedas virou paraquedas?

Os ilustres membros da Academia Brasileira de Letras consideraram que o falante se esqueceu da formação de para-quedas (para, do verbo parar + quedas). Decidiram pela grafia paraquedas. Mas os irmãozinhos do guarda-chuva protetor mantêm o hífen. Perdem, claro, o acento diferencial: para-raios, para-choque, para-brisa.


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 05 de julho de 2021

DE ESSES E ZÊS

 

De esses e zês

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Letra é uma coisa. Fonema, outra. As letras compõem o alfabeto. No português, são 26. Todos as sabem de cor e salteado: a, b, c. d, e, f, g, h…z.

Os fonemas são os sons. Uma letra pode ter vários sons. É o caso do s. Às vezes, ele soa como ss. Quando? Em duas oportunidades. Uma: quando inicia a palavra (sala, selo, Suécia). A outra: quando está entre uma vogal e uma consoante (pulso, curso, manso).

Outras vezes, ele soa z. Para fazer as vezes da última letra do alfabeto, o s precisa estar entre duas vogais: casa, pesquisa, atraso.

Verbos baderneiros

Entendidos nas manhas dos esses e zês, alguns verbos tramam confusão. Querer, pôr, fazer, dizer e trazer são os grandes baderneiros. Em certas formas, soa o fonema z. Mas ora o danadinho se escreve com a letra s. Ora, com a z. Por quê?

A resposta está no infinitivo. Olho nele. No nome do verbo aparece a letra z? Então não duvide. Sempre que o fonema z soar, dê vez ao lanterninha do alfabeto:

Fazer — fazes, faz, fazem, fazem, fiz, fizeste, fizeram, fizesse

Dizer — diz, dizemos, dizem

Trazer — traz, trazemos, trazem

Outra gangue

Em querer e pôr, a história muda de enredo. Sem no infinitivo, o z não tem vez com eles. Logo, quando soar o z, escreva s. Você acertará sempre:

Querer — quis, quiseste, quisemos, quiser, quiseram, quisera, quiséramos, quiséssemos

Pôr — pus, puseste, pôs, pusemos, puseram, puser, pusesse, puséssemos

Conclusão

Desvendados os mistérios dos infinitivos com z ou com s, fica uma certeza. O diabo não é tão feio quanto o pintam.


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 04 de julho de 2021

VERBO FAZER: HUMBERTO QUER SABER

 

Verbo fazer: Humberto Seabra quer saber

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Aprendi na escola que o verbo fazer é impessoal ao designar contagem de tempo. Daí se dizer: Faz dez anos que trabalho aqui. Faz dois meses que voltei de viagem. Faz pouco que cheguei.

Mas acho estranho quando ouço os repórteres da previsão do tempo dizerem: “Faz 15° em Gramado, fez 40º no Rio, vai fazer 10° de madrugada”. O singular está certo?

Certíssimo da silva, Humberto. Fazer fica invariável quando designa tempo ou fenômeno da natureza: Ontem fez cinco anos que moro em CaxiasEm Brasília, faz dias ensolarados na primavera. E, à noite, faz 15°.


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 03 de julho de 2021

COM NÓS OU CONOSCO?

 

Com nós ou conosco?

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    Carlos Alberto está se preparando para concurso. Como a disputa é séria, o rapaz faz cursinho e estuda três horas em casa todos os dias. O ponto fraco dele é português. Por isso dedica à matéria atenção especial. Outro dia, estava revisando os pronomes pessoais. Viu escrita a duplina “com nós”. Achou esquisito. Na dúvida, mandou um e-mail pra coluna. Eis a pergunta:
  — Com nós existe?
  Você sabe responder à questão do Carlos Alberto? Não se precipite. Antes de se aventurar no sim ou não, faça o teste. Leia as frases com cuidado. Depois, marque as corretas. As erradas ficam pra lá:
 
a. Os livros ficarão com nós.
b. Os livros ficarão com nós mesmos.
c. Os livros ficarão com nós todos.
d. Os livros ficarão conosco.
 
E daí?
Escolheu as letras bc e d? Viva! Acertou em cheio. Você conhece os mistérios do pronome nós. Preferiu outra opção? Nada feito. Você é uma das tantas pessoas que se sentem inseguras no assunto. Pra mandar a dúvida pras cucuias, só há uma saída: arregaçar as mangas e dar uma estudadinha no tema. Vamos lá?

 
O colado
  Quando o pronome nós se encontra com a preposição com, não dá outra. É amor à primeira vista. Eles se casam imediatamente. Viram conosco: As crianças saíram conosco. Conosco ninguém pode. Alguém tem coragem de ficar conosco aqui à noite? 


O separado
O com nós só tem vez numa situação: quando estiver acompanhado de palavras reforçadoras. É o caso de mesmo, todo, próprio. Quer exemplos? Ei-los: Os livros ficarão com nós mesmos. Os livros ficarão com nós dois. Queremos estar de bem com nós mesmos. Saiu com nós todos sem reclamar.
  Deu pra entender? O com nós só aparece acompanhado. Sem companhia, dê passagem ao coladinho. É a vez do conosco.
  Teste
  Qual das frases merece nota mil?

a. Fale com nós.
b. Fale com nós mesmos.
 
A resposta? É a b, claro.


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 02 de julho de 2021

REELEIÇÃO OU RE-ELEIÇÃO?

 

Reeleição ou re-eleição?

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Maria Marta tem lido em jornais a palavra: re-eleição. Assim, com hífen. Encucada, escreveu a blog: “Nas regras gramaticais que tenho sobre o Acordo Ortográfico, não há referências ao prefixo re-. E daí? Devo escrever reeleito, reeditar, reemendar ou re-eleito, re-editar, re-emendar?

É verdade, Marta. A reforma não se refere ao prefixo re-. O pequenino entra na lista das muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiitas dúvidas que o assunto suscita. O jeito? É aguardar o pronunciamento da Academia Brasileira de Letras. A ABL promete publicar o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa em fevereiro ou março. Enquanto isso, manda o bom senso não avançar sinais. Continuemos a tratar o monossílabo como sempre tratamos: reeleição, reemendar, reeditar.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 01 de julho de 2021

SER: VERBO DE CINTURA FLEXÍVEL

 

Ser: Verbo de cintura flexível

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O verbo ser só tem três letras. Mas dá um senhor trabalho. A razão: é a criatura de cintura mais flexível da língua. Na concordância, nunca toma posição firme. Ora concorda com o sujeito. Ora com o predicativo:

Tudo é flores. Tudo são flores.

Qual a forma certinha da silva? Ambas. Com o ser é assim. Quase sempre as duas construções estão corretas. Há poucos casos em que ele só aceita uma forma. Um deles: a indicação de horas. Você o domina plenamente? Para ter certeza, faça o teste. Leia as frases com atenção. Assinale as que exibirem a concordância pra lá de certa:

a. São três horas. b. É quase três horas, mas Maria não apareceu. c. Seria cerca de cinco horas quando ele chegou. d. Daqui a Porto Alegre são mais ou menos três horas de vôo. e. Já é uma hora?   Marcou as letras a, d, e? Pra lá de bom. A concordância do ser não pega você pelo pé. Preferiu outras letras? Cuidado. Você precisa dar uma estudadinha para se garantir no vestibular, no concurso e na vida. Respire fundo e mãos à obra.

São três horas.

Na indicação de horas, o ser é inflexível. Só concorda com o predicativo. Se o número de horas for até um, o verbo vai para o singular. Se for mais de um, para o plural: É uma hora. É uma hora e meia. É meio-dia. É meio-dia e meia. É meia-noite e meia. Daqui a Manaus são três horas de viagem. São cerca de três horas.

Às vezes, o número vem antecedido por palavras ou expressões que indicam aproximação ­ — cerca, quase, mais ou menos, aproximadamente. Não se confunda. O verbo continua o mesmo. Concorda com o número: É quase uma hora e meia.
Daqui a Manaus são cerca de três horas de viagem. Seriam cerca de cinco horas quando ele chegou. São quase três horas e Maria não apareceu. Quando ele chegar, terão se passado mais ou menos seis horas.  Teste

Merece nota mil a concordância: a. Quando a prova acabar, terão transcorrido mais ou menos quatro horas. b. Quando a prova acabar, terá transcorrido mais ou menos quatro horas.


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 30 de junho de 2021

A MEU VER? AO MEU VER?

 

A meu ver? Ao meu ver?

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    Ao falar ou escrever, costumamos frisar nossa opinião. Algumas pessoas dizem “a meu ver”. Outras, “ao meu ver”. De tanto ouvir as duas formas, acabamos confusos. Ambas são corretas? Ou só uma? Se só uma, qual? Você sabe responder à pergunta? Faça o teste. Leia as frases com cuidado e assinale as que estiverem certinhas da silva:   a. A meu ver, o Brasil vai crescer 2% este ano. b. Ao meu ver, o Brasil vai crescer 2% este ano. c. Fez o trabalho a meu pedido. d. Fez o trabalho ao meu pedido.

 

E daí?

Escolheu a a e a c? Acertou. O artigo indesejado não pega você pelo pé. Preferiu outra letra? Bobeou. Leia a liçãozinha a seguir para descobrir por quê.   Sem vez

A discussão surgiu no cursinho para concursos. Os colegas comentavam a prova de redação. Opiniões não faltavam. Uns acharam que os textos dados não tinham nenhuma relação com o tema. Por isso só atrapalharam. Outros discordavam. Consideraram-nos muito úteis.

— Ao meu ver, disse um, o problema era saber desenvolver o tema.

— Ao meu ver?, estranharam alguns. Não mesmo. A forma é a meu ver.

A discussão pegou fogo. A turma se dividiu. Fez uma aposta. Quem perdesse pagaria o lanche. Onde buscar a resposta? Foram todos ao dicionário. Lá estava, escancarado no AurélioA meu ver, Pedro não tem razão.

Na hora da dolorosa, ouviram-se gemidos. Pudera. O bolso é a parte mais sensível do corpo. Como dói!   Invejosos

Outras expressões seguem a receita do ‘a meu ver’. Formadas por pronome possessivo, mandam o artigo plantar batata na esquina. É o caso de a meu pedido, a meu modo, a meu bel-prazerFez o trabalho a meu pedido. Segui o roteiro a meu gosto.

Abra o olho! A pessoa pode mudar. Volta e meia, o eu dá passagem a outros pronomes. Mas o artigo continua sem vez: Viajou a seu pedido. Cada um leva a vida a seu modo. A seu ver, nada pode ser feito.

Teste Está pra lá de certa a frase: a. A seu ver, Paulo poderia ter tirado nota mais alta no vestibular. b. Ao seu ver, Paulo poderia ter tirado nota mais alta no vestibular.

A resposta? É a a, claro.  


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 29 de junho de 2021

TER DE E TER QUE - TANTO FAZ

 

Tanto faz - Ter de e ter que

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    Temos de nos confraternizar ou temos que nos confraternizar? Tanto faz. No português moderno, ter de e ter que dão o mesmo recado. Você escolhe.


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 28 de junho de 2021

DICAS SOBRE A REFORMA ORTOGRÁFICA

 

Dica sobre a reforma ortográfica

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    A reforma ortográfica cassou o acento do hiato êem. Ele aparecia nos verbos ler, ver, crer dar e derivados (ele lê, eles lêem; ele vê, eles vêem; ele crê, eles crêem; ele dê, eles dêem; ele relê, eles relêem; ele descrê, eles descrêem). Agora, sem o chapéu, o leem, veem, creem, deem, releem, descreem pedem passagem. Entrem. Banda de música e tapete vermelho os esperam.

Olho vivo! Nada de confusões. Os verbos ter, vir e derivados não têm nada com a mudança. Continuam como dantes no quartel de Abrantes: ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele retém, eles retêm. 


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 27 de junho de 2021

MERCOSUL - PRONÚNCIA

 

Mercosul - Pronúncia

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    Fábio Pina escreve: “É o seguinte: escreve-se Mercosul, mas prununcia-se Mercossul. Está correto? A letra s entre duas vogais tem som de z (mesa, pesquisa, camisa). E daí?

Fábio, você tem razão. Mas o hábito do cachimbo faz a boca torta. O Mercosul engloba o Brasil e vizinhos da América do Sul. Exceto nós, todos falam espanhol. Na língua de Cervantes, não existe o som z. Eles dizem MercoSSul por que não sabem dizer de outro jeito. Nós, solidários, fomos atrás.


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 26 de junho de 2021

BEM-VINDO

 

Bem-vindo

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Regência é calo no pé. Dá trabalho que só. Nalguns casos, só existe um remédio: pedir socorro ao dicionário de regimes. O paizão ensina que o verbo chegar exige a preposição A. Quem chega chega A algum lugar: Você chega à cidade em duas horas. Aonde você quer chegar? Ninguém sabe aonde a crise vai  chegar.


