Melhor não tê-los.
Mas se não os temos
Como sabê-lo?”
Melhor não tê-los.
Mas se não os temos
Como sabê-lo?”
Latino pede hífen na formação de adjetivos compostos (latino-americano, latino-eclesiástico, latino-eslavo, latino-helênico) e quando seguido de h e o. Nos demais casos, fica colado: latinofobia, latinofilia, latinomania.
Olho vivo! Trocar as preposições pode custar caro. Dizer “preciso tomar um remédio pra gripe”? Valha-nos, Senhor. A gripe ganha forças.
Outras palavras jogam no time de condolências. É o caso de anais, antolhos, cãs, exéquias, férias, fezes, núpcias, óculos, olheiras, pêsames, víveres. Os naipes do baralho também entraram na onda (dama de copas, rei de espadas, dois de ouros, nove de paus). Artigos, adjetivos, pronomes e verbos a elas relacionados vão atrás. Concordam com elas: As férias escolares estão mais curtas ano após ano. Felizes férias, moçada! Apresentou os pêsames à família. Você viu meus óculos escuros? Só encontro os de grau.
1. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com: O diretor implicou com ele.
2. Na de comprometer, envolver, é a vez do em: A secretária implicou o chefe no escândalo.
A dúvida surge no significado de produzir como consequência. Aí, implicar implica e complica. O verbo parece, mas não é. No sentido de acarretar consequências, o malandro é transitivo direto. Não suporta a preposição em: Autonomia também implica responsabilidade. Deflação implica recessão. Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público.
Por falar em gripe…
O nome da doença que dá moleza, dor no corpo, febre e rouba o apetite vem do francês. Gripper, na língua de Cervantes, quer dizer agarrar. O verbo sugere o jeito de o vírus agir nas pessoas acometidas pela enfermidade infecciosa.
Humor à solta
Dois baianos se encontram. Um estava fora do estado. Ao voltar, perguntou pro amigo:
— Como está a gripe na Bahia?
— Empatada: H1N1.
Mas, quando se refere a data comemorativa, o mês entra em outra equipe. Torna-se substantivo próprio: 21 de Abril, 1º de Maio, 7 de Setembro.
Olho vivo! O nome dos meses se escreve com inicial minúscula. O dos dias da semana também: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo.
O plural dos meses e dos dias da semana? É fácil como andar pra frente ou tirar chupeta de bebê. Basta acrescentar um s: janeiros, fevereiros, marços, abris; segundas-feiras, quintas-feiras, sábados, domingos.
Apesar de estudar muito, não passou no concurso.
Viu? Ele estudou (é a concessão). Não conseguiu passar (declaração principal).
*
Na vida do apesar de há um problema. É a fraqueza da carne. A preposição de não resiste aos encantos do artigo. Basta haver um por perto e pronto. Ela se amiga com ele: Apesar do feriado, o comércio abriu. Estamos todos salvos apesar dos pesares. Meu time ganhou a partida apesar da bravura do adversário.
Só num caso eles não se juntam. É quando o artigo faz parte do sujeito. Aí vai um pra lá, outro pra cá. Os dois nem se olham. Por quê? O sujeito tem alergia à preposição: Apesar de o governo (sujeito) negar, corremos risco de enfrentar uma senhora recessão. Apesar de a TV anunciar, o programa não foi ao ar.
*
Reparou na vírgula? Se a oração concessiva (iniciada pelo apesar de) estiver na frente da outra (a principal), vem separada por vírgula. Caso contrário, não: Apesar de vir de ônibus, chegou cedo ao encontro. Chegou cedo ao encontro apesar de vir de ônibus.
Mais é o contrário de menos: Trabalho mais (menos) que ele. Se pudesse, comeria mais (menos). Carla é mais (menos) bonita que Beatriz.
Mas quer dizer porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto: Trabalho muito, mas o salário é sempre mais curto que o mês. Estudei pouco, mas tirei a melhor nota do concurso. Comemos doces à beça, mas não engordamos.
Todo mundo é forma coloquial. Significa todos: Todo mundo aplaudiu o convidado. Todo mundo considerou o discurso realista. Nem Cristo agradou a todo mundo.
*
Todo o mundo quer dizer o mundo inteiro: Passou a vida viajando. Conhece todo o mundo. O sonho da Vera é conhecer todo o mundo. Será possível? Talvez precise morar em aviões e aeroportos.
Frade se usa com sobrenome, mais de um nome ou na segunda referência: Falei com o frade Castro. Referiu-se aos frades Carlos e Daniel. O frade saiu.
Inicial maiúscula no sentido de Brasil ou na data comemorativa: o presidente da República, Dia da República, Proclamação da República. Mas: a república dos estudantes.
Curiosidade
A palavra república vem do latim res publica (coisa pública). É sistema de governo cujo poder emana do povo, em vez de outra origem como a hereditariedade, os golpes de Estado ou o direito divino, próprios da monarquia, da ditadura e das teocracias. Modernamente, segundo Roque Antônio Carrazza, entende-se república como “o tipo de governo, fundamentado na igualdade formal das pessoas, em que os detentores do poder político o exercem em caráter eletivo, representativo, transitório, com responsabilidade”.
Tempestivo = que vem ou sucede no tempo devido, oportuno: O advogado apresentou o recurso tempestivamente (no prazo).
Intempestivo = fora do tempo próprio, inoportuno; súbito, imprevisto: Manifestou-se intempestivamente.
Cumprimentar rejeita intermediários. É transitivo direto – a gente cumprimenta alguém (não: a alguém): Eu cumprimento João. João cumprimenta Rafael. O diretor cumprimenta você.
Na substituição do nome pelo pronome, é a vez do o ou a. (Nada de lhe): Eu o cumprimento. Tenho a honra de cumprimentá-lo. Você as cumprimentou? Quero cumprimentá-las pela nota.
2. Com o número percentual determinado por artigo, pronome ou adjetivo, não há alternativa. A concordância se fará só com o numeral: Os 10% restantes deixaram para votar nas primeiras horas da tarde. Uns 8% da população economicamente ativa ganham acima de 10 mil dólares. Este 1% de indecisos decidirá o resultado. Bons 30% dos candidatos faltaram à convocação.
