Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 07 de julho de 2019
SE ELA SE ABSTER? NÃOOOOOOOO!
Na língua, a família está acima de tudo. Abster-se sabe disso. O danadinho é derivado de ter. Um e outro se conjugam do mesmo jeitinho, observadas as regras de acentuação: eu tenho (me abstenho), ele tem (se abstém), nós temos (nos abstemos), eles têm (se abstêm); eu tive (me abstive), ele teve (se absteve), nós tivemos (nos abstivemos), eles tiveram (se abstiveram); se eu tiver (me abstiver), ele tiver (se abstiver), nós tivermos (nos abstivermos), eles tiverem (se abstiverem); eu tenho tido (me tenho abstido); ele está tendo (se abstendo). E por aí vai – sem tirar nem pôr.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 06 de julho de 2019
TINHA CHEGO? HAVIA CHEGO? NÃOOOOOOOO!
Chego é a primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo chegar (eu chego, ele chega). Chegado é o particípio (tinha chegado, havia chegado). Mas, num dia e noutro também, “tinha chego” e “havia chego” ganham espaço. Até escolas usam essa forma de vez em quando. Valha-nos, Deus!
Trata-se de vício que prolifera a olhos vistos. Mas ele não está com nada. Mantenha-se fiel ao que você estudou na escola. O particípio de chegar é chegado. Os tempos compostos formam-se com o trissílabo: Ele já tinha chegado quando a campainha tocou. Nós havíamos chegado à festa e presenciamos a confusão. Quando Paulo chegou, a mãe já havia chegado.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 05 de julho de 2019
CATORZE OU QUATORZE?
Ora vejam! Foi em São Paulo. Catorze chinesas eram exploradas em caraoquê de fachada. As moças vieram pra cá enganadas. Os aliciadores lhes ofereciam trabalho e qualidade de vida. Quando elas chegavam, descobriam a verdade. Destinavam-se à prostituição. Ao escrever a notícia, a dúvida surgiu na redação do jornal. Catorze ou quatorze? Tanto faz. A alternativa é acertar ou acertar.
Irmãzinhas
Ter duas caras e um significado não é privilégio de catorze ou quatorze. O numeral tem irmãzinhas. É o caso de percentagem e porcentagem, ouro e oiro, louro ou loiro, cota e quota, diabete e diabetes, caminhante e caminheiro. Ufa!
Por falar em caraoquê…
A japonesinha karaokê ganhou forma portuguesa. É caraoquê. Uma e outra têm o mesmo sentido. Querem dizer espaço vazio. A razão? Trata-se de casa noturna em que os clientes podem cantar acompanhados de músicos ou gravações. A voz deles preenche o vazio do espaço.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 04 de julho de 2019
MEUS ÓCULOS? MEU ÓCULOS?
Maju Coutinho estava no Chile para ver o eclipse do Sol. Ao entrar no ar, disse: “Aqui está meu óculos para proteger os olhos”. Tropeçou. Óculos é substantivo plural. Artigo e pronome que o acompanham vão atrás. Concordam com ele: Aqui estão meus óculos para proteger os olhos. Você comprou óculos escuros? Nunca sei onde guardo os óculos.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 03 de julho de 2019
PLEONASMOS: LIMITE MÁXIMO, TETO MÁXIMO, PISO MÍNIMO
“Irã ultrapassa o limite máximo de estoque de urânio”, anunciaram jornais, rádios, tevês e sites de norte a sul, de leste a oeste. Desperdiçaram palavras. Limite máximo joga no time de teto máximo e piso mínimo. O adjetivo sobra. O limite é sempre máximo, o teto também. O piso é sempre mínimo. Os adjetivos não têm vez: O Irã ultrapassou o limite de estoque de urânio. O governo tem de respeitar o teto de gastos. Categorias profissionais têm diferentes pisos salariais.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 02 de julho de 2019
MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: REAL E real
O Plano Real completa 25 anos. Como presente de aniversário, ele pede um favor: não confundi-lo com a moeda. O plano é nome próprio. Exige letra maiúscula: O Plano Real estabilizou a economia.
O dinheiro, coitado, não passa de vira-lata. Escreve-se com letra minúscula como as demais moedas: real, dólar, euro, libra, peso.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 01 de julho de 2019
CRASE: OBJETO DIRETO, ADJUNTO ADVERBIAL E SUPERDICA
“A crase não foi feita pra humilhar ninguém.” A frase de Ferreira Gullar fez escola. José Cândido de Carvalho adaptou-a para o sinalzinho de pontuação responsável por um mar de vítimas. “A vírgula”, escreveu ele, “não foi feita pra humilhar ninguém”. É verdade. Uma e outra têm papel definido. Contribuem para a clareza da mensagem. Dois casos servem de exemplo.
Um
Circula na internet uma brincadeirinha divertida. Ela joga com os diferentes sentidos decorrentes da presença ou da ausência da crase. Veja:
Se você me desse a tarde, eu alegremente a trocaria por uma crase.
Do jeito que está, a tarde funciona como objeto direto. Ela completa o sentido do verbo dar. A gente dá alguma coisa — dinheiro, presente, boa notícia. No caso, a pessoa dá a parte do dia em que o Sol começa a voltar pra casa. Belo e poético presente. Mas o receptor se dispõe a abrir mão dele. Prefere trocá-lo por algo que não está expresso, mas apenas subentendido:
Se você me desse à tarde, eu alegremente a trocaria por uma crase.
À tarde, assim, com acentinho grave, muda o enredo da novela. Em vez de complemento romântico, torna-se adjunto adverbial de tempo. O objeto fica em aberto, entregue ao gosto do freguês. Marcelo Abreu comentou: “Como se diz no Maranhão, é crase cheia de saliência. Com ela, a história mudaria completamente”.
Dois
O amor bate à porta
E tudo é festa.
O amor bate a porta
E nada resta.
A quadra, do piauiense Cineas Santos, também brinca com o acento grave. Como no exemplo anterior, o autor joga com as possibilidades da língua. À porta funciona como adjunto adverbial de lugar. Toc, toc, toc, anuncia ele, louco para entrar.
Em “bate a porta”, porta funciona como complemento do verbo bater. Podemos bater o bolo, bater o ponto, bater o prego. Ele pummmmmmm! Adeus, para nunca mais.
Por falar em crase…
Vamos combinar? Só pode brincar com crases & cia. quem conhece as possibilidades da língua. É o caso dos autores analisados. Eles dominam as manhas do acento grave. Não é difícil. Quer ver?
- Só ocorre crase se dois aa se encontrarem. O casório se dá quando a preposição aencontra outro a. Pode ser o artigo definido, o pronome demonstrativo a, ou o ainicial dos pronomes aquele, aquela, aquilo: O cão é fiel à dona. Entreguei o relatório àquele senador. Fez referência à tradução à qual nos temos dedicado.
2. Excluindo-se o caso dos demonstrativos, só haverá crase antes de palavra feminina, clara ou subentendida: Obedecemos à lei. Fui à Editora Nacional e à (editora) Globo. Canta à (moda de, maneira de) Julio Iglesias.
3. Use a crase em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas formadas por palavras femininas: à vista, às vezes, às escuras, às pressas, à noite, à tarde, à moda de, às apalpadelas, às tontas, às claras, à direita, à esquerda, à uma hora, à base de, à custa de, à força de, à espera de, à medida que, à proporção que.
Superdica
Forma fácil de descobrir se ocorre crase é substituir a palavra feminina por uma masculina (não precisa ser sinônima). Apareceu ao? Sinal de acento grave:
Fiel à dona. Fiel ao dono.
Fez referência à tradução (ao texto) à qual (texto ao qual) nos temos dedicado.
Saiu à uma hora. Saiu ao meio-dia.
Visitou a amiga. Visitou o amigo.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 30 de junho de 2019
SIGLAS: MAIÚSCULAS, MINÚSCULAS, PLURAL
As siglas não dão folga. Você abre o jornal, lá estão elas. Liga a tevê, não dá outra. Conversa com os amigos, as danadinhas aparecem. É ONU pra cá, PT pra lá, PM, UTI, Detran pracolá. Até as pessoas se transformam em letrinhas. É o caso de FHC, redução de Fernando Henrique Cardoso. Como lidar com criaturas tão especiais? Dois cuidados se impõem. Um: a grafia. O outro: a flexão.
- Use todas as letras maiúsculas se a sigla tiver até três letras ou se as letras forem pronunciadas uma a uma. Fora isso, só a primeira é grandona: PM, UTI, ONU, INSS, BNDES, Detran, Opep, Otan.
- O plural não é obrigatório, mas goza de enorme preferência. Pra chegar lá, basta acrescentar um essezinho no fim da sigla: PMs, UTIs, Detrans.
Olho vivo, marinheiros de poucas viagens. Nada de apóstrofo. Em português, o apóstrofo só se emprega pra indicar a supressão de letras: mãe-d´água.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 29 de junho de 2019
ABREVIATURAS: PONTO, PLURAL, ACENTO
A abreviatura é apressadinha. A língua colabora. Impõe regras para usá-las como manda o figurino. São três exigências. Uma: o ponto final. Outra: o s do plural. A última: o acento da grandona original: caps., cias., sécs., págs.
Símbolos, pesos e medidas
Hora, minuto, segundo, metro, quilograma, litro e respectivos derivados (quilômetro, grama, decilitro) jogam no time do sem-sem-sem — sem ponto, sem espaço e sem plural: 11h, 11h30, 55km, 10dl.
Na era da internet, imperam duas regras. Uma delas: menos é mais. A outra: menor é melhor. A abreviatura de horas se curva à modernidade. Só pede a indicação de minutos se forem especificadas as horas até segundo: 10h25, 10h25min30.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 28 de junho de 2019
IR A SÃO PAULO? IR PARA SÃO PAULO?
A Rede Einstein divulgou esta peça publicitária: “Já imaginou quantas pessoas que também moram em Brasília gostariam de ir a São Paulo fazer o tratamento no Einstein, mas não conseguem pelas mais diversas razões? Agora, chegamos até elas com a Rede Einstein de Oncologia e Hematologia”. Leitores estranharam a preposição a. “Não seria para São Paulo?” perguntam eles.
O verbo ir admite as duas preposições. Mas o significado muda:
Ir a = ir por pouco tempo, ir e voltar logo: Foi a Recife passar as férias. Fui a Berlim no ano passado. Vai a Nova York passar o Natal.
Ir para = mudar-se, ficar um tempo longo: Foi para Recife fazer o mestrado. Vai para o Rio trabalhar em turismo nas comunidades. “Vou-me embora pra Pasárgada.” (Manuel Bandeira)
Nota 10 para o anúncio. A pessoa vai a São Paulo fazer a consulta e volta pra casa.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 27 de junho de 2019
CONCORDÂNCIAS ESPINHOSAS: SUJEITO POSPOSTO, OU, NEM
A vida é feita de acordos. Concordamos usar o cinto de segurança. Concordamos obedecer à velocidade da via. Concordamos não andar nus em público. Concordamos dar bom-dia, boa-tarde, boa-noite ao entrar no elevador. Concordamos não furar a fila. Concordamos não arrotar à mesa. Concordamos que a escola ensina e o aluno aprende.
