Maria é cuidadosa leitora de jornais. Presta atenção às notícias. Mas não se descuida da língua. Grafia, concordância, regência, nada escapa da moça pra lá de exigente. Outro dia, ela leu esta frase: “Deputado reavê velho estilo”. Arrepiou-se. Mais um descuidado tropeça no reaver. É que o verbo arma baita cilada. Nela, tropeçam as melhores famílias. Jornalistas também.
Você consegue identificar a falha que enfureceu Maria?
a. Ao escrever “reavê”, o repórter desconheceu a origem do verbo. Pensou que reaver fosse derivado de ver (eu vejo, ele vê). b. O significado de reaver não é adequado à frase. Recuperar cai melhor.
E daí?
Escolheu a letra a? Acertou. Reaver parece derivado de ver. Mas não é. O pai dele é haver. O danadinho significa haver de novo. Em outras palavras, recobrar, recuperar. Por isso se fala em reaver o tempo perdido, reaver os bens, reaver a amizade.
Conjugação
Filho de peixe sabe nadar. Reaver só se conjuga nas formas em que o v, de haver, aparece. Nas demais, ele não tem vez. O presente do indicativo tem duas pessoas. Uma: reavemos. A outra: reaveis.
Sem a primeira pessoa do singular do presente do indicativo, o presente do subjuntivo inexiste. Não caia na esparrela do “reaveja”. “Reaveja” não existe. Em vez desse horror, diga recupere, recobre.
Olho vivo
O perigo mora no pretérito perfeito. Os distraídos o flexionam como se o pobrezinho descendesse de ver. Não falta quem escreva “reaviu”. Cruz-credo! O pretérito perfeito de haver é houve. De reaver, é reouve, reouveste, reouve, reouvemos, reouvestes, reouveram.
Moleza
Os demais tempos e modos são moleza: reavia, reavíamos, reaviam; reouvera, reouveras, reouveram; reaverei, reaverás, reaverá; reaveria, reaveríamos, reaveriam. E por aí vai. Teste
Está pra lá de certa a frase: a. Talvez ele tenha reavisto as jóias roubadas. b. Talvez ele tenha reavido as jóias perdidas. Acertou?
Moleza, não? O particípio de haver é havido. De reaver, reavido.