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 25 de junho de 2021

PONTO-E-VÍRGULA: O CASADINHO SOFISTICADO

 

Ponto-e-vírgula: O casadinho sofisticado

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Passeie os olhos por jornais e revistas. Raramente você verá o ponto-e-vírgula. A razão é simples. Poucos sabem empregá-lo. O casadinho é pra lá de sofisticado. A gente pode viver sem ele. Mas, com ele, ganha mais um recurso para enriquecer o texto.

Você tem coragem de empregá-lo? Teste seu conhecimento. Se as frases abaixo estiverem pra lá de certas, escreva V, de verdadeiro, nos parênteses. Se o deixarem vermelho de vergonha, castigue-as com um F, de falso. Depois, marque a seqüência nota 10:

( ) Estudo inglês; e, também, francês. ( ) Feche a janela; porque está ventando muito. ( ) Beatriz trabalha no MEC; Júnia, no Itamaraty. ( ) Maria e Paula estudam na UnB. Esta cursa Letras; aquela, Direito.

a. V, V, F, F b. F, F, V, V c. V, V, V, F d. F, F, F, V

Marcou a letra b? Pra lá de certo. Você conhece as manhas do ponto-e-vírgula. Use-o sempre que puder. Exibi-lo pega bem à beça.

Optou por outra letra? Cuidado. Sinal vermelho. Mas não se desespere. Você tem saída. Deixe a preguiça pra lá e estude o assunto. O resultado será um só. O casadinho tem dois empregos. Nenhum deles é bicho-de-sete-cabeças. Quer ver?

Primeiro emprego

O ponto-e-vírgula separa os itens de uma enumeração:

São funções do Banco Central: a. emitir moeda; b. fiscalizar o Sistema Financeiro Nacional; c. controlar o crédito e o capital estrangeiros; d. representar o governo brasileiro perante governos estrangeiros.

Segundo emprego

O casadinho separa vírgulas concorrentes:

Lembra-se daquela lei da física? Dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo. No período ela quase se aplica. Quer ver? Leia a frase:

João estuda francês, Pedro estuda inglês, Paulo estuda alemão, Juca estuda russo, Bia estuda árabe, Consuelo estuda espanhol. A frase está correta. Mas tem um senão. Repete muito o ®MDUL¯estuda. O que fazer? Usar o verbo na primeira oração e, depois, substituí-lo por vírgula: João estuda francês, Pedro, inglês, Paulo, alemão, Juca, russo, Bia, árabe, Consuelo, espanhol. João estuda francês, Pedro, inglês, Paulo, alemão, Juca, russo, Bia, árabe, Consuelo, espanhol.

Pior a emenda que o soneto, verdade? O período ficou confuso. Misturou dois bicudos. Um, a vírgula que separa as orações (aquela que estava presente no primeiro exemplo). O outro, a que substitui o verbo (aparece na segunda frase).

O que fazer? Ser chique. Fazer o que a maioria das pessoas não sabe. Usar o ponto-e-vírgula em lugar da vírgula que separa orações. Assim você acabará com a rivalidade das vírgulas concorrentes.

João estuda francês; Pedro, inglês; Paulo, alemão; Juca, russo: Bia, árabe; Consuelo, espanhol.

Mais exemplos:

João estuda no Rio; Pedro, em São Paulo (João estuda no Rio, Pedro (estuda) em São Paulo). Pedro terminou a pesquisa ontem; Mauro, anteontem. Beatriz trabalha no MEC; Gilda, no Itamaraty. É isso. Se houver vírgulas empregadas por razões diferentes no mesmo período, é confusão certa. Separe a oração por ponto-e-vírgula.

Teste

O ponto-e-vírgula enche a gente de orgulho na opção:

a. Paulo estuda francês na UnB; Maria, no UniCeub. b. Paulo estuda francês na UnB, Maria; no Uniceub.

A resposta? É a a, claro.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 24 de junho de 2021

SI E CONSIGO

 

Si e consigo

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O pronome si tem manhas. Ora aparece sozinho. Ora, acompanhado de preposição. Empregá-lo às vezes dá nó nos miolos. Sabe por quê? Muitos não sabem lidar com ele. É o seu caso? Antes de responder, faça o teste. Leia as frases com cuidado e assinale as que merecem nota dez:   a. Presidente, posso entrar? Preciso falar consigo. b. Dizem que louco é quem fala consigo mesmo. c. Separou-se da mulher e levou consigo tudo que lhe pertencia. d. Você trouxe alguma coisa consigo da praia?   E daí?

Escolheu b, c, d? Ótimo. Preferiu outra letra? Abra os olhos e arregace as mangas. Você precisa dar uma estudadinha no assunto. Comece agora.   Sozinho De cara lavada, sem enfeites ou acompanhantes, o si não apresenta problemas. Todo mundo acerta: Olhou para si e gostou do que viu. Falou de si mesmo durante mais de duas horasGosta de si mais que de todo mundo.   Acompanhado Quando acompanhado da preposição com, o si assume a forma consigo. Aí, todo o cuidado é pouco. Envaidecido, ele fica elitista. Só aceita ser empregado em função reflexiva. Complicado? Nem tanto.

É reflexivo o verbo cujo sujeito e objeto direto são os mesmos. Examine a frase:

Paulo feriu-se.

Quem feriu? O sujeito, Paulo. Quem foi ferido? O mesmo Paulo. Então, Paulo pratica e também sofre a ação de ferir. Ele fere e é ferido. Por isso o verbo, nessa oração, é reflexivo.   Voltando ao consigo. Ele é exclusivamente reflexivo. Só o use em relação ao próprio sujeito: O desvairado falava consigo mesmo. O fotógrafo não levou nada consigo. Levou consigo tudo que lhe pertencia.  É isso. Falar de si deixa a todos de bem consigo mesmos.


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 23 de junho de 2021

SERVIR AO? SERVIR O? SERVIR NO? - FABRÍCIO NEVES PERGUNTA

 

Fabrício Neves pergunta - Servir ao? Servir o? Servir no?

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Qual é a frase correta?

 
Ele serviu ao exército.
Ele serviu o exército.
Ele serviu no exército.
 
 
No sentido de prestar serviço militar, servir exige a preposição em: servir no Exército, servir na Aeronáutica, servir na Marinha.

 


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 22 de junho de 2021

LHE OU A? - ATENÇÃO PLENA

 

Lhe ou a? - Atenção plena

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  Todos tropeçam. Ninguém sabe ao certo quando é vez do lhe ou do o. Por isso, com esses pronomezinhos, todo o cuidado é pouco.
  Lhe, o ou a? Depende do verbo. Ele pede objeto direto ou indireto? Lhe é objeto indireto. O, objeto direto masculino. A, objeto direto feminino.
  Você sabe descobrir o time do verbo? Antes de responder, teste seu conhecimento. Se as frases abaixo estiverem pra lá de certas, escreva V, de verdadeiro, nos parênteses. Se o deixarem vermelho de vergonha, castigue-as com um F, de falso. Depois, marque a seqüência nota dez:
  ( ) Entreguei o relatório ao diretor. Ele o leu com atenção.
( ) Obedeço-lhe porque você é meu chefe.
( ) Eu o vi ontem, mas ele não me viu.
( ) Não lhe cumprimentei porque não lhe vi.
  a. V, V, F, V
b. V, F, F, V
c. V, V, V, F
d. F, F, V, V
  E daí?   Marcou a letra c? Pra lá de certo. Você é cobra em regência verbal. Por isso não se aperta na hora de empregar o lhe, o o ou o a. Siga em frente. Preferiu outra letra? Cuidado. Acenda o sinal amarelo. Mas não se desespere. Arregace as mangas e estude o assunto. A conclusão só pode ser uma: o diabo é menos feio do que o pintam.
  Macete
  Lhe funciona como objeto indireto. Serve de complemento de um verbo transitivo indireto. O e a têm a função de objeto direto. Completam o sentido de um verbo transitivo direto. Como descobrir o time do verbo? É fácil. Basta aplicar o macete. Veja como a coisa funciona:

  Paulo estuda a lição.
  Quem estuda estuda alguma coisa. Entre o ‘estuda’ e o ‘alguma coisa’ (a lição), não aparece preposição. Decifrada a charada. O verbo é transitivo direto. A lição, o objeto direto.
  Troca-troca
  Substituindo o objeto direto pelo pronome, não há saída. Temos que recorrer ao pronome que funciona como objeto direto feminino (a): Paulo a estuda. Paulo estuda-a.
  Mais exemplos:
  O diretor lê o livro.

Quem lê lê alguma coisa. O quê? O livro (objeto direto): O diretor o lê.
  A cartilha pode ajudar você a se defender.
Quem ajuda ajuda alguém. Quem? Você, objeto direto. Logo, a cartilha pode ajudá-lo. Ou ajudá-la.
  Objeto indireto
  Observe, agora, o caso do objeto indireto:
  Obedeço a meu chefe imediato.
Quem obedece obedece a alguém. Entre o verbo (obedece) e o complemento (chefe) existe a preposição a. O verbo é, pois, transitivo indireto. Chefe é o objeto indireto: Obedeço-lhe.
  Outros exemplos
  Dei o prêmio ao candidato premiado.
  Quem dá dá alguma coisa (objeto direto) a alguém (objeto indireto).
  Substituindo o objeto direto: Dei-o ao candidato premiado.
Substituindo o objeto indireto: Dei-lhe o livro.
  Regionalismo
  O Nordeste tem uma manha. Transforma verbos transitivos diretos em indiretos. É o caso de ver. Quem vê vê alguém ou alguma coisa:   Eu vi você. Eu o vi. Eu a vi.

  Maria viu Paula. Maria a viu.
Cumprimentar também é transitivo direto. Quem cumprimenta cumprimenta alguém:
Cumprimentei Marcelo. Cumprimentei-o.
  Cumprimentei nossos amigos. cumprimentei-os.

E amar? Namorar? Paquerar? Abraçar e beijar? São todos transitivos diretos: Maria namora Luís (namora-o). Maria ama Roberto (ama-o). Eu paquero Zezé (o paquero). Maria beija Luís (o beija).
  Teste
  Merece nota mil a frase:

  a. Eu lhe cumprimentei, mas ele não ouviu.
b. Eu a cumprimentei, mas ela não ouviu.®MDUL¯

A resposta? A b, concorda?


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 21 de junho de 2021

ORTOGRAFIA - TRÊS PERGUNTAS

 

Ortografia - Três perguntas

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    1. “Por que gasolina se escreve com s? Bem que a gente poderia grafá-la com z. O som seria o mesmo, não?”, pergunta Kleber Assis, de Campina Grande.
O som seria o mesmo. Mas onde fica a família? Gasolina pertence a respeitável clã. Filha de gás, mantém o s como os irmãos, tios, primos e sobrinhos: gasoso, gaseificado, gasômetro, gasista.

  2. “Caju tem acento?”, quer saber Leilane Cavalcanti, de Camaquã.
  Dá uma vontade danada de por um grampinho no u, não dá? Pois não faça isso. As oxítonas terminadas em u, seguidas ou não de qualquer consoante, têm alergia a acentos. Elas adoram a cabeça livre e solta: cajus, urubu, Aracaju, maracatu, Raul, atum, bumbum, capuz, cuscuz.

  3. “Estudo na 5ª série. O professor ensinou uma lição que me deixou estarrecido. É verdade que os pontos cardeais se escrevem com a inicial maiúscula?”, indaga
Karlos Rosberg, de Floripa.
  Por que a surpresa? Os pontos cardeais são nomes próprios. Grafam-se com a primeira letra grandona: Norte, Sul, Leste, Oeste.
  Atenção, muita atenção. Não confunda alhos com bugalhos. Direção é vira-lata. Indique-a com a inicial mixuruca: Atravessou o Brasil de norte a sul, de leste a oeste. Com a construção de Brasília, desbravou-se o oeste brasileiro. A bússola aponta sempre para o norte.


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 20 de junho de 2021

RISCO DE VIDA? RISCO DE MORTE?

 

Carlos Alberto Mendes da Silva pergunta

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    Antes se dizia que alguém “corre risco de vida”. Agora, sem mais nem menos, passou-se a dizer “risco de morte”. Qual a forma correta?

Carlos, risco é perigo. Com o acidente, a gente corre perigo de morrer. Não de viver. Daí o risco de morte.

