Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 28 de junho de 2018
HÍFEN: ONOMATOPEIA
Au-au. É o cão que late. Miau-miau. É o gato que mia. Glu-glu. É o peru que gluglujeia. Có-có. É a galinha que cacareja. Chuá-chuá. É a água que cai. Tique-taque. É o relógio que marca as horas.
As palavras que reproduzem o som de vozes ou ruídos recebem nome pra lá de pomposo. É onomatopeia. O adjetivo dela derivado tem duas formas – onomatopeico, onomatopaico. Ambas têm o mesmo significado. Escolha a que lhe soar melhor.
Antes da reforma ortográfica, as onomatopeias eram cheias de caprichos. Ora se grafavam com hífen, ora sem. Agora todas pedem o tracinho: bangue-bangue, blá-blá-blá, có-có, pisca-pisca, tique-taque, toque-toque, glu-glu, quem-quem, tim-tim.
Atenção: os derivados dispensam o hífen: gluglujear, cocorocó.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 28 de junho de 2018
SERVIR NO EXÉRCITO
“Eu sempre quis servir o Exército”, escrevemos na pág. 4 de Diversão&Arte. Bobeamos. No sentido de prestar serviço militar, o verbo servir exige a preposição em (servir no Exército, servir na Marinha, servir na Aeronáutica). Melhor: Eu sempre quis servir no Exército.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 28 de junho de 2018
IMPLICAR: REGÊNCIA
O verbo implicar tem três empregos. Em dois, ninguém tem dúvida. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com: O diretor implicou com ele.
Na de comprometer, envolver, é a vez do em: A secretária implicou o chefe no escândalo.
A dúvida surge no significado de produzir como consequência. Aí, implicar implica e complica. O verbo parece, mas não é. No sentido de acarretar consequências, o malandro é transitivo direto. Não suporta a preposição em: Autonomia também implica responsabilidade. Deflação implica recessão. Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 28 de junho de 2018
ACONTECER: USO E ABUSO
As palavras, como as pessoas, têm manias. Combinam. Brigam. Fazem exigências. Armam ciladas. Um verbo cheio de caprichos é acontecer. Elitista, ele tem poucos empregos. E quase nenhum amigo. Mas, por capricho do destino, os colunistas sociais o adotaram. A moda se espalhou como fogo morro acima ou água morro abaixo.
O pobre virou praga. Tudo acontece. Até pessoas: Phillipe Coutinho está acontecendo na Seleção. O casamento acontece na catedral. O show acontece às 22h. E por aí vai.
Violentado, o verbo vira a cara. Esperneia. E se vinga. Deixa mal quem abusa dele. Diz que o atrevido sofre de pobreza de vocabulário. Para não cair na boca do povo, só há uma saída. Empregá-lo na acepção de suceder de repente.
Acontecer dá sempre a ideia do inesperado, desconhecido: Caso acontecesse a explosão, muitas mortes poderiam ocorrer.
O verbinho de sangue azul sente-se muito bem com os pronomes indefinidos (tudo, nada, todos), demonstrativos (este, isto, esse, aquele) e o interrogativo que: Tudo acontece no feriado. Aquilo não aconteceu por acaso. O que aconteceu?
Xô, abuso
Não use acontecer no sentido de ser, haver, realizar-se, ocorrer, suceder, existir, verificar-se, dar-se, estar marcado para. Se você insistir, prepare-se. É briga certa. Melhor não entrar nessa. Busque saídas.
Uma delas é substituir o verbo: O show acontece (está marcado para) às 21h. O festival aconteceu (realizou-se) no ano passado. O crime não aconteceu (ocorreu). Acontecem (ocorrem) casos de prisão de inocentes durante as batidas policiais. O vestibular está previsto para acontecer em dezembro (previsto para dezembro). Não aconteceu (houve) o rigoroso inverno.
Outra é mudar a frase: A prisão aconteceu ontem. (A polícia prendeu o ladrão ontem.) A divulgação do resultado acontece logo mais. (O resultado será divulgado logo mais.) O início da prova aconteceu às 8h. (A prova iniciou-se às 8h.)
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 27 de junho de 2018
ESTADOS UNIDOS: CONCORDÂNCIA
O vice-presidente dos Estados Unidos fez as malas e veio dar uma voltinha neste país tropical. Pintou, então, uma questão. Em frases em que a potência do norte figura como sujeito, o verbo vai para o singular ou plural? Os Estados Unidos perseguem os imigrantes? Persegue os imigrantes?
Nomes próprios no plural constituem verdadeira armadilha. Acompanhados de artigo, concordam com o artigo. Sem o pequenino, ficam no singular: Os Estados Unidos perseguem os imigrantes. O Palmeiras vencerá o campeonato? Minas Gerais fica na Região Sudeste.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 26 de junho de 2018
PARECE, MAS NÃO É
Maria é cuidadosa leitora de jornais. Presta atenção às notícias. Mas não se descuida da língua. Grafia, concordância, regência, nada escapa da moça pra lá de exigente. Outro dia, ela leu esta frase: “Deputado reavê velho estilo”. Arrepiou-se. Mais um descuidado tropeça no reaver. É que o verbo arma baita cilada. Nela, tropeçam as melhores famílias. Jornalistas também.
Você consegue identificar a falha que enfureceu Maria?
a. Ao escrever “reavê”, o repórter desconheceu a origem do verbo. Pensou que reaver fosse derivado de ver (eu vejo, ele vê). b. O significado de reaver não é adequado à frase. Recuperar cai melhor.
E daí?
Escolheu a letra a? Acertou. Reaver parece derivado de ver. Mas não é. O pai dele é haver. O danadinho significa haver de novo. Em outras palavras, recobrar, recuperar. Por isso se fala em reaver o tempo perdido, reaver os bens, reaver a amizade.
Conjugação
Filho de peixe sabe nadar. Reaver só se conjuga nas formas em que o v, de haver, aparece. Nas demais, ele não tem vez. O presente do indicativo tem duas pessoas. Uma: reavemos. A outra: reaveis.
Sem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo, o presente do subjuntivo inexiste. Não caia na esparrela do “reaveja”. “Reaveja” não existe. Em vez desse horror, diga recupere, recobre.
Olho vivo
O perigo mora no pretérito perfeito. Os distraídos o flexionam como se o pobrezinho descendesse de ver. Não falta quem escreva “reaviu”. Cruz-credo! O pretérito perfeito de haver é houve. De reaver, é reouve, reouveste, reouve, reouvemos, reouvestes, reouveram.
Moleza
Os demais tempos e modos são moleza: reavia, reavíamos, reaviam; reouvera, reouveras, reouveram; reaverei, reaverás, reaverá; reaveria, reaveríamos, reaveriam. E por aí vai. Teste
Está pra lá de certa a frase: a. Talvez ele tenha reavisto as jóias roubadas. b. Talvez ele tenha reavido as jóias perdidas. Acertou?
Moleza, não? O particípio de haver é havido. De reaver, reavido.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 26 de junho de 2018
DOR NO BOLSO
Meninos e meninas, preparem-se. Dia 31 o bolso sofrerá. A razão? Os remédios vão ter os preços reajustados. A pancada varia de 4,45% a 4,83%. A notícia mereceu destaque em jornais, rádios e tevês. Foi aí que a porca torceu o rabo. “Os preços vão ficar mais caros”, disseram desavisados. Nada feito. “Preço”, diz o dicionário, “é a quantidade de dinheiro necessária para comprar um produto ou serviço”. Assim, o preço aumenta ou diminui. Fica mais alto ou mais baixo. Caro e barato se referem ao produto: O remédio vai ficar mais caro. O preço, mais alto.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 26 de junho de 2018
HIBRIDISMO
Há meses, o Distrito Federal está no noticiário. Um nome não sai de cartaz. Ora, os repórteres se referem à Câmara Legislativa. Ora, à Câmara Distrital. E daí?
O Legislativo do Distrito Federal tem duas funções. Uma: de câmara de vereadores. A outra: de assembleia legislativa. A denominação sugere os dois papéis — Câmara Legislativa.
Alguns preferem falar em Câmara distrital. Serão entendidos. Mas o adjetivo distrital não faz parte do nome. Escreve-se com a inicial pequenina.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 25 de junho de 2018
MACHADO DE ASSIS ESCREVEU
“Não há nada pior do que dar longas pernas para pequenas ideias.”
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 25 de junho de 2018
REPETIR DE NOVO: REDUNDÂNCIA
Depende. Repetir é dizer outra vez. Você repetiu só uma vez? Não use de novo. Mais de uma vez? Ufa! É de novo.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 25 de junho de 2018
A PLACA DO ELEVADOR: 5 ERROS
Sabia? Os olhos funcionam como câmeras. Fotografam tudo que veem. Nada escapa. Nem as palavras. Os ouvidos têm outros interesses. Eles não estão nem aí pras imagens. Só querem saber de sons. Como esponjas, absorvem o que ouvem.
Resultado: a gente vê ou ouve mensagens de certas placas, certos avisos, certas propagandas pela primeira vez. Acha-as esquisitas. Mas depois, tantas vezes repetidos, os textos parecem naturais. Mas não são. É o caso da placa que vem afixada ao lado de todos os elevadores. Eis os dizeres:
Aviso aos passageiros
Antes de entrar no elevador verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.
O texto é a receita do cruz-credo. Sem cerimônia, exibe cinco erros – propriedade vocabular, colocação do pronome átono, pontuação, emprego do demonstrativo mesmoe estrutura da frase. Você consegue identificá-los?
Palavra adequada
Vamos combinar? Ônibus, avião, trem, bonde, navio, táxi & cia. transportam passageiros. O elevador sobe e desce com usuários.
Fortões e fracotes
O pronome átono se chama átono porque é fraquiiiiiiinho. Há palavras fortonas que o atraem e o obrigam a ficar antes do verbo. Uma delas é a conjunção subordinativa (que, se, porque). No aviso, aparece “verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”.
Viu? A conjunção se (verifique se) lá está. Chama o fracote. Ele tem de obedecer: … verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.
Pra lá e pra cá
As orações adverbiais são passeadeiras. Não param quietas. Parece que têm asas nos pés. Ora aparecem no começo do período, ora no meio, ora no fim. Mas elas têm lugar fixo. É no fim. Quando se deslocam, a vírgula denuncia a escapadinha. Compare:
Não dirija se beber.
Se beber, não dirija.
Vou à Rússia quando a Copa acabar.
Quando a Copa acabar, ou à Rússia.