Concordamos que na língua existe hierarquia. Há termos que mandam e termos que obedecem. A concordância serve de exemplo. Aonde o sujeito vai, o verbo vai atrás. Se o mandachuva está no singular, o verbo nem pisca. Vai para o singular. Se no plural, idem. Se na primeira pessoa, idem, idem. Se na segunda ou terceira, idem, idem, idem: Eu trabalho. Paulo estuda. Nós viajamos. Os ladrões correm da polícia.
Apesar da submissão incondicional, pintam dúvidas aqui e ali. É o caso de sujeitos pospostos. É o caso, também, de sujeitos ligados pela conjunção nem. Ou pela conjunção ou. “Existem acordos?”, perguntam estudantes, concurseiros, advogados, jornalistas. A resposta: existem. Vamos a eles?
1. Sujeito posposto
As palavras detestam ficar paradas. Por isso, circulam. Sujeito, verbo, objetos, adjuntos mudam de lugar como artistas trocam de roupa. O passeio da moçada confunde gente boa de gramática. Olho vivo! Antes de optar por esta ou aquela flexão, procure o mandachuva. O verbo se curva diante dele:
Passavam, apesar da repressão da polícia, manifestantes de diferentes partidos políticos.
Dica: na dúvida, troque a ordem dos termos da oração. Com o sujeito na frente do verbo, adeus, vacilo: Manifestantes de diferentes partidos políticos passavam apesar da repressão da polícia.
2. Sujeitos ligados por nem
Atenção à manha. Sujeitos ligados por nem jogam em dois times. Optar por um ou outro exige compreensão do enunciado. Quer ver?
2.1. Verbo no plural se os dois ou mais sujeitos podem praticar o fato expresso pelo verbo: Nem eu nem você podemos sair. Nem o médico nem o enfermeiro perceberam o erro. Nem o presidente nem qualquer outra pessoa podem se opor à discussão do assunto.
2. 2. Verbo no singular se o fato expresso pelo verbo excluir um dos sujeitos: Nem Paulo nem Luiz será eleito presidente da República.
3. Sujeitos ligados por ou
O ou é pequenino. Mas dá nó em fumaça. Na concordância, joga no time do nem — exige interpretação da frase. Por quê?
3.1. Verbo no plural se o fato expresso pode ser atribuído a todos os sujeitos: O mal ou o bem dali teriam de vir. O titular ou o substituto têm de estar preparados para eventuais contratempos. O professor, o diretor ou o psicólogo atenderão os pais que chegarem antes da hora da festa.
3.2. Verbo no singular se o fato expresso pelo verbo só pode ser atribuído a um dos sujeitos. No caso, haverá ideia de alternância ou exclusão: Ou João ou Rafael será capitão do time na partida de domingo. Ou Carmem ou Maria será eleita presidente do centro acadêmico. Ou a França ou o México ganhará o comando do jogo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 26 de junho de 2019
BAIXOU A VOZ? ABAIXOU A VOZ?
Abaixar e baixar são sinônimos. Mas há empregos em que só o baixar tem vez:
1. quando o verbo for intransitivo: a temperatura baixou, o nível da água baixa na seca, o preço da carne baixará;
2. no sentido de expedir: o presidente baixa decreto, o secretário baixou portarias, o ministro baixa instruções;
3. Na expressão “baixar programas na internet”.
No mais, com objeto direto, um ou outro verbo têm uso corrente: baixou (abaixou) a voz, baixa (abaixa) o preço, baixou (abaixou) o volume do som.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 25 de junho de 2019
MESMO: EMPREGO
A Marinha do Brasil comentou o acidente sofrido por Benício, filho de Angélica e Luciano Huck. Na nota, escreveu que “o filho do apresentador esquiava em prática esportiva, desequilibrou-se da prancha e chocou a cabeça na mesma”. Ops! Tropeçou no emprego do mesmo. O dissílabo não tem vez no lugar de substantivo ou pronome: Vi Maria. A mesma embarcava no voo com destino a São Paulo. Xô! Vi Maria. Ela embarcava no voo com destino a São Paulo. O filho do apresentador esquiava em prática esportiva, desequilibrou-se e chocou a cabeça na prancha.
Empregos
1. Quando reforça nome ou pronome, mesmo concorda com o termo a que se refere: Ele mesmo leu o discurso. Ela mesma leu o discurso. Nós mesmos (mesmas) lemos o discurso. Eles mesmos leram o discurso. Elas mesmas leram o discurso.
2. Com o significado de realmente, mantém-se invariável: Ele disse mesmo a verdade. Eles saíram mesmo às 18h.
Tropeção
Este aviso aparece na parede perto dos elevadores de norte a sul do país. É lei. Por isso é reproduzido tim-tim por tim-tim: “Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Valha-nos, Deus, Maria e Divino Espírito Santo! É a receita do cruz-credo. O texto comete quatro pecados – na estrutura da frase, na pontuação, na colocação do pronome átono e no emprego do mesmo. A forma nota 10 é esta: Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar. Melhor ainda: Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 24 de junho de 2019
SUFIXO OIDE: HUMANOIDE, FACTOIDE, ASTEROIDE
Eles fazem segurança de loja, atendem hóspedes em hotel, dão informações sobre assuntos diversos. Parecem gente. Mas gente não são. São robôs humanoides.
Humanoide rima com asteroide, que rima com debiloide. Todas têm um denominador comum. Terminam em –oide. As quatro letrinhas vêm do grego. Querem dizer forma, aparência, imagem. Humanoide é o que tem aparência de humano. Asteroide, de astro. Debiloide, de débil mental.
Às vezes, as danadinhas bancam as gozadoras. Mandam a seriedade pras cucuias e caem na diversão. Agregam-se a certas palavras para dar-lhes sentido irônico-jocoso. Factoide serve de exemplo. Mas não está só. Faz companhia a cretinoide.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 23 de junho de 2019
HÍFEN E ETIMOLOGIA: EGO
Ego pede hífen quando seguido de h ou o. No mais, é tudo juntinho como unha e carne: ego-histeria, ego-organização, egocêntrico, egolatria, egoidealizado.
Curiosidade
De ego nasceu eu. E deu origem a conhecida prole. Egoísta é um de seus membros. Egocêntrico, outro. Ególatra, mais um. Todos têm os dois olhos postos no próprio umbigo. Adorar a si mesmo não é velho como o céu e a Terra. A mitologia grega tem até um deus pra representar a egolatria. É Narciso. O mancebo era o belo entre os belos. As ninfas não resistiam a seus encantos. Batiam o olho nele e caíam de amor. O moço não estava nem aí.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 22 de junho de 2019
SOLSTÍCIO DE INVERNO
Os festejos de São João coincidem com o tempo do solstício do inverno austral. Até as cidades assumem os ares do mundo rural em suas festas juninas, construindo arraiais repletos de agrocultura e calor humano. O mundo rural vive intensamente esse tempo de alegria, comidas típicas, danças e músicas tradicionais, como as quadrilhas.
São João preparou os caminhos do Senhor Jesus. Foi decapitado por anunciar a Verdade. As fogueiras juninas ou joaninas fazem as noites mais quentes e iluminadas. E o fogo é um símbolo de purificação e iluminação.
A partir de 22 de junho, a duração dos dias volta a aumentar. E assim será até o dia 22 de dezembro, o do solstício de verão, quando o Sol percorre o Trópico de Capricórnio e anda a pino sobre a cabeça dos paulistanos.
A luz retorna nos festejos juninos. Sua vitória é inexorável. É tempo de iluminação, tão necessária ao nosso Brasil.
Evaristo de Miranda é pesquisador da Embrapa (escreveu esse texto na Austrália, onde ele está no momento)
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 21 de junho de 2019
CORPUS CHRISTI: EM BOM PORTUGUÊS, CORPO DE CRISTO
Em bom português, Corpus Christi significa Corpo de Cristo. Trata-se de festa da Igreja Católica que tem por objetivo celebrar o mistério da eucaristia, o sacramento do corpo e do sangue de Jesus. Comemora-se 60 dias depois da Páscoa ou na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, em alusão à quinta-feira santa, quando Jesus instituiu o sacramento da eucaristia.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 20 de junho de 2019
MORO DEPÔS NO SENADO? AO SENADO?
Moro se antecipou. Antes que os senadores o convocassem, ele se ofereceu para prestar esclarecimentos sobre mensagens que teriam sido trocadas entre ele e o procurador Deltan Dallagnol. A sessão durou oito horas. Enquanto perguntas e respostas se sucediam, pintou a questão: Moro depôs ao Senado ou no Senado? O verbo exige a preposição em: Moro depôs no Senado. O acusado vai depor na Polícia Federal. Quem vai depor na CPI?
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 19 de junho de 2019
REÚSO: O PORQUÊ DO ACENTO
A Agência Reguladora de Água, Energia e Saneamento (Adasa) pôs no ar bela campanha educativa: “Use, reúse e economize”, é o mote. Telespectadores atentos se perguntaram por que reúse ganha acento. Trata-se da quebra do ditongo. O e e u, quando juntos, pronunciam-se numa emissão de voz. É o caso de reunião. Para quebrar o ditongo, o agudão pede passagem. O u se acentua se preencher quatro condições:
1. formar sílaba sozinho ou com s
2. for antecedido de vogal
3. não ser seguido de nh
Veja: re-ú-so, sa-ú-de, con-te-ú-do, sa-ú-va, ba-ú, ba-ús.
Mesmo time
A mesma regra vale para o i: sa-í-da, ba-í-a, caí, ca-í-da, e-go-ís-ta (mas: ra-i-nha, ba-i-nha, cam-pa-i-nha).
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 18 de junho de 2019
COMO ASSIM É COISA NOVA? NÃO
Pedro Rogério é escritor talentoso e leitor voraz. Outro dia, circulava pelo universo da literatura portuguesa quando descobriu expressão pra lá de curiosa. É ele quem escreve: “Acabo de ler em O bobo (1843), de Alexandre Herculano, cenário do medieval ibérico, a expressão pós-moderna `como assim?´, com a mesma intenção de espanto na conversação dos jovens de hoje diante de algo incomum ou esdrúxulo. Nada de novo sob o sol”.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 17 de junho de 2019
CLAREZA: SEU E SUA
As histórias estão em alta. Jornalistas, advogados, professores, empresários recorrem a narrativas para sobressair, argumentar e vender o peixe com desenvoltura. Daí por que fazem e oferecem cursos de storytelling, nome emprestado do inglês que significa contação de histórias.
Ali aprendem as manhas e artimanhas da técnica tão antiga quanto o suceder dos dias e das noites, a mudança das fases da Lua ou a troca das estações do ano. A coluna entrou na onda. Selecionou narrativa que ensina lição útil pra quem fala, escreve ou simplesmente se diverte com o que ouve ou lê.
Era uma vez
O presidente do banco estava preocupado. Seu assessor era o profissional que pediu a Deus. Chegava cedo, saía tarde, comia ali mesmo, na sala de trabalho. De repente, não mais que de repente, começou a ausentar-se na hora do almoço.
Desconfiado, o chefão contratou um detetive para descobrir o porquê da mudança. O investigador voltou no dia seguinte com a resposta:
— Seu assessor sai ao meio-dia, pega o seu carro, vai à sua casa almoçar, namora a sua mulher, fuma um dos seus excelentes cubanos e regressa ao trabalho.