 


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 19 de junho de 2021

CHAVÕES PARA DAR E VENDER

 

Chavões pra dar e vender

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  Chavão tem sinônimos. Um é lugar-comum. Outro, clichê. Alguns dizem ladainha.
Também vale estribilho. Às vezes falatório. Ou bordão. FHC ressuscitou o
nhenhenhém. O povo dá-lhe um nome: propaganda eleitoral. Ou discurso de
político.
  Na origem, chavão é chave grande. Também molde de metal. Serve para imprimir
figuras e adornos nos bolos e massas. Ou para marcar gado. Tem a ver com
repetição. Num sentido mais amplo, é o que se faz, se diz ou se escreve por
costume. Do mesmo jeitinho. Sem esforço. Como tirado de um molde.
  “Meu nome é Eneas” vale de exemplo. O grito, na primeira campanha,
surpreendeu. Depois, esgotou-se. De tão batido, perdeu a novidade e o frescor. Soava coisa velha.
  Os chavões banalizam o texto. Afugentam o leitor. Dão-lhe a impressão de autor preguiçoso, incapaz de surpreender. Nem por isso a lista dos ditos-cujos diminui. Ao contrário. Cresce tanto que pode ser apresentada em ordem alfabética. Olho nela.
  A: a cada dia que passa; a duras penas; a olho nu; a olhos vistos; a ordem é se divertir; à saciedade; a sete chaves; a todo vapor; a toque de caixa; abertura da contagem; abrir com chave de ouro; acertar os ponteiros; agarrar-se à certeza de; agradar a gregos e troianos; alto e bom som; alimentar a esperança; antes de mais nada; ao apagar das luzes; aparar as arestas; apertar os cintos; arregaçar as mangas; ataque fulminante; atear fogo às vestes; atingir em cheio; atirar farpas.
  ***
  B: baixar a guarda; barril de pólvora; bater em retirada.
  ***
  C: cair como uma bomba; cair como uma luva; caixinha de surpresas; caloroso abraço; campanha orquestrada; cantar vitória; cardápio da reunião; carta branca; chover no molhado; chumbo grosso; colocar um ponto final; comédia de erros; como manda a tradição; como se sabe; como já é conhecido; como todos sabem; comprar briga; conjugar esforços; corações e mentes; coroar-se de êxito; correr por fora; cortina de fumaça.
  ***
  D: defenestrado; de quebra; de mão beijada; deitar raízes; deixar a desejar; debelar as chamas; depois de longo e tenebroso inverno; desbaratar a quadrilha; detonar um processo; do Oiapoque ao Chuí; dispensa apresentação; divisor de águas.
  ***
  E: erro gritante; em função de; efeito dominó; em compasso de espera; em polvorosa; em ponto de bala; em sã consciência; em última análise; eminência parda; empanar o brilho; encostar contra a parede; esgoto a céu aberto; estar no páreo.
  ***
  F: faca de dois gumes; familiares inconsoláveis; fazer as pazes com a vitória; fazer das tripas coração; fazer uma colocação; fazer vistas grossas; fez por merecer; fonte inesgotável; fugir da raia.
  ***
  G: gerar polêmica.
  ***
  H: hora da verdade.
  ***
  I: importância vital; inflação galopante; inserido no contexto; insustentável leveza do ser.
  ***
J: jogo de vida ou morte.
  ***
  L: lavar a alma; leque de opções; levar à barra dos tribunais; líder carismático; literalmente tomado; lugar ao sol; luz no fim do túnel.
  ***
  M: menina-dos-olhos; morto prematuramente.
  ***
  N: na ordem do dia; no fundo do poço.
  ***
  O: óbvio ululante; ovelha-negra, obscuro objeto do desejo.
  ***
  P: página virada; parece que foi ontem; passar em brancas nuvens; pelo andar da carruagem; perder o bonde da história; perder um ponto precioso; perdidamente apaixonado; perfeita sintonia; petição de miséria; poder de fogo; pôr a casa em ordem; prendas domésticas; preencher uma lacuna; procurar chifre em cabeça de cavalo; propriamente dito; quebrar o protocolo.
  ***
  R: requinte de crueldade; respirar aliviado; reta final; rota de colisão; ruído ensurdecedor.
  ***
  S: sair de mãos abanando; sagrar-se campeão; saraivada de golpes; sentir na pele; separar o joio do trigo; sério candidato; ser o azarão; sorriso amarelo. ***
T: tecer comentários; ter boas razões para; tirar do bolso do colete; tirar o cavalo da chuva; tiro de misericórdia; trair-se pela emoção; trazer à tona; trocar farpas.
  ***
  V: via de regra; via de fato; voltar à estaca zero.
  Há mais. Você se lembra de algums? De qualquer forma, na hora de escrever, dê vez ao bom gosto. Mande os lugares-comuns bater à porta dos mesmeiros.


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 18 de junho de 2021

ACENTUAÇÃO DE DITONGOS - GABRIEL ABREU QUER SABER

 

Acentuaçãso de ditongos - Gabriel Abreu quer saber

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    “Tenho uma dúvida sobre a reforma ortográfica. Trata-se dos ditongos. Que ditongos perderam o acento?”   Abra os olhos, Gabriel. Só os ditongos abertos ei oi perderam o grampinho. Mas ele se foi nas paroxítonas. As oxítonas e os monossílabos tônicos continuam como dantes no quartel de Abrantes. Compare: ideia, assembleia, geleia, joia, boia, apoia, heroico. Mas: papeis, coronéis, herói, constrói, lençóis, dói.   Moleza, não?


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 17 de junho de 2021

É PLEONASMO?

 

É pleonasmo?

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Querid

 

Lucinha, atenta observadora da língua, escreve: “Tenho horror a pelonasmos,especialmente qunado são ditos por gente da mídia.  
`Incêndio provocado propositalmente´ é ou não um pleonasmo? 
E `sorrir com os lábios´ entra no time das redudndãncias? Pode-se sorrir com os olhos…não sei.”

Há incêndios provocados por explosões, por curtos-circuitos, por vazamento de gás. Etc. Etc. Etc. Nem um deles é necessariamente provocado propositalmente.

Sorrir com os lábios é pleonasmo clássico. Quando não é com os lábios, apela-se para o sentido figurado: com os olhos, com o corpo, com o coração. Aí, vale tudo.


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 16 de junho de 2021

HAJA VISTA? HAJA VISTO?

Haja vista? Haja visto?

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Haja visto ou haja vista? Quando usar uma ou outra expressão?

Haja visto é o pretérito perfeito composto do subjuntivo do verbo ver (não se assuste com o palavrão). Esse tempo se forma com o presente do subjuntivo dos verbos haver ou ter + o particípio do verbo que se quer conjugar (no caso, ver): que eu haja (tenha) visto, que ele haja (tenha) visto, que nós hajamos (tenhamos) visto, que eles hajam (tenham) visto.

Eis exemplos: Embora haja visto tantos crimes na vida, ainda me choca a banalidade com que são encarados nas grandes cidades. Não creio que Maria haja visto o filme.

E haja vistaVista significa olhos. Haja vista quer dizer “se oferece à vista, aos olhos”. Equivale a veja: Maria estava preparada para o concurso, haja vista as notas que obteve. Paulo é rico, haja vista os gastos da última eleição. Nossos problemas são muitos, haja vista as dificuldades por que passamos.  

 


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 15 de junho de 2021

O GRAMA, A GRAMA

 

 

O grama, a grama

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    Grama é vocábulo masculino ou feminino? Pode ser uma coisa ou outra. Você vai se referir à unidade de peso? Diga o grama: dois gramas de penicilina, vinte e um gramas de ouro, duzentos gramas de presunto.
   

    Para não esquecer: grama e quilograma são da mesma família. E do mesmo sexo: um quilo (quilograma) de presunto, duzentos quilos de farinha.
   

    E a palavra feminina? É a relva que cobre o gramado: Depois das chuvas, a grama fica verde. Está na hora de cortar a grama.


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 14 de junho de 2021

A ALFACE

 

A alface

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  Alface é palavra feminina. Assumida, não aceita outro gênero: A alface acalma.
  

 Você não gosta dos dois aa? Adote a saída: o pé de alface.


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 13 de junho de 2021

OLHA O HIFEN, GENTE!

 

Olha o hífen, gente!

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Viu? O Kleber sabe das coisas. Mesmo com a reforma ortográfica, não se descuida do do hífen. O pós é sempre, sempre mesmo, seguido do tracinho: pós-graduação, pós-cirurgia, pós-encontro.


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 12 de junho de 2021

MAIÚSCULAS OU MINÚSCULAS?

 

Maiúscula ou minúscula?

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          Medida provisória, lei, decreto, portaria, ordem de serviço — inicial maiúscula ou minúscula? Depende. Quando se especifica o número ou o nome, vira nome próprio. Letra maiúscula: Lei nº 1.512, de 21.1.94; Medida Provisória 452; Decreto 9.134; Lei Afonso Arinos, Lei Antitruste.           
 
Na segunda referência ou na ausência de número, letra minúscula: A Medida Provisória nº 542, de 30.6.94, criou o real. Depois de sucessivas reedições, a medida provisória foi transformada na Lei 9.069, de 30.6.95.         
 
Artigos, parágrafos e incisos são coisas menores. Letra minúscula sempre. 

Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 11 de junho de 2021

EM PRINCÚPIO? A PRINCÍPIO?

 

 

Em princípio? A princípio?

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Parecido não é igual. Mas confunde. Com o substantivo princípio, a preposição faz a diferença.

Em princípio significa antes de mais nada, antes de qualquer consideração, teoricamente, em tese, de modo geral: Em princípio, toda mudança é benéfica. Estamos, em princípio, abertos a todas as novidades tecnológicas.

A princípio quer dizer no começo, inicialmente: A princípio o Brasil era o favorito das apostas. Depois, deixou de sê-lo. Toda conquista é, a princípio, muito excitante. Com o tempo, pode mudar de figura.


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 09 de junho de 2021

DE MEIAS E MEIOS

 

De meias e meios

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Meio-dia e meia? Meio-dia e meio? Criança meio adoentada? Criança meia adoentada? A dúvida tem diagnóstico. É a confusão entre adjetivo e advérbio. Adjetivo é variável. Advérbio, invariável. Como identificar um e outro?

Avalie seu domínio do assunto. Faça o teste. Leia as frases com muiiiiiiita atenção. Analise-as. Depois, assinale com V, de verdadeiro, se o enunciado merecer nota mil. E F, de falso, se o danado não estiver com nada.

( ) Meia verdade é meia mentira. Depende do ponto de vista. ( ) Maria anda meia chateada com as notas baixas da filha. ( ) Adoro minha meia-irmã. ( ) Dona Marisa Letícia anda meia desaparecida da mídia. ( ) Saiu de casa ao meio-dia e meia.

a. V, V, V, V, V b. V, F, V, F, V c. F, V, F, V, F d. V, V, V, V, F e. F, V, V, V, F

Marcou a letra b? Certíssimo da silva. Você sabe distinguir gato de lebre. A disputa adjetivo x advérbio não pegará você pelo pé no vestibular. Mas, se você preferiu outra letra, a história muda de enredo. Arregace as mangas e dê uma estudadinha no assunto. No fim, você ficará com uma certeza: o bicho não é tão feio quanto o pintam.

Muda de cara

Adjetivo ou advérbio? O adjetivo é mutável. Tem feminino, masculino, singular e plural. Subordinado ao substantivo, concorda com o chefão em gênero e número: menino alto, meninos altos; menina alta, meninas altas.

O adjetivo meio não goza de privilégios. Também acompanha o substantivo sem tossir nem mugir. Se o nome estiver no masculino singular, ele se flexiona no masculino singular (meio quilo). Se no masculino plural, o subalterno não pensa duas vezes. Vai pro masculino plural (meios quilos).

Se no feminino, a história se repete. Substantivo no singular leva o verbo pro singular. Substantivo no plural arrasta o verbo para o plural: meia verdade, meias verdades; duas dúzias e meia (dúzia).

Não muda de cara

O advérbio joga em outro time. Para ele não existe gênero nem número. No caso, meio acompanha o adjetivo. Quando aparece, quer dizer um tanto, mais ou menos: Maria anda meio (um tanto) chateada com as notas baixas da filha. Dona Marisa anda meio (um tanto) desaparecida da mídia. Deixe as portas meio (mais ou menos) abertas.

Macete Na dúvida, pare e pense. Na frase, meio quer dizer metade ou um tanto? Se metade, é adjetivo. Dança conforme a música do substantivo. Se um tanto, é advérbio. Mantém-se imutável ­ indiferente ao feminino, masculino, singular ou plural:

A senadora saiu ao meio-dia e meio? Ou ao meio-dia e meia? Ela se retirou ao meio-dia e meia (hora), não? Então ela se foi ao meio-dia e meia.

Teste

Está pra lá de certa a frase: a. A professora falou meia aborrecida. b. A professora falou meio aborrecida.

A resposta? É a b, claro.


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 08 de junho de 2021

SAIBA O PORQUÊ DOS PORQUÊS

 

Saiba o porquê dos porquês

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Estudantes, jornalistas, advogados, todos querem saber por que o porquê tem tantas caras. Ora aparece junto. Ora, separado. Ora com acento. Ora sem o chapeuzinho. Não há quem não hesite na hora de escrever uma forma ou outra. Muitos chutam. Mas, como a língua não é loteria, a Lei de Murphy entra em vigor. O que pode dar errado dá. Melhor não correr riscos. Aprendidas as manhas da caprichosa criatura, empregar uma ou outra torna-se fácil como andar pra frente. Quer ver? Use:

Por que

1. nas perguntas: Por que os professores estimulam a leitura? Por que a evasão escolar é alta no Brasil?