Voltemos ao aviso. O texto exibido de norte a sul do país tem uma oração deslocada. Cadê a vírgula? O gato comeu. Que tal devolvê-la? Assim: Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo se encontra parado neste andar.
Etiqueta pega bem
O pronome mesmo exerce vários papéis. E o faz com dignidade e espírito de colaboração. Ele ajuda o autor a reforçar a declaração ou a dar mais precisão a termos que precisam de destaque. Com funções tão importantes, é natural que tenha exigências. Não são muitas, mas convém conhecê-las para tirar as vantagens que o dissílabo oferece.
- Às vezes, o pronome aparece antes do substantivo. No caso, tem o sentido de “igual”. Concorda, então, com o substantivo a que se refere: Tite fez o mesmo discurso nas duas ocasiões. Tite fez os mesmos discursos nas duas ocasiões.
- Outras vezes, o danadinho vem depois do nome ou do pronome para reforçá-los. Aí concorda com o termo a que se refere. Compare:
Eu assisti ao jogo. Eu mesma assisti ao jogo. Eu mesmo assisti ao jogo. Nós mesmos assistimos ao jogo. Nós mesmas assistimos ao jogo. Foi Neymar mesmo quem pediu pra sair.
- O pronome também pode significar “realmente”. Aí, mantém-se invariável – sem feminino e sem plural: Os torcedores saíram mesmo às 18h. Foi bobeira mesmo do jogador.
Nada mais
Viu? O pronome dá destaque e reforço. Mas não ocupa o lugar do substantivo ou do pronome. É proibido usá-lo em frases como estas: Falei com o médico. O mesmo disse que estava de férias. Xô, coisa feia! Vem, belezura: Falei com o médico. Ele disse que estava de férias.
Eureca
Agora está moleza encontrar o erro no aviso do elevador. O dissílabo está usurpando o lugar do pronome ele: Antes de entrar no elevador, verifique se ele se encontra parado neste andar.
Retoques
Que tal dar uns retoques na frase? A forma nota 10 pode ser esta:
Antes de entrar, verifique se o elevador se encontra neste andar.
Melhor ainda:
Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 24 de junho de 2018
IR E VIR
Povos se deslocam pra lá e pra cá. Tangidos por guerras, fome ou desejo de melhorar de vida, eles se aventuram por mares nunca dantes navegados. O latim migratione deu a denominação ao ato. É migração. A trissílaba significa movimento: Nordestinos migraram pra São Paulo em época de seca severa. Gaúchos migraram pra Mato Grosso e Rondônia atrás de terras pra cultivar. Mineiros migraram pra Brasília a fim de ajudar na construção da nova capital.
De lá pra cá
Imigração ou emigração? Depende do ponto de vista. O prefixo im- exprime movimento pra dentro. Ex, pra fora. Vistos de lá, os que deixaram o Japão são emigrantes. Vistos de cá, imigrantes.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 24 de junho de 2018
FALAR NÃO É DIZER
Olho vivo! Ao fala ou escrever, lembre-se: falar não equivale a dizer, afirmar, declarar. Significa dizer palavras, expressar-se por meio de palavras: Paulo fala várias línguas. Falou com o governador. Não falará sobre o assunto. O apelo da criança fala ao coração.
Na dúvida, substitua o falar pelo dizer. Se der certo, o falar está no lugar errado. Dê vez ao dizer: O ministro falou (disse) que o Exército vai ficar no Morro da Providência. Quem falou (disse) isso? Viva! Falou e disse.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 24 de junho de 2018
ANOS SESSENTA
Domingo chegou ao fim. A turma do chopinho estava pronta pra pagar a conta e preparar-se para o batente da segunda. Pintou, então, a questão. Anos sessenta? Anos sessentas? O grupo se dividiu. De um lado, o time do s. De outro, do não-s. O vencedor pouparia o rico dinheirinho. E daí?
Ganhou a turma do não. É que as aparências enganam. Há três palavras escondidas prontas pra enganar os distraídos. Daí o singular: anos (da década de) sessenta, anos (da década de) setenta, anos (da década de) noventa.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 24 de junho de 2018
VERBOS ÔNIBUS
Um ônibus transporta 42 passageiros sentados e outros tantos de pé. Os verbos ter, ser, estar, haver, pôr, dizer, fazer e ver funcionam como transporte coletivo. Por terem ampla significação, podem ser empregados em diferentes contextos. Genéricos e incolores, conferem à frase um sentido vago, impreciso. Substitua-os, sempre que possível, por outros mais precisos, mas sem pedantismo, afetação ou rebuscamento.
Eis exemplos:
Fazer: fazer (redigir ou escrever) um artigo para o jornal; fazer (proferir) um discurso; fazer (cavar) uma fossa; fazer (esculpir) uma estátua de mármore; fazer (percorrer) o trajeto de carro; fazer (cursar) direito.
Pôr: pôr (acrescentar) uma palavra na frase; pôr (introduzir) a sonda na ferida; pôr (empregar) o imperativo na frase.
Dizer: dizer (citar) um exemplo; dizer (revelar) um segredo; dizer (declamar) poemas; dizer (narrar, contar) uma história.
Ter: ter (gozar) boa reputação; ter (conquistar) o respeito dos subordinados; ter (sentir) dor; ter (medir) cinco metros; ter (pesar) 80 quilos.
Ver: ver (admirar) a beleza do quadro; ver (observar) o que aconteceu.
Haver: Na praça dos Três Poderes há uma bandeira do Brasil hasteada (tremula uma bandeira do Brasil).
Estar: O nome do presidente do Banco Central está (figura) na lista dos presidenciáveis.
Encontrar-se: A força do estilo encontra-se (reside) nos substantivos e verbos.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 23 de junho de 2018
O PODER DA VÍRGULA
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) completou 100 anos em 2009. Na ocasião, publicou texto em que demonstra o poder do dono da palavra. Não precisou de muito esforço. Um simples deslocar de vírgulas deu o recado. Quer ver?
A vírgula
A vírgula pode ser uma pausa. Ou não:
Não, espere.
Não espere.
A vírgula pode criar heróis:
Isso só, ele resolve.
Isso, só ele resolve.
Ela pode reforçar o que você não quer:
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
Pode acusar a pessoa errada:
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.
A vírgula pode mudar uma opinião:
Não quero ler.
Não, quero ler.
Uma vírgula muda tudo.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 23 de junho de 2018
VÍRGULA É PODER
Palavras inocentes? Nasceram mortas. Emissor neutro? Também. A escolha de vocábulos, estruturas, citações, fontes, sinais de pontuação denunciam o falante. Quer ver? Grupo formado de homens e mulheres recebeu este texto:
Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à sua volta.
O desafio: pontuá-lo e, com isso, dar sentido ao enunciado. Eis as respostas:
Homens:
Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de quatro à sua volta.
Mulheres:
Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de quatro à sua volta.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 23 de junho de 2018
INDICAÇÃO DE TEMPO FUTURO
“Ministros derrubam por unanimidade artigo da lei eleitoral que impedia humor com políticos a três meses do pleito”, escrevemos na pág. 3. Viva! Na indicação de tempo futuro, o verbo haver não tem vez. Só a preposição ganha passagem. Compare: Chegou há pouco. Chega daqui a cinco minutos. Estamos a seis meses do Natal.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 22 de junho de 2018
O BEBÊ? A BEBÊ?
A menininha nada de braçadas. Ela é o bebê. É, também, a bebê. Elas são os bebês. Ou as bebês.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 22 de junho de 2018
LUIZ OU LUÍS?
Luís e Luiz figuram em certidões de nascimento. Mas Luís tem acento. Luiz, não.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 22 de junho de 2018
QUINZE DÚVIDAS E QUINZE RESPOSTAS
Depende
O filho puxou o pai? Puxou ao pai?
Puxar alguém é atrair para si, mover: Puxou o filho antes da passagem do trem. Puxou-o com delicadeza.
Puxar a alguém é parecer-se, ter semelhança: O filho puxou ao pai; a filha, à mãe.
Os dois
Esporte e desporto convivem em harmonia: Rafa e João são esportistas. Rafa e João são desportistas.
Professor de Deus
Quem tem mania de grandeza é megalômano. Ou megalomaníaco. O dicionário abona as duas palavras. A segunda é mais usada. Melhor.
Limite
Bênção ou benção? Tanto faz. Mas o plural muda. De bênção é bênçãos. De benção, benções.
Alô!
Atender o telefone? Atender ao telefone? As duas regências cumprem a função de dizer alô: Atendi o telefone. Atendi ao telefone.
Com ou sem s?
O dicionário registra Olimpíada e Olimpíadas com o mesmo significado. Com qual delas você fica?
Sem questionamentos
Caixa dois ou caixa 2 – a língua dá nota 10 para as duas. Não está nem aí pra Justiça.
Escurão
Apagão e blecaute fazem estragos. Apagam a luz, descongelam o freezer e deixam os noveleiros a ver navios. Valha-nos, Deus!
Sãos e salvos
Aterrissar e aterrizar dão alegria aos que tremem só de pensar em avião. Os dois verbos significam pousar em terra.
Dois times
Que dia é hoje? Há duas respostas. Uma: Hoje são 21 de junho. A outra: Hoje é (dia) 21 de junho.
A maioria dos gramáticos prefere tratar os dias como as horas: São 14h. São 14 de outubro.
Olho vivo, moçada. Preferir não é impor.
Sem diferença
Ter de estudar? Ter que estudar? Modernamente as duas formas são sinônimas: Tenho de sair às 2h. Tenho que sair às 2h.
Ah!
Saudade ou saudades. Ciúme ou ciúmes. Sentimento dispensa o plural. Mas, se usar o s, tudo bem. A língua não liga. O incomodado que reclame.
Acertar ou acertar
Cota na universidade? Ou quota? Errar é impossível.
Decida
Alcoólatra e alcoólico são sinônimos. Alcoólico é preferível por ser politicamente correto.
Existem as duas palavras: alcoólatra e alcoolista.
Mesma equipe
O personagem ou a personagem? Não faz diferença: o personagem Emília, a personagem Emília; o personagem Pedrinho, a personagem Pedrinho.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 22 de junho de 2018
PLURAL INADEQUADO
“As mulheres merecem os nossos respeitos”, escrevemos na pág. 8. Respeitos? O plural sobra. Xô! Melhor: As mulheres merecem o nosso respeito.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 21 de junho de 2018
CUJO: EMPREGO
Vamos combinar? O cujo é pra lá de sofisticado. Pronome relativo, pertence à família de que, o qual, onde. Requintado, impõe três regras pra ser empregado. Pra atendê-las, basta manter as antenas ligadas e a preguiça adormecida em berço esplêndido.
