Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 21 de novembro de 2020
PRONÚNCIA, BELEZAS E MESAS, GRATUITO & CIA.
Carla é linda. Loura, olhos azuis, peso de manequim, pernas longas, andar ondulado como as ondas do mar. Ela tem um sonho. Quer fazer televisão. Qualidades não lhe faltam. Submeteu-se a teste na CNN. Fotogênica, ultrapassou o primeiro obstáculo. Depois, veio a prova de locução. O texto era simples, mas cheio de ciladas. Numa, ela caiu como sereia:
— A entrada é gratuita.
A bela pôs um baita acento no i. Bobeou. Esqueceu-se de lição pra lá de repetida. Gratuito joga no time de circuito e fortuito. O ui forma ditongo. As duas letrinhas se pronunciam numa só emissão de voz. Ficam na mesma sílaba.
É isso. Beleza nem sempre põe mesa.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 20 de novembro de 2020
HENRY THOREAU: PODER DA LEITURA
“Muitos homens iniciaram nova era na vida a partir da leitura de um livro.”
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 19 de novembro de 2020
HINO À BANDEIRA TIM-TIM POR TIM-TIM
Viva! Hoje é Dia da Bandeira. O pendão da esperança tremula no ar. O símbolo nacional nasceu em 1889, pouco depois da Proclamação da República. A obra não se deve a um só homem. Vários brasileiros ajudaram na tarefa. Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos se encarregaram do projeto. Décio Valadares, da arte. Desenhou o retângulo verde, o losango amarelo, o círculo azul e a faixa branca.
O hino veio mais tarde. O prefeito do Rio de Janeiro Francisco Pereira Passos teve a ideia. Convidou o poeta Olavo Bilac para compor a letra. E Francisco Braga, professor da Escola Nacional de Música, para bolar a música. Em 1906, a prefeitura adotou a canção. A meninada nas escolas a interpretava. Todos aplaudiam. Aos poucos, a moda pegou. Os militares aderiram. Os estados também.
Desafios
Hoje o hino enfrenta dois problemas. Um deles: poucos o cantam. O outro: poucos o entendem. É natural. Ele completou 114 anos. Em um século, a língua muda. Palavras se aposentam. Gostos se alteram. A ordem inversa, antes o chique do chique, perdeu prestígio. Cedeu lugar à ordem direta.
E daí? Nada de reclamações estéreis. O jeito é dar um jeito: ganhar intimidade com estrofes & cia. Em homenagem ao pendão verde-amarelo, a coluna dá uma ajudinha a alunos, professores e curiosos. Põe os versos em ordem direta. E, de quebra, troca os vocábulos metidos a besta por outros mais simples. Resultado: o leão é mando como o leão lá de casa.
Hino da Bandeira
Salve, lindo pendão da esperança,
Salve, símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da pátria nos traz.
(Salve, linda bandeira da esperança, salve, símbolo majestoso da paz, tua nobre presença nos traz à lembrança a grandeza da pátria.)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil.
(Recebe o carinho guardado em nosso peito jovem, querido símbolo da terra, da amada terra do Brasil.)
Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
(Tu retratas este céu de azul puríssimo, o verdor ímpar destas matas e o esplendor do Cruzeiro do Sul em teu interior formoso.)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil.
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever;
E o Brasil, por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser.
(Compreendemos o nosso dever ao olhar o teu vulto sagrado. E o Brasil, amado pelos filhos, poderoso e feliz há de ser.)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil.
Sobre a imensa nação brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre, sagrada bandeira,
Pavilhão da justiça e do amor.
(Sagrada bandeira, bandeira da justiça e do amor, esteja sempre sobre a enorme nação brasileira nos momentos de festa ou de dor.)
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 18 de novembro de 2020
O PODER 360 GRAUS TROPEÇOU NO PORQUÊ
“Uma tarefa urgente: entender porque os trumpismos são fortes”, escreveu o Poder 360 Graus. Viu? Tropeçou no porquê.
O porquê ora aparece junto. Ora separado. Ora com acento. Ora sem o chapeuzinho. Não há quem não hesite na hora de escrever uma forma ou outra. Muitos chutam. Mas, como a língua não é loteria, o que pode dar errado dá. Melhor aprender as manhas da caprichosa criatura. Use:
Por que
- nas perguntas diretas: Por que os trumpismos são fortes?
- nos enunciados em que é substituível por “a razão pela qual”: Uma tarefa urgente: entender por que (a razão pela qual) os trumpismos são fortes.
Por quê
A dupla com chapéu só tem vez quando o quezinho for a última — a última mesmo — palavra da frase. Por quê? Ele é átono. No fim do enunciado, torna-se tônico. O acento lhe dá a força: Os trumpismos são fortes por quê? Os trumpismos são fortes, mas poucos sabem por quê.
Porque
Com essa cara, juntinho, sem lenço nem documento, porque é conjunção causal ou explicativa: Os trumpismos são fortes porque têm apoio de poderosos.
Porquê
Assim, coladinho e com chapéu, o porquê se torna substantivo. E, como substantivo, tem plural. Para mudar de classe, precisa da companhia do artigo ou de pronome: Explicou o porquê da força dos trumpismos. Certos porquês quebram a cabeça da gente. Esse porquê se inspira em outro porquê.
Resumo da ópera
Não há por que temer os porquês. Quem entendeu a lição sabe por quê.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 17 de novembro de 2020
JORGE AMADO: VIVER E CONVIVER
“Se viver não é fácil, conviver é desafio permanente.”
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 16 de novembro de 2020
FAVAS COTADAS: ELEIÇÃO E HISTÓRIA CURIOSA
Sabia? A expressão favas contadas tem tudo a ver com eleições. Foi há muuuuuuuito tempo. No Império, o voto eram favas. As brancas dizim sim. As pretas, não. Na apuração, separavam-se as cores. Venciam as que tinham o maior número. Sem choro nem vela.
Com o tempo, a duplinha abandonou as urnas, bateu asas e voou. Ganhou a boca do povo e novos empregos. Mas manteve fidelidade ao significado original. Favas contadas é fato consumado: A eleição de Biden são favas contadas. Trump dizia que sua reeleição eram favas contadas. Enganou-se.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 15 de novembro de 2020
VICTOR HUGO: A PALAVRA
“A palavra, como se sabe, é um ser vivo.”
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 14 de novembro de 2020
ESTUPRO OU ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR?
Até 2009, a vítima de estupro era só mulher. Nesse ano, a Lei 12.015 promoveu alterações no Código Penal. Revogou o crime de atentado ao pudor e o fundiu ao de estupro. Em português claro: o crime contra a dignidade sexual desconhece gênero.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 13 de novembro de 2020
ADERIR: CONJUGAÇÃO
Outubro se foi. Com ele, o rosa se despiu de prédios e monumentos. A cor símbolo do feminino cedeu o trono ao azul, marca do masculino. A mudança tem explicação. Mulheres e homens precisam conjugar o verbo prevenir em vez de remediar. Detectar o câncer de mama ou de próstata com antecipação é receita certa de cura. Se deixar o mal avançar, a história muda de enredo. Olho vivo!
Que tal dizer sim à campanha? O primeiro passo é conjugar o verbo aderir. Ele joga no time de prevenir. Um e outro se conjugam do mesmo jeitinho: prefiro (adiro), prefere (adere), preferimos (aderimos), preferem (aderem); preferi (aderi), preferiu (aderiu), preferimos (aderimos), preferiram (aderiram). E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 12 de novembro de 2020
PREFEITÁVEL OU PREFEITURÁVEL?
Covas, Marta Rocha & cia. são prefeitáveis ou prefeituráveis? Eles são prefeitáveis — candidatos a prefeito. Prefeituráveis são as pessoas aptas a trabalhar numa prefeitura, incluído o prefeito.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 11 de novembro de 2020
NOVEMBRO AZUL: A MALANDRAGEM DA COR
Menina se veste de rosa. Menino, de azul. A discriminação imperava nos tempos da vovó. Como não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe, os anos passaram, os costumes mudaram e as cores se libertaram do sexo. Garotas e garotos deitam e rolam em azuis, rosas, roxos, vermelhos, brancos e pretos.
Mas a tradição se impôs em dois momentos. O outubro é rosa. O novembro, azul. São dois meses dedicados a campanhas educativas. Chamam a atenção de mulheres e homens para a importância de prevenir o câncer. Elas, de mama. Eles, de próstata. A cruzada vale a pena. Ensina que, muitas vezes, a saúde e a vida estão nas mãos de cada um. Xô, bobeira!
A deixa
Na natureza nada se perde, tudo se aproveita. Na língua também. Vale explorar a deixa do evento. É o azul. Nem as pessoas nem as cores são iguais. O azul tem variações — azul-bebê, azul-celeste, azul-ferrete, azul-marinho, azul-turquesa, azul-violeta. Elas podem funcionar como adjetivos (blusa azul-celeste) ou substantivos (o azul-celeste). A classe gramatical faz a diferença. E arma ciladas.
Lição 1
O adjetivo é invariável. Masculino ou feminino, singular ou plural, é tudo igual. O capricho se explica. Oculta, encontra-se a locução da cor: lençol (da cor) azul-bebê, lençóis (da cor) azul-bebê, toalha (da cor) azul-bebê, toalhas (da cor) azul-bebê; blusa (da cor) azul-celeste, blusas (da cor) azul-celeste; calção (da cor) azul-celeste, calções (da cor) azul-celeste; sapato (da cor) azul-marinho, sapatos (da cor) azul-marinho; blusa (da cor) azul-marinho, blusas (da cor) azul-marinho; blusas (da cor) marinho, blusas (da cor) marinho.
Lição 2
O substantivo joga em outro time. De cara lavada, sem nada oculto, não tem saída. Varia: o azul-bebê, os azuis-bebês (ou azuis-bebê); o azul-celeste, os azuis-celestes; o azul-marinho, os azuis-marinhos, o azul-turquesa, os azuis-turquesas (ou os azuis-turquesa), o azul-violeta, os azuis-violetas (ou azuis-violeta).
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 10 de novembro de 2020
ESTUPRO CULPOSO? CONTA OUTRA!
Mário Quintana disse que a mentira é a verdade que se esqueceu de acontecer. Pensando nisso, o juiz Rudson Marcos, ao julgar o empresário André de Camargo Aranha, que estuprou Mariana Ferrer, criou a tal história do “estupro culposo”.
Baseou-se na classificação de crime. O culposo ocorre quando não há a intenção de matar. Uma criança, brincando na sacada do 3º andar, deixa o vaso de flores cair. O objeto atinge a cabeça de um jovem, que perde a vida. Vamos combinar: nem a mais fértil das fantasias poderia supor que a criaturinha quis matar o passante.
O crime doloso muda de enredo. Ou a maldade é planejada tim-tim por tim-tim, ou o bandido tem a consciência do risco que corre. Ao estuprar a moça, o ilustre senhor sabia que estava praticando ato ilegal. Foi em frente. O advogado, vulgo Gastãozinho, defendeu a tese esdrúxula. O homem não teve a intenção de estuprar? Conta outra.
