Junto a tem emprego muito restrito. Equivale a adido a (embaixador do Brasil junto ao Vaticano). Fora esse caso, deve-se procurar a preposição correta. Sem corpo mole.
Outras palavras jogam no time de condolências. É o caso de anais, antolhos, cãs, exéquias, férias, fezes, núpcias, óculos, olheiras, pêsames, víveres. Os naipes do baralho também entraram na onda (dama de copas, rei de espadas, dois de ouros, nove de paus). Artigos, adjetivos, pronomes e verbos a elas relacionados vão atrás. Concordam com elas: As férias escolares estão mais curtas ano após ano. Felizes férias, moçada! Apresentou os pêsames à família. Você viu meus óculos escuros? Só encontro os de grau.
Existem dois tipos de adjetivos. Um: o denotativo, que particulariza o objeto. Não emite opinião, informa. É bem-vindo (mesa redonda, parede branca, homem negro, cabelo loiro). O outro: o subjetivo ou afetivo. Limita-se a registrar o julgamento de quem escreve (cor repousante, mulher bonita, pessoa desagradável). Usá-lo pressupõe que o leitor esteja pedindo a opinião do repórter. É pretensioso.
Nesse time figuram os adjetivos-ônibus — termos vazios e inexpressivos porque se aplicam a qualquer substantivo: maravilhoso, formidável, fantástico, lindo, bonito. Fuja deles.
Certos adjetivos associados a determinados substantivos formam chavões pela insistência do uso. É fácil romper o casamento:
ascensão meteórica (em que consiste?), lucros fabulosos (valor aproximado?),inflação galopante (índice?), monstruoso congestionamento (quantos carros?),prejuízos incalculáveis
(valor aproximado?), vitória esmagadora (número de votos? Percentagem?)
1. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com: O diretor implicou com ele.
2. Na de comprometer, envolver, é a vez do em: A secretária implicou o chefe no escândalo.
A dúvida surge no significado de produzir como consequência. Aí, implicar implica e complica. O verbo parece, mas não é. No sentido de acarretar consequências, o malandro é transitivo direto. Não suporta a preposição em: Autonomia também implica responsabilidade. Deflação implica recessão. Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público.
Por falar em gripe…
O nome da doença que dá moleza, dor no corpo, febre e rouba o apetite vem do francês. Gripper, na língua de Cervantes, quer dizer agarrar. O verbo sugere o jeito de o vírus agir nas pessoas acometidas pela enfermidade infecciosa.
Humor à solta
Dois baianos se encontram. Um estava fora do estado. Ao voltar, perguntou pro amigo:
— Como está a gripe na Bahia?
— Empatada: H1N1.
1. Comparação de características: Alimentos gordurosos fazem mais mal à saúde do que bem. Em certos casos, correr faz mais bem do que andar devagar. Terroristas fazem mais mal à causa do que bem.
2. Antes de particípio: Joana foi mais mal classificada no concurso do que Carlos. Não há discurso mais mal redigido do que o apresentado ontem. Este é o comentário mais bem aceito por todos. As francesas são as mulheres mais bem vestidas da Europa.
Nota 10 para: Prefiro morrer de pé a ficar de joelhos. Os brasilienses preferiram ir às ruas a ficar em casa. Gregos, romanos e baianos preferem a liberdade de expressão à censura ou autocensura. Prefiro ler a escrever. Os brasileiros preferem futebol a natação.
Na língua, existem criaturas errantes. São os pronomes átonos. Me, te, se, lhe, o, a adoram bater perna. Ora aparecem antes do verbo. Ora, depois. Há também os que se metem no meio. Mas, apesar da flexibilidade, muitos abusam. Cometem pecados.
O pronome se chama átono porque é fraco. Tão fraco que precisa de apoio. Onde se encostar? Em outra palavra. Por isso, na norma culta, é proibido iniciar a frase com pronome átono. O pecador deixa a vítima desamparada. Ela tomba. Na queda, atropela a reputação do ímpio.
2. Ignorar a abrangência de iniciar
Olho vivo! Iniciar a frase tem duas acepções. Uma é iniciar mesmo, ser a primeira palavra do período. Assim: Me dá um cigarro? Te telefono amanhã. Lhe deu a resposta ontem.
A outra usa máscaras. Deixa, como na acepção anterior, o pronome desprotegido. Mas não inicia a frase. Em geral vem depois de vírgula. Compare: Aqui se fala português. ( O aqui ampara o pronome.) Aqui, fala-se português. (Ops! A vírgula impede o apoio.)
Nem sempre a vírgula expulsa o pequenino para depois do verbo. Há casos em que ela separa termos intercalados. O apoio se distancia, mas permanece. Preste atenção na malandragem: Brasília se localiza no Planalto Central. Brasília, a capital do Brasil, se localiza no Planalto Central. (Mesmo de longe, Brasília ampara o pronome.)
3. Desrespeitar a atração
Há palavras que funcionam como ímãs. Puxam o pronome para junto de si. Lembra-se delas? Eis algumas: a gangue do qu (que, quem, quando, quanto, qual), a turma negativa (não, nunca, jamais, ninguém, nada), as senhoras conjunções subordinativas (como, porque, embora, se, conquanto): Quero que se retirem logo.Não me disse nada. Se me convidarem, irei.
4. Bobear com o futuro
Sabia? A terminação do futuro tem alergia ao pronome. Ambos, futuro do presente (irei) e futuro do pretérito (iria) ficam cheinhos de brotoejas diante do átono. A saída? Há duas.
Uma: levar o pronome para antes do verbo. No caso, o pequenino tem de ter amparo: Maria me telefonará amanhã. Se pudesse, Temer, o presidente do Brasil, se manteria no Planalto.
A outra: ficar no meio do caminho. Sem amparo e impedido de se colocar na rabeira do verbo, fica no meio do caminho. Como? Posiciona-se entre o infinitivo e a terminação do verbo. Veja: Telefonar-lhe-ei amanhã. Falar-se-iam mais tarde.
5. Esquecer a maquiagem
Ops! Olho nos pronomes o e a. Antecedidos de r, s, z, viram lo, la: Vou pôr o livro na estante. (Vou pô-lo na estante.) Ajudamos os amigos. (Ajudamo-los.) Fez a filha feliz. (Fê-la feliz.)
