MORTA A TIROS. SEM CRASE. POR QUÊ?
A crase é feminista. Excluindo-se o caso dos pronomes demonstrativos (aquele, aquilo), o sinalzinho grave só tem vez antes de palavra feminina, clara ou subentendida: Obedecemos à lei. Assisti à novela O outro lado do paraíso. O cão é fiel à dona. Fui à Editora Geração, não à (editora) José Olympio. Canta à (moda de) Caetano Veloso.
O plural de ganha-pão? É ganha-pães. A dupla joga no time de guarda-roupas, beija-flores e lustra-móveis. Na composição de verbo mais substantivo, só o nome se flexiona. O companheiro fica no bem-bom.
O povo sabido diz que um é pouco, dois é bom, três é demais. Com a língua, a história muda de enredo. Um é suficiente. Por isso, não diga quantia de dinheiro. É redundância. Basta quantia.
As palavras gozam de plena liberdade. Passeiam na frase com desenvoltura. Às vezes, o sujeito aparece no início da oração. Outras, no meio. Aqui e ali, no fim. As voltinhas não se restringem ao sujeito. Boa parte dos termos lança mão do privilégio sem cerimônia. Mas o vai e vem tem limite.
Sabia? Há uma gangue especializada em roubar pontos e reputações. São três criaturas com uma característica — escrevem-se com azul. Diante delas, abra os olhos, limpe os ouvidos e vá em frente. Azul-marinho (ou marinho), azul-celeste e azul-ferrete são invariáveis: blusa azul-celeste, blusas azul-celeste, vestido azul-ferrete, vestidos azul-ferrete; calça azul-marinho, calças azul-marinho, sapato azul-marinho, sapatos azul-marinho; carro marinho, carros marinho, bicicleta marinho, bicicletas marinho.
Bastante é palavra encapetada. Pode ser adjetivo ou advérbio: Quando adjetivo, modifica o substantivo e se flexiona em número: motivos bastantes, bastantes vezes, bastantes recursos. Quando advérbio, é invariável: comer bastante, bastante caros, bastante tarde. Superdica: na dúvida, substitua bastante por muito. Se for adjetivo, o dissílabo se flexiona (motivos muitos, muitas vezes, muitos motivos). Se advérbio, mantém-se invariável (comer muito, muito caro, muito tarde).