3. Com o número percentual posposto ao verbo, a concordância se faz obrigatoriamente com o numeral: Abstiveram-se de votar 30% da população. Tumultuou o processo 1% dos candidatos inconformados com a flagrante discriminação.
Em nível de tem os sentidos de em instância, no âmbito, paridade, igualdade: A decisão foi tomada em nível de diretoria. O consenso só será possível em nível político. As duas chefias estão em nível presidencial.
A nível de não existe. É praga.
Ao encontro de quer dizer em favor de ou na direção de: O projeto veio ao encontro de seus interesses. O resultado das eleições pareceu-lhe vir ao encontro das ambições do prefeito. Caminhou ao encontro do filho. De encontro a significa contra, em sentido contrário a: O carro foi de encontro à árvore. O projeto vai de encontro às pretensões do governador.
De segunda a sexta.
De é preposição pura. A só pode ser preposição pura. Em ambas o artigo não tem vez:
Trabalho de quarta a sexta.
A farmácia faz entregas de segunda a sábado.
Vejo tevê de domingo a domingo.
*
Da rodoviária à quadra comercial.
Da é combinação da preposição de com o artigo a. O à vai atrás. O acento serve de prova da fusão.
Mais exemplos
Li da página 8 à página 12.
O expediente é de segunda a sexta, das 8h às 18h30.
Trabalho das 14h às 18h.
Atenção, gente fina. Às vezes, a preposição de vem casadinha com o artigo o. O sexo não muda a regra. O segundo par mantém a fidelidade:
Viajei do Paraguai à França.
Fui de carro do Rio à Paraíba.
Corri do aeroporto à rodoviária.
Olho na traição
Misturar o par de um com o de outro gera deformações. São os cruzamentos. É como casar girafa com elefante. Já imaginou o pobre filhote? Eis um monstrinho:
Horário do expediente: de segunda a sábado, de 7h30 às 20h.
Reparou? O primeiro casalzinho (de…a) merece nota mil. O segundo juntou o parceiro de um par com o parceiro de outro. Xô! A forma bem-amada é: das 7h30 às 20h.
Primeiro passo: desvendar o segredo do acentinho
Crase é como aliança no dedo esquerdo. Avisa que estamos diante de ilustre senhora casada. A preposição a se encontra com outro a. Pode ser artigo ou pronome demonstrativo. Os dois se olham. O coração estremece. Aí, não dá outra. Juntam os trapinhos e viram um único ser.
Segundo passo: descobrir se existem dois aa
Para que a duplinha tenha vez, impõem-se duas condições. Uma: estar diante de uma palavra feminina. A outra: estar diante de um verbo, adjetivo ou advérbio que peçam a preposição a:
Vou à escola das crianças.
O verbo ir pede a preposição a (a gente vai a algum lugar).
O substantivo escola adora o artigo (a escola das crianças).
Resultado: a + a = à
João é fiel à namorada.
O adjetivo fiel reclama a preposição a (a gente é fiel a alguém).
Namorada se usa com artigo (a namorada de João).
Resultado: a + a = à
Relativamente à questão proposta, nada posso informar.
O advérbio relativamente exige a preposição a (relativamente a alguém ou a alguma coisa).
Questão pede o artigo a (a questão ainda não tem resposta)
Resultado: a + a = à
Terceiro passo: recorrer ao macete
Na dúvida, peça ajuda ao tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. (Não precisa ser sinônima.) Se no troca-troca der ao, é crase na certa:
Vou à escola. Vou ao clube.
João é fiel à namorada. Carla é fiel ao namorado.
Relativamente à questão, nada posso fazer. Relativamente ao problema, nada posso fazer.
Vou a duas reuniões programadas. Vou a dois encontros programados.
Vou às duas reuniões programadas. Vou aos dois encontros programados.
Vale a pergunta. Se é tão simples, por que tantos tombam tanto? Acredite. A resposta está no artigo. Nossa dificuldade não reside na preposição, mas no saber se aparece artigo ou não. É o caso de nome de cidades, estados, países ou pessoas, dos pronomes possessivos, de palavras repetidas. E por aí vai.
Certas palavras rejeitam o possessivo. Aproximá-los é briga certa. Evite confusões. Não o use com:
Dica: em 90% dos casos, o possessivo é desnecessário. Se é desnecessário, sobra: Paulo fez a (sua) redação. Pegou o (seu) jornal. Perdeu as (suas) chaves.
É isso. Escrever é cortar. Ou trocar.
O adjetivo é mutável. Tem feminino, masculino, singular e plural. Subordinado ao substantivo, concorda com o chefão em gênero e número: menino alto, meninos altos; menina alta, meninas altas; meio quilo, meios quilos; meia verdade, meias verdades; meio melão, meios melões.
O advérbio joga em outro time. Para ele não existe gênero nem número. No caso, meio acompanha o adjetivo. Quando aparece, quer dizer um tanto, mais ou menos: Maria anda meio (um tanto) chateada. O ministro anda meio (um tanto) desaparecido da mídia. Deixe as portas meio (mais ou menos) abertas.
Macete
Pintou a dúvida? Pare e pense. Na frase, meio joga em que time — quer dizermetade ou um tanto? Se metade, é adjetivo. Dança conforme a música do substantivo. Se um tanto, é advérbio. Mantém-se imutável, indiferente ao feminino, masculino, singular ou plural: A senadora saiu ao meio-dia e meia (hora) meio (um tanto) aborrecida.
Mais tarde, os judeus começaram a festejar a Páscoa. Lembravam, com sacrifícios, a saída do povo de Israel do Egito. Era a passagem da escravidão para a liberdade. Em 325, os cristãos instituíram a Páscoa. Com ela, exaltam a ressurreição de Cristo – a passagem da morte para a vida.
O coelho
O outro é o coelho com o ovo. “Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim – um ovo, dois ovos, três ovos, assim”, canta a meninada lambuzada de chocolate. Cá entre nós: o que o ovo tem a ver com a Páscoa, e a Páscoa com o coelho? No duro, no duro, nada. A relação é simbólica. O ovo representa o nascimento e a ressurreição. O coelho, a fertilidade. Gera coelhinhos pra dar, vender e emprestar.
Será?
Dizem que Simão, que ajudou Jesus a carregar a cruz até o Calvário, era vendedor de ovos. Depois da crucificação, ops! Milagre! Os ovos se cobriram de cores. São os mesmos que as crianças buscam nos mais diferentes esconderijos.