Mais: com som nasal (m ou til), a dupla se disfarça de no, na: Põe o prato sobre a mesa. (Põe-no sobre a mesa.) Quiseram a filha formada. (Quiseram-na formada.)
6. Superdica
Os gramáticos concordam que a colocação dos pronomes no Brasil tomou os próprios rumos. Reduz-se a duas normas. Uma: não inicie frase com o pronome átono. A outra: ponha o pronome sempre na frente: Dize-me com quem andas que te direi quem és. Ele se tinha retirado antes da sobremesa. Lia o chantageou? Não, deu-lhe conselhos. Para se retirar, pediu licença.
Mas, quando se refere a data comemorativa, o mês entra em outra equipe. Torna-se substantivo próprio: 21 de Abril, 1º de Maio, 7 de Setembro.
Olho vivo! O nome dos meses se escreve com inicial minúscula. O dos dias da semana também: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo.
O plural dos meses e dos dias da semana? É fácil como andar pra frente ou tirar chupeta de bebê. Basta acrescentar um s: janeiros, fevereiros, marços, abris; segundas-feiras, quintas-feiras, sábados, domingos.
Pessoal
O pessoal tem dois empregos. Um: nas locuções verbais (hei de ver, hás de ver, há de ver, havemos de ver, heis de ver, hão de ver). O outro: nos tempos compostos (havia visto, havias visto, havia visto, havíamos visto, havíeis visto, haviam visto; (que) eu haja visto, tu hajas visto, ele haja visto, nós hajamos visto, vós hajais visto, eles hajam visto).
Impessoal
Só se conjuga na terceira pessoa do singular. No caso, emprega-se no sentido de:
Ocorrer
Existir
. Há 20 pessoas nesta sala.
Contagem de tempo passado
Superdica
Há… atrás formam baita pleonasmo. Há indica passado. Atrás também. Escolha. Fique com um ou outro:
Cheguei há cinco minutos.
Cheguei cinco minutos atrás.
É importante que eu haja visto o filme para fazer o comentário.
É importante que ele haja visto o filme para fazer o comentário.
É importante que nós hajamos visto o filme para fazer o comentário.
É importante que eles hajam visto o filme para fazer o comentário.
Haja vista é invariável. Significa veja-se:
Ele viu o filme, haja vista o comentário feito.
Ocorreram imprevistos, haja vista a chegada da polícia ao comício.
Superdica
Na dúvida, apele para o troca-troca. Em vez de haver, use ter:
É importante que eu haja (tenha) visto o filme para fazer o comentário.
Apesar de estudar muito, não passou no concurso.
Viu? Ele estudou (é a concessão). Não conseguiu passar (declaração principal).
*
Na vida do apesar de há um problema. É a fraqueza da carne. A preposição de não resiste aos encantos do artigo. Basta haver um por perto e pronto. Ela se amiga com ele: Apesar do feriado, o comércio abriu. Estamos todos salvos apesar dos pesares. Meu time ganhou a partida apesar da bravura do adversário.
Só num caso eles não se juntam. É quando o artigo faz parte do sujeito. Aí vai um pra lá, outro pra cá. Os dois nem se olham. Por quê? O sujeito tem alergia à preposição: Apesar de o governo (sujeito) negar, corremos risco de enfrentar uma senhora recessão. Apesar de a TV anunciar, o programa não foi ao ar.
*
Reparou na vírgula? Se a oração concessiva (iniciada pelo apesar de) estiver na frente da outra (a principal), vem separada por vírgula. Caso contrário, não: Apesar de vir de ônibus, chegou cedo ao encontro. Chegou cedo ao encontro apesar de vir de ônibus.
O dicionário abona má-formação e malformação do feto. Você escolhe. Sem erro.
*
Má-criação ou malcriação? Nota 10 para as duas escritas. Zero para o comportamento.
*
Sub-humano ou subumano — qual você prefere? Escolha. É acertar ou acertar.
*
Os pernambucanos exigem o Recife. Os demais brasileiros, Recife. O artigo é charme regional. Sem reparos: Recife é a capital de Pernambuco. O Recife é a capital de Pernambuco. Moro em Recife. Moro no Recife.
*
Entrar de férias ou sair de férias? O sentido é o mesmo — tempo pra curtir o prazer. Aplauso para as duas construções: Estou em férias. Estou de férias. Viva! É hora de sombra e água fresca.
*
Loura ou loira não faz diferença. O dourado se mantém em ambos os ditongos. É brilhar ou brilhar.
*
Entrega-se a carta em mão ou em mãos. Há pouco, só o singular tinha vez. O Houaiss registrou o plural. Agora, singular ou plural é igual.
*
Dilma foi presidenta ou presidente do Brasil? Acredite. O dicionário diz que as duas grafias estão certinhas. As feministas preferem presidenta. Os demais mortais, presidente. E você?
“O amor é infinito enquanto dura.” Vinicius de Moraes escreveu esse verso em Portugal.
Vinicius de Moraes escreveu este verso em Portugal: “O amor é infinito enquanto dura”.
“O amor”, escreveu Vinicius de Moraes, “é infinito enquanto dura.”
Superdica: para ser mais igual, o sujeito vem sempre, sempre mesmo, seguido de verbo no infinitivo: Antes de o galo cantar, tu me negarás três vezes. É hora de o trem chegar. Sobre a possibilidade de ele ganhar as eleições, muito se falará. É tempo de a TV diminuir a violência. Está na hora de eu entrar.
Atenção, marinheiro de poucas viagens. Não seja mais real que o rei. Só o sujeito rejeita a preposição. Os outros termos pertencem ao time dos iguais: É hora do descanso. Falamos sobre a possibilidade de reconciliação dos dois. Gosto dela.
Viu? A pessoa que mergulha imerge. Daí banho de imersão. Quando põe a cabecinha fora d´água, emerge.
1. Inclusive não é partícula de reforço. Empregue-a como antônimo de exclusive: O curso se estende de 24 de janeiro a 2 de fevereiro, inclusive.