Sobre o caso
“Falar em estupro culposo é machismo doloso.” (Novartis)
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“Chegou um boleto culposo aqui em casa. É quando você compra sem intenção de pagar.” (anônimo)
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“O sistema de Justiça deve ser instrumento de acolhimento, jamais de tortura e humilhação.” (Gilmar Mendes)
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“Pelos meus clientes, vou até o inferno, mas não entro nele.” (Gastãozinho, advogado do estuprador)
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 09 de novembro de 2020
ESTUPRO: PRONÚNCIA, ETIMOLOGIA E CURIOSIDADE
O estupro de Mariana Ferrer virou manchete. Frequentou os noticiários de Europa, França e Bahia. Mas aqui ganhou ingrediente adicional. Trata-se da pronúncia. Muitos trocam letras de lugar. Dizem “estrupo”. O r, contrariado, bate pé e exige o lugar que o dicionário lhe dá — a última sílaba. “Os últimos serão os primeiros”, afirma convicto o estupro.
Origem
Estupro deriva do latim stuprum. Ao longo da vida, a palavra ganhou dois sentidos. O primeiro: mancha, desonra, vergonha. O segundo: violência, atentado ao pudor — crime que consiste em constranger alguém a manter relações sexuais por meio da força.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 08 de novembro de 2020
HÍFEN: A IRA DE DEUS
A Terra tinha uma só língua e um só modo de falar. Ninguém precisava estudar inglês, francês, alemão ou árabe. Todos se entendiam. A harmonia reinava. “Que monotonia”, bocejaram os homens. “Vamos agitar?” Pensa daqui, palpita dali, eureca! Decidiram construir uma torre que os levasse ao céu — a Torre de Babel. Nas alturas, as coisas seriam mais animadas.
A obra subiu célere. Deus, ao ver a ousadia, irou-se. O castigo veio sem demora – a criação de 6.800 línguas. Os pedreiros não entenderam mais o mestre de obras, que não entendeu mais o engenheiro, que não entendeu mais o arquiteto, que não entendeu mais os fornecedores. O esqueleto ficou ali, inacabado. Babel virou substantivo comum. Significado: confusão de línguas.
Caos divino
Sem comunicação, as criaturas se dispersaram. Pior: cada língua recebeu punição à parte. O chinês ficou com os milhares de ideogramas. O inglês, com a escrita diferente da pronúncia. O francês, com a praga dos acentos. O alemão, com as palavras coladas, tão compridas quanto a cobra que tentou Eva no paraíso.
E o português? Ganhou o hífen. Deus pegou um montão de hifens na mão direita, um montão de palavras na esquerda e jogou tudo pro alto. O resultado? A confusão que todos conhecem. Algumas palavras se ligaram com hífen. Outras se colaram como unha e carne. Houve também as que dobraram letras.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 07 de novembro de 2020
HÍFEN: NORTE, SUL E CENTRO
Norte-americano, norteamericano ou norte americano? Entre no cassino de Donald Trump e faça sua aposta. Escolheu a primeira opção? Acertou. Norte e sul pedem hífen na formação de adjetivos pátrios: norte-americano, norte-coreano, norte-rio-grandense, sul-americano, sul-coreano, sul-vietnamita, sul-asiático, sul-africano.
Centro
Entre os extremos, fica o meio. Como lidar com ele? Do mesmo jeitinho. Centro exige tracinho na formação de adjetivos: centro-americano, centro-asiático, centro-africano, centro-direita, centro-esquerda.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 06 de novembro de 2020
ÍDOLO, MONSTRO & CIA.: MASCULINO OU FEMININO?
Vítima joga no time de criança, pessoa, criatura, indivíduo, ídolo, gênio, anjo, testemunha, cônjuge, defunto & cia. Todos têm o mesmo gênero para o masculino e feminino. A pessoa, a criança, o defunto podem se referir a homem e a mulher. Como sair da enrascada?
Impõe-se distinguir o gênero. É fácil. Basta fornecer indicações que esclareçam o ouvinte ou o leitor: A criança que sofreu o acidente é uma menina de 3 anos. A criança que ganhou a partida é um menino de 8 anos.
Mais: A testemunha João da Silva estava atenta. A testemunha Maria Souza chegou com atraso. Fernanda Montenegro é ídolo dos amantes do teatro. Pelé é ídolo dos esportistas. Meu neto é um anjo. Minha neta é um anjo. Bibi Ferreira foi monstro dos palcos. Paulo Autran foi outro monstro.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 05 de novembro de 2020
URNA: ETIMOLOGIA E CURIOSIDADE
Em época de eleição no norte e no sul, fala-se em ir às urnas. A palavra é tão familiar que, quando usada, dispensa explicações. Sabemos que é o recipiente onde se depositam (ou a máquina onde se digitam) os votos de uma eleição: O americano foi às urnas ontem. Os governantes têm de ouvir a voz das urnas. Esperamos o resultado das urnas.
Nem sempre o vocábulo teve esse significado. Quando nasceu, no latim, urna dava nome a um grande jarro de cerâmica usado para transportar água ou para guardar as cinzas dos mortos cremados. No séc. 16, o termo passou a designar, no português, o recipiente onde se colocam as pedras para os sorteios ou os votos de uma eleição. O sentido inicial bateu asas e voou. Ficou nos dicionários.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 04 de novembro de 2020
TIO SAM: QUEM É?
Tio Sam personifica os Estados Unidos. De barbicha e bigode, trajada de casaca e calças listradas como a bandeira americana, a criatura nasceu lá por 1812. Dizem que a imagem é reprodução de uma figura de carne e osso. De quem?
É aí que a porca torce o rabo. Certeza não há. Uns dizem que é Samuel Wilson, poderoso inspetor federal que tirava o sono dos fornecedores de carne para o exército. Outros falam em Jack Downing, amigo do presidente Andrew Jackson. O último citado é o deputado David Crockett, pioneiro do Oeste que morreu na Batalha de Álamo em 1836.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 03 de novembro de 2020
SÃO OU SANTO?
Hoje é Dia de Todos os Santos. Tratar seres tão especiais requer cuidado. Ora nos referimos a eles como santo, ora como são. As duas palavrinhas têm o mesmo significado. Querem dizer indivíduo que foi canonizado. São é forma apocopada. Preguiçosa, deixou a última sílaba no caminho como frei (freire), bel (belo), mui (muito).
A vez de cada um
Quando dar a vez a são e a santo?
Use santo quando seguido de nome iniciado por vogal ou h: Santo Antônio, Santo Agostinho, Santo Hilário.
Dê passagem ao são nos demais casos: São Bento, São Carlos, São Caetano.
Exceção?
Há dois indecisos: São Tomás ou Santo Tomás, São Borja ou Santo Borja.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 02 de novembro de 2020
DIA DE TODOS OS SANTOS
Por que 2 de novembro é Dia de Finados? A resposta tem a ver com 1º de novembro. No Dia de Todos os Santos, homenageiam-se os santos que não têm data especial no calendário. Há muitos mortos que não são lembrados durante o ano. Em 2 de novembro, as preces do céu e da Terra os alcançam. Amém.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 01 de novembro de 2020
POR QUE BRUXA SE ESCREVE COM X?
Hoje é Dia das Bruxas. Os americanos o comemoram. Nós nem ligamos pras coitadas. Deixamo-las lá, montadas na vassourinha. Mas elas, generosas, ensinam uma lição. X ou ch? Depois de bru, não vacile. É a vez do x: bruxa, bruxaria, bruxulear, Bruxelas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 31 de outubro de 2020
ASPAS: QUANDO USAR
A ordem é parcimônia. Fuja das aspas como o rato foge do gato. Só recorra a elas quando não puder escapar. Empregue-as em:
- Citação:
“No futebol, o pior cego é o que só vê a bola.” (Nélson Rodrigues)
“A gente nasce com um montão de palavras na barriga. Na vida, vai falando e gastando o estoque. Quando todas acabam, a gente morre.” (pensamento africano)
- Declaração literal:
O presidente criticou, indignado, o que o deputado chamou de “oportunismo eleitoreiro”.
- Palavras empregadas em sentido diferente do habitual (em geral com ironia):
Os participantes dos arrastões querem “administrar” os bens dos banhistas.
O presidente do partido cedeu “cordialmente” alguns de seus segundo no programa eleitoral para o concorrente.”
- Nome de artigo de jornal, título de matéria, capítulo de livro, poema, crônica, conto e similares:
Na matéria “O que dizem as pesquisas?”, publicada …
O conto “Dia da caça”, de Rubem Fonseca, faz parte do livro O cobrador.
Conhece o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira?
Li o artigo “A defesa do consumidor”, de Paulo da Silva.
A crônica “Dar um jeitinho”, de Rubem Braga, retrata, com leveza e humor, a característica 100% brasileira.
5. Apelidos, codinomes, alcunhas quando não vulgarizados (use aspas só na primeira referência): Rodrigo Maia, o “Nhonho”; Rodrigo “Nhonho” Maia; Luiz Eduardo Ramos, o “Maria Fofoca”; Luiz Eduardo “Maria Fofoca” Ramos”; Valter Machado, o “Machadão”; Adílson “Maguila” Rodrigues.
6. Na continuação do texto, se precisar referir novamente o apelido, faça-o com a naturalidade de quem anda pra frente — sem aspas: Nhonho, informado do tuíte de Ricardo SAlles, reagiu com tal veemência que obrigou o ministro do Meio Ambiente a se retratar.
7. Se o apelido é incorporado oficialmente ao nome, as aspas não têm vez: Xuxa, Luiz Inácio Lula da Silva, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.
Olho vivo
Na transcrição de discursos, documentos e similares, abrem-se aspas no começo do texto e fecham-se só no final, não a cada início de parágrafo.
Se, porém, for acrescentado algum título auxiliar ou intertítulo, fecham-se as aspas antes dele e abrem-se depois.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 30 de outubro de 2020
PEDIR QUE OU PEDIR PARA? DEPENDE.
Candidatos pedem votos. Por isso, pedir é um dos verbos mais conjugados na campanha. Usá-lo como manda a regência pega bem como agradecer uma gentileza ou dar bom-dia ao entrar no elevador. Olho na preposição:
Pedir para age às escuras. Como quem não quer nada, esconde a palavra licença. Assim: O filho pediu ao pai (licença) para sair à noite. O aluno pedirá ao professor (licença) para entregar o trabalho com dois dias de atraso. Peçamos (licença) para sair.
Pedir que gosta de clareza. Ao usar a duplinha, a pessoa solicita (não pede licença): O diretor pediu que todos colaborassem. O presidente pede que os manifestantes se contenham. O sacerdote pedirá que os fiéis colaborem com a causa.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 29 de outubro de 2020
TIPO DE DISCURSO: SIM... MAS
A língua tem manhas. Uma delas é o discurso sim…mas. Ao usá-lo, tenha uma certeza — vale o que vem depois do mas. A conjunção suaviza o que foi dito e enfatiza o que vem no fim: O prefeito fez muito, mas obteve poucos resultados. O candidato tem boas intenções, mas o programa não diz nada. Maria estuda muito, mas tira notas baixas.
Reparou na malandragem? A frase elogia, mas, em seguida, desqualifica. Pega bem ser generoso. Basta mudar a ordem: O prefeito obteve poucos resultados, mas fez muito. O programa não diz nada, mas o candidato tem boas intenções. Maria tira notas baixas, mas estuda muito.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 28 de outubro de 2020
POR QUE PESQUISAR SE ESCREVE COM S E REVEZAR COM Z?