Pascal e pascoal são relacionados com a Páscoa (festa pascal, Monte Pascoal). Campal, com campo (batalha campal). Matrimonial, com matrimônio (festa matrimonial). E por aí vai.
Mas nem todos estão atentos às manhas da língua. Um dos tropeços mais comuns é o uso do após. Por alguma razão que até Deus desconhece, falamos uma palavra, mas escrevemos outra. Que coisa!
Guarde isto: após é artificial. Use-o em expressões consagradas (ano após ano, dia após dia). No mais, dê preferência ao depois: Depois do sinal, deixe o recado. Depois de consultar o ministro, o presidente soltou a nota. Arrependeu-se depois de falar mal do chefe. Mas o mal estava feito.
Veja: eu presenteio (freio,ceio), ele presenteia (freia, ceia), nós presenteamos (freamos, ceamos), vós presenteais (freais, ceais), eles presenteiam (freiam, ceiam); que eu presenteie (freie, ceie), ele presenteie (freie, ceie), nós presenteemos (freemos, ceemos), vós presenteeis (freeis, ceeis), eles presenteiem (freiem, ceiem).
São manhas da escola antiga. No ditado, os professores pronunciavam dois aa para os alunos se darem conta da crase. Era um truque. Virou vício. Corra dele.
Em português, as maiúsculas não gozam de privilégios. Têm o mesmo tratamento das minúsculas. Devem ser acentuadas quando necessário (Ásia, Índia). Pressupõe-se que os cartórios saibam disso. Mas, se na certidão não aparecer o acento, respeite o registro. É lei.
• A maioria das faltas não existiu (o verbo concorda com maioria).
• A maioria das faltas não existiram (concorda com faltas).
. Metade das laranjas apodreceu (concorda com metade).
. Metade das laranjas apodreceram (concorda com laranjas).
. A maior parte da população reagiu bem. (Parte é singular. População é singular. Só o singular tem vez.)
Nas orações em que aparece o pronome apassivador se, facilmente se cometem erros. Para não entrar em fria, há um macete: construa a frase com o verbo ser. Se ele for para o plural, o verbo da frase com se também irá. Caso contrário, nada feito. A regra vale para as locuções verbais. No caso, o auxiliar é que se flexiona ou não:
Não se combatem verdades com inverdades. (Verdades não são combatidas com inverdades.)
Procuram-se datilógrafos. (Datilógrafos são procurados.)
Vende-se esta casa. (Esta casa é vendida.)
Podem-se citar exemplos. (Exemplos podem ser citados.)
Pode-se citar um caso. (Um caso pode ser citado.)
Devem-se mencionar três episódios. (Três episódios devem ser mencionados.)
Deve-se mencionar o episódio principal. (O episódio principal deve ser mencionado.)
Reaver é filhote de haver. Significa haver de novo, recobrar, recuperar: Maluf foi preso. Passados alguns meses, reouve a liberdade. A casa de Gilberto foi assaltada. Os ladrões levaram joias e dinheiro. A polícia os prendeu. Mas não conseguiu reaver os bens.
O verbo, de origem tão nobre, padece de grave enfermidade. É preguiçoso pra chuchu. Não se conjuga em todos os tempos e modos. Só dá as caras nas formas em que aparece o v de haver. No presente do indicativo, por exemplo, apenas o nós e o vós têm vez: reavemos, reaveis.
O indolente não tem presente do subjuntivo. Em compensação, exibe todas as formas do passado e futuro: reouve, reouvemos, reouveram; reavia, reavias, reavíamos; reaverei, reaverás; reaveria, reaveriam; reouver, reouveres, reouvermos; reouvesse, reouvéssemos. E por aí vai.
Não caia na tentação. Reavê, reaviu, reaveja não existem (seriam derivados de ver). Nem fazem falta. Recuperar ou recobrar estão aí pra quebrar o galho. Lembre-se: o inferno está pululando de insubstituíveis.
1. Se for de exclusão, o verbo fica no singular: Ou João ou Rafael será presidente do clube (só há uma vaga de presidente). Carla ou Maria se casará com Marcelo. Há apenas uma vaga na empresa. Tereza ou Marlene a preencherá.
2. Se for de inclusão (=e), o verbo vai para o plural: Um ou outro convidado saíram mais cedo da festa. Casamento ou divórcio são regulamentados por lei. Quem sairá mais tarde? O professor ou o secretário sairão depois do horário.
3. Se for retificação, o verbo concorda com o núcleo mais próximo: Os autores ou o autor da melhor reportagem receberá o prêmio. O autor ou os autores da melhor reportagem receberão o prêmio. Ele ou nós redigiremos o requerimento. Nós ou ele redigirá o requerimento.
O imutável tem vez quando se deseja fazer referência de modo vago e geral. No caso, o sujeito não vem acompanhado de artigo: É necessário paciência. É proibido entrada. É perigoso mudanças. Água é bom. Não é necessário inspetoras na escola.
Quando o sujeito recebe determinação, cessa tudo que a musa antiga canta. A concordância entra na vala comum. Esta cerveja não é boa para a saúde. Aquelas pimentas são boas para a circulação. É necessária a paciência de Jó. É proibida a entrada.
A bela pôs um baita acento no i de gratuito. E disse “subzídio”. Esqueceu-se de duas dicas pra lá de preciosas. Uma: gratuito pronuncia-se como circuito e fortuito. A outra: o s de subsídio soa igualzinho ao de subsolo.
Moral da opereta: Beleza nem sempre põe mesa.
A resposta está na pontuação. Compare:
Neymar, fora.
Com a vírgula, Neymar vira vocativo — o ser a quem nos dirigimos. No caso, dá-se uma ordem pra ele. Ele obedece. Ou não. A única certeza é o sinal de pontuação. Esteja onde estiver, o nome vem isolado. Veja exemplos: Neymar, fora. Fora, Neymar. Pra frente, Brasil. Brasil, pra frente. Maria, volte logo. Volte logo, Maria. Aprende com eles, Brasil. Brasil, aprende com eles. Te adoro, garoto. Garoto, te adoro.
Neymar fora.
Sem a vírgula, subentende-se o verbo estar: Neymar (está) fora. Que diferença, hem?