2. nos enunciados em que é substituível por “a razão pela qual”: É bom saber por que (a razão pela qual) os professores estimulam a leitura. Explique por que (a razão pela qual) a evasão escolar é alta no Brasil.

Por quê

A dupla com chapéu só tem vez quando o quezinho for a última – a última mesmo – palavra da frase. Por quê? Ele é átono. No fim do enunciado, torna-se tônico. O acento lhe dá a força: Os professores estimulam a leitura por quê? A evasão escolar continua alta, mas poucos sabem por quê. Que tal descobrir por quê?

Porque

Com essa cara, juntinho, sem lenço nem documento, porque é conjunção causal ou explicativa: Os professores estimulam a leitura porque bons textos enriquecem o vocabulário. A evasão escolar é alta porque muitas crianças trabalham em vez de ir à aula.

Porquê Assim, coladinho e com chapéu, o porquê torna-se substantivo. Para mudar de classe, precisa da companhia do artigo ou de pronome: Explicou o porquê da evasão escolar. Certos porquês quebram a cabeça da gente. Esse porquê se inspira em outro porquê.

Resumo da ópera: não há por que temer os porquês. Quem entendeu a lição sabe por quê.


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 07 de junho de 2021

PERDA X PERCA

 

Perda X perca

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    Parecido não é igual. Mas dá nó nos miolos. Veja o caso de perda e perca. Uma letra faz a diferença. Perda é substantivo (perda de confiança, perda de crédito, perda da eleição, perda de poder aquisitivo). Perca é a primeira pessoa do singular do presente do subjuntivo do verbo perder: Talvez ela perca o emprego quando a empresa apresentar o balanço.


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 06 de junho de 2021

TAXER PODE SER TACHAR?

 

Taxar pode ser tachar?

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    As palavras são enganosas. Às vezes parecem o que não são. É o caso de intempestivo. O vocábulo não tem nada que ver com temperamental. Refere-se a tempo, prazo. Os advogados o usam a torto e a direito. Volta e meia, lá está a declaração: “O recurso foi apresentado de forma intempestiva” (fora do prazo).   Outras vezes, são o que parecem não ser. Vale o exemplo de taxar. Seu significado vai além de tributar. Atrevido, o verbo avança no território do tachar. Aí, quer dizer avaliar, julgar, qualificar: Taxou a apresentação de perfeita. Taxou-o de ignorante.   Uma vez perguntaram ao velho professor Aires da Mata Machado Fº o porquê da ousadia. Ele ensinou: “O nó da questão está na etimologia e na semântica dos vocábulos. Taxar é regular o preço de alguma coisa. Daí avaliar, julgar. Assim, examinando o procedimento de alguém, posso taxá-lo de exemplar ou de incorreto. Mas não ficaria bem dizer que alguém tachou de exemplar seu procedimento.   Tachar vem de ‘tachar´, que quer dizer mancha, defeito. Explica-se, pois, a mistura de águas nas vertentes semânticas dos dois vocábulos. É erro dizer tachar de bom um trabalho. Mas tanto se pode dizer taxar de bom como taxar de mau. Ambos os verbos significam, ao cabo de contas, o resultado de um julgamento”.   Mas há um porém. A língua é como a mulher de César. A poderosa senhora, dizia-se em Roma, não só tinha de ser honesta. Precisava parecer honesta. A palavra não só tem de ser correta. Tem de parecer correta. É senso comum considerar taxar o ato de cobrar taxa. E tachar, avaliar, considerar. Assim: O diretor tachou o auxiliar de preguiçoso. O governo taxa pesadamente o contribuinte.   Vamos combinar? No dia a dia, siga a maioria. Em provas, vestibular e concurso, faça valer seus direitos. Se você perder pontos ao usar taxar como o dicionário abona, recorra. Com uma certeza – o que é seu ninguém tasca.   


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 04 de junho de 2021

VERBO MASCARADO

 

Verbo mascarado

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  Rafael, do Guará, escreve: “Li no jornal que `o presidente adiou a decisão pra depois´. Fiquei encucado. O `adiar pra depois´ soou como o subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, sair pra fora. Estou certo? Trata-se de pleonasmo?
  Palmas pra você, Rafael. Adiar é verbo pra lá de mascarado. Ao menor descuido, a gente deixa-se enganar. Não caia na dele. Pode-se trocar uma data por outra. Mas só se adia o evento propriamente dito. A razão é simples. Não se mudam as datas de lugar no calendário. Adia-se a festa. Não se adia a data da festa. Adia-se o tratamento. Nunca a data do tratamento. Mais: prazos podem ser ampliados ou encurtados. Nunca adiados.

 


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 03 de junho de 2021

IMPRESSO OU IMPRIMIDO?

 

Impresso ou umprimido?

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Henrique Flores, de Imperatriz, pergunta: “Impresso ou imprimido? Nunca sei quando usar um ou outro. Pode me dar uma luz?”

Imprimir é verbo generoso. Tem dois particípios. Um é regular (imprimido). Outro, irregular (impresso). O emprego de um ou outro depende da companhia. Com os auxiliares ser e estar, é a vez de impresso: O livro foi (está) impresso. Com ter e haver, imprimido: Ele já tinha (havia) imprimido o cartaz quando descobriu o erro.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 03 de junho de 2021

OLHO NO ADIAR

 

Olho no adiar

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Rafael Silva, do Guará, pergunta: “Li no jornal que “o presidente adiou a decisão pra depois”. Fiquei encucado. O “adiar pra depois” soou como o subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, sair pra fora. Estou certo? Trata-se de pleonasmo?”

 

Palmas pra você, Rafael. Adiar é verbo pra lá de mascarado. Ao menor descuido, a gente deixa-se enganar. Não caia na dele. Pode-se trocar uma data por outra. Mas só se adia o evento propriamente dito. A razão é simples. Não se mudam as datas de lugar no calendário. Adia-se a festa. Não se adia a data da festa. Adia-se o tratamento. Nunca a data do tratamento. Mais: prazos podem ser ampliados ou encurtados. Nunca adiados.


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 02 de junho de 2021

EU PRESENTEIO. E VOCÊ?

 

Eu presenteio. E você?

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Domingo é Dia Internacional da Mulher. Um verbo é pra lá de conjugado. Trata-se de presentear. Ele joga no time de cear, que, por sua vez, se flexiona do mesmo jeitinho de passear. A família -ear tem uma marca. O presente do indicativo e o presente do subjuntivo são perdulários. Têm uma letra a mais. É o i. Mas o nós e o vós não entram na gastança. Ficam com as outras pessoas dos outros tempos. Não querem saber da vogal excedente.

Veja:

Presente do indicativo: eu passeio (presenteio, ceio), tu passeias (presenteias, ceias), ele passeia (presenteia, ceia), nós passeamos (presenteamos, ceamos), vós passeais (presenteais, ceais), eles passeiam (presenteiam, ceiam)

Presente do subjuntivo: que eu passeie (presenteie, ceie), que tu passeies (presenteies, ceies), que ele passeie (presenteie, ceie), que nós passeemos (presenteemos, ceemos), que vós passeeis (presenteeis, ceeis), que eles passeiem (presenteiem, ceiem)

É isso. Antigamente eu presenteava e era presenteada. No ano passado, eu presenteei e fui presenteada. Hoje eu presenteio e sou presenteada. E você?

 


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 02 de junho de 2021

O SUFIXO ISAR NÃO EXISTE

 

O sufixo isar não existe

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Os professores repetem e repetem. O sufixo -isar não existe. Mal eles falam, a meninada se lembra de paralisar, analisar, pesquisar. As quatro letrinhas lá estão, firmes e fortes. Também se lembram de civilizar, organizar, catequizar & cia. Como explicar a aparente contradição? É simples. A chave da resposta se encontra no nome que dá origem ao verbo.  

Vale o exemplo de analisar. Ele é derivado de análise. Ora, se análise tem s no radical, nada mais justo que ele se mantenha no verbo. É o caso de bis (bisar), catálise (catalisar), pesquisa (pesquisar), análise (analisar), liso (alisar), improviso (improvisar). Reparou? O is faz parte da palavra primitiva. O verbo se formou com o acréscimo do ar. Palmas pro professor. Isar não existe.    

A família das ilustres criaturas rezam pela mesma cartilha: análise, analisar, analisado, analisador; paralisia, paralisar, paralisante, paralisado, paralisação; pesquisa, pesquisar, pesquisador, pesquisado; catálise, catalisador, catalisante, catalisado; impriviso, improvisar, improvisação, improvisado, improvisador. E por aí vai.

Como explicar a presença do -izar em  amenizar, capitalizar, humanizar e simbolizar etc. e tal? Os coitados não têm o s onde o ar possa se agarrar. Precisam de uma ponte. Construíram o iz, que se mantém nos derivados: ameno (amenizar, amenização), capital (capitalizar, capitalização, capitalizado), humano (humanizar, humanização, desumanizado), canal (canalizar, canalizado, canalizante).  

Alguns são privilegiados. Têm o z no radical. Nada mais justo que respeitar a família. É o caso de cicatriz (cicatrizar, cicatrização), deslize (deslizar), juízo (ajuizar, ajuizado), cicatriz (cicatrizar, cicatrização), raiz (enraizar, enraizado).  

Moral da história: o emprego de isar e izar é questão de família.

 


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 01 de junho de 2021

MOÇADA, OLHO NO PLURAL

 

Moçada, olho no plural

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A regra é fácil como andar pra frente. Mas dá nó nos miolos de estudantes e de profissionais com quilômetros rodados. Trata-se de distinguir o singular e o plural de verbos pra lá de conhecidos. Dois deles jogam na mesma equipe. São ter e vir. Vale lembrar que eles têm família. Filhos, irmãos, tios e primos das pequeninas criaturas contribuem para a confusão. A origem do tumulto reside na pronúncia.

 

Que tal desatar os nós? Comecemos pelo faladíssimo ter. Marque a forma certíssima da silva:

ele tem, eles têmele tem, eles teemele tem, eles têem  

E daí?

E daí? Marcou a letra a ? Viva! Ele tem. Eles têm. Singular e plural soam do mesmo jeitinho. Mas a escrita diferencia os dois números. Brinda o plural com chapéu pra lá de charmoso e, por isso, não admite que o acessório passe despercebido. Exige que olhemos pra ele e o mantenhamos no lugar. Assim: Um dos assaltantes tem ficha limpa. Os demais têm passagem pela polícia.

Filhotes

Manter, conter, deter, reter & cia. são filhotes de ter. Eles têm algo mais que o paizão. Ao ganhar sílabas, deixam o time dos monossílabos. Obedecem, então, à regra de acentuação gráfica da nova turma. No caso, as oxítonas. No singular, exibem grampinho pra lá de vistoso. Tu manténs, ele mantém; tu conténs, ele contém; tu deténs, ele detém; tu reténs, ele retém se juntam a armazém, armazéns, amém, améns, porém, parabéns. Olho vivo! O plural não muda (mantêm, contêm, detêm, retêm).

Vir

Vir segue modelo idêntico ao ter (ele vem, eles vêm). Os derivados também percorrem a trilha tintim por tintim. É o caso de convir, provir, advir. Vale o exemplo de intervir: Tu invervéns nos negócios da tua família. Maria intervém nos da família dela. João e Rafael intervêm nos deles e nos da família. Queiram ou não, todos intervêm nos assuntos de uns e outros. Valha-nos, Deus!  


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 31 de maio de 2021

SUICIDAR-SE

 

Suicidar-se

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Cristiane Melo escreve: “Está correto dizer que alguém se suicidou? Acho exagerado! Tenho a impressão de que o sui- já dá a idéia de se, si mesmo. Nesse caso ficaria: alguém se matou a si mesmo? No Houaiss eletrônico, para minha surpresa, só existe suicidar-se, o que me deixou ainda mais confusa. Estou errada?”

Pois é, Cristiane. A língua tem razões que a própria razão desconhece. Suicidar-se é sempre pronominal. Talvez porque tenhamos memória e fraca e esquecemos a etimologia da palavra. Assim, conjuguemos o verbinho como manda o dicionário: eu me suicido, ele se suicida, nós nos suicidamos, eles se suicidam.


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 30 de maio de 2021

JURO OU JUROS? TANTO FAZ

 

Tanto faz: juro ou juros

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O Banco Central baixou o juro ou os juros? Tanto faz: O juro no Brasil continua alto. Os juros no Brasil continuam altos.  


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 29 de maio de 2021

XEROX OU CÓPIA?

 

Xerox ou cópia?