Primeira exigência
Tenha cuidado com a separação das sílabas: ele morre de vergonha de ficar com um pedaço lá e outro cá. É justo. A primeira sílaba, no fim da linha, vira palavrão (cu-jo). Feito o estrago, o constrangido só encontra uma saída. Consola-se com federal (fede-ral). Os dois se abraçam e choram. Depois se vingam. Cobrem o autor de vexames.
Segunda exigência
Deixe o artigo pra lá. Cujo tem aversão a o, a, os, as. Nunca escreva cujo o, cuja a. O casamento pega mal como bater em mulher, cuspir no chão ou passar a criança pra trás na fila.
Terceira exigência
Dê atenção à posse. O cujo, como todo pronome relativo, tem uma função: junta frases. No caso, uma delas tem de indicar posse. A presença do dissílabo evita a repetição de palavras. O enunciado fica chique como pérolas negras. Veja:
O governo sancionou a Lei Anticorrupção. O objetivo da Lei Anticorrupção é aumentar o controle de atos ilícitos.
Feio, não? A repetição torna o enunciado monótono. O jeito? Recorrer à bondade do relativo. Pra dar ideia de posse, o glorioso cujo pede passagem:
O governo sancionou a Lei Anticorrupção, cujo objetivo é aumentar o controle de atos ilícitos.
Outros exemplos:
A mãe pediu indenização ao Estado. O filho da mãe (=dela) morreu em confronto com a polícia.
A mãe cujo filho morreu em confronto com a política pediu indenização ao Estado.
O escritor conversou com os estudantes. O livro do escritor (=dele) foi adotado.
O escritor cujo livro foi adotado conversou com os estudantes.
Tropeços comuns
.O brasileiro morre de medo do cujo. Mas, orgulhoso, esconde a verdade. Alega feiura do coitadinho. Mentira tem perna curta. Volta e meia, aparecem mostrengos como estes:
A mulher que o filho morreu vai deixar a cidade.
Paulo Coelho, que os livros fazem sucesso no mundo, é imortal da ABL.
Vamos à correção: Assim: A mulher cujo filho morreu vai deixar a cidade. Paulo Coelho, cujos livros fazem sucesso no mundo, é imortal da ABL.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 21 de junho de 2018
TRAVESSÃO E VÍRGULA
“A guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo — China e Estados Unidos — deve piorar o crescimento econômico global e afetar a recuperação lenta do Brasil”, escrevemos na pág. 5. Viva! O travessão, quando isola aposto, agradece, mas não aceita vírgula depois do segundo sinal. Exemplo: Brasília — a capital do Brasil — localiza-se no Planalto Central.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 21 de junho de 2018
EXTORQUIR: REGÊNCIA
Extorquir não é lá coisa boa. Significa obter por violência, ameaças ou ardis. O verbo tem uma manha. Seu objeto direito tem de ser coisa. Nunca pessoa. Extorque-se alguma coisa. Não alguém: Fiscais extorquiram dinheiro de comerciante. A polícia tentou extorquir o segredo. Extorquiram a fórmula ao cientista.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 21 de junho de 2018
SEÇÃO E SESSÃO: DIFERENÇA
Seção ou sessão?
Seção é a parte de um todo. Quer dizer divisão: seção de eletrodomésticos, seção eleitoral, seção de perdidos e achados.
Sessão é o todo. Dá nome ao tempo que dura uma reunião, um espetáculo, um trabalho: sessão de cinema, sessão de terapia, sessão do Congresso.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 20 de junho de 2018
INDEPENDENTE E INDEPENDENTEMENTE: EMPREGO
“O advogado João Paulo Boaventura não acredita em prisão imediata independentemente do resultado”, escrevemos na pág. 2. Nota 10. Costumamos confundir independente (livre) com independentemente (sem levar em conta): O Brasil ficou independente de Portugal em 1822. Fará a viagem independentemente do valor do dólar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 20 de junho de 2018
TAMBÉM: EMPREGO
“Vistoria feita pelo Ministério Público Federal e mais duas entidades em 28 comunidades terapêuticas constata também privação de liberdade e trabalhos forçados dos pacientes”, escrevemos na pág. 4. Viu? O também sobra. A razão: ele indica adição. Como não vem nenhuma informação antes, não há o que adicionar.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 19 de junho de 2018
ÚLTIMA VOLTA DOS PONTEIROS
Leitor comenta: “Nesta Copa, os locutores mantêm os relógios com ponteiros, para que possam dizer: `Vamos para a última volta dos ponteiros do relógio. Uma volta desnecessária ao passado e um erro: só um dos ponteiros dá a última volta: o dos minutos´”.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 19 de junho de 2018
MESMO: QUANDO USAR
O pronome mesmo exerce vários papéis. Ele ajuda o autor a reforçar a declaração ou a dar mais precisão a termos que precisam de destaque. Com funções tão importantes, é natural que tenha exigências. Não são muitas, mas convém conhecê-las para tirar as vantagens que o dissílabo oferece.
- Às vezes, o pronome aparece antes do substantivo. No caso, tem o sentido de “igual”, sem tirar nem pôr. Concorda, então, com o substantivo a que se refere: O prefeito fez o mesmo discurso nas duas cidades. O prefeito fez os mesmos discursos nas duas cidades.
- Outras vezes, o danadinho vem depois do nome ou do pronome para reforçá-los. Aí concorda com o termo a que se refere. Compare:
Eu vendi a casa. Eu mesma vendi a casa. Eu mesmo vendi a casa. Ele vendeu a casa. Ele mesmo vendeu a casa.
Ela vendeu a casa. Ela mesma vendeu a casa.
Nós vendemos a casa. Nós mesmos vendemos a casa. Nós mesmas vendemos a casa.
Eles mesmos venderam a casa. Elas mesmas venderam a casa.
Foi Neymar mesmo quem pediu pra sair do campo.
Foi Teresa mesma quem recebeu as flores.
- Eta pronome polivalente! Ele também pode significar “realmente”. Aí, mantém-se invariável – sem feminino e sem plural: Tite disse mesmo a verdade. Os torcedores saíram mesmo às 18h. Foi bobeira mesmo da Seleção.
Nada mais
Viu? O pronome dá destaque e reforço. Mas não ocupa o lugar do substantivo ou do pronome. É proibido usá-lo em frases como estas: Falei com o médico. O mesmo disse que estava de férias. Xô, coisa feia! Vem, belezura: Falei com o médico. Ele disse que estava de férias.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 18 de junho de 2018
OSCAR WILDE ENSINOU
“Nenhuma pergunta é indiscreta. Certas respostas é que são.”
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 18 de junho de 2018
A COPA E A LÍNGUA: COESÃO
O assunto é um só. Copa pra lá, Copa pra cá. Apostas não faltam. Nem coleção de figurinhas do evento. Os brasileiros aguardam a estreia da Seleção. É hoje. E o time? Muitos acham que a equipe pode trazer a taça. Outros duvidam. Mas, como a esperança é a última que morre, não arrefecem. Torcem. A língua lhes dá senhora ajuda porque põe o dedo na ferida. O xis da vitória: a coesão.
Texto e equipe
Imagine a situação. Com carta branca, Tite forma o time com os melhores jogadores do mundo. Todos do nível de Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar. Confiante no talento individual, põe a equipe em campo antes de definir a posição e a movimentação de cada um pra atingir o objetivo. Qual? O gol, claro. Sem plano que as oriente, as criaturas não formam conjunto. E, claro, não se entendem. Correm sem rumo, chutam a esmo, estranham a bola. São 11 Pelés transformados em 11 patetas. O resultado? Fiasco nota 10.
A imagem vale para a redação. Belas ideias, belas palavras e belas frases não resultam necessariamente em bom texto. Pra chegar à unidade de composição, elas precisam se articular — entrosar-se com clareza, harmonia e coerência. Em bom português: as palavras têm de conversar pra formar períodos. Os períodos têm de conversar pra formar parágrafos. Os parágrafos têm de conversar pra formar o texto. O bate-papo tem nome. Chama-se coesão textual.
Coesão
“Socooooooooooooooooooooooooorro!”, gritam os concurseiros de Europa, França e Bahia. O motivo: perdem pontos a rodo num tal item chamado coesão. Eles procuram o assunto nas gramáticas. Não encontram. Celsos Cunhas, Becharas, Cegallas não dedicam nenhum capítulo ao tema. Por quê?
A razão é simples. Coesão está presente na morfologia, na sintaxe, nas figuras de linguagem. Ao estudar substantivos, verbos, pronomes, conjunções, preposições, coordenação, subordinação, etc. e tal, indiretamente estudamos coesão. Eles oferecem recursos pra ligar palavras, ligar períodos, ligar parágrafos. Em suma: juntar partes soltas em unidades coerentes.
Quer ver?
Anel e ouro são duas palavras que não se conhecem nem de elevador. Mas formam unidade com a ajuda da preposição de: anel de ouro.
***
Cozinho, estamos sem empregada.
Que relação existe entre enunciados assim independentes? A conjunção se encarrega de pôr os pontos nos ii. Ela pode indicar causa (cozinho porque estamos sem empregada). Pode indicar tempo (cozinho quando estamos sem empregada). Pode indicar duração (cozinho enquanto estamos sem empregada). Pode indicar condição (cozinho se estamos sem empregada).
Mais
Pronomes exercem duplo papel. Além de auxiliar a coesão, contribuem para a elegância. Como? Evitam repetições. Veja:
Rafael e João Marcelo são irmãos. Este estuda medicina; aquele, direito. (Este substitui João Marcelo; aquele, Rafael.)
Neymar foi pra Espanha há anos. Ele e a família se mudaram para Barcelona.
Repetição
Nem toda repetição é má. A estilística dá liga e charme ao texto. É o caso deste trecho:
A cultura do desperdício tem de ser desmontada por dentro. É preciso que os brasileiros não joguem fora restos de comida aproveitáveis nem deixem as lâmpadas acesas quando saem de um aposento. É preciso que os livros escolares sejam aproveitados pelos irmãos menores. É preciso não destruir os bens públicos. É preciso, enfim, martelar insistentemente na necessidade de poupar.
Viu? A repetição de “é preciso” não decorre de pobreza vocabular. O autor escolheu o recurso para enfatizar a necessidade de poupar. A locução introduz cada exemplo. O resultado é um só: deixa gravada a mensagem na cabeça do leitor. Oba!