O presidente comentou que não havia nada de mal no comportamento do subordinado. Incomodado, o Sherlock Holmes pediu licença para tratá-lo por tu. E repetiu a história:
— O assessor sai ao meio-dia, pega o teu carro, vai à tua casa almoçar, namora a tua mulher, fuma um dos teus excelentes cubanos e regressa ao trabalho.
É isso. Seu e sua podem se referir ao ser com quem se fala ou ao ser de quem se fala. Daí a ambiguidade. Olho neles.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 16 de junho de 2019
HACKER: ETIMOLOGIA
José Horta Manzano
No original, o verbo inglês to hack significa cortar grosseiramente. O nome hacker, portanto, designa o sujeito que passa o dia com a faca na mão a cortar, decepar, romper ou rachar. Dado que cortadores profissionais não são multidão, deduz-se que esse substantivo não há de ter sido muito usado nos séculos de antigamente.
A segunda metade do século 20 assistiu a lento movimento de popularização do computador. Alguém teve a ideia de pescar no vocabulário inglês o termo hacker pra designar o perito em segurança informática. No início, o termo indicava o profissional ‘do bem’, que exercia suas funções sem causar dano a ninguém.
Com o passar dos anos e a crescente democratização dos computadores, o número de especialistas mal-intencionados aumentou. Muito agressivo, este novo tipo de hackerage por curiosidade, por pura má-fé, por consciência política ou por interesse financeiro. Diante de um leque tão amplo de motivações, todos nós estamos ameaçados de hackeamento.
O cidadão comum, que não faz parte dos círculos do poder, não precisa temer que sua privacidade seja invadida por razões políticas. Assim mesmo, é aconselhável proteger-se contra ataques movidos por hackers de má-fé, que nunca se sabe – tem muita gente perturbada por aí.
Já os que navegam nas esferas mais elevadas – políticos, magistrados, milionários, grandes empresários – têm de ser espertos. Por óbvio, estão em permanência no olho do furacão, na mira de muitos interesses. Não há problema em usarem o telefone pra dar bom-dia ou pra marcar encontro. O embaraço começa quando têm de manter conversa confidencial, seja verbal ou escrita.
Pra garantir privacidade total, só há um meio: utilizar telefone criptografado(*), daqueles cuja inviolabilidade é garantida. Assim mesmo, o utilizador, seja ele magistrado, político ou empresário, deveria procurar assistência de um perito que o iniciasse nas artes de bloquear tentativas de invasão.
Pode parecer complicado, mas é indispensável. Mentir, mentimos todos. Bobagens, proferimos todos. Atalhos pouco republicanos, tomamos todos. Pra resumir: ninguém é santo. Portanto, mais vale prevenir antes que nossos podres sejam expostos em praça pública.
Antes de fechar, uma reflexão: todas essas revelações não fazem Lula da Silva inocente. Nem Eduardo Cunha. Nem Sergio Cabral Filho. Nem o resto da turma.
(*) Criptografado não me parece palavra adequada a esse caso. O segundo elemento (grafado) desorienta. Melhor seria dizer “telefone criptado”. Acontece que o verbo criptar ainda não está dicionarizado. Um dia, quem sabe.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 15 de junho de 2019
TRANSPORTE PIRATA OU TRANSPORTE-PIRATA?
A greve do transporte público deixou duas saídas para quem precisa sair de casa. Uma: tirar o carro da garagem. A outra: recorrer ao transporte pirata. Assim mesmo: pirata, na função de adjetivo, escreve-se sem hífen. Flexiona-se no plural: transporte pirata, transportes piratas; rádio pirata, rádios piratas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 14 de junho de 2019
MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: NOME PRÓPRIOS VIRAM COMUNS
A língua joga no time dos mutantes. Instrumento de comunicação das pessoas, muda conforme mudam os tempos e os falantes. Concordâncias, regências, colocações, significados trocam o passo conforme a música. A grafia não fica atrás. Maiúsculas e minúsculas servem de exemplo.
Os nomes próprios se escrevem com inicial grandona. É o caso de João, Maria, Aquiles, Pará, Colônia, Brasil. Às vezes, porém, eles entram na composição de substantivos comuns. O resultado é um só. Tornam-se vira-latas: joão-de-barro, castanha-do-pará, água-de-colônia, pau-brasil, banho-maria, maria vai com as outras, calcanhar de aquiles.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 13 de junho de 2019
NAMORAR: REGÊNCIA
Nos tempos em que Adão e Eva usavam fraldas, namorava-se com um vigia. Era a vela. Os tempos mudaram. Hoje a moçada dispensa companhia. Ele e ela fazem a festa. Oba! Vamos combinar? Namorar sem intermediários é pra lá de bom. Por isso, prefira a regência direta: João namora Maria. Maria namora João. João a namora. Maria o namora.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 12 de junho de 2019
PAR DE SAPATO OU PAR DE SAPATOS?
Sempre plural: par de luvas, par de sapatos, par de botas, par de filhos, coleção de livros, coleção de selos, coleção de quadros, grupo de alunos, grupo de escritores, grupo de mães. E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 11 de junho de 2019
SÃO OU SANTO? DEPENDE.
Lamartine Babo compôs. O povo cantou: “Eu pedi numa oração / Ao querido São João / Que me desse um matrimônio / São João disse que não / Isso é lá com Santo Antônio”.
Fazer o quê? Vamos em frente. Santo e são têm o mesmo significado. Querem dizer indivíduo que foi canonizado. São é forma apocopada. Preguiçosa, deixou a última sílaba no caminho como frei (freire), bel (belo), mui (muito).
Quando dar a vez a uma ou à outra? Use santo quando seguido de nome iniciado por vogal ou h (Santo Agostinho, Santo Expedito, Santo Hilário). Dê passagem ao são nos demais casos (São Bento, São Carlos, São Caetano). Exceção? No duro, no duro, só uma. É São Tirso. Há dois indecisos: São Tomás ou Santo Tomás, São Borja ou Santo Borja.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 10 de junho de 2019
MESES E PONTOS CARDEAIS: POR QUE MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS?
Por que o nome dos meses se escreve com inicial minúscula e o nome dos pontos cardeais com inicial maiúscula? Quem decide o emprego de maiúsculas e minúsculas é o Vocabulário ortográfico da língua portuguesa (Volp), da Academia Brasileira de Letras. Os imortais definiram que janeiro, fevereiro, março & cia. são nomes comuns. Daí a inicial pequenina. Definiram, também, que Norte, Sul, Leste e Oeste, substantivos próprios, se grafam com inicial grandona. Nós, inteligentes que somos, dizemos amém. Manda quem pode. Obedece quem tem juízo.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 09 de junho de 2019
ATRAVÉS DE: EMPREGO
A locução através de pertence à família do verbo atravessar. Deve, portanto, ser empregada no sentido de passar de um lado a outro, ou passar ao longo de: Vejo o jardim através da janela (meu olhar atravessa a janela e chega ao jardim). O conceito de beleza mudou através dos tempos (ao longo do tempo, o belo foi adquirindo significados diferentes).
Embora o modismo seja repetido a torto e a direito, evite usar através de em lugar de mediante, por meio de, por intermédio de, graças a ou da preposição por: Falei com ele pelo telefone. O acerto será feito mediante acordo de líderes. A notícia chegou por intermédio dos familiares da vítima. Chega-se às melhores soluções por meio do planejamento. Improvisação não está com nada.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 08 de junho de 2019
POR QUE MICRO-ONDAS SE ESCREVE COM HÍFEN?
Rolou fake news na internet. O governo japonês teria proibido o uso de micro-ondas. Horas depois, veio o desmentido. Alívio. Mas a notícia falsa deixou uma questão: por que micro-ondas se grafa com hífen? Micro-entra na regra dos prefixos. Pede o tracinho quando seguido de h ou quando duas letras iguais se encontram. No mais, é tudo junto: micro-história, micro-ônibus, microbiologia, microssistema, microrrevista.
Eis exemplos de outros prefixos que também obedecem à regra sem esperneios: contra-ataque, anti-imperialismo, anti-herói, super-homem, super-região, macro-homenagem, macro-organismo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 07 de junho de 2019
ALERTAR: REGÊNCIA
Quando transitivo indireto, pede as preposições de, para, sobre ou contra: O assessor alertou o ministro sobre (para) a repercussão da medida. Alerta-o sempre contra as drogas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 06 de junho de 2019
JOÃO-DE-BARRO COM HÍFEN, PÉ DE MOLEQUE SEM HÍFEN. P POR QUÊ?
O que não pode faltar na festa junina? Muitas coisas. A mais importante: pé de moleque. Olho vivo! A reforma ortográfica cassou o hífen do docinho gostoso. Ele nem ligou. Livre e solto, continua reinando Brasil afora.
Companhia
A reforma ortográfica eliminou o tracinho dos compostos por justaposição com um termo de ligação. São em geral três palavras que, soltas, nada têm a ver uma com as outras. Mas, juntas, formam um terceiro vocábulo.
É o caso de pé de moleque. Pé designa parte do corpo. Moleque, menino sapeca. A preposição de os junta. O trio dá nome ao doce que não pode faltar nas festas juninas.
Exemplos não faltam. Eis alguns: mão de obra, dia a dia, dor de cotovelo, folha de flandres, testa de ferro, leão de chácara, faz de conta, quarto e sala, mula sem cabeça, tomara que caia.
Sem vacilos
A reforma não atingiu todas as palavras assim compostas. As que designam bicho ou planta conservam o tracinho. Mantêm-se como dantes no quartel de Abrantes: cana-de-açúcar, ipê-do-cerrado, pimenta-do-reino, castanha-do-pará, joão-de-barro, bem-te-vi, bem-me-quer, porco-da-índia, canário-da-terra. E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 05 de junho de 2019
DE NADA ADIANTARÃO PROMESSAS? DE NADA ADIANTARÁ PROMESSAS?
José Aldo Peixoto Corrêa lia o jornal de sábado com tranquilidade. Quando chegou ao editorial, ops! Encontrou esta frase: “De nada adiantará promessas de prosperidade”. Os olhos doeram. Com razão. Encontraram baita erro de concordância. Trata-se de tropeço pra lá de comum. A causa de tantos esbarrões se chama ordem inversa. O sujeito muda de lugar. Vai pra depois do verbo. Aí, os distraídos o confundem com o objeto. Compare:
Promessas de prosperidade (sujeito) de nada adiantarão.
De nada adiantarão promessas de prosperidade.
Bicicletas passavam na minha rua.
Passavam bicicletas na minha rua.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 04 de junho de 2019
DESCRIMINAR E DISCRIMINAR: EMPREGO
Volta e meia, o assunto vem à tona. Trata-se da descriminação da maconha. Quando se debate o tema, alguns apoiam a mudança. Outros preferem manter as regras. No calor da discussão, não dá outra: muitos tropeçam em uma letra e fazem um senhor estrago. Melhor dar a César o que é de César. É fácil como andar pra frente ou tirar chupeta de bebê. Quer ver?
Descriminar é inocentar, deixar de ser crime. O prefixo des- dá ideia de negação. É o mesmo que aparece em desobedecer: Gabeira luta para descriminar o uso da maconha.