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    Ricardo Ramos escreve: “Vou tirar xerox do documento? Vou tirar cópia do documento? Gostaria de saber qual a forma certa”.

Ricardo, xerox entrou no time de gilete, bombril & cia. Gilete significa lâmina de barbear. Bombril, esponja de aço. Xerox, cópia.


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 27 de maio de 2021

ASSISTIR: VALE POR DOIS

 

Vale por dois

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  Há verbos que adoram pregar peças. Um deles é assistir. O danadinho tem uma cara e dois significados. Quem não sabe disso passa apertos. Diz uma coisa. Mas quer dizer outra. Acontece com ele mais ou menos o que aconteceu com o patrão e o empregado. Conhece a história?

O patrão pede ao empregado: — ­ Me dá um cigarro? Dali a pouco: — ­ Me dá um cigarro? Mais uns minutinhos: — ­ Me dá um cigarro? O empregado, vendo a carteira se esvaziar, olha firme para o filador e diz: — ­ O senhor está fumando muito. O cara de pau despreocupa o empregado: — ­ Eu fumo, mas não trago. — ­ Pois devia trazer.   História parecida

Com o assistir também ocorre confusão de significados. Você é freguês do verbo traiçoeiro? Na dúvida, faça o teste. Leia as frases com cuidado. Depois, assinale as que merecerem nota mil:

a. Assisti à sessão das sete. b. O governo assiste com remédios e alimentos aos flagelados das chuvas. c. Mais de um milhão de paulistanos assistiram ao jogo do Corinthians pela tevê.

E daí?

Marcou as letras a e c? Pra lá de certo. Com você, o verbo assistir não arma ciladas. Preferiu outra opção? Xô, bobeira! Você misturou alhos com bugalhos. Quer ver?

Nas opções a e cassistir tem o sentido de presenciar, estar presente. Aí, é transitivo indireto. Exige a preposição a. Veja outros exemplos: Assisti à reestreia de Ronaldinho. Você vai assistir ao show? Eu vou assistir ao show de Xitãozinho e Xororó.

Na frase b, o verbinho mostra a outra cara. Sem preposição, é transitivo direto. Quer dizer prestar assistência: O governo assiste (presta assistência) com remédio e alimentos os flagelados das chuvas. A escola tem obrigação de assistir (prestar assistência) os alunos com dificuldade de aprendizagem. A associação assiste (presta assistência) famílias de desempregados.

Resumindo:

assistir a = presenciar, estar presente assistir = prestar assistência

Teste   A regência do verbo assistir merece nota mil na frase: a. Lula não vai assistir o jogo do Ronaldinho. b. Lula não vai assistir ao jogo do Ronaldinho.

A resposta? É a b, claro.  


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 27 de maio de 2021

PASSOU OU PASSARAM? REGRA GERAL

 

Regra geral

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José Geraldo Leal pergunta: “Quatro anos já se passou? Quatro anos já se passaram? Qual a redação correta?”

 

José, quatro anos é o sujeito. Sujeito plural exige verbo no plural. Assim: Quatro anos já se passaram.


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 26 de maio de 2021

CRASE POUSO CONHECIDA

 

Crase pouco conhecida

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Aparece crase antes do pronome que? A gente está careca de saber. Crase é o encontro de dois aa. Os casaizinhos são sempre dois: a preposição a com o artigo a (vou à cidade) ou com o a dos pronomes demonstrativos aquela, aquele, aquilo (referiu-se àquilo que todos temiam). Ora, Como não se usa a antes de que, a crase tem que procurar outra freguesia. Certo?

Quase certo. Crase é realmente a fusão de dois aa. Só que os casaizinhos são três. Além dos citados, velhos conhecidos de Deus e do mundo, há outro caso de amor: o da preposição a com o pronome demonstrativo a. Aí, o acentinho grave tem vez.

Você sabe identificar esse namorico? Faça o teste. Se a frase estiver do jeitinho que o professor gosta, escreva V, de verdadeiro. Caso contrário, não tenha pena. Brinde-a com um baita F, de falso. Depois, marque a seqüência nota dez:

( ) Sua proposta é anterior à que chegou ontem. ( ) Registrei uma sugestão posterior à que você deu. ( ) Há denúncias anteriores às que ele referiu. ( ) Não gostei da pessoa à que você se dirigiu.

a. V, V, F, V

b. V, V, V, F

c. V, F, F, F

d. F, F, F, V

E daí?

Marcou a letra b? Muito bem. A crase antes do pronome que está no papo. Não vai lhe roubar nem pontos nem reputação.

Preferiu outra opção? Nada feito. Você só tem uma saída. Deixe a preguiça pra lá. Estude. E descubra que o diabo não é tão feio quanto o pintam.

O encontro

Tudo começou com o nascimento dos pronomes demonstrativos aquela e aquele. Eles têm irmãozinhos gêmeos: a e o. Um pode ocupar o lugar do outro sem alterar o sentido da frase. Quer ver?

Aquelas que preencheram o cupom concorrerão aos prêmios. As que preencheram o cupom concorrerão aos prêmios.

Aqueles que saírem por último verifiquem se as portas estão fechadas. Os que saírem por último verifiquem se as portas estão fechadas.

A preposição a não resiste ao encontro. Sem preconceitos, casa-se com o demonstrativo a. Veja o caminho percorrido:

Sua proposta é anterior à proposta que chegou ontem.

Para não repetir o substantivo proposta, podemos substituí-lo pelo pronome demonstrativo aquela:

Sua proposta é anterior àquela que chegou ontem.

Ou trocá-lo pelo gêmeo: Sua proposta é anterior à que chegou ontem.

Dica: para não tropeçar, siga o truque. Substitua o substantivo feminino que aparece antes do a que por um masculino (qualquer um, não precisa ser sinônimo). Se, com o masculino aparecer ao que, aos que, não duvide. Acento no a: Sua proposta é anterior à que chegou ontem. (Seu palpite é anterior ao que chegou ontem.)

Registrei sugestões posteriores às que você deu. (Registrei fatos posteriores aos que ele referiu).

Se, com antecedente masculino ocorrer a que, nada de crase no feminino:Não gostei da peça a que você se referiu. (Não gostei do filme a que você se referiu).

Não se esqueça. O que Deus uniu o homem não separa. Use a crase para manter os casaizinhos juntos.


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 24 de maio de 2021

SEPARAÇÃO DE SÍLABAS: BIA E BEBIA

 

Separação de sílabas - Bia e bebia

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Luís Fernando Wasilewski pergunta: “Como se separam as sílabas de Bia e bebia?”

As duas vogais que aparecem no fim da palavra formam hiato. Fica uma lá e outra cá: Bi-a, be-bi-a.


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 23 de maio de 2021

LEITORA PERGUNTA: ABREVIATURA DE PROFESSOR

 

Leitora pergunta

Publicado em GeralLeitor pergunta

“Tenho visto a abreviatura de professor escrita profº. Está certo?”, pergunta Clara Abreu, de Uberlândia.

 

Pragas aparecem de vez em quando. A mais recente atingiu a nobre figura do professor. Os manuais dizem que a abreviatura do mestre é prof. Mas, por alguma razão alheia à vontade de Deus e dos homens, começaram a brindá-lo com um ozinho (profº). O intruso aparece até em cartazes de faculdade. É a receita do cruz-credo. A língua detesta redundância. O masculino não precisa do o. O feminino, sim, pede a. O plural, s. Compare: professor (prof.), professores (profs.), doutor (dr.), doutores (drs.), professora (profª), doutora (dra.), professoras ( profªs), doutoras (drªs.).    


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 22 de maio de 2021

TRÊS DIQUINHAS ÚTEIS

 

Três diquinhas úteis

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Uma

É correto usar a gente? É. A gente equivale a nós. Forma descontraída, só tem uma exigência. O verbo tem de estar na terceira pessoa do singular: A gente sabe. A gente faz e acontece. A gente se mudou no fim de semana.

Duas

Havemos de legar aos nossos filhos? Haveremos de legar aos nossos filhos? Futuro ou presente? O verbo haver no presente + de + infinitivo do verbo principal =

ação futura. O emprego do futuro (haveremos) é redundância. Xô! Melhor: Hei de estudar, há de estudar, havemos de estudar, hão de estudar.

Três

O plural de ação de graça? É ações de graça. Amém.

 


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 21 de maio de 2021

PORTINGLÊS

 

Portinglês

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Internet, cinema, música, televisão — tudo contribui para o brasileiro ganhar intimidade com o inglês. Nada mal. O inglês é a língua internacional falada pela maior potência do planeta. Em qualquer lugar do mundo, alguém fala o idioma de Shakespeare.
  O problema é a contaminação. Sem domínio do português, tradutores caem no portinglês. Ficam com um pé lá e outro cá. Usam palavras que existem na nossa língua, mas com sentido diferente da acepção inglesa. Valem dois exemplos.
  Livros de boa forma recomendam dieta balanceada. De onde vem o adjetivo? De balanced diet. Balanceada é tradução ingênua, dizem as professoras Maria Helena Ortiz e Maria Otília Bocchini. Melhor ser sabido. Dieta equilibrada é a forma.
  De uns tempos pra cá, atrativo ganhou espaços generosos em textos jornalísticos e publicitários. O adjetivo faz as vezes da gringa attractive. Do time dos ETs, invade as fronteiras de atraente. Na língua nossa de todos os dias, a roupa é atraente (não atrativa). A modelo também. A decoração idem.
  Moral da história: há tradutores que, em vez de inglês, precisam um pouco mais de português.


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 21 de maio de 2021

HÍFEN É CASTIGO DE DEUS

 

Hífen é castigo de Deus

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    A terra tinha uma só língua e um só modo de falar. Ninguém precisava estudar inglês, francês ou árabe. Todos se entendiam. “Que monotonia”, bocejaram os homens. “Vamos agitar?” Pensa daqui, palpita dali, eureca! Decidiram construir uma torre que os levasse ao céu. Lá as coisas deveriam ser mais animadas. Dito e feito.    Deus, ao ver a ousadia, irou-se. O castigo veio a galope – a criação de  6.800 línguas. Os pedreiros de Babel não se entenderam mais. O esqueleto ficou ali, inacabado. Sem comunicação, as criaturas se dispersaram. Pior: cada língua recebeu punição à parte. O chinês ficou com os milhares de ideogramas. O inglês, com a escrita diferente da pronúncia. O francês, com a praga dos acentos. O alemão, com as palavras coladas, tão compridas quanto a cobra que tentou Eva no paraíso.   E o português? Ganhou o hífen. Deus pegou um montão de hifens na mão direita e um montão de palavras na esquerda. Jogou tudo para o alto. O resultado? A confusão que todos conhecem. Algumas palavras se ligaram com hífen (anti-imperialismo), outras não (antifeminismo). Outras dobraram letras (antissafra). Por quê? É o castigo de Deus.   No caos divino, falta espaço para a lógica. Mas, piedoso, o Senhor  deu ajudinhas aos mortais. Uma delas: obras de consulta. A Academia Brasileira de Letras lançou o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp). Nele, esclarece pontos obscuros da reforma ortográfica. O hífen ficou mais claro. Eis a ordem:   Exigem o hífen sempre   a. Os prefixos seguidos de h: anti-higênico, super-homem, micro-história, extra-humano, co-herdeiro, proto-história, sobre-humano, ultra-heróico, a-histórico.   Exceções: 1. subumano, coerdeiro, coabitação, reaver, anistórico, anepático, desumano, inumano, inábil (e derivados).                    b. Além, aquém, ex, pós, pré, pró, recém, sem, vice, soto, soto, vizo: além-mar, aquém-muros, ex-presidente, pós-graduação, pré-primário, pró-reitor, recém-chegado, sem-terra, vice-presidente, sota-piloto, soto-mestre, vizo-rei.   c. Os prefixos terminados em vogal ou consoante seguidos por palavra começada pela mesma vogal ou consoante: anti-inflamatório, auto-observação, contra-ataque, micro-ondas, semi-internato, hiper-rico, inter-racial, sub-bloco, super-romântico.                    Exceção: co- se junta ao segundo elemento mesmo quando ele acaba com o: coordenar, coobrigação              Sub usa mais um hífen — com palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça.   Nos prefixos terminados em vogal que se juntam a palavras começadas por r ou s duplicam-se o r e o s pra manter a pronúncia: antirrábico, antirrugas, antissocial, biorritmo, contrassenso, infrassom, microssistema, minissaia, multissecular, neossocialismo, semirrobusto, ultrarrigoroso, ultrassom.    d.  Circum e pan seguidos por vogal, m, n: circum-escolar, circum-navegação, pan-africano, pan-mágico, pan-negritude.   e. Bem e mal seguidos de vogal e h: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado, mal-afortunado, mal-estar, mal-amado.   Mas: bem-criado (malcriado), bem-ditoso (malditoso), bem-falante (malfalante), bem-mandado (malmandado), bem-nascido (malnascido), bem-soante (mal-soante), bem-visto (malvisto).   e. Os sufixos de origem tupi-guarani açu, guaçu e mirim: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.   f.        Palavras compostas que mantêm a própria acentuação: ano-luz, arco-íris, decreto-lei, médico-cirurgião, tenente-coronel, tio-avô, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano, afro-asiático, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, couve-flor, blá-blá-blá, reco-reco, trouxe-mouxe, zigue-zaguear.   g.      Encadeamento de vocábulos: Brasília-São Paulo, Tóquio-Londres, Liberdade-Igualdade-Fraternidade.   h.      Expressões latinas aportuguesadas: in octavo, mas in-oitavo.     9.2. Rejeitam o hífen   a. Os prefixos terminados em vogal ou consoante diferente da vogal ou consoante com que se inicia o segundo elemento: aeroespacial, agroindústria, antieducação, autoescola, coedição, coautor, infraestrutura, plurianual, semiopaco, anticorrupção, superamigo, miniequipe, hipermercado.   b. re, pre, pro, não, quase: reeleição, reaver, preencher, prever, promover, proótico, não alinhado, não agressão, não governamental, quase fumante.   