2. Não a use como sinônimo de até em frases como esta: O presidente sugeriu, inclusive, que o preço dos combustíveis poderia cair. O certo é: O presidente sugeriu que os preços dos combustíveis até poderiam cair.
Passeie os olhos por jornais e revistas. Raramente você verá o casalzinho. Por quê? Poucos sabem empregá-lo. “Nunca o usei e nunca me fez falta”, escreveu Luis Fernando Verissimo. “A Maria Eugênia é uma moça muito inteligente. Ela sabe usar ponto e vírgula”, concluiu Mário Quintana. A duplinha, o sinal mais sofisticado da língua, tem dois empregos.
O primeiro
Separa termos de uma enumeração. No caso, é arroz de festa de leis, decretos, portarias. Até Deus o usou.
São mandamentos do Senhor:
1. Amar a Deus sobre todas as coisas;
2. Não tomar Seu santo nome em vão;
3. Guardar os dias santos;
4. Honrar pai e mãe;
5. Não matar;
6. Não pecar contra a castidade;
7. Não furtar;
8. Não levantar falso testemunho;
9. Não desejar a mulher do próximo; e
10. Não cobiçar as coisas alheias.
Superdica 1
O casadinho fica no meio do caminho. No lugar dele poderia estar a vírgula. Ou o ponto. Por isso, muitos nem se preocupam em lhe dar oportunidade. No aperto, partem pra outra. E se dão bem.
Superdica 2
Olho vivo. Observe o e no 9º mandamento. Ele vem depois do ponto e vírgula.
O segundo
A duplinha torna o texto mais claro. Com isso, facilita a vida do leitor. Quer ver? Examine esta frase:
João trabalha no Senado, Pedro trabalha na Câmara, Carlos trabalha no banco, Beatriz trabalha na universidade, Alberto trabalha no shopping.
O período está correto e compreensível. As vírgulas separam as orações coordenadas. Mas há um senão. A repetição do verbo torna-o cansativo. O que fazer? Há uma saída. A gente mantém o trabalha na primeira oração. E mete a faca nos demais. No lugar deles, põe a vírgula:
João trabalha no Senado, Pedro, na Câmara, Carlos, no banco, Beatriz, na universidade, Alberto no shopping.
Ops! Na primeira leitura, o enunciado parece o samba do texto doido. Quem bate o olho no período não entende nada. O jeito é recorrer ao ponto e vírgula. Ele tem lugar – separa as orações coordenadas:
João trabalha no Senado; Pedro, na Câmara; Carlos, no banco; Beatriz, na universidade; Alberto no shopping.
Chique, não? Veja mais dois exemplos:
Eu estudo na USP; Maria, na UnB.
Alencar escreveu romances; Drummond, poesias.
Carlos e Paulo são jornalistas. Este trabalha no Correio; aquele, no Estado de Minas.
Mais é o contrário de menos: Trabalho mais (menos) que ele. Se pudesse, comeria mais (menos). Carla é mais (menos) bonita que Beatriz.
Mas quer dizer porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto: Trabalho muito, mas o salário é sempre mais curto que o mês. Estudei pouco, mas tirei a melhor nota do concurso. Comemos doces à beça, mas não engordamos.
Conhece o poema “Teresa”, de Manuel Bandeira? Ele usa a expressão como manda a gramática:
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Em princípio = teoricamente, em tese, de modo geral: Em princípio, toda mudança é benéfica. Estamos, em princípio, abertos às novidades tecnológicas.
O macaco saiu dentre duas árvores.
Quem sai sai de algum lugar. De onde? De entre duas árvores (do meio de duas árvores).
O pássaro começava a saltar dentre o arvoredo (quem salta salta de algum lugar. De onde? De entre o arvoredo).
É isso: use dentre só no caso do encontro de de + entre.
Nos outros, a vez é do entre. Não bobeie. Satã está à espreita. Cheio de novidades.
Dois times
O pronome todo é cheio de manhas. Ora aparece no singular. Ora no plural. Ora acompanhado de artigo. Ora solitário — livre e solto, sem lenço e sem documento.
Todo
O dissílabo, no singular e sem companhia, significa qualquer, inteiro: Todo (qualquer) país tem uma capital. Todo (qualquer) homem é mortal. Li o livro todo (inteiro). Todo brasileiro tem direito à educação de qualidade. Percorreu a casa toda sem encontrar o que procurava.
Todo o
No singular, de mãos dadas com o artigo, o pronome quer dizer inteiro: Li todo o livro. Assisti a todo o filme. Conheço todo o mundo. Percorri todo o trecho, mas não localizei o endereço indicado.
Todos os
A dupla plural é pra lá de poderosa. Engloba todas as pessoas ou representantes de determinada categoria, grupo ou espécie: Todos os governadores compareceram à reunião. Todos os que quiseram retiraram a senha e participaram do sorteio. Dirigiu-se a todos os presentes. A sociedade quer todas as crianças em escolas de qualidade.
O desnecessário sobra
Atenção à manha de todos os. Em muitas construções, o pronome é desnecessário. O artigo sozinho dá o recado. Veja: Na reunião com todos os grevistas, o governador apresentou a proposta. Reparou? O todos sobra. A presença do artigo informa que são todos: Na reunião com os grevistas, o governador apresentou a proposta. (Não são todos? Xô, artigo: Na reunião com grevistas, o governador apresentou a proposta.)
Todo mundo é forma coloquial. Significa todos: Todo mundo aplaudiu o convidado. Todo mundo considerou o discurso realista. Nem Cristo agradou a todo mundo.
*
Todo o mundo quer dizer o mundo inteiro: Passou a vida viajando. Conhece todo o mundo. O sonho da Vera é conhecer todo o mundo. Será possível? Talvez precise morar em aviões e aeroportos.
Origem
Fobos é filha de Marte, o deus da guerra. Ela se veste de jeito muito estranho. Não usa sutiã nem calcinha. Em cima do corpo nu, joga uma pele de leão. A moça acompanha o pai aos campos de batalha. Quando os combatentes a veem, pensam estar diante de um fantasma. Fogem apavorados. E Marte coleciona vitórias. Hoje Fobos não assusta nem passarinho. Mas deixou senhora herança. É a palavra fobia. O vocábulo quer dizer medo. Mas um medo grannnnnnnnnnnnnnnde, incontrolável.