Discriminar é distinguir, tratar de maneira diferente: A legislação não discrimina a mulher. A Constituição diz que discriminar é crime.
Curiosidade
O jogo virou. Antes, as mulheres reclamavam de discriminação. Estavam certas. Ser mulher já foi crime. Menstruar era sinal de impureza. São Tomás chegou a afirmar que menina só ganhava alma depois de 40 dias de nascida. Com o movimento feminista, as bravas senhoras conseguiram descriminar a condição feminina. Viva!
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 03 de junho de 2019
APÓS E DEPOIS: EMPREGO
Com particípio, deve-se usar a locução depois de, não após: Depois de editada, a medida provisória entrou em vigor. Depois de publicado, o decreto provocou reações negativas. Depois de feito o trabalho, pôde descansar. (Nunca: após editada, após publicado, após feito.)
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 02 de junho de 2019
POR QUE JUNHO SE CHAMA JUNHO?
Junho se chama junho porque homenageia Juno, a primeira-dama do Olimpo. Casada com Zeus, o deus dos deuses, ela acompanha o maridão nas idas e vindas mundo afora. Sabe por quê?
Ele adora namorar as moças bonitas. Ao ver uma, dá um jeitinho de distrair a mulher. E, livre, joga o charme divino sobre as jovens. Teve, por isso, muitos romances e montões de filhos.
Quando descobre a infelicidade, Juno poupa o marido. Faz de conta que não sabe de nada — para manter a aliança na mão esquerda. Separação e divórcio não passam pela cabeça dela. Mas vingança sim. A deusa pune sem piedade a rival e os filhos. Hércules foi uma das vítimas.
Por ser a defensora do casamento, os casais a adoram. Muitos lhe prestam homenagens. Os romanos lhe deram um senhor presente. É o sexto mês do ano. Pra lembrar Juno, junho se chama junho.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 01 de junho de 2019
DESPERCEBIDO O DESAPERCEBIDO
Sob um guarda-chuva para se proteger de fake news, o ministro da Educação bateu nas notícias falsas e, de quebra, na gramática. A vítima? O verbo haver. Disse ele: “Haviam emendas parlamentares de R$ 55 milhões para recuperar o museu”. Esqueceu-se de pormenor pra lá de importante. No sentido de existir, haver é impessoal. Sem sujeito, só se conjuga na 3ª pessoa do singular: Havia emendas parlamentares. Havia muitos estudantes nas manifestações. Há reivindicações pra dar e vender.
Feito o estrago, esperava que o tropeço passasse… despercebido ou desapercebido? Despercebido, claro. Veja por quê:
Despercebido = ignorado, sem ser notado: O contrabando passou despercebido na fronteira sul do país.
Desapercebido = desprevenido: Foi ao supermercado e encheu o carrinho de compras. Na hora de pagar, cadê? Estava desapercebido. A carteira ficara em casa. Convenhamos: ninguém merece.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 31 de maio de 2019
BOATO FALSO E PLEONASMO?
Não. O dicionário Houaiss diz que boato é notícia muito propalada, mas “não necessariamente falsa”.
Etimologia
Boato vem do latim boatu, que quer dizer grito, alvoroço. Com o tempo, passou a designar notícia falsa, anônima, sem fonte assumida. Mas, apurada, pode ser falsa ou verdadeira.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 30 de maio de 2019
DENGUE: ETIMOLOGIA E EMPREGO
Há dengues e dengues. Um é faceirice, feitiço, requebro. Criança mimada é cheia de dengues. Dengosa que só. Outro é a doença. O pobre picado pelo mosquito Aedes aegypti sofre. Sente tantas dores nos músculos e articulações que não tem saída. Anda requebrando. O quadril pra lá e pra cá lembra os caprichos da denguice. Os espanhóis não deixaram por menos. Chamaram a enfermidade de dengue. Nós os seguimos.
Moral da história: no mundo nada se cria. Tudo se copia.
Gênero
A dengue? O dengue? A doença é feminina. O dengo, masculino: A dengue preocupa o governo na época da chuva. O dengue é a marca de crianças mimadas. E de marmanjos também.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 29 de maio de 2019
CINCO MESES É MUITO TEMPO? SÃO MUITO TEMPO?
Sérgio Moro disse que “cinco meses é pouco tempo pra resolver o problema carcerário”. Repórteres repetiram a declaração. Comentaristas aplaudiram ou criticaram. Muitos tropeçaram na concordância: “Cinco meses são pouco tempo para resolver o problema carcerário”. Nada feito.
As expressões é muito, é pouco, é mais de, é menos de, é suficiente, acompanhadas de especificação de quantidade, medida, preço, tempo e valor, são invariáveis: Dois mil reais é muito. Quinze anos é tanto tempo! Dois quilos é pouco. Dez reais é suficiente. Cinco meses é pouco tempo pra resolver o problema carcerário. Um é pouco. Dois é bom. Três é demais.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 28 de maio de 2019
É HORA DE ELE CANTAR? É HORA DELE CANTAR?
“Apesar do presidente da República não marcar presença nas manifestações a favor do próprio governo e de propostas como a Reforma da Previdência, o chefe do Executivo se manifestou em apoio aos atos”, escreveu o site do CB. Ops! Esqueceu-se de pormenor pra lá de importante. Antes do sujeito, não se usa a combinação da preposição com o artigo. Preposição e artigo ficam soltos. Assim: Apesar de opresidente da República não marcar presença nas manifestações a favor do próprio governo e de propostas como a Reforma da Previdência, o chefe do Executivo se manifestou em apoio aos atos. Viu? Presidente da República é o sujeito. Por isso não há combinação da preposição de com o artigo o.
Outros exemplos
Apesar de o ministro (sujeito) negar, é certa a edição de nova medida provisória.
A fim de o povo (sujeito) se familiarizar com a Nova Previdência, ampla campanha será veiculada pelos meios de comunicação de massa.
É hora de o galo (sujeito) cantar.
Igualzinha
A mesma regra se aplica a de este e de ele: Apesar de essa informação (sujeito) ter sido confirmada… A fim de ele (sujeito) continuar no páreo.. É hora de ele (sujeito) cantar.
Curiosidade
A língua se parece com os falantes. Cheia de caprichos, tem preferências e caprichos. Tem, também, amigos e inimigos. O sujeito serve de exemplo. Mandão, forçou o verbo a concordar com ele. Não satisfeito, cortou relações com a preposição. A maior inimiga: de. Diante da monossilábica criatura, fica uma lá e outro cá. É a tal história conhecida em Europa, França e Bahia: dois bicudos não se beijam.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 27 de maio de 2019
VERDE-AMARELO E VERDE E AMARELO: PLURAL
Os manifestantes que estão nas ruas vestem as cores nacionais — o verde e o amarelo. Elas aparecem grafadas de dois jeitos. Um: verde-amarelo. O outro: verde e amarelo. Narradores e repórteres tropeçam numa questão ao se referir à dupla ou ao trio. Como flexioná-los?
Verde e amarelo — os dois adjetivos concordam com o nome a que se referem: calção verde e amarelo, calções verdes e amarelos, blusa verde e amarela, blusas verdes e amarelas.
Verde-amarelo — o primeiro adjetivo mantém-se invariável. Só o segundo varia em gênero e número. Assim: calção verde-amarelo, calções verde-amarelos, blusa verde-amarela, blusas verde-amarelas.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 26 de maio de 2019
90% DA POPULAÇÃO BUSCA OU BUSCAM?
“Celebrando o Dia Nacional da Adoção, que ocorre neste sábado (25/5), equipes técnicas das varas infantojuvenis no país investem em projetos que procuram dar visibilidade e sensibilizar a população na adoção de crianças e jovens cujo perfil não é o mais buscado. É a chamada “busca ativa”. Cerca de 90% da população buscam crianças menores de 3 anos para adotar.” Pintou a dúvida: busca ou buscam? Trata-se do partitivo. O verbo pode concordar com o numeral (90) ou com o complemento (população). No caso, é acertar ou acertar: Cerca de 90% da população buscam. Cerca de 90% da população busca.
Mais exemplos
23% dos estudantes tiraram nota máxima em redação. (O numeral e o complemento estão no plural. Por isso só o plural tem vez.)
1% dos visitantes gostou da mostra. (O verbo concorda com 1.)
1% dos visitantes gostaram da mostra. (O verbo concorda com visitantes.)
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 25 de maio de 2019
EDUARDO BOLSONARO CASA OU SE CASA NO SÁBADO?
No sentido de contrair núpcias, prefira a forma pronominal. Assim: Eduardo Bolsonaro se casa no sábado. O pastor casa os noivos Eduardo e Heloísa, mas eles se casam.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 24 de maio de 2019
IR AO RIO? IR PAR AO RIO?
Olho vivo! O verbo ir tem manhas. Aceita mais de uma preposição. Mas usar uma ou dá recados diferentes:
Ir a = deslocamento breve: ir ao cinema, ir ao teatro, ir ao clube, ir ao Rio.
Ir para = deslocamento demorado. Em geral implica mudança: Foi para a Austrália na esperança de conseguir emprego melhor. Foi para o Rio com o objetivo de ficar perto dos filhos. Vai para Oxford fazer o doutorado. Na busca de oportunidades, jovens vão para grandes centros.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 23 de maio de 2019
AONDE VAI? ONDE VAI?
A relação do presidente com o Congresso é pra lá de instável. Ora Sua Excelência trata deputados e senadores como inimigos do Brasil. Ora os bajula como filhos mimados. A alternância de ataques e afagos mereceu editorial da Folha de S. Paulo com este título: “Aonde vai Bolsonaro?”
Leitores ficaram com a pulga atrás da orelha. O xis da questão não era o conteúdo, mas o pronome interrogativo. O “aonde” está correto? Está. O trissílabo se usa com verbo de movimento que exige a preposição a. É o caso de ir. Ele preenche as duas condições. (A gente vai a algum lugar.): Aonde ele vai? Não sei aonde ele vai. Gostaria de adivinhar aonde ele foi.
Superdica
Na hora de escrever aonde pintou a dúvida? Recorra ao troca-troca. Substitua a por para. Se a dissílaba couber, vá em frente. Dê a vez ao aonde: Para onde ele vai? Não sei para onde ele vai. Gostaria de saber para onde ele foi.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 22 de maio de 2019
COMEÇAR X A PARTIR DE: PLEONASMO
“Novas regras para uso de patinete em São Paulo começam a valer a partir do dia 28”, disse o repórter. Certo? Nãooooooooo!
A partir de é expressão de tempo. Quer dizer a começar em. Por isso, a partir de não combina com o verbo começar. É pleonasmo escrever “Novas regras para uso de patinete em São Paulo começam a valer a partir do dia 28″. Escolha um ou outro. Diga assim: Novas regras para uso de patinete em São Paulo começam a valer no dia 28. Ou assim: Novas regras para uso de patinete em São Paulo valem a partir do dia 28.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 21 de maio de 2019
ESTAR EM FÉRIAS? ESTAR DE FÉRIAS?