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 18 de junho de 2018
DESDE A REVOLUÇÃO DE 1964: OCORRE CRASE?
Não. O acento da crase denuncia o casamento de dois aa. Um é a preposição a.Ora, desde é preposição. Não há espaço para outra. Na dúvida, apele para o troca-troca. Substitua a palavra feminina por uma masculina (não precisa ser sinônima, mas precisa manter o número — singular ou plural). Se der ao, o acento grave pede licença. Se der a ou o, nada de grampinho: Desde a Revolução de 1964 (desde o combate de 1964). Assisti a duas reuniões ontem (assisti a dois encontros). Assisti às duas reuniões ontem (assisti aos dois encontros). Foi à missa na catedral (foi ao estádio).
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 17 de junho de 2018
DESCRIMINAR E DISCRIMINAR: DIFERENÇA
Descriminar pertence à família de crime. Significa inocentar, absolver de crime. O prefixo des– dá ideia de negação. Assim como desobedecer quer dizer não obedecer.
Discriminar quer dizer tratar de forma diferente: A sociedade brasileira discrimina o pobre; a americana, o negro.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 17 de junho de 2018
BLÁ-BLÁ-BLÁ & CIA.: O PORQUÊ DO HÍFEN
Escrevem-se com hífen os vocábulos onomatopaicos, formados por elementos repetidos como blá-blá-blá, nhem-nhem-nhem, lenga-lenga, tique-taque, trouxe-mouxe.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 17 de junho de 2018
BEM-VINDO: GRAFIA
Bem-vindo se escreve assim — com hífen.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 17 de junho de 2018
MAU-CARÁTER: PLURAL
Ele é mau-caráter. E eles? Eles também são maus-caracteres.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 16 de junho de 2018
GANHAR, PERDER, EMPATAR: REGÊNCIA
Importante não é ganhar. É competir. Será? Talvez seja isso mesmo. Mas é bom saber lidar com os três resultados possíveis na prática esportiva. Um é ganhar. Outro, empatar. O indesejado: perder. Ganhe, empate ou perca, seja elegante. Use a preposição correta:
1. O time ganha de outro por ou de: O Brasil ganhará da Suíça por 3 a 0 (ou de 3 a 0).
2. O time perde para outro por ou de: A Suíça perderá para o Brasil por 3 a 0 (ou de 3 a 0).
3. O time empata com outro por ou de: A Suíça empatará com o Brasil por 3 a 3 (ou de 3 1 3).
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 16 de junho de 2018
SEQUER: EMPREGO
“Não ficou sequer uma hora na reunião”, escrevemos na pág. 3. Nota 10. Sequer deve sempre ser acompanhado de negação: Não sabe sequer onde deixou os óculos. Não acertou, sequer, a questão que envolvia as quatro operações. Não consegue, sequer, identificar a rua onde mora.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 15 de junho de 2018
VOU À RÚSSIA OU A RÚSSIA?
Você vai à Rússia assistir aos jogos da Copa? Oba! Mas seja esperto. Não dê chance ao azar. Para prevenir contratempos, lembre-se de pormenor pra lá de importante. Trata-se da crase. Com o verbo ir, acerte sempre. Na dúvida, apele para o macete infalível. Troque o ir pelo voltar e siga o conselho destes versos:
Se, ao voltar, volto da,
Craseio o à.
Se, ao voltar, volto de,
Crase pra quê?
Vou à Rússia. (Volto da Rússia.)
Ele foi primeiro à Rússia e, depois, aos países nórdicos. (Ele voltou da Rússia e, depois, dos países nórdicos.)
Nas próximas férias, quero ir à Rússia. Lá, visitar a Praça Vermelha. (Nas próximas férias, quero voltar da Rússia. Lá, visitar a Praça Vermelha.)
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 15 de junho de 2018
A, O OU LHE?
Ops! Os três são pronomes pessoais do caso oblíquo. Quando empregar um e outro?
Lhe tem duas funções. Uma: objeto indireto — complementa verbo transitivo indireto. É o caso de oferecer, agradecer, obedecer: Ofereci-lhe um cafezinho (quem oferece oferece alguma coisa a alguém). Agradeço-lhe o favor (quem agradece agradece alguma coisa a alguém). Obedecemos-lhe sem discussão (quem obedece obedece a alguém).
A outra: funciona como adjunto adnominal. Substitui o possessivo seu, sua, dele, dela: Acariciou-lhe os cabelos (acariciou seus cabelos). Invejou-lhe o vestido (invejou vestido dela). Encheu-lhe os bolsos de balas (encheu seus bolsos de balas).
O a e o o funcionam como objeto direto: João ama Maria. (João a ama). O diretor cumprimentou os funcionários (o diretor os cumprimentou). Comprei o material exigido pela escola (comprei-o). Vi a professora entrando no shopping (vi-a entrando no shopping).
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 15 de junho de 2018
ABSTER-SE: CONJUGAÇÃO
Se eu me abster? Se eu me abstiver? Na língua, a família está acima de tudo. Abster-se sabe disso. O danadinho é derivado de ter. Um e outro se conjugam do mesmo jeitinho, observadas as regras de acentuação: eu tenho (me abstenho), ele tem (se abstém), nós temos (nos abstemos), eles têm (se abstêm); eu tive (me abstive), ele teve (se absteve), nós tivemos (nos abstivemos), eles tiveram (se abstiveram); se eu tiver (me abstiver), ele tiver (se abstiver), nós tivermos (nos abstivermos), eles tiverem (se abstiverem); eu tenho tido (me tenho abstido); ele está tendo (se abstendo). E por aí vai – sem tirar nem pôr.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 15 de junho de 2018
CERCA DE, ACERCA DE & CIA.: SIGNIFICADO E EMPREGO
1. Acerca de significa sobre, a respeito de: Pronunciou-se acerca da oscilação do dólar.
2. Cerca de quer dizer aproximadamente: Recebeu cerca de R$ 500.
3. Há cerca de indica contagem de tempo passado (faz aproximadamente): Viajou há cerca de dois meses.
4. A cerca de exprime tempo futuro: Viajará daqui a cerca de dois meses. A cerca de quatro meses das eleições, regras do pleito podem ser mudadas.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 14 de junho de 2018
O MASCOTE OU A MASCOTGE?
O lobo siberiano é a mascote da Copa de 2018 ou o mascote? Faça a sua aposta. Escolheu o feminino? Gol de placa. A criaturinha a quem se atribui o dom de dar sorte ou trazer felicidade usa batom e salto alto: Zavivaka é a mascote dos russos. O tatu-bola Fuleco foi a mascote brasileira. Você tem alguma mascote?
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 14 de junho de 2018
AZUL-MARINHO TEM PLURAL?
Há um tropeço que rouba pontos e compromete reputações. Qual? Flexionar azul-marinho. A duplinha é invariável: calça azul-marinho, calças azul-marinho, sapato azul-marinho, sapatos azul-marinho; carro marinho, carros marinho, bicicleta marinho, bicicletas marinho.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 14 de junho de 2018
AGRADECER: REGÊNCIA
Agradeço-o? Nãooooo! Agradeça com elegância. O verbo pede objeto direto de coisa e indireto de pessoa. Assim: Agradeceu o presente. Agradeceu ao pai. Agradeceu o presente ao pai.
Na substituição do alguém pelo pronome, é a vez do lhe: Agradeço-lhe pela colaboração. Agradeço-lhe a atenção. Agradeci-lhe os cuidados com as crianças.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 14 de junho de 2018
CABER:CONJUGAÇÃO
Caber é cheio de irregularidades. Respeitar as manhas de tão instável criatura exige atenção plena. A mais importante é o cuidado com a conjugação. Guarde as formas: presente do indicativo (caibo, cabe, cabemos, cabem), pretérito perfeito ( coube, coube, coubemos, couberam), pretérito imperfeito (cabia, cabia, cabíamos, cabiam), imperfeito do subjuntivo ( coubesse, coubesse, coubéssemos, coubessem), futuro do subjuntivo (couber, couber, coubermos, couberem), gerúndio ( cabendo), particípio (cabido).
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 13 de junho de 2018
DESPERDÍCIO DE VÍRGULAS
“É um nome da dramaturgia, que veio, para ficar”, escrevemos na capa de Diversão&Arte. Reparou no desperdício? Gastamos vírgulas sem necessidade. Melhor poupá-las: É um nome da dramaturgia que veio para ficar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 13 de junho de 2018
PREFIXO ANTI
“Manifestantes anti-aborto diante da Catedral de Buenos Aires”, escrevemos na pág. 13. Bobeamos. O prefixo anti- pede hífen quando seguido de h ou de i. No mais, é tudo colado: anti-histórico, anti-higiênico, anti-imperialismo, anti-idade, antiaborto, anticonceptivo, antiestado.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 13 de junho de 2018
RUSSO E RUÇO: DIFERENÇAS
Com a Copa do Mundo, não dá outra. O país sede vira notícia. Este ano é a Rússia. Com ela, o adjetivo pátrio — russo. Escrita assim, com dois ss, a palavra diz que se refere à terra dos czares. Mas a danada tem uma homófona. É ruço. Ambas se pronunciam do mesmo jeitinho, mas o significado de uma e de outra não se conhece nem de elevador.
Russo é o natural ou originário da Rússia. Ruço joga em outro time. Quer dizer pardacento ou complicado: Os russos adoram vodca. As bonecas russas, além de lindas, são valorizadas em todo o mundo. Depois da greve dos caminhoneiros, a situação do Brasil ficou ruça. É ruço aprender russo.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 12 de junho de 2018
ESTE NA INDICAÇÃO DE TEMPO
“A floração, típica desta época do ano, também é propícia para a produção de mel”, escrevemos na pág. 21. Viu? Nota 10 para o emprego do demonstrativo. Ao indicar tempo presente, o este pede passagem: esta semana (semana em curso), este mês (junho), este ano (2018).
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 12 de junho de 2018
DIA DOS NAMORADOS: O DEUS DO AMOR
Hoje é Dia dos Namorados. Flores e presentes farão a festa. Lojas e restaurantes se preparam pras homenagens. Deuses, ninfas, serafins e mortais marcarão presença. Alguns curtirão a data no planeta Terra. Outros assistirão às reverências de longe, lá do Olimpo. Um deles é Cupido, o responsável pelos encontros e desencontros do coração.
O deus do amor
Cupido é um menino que anda sempre armado. Mas tem armas muito especiais. De dia e de noite, segura o arco e a flecha. Em quem ele acerta? Na pessoa distraída.