A palavra mais ouvida nos últimos dias? É pesquisa. Datafolha, PoderData & cia. fazem mais sucesso que novela. Tanta popularidade cobra preço alto. Ao escrever a trissílaba e respectiva filharada, muitos tropeçam na grafia. Dão a vez ao z em vez do s. Esquecem-se de pormenor pra lá de importante.
Na língua, impera esta regra: a família acima de tudo. Se o paizão se grafa com s, os descendentes conservam a letrinha. É o caso de pesquisa, pesquisar, pesquisador, pesquisado, pesquisinha, pesquisona. É o caso também de camisa, camisaria, camiseiro, camisinha, camisola. É o caso ainda de país, paisinho, paisão, paiseco.
Sem exceção
A regra não é privilégio do s. Vale para as demais letras. Viajar, por exemplo, se escreve com j. Todas as formas do verbo serão fiéis a ele: viajo, viaja, viajamos, viajam; viaje, viajes, viajemos, viajem.
Nariz, rapaz, capuz, raiz, juiz e vez exibem z. A lanterninha do alfabeto permanece firme e forte nos derivados: narizinho, rapazinho, rapazote, capuzinho, encapuzar, raizinha, enraizar, enraizado, juízo, ajuizar, vezinha, vezeiro, revezar.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 27 de outubro de 2020
EMBAIXADINHA: ETIMOLOGIA CURIOSA
Pelé sobressaiu em todas as jogadas. Brilhou nos dribles, nas bicicletas e nas embaixadas. Hábil, dava sucessivos toques na bola – com os pés, as coxas, os ombros ou a cabeça – sem que ela tivesse contato com o chão. O espetáculo se chama embaixada. Mas o nome não tem nada a ver com representação diplomática, Itamaraty & cia. Tem a ver com a forma como se toca na pelota – por baixo. Malandro, o pé começa a manobra embaixo da redonda.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 26 de outubro de 2020
PELÉ: ETIMOLOGIA DE MAJESTADE
Como caracterizar 2020? Não faltarão adjetivos. Um deles é surpreendente. Em 10 meses aconteceu de tudo – de pandemia a dinheiro na cueca. Valha-nos, Senhor! Mas, aqui e ali, pintam boas notícias. Uma delas relembra velhos tempos, traz alegria e brilho nos olhos: Pelé completa 80 anos.
Quem não assina embaixo destas palavras do Rei do Futebol? “As pessoas tentam encontrar um novo Pelé, mas isso não pode ser. Como na música, em que só existe um Frank Sinatra e um Beethoven, ou nas artes, com um único Michelangelo, no futebol só há um Pelé.“ Data tão especial mereceu livro novo – De casaca e chuteiras, de Silvestre Gorgulho, lançado no Museu do Futebol.
Sua Majestade
O tratamento dado a rei é majestade. Por quê? Majestas, em latim, quer dizer poder. Na língua dos Césares e na de Camões, Pessoa, Machado & cia. talentosa, majestade, majestoso, majestático & derivados se escrevem assim, com j.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 25 de outubro de 2020
CUECA: ETIMOLOGIA
A história do dinheiro na cueca deixou meio mundo curioso. Qual a etimologia do cofre do senador? Cueca tem duas partes. Uma vem do latim culus, que quer dizer cu, ânus, bunda. A outra vem do grego eca, que significa domicílio. Em português claro: cueca é a casa do…bumbum.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 24 de outubro de 2020
MANHAS DO ENCANTAMENTO 3: TRUQUE DOS TRÊS
Ninguém sabe por quê. Mas trios bajulam os ouvidos. Pai, Filho e Espírito Santo formam a Santíssima Trindade. Liberdade, igualdade e fraternidade são os lemas da Revolução Francesa. Governo do povo, para o povo, pelo povo, proclamou Abraham Lincoln. Vim, vi e venci, orgulhou-se Júlio César.
Nas enumerações, o três faz mágicas. Pense em três itens para agrupar: O candidato colecionou desafetos ao combater o divórcio, o homossexualismo, a igualdade de gêneros. O estilo deve ter três virtudes: clareza, clareza e clareza.
Vamos trabalhar com afinco, vontade e competência.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 23 de outubro de 2020
MANHAS DO ENCANTAMENTO 2: ECO, CACÓFATO E HARMONIA
Rima é qualidade da poesia, mas defeito na prosa. Recebe, então, o nome de eco. Como descobri-lo? Leia o texto em voz alta. Ocorre repetição de sons iguais ou semelhantes? Mande-os pras cucuias:
Eco
Houve provocação e confusão na reunião da diretoria.
Cruz-credo! Tantos ãos provocam otite. Xô, eco! Assim: Houve provocação e tumulto no encontro da diretoria.
Cacófato
Ops! De vez em quando, ocorrem encontros indesejados. O fim de uma palavra se junta com o começo de outra. Forma-se, então, uma criatura indesejada: Pagou R$ 10 por cada peça. Lá tinha muitos amigos. Deu uma mãozinha à vizinha. Maria diz que nunca ganha nada na loteria.
Harmonia
Palavras e frases devem conversar sem tropeços, ecos ou repetições. O resultado é a harmonia. Como alcançá-la? Há caminhos. Um deles: o metro. A colocação dos termos é a chave — o mais curto (com menor número de sílabas) deve vir na frente do mais longo. Quer ver? Leia os períodos em voz alta:
- O presidente pediu aos deputados que votassem a PEC em regime de urgência urgentíssima.
- O presidente pediu aos deputados que votassem, em regime de urgência urgentíssima, a PEC.
Viu? O 2º dá a impressão de que lhe falta alguma coisa. Mas não falta. Ele está gramaticalmente certinho. A sensação de incompletude se deve ao tamanho dos termos. Em regime de urgência urgentíssima tem 13 sílabas. A PEC, duas. Daí o desequilíbrio.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 22 de outubro de 2020
MANHAS DO ENCANTAMENTO 1: PRONÚNCIA
A língua encanta. Harmonias e ritmos seduzem ouvidos e arrebatam corações. Como chegar lá? Não há necessidade de mágicas nem invenções. Basta manejar com engenho e arte o código de que dispomos — organizar as palavras de tal forma que a frase ganhe fluência e ritmo. Veja a dica.
Pronúncia
O respeito à sílaba tônica da palavra acaricia os ouvidos. Vocábulos terminados em a, e e o são paroxítonos (cadeira, tacape, livro). Em i e u, oxítonos (tupi, cajus). Se algum foge à regra, vem acentuado. Agudos e circunflexos indicam que a sílaba tônica se desviou da norma: sofá, você, vovó, táxi, ônus, lâmpada.
Rubrica, recorde e ibero terminam em a, e e o. Sem acento, jogam no time das paroxítonas. As sílabas fortes são bri,cor e be. Álibi termina em i. Mas ostenta grampinho no a. Resultado: tornou-se proparoxítona.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 21 de outubro de 2020
LESO-FUTURO OU LESA-FUTURO?
Leso é adjetivo. Deve concordar em gênero e número com o substantivo a que se refere: lesa-pátria, lesas-pátrias, leso-futuro, lesos-futuros.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 20 de outubro de 2020
HÍFEN: ULTRA
Bolsonaro fez cirurgia na semana passada. Tirou cálculos da bexiga. Na segunda, voltou ao hospital pra avaliação. Fez ultrassom. Trouxe às manchetes o prefixo ultra-. Ele pede hífen quando seguido de h ou a. No mais, é tudo colado (ultra-higienizador, ultra-armado, ultravioleta). Quando seguido de palavra começada por s ou r, dobra a letra pra manter a pronúncia: ultrassom, ultrarrápido.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 19 de outubro de 2020
TRÁFEGO E TRÁFICO: EMPREGO
Eta semana pesada! Nos sete dias, imperou um assunto – a libertação de André do Rap. O chefão do PCC saiu da cadeia de segurança máxima pela porta da frente. Fez agrados no advogado, entrou no carro, bateu asas e voou. Para onde? Sabe-se lá. Suspeita-se de Paraguai e Bolívia.
Sem confusão
O noticiário, claro, falou em tráfico. Alguns escreveram tráfego. Pintou, então, a dúvida: há diferença entre as duas palavras? Há. E põe diferença nisso. É tão grande quanto a distância entre água e azeite. Veja:
Tráfego = trânsito, grande atividade, afã, comércio: tráfego aéreo, tráfego marinho, tráfego rodoviário.
Tráfico = comércio, não necessariamente ilícito. Daí se dizer tráfico ilegal ou tráfico ilícito. Melhor evitar confusão. Use tráfico só na acepção de comércio ilícito: tráfico de droga, tráfico de influências, tráfico de mulheres.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 18 de outubro de 2020
COR-DE-ROSA: POR QUE O HÍFEN?
A campanha Outubro Rosa veste os monumentos de cor-de-rosa. Trata-se de forma charmosa de chamar a atenção para a necessidade de prevenir o câncer de mama. À noite, as cidades ganham toque de magia. Os cidadãos circulam pelas ruas encantados. Fotografam. Postam comentários e imagens nas redes sociais. É um show.
Sai ano, entra ano, ao divulgá-la, pinta a pergunta. Por que cor-de-rosa se escreve com hífen e as demais cores não? São artes da reforma ortográfica. Antes, cor de laranja, cor de carne, cor de vinho, cor de abóbora se grafavam com o tracinho. Agora, circulam livres e soltas. E cor-de-rosa? É a exceção que confirma a regra.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 17 de outubro de 2020
ENSINAR: REGÊNCIA
O professor ensina. O aluno aprende. Certo? Em parte. Volta e meia, os papéis se invertem. Com a moçada pra lá de informada, mestres se atualizam com garotos e garotas que adoram dividir conhecimentos. Basta ter humildade e curtir. De quebra, lembrar a regência do verbo que enriquece uns e outros.
No sentido de dar instrução, a gente ensina alguma coisa a alguém: O professor ensinou a conjugação verbal ao aluno. João ensina os truques da informática ao irmãozinho Rafael. A leitura ensina as belas lições a adultos e crianças.
O ou lhe?
Quer substituir os complementos pelo pronome átono? Fique esperto. O alguma coisa é objeto direto. Pede o pronome o ou a. O alguém é objeto indireto. Exige o lhe. Assim:
O professor ensinou a lição ao aluno. O professor a ensinou ao aluno. O professor lhe ensinou a lição.
João ensina os truques da informática a Rafael. João os ensina a Rafael. João lhe ensina os truques da informática.
A leitura ensina as belas lições a adultos e crianças. A leitura as ensina a adultos e crianças. A leitura lhes ensina as belas lições.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 16 de outubro de 2020
TRÂNSITO E TRANSIBERIANO: POR QUE A PRONÚNCIA DIFERENTE DO S?
O s que aparece na palavra trânsito soa z. O que aparece na palavra transubstanciação soa ss. Por quê? Ambos os vocábulos são formados pelo prefixo trans-. A resposta está no que vem depois.
Trânsito, como transigir, transatlântico, transar e transístor, é seguido por letra diferente de s: trâns(ito), trans(igir), trans(atlântico), trans(ar), trans(ístor).
Transubstanciação, como transiberiana, transumir e transugar, é seguida de palavra começada por s. Viu? S de um lado e s de outro são dose dupla. Na escrita, um deles some. Mas na pronúncia soa como se estivesse presente: trans(substanciação), trans(siberiana), trans(sumir), trans(sugar).