O sujeito está em coma, em transe, em pânico, em perigo, mas… de férias ou em férias? Eta coisa boa! Tão boa que você pode escolher: Em julho vou estar de férias. Em julho, vou estar em férias.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 20 de maio de 2019
MAIÚSCULAS E MINÚSCULAS: SOL
Ora sol aparece escrito com letra maiúscula. Ora, com minúscula. Por quê? Sol se grafa com a inicial grandona quando designa o astro: Os Estados Unidos enviaram uma sonda ao Sol. Você viu o eclipse do Sol? O Sol é uma estrela de quinta grandeza.
Quando se refere à luz do Sol, a inicial é pequenina: Fujo do sol do meio-dia. Houve tempo em que as pessoas tomavam sol sem uso do filtro solar. Minha casa recebe o sol da manhã. O sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria nesse instante.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 19 de maio de 2019
SUCEDER: REGÊNCIA
“Maurício Lima sucede a André Petry na Direção de Redação de Veja”, escreveu o Jornalistas & cia. A frase deu nó nos miolos dos leitores. O pomo da discórdia foi a regência do verbo suceder. A gente sucede alguém ou sucede a alguém? No sentido de substituir, o verbo é transitivo indireto. Exige a preposição a: Bolsonaro sucedeu a Temer na Presidência da República. É normal o filho suceder ao pai. A mulher sucedeu ao marido na direção da empresa. E, claro, “Maurício Lima sucede a André Petry na Direção de Redação de Veja”
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 18 de maio de 2019
PATINETE: MASCULINO OU FEMININO?
Repórteres da GloboNews insistem que patinete só pode ser feminina. O Aurélio e o Houaiss lhes dão razão. Mas o Michaelis diz que é masculina. E daí? O dicionário manda. Você escolhe. A alternativa é acertar ou acertar.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 17 de maio de 2019
AO ENCONTRO E DE ENCONTRO
O presidente falava aos jornalistas. Lá em Dallas, nos States, diante de dezenas de microfones. Ao ser questionado se manteria o contingenciamento de recursos da Educação, ele começou a responder e depois vacilou: “Se eu gastar mais do que posso, vou…” Ao encontro? De encontro? Respirou fundo e concluiu: “Se gastar mais do que posso, vou de encontro à Lei de Responsabilidade Fiscal”. Viva! Acertou. Uma expressão é o contrário da outra:
Ao encontro de = em favor de ou na direção de: O projeto veio ao encontro de seus interesses. Caminhou ao encontro do filho. Vou ao encontro dos meus sonhos.
De encontro a = contra, em sentido contrário a, oposição: O carro foi de encontro à árvore. O projeto vai de encontro às pretensões do presidente. O bloqueio de verbas vai de encontro aos projetos da universidade.
Historinha curiosa
Deu no Fantástico. A reportagem falava de uma zebra presa em armadilha. Estava, claro, louquinha pra escapar. “Libertada”, explicou o repórter, “a fêmea corre de encontro à família.” Baita pisada de bola. O jornalista se esqueceu de cilada pra lá de comum na língua. Confundiu Germano com gênero humano. A zebrinha, feliz, correu ao encontro da bicharada preta e branca.
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Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 16 de maio de 2019
SORORIDADE: O QUE É
A língua é viva. E, porque é viva, se renova. Deixa pra lá palavras gastas e cria outras. Sororidade serve de exemplo. Conhecida pelas feministas, ela surpreende os alheios à causa. Mas desperta curiosidade. A partir de 2012, dobrou a busca pela novidade no Google. Encerrou 2017 em quinto lugar no ranking de pesquisa do site.
Sororidade deriva do latim soror. Na língua dos Césares, a dissílaba quer dizer irmã. A novata carrega, pois, o sentido de irmandade. Seria a correspondente feminina de fraternidade, que vem de frater — irmão. Daí fraterno, fraternidade.
De mãos dadas
Sororidade vai além do feminismo. Refere-se a empatia e companheirismo. Embute a ideia de apoio. Uma mulher deve apoiar outra mulher para, juntas, alcançarem a liberdade por que lutam. Pressupõe união, solidariedade e o fortalecimento de laços entre elas.
Dicas
Como chegar lá? Há caminhos. Entre eles, cinco sobressaem: aceitar as diferenças sem julgamento, tratar a outra como parceira e amiga, consumir o trabalho feito por mulheres, ajudar quem precisa de ajuda, fortalecer as conhecidas, que estão a nosso alcance.
Em suma, incorporar este lema: Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 15 de maio de 2019
MAIS BOM E MAIS MAU, MAIS PEQUENO E MAIS GRANDE: EMPREGO
Ao comparar atributos ou qualidades, use mais bom ou mais mau:
Paulo é mais bom que mau (não use: Paulo é melhor que pior).
A mãe é mais boa do que má.
A bruxa é mais má do que boa.
Mesmo time
A mesma construção serve para grande e pequeno:
A casa é mais grande que pequena (não: A casa é maior que menor).
O quarto é mais pequeno do que grande.
A mala é mais grande que pequena.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 14 de maio de 2019
HÍFEN: BEM-FEITO E MALFEITO
Hífen é castigo de Deus. Não tem lógica. Por isso malfeito se escreve colado. Bem-feito, o contrário, grafa-se com tracinho: Gosto de trabalho bem-feito, mas recebi uma obra malfeita.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 13 de maio de 2019
DIA DAS MÃES: ORIGEM
Homenagear a mãe é tradição mais antiga que o rascunho da Bíblia. Na Grécia antiga, na Roma dos Césares, na Idade Média, o povo reverenciava a mulher que dá à luz meninos e meninas. Ela não era convocada para lutar nos campos de batalha por ser a matriz da humanidade — capaz de equilibrar a população depois dos estragos causados pela guerra.
Há um século, os Estados Unidos instituíram o Dia das Mães. O presidente Woodrow Wilson oficializou 9 de maio para a festa. O Brasil importou a ideia 82 anos depois. Getúlio Vargas introduziu a data no calendário verde-amarelo em 1932. Seria o segundo domingo de maio. De lá para cá, é só festa. Mães, shoppings e restaurantes batem palmas. Viva!
A origem
Annie Jerwis perdeu a mãe. Ficou tão triste que caiu em profunda depressão. Preocupadas com o sofrimento da jovem, amigas queriam consolá-la. Como? Promoveram senhora festa em memória da falecida. Repetiram-na no ano seguinte. E no seguinte. E no seguinte. Annie sugeriu estender a homenagem a todas as mãezonas, vivas e mortas. A ideia pegou. Faz sucesso até hoje.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 12 de maio de 2019
DEMAIS E DE MAIS: EMPREGO
Demais e de mais têm uma semelhança. São formadas pelas mesmas palavras (de + mais). Mas exprimem ideias diferentes.
Demais significa demasiadamente: Comeu demais. Trabalha demais. Estava nervoso demais.
De mais, assim, separadinho, quer dizer a mais, o contrário de de menos: Na confusão, recebi troco de mais (de menos). Ele escreveu palavras de mais (de menos). No pacote, veio um livro de mais (de menos). Não vejo nada de mais no comportamento dele.
Tire a prova dos noves
Se der para trocar o de mais pelo de menos, use a expressão separada: Até aí, nada de mais (nada de menos).
Se der para usar o muito no lugar do demais, você está no caminho certo: Ela fala alto demais (fala muito alto).
Não seja afetado. A substituição tem que soar natural. Nada de forçar a barra.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 11 de maio de 2019
FEIURA PERDEU O ACENTO. PIAUÍ NÃO. POR QUÊ?
Sai não tem acento. Saí tem. Saudade não tem. Saúde tem. De tão repetida, a regra tornou-se mais conhecida que a tentação de Adão e Eva. O professor a ensina. Os alunos a memorizam. Os manuais a ilustram. Os concursos a cobram. Em suma: ignorá-la é como desconhecer que a noite vem depois do dia.
Grandes e pequenos trazem na ponta da língua os quatro requisitos para a quebra do ditongo. Um: o u ou o i têm de ser a sílaba tônica. Dois: têm de ser antecedidos de vogal. Três: têm de formar sílaba sozinho ou com s. Quatro: não podem ser seguido de nh.
Exemplos? Há pra dar e vender: saí (sa-í), saída (sa-í-da), egoísta (e-go-ís-ta), saúva (sa-ú-va), baús (ba-ús), contribuí (com-tri-bu-í), possuís (pos-su-ís). Mas: rainha (ra-i-nha), campainha (cam-pa-i-nha), ladainha (la-da-i-nha).
Mas eis que vem a acordo ortográfico. Ele manda pras cucuias um acentinho que atinge talvez meia dúzia de palavras. Trata-se do agudo usado no u e i das paroxítonas quando antecedidos de ditongo. É o caso de feiúra (fei-u-ra), baiuca (bai-u-ca), Sauipe (Sau-i-pe).
Percebeu a nuança? Para perder o grampinho, o i e o u têm de ser antecedidas de ditongo – uma vogal e uma semivogal que soam numa só emissão de voz. Se forem antecedidos de vogal, continua como está e como sempre esteve.
Fácil? Então responda rápido: Piauí perdeu o acento? Antes de bater o martelo, leia os dois parágrafos antecedentes. E daí? Se você apostou no não, acertou. A razão: as mudanças só atingiram as paroxítonas. Pi-au-í é oxítona. A reforma não tocou nem nas oxítonas, nem nas proparoxítonas nem nos monossílabos átonos. Meteu a tesoura só nas paroxítonas. É por isso que Cauí conserva o grampinho.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 10 de maio de 2019
PÉ DE MOLEQUE PERDEU HÍFEN. CANA-DE-AÇÚCAR NÃO. POR QUÊ?
A reforma ortográfica cassou o tracinho dos compostos por justaposição com um termo de ligação. São em geral três palavras que, soltas, nada têm a ver uma com as outras. Mas, juntas, formam um terceiro vocábulo. É o caso de pé de moleque. Pé designa parte do corpo. Moleque, menino sapeca. A preposição de os junta. O trio dá nome ao doce que não pode faltar nas festas juninas.
Exemplos não faltam. Eis alguns: mão de obra, dia a dia, dor de cotovelo, folha de flandres, testa de ferro, leão de chácara, faz de conta, quarto e sala, mula sem cabeça, tomara que caia, cor de laranja.
Exceção? Poucas. Entre elas, cor-de-rosa e água-de-colônia.
Cuidado! A reforma não atingiu todas as palavras assim compostas. As que designam bicho ou planta conservam o tracinho. Mantêm-se como dantes no quartel de Abrantes: cana-de-açúcar, ipê-do-cerrado, pimenta-do-reino, castanha-do-pará, joão-de-barro, bem-te-vi, bem-me-quer, porco-da-índia, canário-da-terra. E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 09 de maio de 2019
GRAFIA: BEM-VINDO
Bem-vindo se escreve assim, com hífen.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 08 de maio de 2019
EM MÃO? EM MÃOS?
A gente entrega a correspondência em mão. Em mãos? Antes, só o singular tinha vez. Aí, veio o Dicionário Houaiss, que aceita o plural. Mas cá entre nós. O singular é mais lógico, não?
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 07 de maio de 2019
OUTRA ALTERNATIVA? NÃO!
A situação está feia. A economia não cresce. A indústria anda pra trás. O desemprego engorda. Preocupado, Bolsonaro pôs a boca no trombone. Alto e bom som, apoiou a reforma da Previdência. Ao falar no assunto, disse: “Não temos outra alternativa”.