Ninguém escapa. Ele põe venda nos olhos. Sem enxergar, não escolhe hora nem lugar. Menino, menina, adulto, adulta, idoso, idosa, todos correm perigo. Queiram ou não, podem levar uma flechada.
Às vezes, o garotinho arteiro atinge a pessoa enquanto ela dorme. Outras vezes, enquanto bate papo. Muitas vezes, enquanto estuda, anda na quadra, vai ao cinema, faz um lanchinho, admira uma vitrine.
O resultado é sempre o mesmo. Quem recebe a flechada fica caidinho de amor. Até quando dura a paixão? Eis o mistério. Vinicius, cobra criada, diz que o “o amor é infinito enquanto dura”. Millôr concorda: “Eterno no amor tem o mesmo sentido de permanente no cabelo”. Será?
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 12 de junho de 2018
AMAR, ABRAÇAR, BEIJAR E NAMORAR: REGÊNCIA
Amar, abraçar, beijar e namorar são verbetes do dicionário amoroso. Eles têm um denominador comum. Dispensam intermediários. Transitivos diretos, ligam-se ao complemento sem preposição: João ama Maria. Maria ama João. João a ama. Maria o ama. João abraça Maria. Maria abraça João. João a abraça. Maria o abraça. João beija Maria. Maria beija João. João a beija. Maria o beija.
E namorar? Antigamente namorava-se com um vigia. Era a vela. Vamos combinar? Namorar sem intermediários é pra lá de bom. Por isso, prefira a regência direta: João namora Maria. Maria namora João. João a namora. Maria o namora.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 09 de junho de 2018
CONCORDÂNCIA VERBAL
“São tempos de transição, que nos impõe cautela redobrada”, escrevemos na pág. 4. Viu? Tropeçamos na concordância. O sujeito de impor é o pronome relativo que. O antecedente a que se refere é tempos de transição. Que tal fazer as pazes com o plural? Assim: São tempos de transição, que nos impõem cautela redobrada.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 09 de junho de 2018
SUJEITO E PREPOSIÇÃO
“Além de a leitura oferecer maior bagagem cultural, a criança que lê, fala melhor, escreve melhor e pensa com mais fluidez e clareza”, escrevemos na pág. 24. Viva! Obedecemos à regra de que o sujeito não se preposiciona. Daí por que separamos a preposição do artigo que o acompanha (além de a leitura oferecer…). Outros exemplos: É hora de os alunos saírem. Chegou a ocasião de os candidatos mostrarem as propostas.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 08 de junho de 2018
PRESENTEAR & CIA: CONJUGAÇÃO
Vem aí o Dia dos Namorados. Um verbo entra em cartaz. É presentear. Conjugá-lo como manda a gramática pega bem como dar bom-dia no elevador, usar cinto de segurança, pedir licença e dizer obrigado. Como frear e cear, presentear perde o i no nós e vós dos dois presentes — do indicativo e do subjuntivo.
Veja: eu presenteio (freio,ceio), ele presenteia (freia, ceia), nós presenteamos (freamos, ceamos), vós presenteais (freais, ceais), eles presenteiam (freiam, ceiam); que eu presenteie (freie, ceie), ele presenteie (freie, ceie), nós presenteemos (freemos, ceemos), vós presenteeis (freeis, ceeis), eles presenteiem (freiem, ceiem).
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 08 de junho de 2018
VERBO PEDIR: REGÊNCIA
“Pedimos que não feche nada porque precisamos ambientar o DF na grande questão nacional”, escrevemos na pág. 34. Viva! Empregamos o verbo pedir como manda a norma culta. Há dois jeitinhos de pedir. Um: pedir para, que subentende pedido de licença. O outro: pedir que, que tem a acepção de solicitar: O aluno pediu (licença) para sair mais cedo. Pediu que mandasse a encomenda pelos Correios.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 07 de junho de 2018
QUEM PODE ESCREVER NA INTERNET?
Não sei por que reclamam que brasileiro não lê, não escreve. As pessoas se esbaldaram de ler e escrever. Afinal, as redes sociais encontraram clientes ideais no Brasil. E elas aceitam tudo. Não há quem não consiga juntar os primos e tios em um grupo para o WhatsApp, ou agregar ex-colegas para formar um conjunto de amigos no Facebook. Quem não consegue está virtualmente morto. Virtualmente, fique claro. Afinal, como já se disse, hoje não se escreve para deixar um legado, para partilhar descobertas, inventos ou simples achados, mas para participar da rede. A unidade básica da sociedade não é mais o indivíduo, mas o grupo, a comunidade virtual, a rede.
O importante não é mais ter ideias, o significativo não é ter vivências, mas compartilhar o que quer que seja: uma paisagem, o namorado novo, a blusinha que se experimentou na loja do shopping, o som incrementado do show em que se conseguiu entrar, viagens para Disney (e suas filas quilométricas de brasileiros dispostos a curtir qualquer atração e dizer que estão no Primeiro Mundo) ou Mendoza (e seus vinhos pesados, para tomar com churrasco quase cru). O importante não é viver, é postar. Outro dia, na Sala São Paulo, duas senhoras embebidas em perfume doce moviam-se, inquietas, enquanto a orquestra atacava, com competência, um concerto de Bach. Enquanto o público aplaudia Alsop e Baldini pelo desempenho feliz, as doces senhoras fotografaram a orquestra, enviaram as fotos pelo celular, felizes por colaborar com a rede, mesmo que em sua ansiedade não tenham apreciado devidamente a música do gênio de Leipzig.
Até pouco tempo atrás, ouvir música era uma vivência, uma experiência na área da sensibilidade que enriquecia, de uma forma ou de outra, a personalidade. Hoje ninguém pensa nisso, mas em fotografar os artistas, gravar seu som e enviá-lo aos membros da rede. Eu mesmo vivi uma experiência desse tipo em uma cidade do interior em que fiz uma palestra: os jovens chegavam com livros de minha autoria e não se preocupavam com autógrafo, queriam mesmo era um selfie que, imediatamente, postavam “provando” terem assistido à palestra. O importante não era viver uma experiência intelectual, mas fazer com que os amigos soubessem que ele tinha ouvido aquela palestra, e a foto existia para documentar o ocorrido.
Enquanto o conhecimento supostamente adquirido em uma palestra poderia passar a fazer parte do patrimônio cultural do estudante, o post que ele colocou não é destinado a durar. Não só ele é entrevisto rapidamente, como logo será superado por outros posts de outros participantes do grupo que falarão sobre algo que experimentaram — uma música, um namorado novo, uma paisagem, uma comida e, em raríssimos casos, um livro.
Assim a rede se transforma em unidade da qual os indivíduos fazem parte. Na verdade o indivíduo passa a ser a rede, pois ela não é um conjunto de unidades, mas a própria unidade. Aquela rede, aquele grupo são indivisíveis, são os próprios indivíduos e eles não passam de componentes da nova unidade. É por isso que as pessoas ficam ansiosas para enviar tudo para a sua rede, pois é fundamental não deixar o indivíduo morrer de inanição.
A facilidade de postar fotos e textos, frases e conceitos, faz que as pessoas cometam, com frequência, um equívoco importante. Sim, todas as pessoas têm o direito de expressar suas ideias. Mas não, não temos a obrigação de respeitar ideias idiotas, mal fundamentadas, raciocínios equivocados ou, simplesmente, notícias falsas. Não se deve confundir o direito democrático de todos se expressarem do jeito que quiserem com o respeito que as pessoas precisam ter com relação à competência e à legitimidade da manifestação expressa.
Sim, você pode dizer o que quiser, redes sociais aceitam tudo, você está no seu direito, mas se você afirma as coisas sem refletir, reproduz notícias falsas, tenta legitimar reflexões imbecis atribuindo-as a nomes famosos, é raso e xucro quando emite as próprias opiniões…não temos nenhuma obrigação de levá-lo a sério. Na verdade, você deveria tomar mais cuidado ao postar suas coisas. No final das contas, embora você se perceba como parte de uma rede fechada e protegida, isso não existe na internet. Sua imbecilidade não ficará mais restrita a âmbito limitado, mas alcançará o mundo. Para o bem e para o mal. Então se poupe. E, principalmente, nos poupe.
JAIME PINSKY
Historiador, professor titular da Unicamp e diretor da Editora Contexto
jaimepinsky@gmail.com
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 06 de junho de 2018
VULCÃO VEM DA MITOLOGIA GREGA
Ops! A montanha se mexeu. Da boca enorme, saíram lavas ferventes. É o Vulcão de Fogo, lá da Guatemala. Furioso, ele sepultou vilarejos, matou mais de 60 pessoas, feriu 46, forçou a remoção de 3.265 e afetou a vida de 1,7 milhão de moradores. Valha-nos, Zeus! É o deus Vulcano em ação. Ele trabalha no fundão da Terra. Quando põe mão à obra, solta fogo pra todos os lados.
Origem
Você sabe por que vulcão se chama vulcão? O buraco com a barriga cheinha de fogo e lava quente se chama vulcão em homenagem ao deus do fogo e da metalurgia. Em latim, o nome dele é Vulcano. Em grego, Hefesto.
O metalúrgico
Vulcano era o menino mais feio do Olimpo. Tão feio que a mãe, Juno, sentiu vergonha de tê-lo como filho. Pra se livrar da criatura, jogou-o do alto da montanha. Ele caiu durante um dia inteiro. Ao aterrissar, machucou a perna. Ficou manco.
O garoto adorava trabalhar com ferro. Tornou-se, por isso, grande metalúrgico. Ele fez o trono e o cetro de ouro de Zeus, o deus dos deuses. Forjou a armadura de Aquiles, o tridente de Poseidon, as flechas de Apolo e de Cupido. E muito mais.
Mas o que ele queria mesmo era se vingar da mãe. Teve, então, uma ideia. Fabricou um trono de ouro esplêndido e o deu de presente a Juno. Quando ela se sentou na maravilha, ficou com o bumbum preso. Ninguém conseguiu soltá-lo.
Os deuses procuraram Vulcano. Pediram que libertasse a mãe. Ele topou. Mas impôs uma condição: só soltaria a prisioneira se Vênus, a deusa do amor, se casasse com ele. Foi assim que a mulher mais linda do Olimpo se casou com o homem mais feio do Olimpo.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 06 de junho de 2018
10 ERROS QUE VOCÊ PODE EVITAR
A internet aceita tudo. Há textos pra lá de legais. Há, também, mensagens falsas, grosseiras e mal-humoradas. O jeito é selecionar. Aproveitar o bom e ignorar o que nada acrescenta. Uma que vale a pena dá dica de português. O título: Nunca use. Depois, enumera uma série de vícios. Que tal relembrá-los? E, de quebra, corrigi-los.