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 20 de maio de 2021

O HÍFEN NA REFORMA ORTOGRÁFICA

 

O hífen na reforma ortográfica

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  O hífen é castigo de Deus? É. Se alguém tinha dúvida, a reforma ortográfica se encarregou de acabar com ela. O texto do acordo é tão impreciso que deixou perguntas, perguntas e perguntas no ar. Onde encontrar respostas? No Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp). Mas ele estava desatualizado. Finalmente a Academia Brasileira de Letras divulgou a obra. Nota explicativa ajuda a tirar grilos da cabeça. Nela, explicitam-se os princípios que nortearam o Volp.   São quatro. Um: respeitar a lição do acordo. Dois: estabelecer uma linha de coerência do texto como um todo. Três: acompanhar o espírito simplificador do acordo. O quarto e mais importante: preservar a tradição ortográfica quando das omissões do acordo. Em bom português: exceções só as explícitas. Como no jogo do bicho, vale o que está escrito.   Eis um exemplo. O acordo manda usar hífen quando o prefixo é seguido de h. É o caso de anti-humano, super-homem, a-histórico. Citou uma exceção – subumano, cujo uso está consagrado. Pintou a confusão. Voltaríamos a escrever in-hábil, des-habitado e re-haver? O quarto princípio diz que não. Eles continuam como dantes no quartel de Abrantes. Vamos às novidades.   Exigem o tracinho     a. Os prefixos seguidos de h: anti-higênico, super-homem, micro-história, extra-humano, co-herdeiro, proto-história, sobre-humano, ultra-heróico, a-histórico.     Exceções: subumano, coerdeiro, coabitação, reaver, anistórico, anepático, desumano, inumano, inábil (e derivados).                      b. Além, aquém, ex, pós, pré, pró, recém, sem, vice, soto, soto, vizo: além-mar, aquém-muros, ex-presidente, pós-graduação, pré-primário, pró-reitor, recém-chegado, sem-terra, vice-presidente, sota-piloto, soto-mestre, vizo-rei.     c. Os prefixos terminados em vogal ou consoante seguidos por palavra começada pela mesma vogal ou consoante: anti-inflamatório, auto-observação, contra-ataque, micro-ondas, semi-internato, hiper-rico, inter-racial, sub-bloco, super-romântico.                      Exceção: co-, re-, pre- e pro se juntam ao segundo elemento mesmo quando ele acaba com a mesma letra: coordenar, coobrigação, reeleição, preencher, proótico (e derivados).     ***                Sub- usa mais um hífen — com palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça.      ****     Nos prefixos terminados em vogal que se juntam a palavras começadas por r ou s duplicam-se o r e o s pra manter a pronúncia: antirrábico, antissocial, biorritmo, contrassenso, infrassom, microssistema, minissaia, multissecular, neossocialismo, semirrobusto, ultrarrigoroso.     d.  Circum e pan seguidos por vogal, m, n: circum-escolar, circum-navegação, pan-arábico, pan-mágico, pan-negritude.     e. Bem e mal seguidos de vogal e h: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado, mal-afortunado, mal-estar, mal-amado.     Mas: bem-criado (malcriado), bem-ditoso (malditoso), bem-falante (malfalante), bem-mandado (malmandado), bem-nascido (malnascido), bem-soante (mal-soante), bem-visto (malvisto).     f. Os sufixos de origem tupi-guarani açu, guaçu e mirim: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.     g.  Palavras compostas que mantêm a própria acentuação: ano-luz, arco-íris, decreto-lei, médico-cirurgião, tenente-coronel, tio-avô, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano, afro-asiático, azul-escuro, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, couve-flor, blá-blá-blá, reco-reco, trouxe-mouxe, zigue-zaguear.     h. Encadeamento de vocábulos: Brasília-São Paulo, Liberdade-Igualdade-Fraternidade.     i.  Expressões latinas aportuguesadas: in octavo mas in-oitavo;via crucis mas via-crúcis.       Rejeitam o hífen     a. Os prefixos terminados em vogal ou consoante diferente da vogal ou consoante com que se inicia o segundo elemento: aeroespacial, agroindústria, antieducação, autoescola, coedição, coautor, infraestrutura.     b. Não, quase: não alinhado, não agressão, não governamental, quase fumante.     

Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 19 de maio de 2021

CURRICULUM VITAE - OLHO NO EMPREGO

 

Curriculum vitae - Olho no emprego

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    Curriculum vitae ou apenas currículo? Vitae é latim. Se gostar da língua dos Césares, fique com ele. Diga curriculum vitae. Se preferir o idioma de Drummond, opte por currículo simplesmente. Em latim ou português, você fornece dados pessoais e profissionais com olho num emprego. Mas preste atenção. É proibido misturar. Nã o diga currículo vitae. Se cair nessa, prepare-se. Dê adeus à vaguinha.


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 18 de maio de 2021

LATIM NOSSO DE TODOS OS DIAS

 

Latim nosso de todos os dias

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    Latim, pra que te quero? Pra muitas coisas. Uma delas, oferecer expressões que a gente repete vida afora. É o caso de per capita. Quer dizer “por cabeça”. Em outras palavras, para cada indivíduo: Nos dez últimos anos, aumentou a renda per capita dos brasileiros.   Atenção à pronúncia. Em latim, as palavras não têm acento. Mas faça de conta que capita usa um grampinho no primeiro a. A moça é proparoxítona. 


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 17 de maio de 2021

A DIFERENÇA - FAZ OU FAZEM?

 

A diferença - Faz ou fazem

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    Vinte e cinco anos fazem a diferença? Faz a diferença? O verbo fazer, no caso, é vira-lata. Concorda com o sujeito. O que faz a diferença? Vinte e cinco anos. Ora, sujeito plural, verbo no plural: Vinte e cinco anos fazem a diferença.  


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 16 de maio de 2021

TIRA-DÚVIDAS SOBRE O HÍFEN

 

Tira-dúvidas sobre o hífen

Publicado em 26/03/2009 - 08:00 Dad SquarisiGeral

 

 

 

O hífen, vale repetir, é castigo de Deus. Há tantas regras e exceções que ninguém, nem o Senhor, consegue guardá-las na cabeça. A única saída é a consulta. Mas a reforma ortográfica desatualizou todos os dicionários. Só agora, em 18 de março, saiu o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa com a nova grafia. Como ele não está disponível em todas as cidades, dúvidas pipocam a torto e a direito. Leitores bateram à porta do blog. São bem-vindos. Vamos às questões.

 

 

  Trabalho no tribunal. Lá, o prefixo co- é muito produtivo. Juízes, advogados, assessores usam-no a torto e a direito. Sei que a reforma ortográfica mudou as regras de emprego de criatura tão pequena mas tão batalhadora. Como me sair bem com ela? Elenice Dias, Brasília

 

 

Dizem que a reforma veio pra dificultar, não pra facilitar. Há um pouco de maldade no comentário. Há, também, um fundo de verdade. As tantas exceções criam nós nos miolos dos pobres mortais. Mas o co- não participa da maldade. Ele tirou as pedras do caminho. Nunca, nunca mesmo, pede o tracinho. Às vezes, pra manter a pronúncia da palavra primitiva, dobra o r ou o scoedição, coautor, coerdeiro, comorador, corresponsável, corréu, cossistêmico.

 

 

***

 

 

Tenho montanhas de dúvidas sobre as novidades impostas pela reforma. Há dicionários atualizados para consulta?

Claudenyse Lacerda, Brasília

 

 

Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp) tem a palavra final sobre o assunto. A obra acaba de ser lançada. Ainda não está disponível na maioria das livrarias. Logo chegará lá. Você poderá comprá-la ou acessá-la pela internet (www.academia@org.br). Tudo o que foi publicado antes deve ser visto com cautela. Por quê? O texto do acordo não foi claro. Deixou margens para a subjetividade. Olho vivo!

 

 

***

 

  Ouvi dizer que pé-de-moleque perdeu o tracinho? Verdade? Antônio Ramos, Canoas

 

 

Acredite. É verdade. A regra diz o seguinte: “Não se emprega o hífen nos compostos por justaposição com termo de ligação, como pé de moleque, folha de flandres, tomara que caia, quarto e sala, exceto nos compostos que designam espécies botânicas e zoológicas, como ipê-do-cerrado, bem-te-vi, porco-da-índia, cana-de-açúcar, canário-da-terra”.

    Entendeu? Na dúvida, lembre-se: nesse tipo de composição, só bicho e planta mantêm o hífen. Pra não esquecer, guarde estas palavras fáceis, fáceis: pé de moleque, cana-de-açúcar, joão-de-barro.

 

 

***

 

  Como ficou o hospitaleiro bem-vindo? Clóvis Bevali, Rio

 

 

Bem-vindo continua como sempre esteve. Um pra lá e outro pra cá. No meio, a faixa, o abraço, a festa da recepção.

 

 

 ***

 

 

Aprendi, com muito custo, que à toa é advérbio (andar à toa). À-toa, adjetivo (trabalho à-toa). Minha lição continua valendo? Carlos Amorim, João Pessoa

 

 

Não. A nova lição manda escrever tudo igual – sem hífen (andar à toa, trabalho à toa). Caso semelhante se observa na locução dia a dia. Antes, o advérbio escrevia-se sem hífen (dia a dia melhoro minha pronúncia). O substantivo, com hífen (meu dia-a-dia é pra lá de divertido). Hoje é tudo solto: Dia a dia minha pronúncia melhora. Meu dia a dia é muito divertido.

 

 

***

    Tão-só e tão-somente continuam com hífen? Rafael Machado, Brasília

 

 

Não. O hífen foi plantar batata no asfalto – tão só, tão somente.


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 15 de maio de 2021

ISSO E GREGO

 

Isso é grego

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    Você sabe como é que se diz “pra mim isso é grego”, em grego? Diz-se “pra mim isso é árabe”. Em inglês também se diz que parece grego, mas em algumas regiões da Inglaterra, diz-se que parece double Dutch, isto é, duplamente holandês. Os judeus asquenaze dizem que parece aramaico, a língua materna de Cristo.     Os tchecos dizem “ pra mim isso é espanhol”, os espanhóis dizem que parece grego, os gregos dizem que parece árabe, e os árabes dizem que parece hindustani.   (Colaboração de Roberto Klotz)


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 14 de maio de 2021

PAN E CIRCUM ENTRAM NA RODA

 

Pan e circum entram na roda

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    Que medão! Pã vem chegando. Olhar pra ele dá arrepios. Dividida em dois, a criatura é metade homem, metade bode. Tem o corpo todinho coberto de pelos como as cabras, os cachorros e os macacos. Na cabeça, exibe dois chifres. Os pés não são pés. São cascos. O meio-gente-meio-bicho habita os bosques, pertinho das fontes. Vive cercado de animais, todos loucos por ele. Tornou-se, por isso, a divindade protetora dos pastores e dos rebanhos.     Mas os humanos…ah, os humanos! Tremiam na base só de lhe ouvir o nome. Com razão. Pã aparecia de repente. Perseguia moças e rapazes porque queria namorá-los à força. Apavorados, todos fugiam. Daí nasceu a palavra pânico. É um pavor enorrrrrrrrrrrme. Os pastores da Arcádia o adotaram como deus. Não deu outra: a fama dele se espalhou pela Grécia, por Roma e pelo mundo. Passou a significar o grande todo, a vida universal.   Com essa acepção, desembarcou na nossa língua. Pan virou prefixo. Sempre que aparece, dá idéia de totalidade. Os Jogos Pan-Americanos, por exemplo, agregam os habitantes das três Américas. O movimento pan-arábico junta os povos dos 23 países que falam árabe. Os defensores da pan-negritude buscam a união dos afrodescendentes, espalhados mundão afora.     Ser tão agregador mereceu atenção especial dos acadêmicos. Na reforma ortográfica, entrou no grupo de circum, que quer dizer em redor de. Ambos se usam com hífen quando seguidos de vogalm e n: pan-africano,pan-asiático, pan-eslavismo, pan-helênico, pan-hispânico, pan-mágico, circum-ambiente, circum-escolar, circum-hospitalar circum-marítimo, circum-murado, circum-navegação.     Dica: o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa registra pan seguido de b com hífen. É o caso de pan-brasileiro e pan-babilonismo. Fugiu à regra. Cochilo? Parece que sim. Antes da reforma o b pedia o tracinho.  