Bobeou. Em tempo de vacas magras, desperdiçar é proibido. A alternativa se escolhe entre duas opções. Por isso, não vale dizer “outra” alternativa e “única” alternativa. Por quê? A alternativa é sempre outra. Se não há outra, só pode ser única. Melhor: Não temos alternativa. A alternativa é aprovar a reforma da Previdência.
Quando estiver diante de mais de duas opções, há saídas. A língua tem várias palavras capazes de traduzir a mensagem. Escolha: saída, possibilidade, opção, recurso.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 06 de maio de 2019
GÊMEOS SIAMESES: ETIMOLOGIA
Em Brasília nasceram duas gêmeas siamesas. Vieram ao mundo coladas pela testa. Os médicos esperaram 11 meses para separá-las. Depois de 20 horas de cirurgia, viva! As garotinhas ficaram uma cá e outra lá. O fato foi notícia em Europa, França e Bahia. No explica-explica, pintou a questão: qual a origem do termo siamês?
A Tailândia, antes de se chamar Tailândia, era o reino do Sião. Quem nascia lá era siamês. O gato siamês vem daquele país do Oriente. Ali, em 1811, vieram ao mundo dois irmãos ligados por uma membrana situada à altura do peito. Viraram manchete mundo afora. Eram os gêmeos siameses. O nome pegou. Tomou o lugar de xifópagos.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 05 de maio de 2019
BEBÊ: GÊNERO
Bebê joga no time de estudante. São substantivos de dois gêneros. Feminino e masculino têm a mesma forma. O artigo é que funciona como dedo-duro. Denuncia se se trata de menino ou menina: Ele é o bebê. Ela, a bebê. Eles, os bebês. Elas, as bebês. Ele é o estudante. Ela, a estudante. Eles, os estudantes. Elas, as estudantes.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 04 de maio de 2019
SE ELE VIR ISSO? SE ELE VER ISSO?
Circula na internet imagem de uma idosa gordinha com a abertura de pernas igual à das bailarinas. Com ela, o texto: “Se o governo ver isso, acabará de vez com a aposentadoria”. O esbarrão na língua reduziu a graça da piada.
O futuro do subjuntivo do verbo ver se forma do pretérito-perfeito do indicativo. A 1ª pessoa da sofisticada forma sai prontinha da 3ª pessoa do plural menos o –am. Assim:
Pretérito-perfeito: vi, viu, vimos, vir(am)
Futuro do subjuntivo: se eu vir, ele vir, nós virmos, eles virem
Moral da opereta: A frase provocaria gargalhadas se tivesse sido escrita assim: “Se o governo vir isso, acabará de vez com a aposentadoria”.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 03 de maio de 2019
PRONÚNCIA: RUIM
Ruim rima com arlequim. Ou gergelim. Ou Joaquim. A sílaba forte é im. Muitos transformam a dissílaba em monossílaba. Bobeiam. A palavra tem duas sílabas – ru-im. A poderosa é a última. Trocar dois por um? Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii! Dói como soco no ouvido. Xô!
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 02 de maio de 2019
DIA DO TRABALHO: ORIGEM
A história vem de longe. Lá pelo século 18, os operários trabalhavam até 20 horas por dia. Não se falava em repouso aos domingos. Muito menos em semana inglesa. Com o tempo, houve melhoras aqui e ali. Mas a carga continuava pesada. Como não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe, veio a reação. Em 1º de maio de 1886, 110 mil operários de Chicago cruzaram os braços.
Em três dias, a greve cresceu. A polícia reprimiu o movimento com violência. Não adiantou. Ele só crescia. A PM de lá atirou contra a multidão. Em resposta, os grevistas explodiram bombas. Depois de xilindrós e enforcamentos, as conquistas vieram em 1º de maio de 1890. Entre elas, a jornada de oito horas. A Segunda Internacional Socialista, da França, decidiu: o 1º de maio seria dedicado aos trabalhadores e às suas lutas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 01 de maio de 2019
CARGOS E FUNÇÕES: FEMININO
Cargos e funções se flexionam em gênero? Sim. Se exercidos por mulher, escrevem-se no feminino. Presidente (ou presidenta), agente administrativa, secretária-executiva servem de exemplo. Atenção ao exagero. Siga a índole da língua. Na concorrência de feminino e masculino, fique com o masculino plural. Filhos engloba filhos e filhas. Brasileiros, brasileiros e brasileiras. Amigos, amigos e amigas. Não caia no modismo irritante de discriminar — sem necessidade — o sexo das pessoas: os presentes e as presentes, os leitores e as leitoras, os embaixadores e as embaixadoras. Cruz-credo!
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 30 de abril de 2019
ESTILO: FORMA POSITIVA
O não provoca arrepios. Por quê? Talvez por lembrar repressões da infância. Não faça isso, não faça aquilo. Não pode isso, não pode aquilo. Os nãos acompanham a pessoa vida afora. Mas ninguém os ama, ninguém os quer. Muitos preferem mantê-los no esquecimento. Por isso a forma positiva ganha banda de música e tapete vermelho. A regra é dizer o que é, não o que não é. Não ser pontual é ser impontual. Não lembrar é esquecer. Não assistir à aula é faltar à aula. Não duvidar é ter certeza. Não fazer mudanças na equipe é manter a equipe. Não votar o projeto hoje é adiar a votação.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 29 de abril de 2019
VOZ ATIVA OU PASSIVA? ATIVA
Na frase “Maria escreveu o livro”, o verbo está na voz ativa. Em “O livro foi escrito por Maria”, na passiva. Qual a preferível? Dizem que o brasileiro dá uma boiada para não assumir compromisso. A voz passiva lhe presta uma senhora ajuda. O agente fica lá atrás ou nem aparece. Resultado: a declaração soa frouxa, flácida e desbotada. Salvo exceções (raras), melhor apelar para a ativa. Ela é mais direta, vigorosa e concisa que a passiva. Dê-lhe preferência sempre que puder. Deputados gastaram nove horas pra votar a admissibilidade de reforma da Previdência é construção preferível a Nove horas foram gastas para deputados votarem a admissibilidade da reforma da Previdência. Glennvan Ekeren escreveu: “Preciso fazer algo resolverá mais problemas do que algo precisa ser feito“.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 28 de abril de 2019
VENDE-SE CASA OU VENDEM-SE CASAS?
Na passiva sintética, o verbo concorda com o sujeito: Vende-se apartamento no Leblon. Vendem-se apartamentos no Leblon. Aluga-se quarto. Alugam-se quartos. Considere-se uma falha. Considerem-se falhas.
Superdica
Para acertar sempre, recorra ao troca-troca. Construa a frase com o verbo ser. Se ele ficar no singular, o verbo da passiva sintética também ficará. Se no plural, idem. Veja:
Vende-se apartamento. Apartamento é vendido.
Vendem-se apartamentos. Apartamentos são vendidos.
Aluga-se quarto. Quarto é alugado.
Alugam-se quartos. Quartos são alugados.
Considere-se uma falha. Uma falha é considerada.
Considerem-se falhas. Falhas são consideradas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 27 de abril de 2019
PLEONASMO: FATO REAL
“Filme baseado em fatos reais”, diz o comercial. Bobeia. Todo fato é real. Basta fato. Não é outra a razão por que, quando alguém duvida do que dizemos, afirmamos com convicção:
— Acredite. É fato.
Quer usar o adjetivo? Então deixe o substantivo fato pra lá. Diga: Filme baseado em história real.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 26 de abril de 2019
PUNIR E PENALIZAR: SINÔNIMOS?
A propriedade vocabular pega bem como usar o cinto de segurança, pedir licença ao interromper uma conversa, dar boa-tarde ao entrar no elevador e distinguir penalizar e punir.
Penalizar significa causar pena, solidariedade, pesar: A situação dos imigrantes venezuelanos nos penaliza.
Punir é castigar: É preciso punir quem desrespeita os limites de velocidade.
Atenção
Dicionários registram penalizar na acepção de punir. O Houaiss registra que os profissionais do direito têm rejeitado o emprego de penalizar no sentido de punir, apenar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 25 de abril de 2019
SEÇÃO E SESSÃO: DICA PARA ACERTAR SEMPRE
Seção = parte, divisão: seção de cosméticos, seção de frutas e verduras, seção de audiovisual.
Sessão = tempo que dura uma reunião, um trabalho, um espetáculo: sessão de cinema, sessão do Congresso, sessão de análise, sessão da tarde, sessão de pancadaria.
Superdica
Na dúvida, lembre-se.: o todo é maior que a parte. Por isso sessão tem seis letras. Seção, cinco.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 24 de abril de 2019
PARA MORAR BEM? PARA SE MORAR BEM?
Cuidado, muito cuidado. Não abuse do monossílabo. Ele não tem vez com o infinitivo: Para obter sucesso (não: para se obter). A forma mais exitosa de decorar a tabuada (não: se decorar). Para morar bem (não: se morar bem).
Com verbos pronominais, o pequenino é presença obrigatória: Para se aposentar aos 65 anos… A melhor forma de se manter no poder é… Para se formar na universidade, precisa completar os créditos.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 23 de abril de 2019
COMPRIMENTO E CUMPRIMENTO
Brasília completou 59 anos ontem. O aniversário da capital é sempre uma grande festa. Cumprimentos se multiplicam. E é aí que pinta o troca-troca. O o toma o lugar do u. Resultado: o estrago pede passagem. Atenção ao comprimento da saia, da estrada, do corredor. Não se esqueça do cumprimento na entrada e na saída. Tampouco do cumprimento à aniversariante.
Por falar em cumprimentos
Cumprimentar é verbo queridinho da correspondência. Cartas, ofícios, memorandos? Lá está ele. Pega bem, pois, tratá-lo bem. Cumprimentar rejeita intermediários. É transitivo direto – a gente cumprimenta alguém (não: a alguém): Eu cumprimento João. João cumprimenta Rafael. O diretor cumprimenta você. Nós cumprimentamos Brasília.
Na substituição do nome pelo pronome, é a vez do o ou a. (Nada de lhe): Eu o cumprimento. Tenho a honra de cumprimentá-lo. Você as cumprimentou? Quero cumprimentá-la pela nota.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 22 de abril de 2019
FORMAÇÃO DE PALAVRAS: PASCAL E PASCOAL
O substantivo Páscoa sentiu-se solitário. Decidido, resolveu formar família. Pediu socorro ao sufixo –al. Com ele, formou os adjetivos pascal e pascoal. As duas letrinhas aparecem em montões de adjetivos. Em todos mantêm o significado — relacionado a. Pascal e pascoal são relacionados com a Páscoa (festa pascal, Monte Pascoal). Campal, com campo (batalha campal). Matrimonial, com matrimônio (cerimônia matrimonial).
E por aí vai.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 21 de abril de 2019
ACENSÃO E ASSUNÇÃO SÃO SINÔNIMOS?
Não. A propriedade vocabular manda fazer a distinção. Quarenta dias depois da Páscoa, Jesus voltou pra casa. Mudou-se para o céu — sozinho, sem ajuda. O ato milagroso se chama ascensão. O verbo, ascender. Maria seguiu o filho. Mas precisou ser levada. A subida dela às alturas se denomina assunção.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 20 de abril de 2019
PÁSCOA: OVO E COELHO
A Páscoa tem símbolos. Um deles: o círio pascal. Trata-se de uma vela onde estão inscritas a primeira e a última letra do alfabeto grego – alfa e ômega. A mensagem: Cristo é o princípio e o fim. Ao mesmo tempo, luz.