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 15 de outubro de 2020
PROFESSOR, HERÓI DA PANDEMIA
Datas comemorativas exercem papel que vai além de cumprimentos, presentes e palavras bonitas. Elas jogam os holofotes sobre fatos que merecem ser vistos com mais atenção. Por figurarem no calendário, ganham espaço na mídia e sobressaem da normalidade inercial.
Como Jano, o deus de duas caras da mitologia greco-romana, impõem um olhar para o passado e outro para o futuro. Em outras palavras: analisam o que foi feito e traçam os avanços para o aperfeiçoamento contínuo. Daí a relevância do Dia da Mulher, Dia do Trabalho, Dia de Finados, Dia da Abolição da Escravatura.
Hoje é Dia do Professor. Ao lado do médico, que salva vidas, o mestre salva o futuro. Na pandemia, que pegou o mundo de surpresa e as escolas despreparadas, gigantes multiplicaram as forças, buscaram saídas e retiveram os alunos no sistema escolar. Trocaram o pneu com o carro em alta velocidade.
De um lado, se familiarizaram com a tecnologia – negligenciada nos cursos de pedagogia, cujos currículos olham para o século 20 e ignoram os desafios da contemporaneidade. Prepararam e ministraram conteúdos de forma remota. De outro, ficaram atentos aos excluídos.
Sem acesso a computador ou a internet, eles corriam o risco de ver ampliar-se o fosso da marginalidade. Professores, a exemplo dos médicos que repetem o mantra “nem um a menos”, levaram material impresso para a casa das crianças e orientaram a aprendizagem.
Acionaram ONGs, igrejas, clubes sociais, rádios comunitárias e deram aula ao ar livre para conservar o elo aluno-escola. Muitos pegaram barco para chegar às populações ribeirinhas. Outros, bicicletas, carroça ou o próprio carro. Eles sabem que o evadido do convívio dos livros corre sério risco de figurar na lista dos jovens cujo destino termina com c – caixão ou cadeia.
Os quase 2,5 milhões de docentes brasileiros merecem o reconhecimento do imperador japonês, que só faz reverência ao mestre. Ou as palavras de D. Pedro II, que repetia com sinceridade: “Se eu não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências juvenis e preparar os homens do futuro”.
Além dos mestres, os 57 milhões de estudantes, as respectivas famílias e os brasileiros em geral esperam as palavras de Milton Ribeiro. O ministro da Educação deve desculpas à nação. Em entrevista, disse que “ser professor é ter quase uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”. Melhor reconhecer: a pessoa conseguiria ser o que quisesse. Escolheu ser professor. A pandemia serve de prova.
(Editorial do Correio Braziliense de hoje)
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 14 de outubro de 2020
ALUNO REPROVADO DE ANO? NÃOOOOOOOO!
“Com a pandemia, alunos reprovam em disciplinas consideradas fáceis”, disse o diretor. Certo? Não. No caso, alunos não praticam a ação de reprovar. Sofrem-na. Em vez de agente, será paciente da ação. Compare:
O professor (agente) reprova o aluno (paciente). O aluno (paciente) foi reprovado pelo professor (agente). Reparou? Na voz ativa ou passiva, o rei mantém a majestade. Em bom português: o professor reprova. O aluno é reprovado.
O mesmo vale para aprovar: Maria foi aprovada com louvor em português e matemática. O Conselho Nacional de Educação sugere que professores aprovem os alunos em 2020. Deixem a avaliação para 2021.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 13 de outubro de 2020
ZERO ANO? NÃOOOOOOOO!
Vícios não faltam. Um deles está cada vez mais atrevido. Aparece em jornais, revistas, propagandas, embalagens de brinquedos, vitrines de lojas. O que é? O que é? Trata-se da indicação de idade. É a receita do cruz-credo — de 0 a 2 anos, de 0 a 3 anos, de 0 a 6 anos. Pra que apressar o calendário? São necessários nada menos que 365 dias para o nenê completar um ano. Melhor respeitar o ritmo da natureza. Que tal indicado para crianças de até 2 anos?
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 12 de outubro de 2020
ETIMOLOGIA: BRINQUEDOTECA, VIDEOTECA & CIA.
Oba! É Dia da Criança. A meninada faz a festa. Além da folga mesmo com aulas remotas, garotas e garotos ganham presentes. A oferta não tem fim. Bonecas, carrinhos, trens, bolas, super-heróis, jogos, bicicletas, celulares, tablets, computadores se oferecem sem cerimônia. Eta tentação!
Bons clientes, eles não resistem à oferta. Os pais põem a mão no bolso e atendem os pidões. Resultado: a casa vira loja de brinquedos. Organizá-los requer tempo e paciência. A criança ajuda. Mas desiste logo, atraída por novos apelos.
Eureca
O que fazer? Montar uma brinquedoteca. Brinquedoteca rima com biblioteca e videoteca. As três terminam com teca, que quer dizer isto: lugar fechado onde se guarda um montão de alguma coisa. Que coisa? Biblioteca guarda livros. Videoteca, vídeos. Brinquedoteca? Está na cara — brinquedos. Vamos à farra.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 11 de outubro de 2020
EMBORA SENDO? NÃOOOOOOOO!
“Embora sendo questionável, o último voto do ministro Celso de Mello merece aplauso pela erudição”, escreveu o jornal. Ops! Esqueceu-se de manha do gerúndio. A forma verbal terminada em -ndo (dando, vendo, indo, pondo) tem alergia à conjunção embora. Ambas não andam juntas nem a pedido de Deus. Não escreva embora sendo, embora saindo, embora trabalhando, mas embora seja, embora saia, embora trabalhe. Melhor pedir perdão ao Senhor e obedecer ao mandamento: Embora seja questionável, o último voto do ministro Celso de Mello merece aplauso pela erudição.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 10 de outubro de 2020
GERÚNDIO: CHEGANDO A TEMPO OU A TEMPO CHEGANDO?
A oração reduzida de gerúndio exige a posposição do sujeito: Chegando a tempo, poderá participar da sessão. Passando a pandemia, voltará tudo ao que era antes no quartel de Abrantes. (Jamais escreva: A tempo chegando…, A pandemia passando…)
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 09 de outubro de 2020
FURACÃO: ETIMOLOGIA
Furacões fazem estragos. Este ano é a vez do Delta. Ele destrói casas, derruba árvores, inutiliza carros. Ao ver o noticiário, pinta a curiosidade: qual a origem do vocábulo furacão? A palavra veio do espanhol huracan. A língua de Cervantes se inspirou em Huracan, deus da mitologia maia. A divindade dos ventos, das tempestades e do fogo tratava da construção e da destruição na natureza. Tinha o nome associado às tormentas e às tempestades. Daí o fato de muitos descobridores designarem grandes tempestades de furacões.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 08 de outubro de 2020
CRASE: SUPERDICA PARA ACERTAR SEMPRE
Com crase ou sem crase: à zero hora ou a zero hora? A locução adverbial formada de palavra feminina pede o acento grave: à zero hora, às claras, às escuras, às apalpadelas, à meia-noite.
Macete
Substitua hora por meio-dia. Se na troca der ao, não duvide. Ponha o grampinho: O avião decola à 0h (ao meio-dia). A aula começa às 14h (ao meio dia). Estou no aeroporto desde as 4h (desde o meio-dia).
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 07 de outubro de 2020
VOLTA ÀS AULAS: VAIVÉM OU VAI E VEM?
Valha-nos, Deus! A volta às aulas deixou de ser novela. Virou dramalhão mexicano. O governo autoriza o retorno. A Justiça desautoriza. O governo recorre. A Justiça libera. Professores recorrem. A Justiça acata a reivindicação. Ufa! Uma palavra traduz as idas e vindas. É vaivém. Ou vai e vem. Tanto faz.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 06 de outubro de 2020
PRONÚNCIA: NOBEL & CIA.
A história se repete todos os anos. Pra lá de bem-vinda, a temporada da premiação mais respeitada do mundo começou esta semana. Três cientistas receberam o Nobel de Medicina: Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice.
Viva! O fato, claro, vira notícia. Rádios e tevês o anunciam com o respeito que merece. Mas desrespeitam a língua. Esquecem que Nobel se pronuncia como papel e Mabel. Oxítona, a sílaba tônica é a última.
Por falar em pronúncia
Outras vítimas da pronúncia que figuram na boca de gregos, romanos e troianos é subsídio e gratuito. Vale lembrar: o s de subsídio se pronuncia como o s de subsolo. O ditongo ui de gratuito se diz do mesmo jeitinho que o ui de circuito.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 05 de outubro de 2020
ENTRE E DENTRE: QUANDO USAR
Entre ou dentre? Na dúvida, use entre. Em 99% dos casos você acerta.
Dentre só tem vez quando significa de entre. É substituível por no meio de:
Cristo ressurgiu dentre os mortos. (Cristo ressurgiu do meio dos mortos.)
Tirou uma dentre as cinco frutas. (Tirou uma do meio de cinco frutas.)
Olho vivo
Na tentação de usar dentre, pare, pense e faça o troca-troca. O resultado é um só. Dentre é raro como viúvo na praça.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 04 de outubro de 2020
ADEUS DÚVIDA: ONDE E AONDE
Onde ou aonde? Em geral, onde: Onde você mora? Onde Maria está? Sei onde fica o shopping.
Aonde só se usa com verbo que preenche duas condições. Uma: ser de movimento. A outra: exigir a preposição a. É o caso de ir. A gente vai a algum lugar. Viu? Ele atende às duas imposições. Com ele, aonde é pra lá de bem-vindo:
Aonde ele foi? Não sei aonde ele foi. Você sabe aonde Maria vai?
Superdica
Pintou a dúvida? Parta pro troca-troca. Substitua a por para. Se couber, vá em frente. Dê a vez ao aonde: Aonde ele foi? (Para onde ele foi?) Não sei aonde ele foi. (Não sei para onde ele foi.) Você sabe aonde esta estrada leva? (Você sabe para onde esta estrada leva?) Talvez ele saiba aonde conduziremos os hóspedes. (Talvez ele saiba para onde conduziremos os hóspedes.)
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 03 de outubro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (15): SÓ, SÓS, A SÓS, POR SI SÓ
Só e a sós podem ser sinônimos de sozinha ou sozinho. Mas eles têm manhas:
Só tem singular e plural: Maria está só. Paulo também está só. Maria e Paulo estão sós.
A sós só se emprega no no plural: Maria vive a sós. Paulo também vive a sós. Eles preferem viver a sós. Moramos a sós no mesmo apartamento.
Por falar em só…
Vale lembrar por si só, que tem plural: O currículo por si só o recomenda para a função. As referências por si sós o recomendam para a função. As palavras por si sós não provam nada. É importante apresentar os comprovantes.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 02 de outubro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (13): A GENTE E AGENTE
A gente significa nós, mas exige o verbo na 3ª pessoa do singular: A gente vai sair mais tarde. A gente conseguiu entrar no cinema. Falou com a gente ontem à noite. “A gente nasce com um montão de palavras na barriga. Na vida, vai falando e gastando o estoque. Quando todas acabam, a gente morre” (pensamento africano).
Agente é o ser que executa uma ação: O mais conhecido agente secreto inglês é o 007. É fácil identificar o agente da passiva. O agente penitenciário mantém a ordem na prisão.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 01 de outubro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (13) ABAIXO ASSINADO E ABAIXO-ASSINADO
Abaixo-assinado = o documento: Os manifestantes entregaram o abaixo-assinado ao presidente.