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 14 de maio de 2021

PAN E CIRCUM ENTRAM NA RODA

 

Pan e circum entram na roda

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    Que medão! Pã vem chegando. Olhar pra ele dá arrepios. Dividida em dois, a criatura é metade homem, metade bode. Tem o corpo todinho coberto de pelos como as cabras, os cachorros e os macacos. Na cabeça, exibe dois chifres. Os pés não são pés. São cascos. O meio-gente-meio-bicho habita os bosques, pertinho das fontes. Vive cercado de animais, todos loucos por ele. Tornou-se, por isso, a divindade protetora dos pastores e dos rebanhos.     Mas os humanos…ah, os humanos! Tremiam na base só de lhe ouvir o nome. Com razão. Pã aparecia de repente. Perseguia moças e rapazes porque queria namorá-los à força. Apavorados, todos fugiam. Daí nasceu a palavra pânico. É um pavor enorrrrrrrrrrrme. Os pastores da Arcádia o adotaram como deus. Não deu outra: a fama dele se espalhou pela Grécia, por Roma e pelo mundo. Passou a significar o grande todo, a vida universal.   Com essa acepção, desembarcou na nossa língua. Pan virou prefixo. Sempre que aparece, dá idéia de totalidade. Os Jogos Pan-Americanos, por exemplo, agregam os habitantes das três Américas. O movimento pan-arábico junta os povos dos 23 países que falam árabe. Os defensores da pan-negritude buscam a união dos afrodescendentes, espalhados mundão afora.     Ser tão agregador mereceu atenção especial dos acadêmicos. Na reforma ortográfica, entrou no grupo de circum, que quer dizer em redor de. Ambos se usam com hífen quando seguidos de vogalm e n: pan-africano,pan-asiático, pan-eslavismo, pan-helênico, pan-hispânico, pan-mágico, circum-ambiente, circum-escolar, circum-hospitalar circum-marítimo, circum-murado, circum-navegação.     Dica: o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa registra pan seguido de b com hífen. É o caso de pan-brasileiro e pan-babilonismo. Fugiu à regra. Cochilo? Parece que sim. Antes da reforma o b pedia o tracinho.  


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 13 de maio de 2021

GUARDE O PORTA-RETRATO E SALTE DE PARAQUEDAS

 

Guarde o porta-retrato e salte de paraquedas

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      Todas as línguas têm suas maldições. A do inglês é a pronúncia. A do francês, os acentos. Do alemão, as palavras coladas. Do russo, o alfabeto cirílico. Do chinês, os milhares de ideogramas. Do português, o hífen. Dizem que, consultado, nem Deus sabe dizer se um prefixo ou radical pedem o tracinho.     A reforma ortográfica jogou lenha na fogueira. Com texto pouco claro, deu margem a chutes e delírios. Em um dos artigos, diz que o tracinho deixa de existir quando se perdeu a noção da composição. Citou um exemplo – paraquedas. Ora, a regra é subjetiva. Quem perdeu a noção? Eu? Você? A vovó? Sabe-se lá.     Dois radicais mereceram a atenção especial dos aventureiros linguísticos. Um: para, que aparece em para-raios. Antes da reforma, a dissílaba aparecia com acento. Agora mandou o grampo plantar batata no asfalto. Outro: porta, que figura em porta-malas. Não faltou quem escrevesse portarretrato.     Em nota, a Academia Brasileira de Letras jogou água na fervura. Avisou que, onde cabem interpretações subjetivas, só vale o exemplificado. No caso do para-, só paraquedas figura no exemplo. Conclusão: as demais duplinhas escrevem-se como dantes no quartel de Abrantes. É o caso de para-choque, para-lama, para-vento, para-raios.     O mesmo vale para porta. O vocabulário ortográfico da língua portuguesa mantém o tracinho nos compostos que ostentavam o tracinho: porta-retrato, porta-malas, porta-bandeira, porta-luvas, porta-trecos, porta-moedas, porta-documentos.     Dica: ao lidar com os hifens, seja esperto. Antes de tudo, deixe o complexo pra lá. Depois, aprenda a se virar. Como? Duvide. Duvide sempre. Busque socorro. O dicionário ajuda. E como!    


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 13 de maio de 2021

LATIM, PRA QUE TE QUERO?

 

Latim, pra que te quero?

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      Expulsaram o latim da escola há meio século. Não adiantou. Teimosa, a linguinha bate à nossa porta sem cerimônia. Na televisão, o ministro diz que é demissível ad nutum. O jornal anuncia que o presidente recebeu o título de doutor honoris causa. O advogado afirma que vai entrar com pedido de habeas corpus em favor do cliente.     Mais: a placa do restaurante ostenta o nome Carpe Diem. O professor pede: “Escreva assim, ipsis literis”. O repórter considera sui generis a reação do candidato. O diplomata foi tratado como persona non grata. Dura lex, sed lex, consola o juiz.     Criaturas tão íntimas merecem tratamento respeitoso. A reverência impõe duas condições. Uma: grafá-las como manda a norma culta. A outra: dominar-lhes o significado. Vamos lá?     Ad nutum quer dizer à vontade. O empregado sem estabilidade pode ser demitido segundo o humor do patrão — a qualquer momento.     Honoris causa significa pela honra. Para ostentar o título de doutor, a maioria dos mortais tem de ralar. Mas pessoas ilustres podem chegar lá sem exame. Tornam-se doutores honoris causa.     Habeas corpus é o nome da lei inglesa que garante a liberdade individual. Em português claro: que tenhas o corpo livre para te apresentares ao tribunal.     Carpe Diem dá o recado: aproveita o dia de hoje. A vida é curta; a morte, certa.     Ipsis literis tem a acepção de textualmente — sem tirar nem pôr.     Sui generis: ímpar, sem igual.     Persona non grata: usada em linguagem diplomática para dizer que a pessoa não é bem-aceita por um governo estrangeiro. Pessoa que não é bem-vinda.     Dura lex sed lex? Está na cara, não? É isso mesmo. A lei é dura, mas é lei.     Reparou? As expressões latinas não têm acento nem hífen. Se aparecer um ou outro, elas perdem a originalidade. Entram, então, na vala comum dos compostos. Ganham hífen. Compare: via crucis e via-crúcis, habeas corpus e hábeas-corpus, in octavo e in-oitavo.      


Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 12 de maio de 2021

OS AFINS NEM SEMPRE ESTÃO A FIM

 

Os afins nem sempre estão a fim

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    Beatriz morre de preguiça de escrever. Quando tem de dar um recado, não pensa duas vezes. Telefona. Adora ouvir a voz dos amigos no outro lado da linha. Mas as ligações ficaram cartas. O dinheiro, curto. O pai, durão. Bate pé e nega aumento de mesada. E daí? Sem saída, a alternativa da moça é uma só – economizar.   Mas eis que Beatriz encontrou o grande amor. Bonito, charmoso e delicado, o rapaz tem uma mania. Adora mandar e-mails. Ela os responde com cuidado. Sabe que vão longe os tempos em que o amor era cego. Hoje enxerga com lentes de aumento. Uma letra posta fora do lugar pode matar o sonho mais longamente acalentado.   Outro dia, o gatão lhe mandou um bilhete eletrônico. Nele, o convite para um cineminha. Ela respondeu-lhe que não estava… ops! A fim ou afim? Mudou a frase. Mas a dúvida ficou. Passado o sufoco, consultou a gramática. Lá estava a resposta.   Afim não se escreve coladinha por acaso. É que os iguais se atraem. Afim significa ‘que tem afinidade, semelhança”: Evo Morales e Hugo Chávez têm idéias afins. História e literatura são matérias afins. O espanhol é língua afim ao português. Cunhado é parente afim.        A fim, desse jeito, um pedaço cá e outro lá, faz parte da locução a fim de. Quer dizer paraSaiu cedo a fim de (para) ir ao cinema. Mandou e-mail a fim de agendar consulta na Receita Federal. Tirou férias a fim de (para) estudar para o concurso.    Na linguagem da brotolândia, a fim ganha sentido coloquial. Vira com vontade de, como se lê no diálogo de Rafael e João Marcelo:   — Rafael, vamos bater uma bolinha hoje?   — Não estou a fim. Que tal uma azarada no shopping?   — Agora, quem não está a fim sou eu. Fica pra próxima.   É isso. O bate-papo dos garotos tem tudo a ver com a dúvida da Beatriz. Ela não estava a fim. PT saudação.  


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 11 de maio de 2021

PRONÚNCIAS IGUAIS DÃO RECADOS DIFERENTES

 

 

Pronúncias iguais dão recados diferentes

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      Cessão, seção e sessão jogam no time dos homófonos. As palavras têm a mesma pronúncia, mas grafia e sentido diferentes. É o caso de senso (juízo) e censo (recenseamento), cela (quartinho) e sela (arreio de cavalo), acento (icto da voz) e assento (banco), ascender (subir) e acender (atear fogo), cerrar (fechar) e serrar (cortar com serra), cheque (ordem de pagamento) e xeque (lance de xadrez), conserto (remendo) e concerto (harmonia), coser (costurar) e cozer (cozinhar).     Mais? Pois não: acerto (ato de acertar) e asserto (afirmação), caçar (perseguir) e cassar (privar de direitos), cesta (caixa de vime) e sexta (6ª), concelho (reunião) e conselho (opinião), incipiente (principiante) e insipiente (ignorante), laço (laçada) e lasso (frouxo), paço (palácio) e passo (ato de andar), tenção (propósito) e tensão (expansão), vês (verbo ver) e vez (ocasião).     Ufa! Voltemos ao trio inicial, causador de desentendimentos, dores de cabeça e não poucos vexames:       Cessão é o substantivo derivado de ceder. Ambos, veja, começam pela mesma letra. O cartório registra a cessão dos bens. Conseguir a cessão de direitos é assunto complicado. O caso acabou na Justiça. Trata-se de cessão de propriedades encaminhada de forma pouco honesta.     Seção é a parte de um todo. Quer dizer divisão. No supermercado, há a seção de frutas, a seção de material de limpeza, a seção de laticínios, a seção de bebidas. Na farmácia, a seção de remédios e a seção de cosméticos. Na loja, a seção de roupas infantis, a seção de roupas femininas, a seção de roupas masculinas.     Sessão é o todo. Dá nome ao tempo que dura uma reunião, um espetáculo ou um trabalho: sessão de cinema, sessão do Congresso, sessão de terapia, sessão da tarde, sessão comédia, sessão de pancadas.     Dica: o todo é maior que a parte. Por isso sessão tem seis letras. Seção, cinco.

 


Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 11 de maio de 2021

VIAJEM E FAÇAM BOA VIAGEM

 

 

Viajem e façam boa viagem

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    Água parada apodrece, dizem os louquinhos por mudanças. Para eles, eleição é festa. A cada dois anos, abrem-se possibilidades para caras novas. O verbo eleger entra em cartaz. Não é por acaso. Adepto do troca-troca, ele mascara a aparência. A letra g, como quem não quer nada, vira j.    A razão é simples. Em todos os tempos e modos, a pronúncia tem de ser gê. Mas, quando o g é seguido de a ou o, dá-se o rolo. Soa ga, go (elego, elega). O jeito é apelar para o j: eu elejo, ele elege, nós elegemos, eles elegem; que eu eleja, ele eleja, nós elejamos, eles elejam.   Eleger não joga no time do eu-sozinho. Tem companheiros. Entre eles, o agir. O verbo que manda pôr a mão na massa impõe a pronúncia gê. Pra chegar lá, só há um jeito — pedir socorro ao j: eu ajo, ele age, nós agimos, eles agem; que eu aja, ele aja, nós ajamos, eles ajam.   Ops! Olha a cola. Em eleger e agir, o troca-troca se dá por causa da pronúncia. Não é o caso de viajar. Ele tem j no radical. Seguido por qualquer vogal, o j mantém o som. Por isso, viajar se conjuga sempre com j: eu viajo, ele viaja, nós viajamos, eles viajam; que eu viaje, ele viaje, nós viajemos, eles viajem.   Apesar da lógica, a forma viajem (que eles viajem) sofre agressões impiedosas. Muitos, mas muitos mesmo, escrevem-na com g. Tropeçam. Viagem é substantivo. O nome não tem nada a ver com o verbo. Um pertence a uma classe. O outro, a outra: agência de viagem, viagem ao Rio, preparativos para a viagem.   Bateu a dúvida? Banque o esperto. Recorra a macete antigo como usar pincenê. Ponha a palavra no plural. Se ela joga na equipe de homens jovens, não duvide. Você está às voltas com o substantivo. Veja: Eles querem pôr o pé na estrada? Que ponham. Viajem e façam boa viagem. (Viajem e façam boas viagens.) Amém!  