Frade se usa com sobrenome, mais de um nome ou na segunda referência: Falei com o frade Castro. Referiu-se aos frades Carlos e Daniel. O frade saiu.
Há, também, o supersuper – o superlativo que dobra o i. Coisa rara. Só cinco ou seis adjetivos têm esse poder. Quais? Os terminados em –io no masculino: frio (friíssimo), macio (maciíssimo), necessário (necessariíssimo), sério (seriíssimo), sumário (sumariíssimo).
1. Elimine os ecos. A rima é qualidade da poesia. Mas defeito na prosa. Pra descobrir os sons mesmeiros, leia o texto em voz alta. Eles incomodam o ouvido. Veja exemplos:
Mau: Há anos em que a reunião no pavilhão da Bienal é mensal.
Melhor: Há anos em que ocorrem reuniões mensais no pavilhão da Bienal.
Mau: O crescimento sem desenvolvimento pode implicar incremento do subdesenvolvimento.
Melhor: Crescer sem preocupação com o desenvolvimento pode implicar mais atraso.
2. Acabe com as fileirinhas de dês. Termos ligados por um trenzinho de dês contituem armadilha no caminho do leitor. De um lado, pecam pela abstração. De outro, pela dificuldade de serem entendidos. Vale tudo pra fugir da esparrela. A melhor estratégia: transformar substantivos e adjetivos em verbos. Assim:
Mau: O progresso dos estudantes de instituições de ensino do governo é lento.
Melhor: Os estudantes de escolas públicas progridem lentamente.
3. Livre-se de quês. Sem apegos ou compaixão, conjugue os verbos caçar e cassar. Encontre os mesmeiros e passe a tesoura sem pena! Ah, coisa boa!
Mau: O governador afirmou que Brasília, que é a capital do Brasil, deve servir de exemplo do que o país tem de melhor no que se refere ao serviço público.
Melhor: O governador afirmou que Brasília, a capital do Brasil, deve ser exemplo da excelência nacional no tocante ao serviço público.
Também: O governador disse: “Brasília, a capital do Brasil, deve ser exemplo de excelência nacional no tocante ao serviço público”.
Idem: Sabe o que disse o governador? “Brasília, a capital do Brasil, deve ser exemplo de excelência nacional no tocante ao serviço público”.
4. Fuja da repetição de palavras. Não dê atestado de descuido ou pobreza vocabular. Persiga a mesmeira sem piedade. Use as armas que a língua lhe oferece. São três. Uma: suprimir o vocábulo. Outra: substituí-lo por sinônimo. Mais uma: dar outro torneio da frase.
Espero terminar o curso de direito em quatro anos. Não vou perder tempo. Em seguida, vou partir para um curso de pós-graduação.
Fácil, não? O leitor não merece a dose dupla do substantivo curso. Xô, monotonia! Vem, tesoura: Espero terminar o curso de direito em quatro anos. Não quero perder tempo. Em seguida, vou partir para a pós-graduação.
Trabalho porque pago minhas contas com o fruto do meu trabalho.
Melhor: Trabalho porque pago minhas contas com o suor do meu rosto.
Também: Trabalho porque preciso pagar as contas.
Idem: Por que trabalho? Só conto com o salário pra pagar as contas.
Ele se esqueceu de pormenor pra lá de importante. Aderir joga no time de preferir. Um e outro se conjugam do mesmo jeitinho: eu prefiro (adiro), ele prefere (adere), nós preferimos (aderimos), eles preferem (aderem). Etc. e tal.
O que quer dizer defectivo?
Preguiçoso, o verbo defectivo não se conjuga em todas as pessoas, tempos e modos. Por quê? Alguns por eufonia. Soam mal. “Eu coloro”, de colorir, está nesse grupo. “Eu abolo”, de abolir, também. Outros armam confusão. É o caso de falir. Há formas que coincidem com as do verbo falar — eu falo, ele fale. Amante da clareza, falir cede. Dá a vez à ação mais comum.
Plano para o futuro? Ganha a MegaSena quem fizer plano para o passado. Todo plano é para o futuro. Basta plano.
2. O ou u? Se tiver o dicionário por perto, pergunte a ele. Se não, grafe com o – bolacha, bússola, costume, moleque, boteco.
3. Senhoras e senhores, abram alas para o u. A carta de jogar se chama curinga. A fruta pretinha e doce, jabuticaba. O roedor esperto, camundongo. O bichinho que não sobre em árvore, jabuti. Da tábua vem tabuada.
A questão…
Nada de especial. Por que, então, o quê dá nó nos miolos? Porque é vira-casaca. Muda de time a torto e a direito. Ora é conjunção. Ora pronome. Ora substantivo. A primeira equipe não dá problemas. Apresenta-se sempre com a mesma cara. As duas outras provocam enxaqueca. Às vezes pedem chapéu. Outras vezes dispensam o acessório. Você sabe lidar com as estripulias delas?
1º time
A equipe da conjunção se apresenta com a mesma cara – sem acento: Disse que acabará o estágio em dezembro. Saia mais cedo, que o metrô não circula hoje.
2º time
As outras provocam dor de cabeça. Por duas razões. De um lado, a criatura tem o poder da mobilidade. Salta daqui para ali como macaco salta de galho. De outro, varia de classe gramatical. Passa de pronome a substantivo com a facilidade com que andamos pra frente. Elas fazem as artes. Nós pagamos o pato. O preço dessas mudanças é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:
Modelos na passarela têm um quê de sedutor.
Qual o mistério dos quês?
Este quê não me confunde mais.
Corte os quês da redação.
Belo quê você introduziu no discurso. Quem mandou?
Trabalhar pra quê?
Riu, mas não disse por quê.
Você se atrasou por quê?
Ele se ofendeu com quê?
Quero saber a razão do emprego desse quê.
Moral da opereta
Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à própria insignificância. Redatores que arrancam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: não há por que temer o quê. Ele é mais manso que o gatinho lá de casa.