Abaixo assinado = signatário: João da Silva, abaixo assinado, solicita…
Plural: abaixo-assinados, abaixo assinados.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 30 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (12): A VER, HAVER
A ver = ter relação com: Minha história tem tudo a ver com a de Paulo. Este fato não tem nada a ver com aquele. O que uma coisa tem a ver com a outra?
Haver = verbo: Vai haver distúrbios na volta às aulas? Pode haver manifestações quando Bolsonaro falar na abertura da Assembleia Geral da ONU. No Brasil, costuma-se empregar o verbo ter no lugar do haver.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 29 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (11): A PRIMEIRA VEZ QUE, A PRIMEIRA VEZ EM QUE
Expressões temporais dispensam a preposição em antes do que: A primeira vez que vi Maria (não: a primeira vez em que vi Maria). A última vez que viajei de avião (não: a última vez em que viajei) encontrei amigos a bordo.
Curiosidade
Teresa
Manuel Bandeira
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 28 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (10) A PALÁCIO, AO PALÁCIO
A palácio se usa quando a pessoa tem audiência na casa do todo-poderoso: O deputado foi a palácio tratar das emendas.
Ao palácio tem a vez se a criatura só faz uma visitinha: Na viagem, os turistas se dirigiram ao palácio presidencial — uma das atrações do roteiro.
Curiosidade
Bateu um desejo na primeira-dama. No governo Lula, Marisa Letícia morreu de vontade de dar uma voltinha no Palácio do Planalto. Os assessores estremeceram só de pensar na nota à imprensa. Deveriam dizer que a senhora Lula da Silva iria a palácio ou iria ao palácio? Consulta daqui e dali, eis a resposta: como só ia fazer uma visitinha, ela ia ao palácio.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 27 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (9): A PRINCÍPIO, EM PRINCÍPIO
A princípio = no começo, inicialmente: A princípio o Brasil era o favorito das apostas. Depois da partida de estreia, deixou de sê-lo. Toda conquista é, a princípio, muito excitante.Com o tempo, pode mudar de figura.
Em princípio = teoricamente, em tese, de modo geral: Em princípio, toda mudança é benéfica. Estamos, em princípio, abertos às novidades tecnológicas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 26 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (8): A NÃO SER
A não ser equivale a salvo, senão. É invariável: Nada sobrou da festa a não ser frutas. Nada sobrou das queimadas a não ser carcaças, destruição e morte.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 25 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (7): A PARTIR, DESDE
A partir de é expressão de tempo. Quer dizer a começar em. Por isso, a partir de não combina com o verbo começar. É pleonasmo escrever “Os novos ônibus vão começar a circular a partir de 1º de dezembro”. Diga assim: Os novos ônibus vão começar a circular em 1º de dezembro. Ou assim: Os novos ônibus vão circular a partir de 1º de dezembro.
Desde indica tempo passado. Pode aparecer sozinha ou combinada com até: Está no Brasil desde dezembro de 1993. Trabalhou desde o amanhecer até a meia-noite.
Curiosidade
Virou praga dizer “Participação especial do comentarista desde Paris”. “Transmitiremos a partida desde São Paulopara o Brasil.” “Falo desde Londres para o mundo.” E por aí vai. A conclusão é uma só. Muitos estão estudando espanhol. Na língua de Cervantes, a preposição desde significa “de determinado lugar”. No idioma de Camões, a coisa muda de figura.
Desde quer dizer a começar de, a partir de: Moro em São Paulo desde 2010. Trabalho desde os 14 anos. Participação especial do comentarista diretamente de Paris. Transmitiremos a partida de São Paulo para o Brasil. Falo de Londres para o mundo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 24 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (6): A PAR, AO PAR
A par = expressão invariável que equivale a ciente, informado, inteirado do que se passa: Estou a par dos comentários que circulam na Esplanada. O presidente está a par das reivindicações dos ambientalistas. Os brasileiros estão a par do risco de aglomerações.
Ao par = estar emparelhado, em equivalência de valor (título ou moeda de valor idêntico): O dólar esteve ao par do real. A vacina chinesa não está ao par da norte-americana.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 23 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (5) A FIM, AFIM
A fim de = para, ou com vontade de: A fim de melhorar a pronúncia, ouvia música americana. Clara não está a fim de viajar. Você está a fim? Não, não estou a fim.
Afim = afinidade, parentesco: disciplina afim, parentes afins, gostos afins.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 22 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (4): À MESA, NA MESA
Gente educada senta–se à mesa e põe os pratos na mesa. Espalha os livros na mesa para estudar.
Curiosidade
Em entrevista a Veja, Fernando Henrique quis dar exemplo de democracia e tolerância. “Na minha casa”, contou ele, “havia uma senhora, filha de escrava do meu bisavô, que era próxima da família. Ela comia na mesa, o que naquele tempo era inacreditável”.
Ops! É inacreditável até hoje. Comer na mesa quer dizer mais ou menos isto: pôr a comida sobre a mesa – direto, sem prato. A mulher, quis dizer FHC, comia à mesa. É o mesmo que sentar-se. Nós sentamos à mesa. Sentar na mesa? É assentar o bumbum na companhia de copos, pratos, talheres, arroz, feijão e bife.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 21 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (3): A MENOS QUE
Significa a não ser que, salvo se. Confere à frase sentido negativo: Não passará na prova a menos que haja um milagre. Viajarei na segunda-feira a menos que haja reforma ministerial. Não ficará curado a menos que faça o tratamento com seriedade.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 20 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (2): À FRENTE, EM FRENTE, NA FRENTE
À frente = na dianteira, na vanguarda; na direção, no comando: Biden continua à frente de Trump na corrida presidencial americana. O papa mantém-se à frente da Igreja.
Em frente de = diante, defronte, perante, na presença de: Falou na frente de todos, sem constrangimento. Estava em frente de casa, perto do portão.
Na frente de = antes, anteriormente: Chegou ontem, três dias na frente do adversário.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 19 de setembro de 2020
EXPRESSÕES QUE CONFUNDEM (1): À MEDIDA QUE, NA MEDIDA EM QUE
À medida que = à proporção que: À medida que as investigações avançam, mais indícios incriminam Flordelis. Minha redação melhora à medida que escrevo mais e mais.
Na medida em que = porque, pelo fato de que, uma vez que, tendo em vista: A dengue se alastra na medida em que não se combatem os focos do mosquito transmissor. Aumentaram os casos de covid-19 na medida em que se flexibilizou o isolamento social.
Cuidado com os cruzamentos
Parte de uma estrutura se junta a parte de outra. Nascem os mostrengos à medida em que ou na medida que. Xô, satanás! Acuda-nos, Senhor! Pra não cair em tentação, lembre-se do 8 ou 80. À medida que tem três palavras. Na medida em que, quatro. Com elas, a coluna do meio não tem vez.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 18 de setembro de 2020
APESAR DE? APESAR DE O? APESAR DE A?
Apesar de antecede verbos, adjetivos ou substantivos sem artigo: Apesar de estudar muito, não se classificou no concurso. Apesar de tímida, saiu-se bem na entrevista. Apesar de professor competente, tem dificuldade de manter a atenção dos alunos.
Apesar do (da) antecede substantivo acompanhado de artigo: Apesar do feriado, o comércio abriu. Apesar das férias longas, sente-se cansado. Apesar dos contratempos, conservou o bom humor.
Apesar de o (a) se usa quando o artigo faz parte do sujeito. Aí, como dois bicudos, a preposição fica de um lado; o artigo, de outro: Apesar de o governo (sujeito) negar, há risco de aumento da carga tributária. O programa não foi ao ar apesar de a TV (sujeito) o ter anunciado.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 17 de setembro de 2020
VÊNUS, O PÚNICO PLANETA COM NOME FEMININO: POR QUÊ?
Surpresa! Cientistas descobriram vestígios de vida no planeta mais próximo da Terra. Não é gente de carne, osso, sangue, nariz, olhos e cabelos. É substância que pode ter sido produzida por micróbio – indício de vida fora da Terra. Será? Astrônomos sugerem o envio de sonda ao belo vizinho do Sistema Solar.
Enquanto buscam, vale a curiosidade: por que Vênus se chama Vênus? A resposta: porque é brilhante, dourado, quente. Os babilônios o chamavam de rainha do céu. Os romanos o associaram ao amor, à feminilidade e ao romance. É o único planeta com nome associado a figura feminina.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 16 de setembro de 2020
REGÊNCIA: SOCORRER
Nestes tempos de pandemia, o verbo socorrer entra em cartaz. Leem-se, então, frases como esta: “O acidentado foi socorrido ao hospital”. Nãoooooooooo! Socorre-se alguém em algum lugar. O acidentado foi socorrido no hospital.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 15 de setembro de 2020
MIGRAR, EMIGRAR, IMIGRAR: DIFERENÇA
Valha-nos, Deus! O incêndio em Lesbos chamou a atenção para o drama da emigração. Homens, mulheres e crianças são obrigados a abandonar o país de origem em busca de sobrevivência. Uns são expulsos pela fome. Outros por perseguições políticas. Outros, ainda, por vontade de melhorar de vida. Eles têm vocábulos especializados.
A saída
Emigrar e emigrante = sair do país: Milhares de africanos emigram para a Europa. Venezuelanos emigram para os países vizinhos. Milhões de libaneses emigraram para a América. Emigrantes venezuelanos estão na fronteira à espera de autorização para entrar na Colômbia.
A entrada
Imigrar e imigrantes = entrar no país: Os alemães recebem com generosidade os turcos que imigram para lá. A Colômbia abriga o maior número de imigrantes venezuelanos. Paulo nasceu em Beirute. Mora em São Paulo. No Líbano, é emigrante. No Brasil, imigrante.
O ir e vir
Migrar = movimentar-se: Durante o período de seca, nordestinos migram para o Sudeste. Migrações são comuns no Brasil.
Carta
O desembargador Diaulas Ribeiro escreveu: “O uso do imigrar é muito raro quando há referência à movimentação em curso, no presente ou no passado, a partir de um país. Se partiu de, emigrou. Se já chegou e entrou, e a referência é o país de chegada, imigrou. `Emigrei da Grécia há 60 anos e sou imigrante, no Brasil, há 59 anos e 11 meses. No mês que falta, fui navegante`. Sabemos bem a diferença. Para que não haja dúvidas, o exemplo que dei é fictício. Eu nasci em Minas e migrei para Brasília”.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 14 de setembro de 2020
LÉSBICA: ORIGEM DA PALAVRA
Uiiiiiii! Incêndio de quarta-feira devorou o maior campo de refugiados da Europa. Ele tem espaço para 2 mil pessoas, mas abriga 12 mil. Além de superlotado, estava em isolamento porque 35 pessoas foram diagnosticadas com covid-19. Ninguém morreu.
Sem óbitos, por que o auê? A resposta remete à história: o cercadinho fica em Lesbos. Na bela ilha grega, nasceu Safo em 630 a.C. Considerada a maior poetisa lírica do país e a primeira escritora a marcar a literatura ocidental, ela cantou o amor entre mulheres. E, por isso, entrou na etimologia.
Lesbos deu origem à palavra lésbica. O vocábulo vem do latim lesbius, que o buscou no grego lésbios. O trissílabo se refere à mulher homossexual: Safo era lésbica.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 13 de setembro de 2020
AO INVÉS DE OU EM VEZ DE? DEPENDE
Ao invés de significa ao contrário de: Ao invés de pobre, era rica. Ao invés de rir, chorou. Veio rápido ao invés de vir devagar.