 


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 10 de maio de 2021

O ALFABETO TEM MANHAS

 

O alfabeto tem manhas

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A palavra alfabeto nasceu na terra de Platão e Aristóteles. Formaram-na dois vocábulos da mesma origem. Um: alfa, a primeira letra do alfabeto grego. O outro: beta, a segunda letra. Abecedário é o sinônimo latino. Vem de a, b, c.   

Os gregos batizaram o alfabeto, mas não o criaram. Tampouco os fenícios, que o espalharam e ficaram com a fama de genitores. Os pais do sistema foram os egípcios. Antes deles, a ideia era representada por símbolos. O povo dos faraós lançava mão dos hieróglifos. Os babilônios, do método cuneiforme. Ainda hoje japoneses e chineses não têm letras.  

Nós, que as temos, precisamos tratá-las com reverência. As 26 que formam o alfabeto português jogam no time dos machos. Podem ter duas caras — maiúsculas ou minúsculas. Cinco delas são vogais. Vinte e uma consoantes. Escrevê-las e pronunciá-las como mandam os mestres pega bem como usar cinto de segurança e dar bom-dia ao entrar no elevador.  

Eis a forma: á, bê, cê, dê, é, efe, gê ou guê, agá, i, jota, capa ou cá, ele, eme, ene, ó, pê, quê, erre, esse, tê, u, vê, dáblio, xis, ípsilon, zê. Generosas, no plural elas admitem duas formas. Numa, acrescenta-se o s (os ás, os bês, os cês). Noutra, dobram-se as criaturas (os aa, os bb, os cc, os ii).   

Às vezes as letras aparecem casadas ou com acessórios. Olho vivo e língua afiada ao nomeá-las: ç (cê cedilhado), rr (dois erres ou erre duplo), ss (dois esses ou esse duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (gê-u ou guê-u), qu (quê-u).   

Olho vivo também na grafia de ilustres palavras que frequentam o dia a dia de alunos e professores. Uma delas: á-bê-cê. Outra: abecedê. A última, mas não menos importante: bê-á-bá. O plural do trio curva-se à regra geral: á-bê-cês, abecedês, bê-á-bás.   

Dica: as vogais e e o, quando citadas isoladamente, têm o som aberto: O segundo ó de vovô usa chapéu. Discreto se escreve com é.  


Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 10 de maio de 2021

OLHO NO PLURAL DE TEM, VEM E FAMILIARES

 

Olho no plural de tem, vem familiares

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A regra é fácil como andar pra frente. Mas, depois da reforma ortográfica, passou a dar nó nos miolos de estudantes e de profissionais com quilômetros rodados. Trata-se de distinguir o singular e o plural de verbos pra lá de conhecidos. São ter e vir. Vale lembrar que eles têm família. Filhos, irmãos, tios e primos das pequeninas criaturas contribuem para a confusão. Que tal desatar os nós? Guarde isto: o acordo ortográfico nem sequer os arranhou.
  Comecemos pelo faladíssimo ter. Ele tem. Eles têm. Singular e plural soam do mesmo jeitinho. Mas a escrita diferencia os dois números. Brinda o plural com chapéu pra lá de charmoso e, por isso, não admite que o acessório passe despercebido. Exige que olhemos pra ele e o mantenhamos no lugar. Assim: Um dos assaltantes tem ficha limpa. Os demais têm passagem pela polícia.
  Manter, conter, deter, reter & cia. são filhotes de ter. Eles têm algo mais que o paizão. Ao ganhar sílabas, deixam o time dos monossílabos. Obedecem, então, à regra de acentuação gráfica da nova turma. No caso, as oxítonas. No singular, exibem grampinho vistoso. Tu manténs, ele mantém, tu conténs, ele contém, tu deténs, ele detém, tu reténs, ele retém se juntam a armazém, armazéns, amém, améns, porém, parabéns. Olho vivo! O plural não muda (mantêm, contêm, detêm, retêm).
  Vir segue modelo idêntico ao ter (ele vem, eles vêm). Os derivados percorrem a mesma trilha tintim por tintim. É o caso de convir, provir, advir. Quer um exemplo? Fiquemos com intervir: Tu intervéns nos negócios da tua família. Maria intervém nos da família dela. João e Rafael intervêm nos deles. Queiram ou não, todos intervêm nos assuntos de uns e outros. Valha-nos, Deus! Xô, intromissão!


Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 09 de maio de 2021

SEJA SERIÍSSIMO

 

Seja seriíssimo

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  A moçada saíra do vestibular. Mil vozes falavam ao mesmo tempo. Discutiam uma questão que encucou a cabeça de todos. Trata-se do grau do adjetivo. A pergunta exigia conhecimento de forma pra lá de sofisticada. Nada menos que o superlativo de sério e cheio. O nome está dizendo. É super, máximo — intenso como a paixão dos 20 anos.   Rapazes e moças lembraram-se das aulas de português. Naqueles dias idos e vividos, o professor falou no tal superlativo absoluto sintético. O danado é cheio de poder. Uma só palavra diz tudo. Basta um sufixo. Em geral, o -íssimo resolve (belíssimo, limpíssimo, velhíssimo). Mas há palavras que pedem outro (facílimo, macérrimo, paupérrimo). Outras têm duas formas. Uma popular (negríssimo, docíssimo, nobríssimo). Outra erudita (nigérrimo, dulcíssimo, nobilíssimo).    Uma das observações do professor deixou a turma encantada pelo ineditismo. Trata-se do super-super: o superlativo que dobra o i. Coisa rara. Só cinco ou seis adjetivos têm esse poder. Quais? Os terminados em –io no masculino: sério (seriíssimo), sumário ( sumariíssimo), frio (friíssimo), precário (precariíssimo), macio (maciíssimo), necessário (necessariíssimo).
  Ops! A questão quis confundir a meninada. Junto com sério, introduziu cheio. Testou, assim, a malícia do candidato. Os adjetivos terminados em eio não têm nada com os de dose dupla. São vira-latas que pululam por aí sem charme. É o caso de cheio (cheíssimo) e feio (feíssimo). Eles têm a dose dupla (cheiíssimo e feiíssimo). Mas ninguém usa.    

 


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 08 de maio de 2021

DE COZINHAS E COSTURAS

 

De cozinhas e costuras

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E agora? Os amantes do lombinho assado, da costelinha frita, do torresmo crocante devem abandonar as delícias? Os entendidos dizem que não. Por duas razões. Uma: o vírus da gripe suína só se transmite de pessoa para pessoa. A outra: o vírus não resiste a temperatura superior a 75º. Os cautelosos, que temem comer carne, precisam prestar atenção ao cozimento. Assim, com z, da família de cozer, cozinha, cozinhar. Não podem fazer confusão com cosimento, filhote de coser. Coser pertence ao clã de costurar.


Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 08 de maio de 2021

COISAS DE PORCO

 

 

Coisas de porco

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A gripe que assusta Europa, França e Bahia é variação da gripe suína. O H1N1, responsável pela infecção, mistura quatro vírus — um humano, um aviário e dois suínos. Os moradores do chiqueiro sofreram mutações. Antes só atacavam porcos. Agora avançam nos humanos. Vale, por isso, saber algo mais sobre eles. A palavra suíno vem do latim. Suinos pode ser o porco ou relativo ao porco. Por isso a carne de porco se chama suína. O criador de porcos, suinocultor. A criação, suinocultura.  


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 07 de maio de 2021

PEGADINHAS DAS PALAVRAS

 

Pegadinhas das palavras

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Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Que medão! A gripe suína ameaça Europa, França e Bahia. Atrevida, não respeita fronteiras. Passa de um país para outro com a desenvoltura dos que têm certeza da impunidade. Do México, deu uma voltinha nos Estados Unidos. Chegou ao Canadá. Atravessou o Atlântico e bateu à porta da Espanha, Alemanha, França, Suécia, Suíça. Visitou Israel e a Nova Zelândia. Em suma: o planeta é o limite para a turista indesejada.

“Uma pandemia é iminente”, anunciou a Organização Mundial da Saúde. A palavra assustou. Por duas razões. Uma: o significado. O vocábulo quer dizer pra lá de próxima, prestes a ocorrer. A outra: a grafia. Ao ouvi-la, pintou a dúvida. Iminente ou eminente? Ambas existem. Mas uma letra faz a diferença. Eminente não tem nada a ver com urgência. Significa excelente, nobre, magnífico. Daí se falar em eminente visitante, eminente escritor, eminente cientista.  

Time dose dupla

A confusão se explica. Na língua, há seres com duas caras. Generosos, eles deixam a escolha de uma palavra ou outra a critério do freguês. Ambas estão estão corretas. Há duplicidade na concordância, na regência, na pronúncia, na colocação dos termos no período. A grafia não fica atrás.

Quatorze ou catorze? Tanto faz. Porcentagem ou percentagem? As duas. Ouro ou oiro, louro ou loiro? Você escolhe. Cota ou quota? Ambas. Camionete ou caminhonete? A que você preferir. Diabete ou diabetes? Não faz diferença. Caminhante ou caminheiro? Um e outro põem o pé na estrada.  

Exageros e enganos

Algumas palavras chegam ao exagero. Têm três caras. É o caso de enfarte, enfarto ou infarto. Ninguém pode com elas. Outras enganam! Fingem ter duas grafias, mas não têm. Vale o exemplo de cinquenta. Desavisados pra lá de confiantes escrevem “cincoenta”. Bobeiam. A trissílaba, morta de rir, sai por aí cantando: “Enganei o bobo na casca do ovo”. Cruz-credo!

Quer mais? A carta de jogar se chama curinga (não coringa). O lugar onde se bebem umas e outras, boteco (não vale buteco). A fruta pretinha e doce, jabuticaba (jaboticaba dá indigestão). O roedor esperto, camundongo (não camondongo). Da tábua vem tabuada. Nada de taboada, por favor.  


Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 07 de maio de 2021

NOMES PRÓPRIOS VIRAM COMUNS

 

Nomes próprios viram comuns

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Mudar é bom? Os mesmeiros dizem que não. Preferem deixar tudo como está para ver como é que fica. Os adeptos da transformação, por seu lado, inspiram-se na natureza. Citam o suceder do dia e da noite, das estações do ano, das fases da lua. Citam, também, o ciclo da vida humana – nascemos, crescemos, morremos. No percurso, quem não andava anda, quem não falava fala, quem tomava só leite passa a comer cereais, carnes, frutas e verduras.      

A língua joga no time dos mutantes. Instrumento de comunicação das pessoas, muda de acordo com o avanço do tempo e as circunstâncias dos falantes. Concordâncias, regências, colocações, significados trocam o passo conforme a música. A grafia não fica atrás. Maiúsculas e minúsculas servem de exemplo.     

Os nomes próprios se escrevem com inicial grandona. É o caso de João, Maria, José, Pará, Colônia, Brasil. Às vezes, porém, eles entram na composição de substantivos comuns. O resultado não poderia ser outro. Perdem o pedigree e tornam-se vira-latas: joão-de-barro; joão-doido; joão-ninguém; joão-teimoso; josé-mole; castanha-do-pará; castanha-da-índia; castanha-da-áfrica; água de colônia; bambu-da-china; pau-brasil; banho-maria; maria-sem-vergonha; maria-preta; maria vai com as outras.

Norte, Sul, Leste, Oeste, Nordeste, Ocidente, Oriente, quando aparecem majestosamente solitários, são nomes próprios. Mas, se definem direção ou limite  geográfico, cessa tudo que a musa antiga canta. As moçoilas põem o rabinho entre as pernas e entram na vala comum: O leste dos Estados Unidos tem grande influência latina; O carro avançava na direção sul; Cruzou o país de norte a sul, de leste a oeste; Oriente e Ocidente se encontraram no século XXO oriente asiático, porém, ainda guarda muitos mistérios”.

É isso. Na língua, quem foi rei perde a majestade sim, senhor.  


Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 06 de maio de 2021

ÓCULOS - SEMPRE PLURAL

 

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Não bobeie. Óculos é substantivo plural. Artigos, adjetivos e pronomes que o acompanham não têm saída — vão para o plural: os óculos, meus óculos, óculos escuros, você viu meus óculos?

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Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 06 de maio de 2021

OLÁ, QUE TAL? - HÍFEN NO PEDAÇO

 

Olá, que tal? - Hífen no pedaço!

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Bom-dia!

Viu? Bom-dia, boa-tarde, boa-noite se escrevem assim — com hífen.


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