O coelho
O outro é o coelho com o ovo. “Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim – um ovo, dois ovos, três ovos, assim”, canta a meninada lambuzada de chocolate. Cá entre nós: o que o ovo tem a ver com a Páscoa, e a Páscoa com o coelho? No duro, no duro, nada. A relação é simbólica. O ovo representa o nascimento e a ressurreição. O coelho, a fertilidade. Gera coelhinhos pra dar, vender e emprestar.
Será?
Dizem que Simão, que ajudou Jesus a carregar a cruz até o Calvário, era vendedor de ovos. Depois da crucificação, ops! Milagre! Os ovos se cobriram de cores. São os mesmos que as crianças buscam nos mais diferentes esconderijos.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 19 de abril de 2019
CENSURA: ETIMOLOGIA CURIOSA
O Supremo Tribunal Federal proibiu a circulação da revista Crusoé. “É censura! É censura!”, protestam brasileiros assustados com a medida. Será? Não será? Enquanto se discute o assunto, vale vasculhar a etimologia da mal-amada. A palavra vem do latim censura (condenação). Pertence à família de censo, que originou censor. Entre os romanos, censor era a pessoa que recenseava a população e zelava pelos bons costumes. Entre nós, tornou-se, sobretudo, sinônimo de proibição.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 18 de abril de 2019
ACENTO DIFERENCIAIS: SÓ DOIS
A reforma cassou acentos diferenciais. Foram-se os das paroxítonas. Pêlo, pélo, pára, pólo, pêra ficaram mais leves. Assim: pelo, para, polo, pera.
Exceção? Só duas. Mantém-se o chapéu de pôde, passado do verbo poder (eu pude, ele pôde). E o verbo pôr fica com o circunflexo. A razão? Ele é monossílabo tônico. Escapou da facada.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 17 de abril de 2019
DEPUTADAS MULHERES: PLEONASMO
“Entre deputadas mulheres há maior divisão sobre a reforma”, escreveu o site do jornal. “Deputadas mulheres é pleonasmo?”, perguntam os leitores. Sim. Deputado é homem; deputada, mulher. Basta deputadas.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 16 de abril de 2019
REMEDIAR: CONJUGAÇÃO
“É melhor prevenir do que remediar”, disse Bolsonaro quando adiou o aumento do diesel. Ao empurrar com a barriga a majoração do preço do combustível, o presidente conjugou o verbo remediar. Sua Excelência tem razão. Remediar? Eta verbinho difícil. Como conjugá-lo? Do mesmo jeito que flexionamos odiar: odeio (remedeio), odeia (remedeia), odiamos (remediamos), odeiam (remedeiam); odiei (remediei), odiou (remediou), odiamos (remediamos), odiaram (emediaram); odiava (remediava); que eu odeie (remedeie). E por aí.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 15 de abril de 2019
INFINITO: QUANDO FLEXIONAR
O português é uma língua única. Tem dois infinitivos: o impessoal e o pessoal. O impessoal é o nome do verbo (cantar, vender, partir, pôr). Não tem sujeito e, por isso, não se flexiona. Com o pessoal, a história muda de enredo. Ele tem sujeito. E não foge à regra: concorda com o mandachuva (para eu viajar, tu viajares, ele viajar, nós viajarmos, vós viajardes, eles viajarem). Quando flexioná-lo? Em um caso. No mais, a clareza ditará a regra.
Flexão obrigatória
Rigorosamente, só é obrigatória a flexão quando o infinitivo tem sujeito próprio, diferente do sujeito da oração principal:
Esta é a última chance de o futebol e o basquete devolverem a alegria à torcida. (O sujeito da 1a oração é esta; da 2a, o futebol e o basquete.)
Saí mais cedo para irmos ao circo.
Se o infinitivo não estivesse flexionado (saí mais cedo para ir ao circo), a frase estaria correta, mas trairia a verdade. Quem vai ao circo não sou eu, mas nós.
Flexão facultativa
Se o sujeito da oração principal e o da subordinada forem os mesmos:
Saímos mais cedo para ir ao circo. Quem saiu mais cedo? Nós. Quem vai ao circo? Nós (quando o sujeito da segunda oração não está expresso, significa que é o mesmo da primeira). Fechamos (nós) a janela para não sentir (nós) frio. (Se você faz questão de reforçar o sujeito, dê passagem à flexão: Saímos mais cedo para irmos ao circo. Fechamos a janela para não sentirmos frio.)
Exceção: Nem todos são iguais perante as regras. Alguns são mais iguais. No infinitivo, os mais iguais são os verbos mandar, fazer, deixar, ver e ouvir. Com eles, a flexão é facultativa mesmo com sujeitos diferentes. Você pode dizer: Vi os dois sair (ou saírem) da sala. Ouvi os cães latir (ou latirem). Deixai vir (ou virem) a mim as criancinhas. Fiz os alunos estudar (ou estudarem) mais. Governo manda os funcionários devolver (ou devolverem) o dinheiro.
Cuidado
- Se o sujeito for um pronome átono, o infinitivo só pode ficar no singular: Vi-osdeixar a sala mais cedo. Ouvi-as chegar. Deixei-os sair. Pressão sindical fê-los recuar. Governo manda-os devolver dinheiro.
- Se o infinitivo for precedido de preposição: Esses são os temas a ser tratados. Há formas a ser desenvolvidas pelos expositores. Muitas de suas afirmações são abrangentes demais para ser aceitas ao pé da letra. Os presentes foram forçados a sair. Os clientes eram obrigados a esperar duas horas na fila. As forças policiais impediram os jornalistas de trabalhar. Estudamos para aprender. Os trabalhadores pararam parareivindicar melhores salários.
Flexão proibida
Se o princípio básico que rege o emprego do infinitivo é a clareza, não se deve flexioná-lo quando a presença de outros índices é capaz de marcar o sujeito do verbo, como:
- nas locuções verbais, em que a desinência do auxiliar já indica o sujeito: Conseguimos sair cedo porque adiantamos o trabalho do fim de semana.
- quando não há referência a nenhum sujeito: “Navegar é preciso, viver não é preciso´´.
- quando, precedido da preposição de, tem sentido passivo e completa adjetivos como fácil, difícil, bom: Livros bons de ser lidos (serem lidos). Trabalhos difíceis de fazer (serem feitos). Ações passíveis de contestar (serem contestadas). Joias raras de encontrar (serem encontradas).
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 14 de abril de 2019
QUE E O QUAL: QUANDO USAR
Que ou o qual? Use o qual se o pronome for antecedido de preposição com mais de uma sílaba. Nos demais casos, que: O livro de que lhe falei está esgotado. O livro sobre o qual lhe falei está esgotado. O público perante o qual o diretor se pronunciou ficou assustado com as propostas. A plateia contra a qual o ator se insurgiu retirou-se em silêncio.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 13 de abril de 2019
CONCORDÂNCIA: PERCENTAGEM
Como fica o verbo em construções como 10% da população, 1% dos presentes, 20% da turma? Singular ou plural? O verbo pode concordar com o número ou com o nome:
Dez por cento da população votou (concorda com população) ou votaram (concorda com dez).
Um por cento dos presentes saiu (concorda com um) ou saíram (concorda com presentes).
Atenção
Engana-se quem pensa que na concordância com percentagem vale tudo. Na verdade, vale quase tudo.
Em “30% das pessoas preferem o azul”, o número é 30, plural. O nome, pessoas, plural. Então não há saída: só: o plural tem vez.
Veja este outro caso: 1% da população está indecisa. O número é 1, singular. O nome é população, singular. Vem, singular.
Há mais. Às vezes o número percentual se cansa de andar sozinho. Convida o artigo ou o pronome para acompanhá-lo. Aí, pronto. Fica fortíssimo. Com ele ninguém pode. A concordância se fará só com o numeral: Uns 8% da população ganham acima de 10 mil dólares. Os 10% do corpo docente mais qualificado abandonaram a escola. Este 1% de indecisos definirá o resultado das eleições.
É isso. O mundo está cheio de pessoas indecisas. A gramática, que é do mundo, não fica atrás. Está cheia de construções indecisas. Mas, de vez em quando, uns e outros se cansam de acender uma vela pra Deus e uma para o diabo. Tomam partido. É o caso da concordância com percentagem. Ou porcentagem.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 12 de abril de 2019
FUI EU QUEM FEZ OU FIZ?
O verbo, em orações que têm por sujeito o pronome quem, pode ir para a terceira pessoa do singular ou concordar com o antecedente: Fui eu quem fez (fiz) o trabalho. Fomos nós quem fez (fizemos) o trabalho. Foram eles quem fez (fizeram) o trabalho.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 11 de abril de 2019
CRASE: À CAPITÃO
Para as Forças Armadas, capitão é um substantivo comum de dois gêneros (apesar de haver
o feminino capitã). Nos quartéis, ele é o capitão; ela, a capitão. Trata-se
da cultura da instituição. Mas ela dá nó nos miolos nos miolos. Qual a
construção correta?
a. Entrega de medalha à capitão-de-corveta Maria da Silva.
b. Entrega de medalha a capitão-de-corveta Maria da Silva.
Crase é como aliança no anular esquerdo. Indica o casamento de dois aa. Um
deles é a preposição. O outro, em geral, o artigo definido. Quando os dois
se encontram, não dá outra. É enlace na certa: Jurou fidelidade à pátria.
Dirigiu-se à poltrona indicada. Foi à livraria Cultura pegar os livros.
Pintou a dúvida? Substitua a palavra feminina por uma masculina (não
precisa ser sinônima, mas tem de ser do mesmo número — singular ou plural).
Se no troca-troca der ao, sinal de crase. Caso contrário, nada feito:
Jurou fidelidade à pátria. Jurou fidelidade ao país.
Dirigiu-se à poltrona indicada. Dirigiu-se ao país indicado.
Foi à livraria Cultura pegar os livros. Foi ao restaurante pegar os
livros.
Visitou a amiga no fim de semana. Visitou o amigo no fim de semana.
Agora, faça a sua aposta: a capitão ou à capitão? Antes de arriscar,
recorra ao tira-teima:
Entrega de medalha à capitão-de-corveta Maria da Silva.
Entrega de medalha ao capitão-de-corveta João da Silva.
É isso. Com o truque, a alternativa é acertar ou acertar. Viva!
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 10 de abril de 2019
À CUSTA DO PAI? ÀS CUSTAS DO PAI?
À custa de = com sacrifício, dano ou prejuízo de alguém ou algo: Formou-se à custa de muito esforço. Desenvolvimento à custa do meio ambiente. Vive à custa dos pais. Burro empacado não anda nem à custa de pancadas.
Custas = despesa feita em processo judicial: Cabe a ele pagar as custas do processo.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 09 de abril de 2019
PROLIFERAR OU PROLIFERAR-SE?