Tempestivo = que vem ou sucede no tempo devido, oportuno: O advogado apresentou o recurso tempestivamente (no prazo).
Intempestivo = fora do tempo próprio, inoportuno; súbito, imprevisto: Manifestou-se intempestivamente.
Tão pouco = muito pouco: O candidato falou tão pouco que surpreendeu. Comeu tão pouco que deixou a mãe preocupada. Peço tão pouco!
1. Na acepção de ter implicância, pede a preposição com: O diretor implicou com ele.
2. Na de comprometer, envolver, é a vez do em: A secretária implicou o chefe no escândalo.
A dúvida surge no significado de produzir como consequência. Aí, implicar implica e complica. O verbo parece, mas não é. No sentido de acarretar consequências, o malandro é transitivo direto. Não suporta a preposição em: Autonomia também implica responsabilidade. Deflação implica recessão. Aumento da taxa de juros implica crescimento do deficit público.
Cumprimentar rejeita intermediários. É transitivo direto – a gente cumprimenta alguém (não: a alguém): Eu cumprimento João. João cumprimenta Rafael. O diretor cumprimenta você.
Na substituição do nome pelo pronome, é a vez do o ou a. (Nada de lhe): Eu o cumprimento. Tenho a honra de cumprimentá-lo. Você as cumprimentou? Quero cumprimentá-las pela nota.
Concerto = harmonia: concerto das nações, concerto da orquestra sinfônica.
Conserto = remendo, reparo: conserto do carro, conserto da estrada, conserto do aparelho.
Em caso de dúvida, recorra a este truque: construa a frase com o verbo ser: Boa aparência é exigida. Candidatos são procurados. Medidas severas são adotadas. Se o verbo ser ficar no plural, o verbo da frase também deve ficar. Se no singular, o verbo o acompanhará.
Nem sempre o se é pronome apassivador. Em geral, na voz passiva, o verbo é seguido de substantivo sem preposição (Procuram-se digitadores. Vendem-se carros novos e usados. Alugam-se casas).
Se não for seguido de substantivo, ocorrem duas possibilidades: 1) o verbo será acompanhado de preposição (Trata-se de problemas domésticos. Obedece-se aossuperiores), ou 2) não será seguido de substantivo (Come-se bem em Brasília. Dorme-se regularmente nas cidades barulhentas). O verbo, no caso, permanece na terceira pessoa do singular.
Usa cada dia um vestido (não repete o traje).
Cada filho tem um comportamento.
Cada macaco no seu galho. Dava brinquedos a cada criança.
Todo generaliza. Significa qualquer:
Todo dia é dia.
Dava brinquedos a toda criança.
Todo homem é mortal.
Muitos torcem o nariz pra flexibilidade. Preferem a trissílaba. A língua, outra vez, se mostra generosa. Abre caminho pra preferência. E lhe dá nota 10: O Brasil tinha ganhado. O Brasil havia ganhado.
Mesmo time
Além de ganhar, gastar, pagar e pegar gozam do privilégio da dose dupla. Com ter ehaver, aceitam o particípio regular (gastado, pagado, pegado) e o irregular (gasto, pago, pego). Com ser e estar, só a forma pequenina tem vez. Assim: Ele havia (tinha) gastado o dinheiro. Ele tinha (havia) gasto o dinheiro. O dinheiro foi gasto. O dinheiro está gasto. Ele tinha pago (pagado) a conta. A conta é (está) paga. O jogador tinha (havia) pegado a bola. Ele havia (tinha) pego a bola. A bola será (está) pega.
2. Com o número percentual determinado por artigo, pronome ou adjetivo, não há alternativa. A concordância se fará só com o numeral: Os 10% restantes deixaram para votar nas primeiras horas da tarde. Uns 8% da população economicamente ativa ganham acima de 10 mil dólares. Este 1% de indecisos decidirá o resultado. Bons 30% dos candidatos faltaram à convocação.
3. Com o número percentual posposto ao verbo, a concordância se faz obrigatoriamente com o numeral: Abstiveram-se de votar 30% da população. Tumultuou o processo 1% dos candidatos inconformados com a flagrante discriminação.
Nas demais acepções, não duvide. Use em vez de. As três letrinhas querem dizer em lugar de, em substituição a: Comeu frango em vez de peixe. Em vez de ir ao teatro, foi ao cinema. Convidou Paula em vez de Célia.
Dica pra lá de útil:: deixe o ao invés de pra lá. A locuçãozinha em vez de o substitui com galhardia. Ela vale por dois: Comeu em vez de jejuar. Em vez da carta, o carteiro entregou o pacote. Bobeou.
1. Se a referência obedecer à ordem crescente, não use a vírgula: Inciso II do parágrafo 2º do art. 5º da Constituição Federal.
2. Se a referência não obedecer à ordem crescente, a vírgula pede passagem:Constituição Federal, art. 5º, parágrafo 2º, inciso II.
Em nível de tem os sentidos de em instância, no âmbito, paridade, igualdade: A decisão foi tomada em nível de diretoria. O consenso só será possível em nível político. As duas chefias estão em nível presidencial.
A nível de não existe. É praga.
Ao encontro de quer dizer em favor de ou na direção de: O projeto veio ao encontro de seus interesses. O resultado das eleições pareceu-lhe vir ao encontro das ambições do prefeito. Caminhou ao encontro do filho. De encontro a significa contra, em sentido contrário a: O carro foi de encontro à árvore. O projeto vai de encontro às pretensões do governador.
Os precipitados têm a resposta na ponta da língua:
— É facultativa.
Os atentos pensam duas vezes:
— Depende da frase.
E daí?
O pronome possessivo goza de privilégios. Ora vem acompanhado de artigo. Ora não. Por isso, a gente pode dizer:
Minha cidade tem duas faculdades.
A minha cidade tem duas faculdades.
A crase é a fusão da preposição a com outro a. Quando o artigo é facultativo, a crase também é. Logo, está certinho da silva escrever:
Vou a minha cidade.
Vou à minha cidade.
Na incerteza, banque o São Tomé. Recorra ao tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se no troca-troca aparecer ao, sinal de crase. Caso contrário, xô, grampinho:
Vou a (ao) meu país.