O primeiro mês do ano homenageia Jano. O deus grego tem duas caras. Uma olha pra frente. A outra, pra trás. A primeira abre as portas dos 365 dias que se iniciam. A segunda as fecha para o ano que se despede. Janela, que também abre e fecha, pertence à família do entra e sai.
Fevereiro
O segundinho, que tem menos dias que os irmãos, se inspira em Februa, deus da purificação dos mortos.
Março
Epa! Marte, o deus da guerra, originou vários nomes na nossa língua de todos os dias. Um deles é março. Outros, Márcio e Márcia. Marciano também. E marcial? Idem.
Abril
Todos a amam e todos a querem. Trata-se de Vênus, a deusa do amor e da entrega. Em homenagem a ela, criou-se aprilis. Trata-se da comemoração sagrada dedicada à musa olímpica. Daí nasceu abril.
Maio
A primavera no Hemisfério Norte corresponde ao nosso outono. Com inverno rigoroso, os campos se cobrem de neve, e a agricultura sofre. As comemorações que se faziam depois do frio reverenciavam Maia e Flora – deusas do crescimento de plantas e flores.
Junho
Hera em grego. Juno em latim. Ela era a primeira-dama do Olimpo. Defensora incondicional do casamento, ao descobrir as traições do marido, Zeus, não punha em risco o próprio lar. Punia a outra. Passou a ser considerada a protetora da maternidade. Para render-lhe loas, junho se chama junho.
Julho
Julho era o quinto mês do ano antes de janeiro e fevereiro mudarem de lugar. Chamava-se quintilis. Mas, em 44 a.C., mudou de nome por causa de Júlio César. O grande líder romano foi assassinado por gente de casa, Brutus, o próprio filho. Mas não caiu no esquecimento. Ganhou lugar cativo na história e no calendário.
Agosto
Agosto, que rima com desgosto, serve de prova da ciumeira. Por ser o sexto mês do ano, chamava-se sextilis. Mas, como julho balançou o calendário, o primeiro imperador de Roma, sucessor de Júlio César, não ficou atrás. “Eu também quero”, disse ele. Levou. Agosto se chama agosto em homenagem a Augustus.
Setembro, outubro, novembro e dezembro
O quarteto não estava nem aí para a mudança de janeiro e fevereiro. Eles mantiveram o nome. Setembro, do latim septe, era o sétimo mês do ano. Outubro, de octo, o oitavo. Novembro, de nove, o nono. Dezembro, de decem, o décimo.
Gregoriano
Ufa! Até chegar à forma de hoje, o contar dos meses sofreu muitas alterações. Com elas, falhas foram corrigidas. A última mexida, do papa Gregório XIII, ocorreu em 1582. Por isso, nosso calendário se chama gregoriano.
Por que demissão se escreve com ss? As duas letrinhas têm a ver com a família. O verbo do clã termina em -itir. O substantivo dele derivado ganha dose dupla: admitir (admissão), emitir (emissão), transmitir (transmissão). —
“Água detida é má bebida.” (povo sabido) “Água silenciosa é sempre perigosa.” (provérbio) “Água salgada, alma lavada.” (voz do povo) “A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba.” “A água vai faltar mesmo sabendo usar.” (Alex Periscinoto) “As falhas dos homens eternizam-se no bronze. As virtudes se escrevem na água.” (William Shakespeare).
Na origem, internet era nome próprio. Escrevia-se com a inicial maiúscula. Agora, dá nome a uma mídia, como rádio, jornal, televisão. Tornou-se substantivo comum. Sem pedigree, é senhora vira-lata. Grafa-se com letras pequeninas.
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Pleonasmos? Eis dois: pequeno detalhe e plano para o futuro. Todo detalhe é pequeno. Basta detalhe. Todo plano é para o futuro. Basta plano.
Azul-marinho joga no time de ultravioleta
Adjetivo anteposto e posposto a mais de um substantivo: concordância
Eta parto difícil. Cadê a indicação do procurador-geral da República? Bolsonaro faz mistério. Outro dia, disse “O procurador-geral da República terá o valor de uma rainha no tabuleiro de xadrez”. Repórteres, loucos por novidade, escreveram sem pensar “raínha”. Assim, com o baita acentão no i. Confundiram Germanos com gêneros humanos. O i ganha grampinho quando quebra ditongo. É o caso de saída e egoísta.
Para tanto, preenche quatro condições:
1. ser antecedido de vogal: sa-í-da, e-go-ís-ta
2. formar sílaba sozinho ou com s: sa-í-da, e-goís-ta.
3. ser a sílaba tônica: sa-í-da, e-go-ís-ta.
4. não ser seguido de nh.
Ops! O i de rainha é seguido de nh. Daí ficar livre e solto como bainha, campainha, ladainha.
Furacões fazem estragos. Este ano é a vez do Dorian. Ele destruiu casas, derrubou árvores, inutilizou carros. Ao ver o noticiário, pinta a curiosidade: qual a origem do vocábulo furacão? A palavra veio do espanhol huracan. A língua de Cervantes se inspirou em Huracan, deus da mitologia maia. A divindade dos ventos, das tempestades e do fogo tratava da construção e da destruição na natureza. Tinha o nome associado às tormentas e às tempestades. Daí o fato de muitos descobridores designarem grandes tempestades de furacões.
Independente é adjetivo. Quer dizer livre: O Brasil ficou independente em 1822.
Independentemente é advérbio. Significa sem levar em conta: Ganha o mesmo salário independentemente do número de horas trabalhadas.
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplauso.”
Com as expressões assim como e bem como, o verbo pode ir para o singular ou plural. Observe a vírgula:
Paulo, assim como Maria, estuda medicina.
Paulo assim como Maria estudam medicina.
Paulo, bem como Maria, estuda medicina.
Paulo bem como Maria estudam medicina.
Viu? Com vírgula, o termo vira adjunto adverbial. Sem a vírgula, compõe o sujeito. A oração passa a ter sujeito composto. Daí o plural.
A língua encanta. Harmonias e ritmos seduzem ouvidos e arrebatam corações. Como chegar lá? Não há necessidade de mágicas. Basta usar os recursos do código — organizar as palavras de tal forma que a frase ganhe fluência e ritmo. A melhor pista: ler o texto em voz alta. O que escapa aos olhos grita aos ouvidos.