Em vez de quer dizer em lugar de: Em vez de Portugal, visitou a Espanha. Comprou carne em vez de peixe. Foi de ônibus, em vez de metrô.
Superdica
Na dúvida, use em vez de. A expressão substitui ao invés de: Saiu em vez de ficar. Morreu em vez de sobreviver. Comeu em vez de jejuar.
Viu? Com em vez de,a alternativa acertar ou acertar.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 12 de setembro de 2020
GRAMÁTICA: COMO DESARMAR AS CILADAS
“A gramática é um sistema de armadilhas cuidadosamente preparado”, escreveu Ambrose Bierce no início do século 20. Verdade? Talvez. Mas um fato ninguém discute: as regras estão ao alcance de todos. Ao conhecê-las, desarmamos as ciladas uma a uma. E, em vez de nos derrubar, as normas ampliam o espaço de liberdade. Na dúvida, podemos trocar seis por meia dúzia.
Para fazê-lo, precisamos, antes, questionar e, depois, escolher. A propósito, vale lembrar história pra lá de conhecida. O presidente pediu à secretária que marcasse reunião para sexta-feira. Ela interrompeu a escrita e perguntou ao poderoso chefão:
— Sexta com x ou com s?
Ele se esquivou:
— Marque para sábado.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 11 de setembro de 2020
CARO, CARA, BARATO, BARATA: ADEUS, DÚVIDA
Quem aguenta? Nosso arroz e feijão de todos os dias dá um susto atrás do outro. Num dia e noutro também, pôr a duplinha no prato exige mais e mais notas do nosso desvalorizado dinheirinho. Mas a dor não se restringe ao bolso. Afeta também os ouvidos. Repórteres de tevês abertas e fechadas, de rádios AM e FM, de jornalões e jornalinhos anunciam que “o preço do arroz está mais caro”. Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! É otite na certa.
Caro e barato, alto e baixo
Preço caro? Nem pensar. É redundância. Caro e barato encerram a ideia de preço. Produtos e serviços são caros ou baratos. Preço é alto, baixo, elevado. A moçada mereceria banda de música e tapete vermelho se tivesse dado a informação assim: O preço do arroz está mais alto. Também poderia ser assim: O arroz está mais caro.
Times diferentes
Caro e barato jogam em dois times. Podem ser adjetivos ou advérbios. Como lidar com eles?
1. Se pertencerem à classe dos advérbios, mantêm-se invariáveis — sem feminino e sem plural. No caso, a oração se constrói com os verbos custar, pagar ou similares e o complemento do verbo pode ser substituído pelos advérbios pouco, muito, mais ou menos: No Brasil, o arroz custava barato (pouco). Agora, custa caro (muito). Nos Emirados Árabes, a gasolina custa barato (pouco). Paguei caro (muito) pelo litro da gasolina. Em Natal, as lagostas custam mais barato (menos) que em Campina Grande.
2. Se forem adjetivos, variam em gênero e número. No caso, a frase será construída com verbo de ligação (ser, estar, ficar, permanecer, continuar, andar): Com a elevação do preço do arroz, o prato 100% nacional ficou mais caro. Graças à safra generosa, a cesta básica deveria ficar mais barata. Produtos de primeira necessidade ficaram caros. Como o tomate está caro!
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 10 de setembro de 2020
ESCREVER CERTO PEGA BEM
Sabia? A ortografia é dispensável para a comunicação eficiente. Se alguém escreve casa com z, cachorro com x e coração sem til, o leitor entende o recado. Prova é a língua usada nos chats da internet. Lá, porque vira pq; você, vc; beijo, bj; obrigado, obg. Muitos não gostam do que leem, mas entendem o recado. A razão?
De aorcdo com peqsiusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as Lteras de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia Lteras etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma bçguana ttaol, que vcoê anida pdoe ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa Ltera isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
Por que, então, preocupar-se com acentos, esses e zês? Porque é o combinado. Para viver em sociedade, firmamos pactos. Combinamos andar vestidos em público. Combinamos não arrotar à mesa. Combinamos não cuspir no chão. Combinamos, também, escrever como manda o dicionário. Ele, baseado em critérios etimológicos ou fonéticos, diz que hospital se grafa com h; pesquisa, com s; exceção, com ç. A razão: como todas as línguas de cultura, o português tem a grafia oficial.
A ortografia é convenção. Escrever certo pega bem. Como chegar lá? Os mistérios se desvendam aos poucos. À medida que temos contato com a escrita, cresce a intimidade com vogais, consoantes, hifens, cedilhas & cia. letrada. A criança em fase de alfabetização tropeça em letras e acentos. É natural. Com o tempo, domina o assunto. Por isso, quanto maior a escolaridade, menor a tolerância social ao erro.
Quem anda pelado na rua vai pra cadeia. Quem arrota à mesa acaba a refeição sozinho. Quem cospe no chão é tachado de mal-educado. Quem escreve em desacordo com o dicionário se apresenta como pessoa sem familiaridade com a língua escrita. Perde vaga na universidade. Perde promoção no trabalho. Perde pontos no concurso. Perde amores. Valha-nos, Senhor!
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 09 de setembro de 2020
POR QUE, POR QUÊ, PORQUE, PORQUÊ: ADEUS, DÚVIDA
Ora o porquê aparece junto. Ora separado. Ora com acento. Ora sem o chapeuzinho. Não há quem não hesite na hora de escrever uma forma ou outra. Muitos chutam. Mas, como a língua não é loteria, o que pode dar errado dá. Melhor aprender as manhas da caprichosa criatura. Use:
Por que
- nas perguntas diretas: Por que se comemora o Dia da Pátria? Por que se deve escrever como manda o dicionário? Por que é obrigatório o uso de máscara?
- nos enunciados em que é substituível por “a razão pela qual“: Sei por que (a razão pela qual) se comemora o Dia da Pátria. Quero entender por que (a razão pela qual) se deve escrever como manda o dicionário. Explique por que (a razão pela qual) é obrigatório o uso de máscara.
Por quê
A dupla com chapéu só tem vez quando o quezinho for a última — a última mesmo — palavra da frase. Por quê? Ele é átono. No fim do enunciado, torna-se tônico. O acento lhe dá a força: Comemora-se o Dia da Pátria por quê? Deve-se escrever como manda o dicionário por quê? É obrigatório o uso de máscara. Explique por quê.
Porque
Com essa cara, juntinho, sem lenço nem documento, porque é conjunção causal ou explicativa: Comemora-se o Dia da Pátria porque é fato marcante da nossa história. Deve-se escrever como manda o dicionário porque pega bem. É obrigatório o uso de máscara para evitar a transmissão do coronavírus.
Porquê
Assim, coladinho e com chapéu, o porquê se torna substantivo. E, como substantivo, tem plural. Para mudar de classe, precisa da companhia do artigo ou de pronome: Explicou o porquê da necessidade de escrever sem erros. Certos porquês quebram a cabeça da gente. Esse porquê se inspira em outro porquê.
Resumo da ópera
Não há por que temer os porquês. Quem entendeu a lição sabe por quê.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 08 de setembro de 2020
O VERDE-AMARELO
Os países têm cores que os identificam. A França exibe azul, branco e vermelho; os Estados Unidos, vermelho, branco e azul; Portugal, vermelho, verde e amarelo; o Brasil, verde e amarelo. Elas funcionam como metonímia – a parte que retrata o todo. Ao mirá-las, mira-se a nação.
Quando as seleções de futebol disputam campeonatos mundo afora, vestem as cores nacionais. Os 11 jogadores em campo não representam este ou aquele time. Representam o país com milhões ou bilhões de habitantes e séculos de história. Nos pés dos brasileiros, por exemplo, são 520 anos de lutas e conquistas que rolam no gramado.
Ali estão concentrados índios, negros e brancos cuja contribuição tornou os brasis Brasil. Durante séculos não havia a definição de brasileiro. Havia baianos, cearenses, piauienses, mineiros, pernambucanos, paulistas e tantas outras denominações. Nada os unia.
Não foi fácil dar liga a culturas diferentes, distâncias continentais, interesses diversos e meios de transporte precários. Revoltas separatistas eclodiram em províncias próximas e distantes do poder central. Proclamada a Independência, muitos se negaram a integrar o Império do Brasil.
Desligar-se da tutela portuguesa e tomar as rédeas do próprio destino exigiu diplomacia, negociações e povo nas ruas. D. Pedro I, antes de abdicar em favor de quem viria a ser o segundo imperador do país, sofreu hostilidades da população que quase lhe impossibilitaram o ir e vir.
Uma delas ocorreu às portas do palácio imperial. Em luta aberta, brasileiros atacaram casas de portugueses. Receberam em resposta uma chuva de garrafas. Foi a Noite das Garrafas. Menos de um mês depois, o monarca voltou para Lisboa. Num desabafo, disse que invejava o filho por ele ser brasileiro.
Era brasileiro por ter nascido no Brasil. Quem mais seria brasileiro? Estrangeiros que aqui chegaram e ficaram? Indígenas, negros, mestiços também teriam direito à nacionalidade? Seria permitida a escravização de brasileiros? As questões exigiam resposta política. A nação foi criada a partir das definições jurídicas e imposições sociais dos dirigentes.
Hoje, o Brasil se veste de verde e amarelo. Bandeiras hasteadas, camisetas, prédios decorados exibem as cores do país. Elas representam a nação. Não pertencem a este ou àquele indivíduo, a este ou àquele estado, a este ou àquele governo. São patrimônio dos 210 milhões de brasileiros.
(Editorial do Correio Braziliense de 7.9.20)
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 07 de setembro de 2020
HINO NACIONAL: ADEUS MISTÉRIOS
Hoje é Dia da Pátria. O Brasil se veste de verde e amarelo. Bandeiras hasteadas, prédios decorados, camisetas exibem as cores do país. A música mais tocada? É o Hino Nacional. A gente o canta com entusiasmo. Mas a letra… Palavras complicadas, ordem inversa, figuras de linguagem.
Pura arte
O autor se dirige a seres inanimados como se fossem gente. As margens falam, a liberdade ouve, o país conversa. O tratamento é íntimo (tu). Também recorre a metáforas. Berço esplêndido, por exemplo, é o território brasileiro: os 8,5 milhões de km² — com sol luminoso, terra fértil e um marzão sem fim — o tornam gigante pela própria natureza.
Ajuda
Até os professores têm dificuldade de ensiná-lo aos alunos. Que tal uma ajudinha? O blogue revela os mistérios do símbolo desta Pindorama tropical. Em negrito, aparecem os versos como nós os cantamos. Em seguida, eles vêm em ordem direta. Nos parênteses, o sinônimo dos vocábulos difíceis.
Hino Nacional
Letra: Osório Duque Estrada
Música: Francisco Manoel da Silva
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante, / E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, / Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
*
As margens plácidas (serenas) do rio Ipiranga ouviram o brado (grito) retumbante (estrondoso) de um povo heroico. E o sol da liberdade, em raios fúlgidos (cintilantes), brilhou no céu no mesmo instante.
***
Se o penhor dessa igualdade / Conseguimos conquistar com braço forte, / Em teu seio, ó Liberdade, / Desafia o nosso peito a própria morte!