De menor: A forma nota mil é menor de idade.
Menas: Não existe. Diga sempre, sem medo de errar — menos.
Seje e esteje: Sem vez. A grafia é seja e esteja.
Estrupo: Olho no troca-troca. Cada macaco no seu galho — estupro.
Cabelerero: O nome do profissional deriva de cabeleira. Daí cabeleireiro.
Mais
Adevogado: a letra intrusa não tem vez como não tem vez em adjetivo e advérbio.
Tinha compro, tinha trago: Xô! Xô! Xô! Ela tinha comprado e tinha trazido.
Gratuíto: O ditongo ui se pronuncia como em circuito e fortuito.
Rúbrica: Nãooooooooo! A sílaba tônica é bri. Rua, acento!
De grátis: Trata-se de cruzamento. A entrada é de graça. Ou grátis.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 06 de junho de 2018
FALSO PLURAL
“As esculturas de bronze têm 3m de altura e são obras de Alfredo Ceschiatti”, escrevemos na pág. 23. Viu? Embarcamos no falso plural. Deixa-se no singular o substantivo abstrato que, depois de verbo de ligação (ser, estar, virar, ficar) caracterize genericamente o sujeito plural: Ex-governadores são alvo da PF. Atletas brasileiros são destaque na Copa. As esculturas de bronze são obra de Alfredo Ceschiatti.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 05 de junho de 2018
BUQUÊ DE... PAR DE...: SINGULAR OU PLURAL?
Você gosta de colecionar coisas? Alguns colecionam figurinhas. Outros, selos. Há os que colecionam carrinhos, tampinhas, latas de cerveja ou miniaturas de avião. Vale tudo. Vale, também, chamar a atenção para o português. Coleção de… singular ou plural? O nome do objeto vai para o plural:coleção de selos (não de selo), coleção livros, coleção de cartões postais, coleção de fotografias, coleção de copos. Lógico, não? Ninguém coleciona um objeto. Coleção é sempre plural.
Buquê de flores
Par de sapato ou par de sapatos? Grupo de criança ou grupo de crianças? Buquê de rosa ou buquê de rosas? Antes de responder, pare e pense. O par, seja do que for, tem mais de um, o grupo tem mais de um, o buquê tem mais de um. Logo, o complemento é sempre plural: par de sapatos, grupo de crianças, buquê de rosas. É isso. Você tem um dinheirinho sobrando? Compre um par de sapatos pra você, balas prum grupo de crianças, e um buquê de belas flores pra pessoa amada. Faça a festa.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 05 de junho de 2018
SOPRAR OU ASSOPRAR AS VELAS?
Você gosta de festa de aniversário? Todo mundo adora. A gente encontra os amigos, come salgadinhos, bate papos interessantes, ouve boa música e, depois, canta o parabéns pra você. O aniversariante faz o que deve fazer. Apaga as velinhas. Aí, pinta a questão. Ele sopra ou assopra as velas? Tanto faz. As duas formas estão pra lá de certas. O felizardo pode soprar ou assoprar as velas. O resultado é um só. Um bolo pra lá de saboroso. Prepare-se.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 05 de junho de 2018
VERBO CHEGAR: REGÊNCIA
“…ele confessa que muitos caminhoneiros podem não chegar ao Distrito Federal”, escrevemos na pág. 2. Viva! Acertamos a regência do verbo chegar. A gente chega a algum lugar: Chegamos a Brasília. Chegamos a São Paulo. Chegamos ao trabalho. E, claro, os caminhoneiros chegam ao Distrito Federal.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 04 de junho de 2018
PARALELISMO
“EUA sobretaxam europeus, Canadá e México”, escrevemos na pág. 7. Viu? Tropeçamos no paralelismo. Misturamos adjetivo (europeus) com substantivos (Canadá e México) no complemento composto. Melhor respeitar o paralelismo: EUA sobretaxam Europa, Canadá e México. EUA sobretaxam europeus, canadenses e mexicanos.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 04 de junho de 2018
HINDU E INDIANO: DIFERENÇA
Hindu = seguidor do hinduísmo. Indiano = adjetivo relativo à Índia: Parte dos indianos são hindus. Os muçulmanos também compõem parcela da população. Os brasileiros apreciam os indianos, a comida indiana e a roupa indiana.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 04 de junho de 2018
SANTO: PROVÉRBIO
“Santo de casa não faz milagre”, diz o povo sabido. Por quê? Quem vive perto de nós é ceguinho. Ignora nossas qualidades. Mas não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe. Outros descobrem nosso mérito. Viva!
Há provérbios semelhantes em outras línguas. O francês diz “ninguém é grande homem para seu criado”. O inglês prefere “familiaridade gera desprezo”.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 03 de junho de 2018
ESTÓRIA E HISTORIA: USO E CURIOSIDADE
Estória é narrativa de ficção. História, narração dos fatos ocorridos na vida dos povos ou da humanidade. Modernamente, usa-se história tanto para designar fatos quanto ficção: a história da Branca de Neve, a história da construção de Brasília, a história da ditadura no Brasil.
Você sabia?
O Pai da História? É Heródoto. O homem, que veio ao mundo cinco séculos antes de Cristo, escreveu a história das guerras greco-persas do ano 500 ao ano 579 a.C. Seus escritos são os mais antigos que chegaram aos tempos modernos.
Historiador e poeta
Aristóteles escreveu há 2.400 anos: “O historiador e o poeta não se distinguem um do outro pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso. Diferem entre si porque um escreve o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido”.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 03 de junho de 2018
SANTOS JUNINOS & CIA: COMO ESCREVÊ-LOS
Três santos recebem homenagem em junho. Um deles é Santo Antônio. Outro, São João. O último, São Pedro. Os dois primeiros são os mais visados. Antônio, por ser casamenteiro. João, por proporcionar festas que alegram adultos e crianças. De tão populares, avançam no mês de julho. Daí serem festas juninas ou julinas.
Brincadeirinhas
Ora é santo, ora são. As duas palavrinhas têm o mesmo significado. Querem dizer indivíduo que foi canonizado. São é forma apocopada. Preguiçosa, deixou a última sílaba no caminho como frei (freire), bel (belo), mui (muito).
Grandonas
São Paulo, São Pedro, Santo Antônio & cia. têm pontos comuns. Um deles: são nomes próprios. Escrevem-se, por isso, com inicial maiúscula.
A vez de cada um
Quando dar a vez a são e a santo? Use santo quando seguido de nome iniciado por vogal ou h (Santo Antônio, Santo Agostinho, Santo Hilário). Dê passagem ao são nos demais casos (São Bento, São Carlos, São Caetano). Exceção? No duro, no duro, só uma. É Santo Tirso. Há dois indecisos: São Tomás ou Santo Tomás, São Borja ou Santo Borja.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 03 de junho de 2018
SÃO, SANTO, SANTA: ABREVIATURA
A abreviatura de santo, santa e são facilita a vida dos mortais. Escreve-se do mesmo jeitinho — S. Terezinha, S. Carlos, S. André, S. Jorge, S. Maria. S. Agostinho.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 03 de junho de 2018
EX: GRAFIA E EMPREGO
Ex- indica cessação de estado anterior. Pede hífen: ex-deputado, ex-combatente, ex-diretor, ex-tuberculoso, ex-marido.
Atenção
- Cuidado com o emprego desse prefixo. Mantega é ex-ministro da Fazenda, não ex-ministro da Fazenda no governo Dilma. João Figueiredo é ex-presidente do Brasil, não ex-presidente no período 1978-82.
2. O ex-tem requintes. Ao designar alguém com a duplinha, abra os dois olhos. Nomeie o cargo mais alto que a pessoa ocupou ou aquele no qual ela se tornou mais conhecida. JK foi deputado, prefeito, senador, presidente da República. Quando se referir a ele, escreva o presidente Juscelino. Não o deputado, senador ou prefeito.
3. Os mortos? Esses têm direitos eternos. Glauber Rocha não é ex-diretor de cinema, nem Garrincha é ex-jogador de futebol, nem Renato Russo é ex-compositor. Ao citá-los, diga sem medo de errar: o diretor Glauber Rocha, o jogador Garrincha, o compositor Renato Russo. É a tal história: quem foi rei não perde a majestade.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 02 de junho de 2018
SE + INFINITIVO
“Em tempos de batidas policiais nas residências, há de se arranjar um meio de entendimento”, escrevemos na pág. 12. Viu? Tropeçamos no pronome átono se. Ele só acompanha o infinitivo nos verbos pronominais (aposentar-se, formar-se). No mais, não tem vez. Melhor mandá-lo plantar batata no asfalto: Em tempos de batidas policiais nas residências, há de arranjar um meio de entendimento.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 02 de junho de 2018
VIGER: CONJUGAÇÃO
O secretário da Receita Federal acaba de dar entrevista transmitida por rádios e tevês. Lá pelas tantas, disse que “as novas medidas estão vigindo”. Bobeou. Vigir não existe. A forma é viger. Intolerante, o verbinho odeia o a e o o. Por isso só se conjuga nas formas em que essas vogais não aparecem depois do g. A 1ª pessoa do presente do indicativo (eu vigo) não tem vez. Nem o presente do subjuntivo. Que eu viga? Uhhhhhhhh! Nas demais, é regular. Flexiona-se como viver: vives (viges), vive (vige), vivemos (vigemos), vivem (vigem), vivi (vigi), vivia (vigia).
Resumo da opereta: o secretário mereceria banda de música e tapete vermelho com esta forma: As novas medidas estão vigendo.:
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 01 de junho de 2018
HÍFEN: ANTI
Hífen é castigo de Deus. Quer prova? Está lá, na pág. 14 do Correio Braziliense: “Candidato anti-russo à eleição presidencial de 2004, Viktor adoeceu repentinamente em plena campanha”. Bobeamos. Anti-pede o tracinho quando seguido de h ou de i. No mais, é tudo colado. Mais: dobra o r e o s para manter a pronúncia: anti-herói, anti-histórico, anti-imperialismo, anti-imperial, antipresidencialismo, antididático, antirrato, antirradiação, antissistema, antirrusso.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 01 de junho de 2018
SÍNTESE
“As inscrições começam em 25 de junho, e os testes serão em 15, 16 e 23 de setembro”, escrevemos na primeira página. Viu? Reverenciamos a síntese. Ao indicar datas, dispensamos “no dia”. O texto agradece. O leitor também.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 01 de junho de 2018
E NEM: QUANDO USAR
Nem significa e não. Por isso é redundante dizer e nem em construções como estas: Os candidatos dizem que ainda não acertaram os contratos (e) nem definiram as equipes de vídeo. A atriz nunca esteve tão bela (e) nem tão sensual. Ele não saiu (e) nem participou da reunião.