É o caso do eco. A rima é qualidade da poesia, mas defeito na prosa. A repetição de sons iguais ou semelhantes pede providências:
Tantos ãos retumbam como trovão. Mesmo em silêncio, saltam aos olhos e ecoam no ouvido interno. Melhor reduzir a presença da dupla barulhenta: Houve tumulto no encontro da diretoria. Feito o estrago, foi impossível evitar a divulgação do fato. Agora se teme que os sócios exijam que se elucidem os pormenores.
2. O Plano Real acabou com a inflação considerada mortal para o trabalhador.
Nada feito. O ouvido reclama. Vamos ao troca-troca: O Plano Real acabou com a inflação que mata a economia do trabalhador.
3. O rigor do calor causava mal-estar crescente até nos moradores de Salvador.
Sem eco: O forte calor causava mal-estar crescente até nos moradores da capital baiana.
A mocinha de família foi ao ensaio de uma escola de samba. Chegando lá, um folião suado, banguela, vestido com a camisa de time popular pediu pra dançar com ela. Pra não ser preconceituosa, a jovem aceitou. Mas o cara transpirava tanto que a coitada chegou ao limite. Afastou-se e disse:
— Você sua, hem?
Ele a puxou, lascou-lhe um beijo e respondeu:
— Beleza, gata…. excrusive vô sê seu tamém! É nóis!
É isso. De vez em quando, ocorrem encontros indesejados. Na língua também. O fim de uma palavra se junta com o começo de outra. Cria-se, então, uma penetra:
Pagou R$ 10 por cada peça.
Lá tinha muitos amigos.
Deu uma mãozinha à vizinha.
Maria diz que nunca ganha nada na loteria.
Os fatos calaram a boca dela.
Acredite. Os cacófatos, indelicados e espaçosos, não passam despercebidos. Como pô-los fora da frase? A leitura em voz alta os denuncia. As possibilidades da língua os expulsam:
Pagou R$ 10 por peça.
Tinha muitos amigos lá.
Deu ajuda à vizinha.
Maria diz que jamais ganha nada na loteria.
Os fatos lhe calaram a boca.
Olhos se arregalaram. Ouvidos se afinaram. Bocas se calaram. Ninguém acreditava. Mas é fato. A prova está lá, nos anais da Assembleia Geral da ONU. A razão do espanto: construção pra lá de sofisticada exibida pelo presidente. “Esta é a oportunidade de o Brasil se apresentar ao mundo”, disse Bolsonaro diante do plenário lotado.
Por que de o Brasil?, perguntavam presentes e ausentes. Há explicação para a preposição ficar de um lado e o artigo de outro? Há. Na gramática, nem todos são iguais perante a lei. Alguns são mais iguais. É o caso do sujeito. Dono e senhor da oração, ele manda e desmanda. Com ele ninguém pode.
Sem intimidade
Um dos caprichos do mandachuva: nunca vir preposicionado. Por isso, nem em delírio junte o artigo ou o pronome que acompanha o todo-poderoso com a preposição. Dizer “É hora do show começar”? Valha-nos, Deus! Peça perdão de joelhos. E redima-se: É hora de o show começar.
Veja exemplos: Chegou o momento de a viagem (sujeito) começar. Sobre a possibilidade de o presidente Trump (sujeito) perder o mandato, muita água vai rolar. É tempo de os programas de tevê (sujeito) diminuírem a violência. Treme só de pensar na hipótese de a mulher (sujeito) pedir o divórcio.
Tratamento igual
A mesma distância aristocrática vale para o pronome. Diante do sujeito, não duvide. É um pra lá e outro pra cá: Chegou o momento de ela (sujeito) agir. Está na hora de eu (sujeito) entrar. O fato de este servidor (sujeito) chegar atrasado tem a ver com a greve do metrô.
Olho vivo
Não seja mais real que o rei. Só o sujeito rejeita a preposição. Os outros termos pertencem ao time dos iguais: É hora do descanso. Falamos sobre a possibilidade de reconciliação dos dois irmãos. Gosto dela.
Superdica
Pra entrar no time do mais igual, o sujeito vem seguido de verbo no infinitivo: Antes de o galo cantar, tu me negarás três vezes.
Dito e feito. Amém.
Páscoa é palavra hebraica. Quer dizer passagem. É tão antiga quanto o rascunho da Bíblia. Bem antes de Moisés vir ao mundo, os pastores nômades comemoravam a Páscoa. Cantavam e dançavam pela chegada da primavera. Na nova estação, a neve se ia. Os campos de cobriam de pastagens. Os alimentos abundavam.
Mais tarde, os judeus começaram a festejar a Páscoa. Lembravam, com sacrifícios, a saída do povo de Israel do Egito. Era a passagem da escravidão para a liberdade. No livro Êxodo, a Bíblia conta toda a história.
Em 325, os cristãos instituíram a Páscoa. Com ela, exaltam a ressurreição de Cristo. Em outras palavras: a passagem da morte para a vida. Para católicos e protestantes, a Páscoa simboliza a morte vicária. Jesus morreu no lugar dos homens. Para salvá-los.
E Trump, hem? O presidente americano quis vasculhar a vida do adversário democrata. Pediu ao colega da Ucrânia que passasse um pente-fino na vida do filho do mal-amado. Foi além — fez pressão. Resultado: a Câmara abriu inquérito de impeachment para tirá-lo da Casa Branca. Conseguirá? O tempo vai dizer. Enquanto o martelo não bate, guarde isto — impeachment se escreve-se desse jeitinho.
Curiosidade
O verbo impichar começou a ser usado no início dos anos 1990, quando ocorreu o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. (To) impeachment, verbo inglês, significa impedir, evitar, prevenir. Não tem correspondente em português no sentido de impedimento legal de ocupar cargo ou exercer o poder. Mas impichar é neologismo sem pedigree (ainda) pra ganhar espaço no dicionário. Usa-se na língua de camiseta, bermuda e sandália. Mas não tem vez com a que veste terno e gravata.
Ser jornalista é perigoso. Muito perigoso. Ele tem de escrever rápido. Quase nunca pode revisar o texto. Resultado: corre o risco diário de escrever cachorro com x. Outro dia, quase aconteceu no jornal. Na matéria “Perigo sobre trilhos”, o repórter digitou “descarrilhar”. Não satisfeito, dobrou a dose. Grafou mais adiante “descarrilhamento”.