Olho vivo
Nem tudo o que reluz é ouro. Há uma construção enganadora. O a que antecede o possessivo tem cara de artigo. Mas artigo não é. Trata-se do ardiloso pronome demonstrativo:
Não fui a (à) minha cidade, mas à sua.
Desmembrada a segunda oração, temos:
Não fui a (à) minha cidade, mas à que (àquela que) é sua.
O raciocínio é um só: o artigo é facultativo. O pronome não. Exige o sinal de crase. Aplique o tira-teima:
Não fui a (ao) meu país, mas ao seu.
Aquelas que preencherem o cupom concorrerão aos prêmios.
As que preencherem o cupom concorrerão aos prêmios.
Aqueles que escrevem sem esforço são lidos sem prazer.
Os que escrevem sem esforço são lidos sem prazer.
Casório
Quando vê o demonstrativo, a preposição não resiste. Sem preconceitos, amasia-se com ele. Nasce, então, a duplinha à que. Para chegar lá, percorre um trajeto. Ei-lo:
Sua proposta é anterior à proposta que chegou ontem.
Para não repetir o substantivo proposta, há uma saída. A gente o substitui pelo demonstrativo. Pode ser aquela ou o irmãozinho a:
Sua proposta é anterior àquela que chegou ontem.
Sua proposta é anterior à que chegou ontem.
Sofisticado, não? A fim de não tropeçar, recorra ao velho macete. Substitua o substantivo feminino que aparece antes do a que por um masculino (qualquer um, não precisa ser sinônimo). Se no troca-troca der ao que, sinal de crase. Se der a que, só a preposição solteirinha tem vez:
Sua proposta é anterior à que chegou ontem.
(Seu projeto é anterior ao que chegou ontem.)
A proposta a que me referi não foi aceita.
(O projeto a que me referi não foi aceito.)
Houve uma sugestão posterior à que você apresentou.
(Houve um projeto posterior ao que você apresentou.)
Em bom português: na dúvida, o velho macete do troca-troca resolve a questão. Recorra a ele. Sem cerimônia.
Meu expediente começa às 8 horas.
Estou ao telefone desde as 2 horas.
Trabalho das 8h às 12h.
Dúvida? Não esquente a cabeça. Recorra ao macete. Substitua hora por meio-dia. Se no troca-troca der ao, ponha o acento. Caso contrário, xô! Nem pensar. Aprecie o tira-teima aplicado nas frases acima:
Meu expediente começa ao meio-dia.
Estou ao telefone desde o meio-dia.
Trabalho das 8h ao meio-dia.
É isso.
De segunda a sexta.
De é preposição pura. A só pode ser preposição pura. Em ambas o artigo não tem vez:
Trabalho de quarta a sexta.
A farmácia faz entregas de segunda a sábado.
Vejo tevê de domingo a domingo.
*
Da rodoviária à quadra comercial.
Da é combinação da preposição de com o artigo a. O à vai atrás. O acento serve de prova da fusão.
Mais exemplos
Li da página 8 à página 12.
O expediente é de segunda a sexta, das 8h às 18h30.
Trabalho das 14h às 18h.
Atenção, gente fina. Às vezes, a preposição de vem casadinha com o artigo o. O sexo não muda a regra. O segundo par mantém a fidelidade:
Viajei do Paraguai à França.
Fui de carro do Rio à Paraíba.
Corri do aeroporto à rodoviária.
Olho na traição
Misturar o par de um com o de outro gera deformações. São os cruzamentos. É como casar girafa com elefante. Já imaginou o pobre filhote? Eis um monstrinho:
Horário do expediente: de segunda a sábado, de 7h30 às 20h.
Reparou? O primeiro casalzinho (de…a) merece nota mil. O segundo juntou o parceiro de um par com o parceiro de outro. Xô! A forma bem-amada é: das 7h30 às 20h.
Tentação satânica são as palavras repetidas. Ao vê-las, dobre os cuidados. Pare, pense e controle-se. Lembre-se de que as duplinhas têm alergia à crase. Não aceitam o sinalzinho nem a pedido dos deuses do Olimpo: face a face, cara a cara, semana a semana, frente a frente, uma a uma, gota a gota.
No caso, o artigo não tem vez. Se tivesse, o primeiro par viria devidamente acompanhado. Não vem. Sem artigo, nada de crase. Deixe a tentação para apelos mais fortes.
Duvida? Recorra ao tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. Se der ao, sinal de crase. Caso contrário, nada feito: lado a lado, caso a caso.
Primeiro passo: desvendar o segredo do acentinho
Crase é como aliança no dedo esquerdo. Avisa que estamos diante de ilustre senhora casada. A preposição a se encontra com outro a. Pode ser artigo ou pronome demonstrativo. Os dois se olham. O coração estremece. Aí, não dá outra. Juntam os trapinhos e viram um único ser.
Segundo passo: descobrir se existem dois aa
Para que a duplinha tenha vez, impõem-se duas condições. Uma: estar diante de uma palavra feminina. A outra: estar diante de um verbo, adjetivo ou advérbio que peçam a preposição a:
Vou à escola das crianças.
O verbo ir pede a preposição a (a gente vai a algum lugar).
O substantivo escola adora o artigo (a escola das crianças).
Resultado: a + a = à
João é fiel à namorada.
O adjetivo fiel reclama a preposição a (a gente é fiel a alguém).
Namorada se usa com artigo (a namorada de João).
Resultado: a + a = à
Relativamente à questão proposta, nada posso informar.
O advérbio relativamente exige a preposição a (relativamente a alguém ou a alguma coisa).
Questão pede o artigo a (a questão ainda não tem resposta)
Resultado: a + a = à
Terceiro passo: recorrer ao macete
Na dúvida, peça ajuda ao tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. (Não precisa ser sinônima.) Se no troca-troca der ao, é crase na certa:
Vou à escola. Vou ao clube.
João é fiel à namorada. Carla é fiel ao namorado.
Relativamente à questão, nada posso fazer. Relativamente ao problema, nada posso fazer.
Vou a duas reuniões programadas. Vou a dois encontros programados.