No sentido de nem sequer, o uso de e nem é livre: Ouviu as acusações e nem se abalou.
Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 01 de junho de 2018
PREPOSIÇÃO: QUANDO REPETIR
Analise as duas frases:
- O presidente se dirigiu ao deputado e ao economista.
- O presidente se dirigiu ao deputado e economista.
Qual a diferença?
Na frase 1, repete-se a preposição. A dose dupla dá uma recado claro: o presidente se dirigiu a duas pessoas — primeiro ao deputado, depois ao economista.
Na frase 2, a preposição só antecede o 1º termo. Tradução: o presidente se dirigiu a uma pessoa que é deputado e economista.
Outros exemplos:
1.Viaja por terra e por mar.
A repetição é obrigatória. Não se pode viajar por terra e por mar ao mesmo tempo.
2. Nomes derivados de substantivos e de verbos.
A repetição é obrigatória. Os nomes ou são derivados de substantivos ou de verbos.
3. Viver na cidade e no campo.
Repetição obrigatória. Não se pode viver, ao mesmo tempo, na cidade e no campo.
4. Flexão verbal de modo, tempo, pessoa e número.
A flexão verbal de modo, tempo, pessoa e número se dá ao mesmo tempo. Daí não haver necessidade de repetição.
5. Viver de pão e água.
Vive-se de pão e água ao mesmo tempo.
6. Comida com sal e pimenta.
O sal e a pimenta se põem na comida ao mesmo tempo.
Exceção
Preposições A e POR
REPITA a preposição sempre que repetir o artigo (mesmo se o conjunto for uno e contemporâneo).
- Opôs-se aos planos e aos desígnios do candidato (não diga: aos planos e os desígnios).
- Opôs-se aos planos e desígnios do candidato. (Sem repetir o artigo, dispensa-se a preposição.)
- Sócrates distinguiu-se pela modéstia e pela sabedoria (não diga: pela modéstia e a sabedoria)
- Sócrates distinguiu-se pela modéstia e sabedoria. (Sem repetir o artigo, dispensa-se a preposição.)
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 31 de maio de 2018
CONJUNÇÃO ENTRE VÍRGULAS - ACERTAMOS
“Ele explica que algumas situações esdrúxulas no preço dos combustíveis estão ocorrendo, mas, no geral, o preço tem-se normalizado”, escrevemos na pág. 7. Viva! A conjunção mas ficou entre vírgulas porque obedece a duas normas. A primeira separa orações coordenadas. A segunda isola o adjunto adverbial deslocado.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 31 de maio de 2018
PSICOLOGIA: ORIGEM DA PALAVRA
Cupido e Psiquê se casaram. Antes, combinaram que ela nunca veria o rosto do deus do amor. Uma noite, a mulher não resistiu. Enquanto ele dormia, ela acendeu uma vela. Ficou tão encantada com a linda figura que deixou cair cera quente no corpo do amado. Ele acordou. E se foi. Até hoje Psique chora. Sofre de tristeza, arrependimento e saudade. O jeito é procurar profissional que cura as dores da alma. É o psicólogo, cujo nome nasceu de Psique.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 31 de maio de 2018
É PROIBIDO ENTRADA? É PROIBIDA ENTRADA?
Eis construção pra lá de manhosa. Olho na companhia do sujeito. Se ele vem determado por pronome ou artigo, a locução se flexiona. Caso contrário, mantém-se imutável. Compare: É proibido entrada de estranhos. É proibida a entrada de estranhos. É preciso paciência. A paciência é precisa. Não é necessário inspetoras na escola. Não são necessárias as inspetoras na escola. Água é bom. Esta água é boa para a saúde.
Dad Squarisi - Dicas de Português quinta, 31 de maio de 2018
É MUITO, É POUCO & CIA: CONCORDÂNCIA
As locução é muito, é pouco, é mais de, é menos de, é suficiente, acompanhadas de especificação de quantidade, medida, preço, tempo e valor são invariáveis: Dois mil reais é muito. Quinze anos é tanto tempo! Dois quilos é pouco. Dez reais é suficiente. Um é pouco. Dois é bom. Três é demais.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 30 de maio de 2018
ADJETIVOS CLASSE A
Na língua há adjetivos e adjetivos. Alguns, iguais a todo mundo, se flexionam normalmente. Outros têm sangue azul. Quando dizemos civilização grega, referimo-nos à civilização própria do povo grego. Se quisermos, porém, indicar a civilização comum aos povos grego e romano, falamos em civilização greco-romana. Ao se juntar ao romano, o adjetivo grego apresentou a certidão de nobreza e se tornou greco.
Luso entra no time dos adjetivos classe A. Alatinados, os nobilíssimos seres assumem forma reduzida. Sem feminino, masculino, singular ou plural, aparecem em adjetivos compostos. Andam, pois, acompanhados de plebeus, que não gozam de nenhum privilégio: sino-japonês, teuto-jamaicano, ibero-americano, luso-brasileiros.
Exemplos não faltam. Eis alguns: anglo (inglês), austro (austríaco), euro (europeu), franco (francês), galaico (galego), hispano (hispânico), ibero (ibérico), indo (indu), ítalo (italiano), nipo (japonês), sino (chinês), líbano (libanês), israelo (israelense), teuto (teutônico, alemão).
Dica 1
A forma reduzida do adjetivo é invariável. O que fazer para indicar-lhe o gênero e o número? A tarefa fica a cargo do segundo adjetivo, que concorda com o substantivo a que se refere:
mulher anglo-americana — mulheres anglo-americanas
império austro-húngaro — impérios austro-húngaros
relação euro-americana — relações euro-americanas
literatura franco-brasileira — literaturas franco-brasileiras
falar galaico-português — falares galaico-portugueses
país hispano-americano — países hispano-americanos
olimpíada sino-euro-americana — olimpíadas sino-euro-americanas
acordo teuto-japonês — acordos teuto-japoneses
guerra franco-anglo-espanhola — guerras franco-anglo-espanholas
encontro israelo-palestino — encontros israelo-palestinos
Dica 2
A nobreza, você sabe, é muito zelosa da correta pronúncia das palavras. Para não incorrer em barbarismo fonético, grave isto: o adjetivo sangue azul obedece à regra do vira-lata. Por essa razão, a sílaba tônica de ibero é be; de israelo, e; de líbano, lí.
Dica 3
Os adjetivos adoram passear. Volta e meia, trocam de lugar e de classe social. Aí, não dá outra. O plebeu vira nobre. O nobre, plebeu. Compare:
Filme teuto-libanês — filme líbano-alemão
Literatura luso-brasileira — literatura brasileiro-portuguesa
Cultura judaico-francesa — cultura franco-judaica
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 30 de maio de 2018
ESTE, ESSE OU AQUELE?
Os pronomes este e esse dão nó na cabeça. Ariscos, não se deixam captar. Quando empregar um? Quando é a vez do outro? O pior é que o papel deles é bem definido. Eles são parecidos, mas não iguais. Versáteis, têm três empregos:
1 – indicam situação no espaço:
Para entender esse emprego, lembre-se das pessoas do discurso. Discurso, aí, significa conversa. As pessoas do discurso são as que tomam parte de uma conversa.
Para haver conversa, são necessárias três pessoas. Algumas interessantes, outras nem tanto. Quem são elas? Uma fala (1ª pessoa), uma escuta (2ª pessoa) e o assunto, que é a pessoa de que se fala (3ª).
Imagine que Rafael telefone para João e lhe pergunte se viu o filme Indiana Jones. No caso, Rafael fala. É a 1ª pessoa. João escuta. É a 2ª. Do que eles falam? Do filme. É a 3ª.
Este: diz que o objeto está perto da pessoa que fala (eu, nós): esta sala (a sala onde a pessoa que fala ou escreve está);
este livro (o livro que temos em mão), este blog (o blog no qual estou escrevendo).
Esse: diz que o objeto está perto da pessoa com quem se fala (você, tu): essa sala (a sala onde está a pessoa com quem falamos ou a quem escrevemos), esse livro (o livro está perto da pessoa com quem falamos), essa instituição (a instituição em que o leitor está).
Aquele: diz que o objeto está longe da pessoa que fala e da pessoa com quem se fala: aquele quadro (o quadro está longe das duas pessoas), aquele cartaz, aquela torre.
2 – indicam situação no tempo:
Este: tempo presente: esta semana (a semana em curso), este mês (mês em curso), este ano (ano em curso)
Esse / aquele: tempo passado (esse: passado próximo; aquele: passado remoto): Estive em Granada em 1992. Nesse (naquele) ano, visitei toda a Andaluzia.
Eis um nó. Como saber se o passado é próximo ou remoto? Depende de cada um. O tempo é psicológico. Uma hora com dor de dente é uma eternidade. Se for à noite, nem se fala. São duas eternidades.
3 – indicam situação no texto (é o caso que oferece maior dificuldade):
Este: exprime referência posterior (anuncia-se o fato que será referido depois): Lula disse esta frase: “Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer”.
Reparou? A frase é anunciada: “disse esta frase”. Depois, expressa: “Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer”.
Veja outro exemplo: Clóvis Rossi fez esta pergunta: “Marina, mito ou blefe?” (a pergunta é anunciada: “fez esta pergunta”, depois, formulada).
Esse: referência posterior (o fato é referido antes; depois, retomado): “Nossa política não é fazer de conta que podemos crescer.” Essa frase foi dita por Lula.
“Marina, mito ou blefe?” O artigo que responde a essa pergunta está transcrito na edição de hoje do Correio.
Dica
Ao indicar situação no texto, siga este conselho. Na dúvida, use esse. Você tem 90% de chance de acertar.
Dad Squarisi - Dicas de Português quarta, 30 de maio de 2018
JUNHO NASCEU NA MITOLOGIA
Você sabe por que junho se chama junho? A resposta está na mitologia grega. O sexto mês do ano homenageia Juno, moradora pra lá de privilegiada do céu dos gregos. Ela se casou com Zeus, o deus dos deuses. No Olimpo, senta-se ao lado dele.