Leitores estranharam a grafia. Telefonaram. Escreveram cartas. Mandaram e-mails. “A forma correta”, explicaram eles, “é descarrilar e descarrilamento. Por uma razão simples: a palavra vem de carril (trilho). O h não faz parte da família. É penetra”.
E daí? A língua é cheia de surpresas. Essa é uma delas. Existem as duas grafias. A escrita com h é criação nossa. Ambas aparecem firmes e fortes no dicionário.
O Brasil é potência agrícola. Por isso a palavra safra faz parte do vocabulário de autoridades e gente como a gente. Volta e meia, ouve-se “safra agrícola”. Ops! Baita pleonasmo. Toda safra é agrícola. O adjetivo sobra. Xô! Se quiser especificar, diga o produto: safra de arroz, safra de feijão, safra de grãos.
Viva! Hoje o inverno se despediu e deu passagem à primavera. A natureza se
renova. Ganha colorido. Flores explodem e transformam em jardim até o
matinho sem graça. As pessoas escolhem roupas leves e claras. É a festa
cuja origem a mitologia grega relaciona ao rapto de Perséfone.
Foi assim
Perséfone encantava a todos por sua alegria e beleza. Era filha de Zeus, o
deus dos deuses, e de Deméter, a deusa da agricultura. Um dia, ela veio à
Terra dar uma voltinha. Hades, o senhor do mundo subterrâneo, a viu.
Apaixonou-se na hora. Então, sem mais nem menos, o chão se abriu e engoliu
a garota. Antes de desaparecer, ela soltou um grito desesperado. A mãe
ouviu.
Deméter procurou a filha durante nove dias e nove noites. Não a encontrou.
Inconformada, consultou Hélio, o sol, que tudo vê e nada esconde. Ele
sentiu muita pena da mãe. Falou-lhe do rapto. Ela se indignou. Disse que
não voltaria ao Olimpo sem a filha.
Acordo
A deusa da agricultura deixou de cumprir os deveres. Não alimentava a
Terra. Faltou comida. Os homens passaram fome. Hermes, mensageiro de Zeus,
prometeu trazer Perséfone de volta. Com uma condição: que ela não tivesse
provado o alimento dos mortos. A moça retornou. Mas ficou pouco tempo. Ela
havia comido três sementes de romã. Hades a levou de volta.
Zeus, então, arranjou uma saída. Todos os anos, Perséfone fica com a mãe
durante nove meses. A Terra festeja com a primavera, o verão e o outono.
Nos outros três, fica com o marido. Nesse período, a Terra se cobre de
gelo. Os grãos não crescem. É o inverno.
Em tempos idos e vividos, só havia duas estações. Uma: veris, que,
em latim, quer dizer bom tempo. Dela se originou a palavra verão. A
outra: hiems, que significa mau tempo. Era tempus hibermus, tempo de
hibernar. Daí inverno.
Divisão
Vamos combinar? Nove meses são 270 dias. A natureza, inquieta, muda ao
longo de tão longo período. No começo do bom tempo, que vem logo depois
do inverno, temos a primavera. Eis a razão por que primavera se chama
primavera. O nome vem de primo vere — o primeiro verão.
Depois? A paisagem muda. A claridade se prolonga. O calor aumenta. É o
veranum tempus — nosso verão. Por fim, vem autumus, referência aos meses
de colheita, que lembra crescimento e produção. Com o passar dos anos, a
estação foi associada ao ocaso. É por isso que se fala em outono da vida.
Ocaso quer dizer pôr do sol. Na origem, significa queda, declínio, ruína,
fim. No outono, o frio se anuncia, as folhas caem, o sol do verão se
esconde. Adeus, tempo bom.
Tim-tim por tim-tim é palavra que imita o som do bater de taças. Por isso joga no time das onomatopeias. O plural? É tim-tins por tim-tins.
Plural: tira-dúvida, tira-gosto, tira-teima
O nome é composto por verbo + substantivo? Só o substantivo vai para o plural: guarda-chuva (guarda-chuvas), porta-mala (porta-malas), tira-dúvida (tira-dúvidas), tira-gosto (tira-gostos) tira-teima (tira-teimas).
Ponte Rio-Niterói ou Ponte Rio—Niterói? Tracinho ou tração? Antes do acordo, os papéis do hífen e do travessão eram bem claros. O tracinho ligava vocábulos diferentes e formava outro, sem parentesco com os originais. Vale o exemplo de beija-flor. Beija é forma do verbo beijar. Flor, o presente colorido que as plantas nos dão. Ligadas pelo hífen, a dupla dá nome ao pássaro que voa de galho em galho e seduz pela leveza e encanto.
O travessão, por seu lado, ligava vocábulos sem formar palavras novas. É o caso de Ponte Rio—Niterói. Mas as coisas mudaram. Agora, só o hífen tem vez: Ponte Rio-Niterói, Rodovia Rio-Santos, voo Nova York-Tóquio, circuito Paris-Roma-Londres, Liberdade-Igualdade-Fraternidade. Etc. Etc. Etc.
Olho vivo, moçada. Bloquear pertence à gangue do -ear. É o caso de passear, cear e frear. A turma arma ciladas no presente do indicativo e no presente do subjuntivo. É esta: em todas as pessoas, aparece o i. Só o nós e o vós dispensam a letrinha.
Veja: eu bloqueio (passeio, ceio, freio), tu bloqueias (passeias, ceias, freias), ele bloqueia (passeia, ceia, freia), nós bloqueamos (passeamos, ceamos, freamos), vós bloqueais (passeais, ceais, freais), eles bloqueiam (passeiam, ceiam, freiam); que eu bloqueie (passeie, ceie, freie), ele bloqueie (passeie, ceie, freie), nós bloqueamos (passeemos, ceemos, freemos), vós bloqueeis (passeeis, ceeis, freeis), eles bloqueiem (passeiem, ceiem freiem).
O s que aparece na palavra trânsito soa z. O que aparece na palavra transubstanciação soa ss. Por quê? Ambos os vocábulos são formados pelo prefixo trans-. A resposta está no que vem depois.