Vou às duas reuniões programadas. Vou aos dois encontros programados.
Vale a pergunta. Se é tão simples, por que tantos tombam tanto? Acredite. A resposta está no artigo. Nossa dificuldade não reside na preposição, mas no saber se aparece artigo ou não. É o caso de nome de cidades, estados, países ou pessoas, dos pronomes possessivos, de palavras repetidas. E por aí vai.
Certas palavras rejeitam o possessivo. Aproximá-los é briga certa. Evite confusões. Não o use com:
Dica: em 90% dos casos, o possessivo é desnecessário. Se é desnecessário, sobra: Paulo fez a (sua) redação. Pegou o (seu) jornal. Perdeu as (suas) chaves.
É isso. Escrever é cortar. Ou trocar.
O adjetivo é mutável. Tem feminino, masculino, singular e plural. Subordinado ao substantivo, concorda com o chefão em gênero e número: menino alto, meninos altos; menina alta, meninas altas; meio quilo, meios quilos; meia verdade, meias verdades; meio melão, meios melões.
O advérbio joga em outro time. Para ele não existe gênero nem número. No caso, meio acompanha o adjetivo. Quando aparece, quer dizer um tanto, mais ou menos: Maria anda meio (um tanto) chateada. O ministro anda meio (um tanto) desaparecido da mídia. Deixe as portas meio (mais ou menos) abertas.
Macete
Pintou a dúvida? Pare e pense. Na frase, meio joga em que time — quer dizermetade ou um tanto? Se metade, é adjetivo. Dança conforme a música do substantivo. Se um tanto, é advérbio. Mantém-se imutável, indiferente ao feminino, masculino, singular ou plural: A senadora saiu ao meio-dia e meia (hora) meio (um tanto) aborrecida.
Mais tarde, os judeus começaram a festejar a Páscoa. Lembravam, com sacrifícios, a saída do povo de Israel do Egito. Era a passagem da escravidão para a liberdade. Em 325, os cristãos instituíram a Páscoa. Com ela, exaltam a ressurreição de Cristo – a passagem da morte para a vida.
O coelho
O outro é o coelho com o ovo. “Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim – um ovo, dois ovos, três ovos, assim”, canta a meninada lambuzada de chocolate. Cá entre nós: o que o ovo tem a ver com a Páscoa, e a Páscoa com o coelho? No duro, no duro, nada. A relação é simbólica. O ovo representa o nascimento e a ressurreição. O coelho, a fertilidade. Gera coelhinhos pra dar, vender e emprestar.
Será?
Dizem que Simão, que ajudou Jesus a carregar a cruz até o Calvário, era vendedor de ovos. Depois da crucificação, ops! Milagre! Os ovos se cobriram de cores. São os mesmos que as crianças buscam nos mais diferentes esconderijos.
Pascal e pascoal são relacionados com a Páscoa (festa pascal, Monte Pascoal). Campal, com campo (batalha campal). Matrimonial, com matrimônio (festa matrimonial). E por aí vai.
Mas nem todos estão atentos às manhas da língua. Um dos tropeços mais comuns é o uso do após. Por alguma razão que até Deus desconhece, falamos uma palavra, mas escrevemos outra. Que coisa!
Guarde isto: após é artificial. Use-o em expressões consagradas (ano após ano, dia após dia). No mais, dê preferência ao depois: Depois do sinal, deixe o recado. Depois de consultar o ministro, o presidente soltou a nota. Arrependeu-se depois de falar mal do chefe. Mas o mal estava feito.
Veja: eu presenteio (freio,ceio), ele presenteia (freia, ceia), nós presenteamos (freamos, ceamos), vós presenteais (freais, ceais), eles presenteiam (freiam, ceiam); que eu presenteie (freie, ceie), ele presenteie (freie, ceie), nós presenteemos (freemos, ceemos), vós presenteeis (freeis, ceeis), eles presenteiem (freiem, ceiem).
São manhas da escola antiga. No ditado, os professores pronunciavam dois aa para os alunos se darem conta da crase. Era um truque. Virou vício. Corra dele.
Em português, as maiúsculas não gozam de privilégios. Têm o mesmo tratamento das minúsculas. Devem ser acentuadas quando necessário (Ásia, Índia). Pressupõe-se que os cartórios saibam disso. Mas, se na certidão não aparecer o acento, respeite o registro. É lei.
• A maioria das faltas não existiu (o verbo concorda com maioria).
• A maioria das faltas não existiram (concorda com faltas).
. Metade das laranjas apodreceu (concorda com metade).
. Metade das laranjas apodreceram (concorda com laranjas).
. A maior parte da população reagiu bem. (Parte é singular. População é singular. Só o singular tem vez.)
Nas orações em que aparece o pronome apassivador se, facilmente se cometem erros. Para não entrar em fria, há um macete: construa a frase com o verbo ser. Se ele for para o plural, o verbo da frase com se também irá. Caso contrário, nada feito. A regra vale para as locuções verbais. No caso, o auxiliar é que se flexiona ou não:
Não se combatem verdades com inverdades. (Verdades não são combatidas com inverdades.)
Procuram-se datilógrafos. (Datilógrafos são procurados.)
Vende-se esta casa. (Esta casa é vendida.)
Podem-se citar exemplos. (Exemplos podem ser citados.)
Pode-se citar um caso. (Um caso pode ser citado.)
Devem-se mencionar três episódios. (Três episódios devem ser mencionados.)
Deve-se mencionar o episódio principal. (O episódio principal deve ser mencionado.)
Reaver é filhote de haver. Significa haver de novo, recobrar, recuperar: Maluf foi preso. Passados alguns meses, reouve a liberdade. A casa de Gilberto foi assaltada. Os ladrões levaram joias e dinheiro. A polícia os prendeu. Mas não conseguiu reaver os bens.
O verbo, de origem tão nobre, padece de grave enfermidade. É preguiçoso pra chuchu. Não se conjuga em todos os tempos e modos. Só dá as caras nas formas em que aparece o v de haver. No presente do indicativo, por exemplo, apenas o nós e o vós têm vez: reavemos, reaveis.