*
Se conseguimos conquistar o penhor (a garantia) dessa igualdade (de ser livre) com braço forte, o nosso peito desafia até a morte em teu seio, ó Liberdade.
***
Ó Pátria amada, / Idolatrada / Salve! Salve!
*
Ó Pátria amada, idolatrada (adorada, venerada), salve!
***
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido / De amor e de esperança à terra desce, / Se em teu formoso céu, risonho e límpido, /A imagem do Cruzeiro resplandece.
*
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido (intenso) de amor e de esperança desce à terra se em teu formoso céu, risonho e límpido (transparente), a imagem do Cruzeiro (constelação do Cruzeiro do Sul) resplandece (brilha).
***
Gigante pela própria natureza, / És belo, és forte, impávido colosso, / E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada, / Entre outras mil, / És tu, Brasil, / Ó Pátria amada! / Dos filhos deste solo és mãe gentil, / Pátria amada, / Brasil!
*
Gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido (corajoso) colosso (gigante). E o teu futuro espelha (reflete) essa grandeza. Entre outras mil, és mãe gentil (amável) dos filhos deste solo.
***
Deitado eternamente em berço esplêndido / Ao som do mar e à luz do céu profundo, / Fulguras, ó Brasil, florão da América, / Iluminado ao sol do Novo Mundo!
*
Ó Brasil, florão (cúpula, joia da coroa) da América, (tu) fulguras (brilhas) iluminado ao sol do Novo Mundo deitado eternamente em berço (território) esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo.
***
Do que a terra mais garrida / teus risonhos, lindos campos têm mais flores; / “Nossos bosques têm mais vida”, / “Nossa vida” no teu seio “mais amores”.
*
Teus campos risonhos e lindos têm mais flores, nossos bosques têm mais vida, nossa vida no teu seio (interior) tem mais amores do que a terra mais garrida (enfeitada, graciosa).
***
Ó Pátria amada, / Idolatrada, / Salve! Salve! / Brasil de amor eterno seja símbolo / O lábaro que ostentas estrelado, / E diga o verde-louro desta flâmula: / Paz no futuro e glória no passado.
*
(Que) o lábaro (bandeira) que ostentas (exibes) estrelado seja símbolo de amor eterno. E o verde-louro (verde-amarelo) desta flâmula (bandeira) diga: paz no futuro e glória no passado.
***
Mas, se ergues da justiça a clava forte, / verás que um filho teu não foge à luta, / nem teme quem te adora / a própria morte.
*
Mas, se a clava (bastão usado como arma) forte da justiça (tu) ergues, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme a própria morte quem te adora.
É isso
O Hino Nacional exalta a grandeza do país e do povo. Viva!
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 06 de setembro de 2020
AOS DOMINGOS? NO DOMINGO?
A indicação de tempo arma ciladas para gregos, troianos, baianos, sergipanos & cia. Seja esperto. Não caia na armadilha ao dizer quando você faz o quê.
Aos domingos significa todos os domingos: Vou à missa aos domingos. Há médicos que preferem dar plantão aos domingos. O comércio abre aos domingos.
Os demais dias da semana seguem a mesma regra. Pedem a preposição a quando indicam ação que se repete: Os museus fecham às segundas-feiras (todas as segundas). Estudo inglês às terças e sextas. Costumo ir à livraria aos sábados.
No domingo (no sábado, na segunda) quer dizer que o fato ocorre uma vez ou de vez em quando: Paulo se casa no sábado. João nasceu na sexta-feira. Quero ir ao cinema na quarta.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 05 de setembro de 2020
APÓS OU DEPOIS? NATURALIDADE
“Seja natural”, aconselham os manuais de estilo. Escreva do jeito que você fala. Frases curtas, perguntas diretas, palavras simples conquistam o leitor. Dão a impressão de um bate-papo de amigos que se encontram para tomar um cafezinho ou comer um sanduíche.
Mas nem todos estão atentos às manhas da língua. Um dos tropeços mais comuns é o uso do após. Por alguma razão que até Deus desconhece, falamos uma palavra, mas escrevemos outra. Que coisa!
Guarde isto: após é artificial. Use-o em expressões consagradas (ano após ano, dia após dia). No mais, dê preferência ao depois: Depois do sinal, deixe o recado. Depois de consultar o ministro, o presidente soltou a nota. Arrependeu-se depois de falar mal do chefe. Mas o mal estava feito.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 04 de setembro de 2020
ANEXO OU EM ANEXO? OS DOIS.
Anexo, sozinho, é adjetivo vira-lata como bonito, feio, rico. Concorda em gênero e número com o substantivo a que se refere: carta anexa, cartas anexas, documento anexo, documentos anexos; criança bonita, objetos bonitos; imagens feias, foto feia, livros feios.
Em anexo pertence a outra estirpe. É advérbio e, portanto, invariável. Não tem feminino, masculino, singular ou plural. Com ele é tudo igual: A carta segue em anexo. Os documentos estão sendo encaminhados em anexo. Em anexo, seguem as foros. Encaminho, em anexo, as notas solicitadas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 03 de setembro de 2020
NOTA DE R$ 200: O PORQUÊ DO LOBO-GUARÁ
A história começou em 2001. Naquele ano, foi lançado um concurso: os brasileiros deviam escolher animais ameaçados de extinção. Os vencedores seriam estampados nas novas cédulas. Em 1º lugar, ficou a tartaruga-marinha, que enfeitou a nota de R$ 2, criada em 2001. Em 2º, o mico-leão, que ganhou a nota de R$ 20, lançada em 2002. Em 3º, o lobo-guará, que abrilhanta a nota de R$ 200.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 02 de setembro de 2020
A VEJA TROPEÇOU NO POLITICAMENTE CORRETO
“A lista negra do presidente”, escreveu a Veja desta semana. A matéria fala das condições impostas por Bolsonaro para se refiliar ao PSL, partido que o elegeu. Entre elas, a expulsão de sete deputados e um senador da legenda. Ao escrever p título, a revista pisou o politicamente correto. Reforçou preconceito.
Sim
Negro é raça. Nessa acepção, é pra lá de bem-vindo. Pelé é negro, não é escurinho, crioulo, negrão, moreno ou de cor.
Não
Empregar negro com conotação negativa reforça preconceito. Xô! Xô! Xô! Dê nome aos bois. Em vez de lista negra, lista dos inimigos, lista dos maus alunos, lista dos maus pagadores. Em lugar de nuvens negras, prefira nuvens escuras. Passado negro? Nem pensar. Seja claro: passado de homicídios, passado de roubos, passado de traições.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 01 de setembro de 2020
CONCORDÂNCIA DO VERBO SER: ADEUS, DÚVIDA
É ou são? Cuidado. Trata-se do verbo ser. Com ele, ligue as antenas. O verbinho é complacente. Ora aceita uma forma, ora outra. Ora as duas. Especial, recebe tratamento diferenciado. Na concordância, a gramática reserva-lhe capítulo à parte.Hoje é 20 de agosto? Ou são 20 de agosto? Cem reais é muito? Ou são muito? É quase duas horas? Ou são quase duas horas? Dúvidas. Muitas dúvidas.
Jogo duplo
O verbo ser tem a cintura mais flexível do português. Nunca toma posição firme. Ora acha o sujeito simpático. Vai pro lado dele. Ora o predicativo o atrai mais. Eterno infiel, passa para o lado de lá.
Tudo é flores ou tudo são flores?
O verbo olha para as flores. Acha-as simpáticas, coloridas e cheirosas. Decide: Tudo são flores. Em outras horas, lembra-se do que aprendeu na escola (o verbo concorda com o sujeito). Muda de lado: Tudo é flores.
Qual a forma correta? Ambas. Com o ser, quase sempre as duas construções estão certas. Há apenas três casos em que ele é durão, inflexível.
Um
É uma hora. São três horas.
Na indicação de horas, o verbo só tem olhos para o predicativo. Concorda com o número que diz as horas: É meio-dia e meia. Seria uma hora da tarde. Eram umas 11 horas da noite.
Cuidado. Às vezes o número é antecedido por expressões que indicam aproximações. O verbo continua o mesmo: Seriam quase duas horas quando ele chegou. São cerca de seis horas de voo. Eram mais ou menos três horas quando o presidente fez o anúncio.
Dois
Um é pouco, dois é bom, três é demais.
Deu-se conta? As expressões de quantidade, medida, peso, valor, tempo — como é muito, é pouco, é suficiente, é caro, é barato — são invariáveis. Pretensiosas, não ligam para o sujeito. Com elas, só o singular: Dois mil reais é muito. Vinte quilos é suficiente. Dois minutos é muito tempo para quem está com dor de dente. Vinte reais é menos do que o produto vale.
Três
Eu é que digo. Nós é que sabemos.
A expressão é que recebe o nome de expletiva. Significa pode cair fora. Mantém-se invariável: As rosas (é que) são belas. Nós (é que) somos patriotas.
É isso.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 31 de agosto de 2020
FRITURA DE GUEDES: ORIGEM DA PALAVRA
Paulo Guedes era o todo-poderoso do governo Bolsonaro. O presidente o apelidou de Posto Ipiranga. Mandachuva da economia, tinha o poder de fazer e desfazer sem questionamentos. O tempo passou. Cadê? O ministro falou muito e entregou pouco. A última foi o pacote prometido pra ser aberto na terça-feira passada. Não foi. O chefão vetou.
Culinária na manchete
A imprensa falou em fritura do ministro. Logo, logo seria frito. Pintou a curiosidade. Como o termo da culinária ampliou o significado? Ele faz companhia a outros. Um deles: banho-maria. Outro: pôr na geladeira. Dizem que frito, sinônimo de quem se deu mal, vem de longe. Nasceu nos tempos da Inquisição. A Igreja torturava as pessoas até queimá-las na fogueira. Uiiiiiii!
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 30 de agosto de 2020
ABAIXO-ASSINADO E ABAIXO ASSINADO: DIFERENÇA
As duas formas estão firmes e fortes no dicionário. Quando usar uma ou outra? Guarde isto:
- O documento se escreve com hífen: Os manifestantes entregaram o abaixo-assinado ao presidente.
- O signatário se grafa sem o tracinho: Paulo da Silva, abaixo assinado, solicita…
- Ambas têm plural: abaixo-assinados, abaixo assinados.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 29 de agosto de 2020
CLÁUDIO CASTRO: GOVERNADOR EM EXERCÍCIO OU VICE-GOVERNADOR EM EXERCÍCIO?
A Justiça afastou o governador do Rio, Wilson Witzel, por 180 dias. O vice-governador, Cláudio Castro, assumiu o cargo. Ele é o governador em exercício ou o vice-governador em exercício? Guarde isto: vice no poder muda de status. Torna-se governador interino ou governador em exercício: O governador em exercício, Cláudio Castro, vai se reunir com o secretariado daqui a pouco.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 28 de agosto de 2020
EM CIMA OU ENCIMA? DEPENDE.
Em cima = posição superior: O prato está em cima da mesa.
Encima = forma do verbo encimar, em posição de cima: Pôs o livro na estante que encima a escrivaninha.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 27 de agosto de 2020
QUAL O FEMININO DE BISPO?
O feminino de pastor é pastora. E de bispo? No popular, dizemos bispa. Mas a norma culta ensina outra lição. É episcopisa, que rima com papisa, poetisa e profetisa.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 26 de agosto de 2020
PRESO E PRENDIDO: COMO USAR?