Trânsito, como transigir, transatlântico, transar e transístor, é seguido por letra diferente de s: trâns(ito), trans(igir), trans(atlântico), trans(ar), trans(ístor).
Transubstanciação, como transiberiana, transumir e transugar, é seguida de palavra começada por s. Viu? S de um lado e s de outro são dose dupla. Na escrita, um deles bate asas e voa. Mas na pronúncia soa como se estivesse presente: trans(substanciação), trans(siberiana), trans(sumir), trans(sugar).
A frase que mais se ouve em Brasília? Ah, que calor! É que a temperatura enlouqueceu. Passou de 30 graus. A quentura levantou uma questão. A gente diz faz 30 graus? Ou fazem 30 graus? Olho vivo! Ao falar de tempo, o verbo fazer é inflexível. Só aceita o singular. Ontem fez 34 graus em Brasília. Hoje faz 33 graus. E amanhã? É esperar pra ver. O verbo não está nem aí. Baixe ou se eleve a temperatura, ele se mantém firme e forte. Só no singular.
Era quarta-feira. Na movimentada Rodovia Rio-Santos, ops! Dois animaizinhos paralisaram a via. Primeiro um bicho-preguiça. Depois, outro. Eles tentavam atravessar o asfalto quando receberam o apoio de motoristas, que bloquearam o trânsito e aguardaram pacientemente a travessia dos bichos. Viva! O fato virou notícia. E levantou uma dúvida. Qual o plural de bicho-preguiça? A equipe do jornal A Tribuna de Santos foi atrás. O Dicionário Houaiss informa: é bichos-preguiça.
A censura na Bienal do Rio fez vítimas. Entre elas, a língua. O presidente do Tribunal de Justiça do Rio foi um dos algozes. Na sentença que proferiu, escreveu: “… é mister que os pais sejam devidamente alertados, com a finalidade de acessarem previamente informações a respeito do teor das publicações disponíveis no livre comércio, antes de decidirem se aquele texto se adequa ou não à sua visão de como educar seus filhos”. Viu? O desembargador bateu no verbo adequar.
Adequar só se conjuga nas formas em que a sílaba tônica cai fora do radical (adeq). O presente do indicativo tem apenas duas pessoas (adequamos, adequais). Por não ter a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo, não se flexiona no presente do subjuntivo e no imperativo negativo. Do imperativo afirmativo só tem a 2ª pessoa do plural (adequai). Os demais tempos e modos são regulares (adequei, adequaste, adequou, adequamos, adequastes, adequaram; adequava, adequavas, adequava, adequávamos, adequáveis, adequavam; adequarei; adequaria; adequasse; adequando; adequado).
É isso. Sua Excelência escreveu “adequa”. Nessa forma, a sílaba tônica cai no radical (de). Bobeou. Que tal substituir o verbo? Sugestão: adaptar.
Aneurisma joga no time de telegrama e telefonema. Os três são substantivos masculinos: o aneurisma, o telegrama, o telefonema.
A palavra tesão nasceu latina. Tinha o sentido de força, intensidade, manifestação de violência. Com o tempo, ganhou acepções novas. Entre elas, impuseram-se excitação, desejo sexual, pessoa que desperta desejos sexuais. Resultado: o vocábulo deu adeus à linguagem culta e entrou de cabeça na popular. Mas, desde sempre, é masculino (o tesão).
Testemunha é sempre feminino: Ele é a testemunha de acusação. Ela é a testemunha de defesa.
Viva! Hoje, 11 de agosto, é o Dia dos Pais. Todos os dias deveriam ser dedicados a ele. Talvez sejam. Mas o calendário escolheu o segundo domingo de agosto. Por quê? A história vem de longe. Dizem que a homenagem nasceu na Babilônia. Mas, modernamente, veio à luz nos Estados Unidos em 1909.
Sonora Louise Dodd criou a data para provar que se orgulhava do pai. John Bruce Dodd perdeu a mulher em 1898. Cuidou, sozinho, dos seis filhos. A menina escolheu o dia do aniversário dele, 19 de junho, para a comemoração. A iniciativa ganhou apoio. Em 1966, o então presidente Lyndon Johnson bateu o martelo. Oficializou o terceiro domingo de junho como Dia dos Pais nos States.
No Brasil
Aqui, paizinhos e paizões ganharam seu dia em 1953. A primeira festa foi em 14 de agosto. A escolha não se deve ao acaso. Coincide com o aniversário de São Joaquim, pai de Maria e avô de Jesus. Depois a data foi transferida para o segundo domingo de agosto. Por quê? Por três razões. Uma: fica mais fácil de lembrar. Outra: a maioria das pessoas não trabalha. A última: o comércio, claro, fatura mais.
As palavras têm manias. Combinam. Brigam. Fazem exigências. Armam ciladas. Um verbo cheio de caprichos é o acontecer. Elitista, ele tem poucos empregos. E quase nenhum amigo. Mas, por arte do destino, os colunistas sociais o adotaram. A moda se espalhou como notícia ruim. O pobre virou praga. Tudo acontece. Até pessoas: Anita está acontecendo no universo musical. O casamento acontece na catedral. O show acontece às 22h. E por aí vai. Violentado, o verbo vira a cara. Esperneia. E se vinga. Deixa mal quem abusa dele. Diz que o atrevido sofre de pobreza de vocabulário. Para não cair na boca do povo, só há uma saída: empregá-lo na acepção de suceder de repente.
1. Acontecer tem a acepção de ocorrer de repente: Caso acontecesse o ataque, haveria muitos mortos.
2. O verbo é bem-vindo na companhia dos pronomes indefinidos (tudo, nada, todos), demonstrativos (este, isto, aquilo) e o interrogativo (que): Tudo pode acontecer durante o conflito. Aquilo não aconteceu de uma hora para outra. O que aconteceu?
Atenção
Não use acontecer no sentido de ser, haver, realizar-se, ocorrer, suceder, existir, verificar-se, dar-se, estar marcado para: O show acontece (está marcado para) às 22h. O festival aconteceu (ocorreu) no ano passado. Acontecem (ocorrem) injustiças no concurso. As provas estão previstas para acontecer em setembro (previstas para setembro).