O indolente não tem presente do subjuntivo. Em compensação, exibe todas as formas do passado e futuro: reouve, reouvemos, reouveram; reavia, reavias, reavíamos; reaverei, reaverás; reaveria, reaveriam; reouver, reouveres, reouvermos; reouvesse, reouvéssemos. E por aí vai.
Não caia na tentação. Reavê, reaviu, reaveja não existem (seriam derivados de ver). Nem fazem falta. Recuperar ou recobrar estão aí pra quebrar o galho. Lembre-se: o inferno está pululando de insubstituíveis.
1. Se for de exclusão, o verbo fica no singular: Ou João ou Rafael será presidente do clube (só há uma vaga de presidente). Carla ou Maria se casará com Marcelo. Há apenas uma vaga na empresa. Tereza ou Marlene a preencherá.
2. Se for de inclusão (=e), o verbo vai para o plural: Um ou outro convidado saíram mais cedo da festa. Casamento ou divórcio são regulamentados por lei. Quem sairá mais tarde? O professor ou o secretário sairão depois do horário.
3. Se for retificação, o verbo concorda com o núcleo mais próximo: Os autores ou o autor da melhor reportagem receberá o prêmio. O autor ou os autores da melhor reportagem receberão o prêmio. Ele ou nós redigiremos o requerimento. Nós ou ele redigirá o requerimento.
O imutável tem vez quando se deseja fazer referência de modo vago e geral. No caso, o sujeito não vem acompanhado de artigo: É necessário paciência. É proibido entrada. É perigoso mudanças. Água é bom. Não é necessário inspetoras na escola.
Quando o sujeito recebe determinação, cessa tudo que a musa antiga canta. A concordância entra na vala comum. Esta cerveja não é boa para a saúde. Aquelas pimentas são boas para a circulação. É necessária a paciência de Jó. É proibida a entrada.
A bela pôs um baita acento no i de gratuito. E disse “subzídio”. Esqueceu-se de duas dicas pra lá de preciosas. Uma: gratuito pronuncia-se como circuito e fortuito. A outra: o s de subsídio soa igualzinho ao de subsolo.
Moral da opereta: Beleza nem sempre põe mesa.
A resposta está na pontuação. Compare:
Neymar, fora.
Com a vírgula, Neymar vira vocativo — o ser a quem nos dirigimos. No caso, dá-se uma ordem pra ele. Ele obedece. Ou não. A única certeza é o sinal de pontuação. Esteja onde estiver, o nome vem isolado. Veja exemplos: Neymar, fora. Fora, Neymar. Pra frente, Brasil. Brasil, pra frente. Maria, volte logo. Volte logo, Maria. Aprende com eles, Brasil. Brasil, aprende com eles. Te adoro, garoto. Garoto, te adoro.
Neymar fora.
Sem a vírgula, subentende-se o verbo estar: Neymar (está) fora. Que diferença, hem?
O primeiro mês do ano homenageia Jano. O deus grego tem duas caras. Uma olha pra frente. A outra, pra trás. A primeira abre as portas dos 365 dias que se iniciam. A segunda as fecha para o ano que se despede. Janela, que também abre e fecha, pertence à família do entra e sai.
Fevereiro
O segundinho, que tem menos dias que os irmãos, se inspira em Februa, deus da purificação dos mortos.
Março
Epa! Marte, o deus da guerra, originou vários nomes na nossa língua de todos os dias. Um deles é março. Outros, Márcio e Márcia. Marciano também. E marcial? Idem.
Abril
Todos a amam e todos a querem. Trata-se de Vênus, a deusa do amor e da entrega. Em homenagem a ela, criou-se aprilis. Trata-se da comemoração sagrada dedicada à musa olímpica. Daí nasceu abril.
Maio
A primavera no Hemisfério Norte corresponde ao nosso outono. Com inverno rigoroso, os campos se cobrem de neve, e a agricultura sofre. As comemorações que se faziam depois do frio reverenciavam Maia e Flora – deusas do crescimento de plantas e flores.
Junho
Hera em grego. Juno em latim. Ela era a primeira-dama do Olimpo. Defensora incondicional do casamento, ao descobrir as traições do marido, Zeus, não punha em risco o próprio lar. Punia a outra. Passou a ser considerada a protetora da maternidade. Para render-lhe loas, junho se chama junho.
Julho
Julho era o quinto mês do ano antes de janeiro e fevereiro mudarem de lugar. Chamava-se quintilis. Mas, em 44 a.C., mudou de nome por causa de Júlio César. O grande líder romano foi assassinado por gente de casa, Brutus, o próprio filho. Mas não caiu no esquecimento. Ganhou lugar cativo na história e no calendário.
Agosto
Agosto, que rima com desgosto, serve de prova da ciumeira. Por ser o sexto mês do ano, chamava-se sextilis. Mas, como julho balançou o calendário, o primeiro imperador de Roma, sucessor de Júlio César, não ficou atrás. “Eu também quero”, disse ele. Levou. Agosto se chama agosto em homenagem a Augustus.
Setembro, outubro, novembro e dezembro
O quarteto não estava nem aí para a mudança de janeiro e fevereiro. Eles mantiveram o nome. Setembro, do latim septe, era o sétimo mês do ano. Outubro, de octo, o oitavo. Novembro, de nove, o nono. Dezembro, de decem, o décimo.
Gregoriano
Ufa! Até chegar à forma de hoje, o contar dos meses sofreu muitas alterações. Com elas, falhas foram corrigidas. A última mexida, do papa Gregório XIII, ocorreu em 1582. Por isso, nosso calendário se chama gregoriano.
"
Por que demissão se escreve com ss? As duas letrinhas têm a ver com a família. O verbo do clã termina em -itir. O substantivo dele derivado ganha dose dupla: admitir (admissão), emitir (emissão), transmitir (transmissão). —
“Água detida é má bebida.” (povo sabido) “Água silenciosa é sempre perigosa.” (provérbio) “Água salgada, alma lavada.” (voz do povo) “A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: só tem valor quando acaba.” “A água vai faltar mesmo sabendo usar.” (Alex Periscinoto) “As falhas dos homens eternizam-se no bronze. As virtudes se escrevem na água.” (William Shakespeare).