“Escolas que restringem celular se proliferam nos Estados Unidos”, anunciou o jornal. Nada feito. Proliferar é intransitivo: Escolas que restringem celular proliferam nos Estados Unidos. Os ratos proliferam nos terrenos baldios.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 08 de abril de 2019
TILINTAR E TIRINTAR: DIFERENÇA
Tilintar é soar. Tirintar é tremer: A campainha tilintou várias vezes. Os gaúchos tirintam de frio quando sopra o Minuano.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 07 de abril de 2019
FÁCIL DE FAZER? FÁCIL DE SE FAZER?
O pronome se sobra em construções com infinitivo como fácil de fazer, fácil de copiar, fácil de ligar, difícil de conquistar, difícil de dirigir, bom de escrever, bom de memorizar.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 06 de abril de 2019
COESÃO: COMO DIZER COISA COM COISA
“Socooooooooooooooooooooooooorro!”, gritam vestibulandos e concurseiros de Europa, França e Bahia. O motivo: perdem pontos a rodo num tal item chamado coesão. Eles procuram o assunto nas gramáticas. Não encontram. Celsos Cunhas, Becharas, Cegallas não dedicam nenhum capítulo ao tema. Por quê?
A razão é simples. Coesão está presente na morfologia, na sintaxe, nas figuras de linguagem. Ao estudar substantivos, verbos, pronomes, conjunções, preposições, coordenação, subordinação, etc. e tal, indiretamente estudamos coesão. Eles oferecem recursos pra ligar palavras, ligar períodos, ligar parágrafos. Em suma: juntar partes soltas em unidades coerentes.
Preposições e conjunções
Anel e ouro são duas palavras que não se conhecem nem de elevador. Mas formam unidade com a ajuda da preposição de: anel de ouro.
Cozinho, estamos sem empregada.
Que relação existe entre enunciados assim independentes? A conjunção se encarrega de pôr os pontos nos ii. Ela pode indicar causa (cozinho porque estamos sem empregada). Pode indicar tempo (cozinho quando estamos sem empregada). Pode indicar duração (cozinho enquanto estamos sem empregada). Pode indicar condição(cozinho se estamos sem empregada).
Pronomes
Pronomes exercem duplo papel. Além de auxiliar a coesão, contribuem para a elegância. Como? Evitam repetições. Veja:
Rafael e João Marcelo são irmãos. Este estuda medicina; aquele, direito. (Este substitui João Marcelo; aquele, Rafael.)
Oscar Niemeyer se casou aos 99 anos. Ele e a noiva se conheceram anos antes. (Ele substitui Niemeyer)
Por falar em repetição…
Nem toda repetição é má. A estilística, que dá liga e charme ao texto, longe está de indicar pobreza vocabular. É o caso do “é preciso” reiterado neste parágrafo:
Como acabar com a cultura do desperdício? Ela tem de ser desmontada por dentro. É preciso que os brasileiros não joguem fora restos de comida aproveitáveis nem deixem as lâmpadas acesas quando saem de um aposento. É preciso que os livros escolares sejam aproveitados pelos irmãos menores. É preciso não destruir os bens públicos. É preciso, enfim, martelar insistentemente na necessidade de poupar.
É o caso, também, deste trecho de Barack Obama:
Sim, nós podemos. Nós podemos recuperar a economia do país. Nós podemos legar uma pátria melhor pra nossos filhos e netos. Nós podemos respeitar os direitos humanos. Nós podemos zelar pelo meio ambiente. Nós podemos construir um mundo mais justo e democrático. Sim, nós podemos.
Mais
Viu? O entrelaçamento das ideias se dá por meio de vários mecanismos. Examinamos alguns. Há mais. A manutenção do tema figura entre os mais importantes. Trata-se da perseguição do tema sem desvios. É a tal história: quem se ajoelha tem de rezar. Examine este parágrafo do livro Sonhos de Einstein, de Alan Lightma:
Minúsculos sons da cidade flutuam pela sala. Uma garrafa de leite tilinta contra uma pedra. Um toldo é esticado em uma loja. Uma carroça de verduras transita lentamente por uma rua. Um homem e uma mulher sussurram em um apartamento próximo.
Que responsabilidade! O tópico frasal (1º período) amarrou as ideias. Sem ele, os exemplos de sons da cidade ficariam sem elo. O leitor não saberia aonde as frases querem chegar. Em suma: um amontoado de ideias e nenhum recado. (Duvida? Banque o São Tomé. Leia o parágrafo sem o tópico frasal. E daí?)
Moral da história
Em bom português, coesão é dizer coisa com coisa. Opõe-se ao samba do texto doido.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 05 de abril de 2019
TODO MUNDO E TODO O MUNDO: DIFERENÇA
Todo mundo é todos. Todo o mundo é o mundo inteiro: Falei com todo mundo, mas ninguém me deu atenção. Quer conhecer todo o mundo. Nem todo mundo conhece todo o mundo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 04 de abril de 2019
VÍRGULA: TEXTOS LEGAIS
Se a referência obedecer à ordem crescente (do menor para o maior), não use vírgula. Caso contrário, sim: Inciso II do parágrafo 2º do artigo 5º da Constituição Federal. Constituição Federal, art. 5º, parágrafo 2º, inciso II.
Sem mistura
Escolha a ordem de sua preferência. Mas misturar é proibido. Siga do começo ao fim a crescente ou a decrescente.
Data
Ponha a data do texto também entre vírgulas: O Decreto 15.613, de 29.4.94, autoriza… A Medida Provisória 45, de 6.6.93, regulamenta…
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 03 de abril de 2019
VÍRGULA: CEP, TELEFONE E CAIXA POSTAL
Sabia? A indicação do CEP, da caixa postal e do número do telefone não é seguida de vírgula ou outro sinal de pontuação: CEP 70710-500; Caixa Postal 134; Fone 316-2094.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 02 de abril de 2019
DIA, MÊS E ANO: GRAFIA E POUPANÇA
Hoje começa novo mês. Olho vivo, marinheiro de poucas viagens. O primeiro dia do mês tem privilégios. Grafa-se com numeral ordinal. Os demais se contentam com o cardinal: É 1º de abril. Viajo no dia 30 de setembro. Trabalhei de 15 a 30 de março sem folga.
Economia
Que tal fazer economia? Em época de vacas magras, desperdiçar é proibido. Faça dois cortes. Um: deixe pra lá o dígito zero antes do número referente ao dia do mês. Dois: mande plantar batata em terra infértil o ponto que separa o milhar na indicação de ano: 5 de março de 2019.
Mais
Que tal apertar mais o cinto? Desnecessário escrever dia antes do dia, mês antes do mês ou ano antes do número respectivo: Os militares tomaram o poder em 31 de março de 1964 (não no dia 31 de março do ano de 1964). Em 21 de abril, Brasília comemora mais um ano. A cidade foi inaugurada em 1960.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 01 de abril de 2019
VÍRGULA: ORAÇÕES EXPLICATIVAS
A língua é um conjunto de possibilidades. Flexível, oferece vários jeitos de dizer a mesma coisa. Veja:
O aluno estudioso tira boas notas.
O aluno que estuda tira boas notas.
Ambas as frases dizem que há alunos e alunos. Não é qualquer um que tira boas notas. Só chega lá quem se debruça sobre os livros. Numa, o termo restritivo é adjetivo (estudioso). Noutra, oração adjetiva (que estuda). O tratamento se mantém. Nada de vírgula.
Com as explicativas ocorre o mesmo:
O homem, mortal, tem alma imortal.
O homem, que é mortal, tem alma imortal.
Viu? Não existem homens mortais e homens imortais. São todos mortais. O adjetivo e a oração adjetiva são explicativos. Vêm entre vírgulas.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 31 de março de 2019
VIRGULA: TERMOS COORDENADOS
Coordenado significa colocado com, um ao lado do outro. É como os livros na estante. A gente os organiza um ao lado do outro – e eles mantêm a independência. Um não invade as páginas do outro. O mesmo ocorre com a língua. Termos (sem verbo) e orações (com verbo) podem coordenar-se. Basta ter mais de um:
- sujeito: Paulo, Luís e Maria foram ao cinema.
- objeto direto: Comprei carne, queijo, frutas, legumes, cereais.
- objeto indireto: Gosto de cinema, teatro, leitura.
- predicativo: Márcia é bonita, elegante e estudiosa.
- adjunto adnominal: Visite uma cidade limpa, organizada e charmosa.
- Adjunto adverbial: Ele vai ao clube hoje, amanhã de depois de amanhã.
O e
Não há sinais inocentes. Separar os termos da enumeração por vírgula ou pela conjunção e dá recados diferentes. A ausência do e significa que a relação não chegou ao fim. Há mais. A presença do monossílabo diz o contrário. É isso e nada mais. Compare: No mercado, comprei frutas, carnes, bebidas, cereais. No mercado, comprei frutas, carnes, bebidas e cereais.
Etc.
Etc. é a abreviatura de (e) (t)antas (c)oisas. Mas, apesar da presença do e, pode-se antecedê-lo de vírgula. Ou não. É que o danadinho é tão antigo (vem do latim) que as pessoas de memória curta lhe esqueceram a origem. Tratam-no como se fosse uma palavra qualquer. Oba! Com ele, é acertar ou acertar: No mercado, comprei frutas, carnes, bebidas, cereais, etc. No mercado, comprei frutas, carnes, bebidas, cereais etc.
Atenção
Etc. escreve-se com ponto no finzinho. Não se trata de escolha. Mas de obrigatoriedade. Se o ponto coincide com o término do período, nada de dose dupla. Fique com um só: Fez palestras para pais, aluno, professores etc.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 30 de março de 2019
VÍRGULA: ORAÇÕES COORDENADAS
As orações coordenadas podem ser separadas por vírgula ou por conjunção coordenativa. No primeiro caso, chamam-se assindéticas:
Cheguei, / vi, / venci.
Acordei, / liguei a máquina, /comecei a escrever.
No segundo, sindéticas:
Trabalhamos / e estudamos.
Não trabalhamos / nem estudamos.
Paulo fez campanha durante quatro anos, / mas perdeu a eleição.
Não fale alto, / pois estamos em uma biblioteca.
Fez competente campanha publicitária, / logo ganhou pontos na avaliação.
Ora chove, / ora faz sol.
Vírgula antes do e
Ao separar orações, a conjunção e só é antecedida de vírgula se preencher duas condições: ligar orações com sujeitos diferentes e haver o risco de ambiguidade:
Os Estados Unidos atacaram o Iraque, e a Rússia reagiu. ( Sem a vírgula, a primeira leitura dá a impressão de que os Estados Unidos atacaram o Iraque e a Rússia. Não é o caso.)
As orações coordenativas recebem o nome da conjunção coordenada que a introduz. São cinco:
Conjunções coordenativas
aditiva: e, nem
adversativa: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto
alternativa: ou…ou, ora…ora, já…já
explicativa: que, porque, pois
conclusiva: logo, portanto, pois.
Superdica
Como distinguir o pois explicativo do conclusivo?
- O explicativo vem depois de ordem ou pedido: Feche a janela, / pois venta forte. Por favor, não façam barulho, / pois o bebê está dormindo.
- O conclusivo nunca introduz a oração. Aparece no meio: Tirei nota baixa na prova, / não consegui, pois, classificação. Não trabalha nos fins de semana; / pode, pois, sair com os filhos.