Aderir é um dos verbos mais usados em dias de negociação de reformas que mexem com a vida das pessoas. Sobram, por isso, tropeços na conjugação e na regência. Pra evitar balbúrdia na comunicação, manda o bom senso aprender as manhas do verbo:
Regência
Pede a preposição a: O partido aderiu ao programa proposto pelo líder. Não se pode aderir a todos os modismos.
Conjugação
Apresenta irregularidade na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e, por extensão, em todo o presente do subjuntivo. Presente do indicativo (eu adiro, tu aderes, ele adere, etc.), presente do subjuntivo (que eu adira, tu adiras, ele adira, etc.). No mais, segue o modelo de partir.
Historinha
Diana ganhou o cobiçado prêmio de jornalismo. Oba! Os colegas, felizes, organizaram feliz comitiva pra comemorar. Iriam a Maceió. Seria viagem de adesão. Cada um arcaria com a própria despesa. A felizarda vibrou com a novidade. Estava no carro. Ao lado, o namorado, de carona. Ela lhe falou da festança. Entusiasmado, ele disse alto e bom som: “Eu adero”. Diana freou. Mandou-o descer. Ele, perplexo, bateu asas e voou. Entendeu tarde que o amor é cego, mas não é surdo.
A decisão do prefeito do Rio de proibir a venda de livro na Bienal movimentou o Judiciário. Um juiz mandou liberar a negociação da obra. Houve recurso. O presidente do Tribunal de Justiça mandou recolher a história em quadrinhos Os vingadores. Justificou assim: “… em se tratando de obra de super-heróis, atrativa ao público infanto-juvenil, que aborda o tema da homossexualidade, é mister que os pais sejam devidamente alertados”. Ops! Sua Excelência tropeçou no hífen. Infantojuvenil se escreve assim — coladinha.
O Brasil se veste de verde e amarelo. Bandeiras hasteadas, prédios decorados, camisetas exibem as cores do país. A música mais tocada? É o Hino Nacional, claro. A gente o canta com entusiasmo. Mas a letra… Palavras complicadas, ordem inversa, abuso de adjetivos. Ufa! Nem professores conseguem ensiná-lo aos alunos. Que tal uma ajudinha? O blogue revela os mistérios do símbolo desta Pindorama tropical. Em negrito, aparecem os versos como nós os cantamos. Em seguida, vêm em ordem direta. Nos parênteses, o sinônimo dos vocábulos mais difíceis. Vamos lá?
Hino Nacional
Letra: Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manoel da Silva
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante,
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
*
As margens plácidas (tranquilas, serenas) do Ipiranga ouviram
o brado (grito) retumbante (estrondoso) de um povo heroico.
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos (cintilantes),
brilhou no céu da Pátria nesse instante.
***
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
*
Se conseguimos conquistar o penhor (garantia)
dessa igualdade com braço forte, o nosso peito
desafia até a morte em teu seio, ó Liberdade.
***
Ó Pátria amada,
Idolatrada
Salve! Salve!
*
Ó Pátria amada,
Idolatrada (adorada, venerada)
Salve! Salve!
***
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
*
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido (intenso, vivo) de amor
e de esperança desce à terra se em teu formoso (belo) céu,
risonho e límpido (transparente), a imagem do Cruzeiro
(constelação do Cruzeiro do Sul) resplandece (brilha).
***
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza,
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
*
Gigante pela própria natureza, és belo, és forte,
impávido (destemido, corajoso) colosso (gigante).
E o teu futuro espelha (reflete) essa grandeza,
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
És mãe gentil (amável) dos filhos deste solo.
***
Deitado eternamente em berço esplêndido
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras, ó Brasil, florão da América,
Iluminado ao sol do Novo Mundo!
*
Ó Brasil, florão (abóbada, cúpula, joia da coroa) da América, (tu) fulguras
(brilhas)
iluminado ao sol do Novo Mundo deitado eternamente
em berço (território) esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo.
***
Do que a terra mais garrida
teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
“Nossos bosques têm mais vida”,
“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.
*
Teus campos risonhos e lindos têm mais flores,
nossos bosques têm mais vida,
nossa vida no teu seio (âmago, interior) mais amores
do que a terra mais garrida (enfeitada, graciosa).
***
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil de amor eterno seja símbolo
O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro desta flâmula:
Paz no futuro e glória no passado.
*
O lábaro (bandeira) que ostentas (exibes) estrelado
seja símbolo de amor eterno. E o verde-louro (verde-amarelo) desta
flâmula (bandeira) diga: paz no futuro e glória no passado.
***
Mas, se ergues da justiça a clava forte,
verás que um filho teu não foge à luta,
nem teme quem te adora
a própria morte.
*
Mas, se a clava (bastão usado como arma)
Forte da justiça (tu) ergues,
verás que um filho teu não foge à luta, nem teme a
própria morte quem te adora.
*
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!
“Guedes pede desculpas por ofensa a mulher de Macron”, escreveu o site do jornal. Leitores fizeram o que têm de fazer. Leram. Ops! Estranharam a falta do sinalzinho indicador de crase. No caso, estão presentes dois aa: a preposição exigida pelo verbo (a gente pede desculpas a alguém) e o artigo definido que acompanha o substantivo mulher de Macron: Guedes pede desculpas por ofensa à mulher de Macron.
Pintou a dúvida? Apele para o tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. Não precisa ser sinônima, mas é importante que respeite o número (singular ou plural). Se no troca-troca der ao, sinal de crase. Caso contrário, o acento não tem vez: Guedes pede desculpas por ofensas ao pai de Macron.
Eta parto difícil. Cadê a indicação do procurador-geral da República? Bolsonaro faz mistério. Outro dia, disse “O procurador-geral da República terá o valor de uma rainha no tabuleiro de xadrez”. Repórteres, loucos por novidade, escreveram sem pensar “raínha”. Assim, com o baita acentão no i. Confundiram Germanos com gêneros humanos. O i ganha grampinho quando quebra ditongo. É o caso de saída e egoísta.
Para tanto, preenche quatro condições:
1. ser antecedido de vogal: sa-í-da, e-go-ís-ta
2. formar sílaba sozinho ou com s: sa-í-da, e-goís-ta.
3. ser a sílaba tônica: sa-í-da, e-go-ís-ta.
4. não ser seguido de nh.
Ops! O i de rainha é seguido de nh. Daí ficar livre e solto como bainha, campainha, ladainha.