A polícia conjuga o verbo prender. Ele tem dois particípios. Um: preso. O outro: prendido. Quando usar um ou outro? Depende do auxiliar:
1. Com ser e estar, preso pede passagem: Flordelis não foi presa. Sete filhos da deputada estão presos.
2. Com ter e haver, é a vez do prendido: A polícia tem prendido secretários de Saúde envolvidos em corrupção. A polícia havia prendido o político, mas o tribunal mandou soltá-lo.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 25 de agosto de 2020
DOSSIÊ: ORIGEM, HISTÓRIA E CURIOSIDADE
Parecia boato. Aqui e ali, falava-se em um tal dossiê. Estariam coletando dados sobre funcionários antifascistas. Verdade? Mentira? O ministro da Justiça confirmou a informação, mas disse que não era dossiê, era relatório. No debate, pintou a curiosidade. Qual a origem de dossiê?
Francesinha
Dossiê veio do francês dossier. Quando nasceu, tinha conotação neutra. Significava série de documentos referentes a uma pessoa, ou a um assunto, ou a um processo. Com o tempo, virou palavrão. Tornou-se sinônimo de documentos usados como prova contra alguém. Valha-nos, Deus. Dá um meeeeeeeeedo.
Alto lá
O caso chegou ao STF. A relatora, ministra Cármen Lúcia, determinou a suspensão da coleta de dados. Pintou a oportunidade de uma diquinha de grafia. Por que suspensão se escreve com s? Porque deriva de verbos terminados em -ender.
Veja exemplos: suspender (suspensão), tender (tensão), apreender (apreensão, apreensivo, apreensível), compreender (compreensão, compreensível, compreensivo), pretender (pretensão, pretensioso), ascender (ascensão, ascensorista).
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 24 de agosto de 2020
R$ 600 É MUITO, R$ 200 É POUCO: O PORQUÊ DA CONCORDÂNCIA
A pandemia nos pegou de surpresa. Ceifou vidas e roubou empregos. Nada menos de 66 milhões de brasileiros ficaram sem salário e sem renda. O governo fez o que tinha de fazer — criou o auxílio emergencial de R$ 600. A ajuda, pra lá de bem-vinda, chega ao fim. Mas a crise sanitária continua.
E daí?
A saída é prorrogar o socorro. A equipe econômica disse que o país não aguenta manter o valor. Propôs reduzi-lo pra R$ 200. O Congresso bate pé nos R$ 600. Bolsonaro se opôs aos extremos: “R$ 600 é muito, 200 é pouco. Vamos ficar no meio-termo”.
A fala presidencial foi seguida de murmúrios. Não sobre montantes. Mas sobre a concordância – R$ 600 é muito, R$ 200 é pouco. O verbo no singular está correto? Está.
A manha
As locuções é muito, é pouco, é suficiente & cia. acompanhadas de especificação de quantidade, medida, preço, tempo e valor são invariáveis: R$ 600 é muito. R$ 200 é pouco. Quinze anos é tanto tempo! Dois quilos é pouco. R$ 10 é suficiente.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 23 de agosto de 2020
A PROFESSORA DE PORTUGUÊS: REVISÃO DIVERTIDA
1
Professora de português não nasce; deriva-se.
Não cresce; vive gradações.
Não se movimenta; flexiona-se.
Não é filha de mãe solteira; resulta de derivação imprópria.
Não tem família; tem parênteses.
Não envelhece; sofre anacronismo.
Não vê TV; analisa o enredo de uma novela.
Não tem dor aguda; tem crônica.
Não anda; transita.
Não conversa; produz texto oral.
Não fala palavrão; profere verbos defectivos.
2
Não se corta; faz hiato.
Não grita; usa vocativos.
Não dramatiza; declama com emotividade.
Não se opõe; tem problemas de concordância.
Não discute; recorre a proposições adversativas.
Não exagera; usa hipérboles.
Não compra supérfluos; possui termos acessórios.
Não fofoca; pratica discurso indireto.
Não é frágil; é átona.
Não fala demais; usa pleonasmos.
3
Não se apaixona; cria coesão contextual.
Não tem casos de amor; faz romances.
Não se casa; conjuga-se.
Não depende de ninguém; relaciona-se a períodos por subordinação.
Não tem filhos; gera cognatos.
Não tem passado; tem pretérito mais-que-perfeito.
Não rompe um relacionamento; abrevia-o.
Não foge a regras; vale-se de exceções.
Não é autoritária; possui voz ativa.
Não é exigente; adota a norma padrão.
Não erra; recorre a licenças poéticas.
(Autor desconhecido)
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 22 de agosto de 2020
ABAIXO O A BAIXO? DEPENDE.
Que enrascada! A pronúncia é a mesma. Mas a grafia não. Como safar-se?
A baixo se usa em frases como: Olhou-a de alto a baixo. A cortina rasgou-se de alto a baixo. O policial o observou de cima a baixo.
Abaixo é o contrário de acima: A casa veio abaixo. A correnteza levava o barco rio abaixo. No Rio Grande do Sul, temperatura está abaixo de zero.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 21 de agosto de 2020
TRAVESSÃO: DEUS DÚVIDA
O sinal do travessão equivale a dois hifens (—). Use-o:
1. Na introdução de diálogos em geral:
Andorinha lá fora está dizendo:
— Passei o dia à toa, à toa.
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa.
(Manuel Bandeira)
2. Na separação das datas de nascimento e morte de uma pessoa:
Recife, 1908 — Brasília, 1962.
3. No destaque de palavra ou expressão no interior de uma frase (no caso, é usado duplamente):
O candidato conseguiu – até – o aplauso dos adversários.
4. No lugar dos dois pontos ao introduzir uma enumeração. Compare:
Na feira, comprou as frutas habituais: banana, maçã, laranja, pera e melancia.
Na feira, comprou as frutas habituais — banana, maçã, laranja, pera e melancia.
5. Na substituição da vírgula nos apostos. Compare:
Brasília, a capital do Brasil, fica no Planalto Central.
Brasília — a capital do Brasil — fica no Planalto Central.
Moderação
Não abuse do travessão. Ele grita na frase. Um por parágrafo é pra lá de suficiente.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 20 de agosto de 2020
CONJUGAÇÃO: ABSTER
“Me abstenho de comentar”, disse o ministro. O verbo abster é derivado de ter. Pai e filho se conjugam do mesmo jeitinho, observadas as regras de acentuação: eu tenho (me abstenho), ele tem (se abstém), nós temos (nos abstemos), eles têm (se abstêm), eu tive (me abstive), ele teve (se absteve), nós tivemos (nos abstivemos), eles tiveram (se abstiveram); se eu tiver (me abstiver), se ele tiver (se abstiver), se nós tivermos (nos abstivermos), se eles tiverem (se abstiverem); eu tenho tido (me tenho abstido); ele está tendo (está se abstendo).
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 19 de agosto de 2020
A PAR E AO PAR? DEPENDE.
A par, expressão invariável, equivale a ciente, informado: O presidente está a par das reivindicações dos parlamentares. O noticiário nos deixa a par dos acontecimentos mundiais. Você está a par das negociações para a volta às aulas presenciais?
Ao par significa em equivalência de valor (título ou moeda de valor idêntico): O dólar já esteve ao par do real. Agora não está.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 18 de agosto de 2020
À MEDIDA QUE? NA MEDIDA EM QUE?
À medida que é conjunção proporcional. Quer dizer à proporção que: À medida que as investigações avançavam, mais indícios incriminavam o marido da vítima.
Na medida em que é conjunção causal que significa pelo fato de que, uma vez que, tendo em vista: Aumentaram os casos de desidratação na medida em que a umidade relativa do ar chegou a níveis críticos.
Atenção
Cuidado com os cruzamentos:
À medida em que e na medida que misturam estruturas. São cruzamentos sintáticos. Fuja deles. Xô!
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 17 de agosto de 2020
PLEONASMO: LIMITE MÁXIMO, PISO MÍNIMO
Escuta-se a torto e a direito a duplinha limite máximo. Baita pleonasmo. Limite é sempre máximo. Basta limite. O contrário joga no mesmo time. Piso mínimo é redundância. Basta piso.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 16 de agosto de 2020
MELHOR OU MAIS BEM?
Em 98% dos casos é melhor: Maria se veste melhor que Luíza. Pegou a covid-19, mas está melhor. Na prova, saiu-se melhor que a maioria dos colegas.
Mais bem tem dois empregos:
- Antes de particípio: Este texto está mais bem escrito do que aquele. A carreira de João é mais bem remunerada que a de Marcos. O time mais bem classificado no campeonato erguerá a taça.
- Em comparação: Ele está mais bem do que mal. Na prova, saiu-se mais bem do que mal.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 15 de agosto de 2020
PONTO E VÍRGULA: DUAS REGRAS
“A Maria Eugênia é uma moça muito inteligente. Ela sabe usar ponto e vírgula.” Mário Quintana não escreveu a frase por acaso. Ele sabia que ponto e vírgula é o sinal mais sofisticado da língua. Pode-se viver sem ele, mas, com ele, vive-se com mais requinte. Use a duplinha em duas ocasiões:
1.para separar termos de uma enumeração. Vale o exemplo dos 10 mandamentos:
- Amar a Deus sobre todas as coisas;
- Não tomar seu santo nome em vão;
- Honrar pai e mãe;
- Não matar;
- Não roubar.
2. para separar orações coordenadas quando, no mesmo período, ocorrem outros empregos da vírgula. Compare:
João trabalha no Banco do Brasil, Paulo trabalha no comércio, Carlos trabalha no Senado, Lucas trabalha no tribunal.
Monótono, não? O português tem alergia à repetição. Pra manter o período saudável, oferece saídas. Uma delas: conservar o verbo na primeira oração. Nas demais, substituí-lo por vírgula:
João trabalha no Banco do Brasil, Paulo, no comércio, Carlos, no Senado, Lucas, no tribunal.
Ops! Quem bate o olho no enunciado pela primeira vez fica pra lá de confuso. Por respeito ao leitor, impõem-se mudanças. Quais? A vírgula indica a omissão do verbo. O ponto e vírgula, separa a oração. Simples assim:
João trabalha no Banco do Brasil; Paulo, no comércio; Carlos, no Senado; Lucas, no tribunal.
Maria e Paula estudam na UnB. Esta cursa direito; aquela, economia.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 14 de agosto de 2020
OPERAÇÃO ATHENA: O PORQUÊ DO NOME
A Lei Maria da Penha completa 14 anos. Por isso a Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou a Operação Athena. Objetivo: capturar foragidos da Justiça por crime de violência contra a mulher. Em poucas horas, mais de 30 pessoas foram presas. A lista é enorme. Vale, pois, conhecer a história da divindade deu nome à ação.
A deusa da sabedoria
Atena em grego. Minerva em latim. A deusa nasceu adulta. Veio ao mundo armada, de capacete, acompanhada de uma coruja. Ao ver a luz do dia, soltou um grito. Daquele momento em diante, tornou-se a deusa dos combates. Lutou contra gigantes e grandes guerreiros. Ganhou todas as batalhas.
Ela era senhora estrategista. Todos a chamavam de deusa da sabedoria. Em sua homenagem, a capital da Grécia se chama Atenas. E a coruja se tornou símbolo das faculdades de filosofia. É que filosofia quer dizer amigo da sabedoria.