Sempre que pode, acompanha o maridão nas idas e vindas mundo afora. Juno sabe das coisas. Sabe que ele não é flor que se cheire. Engana-a a torto e a direito. Ao ver um rabo de saia, arranja um jeitinho de distrair a mulher. E, livre, cai na gandaia. Quando ela descobre, vinga-se sem piedade.
Uma das vítimas foi Hércules. Ele era filho de Zeus com Alkmena. Como desforra pela traição, ela mandou serpentes sufocar o bebê no berço. Não conseguiu. Mais tarde fez o garoto ficar louco. Ele, então, matou os próprios filhos. Como castigo, teve de enfrentar 12 senhores desafios. Foram os 12 trabalhos de Hércules.
Outra vítima foi Eco. Com bom papo, a moça distraía Juno pra Zeus namorar. Quando a mulher descobriu a jogada, foi um deus-nos-acuda. Transformou a voz de Eco em eco. Hoje, quando a coitada fala, só se ouve a última sílaba da palavra.
Por defender com unhas e dentes o casamento, Juno se tornou a protetora dos casais. Os homens, então, lhe fizeram uma homenagem. Deram-lhe de presente o sexto mês do ano. Para lembrar Juno, junho se chama junho.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 29 de maio de 2018
BOICOTE: ORIGEM
Postos elevam o preço de combustíveis. O motorista, sem alternativa, paga. Mas põe a boca na rede. Denuncia quem abusa do direito de abusar. As consequências, como repete o conselheiro Acácio, vêm depois. Os clientes sumirão. Que doooooooooooor! Atingirão a parte mais sensível do comércio. Vale, pois, conhecer a origem da poderosa criatura.
Boicote vem do nome de Charles Cunningham Boycott. Ele administrava propriedades de Charles Parmell. Em 1890, o latifundiário irlandês decidiu meter a mão no bolso dos inquilinos. Elevou o aluguel às alturas e encarregou Boycott de executar a ordem.
As vítimas reagiram: a população deixou de falar com o pau-mandado, os comerciantes pararam de vender pra ele, os carteiros se negavam a lhe entregar a correspondência, o padre lhe barrou o acesso à igreja. Resultado: Boycott bateu asas e sumiu. A única notícia que se tem dele é a herança — a palavra boicote.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 29 de maio de 2018
TINHA PAGO OU PAGADO?
Pagar joga no time dos verbos generosos. Oferece mais de uma forma para que o freguês escolha. O mão aberta tem dois particípios — pago e pagado. Com os auxiliares ter e haver, aceita um e outro sem fazer cara feia: Os brasileiros têm pago (ou pagado) preços extorsivos. O cliente havia pago (ou pagado) a conta quando a sobremesa chegou.
A dissílaba e a trissílaba merecem nota 10. Mas a língua se curva aos caprichos do falante. Em tempos em que as 24 horas do dia parecem insuficientes, menor é melhor. Daí por que a moçada usa cada vez mais pago em vez de pagado.
Com os auxiliares ser e estar, a novela muda de enredo. Aí, só o pequenino irregular tem vez: A conta foi paga. A conta está paga.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 29 de maio de 2018
CAIXA DE...: SINGULAR OU PLURAL?
O complemento se escreve sempre no plural: caixa de fósforos, caixa de joias, caixa de bombons, caixa de balas, caixa de cotonetes, caixa de grampos, caixa de surpresas.
Dad Squarisi - Dicas de Português terça, 29 de maio de 2018
PALAVRAS DE VOLTAIRE
“A senhora sabe latim? Não. É por isso que me pergunta se prefiro Pope a Virgílio. Ah, minha senhora, todas as nossas línguas modernas são secas, pobres e sem harmonia, em comparação com as que falaram nossos primeiros mestres — os gregos e os romanos. Somos apenas violinistas de aldeia.”
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 28 de maio de 2018
POSSÍVEL E PROVÁVEL: DIFERENÇA
O noticiário da semana? Foi a greve dos caminhoneiros. À medida que a paralisação ganhava força, jornalistas procuravam explicações e novidades. Convocados, analistas faziam previsões. Ao responder à pergunta se era possível haver queda no preço dos combustíveis, um deles respondeu: “É possível, mas não provável”. Telespectadores ficaram confusos. Afinal, o preço vai cair ou não?
Jogar luz sobre a questão exige entender a diferença entre possível e provável. Possívelé o que pode ocorrer ou ser feito. Há possibilidade? Então é possível. Provável, o que deve ocorrer, que apresenta probabilidade de ocorrer: Sem estudar, é possível passar no vestibular de medicina, mas não provável. É possível, mas não provável, que eu ganhe a MegaSena. Se ele se nega a apostar, não é possível ganhar na loteria.
É isso. Parecido não é igual. Mas dá nó nos miolos.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 28 de maio de 2018
MEDIAR: TROPEÇO DO REPÓRTER
“O governador de São Paulo media as negociações com os caminhoneiros”, disse o repórter. Ele, como 99% dos brasileiros, tropeçou num dos verbos mais traiçoeiros da língua portuguesa. Mediar e remediar fazem parte da gangue do MARIO. Conhece? O nome da turma barra pesada se formou com a letra inicial de cada membro — mediar, ansiar, remediar, incendiar e odiar. Todos se conjugam como odiar: odeio (medeio, anseio, remedeio, incendeio), odeia (medeia, anseia, remedeia, incendeia), odiamos (mediamos, ansiamos, remediamos, incendiamos), odeiam (medeiam, anseiam, remedeiam, incendeiam).
Conclusão: O governador de São Paulo medeia as negociações com os caminhoneiros.
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 28 de maio de 2018
PERECER
Temer fez pronunciamento em rede nacional. Lá pelas tantas, disse que o movimento dos caminhoneiros “pode fazer perecer também vidas”. Você entendeu? O dicionário diz que perecer é morrer: Paulo, depois de muito sofrimento, pereceu. Sem apoio, a candidatura pereceu no nascedouro. As plantas precisam de cuidado para não perecer.
Talvez Sua Excelência tenha querido dizer isto: O movimento dos caminhoneiros pode matar. O movimento dos caminhoneiros pode roubar vidas.
Será?
Dad Squarisi - Dicas de Português segunda, 28 de maio de 2018
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 27 de maio de 2018
PLURAL SOFISTICADO: ESCRIVÃO
Viva! Fábio Pina conseguiu furar o bloqueio dos comentários. Ao ler a nota “Plural sofisticado”, levantou questão que lhe dá nó nos miolos há anos. Como saber o plural do diminutivo de escrivão se a gente nem sabe o plural correto?
O Dicionário Houaiss dá a resposta. O plural de escrivão é escrivães. O diminutivo singular, escrivãozinho. O diminutivo plural, escrivãezinhos. É isso, Fábio. Quem procura, acha.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 27 de maio de 2018
ANOS ATRÁS
“Há anos atrás, era impensável ver os presidentes sul-americanos sentados à mesa para firmar acordo comum”, disse Lula diante dos chefes de Estado da América do Sul que estavam em Brasília. Desperdício, não? Há indica tempo passado. Atrás também. Os dois juntos, além de esbanjamento de palavras, formam baita pleonasmo. Melhor ser comedido — ficar com um ou outro:
Há anos, era impensável ver os presidentes sul-americanos sentados à mesa para firmar acordo comum.
Anos atrás, era impensável ver os presidentes sul-americanos sentados à mesa para firmar acordo comum.
Moral da história: use, mas não abuse.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 27 de maio de 2018
QUARTO E SUÍTE
Marília Moreira de Castro anda encucada. Leitora dos classificados, observou que os anúncios veiculam com frequência as seguintes frases: “Três quartos, sendo um suíte” e “Dois quartos e uma suíte”. Qual delas é aceita pela norma culta?
Na acepção de quarto que tem anexo banheiro exclusivo, suíte é substantivo feminino (apartamento com dois quartos e uma suíte). É como o classificado transcrito usa. A dúvida deve ter pintado com o primeiro exemplo — três quartos, sendo um suíte. Observe que o um não se refere a suíte, mas a quarto. Daí o masculino: três quartos, sendo um (quarto) suíte.
Moral da história: o anúncio merece nota 10.
Dad Squarisi - Dicas de Português domingo, 27 de maio de 2018
VALE-TRANSPORTE
O plural de vale-transporte? O dicionário registra duas formas. Uma: vales-transporte. A outra: vales-transportes. No primeiro caso, considera-se subentendida a expressão “que serve para” — vales (que servem para) transporte. No segundo, flexionam-se os dois nomes porque ambos são variáveis. Vale-refeição, homem-bomba, palavra-chave jogam no mesmo time.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 26 de maio de 2018
SOBRE: HÍFEN
Com hífen? Sem hífen? Sobre joga no time da maior parte dos prefixos. Pede o tracinho quando seguido de h ou de e (para evitar letras iguais). No mais, é tudo colado como unha e carne: sobre-humano, sobre-escada, sobressair, sobreimpresso, sobrealimentado.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 26 de maio de 2018
REDUÇÃO: O PORQUÊ DO Ç
“Os fatos levaram à redução do preço do diesel”, escreveu o jornal. Curioso, o leitor fixou o olhar no ç. Depois, perguntou por que a letrinha exótica estava lá. No lugar dela, podiam figurar os dois ss. A pronúncia se manteria.
É que o português não é filho de robô. E, porque não é filho de robô, tem pai e mãe. Tem regras. Os verbos terminados em -uzir formam substantivos grafados com ç. É o caso de reduzir (redução), produzir (produção), seduzir (sedução), conduzir (condução).
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 26 de maio de 2018
PREPOSIÇÃO E ESTRUTURA DA FRASE
“Edgar Marsuki, fundador do site Boatos.org, passou a checar informações na internet desde 2013”, escrevemos na pág. 8. Viu? Tropeçamos na preposição e, com ela, na estrutura da frase. Há duas possibilidades de correção. Uma: Edgar Marsuki, fundador do site Boatos.org, passou a checar informações na internet em 2013. A outra: Edgar Marsuki, fundador do site Boatos.org, checa as informações na internet desde 2013.
Dad Squarisi - Dicas de Português sábado, 26 de maio de 2018
CHAMAR A ATENÇÃO
“Chama a atenção imobilismo dos governos para liberar estradas”, escrevemos na primeira página. Nota 1000. Virou moda escrever “chamar atenção”. Nada feito. Chamara atenção é trio. Exige o artigo.