Que medão! Pã vem chegando. Olhar pra ele dá arrepios. Dividida em dois, a criatura é metade homem, metade bode. Tem o corpo todinho coberto de pelos como as cabras, os cachorros e os macacos. Na cabeça, exibe dois chifres. Os pés não são pés. São cascos. O meio-gente-meio-bicho habita os bosques, pertinho das fontes. Vive cercado de animais, todos loucos por ele. Tornou-se, por isso, a divindade protetora dos pastores e dos rebanhos. Mas os humanos…ah, os humanos! Tremiam na base só de lhe ouvir o nome. Com razão. Pã aparecia de repente. Perseguia moças e rapazes porque queria namorá-los à força. Apavorados, todos fugiam. Daí nasceu a palavra pânico. É um pavor enorrrrrrrrrrrme. Os pastores da Arcádia o adotaram como deus. Não deu outra: a fama dele se espalhou pela Grécia, por Roma e pelo mundo. Passou a significar o grande todo, a vida universal. Com essa acepção, desembarcou na nossa língua. Pan virou prefixo. Sempre que aparece, dá idéia de totalidade. Os Jogos Pan-Americanos, por exemplo, agregam os habitantes das três Américas. O movimento pan-arábico junta os povos dos 23 países que falam árabe. Os defensores da pan-negritude buscam a união dos afrodescendentes, espalhados mundão afora. Ser tão agregador mereceu atenção especial dos acadêmicos. Na reforma ortográfica, entrou no grupo de circum, que quer dizer em redor de. Ambos se usam com hífen quando seguidos de vogal, m e n: pan-africano,pan-asiático, pan-eslavismo, pan-helênico, pan-hispânico, pan-mágico, circum-ambiente, circum-escolar, circum-hospitalar, circum-marítimo, circum-murado, circum-navegação. Dica: o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa registra pan seguido de b com hífen. É o caso de pan-brasileiro e pan-babilonismo. Fugiu à regra. Cochilo? Parece que sim. Antes da reforma o b pedia o tracinho.